Poesias

sexta-feira, 11 de junho de 2021

EMPADA CASEIRA

Receita

Ingredientes:

Massa de Empada:
400 gr de farinha
5 colheres de manteiga gelada
2 ovos
1 colher de chá de sal
250 gr de margarina
1kg de farinha
1kg de farinha
500 gr de margarina
2 ovos

Modo de Fazer: 

Misture os ingredientes, mexendo até formar uma massa de aspecto esfarelado.
Após, pressione a massa para lhe conferir um pouco de umidade, para o manuseio em forminhas.
Coloque pouca massa, e acrescente recheio de sua preferência (pode ser de frango, palmito, etc.).
Com uma camada fina de massa, faça uma tampa para as empadas.
Asse as empadas. Acompanhe o processo e só retire do forno, quando estiverem douradinhas.

Pronto! Agora é só degustar!
Bom Apetite!

quinta-feira, 3 de junho de 2021

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 40 – EPILOGO

Nisso, Lourival, tentava conversar com Aliomar. Dizendo que se ele o matasse nunca mais poderia por os pés na cidade, Aliomar respondeu que isso pouco importava. Alegando que uma dívida com ele nunca ficava sem paga, respondeu que era chegada a hora do acerto de contas.
Lourival ao ouvir estas palavras, tentou mais uma vez conversar, mas Aliomar, desejando vingança mandou ele andar.
Lourival, preocupado perguntou-lhe para onde iriam.
Aliomar, ordenando-o se calar, mandou que continuasse andando.
Sem questionar a ordem, Lourival caminhou.
Ao se aproximar da igreja, Lourival perguntou a Aliomar:
-- O que está acontecendo?
Aliomar respondeu:
-- Corre!
Sem nada entender, Lourival permaneceu estático.
Impaciente, Aliomar gritou:
-- Corre.
Sem alternativa, Lourival correu. Correu até chegar em frente a igreja.
Lá Aliomar, apontando sua arma para Lourival, desfechou vários tiros contra ele.
Lourival, ao sentir os tiros, caiu ao chão.
Os poucos convidados que ainda aguardavam o desfecho da história, puderam ver o homem caindo.
Regina, ao ver Lourival ferido, acorreu em sua direção.
Margarida ao perceber a intenção da filha, bem que tentou impedi-la, mas Regina, afastando o braço da mãe, foi ao encontro de Lourival.
O homem, ao ser amparado pela moça, afirmou:
-- Igual a Elis!... Estou pagando pelos meus erros!
Regina ao ouvir estas palavras, chorou.
Lourival, percebendo a tristeza de Regina, comentou:
-- Não, não chore. Menina, não chore. Eu escolhi o meu fim. Escolhi no dia em que me envolvi com quem não devia, e fiz escolhas erradas. Com meu comportamento, magoei e feri muita gente. Você bem o sabe. Eu te contei. Não bastasse isso, te magoei também. Me perdoe por isso. Não foi intencional.
Regina, notando o vazio nos olhos de Lourival, concordou em conceder-lhe o perdão que tanto pedia.
Lourival agradeceu então. Dizendo que agora poderia morrer em paz, respondeu que amou muito Elis, tanto quanto a amava.
Regina respondeu:
-- Eu sei.
Nisso, Lourival, olhando fixamente para ela, disse adeus. Em seguida, pendeu a cabeça para trás e cerrou os olhos. Estava morto.
Regina, que o segurava nos braços, ao vê-lo morto, começou a chorar.
Leopoldo, depois de muito procurá-la, ao vê-la amparando Lourival nos braços, percebendo seu desespero, resolveu ajudá-la.
Nos jornais, mais uma trágica notícia estampada.
No enterro, não fosse o pedido de Regina, e ninguém teria comparecido a cerimônia fúnebre.
Seus pais, preocupados com ela, ao verem-na tão triste, ofereceram-lhe uma viagem.
Regina, que não tinha mais nada a perder, concordou.
E assim, duas semanas após a morte de Lourival, lá estava ela de malas prontas para viajar. Triste com o ocorrido, Regina comentou que nunca mais voltaria ao Brasil.
Seus pais ao ouvirem isso, ficaram deveras tristes.
A moça cumpriu com o prometido. Enquanto viveu, nunca retornou ao país. Casou-se e constituiu família no exterior.
Abelardo, continuou casado. Nos anos seguintes, seus dois filhos casaram-se.
Por sua vez, Bernardo e Claudete faleceram, anos depois da morte de Lourival.
Raul e Aliomar também. Quanto ao último, depois do assassinato de Lourival, este fugiu para o exterior, de onde nunca mais voltou. Como Lourival, foi assassinado também.
Margarida e Leopoldo, um dia, também resolveram se despedir da vida. Cada um a seu tempo, partiram ao encontro de seus pares. Era 1980.
E assim, termina a história.
A vida tem dessas coisas.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 39

Quem a achou foi justamente Lourival, que depois de muito correr, finalmente alcançou-a.
Em frente a praia do Mucuripe, Lourival comentou que foi ali que sua vida começou. Emocionado, começou a chorar.
Regina ao perceber sua emoção, resolveu ouvi-lo.
Lourival então, contou sobre todo o processo de degeneração moral pelo qual vinha passando.
Regina, ao se dar conta de que Lourival tinha o dobro de sua idade, comentou surpresa que ele não aparentava mais do que vinte anos.
Lourival revelou então, que abrira mão de tudo o que acreditava, até mesmo de suas convicções, para ser sempre jovem e rico.
A moça ao saber disso, ficou horrorizada.
Lourival ao perceber o horror que provocara em Regina, comentou que estava arrependido do que fizera. Dizendo que ela estava livre para seguir longe dele, Lourival revelou que só assim se penitenciaria de todo o mal que causara as pessoas. Afirmando que precisava pagar pelo que fizera, comentou que a amava, mas que não era digno deste amor. Além disso, precisava fazer Aliomar responder pelo crime de ter matado Elis.
Regina ao ouvir estas palavras, chorou. Dizendo que agora entendia tudo, resolveu perdoá-lo. Comentando que ele mesmo já se punira pelo mal que perpetrara, respondeu que ele tinha que acertar suas contas com o Criador.
Lourival ao ouvir isso, agradeceu.
Nisso, Aliomar, que partira em seu encalço, ao vê-lo ao longe conversando com Regina, apontou sua arma em direção a ele.
Lourival que nem percebia o que acontecia em volta, despediu-se da moça.
Regina, dizendo que precisava voltar a igreja, respondeu que poderiam voltar juntos.
Abalados, os dois só foram interrompidos em seus silêncios, quando Aliomar surpreendeu-os. Dizendo que tinha contas a acertar com Lourival, pediu a moça que se afastasse.
Regina, ainda tentou defendê-lo, mas Lourival, afirmando que não havia outra saída, pediu a ela que voltasse para casa.
A moça, percebendo que não adiantava discutir, seguiu seu caminho. Aflita, partiu em desabalada carreira em direção a igreja. Sequiosa de tentar ajudar Lourival, Regina correu o mais depressa que pôde.
Quando se aproximou da igreja, começou a chorar. Dizendo que Aliomar tencionava matar Lourival implorou a ajuda. No entanto, nem mesmo sua mãe se interessou em ajudar Lourival.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 38

