Poesias

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Crisma

Momento de grande espiritualidade, rito de passagem.
Conhecido tradicionalmente como a confirmação da fé pela opção por Cristo.
Crisma, ou como dizem os religiosos, ser adulto na fé.
Tudo começou quando compulsoriamente, foi-me imposta a realização do curso de Crisma.
Trata-se de um processo de amadurecimento espiritual da nossa opção religiosa.
Inconformada com a imposição perguntava-me:
-- Como posso ser adulta na fé se só tenho 14 anos, e não tenho nem condições, ou mesmo maturidade para cuidar da minha própria vida?
Deixei de lado minhas indagações, até porque não tinha mais o que ser discutido.
É só mais uma questão a ser debatida ou mesmo posta de lado, como o são tantas outras questões mais inflamadas.
Sem mais delongas então, passarei ao dia da confirmação dos votos já realizados na minha Primeira Comunhão, onde eu realmente estava desejosa de participação.
Desde cedo, eu sempre desejei fazer a Primeira Comunhão, e apesar de alguns desencontros, acabei por concluí-la aos 10 anos.
Foi uma linda cerimônia, simples.
Estavam todos de túnica, as meninas, é claro.
Os meninos, salvo engano estavam todos de calça azul marinho e camisas brancas.
Houve o momento de acender as velas, delicadamente decoradas e fazer uma oração.
Vela esta que tenho guardada comigo até hoje, juntamente à uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, dos tempos de Campinas, e do Colégio Liceu Salesiano.
Mas com eu já escrevia, e prometi não ficar me estendendo, agora, me perdoem os leitores destas descuidadas palavras, que eventualmente poderão vir a serem lidas, vou adentrar no assunto principal, que é o de relatar o meu ritual de preparação para o crisma.
Primeiramente, os cuidados com a beleza.
Tomei um belo banho, e após este é que comecei a me preparar para o grande momento.
O cabelo foi cuidadosamente preso num coque preparado às custas de muito spray e gel fixador. Antecipadamente fora providenciada numa das várias casas de flores da Avenida Visconde, em São Caetano do Sul, um delicado arranjo de flores naturais, para enfeitar o cabelo.
À seguir, o rosto foi hidratado e maquiado.
Primeiro os olhos, que foram delineados para ficarem mais destacados, o rímel para ressaltar os cílios, e em seguida a sombra.
Nos lábios, um batom clarinho.
Tudo estava perfeito, só faltava o vestido para completar.
O vestido, simplesmente lindo, era um falso tomara-que-caia, com uma volta ao redor dos ombros, fazendo as vezes de uma alça.
Completando, sapatos brancos, para fazerem par com o belo vestido.
Em seguida, todos se dirigiram para à igreja.
Lá se realizou a cerimônia do Crisma.
Esta segue praticamente a mesma liturgia das missas, com exceção das músicas que foram exaustivamente ensaiadas durante meses para que tudo desse certo no momento da cerimônia.
Lindas canções.
Todas foram entoadas com entusiasmo, pelo menos por parte de alguns dos participantes.
Também nesta cerimônia, teve o momento de se acender a vela.
Uma vela amarela, que foi acesa para dar o encadeamento a cerimônia.
No final, todos os crismados fizeram fila para receber os cumprimentos dos convidados e o certificado confirmando a participação de cada um na cerimônia do Crisma.
Infelizmente, não tenho fotos desse acontecimento porque as mesmas, no momento de serem reveladas, acabaram queimadas.
Uma pena realmente, por quê um momento tão lindo, merecia ser registrado, apesar dos meus protestos para fazer o curso.
Só que, já que o fiz, gostaria de ter uma lembrança deste momento.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Adão e Eva

