Enquanto isso, Lourival curtia sua tristeza vivendo em um miserável cortiço no periferia da cidade. Tentando fugir de seu algoz, e das lembranças de seu passado, ainda recente, o rapaz não conseguiu ir para muito longe.
E assim, mesmo fugindo, Lourival não conseguiu se esquecer das lembranças de Elis. De seus banhos de mar com ela, de seus beijos nela, de seus cabelos louros salpicados de areia. Das vezes em que os dois dançaram ao som da brisa do mar e dos ventos que murmuravam na areia. Das corridas nas dunas, do jardim de lírios – recanto que prometeram sempre visitar. O dia em que viveram como marido e mulher.
Lembranças. Lembranças de um tempo em que fora feliz. Muito embora trilhando caminhos obscuros, tempos de uma alegria quase ingênua. Agora não mais.
Ainda que conseguisse retomar sua vida, Lourival sabia que nunca mais as coisas voltariam a ser como eram antes.
Estava certo. Vivendo tempos de solidão, o rapaz pôde perceber que dificilmente voltaria a ter uma vida tranqüila e feliz. Isso por que, certamente o dinheiro acabaria e fatalmente ele teria que voltar a contrabandear. Contudo, agora não possuía mais Elis, e nem a esperança de voltar a vê-la. Não bastasse isso, sentia culpa por sua morte. Sim, por que não fosse sua irresponsabilidade, ela poderia ainda estar viva.
Saber de sua culpa, era-lhe extremamente penoso. Saber que sua vida nunca mais voltaria a ser o que era, não era o pior, mas a consciência de ter de certa forma matado Elis, era um martírio.
Sozinho, Lourival quase enlouqueceu se remoendo sua culpa.
Vivendo miseravelmente, o rapaz teve tempo de sobra para pensar em sua vida.
Certa vez, tentando fugir de seus pensamentos tristes, Lourival resolveu dar uma caminhada pelos arredores. Muito embora não devesse se expor, o rapaz, cansado de ficar trancado em seu quarto, resolveu sair. Angustiado com sua solidão, Lourival foi passear um pouco.
Um estranho ao vê-lo caminhar em meio a barracos, comentou que nunca o vira sair do cortiço.
Lourival não respondeu.
O homem continuou falando. Dizendo que ele era um rapaz muito bonito, comentou que era uma pena que ficasse o tempo todo trancado em seu quarto.
Lourival ao ouvir as palavras do estranho, não gostou nem um pouco. Por esta razão, incomodado com o sujeito, resolveu voltar para o cortiço.
O homem, ao perceber que afastara Lourival, segurando seu rosto, comentou:
-- Mas já vai embora? Nós nem nos entendemos ainda.
Lourival ao notar a impertinência do estranho, afastou a mão de seu rosto.
O homem, ao perceber a irritação de Lourival, respondeu:
-- Nervosinho? Não precisa disso. Eu acalmo essa irritação rapidinho.
O rapaz, ao perceber o atrevimento do sujeito, começou a agredi-lo. O estranho, percebendo que se não se afastasse apanharia até Lourival se cansar de lhe bater, pediu para que o rapaz se acalmasse. Lourival no entanto, transtornado, não queria saber de conversas. Assim, continuou a bater no homem.
O sujeitinho ao perceber que precisava correr, assim que conseguiu se livrar de Lourival, saiu correndo.
Percebendo que não poderia mais ficar por ali, Lourival, ao cair da noite, resolveu pegar sua mala e sair do cortiço. Depois de pagar a estadia, foi para outro lugar.
Luciana Celestino dos Santos
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Poesias
quinta-feira, 3 de junho de 2021
OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 25
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