Os dois então, entraram na igreja. Na sacristia, Lourival começou a contar a história de sua vida.
Enquanto isso, na entrada da igreja, todos comentavam sobre o lamentável incidente ocorrido.
Lourival, na sacristia, explicava a moça sobre sua origem pobre, seu trabalho como pescador, seus tios – recém-falecidos. Contou também sobre como sua vida mudou depois que entrou para o bando de Raul, de como conheceu Elis, e de tudo o que viveram.
Regina, ao ouvir que era o retrato exato da noiva que ele vira morrer, ficou chocada.
Não bastasse isso, a pobre moça ainda teve que ouvir que ele se envolvera com uma mulher mais velha, e que por acidente a matara. Depois, Lourival explicou que com o dinheiro de Madalena, passou a viver como um lorde.
Regina ao ouvir as palavras de Lourival, tencionou sair da sacristia. Chamando-o de assassino, comentou que não queria mais saber de se casar com ele. Dizendo que o desprezava, respondeu que ele era indigno de conviver com sua pessoa.
Lourival ao ouvir isso, tentou se explicar. Dizendo que a vida o encaminhara a isso, revelou que gostava muito dela.
Regina magoada, ao ouvir isso, perguntou em um tom choroso:
-- Tanto quanto você gostava de Elis?
-- Mas é claro que não. Entre vocês, não há comparação. Você é especial. – respondeu ele segurando o rosto de Regina.
Regina furiosa, respondeu que não era um prêmio de consolação. Dizendo que não estava ali para ser usada, sugeriu a Lourival que ficasse com as lembranças de Elis. Afirmando que o noivado estava desfeito, saiu correndo da sacristia.
Lourival aflito, ao vê-la escapar, partiu em seu encalço. Dizendo que não havia dito tudo, pediu para ela não fugisse dele.
Regina porém, continuou a correr.
Lourival, percebendo que precisava apertar o passo, correu atrás dela.
Quando a moça alcançou a porta de entrada da igreja, Lourival gritou pedindo para que os convidados não a deixassem sair. Em vão.
Regina, mesmo tendo em frente a multidão, conseguiu sair da igreja.
Lourival por sua vez, ao sair, passou a ser xingado por todos. Aturdido, bem que tentou seguir Regina, mas esta, percorrendo as ruas, acabou sendo perdida de vista.
Leopoldo dizendo a esposa que a procuraria, pediu a ela que esperasse por eles, em frente a igreja.
Margarida, bem que tentou argumentar, mas Leopoldo insistiu para que ela o esperasse por ali.
Com isso Lourival, cercado por Aliomar, Abelardo, Bernardo, Claudete e Cremilda, encurralado, pediu para que eles o deixassem ir. Afirmando que há muitos anos estava vivendo um inferno na Terra, comentou que mais do que já pagara pelo que fizera, ninguém pagou. Em seguida, dizendo que Aliomar também tinha sua parcela de culpa na morte de Elis, Lourival revelou que ele perseguira sua noiva. Dizendo que Aliomar compelira Elis a se jogar na frente de um automóvel, Lourival conseguiu reverter a situação.
Aliomar então, passou a ser vaiado por todos.
Nisso, dizendo que a morte de Madalena não fora sua culpa, comentou que nunca tivera a intenção de matá-la. Aflito, Lourival respondeu que se eles o deixassem ir atrás de Regina, assim que terminasse de se explicar a ela, voltaria até ali e se entregaria a polícia.
Aliomar ao ouvir isso, ameaçou-o com uma arma.
Lourival porém, sem ter mais nada a perder, saiu em disparada dali.
Foi o suficiente para Aliomar atirar contra a multidão.
Assustados, todos se afastaram. Curiosamente porém, ninguém saiu correndo dali, nem mesmo Margarida, que assustada, se afastou um pouco da frente da igreja.
Nisso, Lourival partiu no encalço de Regina.
Leopoldo, também a procurava – de carro. Todavia, não a encontrou.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 37

Assim, Aliomar e Lourival conversaram. Ou melhor, discutiram. Isso por que, Aliomar, utilizando-se de seus conhecimentos sobre a vida pregressa de Lourival, passou a ameaçá-lo. Dizendo que contaria tudo o que sabia a seu respeito a todos, tentou intimidá-lo.
Lourival porém, dizendo que ele tinha muito a perder se contasse o que sabia a seu respeito, comentou que fora ele quem matara Elis.
Aliomar, ao ouvir o nome de Elis, sorriu. Aproveitando a deixa, respondeu que ele não fora o único culpado por aquela morte. Dizendo que Lourival também fora responsável pelo lamentável acidente que vitimara Elis, o homem praticamente se isentou de culpa. Além disso, Aliomar respondeu que por mais que fizesse, Lourival nunca poderia se livrar desta culpa.
Lourival ao ouvir isso, mandou Aliomar se calar.
Aliomar contudo, continuou acusando-o da morte da moça.
Atordoado, Lourival, começou a correr.
Irritado, Aliomar começou a gritar que não havia terminado sua conversa.
Desesperado, Lourival passou a correr pelas mesmas ruas, que Elis percorrera no dia fatídico. Correndo, acabou se deparando com Abelardo, que ao vê-lo, chamou-o de assassino. Logo após, Lourival avistou Bernardo e Claudete – que se dirigiam a igreja.
Desejoso de consumar sua vingança, Bernardo acabou convencendo Claudete a acompanhá-lo até a igreja.
Ao vê-lo, Bernardo chamou-o de desgraçado.
Aturdido, Lourival correu mais alguns quarteirões. Seguido por Aliomar e seus capangas, e acabou sendo alcançado.
Ao ser pego, Lourival tentou resistir, mas Aliomar, percebendo isso, esmurrou-lhe.
Desacordado, Lourival foi levado de volta a igreja. Deitado no chão em frente a entrada do templo, a esta altura, todos os convidados já sabiam do incidente.
Cremilda, que havia ido até a igreja, ao avistá-lo em tão comprometedora situação, ao vê-lo despertar, comentou que a morte de Elis, não era a única morte que ele carregava consigo. Afirmando que sua patroa também fora morta por ele, Cremilda apontou para Lourival.
Os convidados ao notarem o dedo da mulher em direção a Lourival, censuraram-no.
Foi então que Cremilda chamou-o de assassino.
Com isso, eis que surge Regina. Depois de quase uma hora de atraso, a moça ao ver a aglomeração de pessoas em frente a igreja, assustou-se. Preocupada pediu ao pai para que verificasse o que estava acontecendo.
Leopoldo então saiu do carro, e seguindo em direção a multidão, descobriu que o genro tentara fugir da igreja.
Ao saber disso, Leopoldo exigiu explicações de Lourival.
Aliomar ao perceber o espanto do homem, comentou que Lourival era acusado do assassinato de duas pessoas.
Lourival ao perceber o olhar de reprovação de Leopoldo, pediu a ele para conversar por um momento com Regina. Dizendo que tinha o direito de se explicar, Lourival acabou convencendo o relutante Leopoldo a deixá-lo conversar com a moça .
Isso por que o homem, percebendo que a filha precisava ver com os próprios olhos o que estava acontecendo, desistiu da idéia de proibir o encontro.
Assim foi.
Regina, ao ser chamada a sair do carro, comentou que todos ainda estavam na porta da igreja. Perguntando por que tinha que sair do carro, ouviu como resposta, que Lourival precisava conversar com ela.
Regina ao ouvir as palavras do pai, bem que tentou argumentar, mas Leopoldo dizendo que o assunto era muito sério, exigiu que ela deixasse de lado as formalidades.
Sem alternativa, Regina aquiesceu.
Lindamente vestida, Regina, ao caminhar por entre os convidados, causou espanto e admiração em todos. Envergonhada, a moça bem que pensou em voltar ao carro, mas ao ver que seu gesto não tinha volta, resolveu seguir em frente.
Ao ver Lourival com o olho roxo – resultado do soco que levara –, a moça perguntou o que havia acontecido.
Nisso, Abelardo, Bernardo, Claudete e Aliomar, ao verem a moça, ficaram espantados. Isso por que, Regina muito assemelhada com Elis, lhes trazia a mente a memória da moça. Admirados com a semelhança física, comentaram quase que em uníssono:
-- Mas ela é igualzinha a Elis!
A moça ao ouvir aquelas palavras, assustou-se. Perguntando a Lourival o que estava acontecendo, ouviu dele um pedido para conversarem na sacristia.
Regina, sem saber o que pensar, concordou.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 36