Constam, em pinturas de ilustres artistas, a representação grandiosa da criação do mundo, nas figuras de Adão e Eva.
Entretanto, para alguns autores, a primeira mulher a ser criada não fora Eva, e sim Lilith, mulher de grande bravura e galhardia, libertária e independente, conquistadora.
Contudo, para os padrões machistas dominantes, tudo tivera que ser adulterado para dar lugar a criação do mundo por Deus, e também no que se refere a criação dos homens (leia-se mulheres também), à sua imagem e semelhança.
Então, passemos a ela.
Tudo iniciou-se quando Deus resolvera criar o mundo.
Tudo eram trevas e escuridão.
As trevas acobertavam o abismo e, segundo a história da criação, o espírito do Senhor pairava sobre as águas.
No entanto, a despeito da imensa escuridão da terra, Deus ordenara:
--Faça-se luz.
E de acordo com a vontade divina, a luz fora feita e dissiparam-se as trevas.
Em razão disso, Deus nominara a luz de Dia e o negrume da escuridão de noite.
Com isso, fora separado o dia da noite.
Ademais, sobreviera a tarde e em seguida a manhã, assim terminara o primeiro dia.
Às primeiras luzes do novo dia, Deus dissera:
--Faça-se um firmamento entre as águas, e separe-o destas.
E assim se fizera.
Deus nominara o firmamento de céus.
Porventura, o habitat dos seres celestes, dos anjos, arcanjos, os santos, entre outros.
Sobreviera à tarde, depois a noite, e assim terminara o segundo dia.
Ao raiar do novo dia,
Deus assim ordenara:
--Que as águas se ajuntem em um mesmo lugar e abram espaço para o elemento árido.
E assim se fizera.
As águas agitadas se uniram e formaram um só elemento.
Deus nominara o elemento árido de Terra, e ao conjunto de águas avolumadas e revoltas, de Mar.
Ao término do terceiro dia, ao observar os feitos de sua criação, o Criador se dera conta do quanto sua criação era boa.
E admirado de tudo que fizera, ordenara a Terra, que produzisse toda sorte de plantas, flores, ervas e árvores frutíferas que dariam frutos conforme sua espécie.
E assim fora feito.
Tudo consoante o desiderato do Criador.
Quando do quarto dia de sua belíssima criação, Deus dissera:
--Façam-se luzeiros no firmamento dos céus, para que se separem o dia da noite, e que eles sirvam de sinais e marquem o tempo, os dias, os anos, e resplandeçam no firmamento dos céus para que iluminem a terra.
E com isso, foram criados dois grandes luzeiros.
O maior servira para presidir o dia e o menor para presidir a noite.
Também, nesse momento, é que se originaram as estrelas.
Deus colocara-as no firmamento, para que iluminassem a terra, presidissem ao dia e à noite e separassem a luz fugidia do dia, das penetrantes trevas.
Assim se encerrara o quarto dia.
No romper do novo dia, Deus dissera:
--Pululem as águas de uma multidão de seres vivos, e voem aves sobre a terra, debaixo do firmamento dos céus.
Em virtude disso é que se criara os monstros marinhos que segundo as crenças das mais priscas eras, os homens os consideravam como estranhas criaturas.
Ademais, toda uma multidão de seres vivos aquáticos e marinhos foram criados.
Também criaram-se as aves, das mais variadas espécies, que a partir desse momento, passaram a enfeitar os céus do Senhor.
Ao admirar-se de sua criação, Deus dissera:
--Frutificai e multiplicai-vos, e enchei as águas do mar, e que as aves se multipliquem sobre a terra.
Sobreviera a tarde e a noite, este fora o quinto dia.
Ao romper da aurora, Deus ordenara:
--Produza a terra, seres vivos segundo sua espécie – animais domésticos e selvagens – répteis, aves, etc.
E assim fora feito.
Deus criara os animais selvagens, segundo sua espécie, e assim como fizera os animais domésticos e todos os outros animais que se arrastavam sobre a terra.
Em seguida Deus procedera a criação do homem.
Para a realização de seu desiderato, dissera:
--Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre às aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastam sobre ela.
E Deus o fizera.
Criara o homem à sua imagem e semelhança.
E, como gesto de afeição consagrara toda sua criação ao homem, para que dela tirasse proveito.
Por fim, Deus contemplara toda sua criação e viu que tudo era muito bom.
Sobreviera a tarde, e depois a noite, este fora o sexto dia.
Terminada a criação, ao sétimo dia, Deus descansou do seu trabalho.
Abençoou-o e o consagrou, porque nesse dia, segundo a Bíblia, o Senhor repousara e descansara de toda obra de sua criação.
Após a criação do mundo, conforme os relatos bíblicos, seguira-se a vida no Paraíso, criado por Deus, quando da criação do homem.
Homem, cópia esculpida e encarnada de Deus.
Deus formara e esculpira do barro da terra e inspirara-lhe nas narinas um sopro de vida, e a partir deste momento o homem se tornara um ser vivente.
Ao adquirir vida, sua morada passou a ser um jardim, criado juntamente à criação, o magnífico Jardim do Éden.
Este jardim, esplendorosamente criado por Deus, possuía a mais rica e exuberante fauna que se podia imaginar.
Nesse jardim, Deus fizera brotar do seio da terra, toda sorte de árvores, de aspecto agradável e de rara beleza, bem como frutos bons para se comer.
Havia ainda, flores de todas as cores e texturas, pássaros e diversos animais.
Todos conviviam harmonicamente.
No centro do jardim havia uma árvore que não poderia ser tocada jamais.
Qual seja, a Árvore da Ciência do Bem e do Mal.
Um rio próximo, saía do Éden para regar o jardim e dividia-se em quatro braços.
Cada qual originara um outro rio.
Um deles ficava próximo a uma região rica em ouro.
A respeito da árvore proibida, Deus avisara:
--Podes comer os frutos de todas as árvores que quiserdes, mas não comas do fruto da Árvore da Ciência do Bem e do Mal, porque no dia em que comerdes desta fruta, morrerás indubitavelmente.
Passado algum tempo, Deus percebera a necessidade de o homem ter uma companhia.
Ademais, findada a criação feita pelo Ordenante, o homem passara a nominar todos os seres da criação.
E este passara a ser seu verdadeiro nome.
A despeito de todos os seres criados, o homem precisava de algo mais.
Então Deus mantivera o homem em um sono profundo.
Enquanto o homem estivera dormindo, fora-lhe tomada uma costela e fecharam com carne o lugar.
Desta costela Deus fizera uma mulher e levou-a para junto do homem.
O homem, ao despertar do sono que fora induzido, se apercebera da presença de outro habitante humano no jardim.
Com isso, dissera:
--Eis agora, aqui, o osso de meus ossos e a carne de minha carne. Ela se chamará mulher, porque foi tomada do homem.
E a partir deste momento passaram a serem companheiros.
Andavam nus pelo Jardim do Éden e não se envergonhavam disto.
Até se dar início ao encanto da serpente, que seduzira ambos com seus argumentos, e os impelira a cometerem um grave erro, tocando em seus pontos mais frágeis, a vaidade e a ambição.
Assim, levando-se em consideração que a serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor criara, ela aproximara-se lentamente e dissera a mulher:
--É verdade que Deus vos proibistes de comerdes do fruto de toda árvore do jardim?
No que a mulher lhe respondera:
--Podemos comer dos frutos de todas as árvores do jardim. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disseste: Vós não comereis dele, nem o tocareis, para que não morrais.
Mas a serpente insistiu:
--Oh, não! Vós não morrereis. Mas Deus sabe, no alto de sua sapiência, que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal.
A mulher então, segundo nos relata a Bíblia, passara a partir desse momento a se aproximar da aludida árvore possuídora do fruto proibido, e ao aperceber-se de que o fruto era de agradabilíssimo aspecto, apoderou-se dele, comera-o e dera parte ao seu companheiro, que igualmente o comera. Então, os seus olhos se abriram, e apercebendo-se que estavam nus, tomaram folhas de figueira, ligaram-nas e fizeram cinturas para si.
Após o ocorrido, ouviram o barulho de passos por entre a folhagem, e foram se esconder por entre as ramagens.
Era o Senhor, que passeara no jardim durante a brisa da tarde.
No entanto, este artifício, de nada adiantara, Deus chamara o homem e perguntou-lhe:
--Onde estás?
E o homem respondera:
--Ouvimos o barulho de vossos passos no jardim, e tivemos medo, porque estamos nus e ocultamo-nos.
O Senhor novamente o indagara:
--Quem te revelou que estavas nu? Terias porventura comido do fruto da árvore que eu te havia proibido de comer?
O homem retrucara:
--A mulher que pusestes ao meu lado apresentara-me deste fruto e eu comi.
Ao que Deus a inquirira:
--Por que fizestes isso?
No que a mulher retrucara:
--A serpente enganara-me, e eu comi.
Então o Senhor dissera à serpente:
--Por que fizeste isto, serás maldita entre todos os animais e feras dos campos, andarás de rastos sobre teu ventre e comerás pó todos os dias de tua vida. Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela.
Esta te ferirás a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar.
Dissera também a mulher:
--Multiplicarei os sofrimentos de teu parto, darás a luz com dores, teus desejos te impelirão para teu marido e tu estarás sob teu domínio.
E ao homem:
--Por que ouvistes a voz de tua mulher e comestes o fruto proibido, maldita sejas a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento, durante todos os dias de tua vida. Comerás o pão com o suor do teu rosto, até que retornes a terra de onde foste tirado, por que tu és pó e ao pó retornarás.
A partir desse momento a primeira mulher, passara a se chamar Eva, porque ela era a mãe de todos os viventes.
O Senhor fizera para eles então, umas vestes de peles e em seguida disse:
--Eis que o homem se tornou um conhecedor do bem e do mal.
Agora tenho que cuidar para que ele não estendas a sua mão e tome igualmente do fruto da Árvore da Vida, e o comendo, viva eternamente.
Com isso, Deus expulsara o homem do paraíso e inobstante sua decisão, colocara no Jardim do Éden, querubins armados de espadas flamejantes para guardar o caminho da árvore da vida.
Essa é a história do homem relatada pela bíblia, e é ela que nós é ensinada nas aulas de catecismo. Mas como estas, existem inúmeras outras explicações a respeito do surgimento do homem na terra. Todas igualmente lindas.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

