Poesias

domingo, 24 de maio de 2020

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 31

CAPÍTULO 31 

Com isso, alegando que em outras paragens, os viventes da região podiam se dar o luxo de viverem mais próximos de tudo, da escola, do centro, da cidade, o pescador contou então a Lenda do Negrinho do Pastoreio.
Começando a contar que os gaúchos, em algumas comemorações, celebravam a vinda e resistência dos negros que por cá aportaram, relatou que os mesmos reviviam as dores e agonias dos negros homiziados, que foragidos, organizavam-se em quilombos – verdadeiros focos de resistência contra o regime escravocrata.
Todos os filhos da África, escravos, sonhavam em viver numa terra livre.
Isso por que, se não puderam escolher o lugar onde iriam viver, ao menos gostariam de viver em liberdade.
Em razão disso, surgiu uma linda história, que se tornou lenda, entre os moradores do lugar.
Essa história começa assim:
Em uma velha estância da região, como já era comum a todos os grandes fazendeiros que tinham escravos, açoitarem-nos; os negros, vítimas da crueldade de seus donos, suportavam bravamente os revezes da vida que levavam.
Obstinados, mesmo diante da mais dura perseguição, não abandonavam suas crenças, e assim, visando desviar a atenção de seus senhores, passaram a praticar seus rituais religiosos, sob os disfarces de santos cristãos.
Assim, um guerreiro africano, passava a ser representado por um santo católico.
O que deveras, facilitava sobremaneira o culto dos escravos à suas divindades.
Astutos que eram, conseguiram perpetuar suas tradições.
Contudo, ainda assim, eram alvo de perseguições e torturas.
Rebeldes, muitos não se sujeitavam a continuar viver a dura vida que levavam.
Muitos, muitos mesmo fugiam, e procuravam se organizar, para que pudessem viver longe das vistas de seus cruéis senhores.
Com o passar do tempo, passaram a se organizarem em Quilombos.
Quilombo, era o lugar onde podiam voltar a viver como se ainda estivessem na África.
Era o sonho de todos os cativos.
Assim, passaram a lutar por sua liberdade.
Procuravam fugir das fazendas e seguiam em busca dos tais Quilombos.
Muitos nessa busca, logravam êxito.
Outros contudo, não conseguiam chegar até o final da jornada.
Antes disso, eram pegos pelo capitão do mato, homem contratado pelos estancieiros, e outros fazendeiros, para recapturarem os escravos homiziados.
E assim, novamente capturados, eram levados ao tronco, espécie de poste de madeira.
Lá eram amarrados e açoitados até quase desfalecerem.
O sofrimento que a eles era impingido, era uma forma de aviso e de lição, para que os outros negros não se atrevessem a fazer o mesmo.
Os fazendeiros, queriam disseminar o medo entre os escravos.
No entanto, nem sempre o conseguiam.
Mas, mesmo diante da resistência dos negros, de sua teimosia em aceitar a escravidão, os mesmos não tinham escolha.
O peso do látego contra seus troncos, ferindo-os, lanhando-os, entrando em suas carnes e tirando-lhes sangue, enfraquecia seus corpos já, tão sofridos.
Sofridos das dores de terem que se despedir para sempre de sua amada terra, da dor da fome e do sofrimento.
Por mais forte que fossem, o sofrimento os abatia, e muitos deles morriam em razão disto.
Jovens, morriam muito cedo.
Por mais fortes que fossem, não tinham como agüentar tão dura vida por tanto tempo.
Cedo ou tarde cediam e se despediam deste mundo.
Contudo, dentre todas essas histórias de dor e de sofrimento, existe uma, uma linda história, que simbolicamente retrata tudo isto.
Conforme já dito anteriormente, em uma antiga estância, no tempo da escravidão, um homem, possuidor de diversos escravos, possuía entre eles um negrinho.
Um jovem escravo, que executava ordens para um estancieiro.
Estava encarregado de cuidar de alguns animais.
Mas, inadvertidamente, enquanto executava seu mister, acabou por perder de vista um dos animais de que cuidava.
Pastor que era, devia cuidar dos animais.
Conforme não haviam cercas por aquelas paragens, o cuidado era redobrado.
Qualquer descuido, e lá se ía um animal.
No entanto, mesmo com todo o cuidado, um animal fugiu.
Em razão disso, o pobre negrinho sofreu os maiores castigos.
Contudo, depois de muito apanhar por conta do ocorrido, teve ainda que sair em busca do animal perdido.
E assim, sem saída, só lhe restou sair a procura do animal.
Procurou, procurou ...
Conforme a noite ía chegando, ele aproveitou e acendeu a vela que trazia consigo, e continuou procurando, procurando ...
Mas nada!
Nem sequer um vestígio do animal desaparecido.
Conforme o dia clareava, precisou voltar para a estância.
Como não logrou êxito em sua busca, novamente foi amarrado e seviciado.
Duramente espancado, apanhou tanto que acabou morrendo.
Não bastasse isso, seu senhor, um homem impiedoso e cruel, mandou ainda que abrissem um formigueiro e lá atirassem o corpo do negrinho, todo lanhado e banhado em sangue.
No dia seguinte, movido por uma curiosidade mórbida, o horrendo senhor, acompanhado de alguns escravos, foi até o formigueiro para ver o resultado final de sua maldade.
Mas, qual não foi sua surpresa ao ver o menino que horas atrás havia torturado e matado, lépido e fagueiro, ao lado do animal perdido.
Horrorizado, o cruel senhor e seus escravos, partiram em desabalada carreira em direção a fazenda.
Assustados, nunca mais ousaram retornar ao local.
Afinal sabiam que o negrinho ali ficava.
Não queriam ser assombrados por tal visão.
Visão esta que lhe traria a lembrança, toda a maldade que praticaram.
Por conta disso, o jovem negrinho, passou a partir daí, a ser o achador das coisas perdidas ou extraviadas.
E alvo também de preces e de promessas.
Daí a tradição da região de homenagear os negros e sua história.39
Como esta, existiam ainda muitas outras histórias, mas essa mostra o quão alguém pode ser cruel e por outro lado, pessoas tão bondosas, ainda podem existir.
Histórias de lutas, existem muitas.
Os povos que por aqui viveram são exemplos disso.
Como eles, pescadores que com poucos recursos, lutam com dignidade, por sua sobrevivência.
 Lutam ainda mais, para preservarem suas crenças.
Crenças que ainda estão vivas em suas almas de conquistadores.
Conquistadores do mar em buscam o alimento para a sobrevivência.
E guerreiros, guerreiros por lutarem e manterem suas tradições.
Enfim, um ato de coragem.
Com isso o pescador, percebendo o avançar das horas, despediu-se de todos e adentrou sua morada. As crianças que a tudo ouviam com muito interesse e os turistas, ficaram um tanto quanto desapontados com a despedida.
Contudo, muito havia ainda para ver visto e ouvido, conforme se verá a seguir.