Claudete que estava cuidando do jantar, ao descobrir o motivo da irritação de Bernardo, preocupada pediu para ele deixar o assunto de lado. Dizendo que Lourival não tivera culpa da morte de Elis, a mulher pediu reiteradas vezes, para que ele se esquecesse da idéia de vingança.
Bernardo porém, iracundo, insistiu em dizer que era chegado o momento da revanche.
Claudete ao ouvir isso, ficou apavorada.
Cremilda – a ex-empregada de Madalena –, depois de um longo dia de trabalho na casa de uma família abastada, ao saber pelos jornais, da notícia de casamento de Lourival, inconformada, comentou com uma amiga, que gostaria de ver de perto, o casamento.
Misteriosa, acabou deixando escapar, que sabia de algo relacionado a morte da ex-patroa.
A amiga, ao perceber o tom com que Cremilda falava, recomendou-lhe cautela. Perguntando-lhe o que sabia a respeito da morte de Madalena, Cremilda respondeu que nada de mais.
A amiga porém, não se convenceu.
Cremilda, percebendo a desconfiança da amiga, resolveu mudar de assunto.
Assim, as duas começaram a falar de amenidades.
Com isso, no dia do casamento, Lourival, animado, tratou logo de se preparar para o momento. Depois de tomar um banho, colocou o terno. Feliz, ao mirar-se no espelho, lembrou-se do fatídico dia em que se casaria com Elis.
Ao lembrar-se da morte da moça, Lourival ficou perturbado.
Isso por que, a cena de Elis morta, nos seus braços, era terrível. Tão funesta que retirou-lhe até as cores da face. Atormentando com a lembrança, Lourival pensou em desistir do casamento.
Não fosse o companheiro fiel de festas, e Lourival teria deixado Regina, esperando-o no altar.
Enquanto isso, depois de dormir profundamente, Regina foi chamada por Margarida. A moça, espreguiçando-se, logo levantou-se. Tencionando banhar-se, pediu a mãe para que lhe preparasse um banho.
Margarida atendeu o pedido. Preparando a banheira, colocou na água, e todos os sais de banho que sua filha tinha direito.
Regina então, tomou seu banho.
Lourival, por sua vez, já se preparava para ir até a igreja.
A esta altura, todos os convidados, aguardavam ansiosamente o casal. Assim, quando Lourival apareceu todos o cumprimentaram. Posicionado em frente ao altar, permaneceu em pé.
Regina por sua vez, colocava seu vestido de noiva. Arrumando-se para o casamento, demorou mais do que o esperado para chegar na igreja.
Lourival, que aguardava a noiva, distraído, só percebeu a aproximação de Aliomar, quando o mesmo puxou-o pelo braço.
Ao vê-lo, Lourival perguntou:
-- O que faz aqui?
-- Nossa! Mas que recepção! Eu venho aqui para te congratular e você me responde com quatro pedras na mão. O que é isso? – comentou Aliomar, visivelmente espantando com a aparência excessivamente jovial de Lourival.
Lourival ao perceber o olhar de espanto de Aliomar, resolveu perguntar:
-- O que você está olhando?
-- Nada de mais. Eu só estou espantado com seu aspecto jovem. Já faz quase vinte anos que eu te conheço, e você não mudou nada. Parece o mesmo jovem que eu conheci tempos atrás. Quanto a mim, já não posso dizer o mesmo. Como pode ver, eu já sou um velho.
Lourival, percebendo que a conversa trilhava um caminho perigoso, pediu licença aos padrinhos, que ouviram tudo. Espantados, os mesmos concordaram que os dois conversassem do lado de fora da igreja.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 35