VERDES CAMPOS DA MINHA TERRA

PRIMEIRO CANTO – O PRADO

Verdes campos de minha terra
Para onde não mais posso voltar
Campinas, que de tão niveladas
E sem árvores, nos leva a uma antiga planície

No plano de nossas vidas
Prados verdejantes
Horizontes azuis, laranjas, roxos, rubros, flamejantes

Quero ver mais uma vez ao longe
A casinha pequenina
A pequena propriedade repleta de folhagens,
Plantas, culturas e recordações

Sinto a lembrança correr-me os pés
Esvair-se entre os meus dedos
A saudade da Vila velha
A “Eneida”, do grande poeta
Que de tão velha lembrava as mais ricas tradições...

Hélade afortunada
Sempre salpicada de propriedades rurais
Verdejante e acolhedora
A indevassável aurora dos meus ideais

Na velha Vila
A alegre “Eneida”
Gente amiga, velhos conhecidos
Boas estórias para contar
As cantigas a ecoar

A noite enluarada, as estrelas a enfeitar o céu
As modas de viola, os cantos entoados
Rodas de estórias
Cultura popular

De repente
Mudança de tempos
A brisa a murmurar o chiado dos ventos...
A chuva a cair por entre as folhagens
Gota por gota
E o som da plantação frutificar

As flores nascendo, as plantas crescendo
Os frutos se desenvolvendo
Onde em se plantando tudo dá

Sinto bem o cheiro da orvalhada
As flores, os odores, as cores
Ao longe, a bela Igreja branca

Onde eram as missas celebradas
Todas em latim, os cantos, os salmos, a liturgia
Ah, em minha memória errante,
Quase não lembro mais...