Os pescadores da vila onde ele nascera e crescera, ao saberem da novidade, comentaram que Lourival havia realmente, mudado de vida. Impressionados com sua trajetória, alguns deles comentaram, decepcionados, que jamais seriam convidados para participar da festa.
Aliomar, que havia se afastado da cidade, após o lamentável acidente que vitimara Elis, depois de alguns anos, retornou ao lugar. Retomando suas atividades, quando o jogo foi proibido em 1946, pelo presidente – o General Eurico Gaspar Dutra –, Aliomar ficou sem saber o que fazer. Sem sua principal fonte de renda, inconformado com a medida, entrou para ilegalidade. Foi assim que continuou com seus negócios.
Com seus cassinos na clandestinidade, Aliomar, acabou se aliando a Raul – importante contrabandista da região. Os dois juntos, eram imbatíveis. Sim por que, com o jogo proibido no Brasil, só restou a Aliomar contrabandear os produtos que necessitava para operar seu cassino.
Assim, os dois se tornaram grandes amigos.
Quanto a Abelardo – o mesmo se casou. Após o lamentável acidente que ceifou a vida de Elis, o rapaz, por algum tempo, chorou sua tristeza. Porém, conforme o tempo passou, ao encontrar uma nova pretendente, casou-se. Agora com dois filhos quase moços, Abelardo parecia ter se esquecido por completo de Elis.
Já Bernardo e Claudete, sozinhos, só faziam lamentar a perda da filha. Embora já fizesse quase vinte anos que a tragédia que vitimara Elis, ocorreu, o casal não se conformava com a morte da moça.
Bernardo, inconformado com essa tragédia, foi o que mais sofreu com a perda da filha. Depois da morte de Elis, desejando vingança, o homem procurou por Lourival, em todos os lugares.
Procurando-o passou meses em seu encalço. Em vão. Nunca conseguiu achá-lo.
Todavia depois de alguns anos, alimentando sua raiva por ele, finalmente Bernardo o viu em colunas sociais, ao lado de uma mulher, chamada Madalena.
Bernardo ao ver Lourival estabelecido na vida, ficou furioso. Isso por que, com dinheiro, ficava praticamente impossível atingi-lo.
Claudete, percebendo a irritação do marido, ao ver a foto do casal, tentou de todas as formas possíveis acalmá-lo.
Bernardo porém, furioso, não podia aceitar que o estava acontecendo.
Sim, por que se o rapaz estava casado com a dama, não havia mais nada o que ser feito.
Claudete ao perceber que o marido desejava se vingar, tentou mais uma vez acalmá-lo. Mas Bernardo, frustrado, nutriu por muito tempo um sentimento de pesar e de amargura, ao sentir que não poderia atingi-lo.
Nisso, o tempo passou.
A raiva de Bernardo por Lourival, contudo, não arrefeceu. Porém, ao ver a notícia da morte de Madalena, Bernardo percebeu que o rapaz não era tão inatingível assim. Feliz com a notícia, esperava se vingar do rapaz. Sim, por que, duvidando das versões apresentadas pela polícia, Bernardo acreditava que Lourival, matara a mulher.
Todavia, para sua decepção, Lourival não chegou sequer, a ser alvo de suspeitas.
Aliomar e Raul, ao acompanharem as notícias do envolvimento de Lourival com uma mulher mais velha e depois a morte desta, ficaram surpresos. Acreditando que Lourival poderia ter algum envolvimento no crime, a dupla acompanhou avidamente as notícias no jornal.
Raul, que há tempos não tinha notícias de Lourival, ao saber pelos jornais, que ele estava para se casar, espantou-se. Espantou-se mais ainda, ao saber de Aliomar, que Lourival fugira da cidade depois da morte de sua primeira noiva.
Com isso, quando Raul e Aliomar souberam do enlace de Lourival e Regina, perceberam que ele era forte demais para cair. Ao notarem este fato, perceberam que o mesmo era uma ameaça em potencial.
Muito embora, Lourival nunca mais tenha falado com eles, Raul e Aliomar temiam que ele contasse o que sabia a respeito deles. Cismados com a atitude de Lourival, Raul e Aliomar, acreditavam que mesmo depois de anos, ele podia prejudicá-los.
Aliomar principalmente. Ao dizer que de certa forma tivera sua parcela de responsabilidade pela morte de Elis, comentou que Lourival poderia estar esperando o momento certo para se vingar dos dois.
Raul ao ouvir isso, respondeu que não tinha nada que ver com a morte da moça. Salientando que não a conhecia, afirmou que não podia ser responsabilizado por isso.
Aliomar concordou. Mas dizendo que Lourival sabia demais a respeito dos dois, comentou que eles deviam ter cautela.
Raul, notando que o temor de Aliomar era exagerado, respondeu que muita coisa havia mudado.
Aliomar, percebendo uma certa tranqüilidade no parceiro, comentou que embora muita coisa tenha mudado, algumas permaneciam iguais. Ademais, ressaltando que para quem tinha dinheiro era fácil descobrir o paradeiro de dois bandidos, Aliomar conseguiu deixar Raul bastante preocupado.
Intrigado, o homem perguntou:
-- Mas por que só agora ele tomaria alguma atitude contra nós?
Aliomar então respondeu:
-- Talvez por que só agora ele tenha encontrado uma boa desculpa para isso.
Raul por sua vez, continuava sem entender a preocupação do amigo. Dizendo que já havia passado tempo demais, comentou que ele não tinha motivos para querer prejudicá-los.
Nisso, a conversa se encerrou.
Aliomar contudo, continuava preocupado. Por esta razão, tentando se antecipar aos fatos, resolveu visitar Lourival.
Abelardo, ao ler a notícia do casamento de Lourival com Regina, inconformado, tratou logo de informar Bernardo a este respeito.
O homem ao saber da novidade, ficou inconformado. Prometendo se vingar, jurou que desta vez Lourival não escaparia incólume.
Abelardo ao perceber a irritação de Bernardo, ficou deveras satisfeito. Isso por que, mesmo depois de muitos anos, Abelardo ainda nutria um sentimento profundo de ódio por Lourival. Por esta razão, desejoso de vingança, assim que soube do grande acontecimento avisou Bernardo.
Com isso, depois de avisar Bernardo sobre o casório, Abelardo se despediu.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 34

No dia seguinte, Lourival e Regina foram passear pelo centro da cidade.
Mais tarde, aproveitando a matinê, foram ao cinema. Enquanto assistiam a película, Lourival aproveitava para tocar o ombro de Regina.
Feliz por conhecer a moça, Lourival pôde retomar seus tempos felizes.
Contente, nos últimos tempos, Lourival resolveu se dedicar única e exclusivamente a Regina. Ser ao qual, devotava sua mais completa adoração. Muito embora, a moça não agisse igual a Elis, Lourival chegava a se esquecer às vezes, que Regina, era apenas muito parecida com sua primeira noiva.
Regina por sua vez, ao notar que algumas vezes Lourival a observava de uma maneira muito comovida, perguntava:
-- O que foi? Por que você está me olhando desta maneira?
Lourival, percebendo que agia indiscretamente, sempre respondia, quando era questionado a esse respeito, que apenas a estava admirando.
Regina, que desconhecia a história de Elis, sempre que ouvia as explicações do mancebo, acreditava nelas. Isso por que, sem motivos para desconfiar de Lourival, só restava a moça, acreditar.
Assim, foi até o dia do casamento.
Sim, depois de algum tempo de calmo namoro, Lourival, sequioso de se casar, resolveu conversar com os pais da moça e marcar o dia do casamento.
Leopoldo, que considerava a filha muito jovem, tentou fazê-lo desistir da idéia.
Lourival no entanto, insistiu. Dizendo que já era mais do que hora dele ter uma família, afirmou que Regina seria a mulher mais feliz do mundo.
Leopoldo ao ouvir as palavras do rapaz, percebendo que nada o faria mudar de idéia, finalmente concordou com o casamento.
Margarida, percebendo que em breve sua filha sairia de casa para ter sua própria família, ficou emocionada. Em meio a este sentimento abraçou Regina, e dizendo que sua vida iria mudar muito dali por diante, desejou-lhe felicidades.
Igualmente emocionada, Regina agradeceu as felicitações. Em seguida, abraçando Lourival, disse-lhe que estava muito feliz.
Lourival sorriu.
Com isso, nos dias que se seguiram, Margarida e Regina passaram tardes e mais tardes vasculhando lojas a procura de objetos para guarnecer a nova casa. Muito embora soubessem que o rapaz já possuía residência, Margarida queria por que queria, que sua filha tivesse um vasto enxoval.
Assim, só restou a moça, acompanhar sua mãe nas compras.
Lourival por sua vez, assim que pôde, ligou para seu alfaiate, solicitando-lhe que fosse até sua casa conferir suas medidas para fazer um terno.
Com isso, o tempo foi passando.
Regina e Lourival ansiosos pela data do enlace, mal podiam acreditar que em breve se casariam.
O casal, que ultimamente vinha freqüentando as colunas sociais, atraía a atenção dos jornalistas, sempre ávidos por novidades.
Assim, o casamento acabou se tornando conhecido de todo o pessoal da região.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 33