 A cidadezinha distante
Que a nós parecia errante
Ansiava por mais uma nova visita

Os doces na Confeitaria e seus lanches apetitosos
Tudo lá era uma grande festa
Delírio onírico de belas construções

Ampla Àgora deleitosa
Por entre paragens tortuosa
Para sempre hei de me lembrar

SEGUNDO CANTO – CULTURA MOURA

Lembro-me que os doces sonhos de Sherazade
Em suas Mil e Uma Noites
Me fizeram despertar

Os sonhos de criança a me encantar
Sheik’s, mulheres misteriosas em suas auras de véu
Tapetes voadores

Suntuosos palácios ricamente adornados
Com jóias, flores, jarros, esculturas, tapetes, móveis...
Cruéis tiranos e assassinos...

A gentil consorte do autoritário e frio verdugo
Ansiava por melhor sorte
Em razão de outras esposas
Frias, jazidas em inerte leito, adormecidas
No eterno sono da morte....

Contava a cada noite uma nova estória maravilhosa....
Envolventes e lindas estórias contadas,
Por tão devotada esposa muçulmana
Tão esperançada em ver-se livre
Da fria lâmina da espada sarracena

Que de tão apaixonada pela vida
Fazia cada vez mais sua lira tocar
Em busca de tão belas e imaginativas narrativas

Os mouros, povo que da audácia
Fez seu forte e seu norte...
Conquistador
Apresentou sua cultura para inúmeros povos
Até hoje presentes, em seus mínimos detalhes

TERCEIRO CANTO - TRISTESSE

Aluno apaixonado, nota 10
Tudo que conhecia tirava de letra
Interessado pelo mundo
Vasto mundo

Tão inebriante, que o fez sair em disparada
Adeus prados verdejantes
Saudades da lira cantante de minha terra
O som e as modas de viola
Guardados eternamente no coração

Na sala de cinema Brilham cada vez mais intensos os projetores
Que em poucos instantes nos transportarão
Para a película a ser exibida
Filmes, muitos filmes
Histórias vívidas na pele de outras pessoas
Tão reais que nos inflama o coração

Saudosos tempos
Conhecimentos do templo do saber
A vida na Selva de Pedra
Era realmente encantadora

A São Paulo de outrora
O Monumento dos Bandeirantes,
Os prédios imponentes da região central

O COPAN, o Edifício Itália, o Viaduto do Chá,
O Vale do Anhagabaú
O imponente monumento de areia e pedra
Nos seduz a visão

Hoje... Na estrada poeirenta sinto a desolação
De mundo que triste
Pranteia a suavidade da vida de outrora

Essa violência maldita
Que nos assola
Parece cada vez mais nos afastar
De nossas glórias

QUARTO CANTO – PARIS É UMA FESTA

Desejos mil
A Paris dos meus sonhos
Cidade Luz
Canção dos meus ouvidos
Paixão dos meus olhos

Nos jardins, cuidadosamente criados
Simétricos, encantados
Os castelos de pedra edificados

Metempsicose, transmigração
Ruas iluminadas, o Rio Sena
Os Plátanos circundando pontes
Como as pontes de minha imaginação

Sucessão de ires e vires
Voltas, encontros, desencontros
Quimeras, desejos

Os cafés convidativos,
Onde se pode se deliciar com a paisagem
E ler um jornal

A Torre Eiffel, o Champ Elysées
Um Bonde Chamado Desejo
À todos, Paris é uma festa!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

É Natal - 25 de Dezembro

Preparativos para a grande festa, momento de relembrar momentos tão esquecidos de nossa espiritualidade.
Neste vinte e cinco de dezembro se comemora uma data muito específica, o nascimento de uma criança que mudou a maneira dos homens da época pensarem.
Mudou a religião, mudou a império que de romano se transformou em reino do amor.
Nasceu perseguido por um tal rei tirano e tendo que fugir antes que viesse ao mundo para não ser morto, veio a nascer em tão pobre lar, numa gruta no meio da escuridão tendo por berço um presépio, e sendo logo depois coroado com ricos bens materiais, de três reis magos que seguindo a estrela de Belém, vieram encontrar o salvador, promessa de um mundo melhor.
Nesses passos a fé apresentou uma evolução.
A teologia que existia nos tempos da antiga Grécia, se modernizou passando a estudar um Deus palpável.
N’A Cidade de Deus, Santo Agostinho nos relata a oposição dos reinos da terra, temporários e volúveis e o reino dos céus onde a perenidade é a marca constante.
Provou também que a fé e a razão não são compartimentos estanques podendo conviver pacificamente.
Mas, estou fugindo demasiadamente do assunto.
O que realmente interessa foi a mensagem que esta criança, depois transformada na forma potencial de um menino e realizada a sua causa final, se tornou um homem.
Bela mensagem de amor.
E Jesus no Monte das Oliveiras:
“E, deixando-os saiu da cidade de Betânia, e ali passou a noite e, de manhã voltando para a cidade, teve fome; e avistando uma figueira perto do caminho, dirigiu-se a ela, e não achou senão folhas.
E disse-lhe: Nunca mais nasça folha de ti!
E a figueira secou imediatamente.
E os discípulos, vendo isto, maravilharam-se, dizendo:
Como secou imediatamente a figueira?
Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que foi feito a figueira, mas até a este monte disserdes: Ergue-te, e precipita-te ao mar, assim será feito; e tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis.” (Mateus 21, 17-22)

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Era um garoto que como muitos outros, amava os Beatles e os Rolling Stones, entre muitas outras coisas mais...

“ Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones
Girava o mundo sempre a cantar, as coisas lindas da América
Não era belo mas mesmo assim, havia mil garotas a fim
Cantava Help a Ticket Ride...”

Vivendo numa época tão conturbada soube conduzir sua vida.
Nasceu no período da nova ordem política, a democracia.
Porém sua geração viveu o fantasma da ditadura.
Mas em meio a tantas sementes que lançadas foram descontentes, muita coisa brilhou, resplandeceu entre aquela juventude tão dividida.
Juventude que abandonou os antigos modelos de comportamento e criou algo novo que se reflete até hoje.
Juventude polêmica que passou a ser contestadora, que reinventou e revolucionou o mundo.
Vindo na esteira de um movimento musical chamado Bossa Nova que tudo renovou.
Inclusive na maneira de cantar, essa juventude marcou época.
No período da Bossa Nova, movimento que criou uma nova forma de cantar, as grandes vozes do rádio deram lugar a canções alegres e suaves, nada daquela antiga intensidade dramática das músicas que falavam do amor traído, desconsolado e desesperado.
Os cantores de menor potencial vocal podiam então se utilizar de suas vozes pequenas e cantar quase sussurrando nos ouvidos ansiosos pela novidade.
Foi aí que tudo passou a se modificar.
Em razão do progresso, muitos cantores ficaram saudosos de suas glórias pretéritas, pois o que era vidro se quebrou.
Para que tudo que acontece na vida, se paga um preço e a estrela que sobe, um dia também tem que descer para ceder lugar para outros astros.
A Bossa Nova trouxe novos caminhos para a música, e o país estava em franco desenvolvimento.
A indústria ganhava força e o país parecia próspero.
Tão próspero e cheio de novidades que até o presidente passou a ter sua canção:
“ Bossa Nova mesmo é ser presidente,
Desta terra, descoberta por Cabral...”

Logo em seguida viria o sonho da Copa e a vontade de ser jogador de futebol.
Também nesse momento, o modelo americano chamou por todos para que viessem consumir.
Que contradição!
Tanto desenvolvimento em meio a um país predominantemente agrário que permanecia ouvindo as modas de viola cantadas no rádio, que retratavam a vida sofrida de quem vivia no campo.
A riqueza e o tão aclamado país da prosperidade se nota, não era para todos.
Mas ainda havia lugar para onde se dirigir os sonhos.
Enquanto na vila o mundo era estreito, na cidade parecia um universo.
As vindas para a cidade era uma realização que se completava com a sonora visão dos doces e outras delícias que inundavam a visão das crianças.
Mais tarde a mudança de vida, a procura por um futuro melhor.
A ilusão da cidade maravilha que era São Caetano para aquele olhos tão esperançosos.
A prosperidade, as baladas de rock que iluminavam os ouvidos dos transeuntes.
A fantástica visão da cidade, onde ainda havia elementos remanescentes das antigas fazendas que por cá existiram.
Mas, para você tudo era novidade.
Você aqui se divertiu, estabeleceu raízes, conheceu gente, estudou, trabalhou e viveu.
Veio e construiu sua vida aqui, seu futuro.
E também preparou um futuro para nós, pai, que também foi um dia foi filho e fez parte de uma grande família.
Que soube fazer sua hora em vez de ficar esperando alguma coisa acontecer.
Apesar de não acreditar no sonho dourado da juventude revolucionária, e não ter se envolvido na luta da causa, acreditou que podia melhorar e fez o melhor que pôde para ajudar quem você poderia ajudar.
Talvez você tenha feito até mais que aqueles sonhadores inconseqüentes que não souberam medir seus planos e pagaram um alto preço pelas imprudências e infelicidades que realizaram.
O sonho romântico deles não foi a realidade perfeita do que ocorreu.
Não souberam merecer o sonho que agarraram.
Talvez por isso muito foram engolidos pelos porões do DOI-CODI e massacrados pela máquina da ditadura.
Muitos foram vítimas dessa juventude que também foi muito radical e para o qual era oito ou oitenta. Passeatas contra o imperialismo ianque, movimentos contra a música que é ‘alienada’.
Quantos excessos para uma época tão fantástica ... mais tais ocorreram e não se pode negligenciar esse fato.
 “A mesma praça, o mesmo banco,
As mesmas flores, o mesmo jardim
Tudo é igual, mas estou triste
Por que não tenho você perto de mim...”