Com isso, nos dias que se seguiram, informado de que seus tios faleceram, Lourival tomou logo todas as providências necessárias, para que fosse realizado o enterro.
Mesmo assim, muito embora tenha arcado com todas as despesas da cerimônia fúnebre, Lourival não compareceu ao enterro.
Tal fato causou estranheza a todos os moradores da vila de pescadores, onde Marta e Renato viveram seus últimos dias. Alguns pescadores, espantados com a desconsideração de Lourival, chamaram-no de ingrato.
Como desculpa para sua ausência, Lourival encomendou uma linda coroa de flores para enfeitar o caixão dos tios. Mas, isso não foi o suficiente para convencer os caiçaras de que agira corretamente. Alguns dos homens, que o conheceram quando jovem, ao constatar que Lourival continuava o mesmo arrogante de sempre, comentaram que não o perdoariam por ter abandonado os tios.
Com isso, certa vez, caminhando pelas ruas da cidade de Fortaleza, Lourival, ao ser reconhecido por um dos pescadores da vila onde morava, tratou logo de fugir dali.
Espantado, o caiçara ficou admirado quando notou que Lourival não mudara nada nos últimos anos.
Incomodado com a cena, Lourival demorou algum tempo para se esquecer do assunto.
Todavia, quando se esqueceu, voltando a sua vida boêmia, novamente se encontrou com Regina. Cada vez mais impressionado com a beleza da moça, Lourival constatou que não poderia mais uma vez deixar a felicidade escapar-lhe das mãos. Assim, ao sentir que a presença da moça em sua vida não era obra do acaso, Lourival, passou a usar pretextos, para vê-la.
Foi assim, que descobriu que a moça dançava muito bem. Dançando com ela em bailes, Lourival percebeu também, que ela era uma ótima companhia. Inteligente e refinada, sabia conversar sobre qualquer assunto.
Simpática, sempre sorria dos galanteios dos colegas de Lourival.
Ele por sua vez, ficava cada vez mais encantado com ela.
Feliz com sua presença, certa vez, em visita à sua residência, Lourival conheceu os pais da moça.
Nesta visita, Lourival descobriu também, que Regina era uma exímia pianista.
Impressionado com tantas habilidades, Lourival, exclamou:
-- Vejo que a senhorita tem múltiplos talentos!
Regina ao ouvir o comentário, sorriu.
Por fim, se despedindo, Lourival voltou para casa.
Feliz, ao chegar em sua residência, mal podia acreditar que estava fazendo as pazes com a vida. Depois de anos vivendo sozinho, finalmente encontrara a pessoa que iria alegrar seus dias. Envolvido por este pensamento, Lourival decidiu que já era hora de firmar compromisso com a moça.
Foi assim, que depois de algumas semanas, Lourival pediu a mão de Regina em casamento.
Em um jantar oferecido em sua residência, Lourival pediu Regina em casamento.
Margarida e Leopoldo ao ouvirem o pedido, concordaram.
Leopoldo, visivelmente emocionado, respondeu que a data era tão feliz que não conseguia encontrar palavras para descrevê-la.
Regina sorriu.
Lourival, comentando que tivera muita sorte por encontrar Regina, respondeu que mal podia esperar pelo dia do casamento.
Leopoldo, percebendo sua animação, respondeu que não havia por que ter pressa.
Margarida concordou. Dizendo que a filha era muito jovem, afirmou que eles precisavam se conhecer mais um pouco.
Nisso, eis que surge uma criada trazendo chávenas com chá para que pudessem encerrar o jantar. A refeição, cuidadosamente preparada, parecia um banquete. Lourival, sequioso de que a data se tornasse memorável, pediu as empregadas que caprichassem no jantar. Isso por que, só assim, conseguiria impressionar os pais da moça.
Nervoso, Lourival não queria que nenhum detalhe escapasse de seu controle.
Por isso, quando tudo ocorreu a contento, feliz, se aquietou.
Com isso, no momento em que Margarida e Leopoldo se despediram, Lourival convidou Regina para um passeio.
A moça, mais do que depressa concordou. Seus pais então, pedindo para que não se demorasse, responderam que a esperariam no carro.
Regina concordou.
Nisso, depois do passeio, dizendo que precisava partir, Regina foi ao encontro dos pais, que a esperavam dentro do carro, para ir embora.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 32

Aturdido, Lourival só fazia pensar no encontro com Regina. Impressionado com a semelhança física entre ela e Elis, assim que pôde, foi até o jardim onde eram cultivados lírios. Neste lugar, ele e Elis se encontraram muitas vezes. Tantas vezes que ele já nem sabia quantas.
Foi justamente neste cenário que ele voltou a se lembrar dos momentos que passara com a moça. Dos beijos que trocaram, das brincadeiras na praia, dos sorrisos, dos olhares.
Envolvido por estas lembranças, Lourival chegou por um instante a se esquecer de suas tristezas, de suas culpas, e de seus pesares.
Contudo, depois de horas se recordando de momentos felizes de sua vida, Lourival voltou a sua realidade.
No caminho de volta para casa, ao se encontrar com Abelardo, este ao vê-lo, surpreendido com sua juventude, começou a dizer, que ele devia ter uns quarenta anos. Os transeuntes que ouviram o comentário, ao observarem Lourival, ficaram espantados.
Lourival, aturdido com a atitude de Abelardo, começou a correr. Apressado, só pensava em chegar à sua casa. Por isso, ao lá chegar, tratou logo de trancar a porta. Assustado com o que ocorrera, Lourival resolveu que passaria os próximos dias recluso.
Seus empregados, já acostumados com suas excentricidades, nem estranhavam mais o seu comportamento.
Contudo, alguns conhecidos, percebendo que ele não saía mais de casa, começaram a estranhar sua atitude. Por conta disso, alguns deles chegaram até a visitá-lo para saber o que estava acontecendo.
Com isso, Lourival, acabou retomando sua vida social.
Foi assim, que depois de algum tempo, reencontrou Regina. Cada vez mais encantado com a moça, Lourival com o passar do tempo, convidou-a para visitar sua casa.
Regina, encantada com o convite, aceitou prontamente a oferta.
Assim, no dia combinado, a moça adentrou a suntuosa residência de Lourival. Observando a decoração dos ambientes, e o requinte do lugar, Regina elogiou seu bom gosto.
Lourival prontamente agradeceu o elogio. Depois, dizendo que fazia algum tempo que vivia ali, comentou que pouquíssimas pessoas conheciam sua casa.
Regina ao ouvir isso, ficou lisonjeada.
Por fim, passadas algumas horas, Regina, percebendo que precisava voltar para casa, despediu-se de Lourival.
O homem por sua vez, dizendo que a acompanharia até a porta, convidou-a para uma nova visita.
Regina prometeu que assim que pudesse, o visitaria novamente.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 31