Nas ruas, movimentos pelas calçadas, carros passando, movimento e admiração.
Nessa época a democracia sofreu um duro golpe, golpe este quase fatal e no qual quase se deu seu encerramento.
A democracia só se recuperou muito tempo depois.
Com a ressurreição da ditadura que já existira por cá na era Vargas, passaram a surgir inúmeras manifestações de repúdio a esse modelo.
E tais manifestações fizeram frente ao governo.
Que era forte e que contava com isso para tudo.
Por isso a década foi ainda sim luminosa, uma das mais representativas deste século.
Período de grande riqueza cultural apesar de tantos meios para ser cerceada.
Essa flor nascida no meio das pedras, no meio de tanta aridez desabrochou e lançou sementes para que outras flores também surgissem e vingassem nesse terreno praticamente infértil.
Tudo conspirou contra vocês, mas com força fizeram valer essa vontade e mudaram muita coisa.
Com essa abertura muito se modificou, mas muito também se perdeu.
Os jovens que ontem mudaram o mundo, hoje estão fornecendo subsídios para que o mundo continue mudando.
Isso se faz na forma de preparar outros jovens para o futuro.
Os mais não jovens hoje, são pais daqueles que poderão vir a continuar a história desses que começaram a realizar uma revolução cultural e acabaram por transformar muita coisa.
As mudanças se fazem por necessidade e também por vontade e é por isso que as sementes lançadas no passado continuam florescendo.
Representam o passado que nunca morre e sempre volta revigorado.
Volta na figura de seus filhos, de suas realizações e estas, nunca morrem.
Apesar da situação estar muito ruim ainda dá para se consertar muita coisa.
Ainda que seja difícil acreditar que tudo pode mudar, acredite.
E apesar de tudo o que aqueles rapazes disseram quando se separaram, o sonho ainda não acabou.
E enquanto alguém viver ainda haverá motivos para se sonhar.
Parabéns pelo seu dia!
Do século XX.
Século passado.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução deste conteúdo, desde que citada a fonte.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Mil Vezes Pensamentos Nasceste



Mil vezes nascesse

Mil vezes morresse

De todos os lugares

Que escolher poderia

Para assim viver


Mil vezes escolheria

Meu Brasil!

Para nascer, viver e morrer

Embora muitas terras outras

Conhecer gostaria

Assim seria se se pudesse melhor escolher! 



Luciana Celestino dos Santos

É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.   

DAS VOLTAS DO MUNDO - CAPÍTULO 5

Com isso, quando esteve a sós com seus colegas professores, foi logo perguntando sobre uma moça, que estava sempre participando de suas aulas.
Curioso, estava interessado em saber, se ela era participativa em todas as aulas.
Ao ouvir a resposta, ficou admirado.
A jovem não só era uma estudante muito disciplinada, como também, muito participativa e ótima aluna.
Em ouvindo os comentários, pôde perceber que a moça, era alvo de verdadeira adoração, por parte dos professores.
Sim, todos a adoravam.
Muitos deles nem sequer escondiam sua preferência pela jovem.
Isso por que, Leonora, era o sonho de qualquer profissional da educação.
Interessada, para ela, não havia problema nenhum em estudar.
Ao contrário, adorava a escola.
E disso, os professores sabiam.
Leonora era um modelo de aluna.
Por tudo assim, era mais do que natural que ele ficasse admirado com a jovem.
Depois disso, ao final da manhã, mais uma vez o jovem voltou para casa, almoçou, e ficou durante toda a tarde estudando, e preparando a aula do dia seguinte.
Em alguns momentos, enquanto estudava, lembrava do ocorrido a poucas horas atrás.
No entanto, quando percebia que estava por demais envolvido por aquela lembrança, tratava logo de retomar os estudos.
Afinal de contas, a moça era sua aluna, e portanto, não ficava nada bem, ele se interessar por ela.
E assim, procurando esquecer daquele acontecimento, voltou a estudar.
Com isso, com o passar das horas, mais uma vez a noite, dirigiu-se até a faculdade, e por lá ficou, durante três horas.
Na faculdade, preocupou-se em acompanhar detidamente as aulas.
Isso por que, ao término deste ano, seu curso estaria encerrado.
Portanto precisava estar preparado para quando colasse grau.
Além disso, como já foi dito, era seu último ano de curso.
Por conta disso, sua mãe estava lhe preparando uma surpresa.
Sim, Dona Irene, satisfeita com a dedicação do filho pelos estudos, procurou durante todo o tempo de curso do rapaz, uma forma de lhe presentear os anos de dedicação.
Com isso, durante o tempo em que seu filho freqüentou os bancos da faculdade, Irene procurava, todo mês, guardar uma determinada quantia em dinheiro.
Essa quantia, ao final de três anos já perfazia uma bela poupança.
Contudo, a despeito do zelo de Dona Irene, esta ainda não sabia o que fazer com o dinheiro.
Por isso mesmo, cuidadosa, a gentil senhora, procurou sondar o filho, no intuito de ter alguma idéia, sobre o que fazer com a quantia.
Assim, certa vez, em conversa com Fábio, perguntou-lhe, o seguinte:
Se ele tivesse uma boa quantia em dinheiro que pudesse gastar, o que ele faria com o dinheiro?
Este, surpreso com a pergunta, de início, não soube o que responder.
Mas, sua mãe, curiosa a respeito, insistiu com a pergunta.
Fábio intrigado, perguntou a mãe, o por que de tanta curiosidade.
Dona Irene, respondeu então, dizendo que a pergunta, era uma simples curiosidade que tinha.
Diante disso, Fábio pensou um pouco, e depois de alguns minutos, finalmente respondeu:
"-- Está certo, Dona Irene, você venceu.
Vou te contar o que faria com muito dinheiro.
Com esse dinheiro eu poderia continuar meus estudos, fazer um mestrado e até mesmo um doutorado em história.
Poderia ser até em um país estrangeiro, quem sabe."
Ao ouvir a resposta, Dona Irene ficou surpresa.
-- Só isso? – comentou ela, um pouco desapontada.
Como retribuição do muxoxo da mãe, foi a vez de Fábio ficar surpreso com a atitude de Irene.
Afinal de contas, ele se pudesse, investiria o dinheiro, em aperfeiçoamento profissional.
Foi então que Irene explicou.
Seu desapontamento se devia ao fato, de que o filho nem uma vez sequer, mencionou a idéia de participar da formatura da turma do curso de história.
Fábio ao ouvir isso, resistiu a idéia de participar da aludida festa.
Teimoso, disse a mãe que, mesmo que tivesse dinheiro para tal, jamais gastaria com uma festa boba como aquela.
Para ele, tal celebração era mais um desiderato das mulheres do que dos homens.
Irene, ao ouvir isso, repreendeu levemente o filho.
Isso por que, o sonho de uma mãe, não era uma bobagem.
Desejosa de que seu filho participasse da formatura, comentou com ele que tinha dinheiro para isso. Além do mais, se realmente fosse a vontade dele, ela também poderia disponibilizar parte do dinheiro, com sua especialização.
Enfim, não havia problemas para que fizesse as duas coisas.
Mas Fábio estava reticente.
Entrementes, Dona Irene não desistiria de convencê-lo.
Mas isso é tema para mais adiante.
O que interessa aqui, é narrar a rotina do jovem.
Rotina essa complicada, a qual cumpria com toda a disciplina.
Afinal, cursar uma faculdade e ministrar aulas, enquanto ainda era estudante, não era para qualquer um.
Por isso, precisava fazer o melhor possível.
Precisava convencer as pessoas de que era capaz.
Daí a razão de seu afinco e dedicação ao trabalho e aos estudos.
Para ele, a oportunidade que estava tendo, de ministrar aulas, era muito importante.
Isso por que, além de estar desempenhando o mister que sempre desejou, estava novamente freqüentando a escola onde estudou, há alguns anos.
Tal fato, para ele, era extremamente relevante.
Era um sonho antigo se realizando.
Mas, para as jovens, que ficaram fascinadas com o jovem professor, se tratava de um grande prazer, freqüentar suas aulas.
Afinal, segundo elas, era o professor mais bonito da escola.
Ao ouvirem isso, os rapazes, percebendo que muitas vezes, eram preteridos pelas garotas, pelo simples fato destas acharem o professor mais interessante, começaram a enfrentá-lo.
Assim, sempre ministrava suas aulas, os alunos arrumavam alguma forma de provocá-lo.
Isso tudo em razão da ciumeira que provocou neles, o simples fato de ser quase tão jovem quanto eles ser e alvo de quase todas as atenções femininas.
Sim, os rapazes, sempre que tentavam de se aproximar de alguma das garotas do colégio, eram sempre rechaçados por elas.
Pior, desprezados, começaram a sentir raiva da exagerada atenção que as garotas dedicavam a ele. Por isso, nas últimas semanas, freqüentemente o professor precisou chamar a atenção dos garotos para que estes parassem de conversar.
Assim, enquanto tentava explicar sobre os Fenícios, os Medos e os Persas, freqüentemente tinha que interromper a aula, para admoestar os alunos.
Começou desta forma.
Fábio, ao começar a aula, comentou que os Fenícios era um povo de origem semita, provavelmente provenientes das costas setentrionais do Mar Vermelho, e que, ao longo dos séculos se misturaram com vários povos de raças diferentes.
A Fenícia, localizada na atual região do Líbano, ocupava uma estreita faixa de terra, pressionada entre o mar e as montanhas.
Não havia terra apropriada para a agricultura.
Em compensação, as florestas abundantes, ricas em madeiras-de-lei, facilitaram e estimularam a confecção de embarcações aperfeiçoadas e resistentes.
Além disso, a construção de portos foi favorecida pela existência de um litoral recortado.
Tais condições geográficas obrigaram os Fenícios a atentarem-se às atividades marítimas.
Em seu estreito litoral desenvolveram-se várias cidades, como Ugarit, Arad, Biblos, Sidon e Tiro. Eram todas, cidades independentes, verdadeiras Cidades-Estados.
O poder político era quase sempre exercido por um rei, assistido por um conselho de anciãos ou de magistrados escolhidos entre os grandes comerciantes e proprietários agrícolas.
Os trabalhadores geralmente recebiam remuneração e o pequeno número de escravos destinava-se ao trabalho doméstico.
A Fenícia mantinha um comércio bastante variado, além da exportação dos tecidos de lã, cabia-lhe abastecer o mundo mediterrâneo de gêneros exóticos provenientes do Oriente e de produtos de primeira necessidade.
Com isso, o grande crescimento do comércio levou os Fenícios a fundarem feitorias na bacia do Mediterrâneo.
No entanto, sua prosperidade foi prejudicada pelo pagamento de tributos aos Assírios, que dominaram a região no século IX antes de Cristo.
Além disso, as rivalidades e lutas entre as cidades fenícias impediram a formação de um império unificado.
O Império Persa, constituído no século VI antes de Cristo, acabou dominando as cidades fenícias, que se tornaram uma Satrapia – província Persa.
Até esse ponto, a aula transcorreu normalmente.