Com isso, cansado de viver na residência onde Madalena fora morta, Lourival vendeu a casa.
Quando finalmente foi ver a casa onde morou com seus tios e Elis, o rapaz constatou que mesma fora leiloada, por conta de tributos não pagos.
Quando percebeu isso, Lourival, ficou desolado. Isso por que, desejava voltar a viver naquele ambiente, mas agora que a casa pertencia a outro dono, não poderia retomar o imóvel.
Por conta disso, o rapaz resolveu comprar uma nova casa. E assim, mesmo estando longe dos fantasmas do passado, Lourival continuava a ver Elis em muitos dos lugares por onde passava. Certa vez, sonhando com a moça, viu-a chorando, pedindo para que mudasse sua vida.
Mas ele não a ouvia. Moralmente corrompido, Lourival percebeu que trilhara um caminho sem volta. Por conta disso, acostumou-se a conviver com a culpa e o remorso. Mergulhado em sombras, pôde experimentar o gosto amargo da solidão.
Muito embora saísse à noite e passeasse pela cidade, Lourival estava quase sempre só. Só e atormentado pelos fantasmas de seu passado.
Enquanto isso, o tempo passava.
Lourival agora, com quase quarenta anos, permanecia belo.
Tal fato causava espanto em todos, que envelhecidos pelo tempo, não se conformavam com toda sua juventude e vitalidade.
Quando se tornara herdeiro de Madalena, com a idade de trinta anos, era natural que ainda aparentasse ser jovem, já que realmente o era. Contudo, aos quarenta anos, parecia o mesmo garoto que era aos vinte.
Isso realmente era espantoso.
Contudo, o mais espantoso ainda iria acontecer.
Numa época da vida de Lourival, em que o martírio parecia não ter fim, surgiu uma moça de inigualável beleza, que em muito lembrava sua adorada Elis, falecida há quase vinte anos.
Regina, com quase vinte anos, era o retrato vivo daquela jovem que encantara os olhos e o coração de Lourival.
A moça, culta e refinada, logo que foi apresentada a ele, chamou-lhe a atenção. Estando num salão de festas, Lourival ao ver Regina diante de si, mal podia acreditar no que seus olhos vislumbravam. Impressionado com a semelhança física da moça com sua Elis, Lourival perguntou-lhe de onde vinha.
Regina, simpática, respondeu que vinha da Europa, depois de alguns anos de estudo em um colégio interno.
Lourival ao ouvir isso, revelou que ela lhe lembrava muito alguém. Contudo, alvoroçado, o homem desculpou-se, e pedindo licença, alegou que precisava ir.
Seu anfitrião ao perceber seu estado de espírito, insistiu para que ele se acalmasse, mas Lourival, dizendo que tinha um outro compromisso, respondeu que precisava partir.
O anfitrião, percebendo que não poderia segurá-lo, deixou-o ir.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 30

No dia seguinte, Lourival compareceu à delegacia. No depoimento prestado, alegou que Madalena era uma muito feliz e bem resolvida, mas que nos últimos tempos, vinha adotando um comportamento extravagante.
O delegado, curioso, perguntou o tipo de comportamento que Madalena vinha tendo.
Lourival então, com o discurso ensaiado, disse ao delegado, o mesmo que dissera a empregada.
Depois, ao ser dispensado, voltou para casa.
Quando Cremilda prestou seu depoimento, confirmou a versão de Lourival.
Com isso, conforme os dias se passaram, e a tese de suicídio foi confirmada.
Lourival, assim, livre de qualquer suspeita, prosseguiu sua vida.
Quando da abertura do testamento, Lourival ao ser contemplado como único herdeiro, atraiu a atenção de todos. Muito embora Madalena não tivesse filhos, ninguém poderia imaginar que o rapaz seria guindado a categoria de seu único herdeiro.
Até mesmo Lourival se espantou com isso. Seu maior espanto porém, foi quando descobriu que agora era dono de um vasto patrimônio.
O rapaz ao se ver finalmente rico, prometeu a si mesmo que acertaria suas contas com Aliomar.
Com isso, depois de anos ausente, Lourival finalmente foi ter com os tios, que a essa altura, já bem velhinhos quase não o reconheceram. Muito embora Lourival não tivesse mudado nada depois que partira, Marta e Renato, se ressentiam do peso dos anos.
O casal vivendo na vila de pescadores, mal se lembrava da tragédia que vitimara a pobre Elis.
Lourival então, percebendo que ambos precisavam de maiores cuidados, fez de tudo para convencê-los a morar com ele.
Marta e Renato no entanto, declinaram do convite. Dizendo que estavam muito bem ali, não precisavam que um estranho cuidasse deles.
Lourival ao ouvir isso, ficou deveras preocupado. Contudo, ao perceber que os pescadores o olhavam com desconfiança, resolveu partir.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 29

Pensando no que fazer, o rapaz ficou por horas trancado no quarto. Quando finalmente pensou em uma solução, decidiu lavar o corpo de Madalena.
Sequioso de criar um ambiente que justificasse a morte da mulher, o rapaz, utilizando-se de luvas, limpou o cadáver. Depois, vasculhando os pertences de Madalena, percebeu que poderia simular que ela se suicidara.
Lourival então, utilizando-se de um lençol, torcendo-o conseguiu transformá-lo em uma espécie de corda improvisada. Em seguida com o auxílio de uma cadeira, fixou o lençol no teto. Por fim, colocou o pescoço de Madalena na corda improvisada.
Tranqüilo, pensou que assim, todos acreditariam na hipótese de suicídio.
Enquanto isso, aproveitando que ninguém ouvira a discussão, Lourival, resolveu sair escondido da residência. Ao perceber que nem os empregados estavam na casa, o rapaz, fugindo pelo jardim, conseguiu se evadir da residência, sem que ninguém percebesse.
Quando retornou a casa, uma viatura policial estava estacionada na frente do portão principal.
Lourival, ao ver a viatura, fingindo preocupação, perguntou logo que entrou na residência, a uma das empregadas, o que estava acontecendo.
Cremilda, impressionada com o que ocorrera, comentou que a patroa fora encontrada morta. Afirmando ser difícil acreditar que ela se suicidara, comentou que os policiais, proibiram todos os empregados de entrarem no quarto.
Lourival ao ouvir isso, fingindo espanto, perguntou:
-- A senhora está brincando comigo. Não está? Que brincadeira de mal gosto é essa?
Cremilda, insistindo em dizer que Madalena estava morta, tratou logo de adverti-lo que os policiais lhe encheriam de perguntas.
O rapaz, que parecia atordoado, comentou que não estava entendendo nada.
Cremilda então, tomada de curiosidade, perguntou ao rapaz, se eles não haviam discutido.
Lourival, dizendo que não, deixou a empregada surpresa.
A mulher comentando que a morte da patroa era muito estranha, afirmou que Madalena era uma mulher muito decidida para resolver as coisas desta maneira.
O rapaz, ainda demonstrando confusão mental, respondeu que Madalena andava muito estranha ultimamente.
Cremilda, surpresa com o comentário, perguntou:
-- Estranha como?
Lourival, aparentando estar chocado com a notícia da morte de Madalena, respondeu que ela não era a mesma de antes. Alegando que nos últimos tempos ela vinha adotando atitudes incoerentes, afirmou que Madalena estava disperdiçando muito dinheiro e destratando alguns amigos.
Cremilda ao ouvir as palavras de Lourival, comentou surpresa, que nunca percebera nada.
Nisso um dos policiais, descendo a escada, dirigindo-se ao rapaz, perguntou-lhe seu nome.
Lourival então respondeu.
O policial, percebendo que se tratava do marido da vítima, avisou-o de que estava intimado a comparecer à delegacia na manhã seguinte.
Lourival ao receber a intimação, respondeu:
-- Está certo! Amanhã estarei lá.
Nisso o policial se despediu.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 28

Certa vez, Lourival ao ouvir isso, começou a rir. Dizendo que se ela não o respeitava, ele também não tinha que respeitá-la, atraiu a fúria da mulher para si.
Madalena ao ouvir as palavras do rapaz, comentou que se era assim que ele pensava, não deveria continuar a viver com ela.
O rapaz ao ouvir isso, comentou que não sairia daquela casa de jeito nenhum. Dizendo que não dedicara os melhores anos de sua vida a ela, para que fosse jogado na rua como se fora um traste inútil, Lourival respondeu que tinha direito a uma parte de seus bens.
Madalena ao ouvir as palavras do rapaz, caiu na gargalhada. Alegando que não lhe devia nada, comentou que lhe dera muito dinheiro, roupas, jóias, sapatos e até um carro. Diante disso, estava quites com ele.
Lourival furioso, respondeu então, que isto não bastava. Alegando que fora enganado por ela, a qual sempre prometera dar parte de seus bens a ele, comentou que não sairia dali.
Madalena, ao dizer que o excluiria de seu testamento, conseguiu deixá-lo preocupado.
Lourival, constatando que estava perdendo a briga, resolveu dizer que ainda a amava e que estava disposto a deixar as discussões de lado, só para viver bem com ela. Alegando que só flertara com aquelas mulheres para lhe fazer ciúmes, Lourival respondeu que se sentia relegado a segundo plano.
Madalena ao ouvir isso, se acalmou um pouco. Envaidecida com as palavras de Lourival, a mulher convenceu-se de que estava em boa situação. Por conta disso, utilizando-se de um ar de superioridade, Madalena respondeu, ironicamente:
-- Ora veja! O conquistador de mulheres agora está preocupado!
Lourival ao ouvir estas palavras, não gostou nem um pouco. Por esta razão, comentou:
-- Nunca pensei que algum dia você tripudiaria em cima de mim. Eu estou me declarando, demonstrando todo o meu afeto por você, e é assim que me responde? Nunca pensei.
Madalena ao ouvi-lo proferindo palavras tão melancólicas, sorriu e triunfante, comentou que a discussão estava encerrada.
Lourival, furioso com a arrogância da mulher, retrucou dizendo que nada estava encerrado. Dizendo que não perdera tantos anos de sua vida, vivendo com ela, para acabar na miséria, insistiu na idéia de que tinha direito a uma compensação.
Madalena ao perceber que Lourival não fora sincero, respondeu conformada:
-- Eu sabia que seu afeto por mim não era sincero. Só não pensei que você fosse deixar claro que nunca gostou de mim.
Lourival então, ao constatar que nunca a enganara com seus falsos afetos, respondeu que apesar de nunca tê-la amado, houve um tempo sim, em que sentiu muita admiração por ela.
Madalena ao ouvir isso, não acreditou.
Lourival por sua vez, ao notar o desdém da mulher, retrucou dizendo que se ela não acreditava em suas palavras, não podia fazer nada.
A mulher ao ouvir isso, pediu para que ele arrumasse as malas, e saísse daquela casa o quanto antes.
Lourival então, percebendo que Madalena havia lhe virado às costas e estava saindo do quarto, começou a gritar. Dizendo que a conversa não havia terminado, o rapaz foi atrás dela, que sem olhar para trás, já estava próxima da escada.
Lourival, ao alcançá-la, segurando Madalena pelo braço, respondeu-lhe que não seria ela quem daria a última palavra. Alegando que ele fora fiel a ela nos anos que viveram juntos, exigiu novamente uma compensação pelos anos que passou ao seu lado.
Madalena, irritada com essa conversa, respondeu que não lhe daria nada.
Lourival, furioso, ao perceber que Madalena estava decidida a prejudicá-lo, tomado de ímpeto, começou a apertar seu pescoço. Afirmando que ela não iria passá-lo para trás, o rapaz, cada vez mais irritado, apertava com mais força a garganta de Madalena.
A mulher percebendo que Lourival tentava estrangulá-la, começou a se debater. Tentando fazer com que ele parasse, Madalena passou a arranhar o braço do rapaz, que ainda assim, continuou apertando seu pescoço. Conforme a raiva de Lourival aumentava, com mais e mais força ele apertava o pescoço, da mulher.
Madalena então, cansada de se debater, depois de muito esforço, morreu asfixiada.
Com isso, depois de algum tempo, Lourival, percebendo que se excedera, finalmente soltou a mulher.
Madalena, já morta, foi ao chão.
O rapaz, ao notar que a mulher estava inconsciente, tentou reanimá-la. Em vão. Madalena estava realmente morta.
Lourival então, constatando que nada mais poderia ser feito, ficou desesperado. Sem saber o que fazer, arrastou o corpo da mulher para dentro do quarto. Colocando o corpo na cama, Lourival, atordoado, começou a andar de um lado para o outro.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 27

Foi assim, que com o passar do tempo, Lourival passou a ser tratado como doutor. Muito embora não tivesse formação acadêmica, ao se tornar amante de Madalena Camargo, tornou-se doutor. E mesmo sendo muito mais jovem que a dama, ainda assim, Lourival era tratado com toda a consideração pelos empregados de Madalena.
Algumas empregadas, encantadas com sua beleza, ficavam a admirá-lo. Quem não gostava nada disso, era Madalena, que exigia a todo o momento, compostura de seus empregados.
Lourival contudo, não era tolo, por isso mesmo nunca se envolveu com as criadas da mulher. Educado e cavalheiresco, sempre elogiava Madalena na frente de todos.
E mesmo sendo muito mais velha que o rapaz, Madalena ainda era capaz de atrair olhares de interesse. Isso por que, muito embora fosse uma senhora, ainda era uma bela e atraente mulher.
Contudo, não era na beleza da dama que Lourival estava interessado. Sequioso de arrumar sua vida, o rapaz, percebendo que era dotado de grandes atrativos, resolveu usá-los a seu favor. Assim, decidido a enterrar seu passado, Lourival, resolveu se amasiar com Madalena. Disposto a viver como um rei, faria de tudo, para ficar com seu dinheiro.
Todavia, não seria nada fácil convencê-la a deixar-lhe bens em testamento. Isso por que, vaidosa, Madalena sempre dizia que ele só seria seu amante enquanto fosse jovem e belo. Quando envelhecesse, ela o deixaria, como já fizera com tantos outros.
Lourival ao ouvir isso, não gostou nem um pouco. Percebendo que sua situação não era estável, o rapaz resolveu fazer uso de todas as suas armas. Se esforçando para seduzi-la, Lourival, passou a mostrar cada vez mais seu lado afetuoso.
Madalena encantada com o poder de sedução de Lourival, ficava cada vez mais inclinada a colocá-lo como beneficiário em seu testamento.
Desta forma, morando com a dama, conforme os anos se passaram, Madalena, resolveu incluí-lo como beneficiário em seu testamento. Todavia, repentinamente passou a se desinteressar do amante.
Lourival percebendo isso, temendo que Madalena o trocasse por outro, constatando que anos se passaram, prometeu a si mesmo que faria de tudo, para ficar sempre jovem. Jurando que seria capaz até vender sua alma para permanecer eternamente jovem, Lourival, diante do espelho, se comprometeu a cumprir este acordo.
Com isso, utilizando-se de uma nova estratégia, o rapaz, passou, a flertar com outras mulheres. Assim, sempre que Madalena organizava uma festa, ou era convidada a participar de uma, lá estava ele a olhar outras mulheres. Disposto a provocar ciúmes em Madalena, Lourival – cada vez mais jovem e belo –, passou a flertar com as jovens convidadas.
Quando percebeu isso, Madalena ficou furiosa com o rapaz. Aborrecida, sempre que estava a sós com Lourival, dizia que ele devia respeitá-la. Alegando que era ela quem sustentava a casa, comentou que ele lhe devia fidelidade.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 26