No entanto, ao começar a tratar dos Medos e dos Persas, logo que começou a falar, o burburinho foi geral.
Os alunos, cochichando entre si, começaram a fazer gozações com o nome dos Medos.
Impertinentes, um deles chegou até a comentar:
-- Professor. O nome desse povo era Medo, por que eles se borravam nas calças?
A gargalhada foi geral.
Fábio, percebendo a provocação do aluno, imediatamente, chamou-lhe a atenção.
"-- Desculpe. Eu ouvi bem?
Por acaso vocês estão achando que eu estou aqui, de brincadeira?"
Nisso, outro aluno mais atrevido ainda, respondeu:
"-- Por que? Não se pode fazer uma brincadeira para descontrair o ambiente?"
Fábio ao ouvir isso, respondeu:
"-- Se eu ouvir outra gracinha dessas, o autor da brincadeira será expulso da minha aula. Estamos entendidos?"

Os alunos então, concordaram com o professor, e a aula prosseguiu.
Ao falar sobre os Medos e os Persas, o professor ouviu pela classe, algumas risadas abafadas, mas não se fez de rogado.
Sem se abalar com isso, continuou a aula.
Disse então:
"-- Os Medos e os Persas eram povos Arianos que atravessaram o Cáucaso para se estabelecerem no Planalto do Irã, às margens do Mar Cáspio.
Por volta do século VIII antes de Cristo, os Medos formaram um reino e em 612 antes de Cristo, destruíram Nínive, pondo fim ao Império Assírio.
Em 539 antes de Cristo, Ciro, chefe dos persas, unificou os dois povos, possibilitando a formação de um novo império.
Ciro fundou então, a Dinastia Aquemênida – a qual existe até os dias de hoje – e consolidou o Império Persa ao estender seus domínios do Rio Indo ao Mediterrâneo e do Cáucaso ao Mar Índico. O império obteria novas conquistas com Dario, filho de um governador e provavelmente aparentado com Ciro, reconhecido como soberano pelas grandes famílias.
Mas sua tentativa de conquistar a Grécia fracassou após a derrota na Batalha de Maratona, em 490 antes de Cristo.
Aqui, cumpre ressaltar que o Rei dos Persas não era considerado um deus, mas apenas um representante de Deus diante dos homens.
Esse governante cuidava da administração de seu país, a partir de grandes canais como Pasárgada, Babilônia e Susa, deslocando-se muito pouco através do império.
O Império Persa, dividido em Satrapias, eram unidades administrativas chefiadas por um Governador ou Sátrapa.
Como no Egito, a agricultura – base de sua economia – dependia das cheias dos Rios Tigre e Eufrates.
O controle econômico era exercido pelo Estado, conforme os padrões do modo de vida asiático. Assim, plantava-se cevada, trigo e centeio.
Ademais, apesar de terem um exército superequipado, os Persas tiveram grandes dificuldades em administrar os vastos territórios conquistados.
Em virtude disso, o Império Persa chegou ao fim em 331 antes de Cristo, quando Alexandre Magno derrotou Dario III na Batalha de Arbelas."
Até aí, a aula estava transcorrendo muito bem.

Mas quando o professor comentou passaria a falar sobre a cultura de todas essas civilizações, os alunos reclamaram.
Suas alunas porém, encantadas com o jovem professor, insistiram para que este, continuasse sua aula.
Com isso, explicando que precisava terminar aquele primeiro ponto, insistiu com os alunos, para que a aula prosseguisse.
E desta forma fez.
Prosseguindo a aula, disse que, a melhor garantia de poder, conferido a classe dominante, não são seus exércitos e sim as desigualdades sociais, idéias e crenças.
Isso por que estas, se convergem em um importante instrumento de dominação, ao qual denominamos ideologia.
Esse instrumento é usado por uma camada considerada superior, como forma de coação das camadas ditas, inferiores, os oprimidos.
Corroborando neste sentido, a religião, a arte e até mesmo a ciência são manifestações externas de ideologia, que, por sua vez, resultam da produção material, da divisão do trabalho e da forma de propriedade.
Por meio dessa bruxa, chamada ideologia, os poderosos controlam o comportamento e a forma de pensar da sociedade.
Mas a história, neste sentido denota que a consciência do que nos cerca, pode libertar as mentes.
Assim, as expressões ideológicas não aceitam a dominação das formas de consciência.
E desta forma, Fábio continuou as explicações sobre os principais aspectos da cultura e do Estado Egípcio, Mesopotâmio, Hebreu e Fenício.

Luciana Celestino dos Santos
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