Ao final de algum tempo, depois de quase três meses sumido, finalmente o rapaz resolveu dar o ar de sua graça em uma festa. Usando seu melhor traje, Lourival freqüentou um baile de carnaval ocorrido num elegante clube da cidade. Sem medo de se encontrar com algum desafeto, e rapaz se divertiu bastante.
Foi nesse elegante baile que o moço conheceu uma elegante senhora. Madalena, uma eminente dama, ilustre, quase que diariamente aparecia nas colunas sociais de Fortaleza. Sofisticada, logo atraiu a atenção de Lourival.
Todavia o rapaz não precisou mover um dedo para que o encontro entre eles acontecesse. Isso por que, a eminente viúva, assim que percebeu o rapaz de porte altivo e elegante, logo se interessou por sua figura. Tanto que pediu para que um funcionário do salão, entregasse um bilhete a ele.
O rapaz, ao receber o bilhete, ao saber quem era a dama que o mandava, agradeceu o garçom. Curioso, o leu. Ao perceber que se tratava de um recado, Lourival foi logo ver o que a mulher queria.
Assim, foi até o jardim. Lá aguardou pacientemente por Madalena.
A dama, fazendo suspense, demorou algum tempo para se dirigir até o jardim. Contudo, ao fazê-lo, percebendo que o rapaz a aguardava, aproveitando-se de um minuto de distração do mesmo, ficou observando-o de costas. Impressionada com o porte de Lourival, Madalena pôde constatar que mesmo  assim, se podia perceber que o rapaz era belo.
Lourival por sua vez, depois de muito esperar, finalmente se virou. Ao ver que Madalena o fitava, sorriu para ela.
A mulher por sua vez, procurando iniciar uma conversa, perguntou:
-- Demorei muito?
Lourival, procurando ser gentil, respondeu:
-- Nem um minuto.
Madalena desculpando-se pela demora, comentou que precisou conversar com uma conhecida antes de se dirigir ao jardim.
Lourival ao ouvir as palavras da senhora, respondeu que entendia tudo.
Madalena, sorrindo, percebendo que ainda não havia se apresentado, comentou:
-- Me desculpe. Eu não apresentei. Meu nome é Madalena.
Lourival, ao ouvir a apresentação, respondeu:
-- Eu também não. Muito prazer, me chamo Lourival.
Encantada, Madalena, respondeu:
-- Prazer Lourival. Que belo nome!
-- Obrigado! – respondeu ele. – O seu nome também é lindo!
Madalena sorriu. Percebendo que encontrara a oportunidade que queria, logo o convidou para dançar. E muito embora, muitos olhassem para o casal com o nariz torcido, Madalena e Lourival continuaram a dançar.
Ao final do baile de carnaval, Lourival, despedindo-se de Madalena, respondeu que precisava ir.
A dama ao ouvir estas palavras, perguntou se isso era realmente necessário.
Lourival sorrindo, respondeu que sim.
Madalena então, ao ouvir a resposta, comentou que ainda era muito cedo para alguém dormir.
Lourival, como quem não queria nada, perguntou:
-- E o que a madame sugere?
Madalena sorrindo, respondeu que não era necessário o tratamento formal. Em seguida, dizendo que eles podiam ir até a sua casa, sugeriu a Lourival continuarem dançando até a tarde.
Sorrindo, o rapaz concordou.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 25

Enquanto isso, Lourival curtia sua tristeza vivendo em um miserável cortiço no periferia da cidade. Tentando fugir de seu algoz, e das lembranças de seu passado, ainda recente, o rapaz não conseguiu ir para muito longe.
E assim, mesmo fugindo, Lourival não conseguiu se esquecer das lembranças de Elis. De seus banhos de mar com ela, de seus beijos nela, de seus cabelos louros salpicados de areia. Das vezes em que os dois dançaram ao som da brisa do mar e dos ventos que murmuravam na areia. Das corridas nas dunas, do jardim de lírios – recanto que prometeram sempre visitar. O dia em que viveram como marido e mulher.
Lembranças. Lembranças de um tempo em que fora feliz. Muito embora trilhando caminhos obscuros, tempos de uma alegria quase ingênua. Agora não mais.
Ainda que conseguisse retomar sua vida, Lourival sabia que nunca mais as coisas voltariam a ser como eram antes.
Estava certo. Vivendo tempos de solidão, o rapaz pôde perceber que dificilmente voltaria a ter uma vida tranqüila e feliz. Isso por que, certamente o dinheiro acabaria e fatalmente ele teria que voltar a contrabandear. Contudo, agora não possuía mais Elis, e nem a esperança de voltar a vê-la. Não bastasse isso, sentia culpa por sua morte. Sim, por que não fosse sua irresponsabilidade, ela poderia ainda estar viva.
Saber de sua culpa, era-lhe extremamente penoso. Saber que sua vida nunca mais voltaria a ser o que era, não era o pior, mas a consciência de ter de certa forma matado Elis, era um martírio.
Sozinho, Lourival quase enlouqueceu se remoendo sua culpa.
Vivendo miseravelmente, o rapaz teve tempo de sobra para pensar em sua vida.
Certa vez, tentando fugir de seus pensamentos tristes, Lourival resolveu dar uma caminhada pelos arredores. Muito embora não devesse se expor, o rapaz, cansado de ficar trancado em seu quarto, resolveu sair. Angustiado com sua solidão, Lourival foi passear um pouco.
Um estranho ao vê-lo caminhar em meio a barracos, comentou que nunca o vira sair do cortiço.
Lourival não respondeu.
O homem continuou falando. Dizendo que ele era um rapaz muito bonito, comentou que era uma pena que ficasse o tempo todo trancado em seu quarto.
Lourival ao ouvir as palavras do estranho, não gostou nem um pouco. Por esta razão, incomodado com o sujeito, resolveu voltar para o cortiço.
O homem, ao perceber que afastara Lourival, segurando seu rosto, comentou:
-- Mas já vai embora? Nós nem nos entendemos ainda.
Lourival ao notar a impertinência do estranho, afastou a mão de seu rosto.
O homem, ao perceber a irritação de Lourival, respondeu:
-- Nervosinho? Não precisa disso. Eu acalmo essa irritação rapidinho.
O rapaz, ao perceber o atrevimento do sujeito, começou a agredi-lo. O estranho, percebendo que se não se afastasse apanharia até Lourival se cansar de lhe bater, pediu para que o rapaz se acalmasse. Lourival no entanto, transtornado, não queria saber de conversas. Assim, continuou a bater no homem.
O sujeitinho ao perceber que precisava correr, assim que conseguiu se livrar de Lourival, saiu correndo.
Percebendo que não poderia mais ficar por ali, Lourival, ao cair da noite, resolveu pegar sua mala e sair do cortiço. Depois de pagar a estadia, foi para outro lugar.

Luciana Celestino dos Santos
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