39 Lenda Original da Região Sul.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 30

CAPÍTULO 30

Por fim, falou sobre a origem do Labatut.
Era um monstro com forma humana, antropófago, que vivia na região de fronteira do Ceará com Rio Grande do Norte, especialmente no chapadão do Apodi.
O Labatut é um bicho pior que o Lobisomem, pior que a Burrinha, e pior que a Caipora, e mais terrível que o Cão Coxo.
Ele morava, como diziam os velhos, no fim do mundo, e todas as noites percorria as cidades, para saciar a fome, porque ele vivia eternamente esfaimado.
Andava a pé: os pés são redondos, as mãos compridas, os cabelos longos e assanhados, corpo cabeludo, como o porco-espinho, só tinha um olho na testa, como os cíclopes da fábula, e os dentes eram como as presas do elefante.
Ele gostava mais dos meninos, porque eram menos duros que os adultos.
Ao sair da lua, ele, que andava ligeiro, entrava pelas ruas, num trote estugado, parando às portas, para ouvir quem falava, quem cantava, quem assobiava e quem ressonava alto e... trás!
Devorava!...
Os cães davam sinal, latindo-lhe atrás!
O nome do monstro era uma reminiscência das violências e brutalidades do General Pedro Labatut, que esteve no Ceará, de junho de 1832 à abril de 1833, reprimindo a Insurreição de Joaquim Pinto Madeira, que se rendeu, com 1690 homens em armas.
Labatut, oficial do Imperador Napoleão, companheiro de Simão Bolívar, arrebatado, atrabiliário, valente, faleceu Marechal-de-Campo do Exército Brasileiro, em 24 de setembro de 1849, na Bahia.
A forma monstruosa é comum na espécie fantástica, atuando sob o nome de Labatut apenas na região citada.

atrabiliário - adjetivo 1. referente a atrabílis; atrabilioso. 2. adjetivo substantivo masculino, diz-se de ou indivíduo em que supostamente predomina a atrabílis; melancólico.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.   

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 29

CAPÍTULO 29

Com isso, tratou então de falar da Visão.
Visagem, fantasma que aparece aos garimpeiros do Rio das Garças.
“Aparece à volta das casas velhas ou das taperas onde alguém, em tempos idos, deixou um “enterro”.
Contam que na cidade bicentenária de Diamantino 37, certa vez, à noite, um homem viu a Visão junto à parede de taipa de uma velha casa abandonada.
Fechou os olhos e seguiu naquela direção até alcançar a parede onde, com a faca marcou o ponto onde ela aparecera.
No dia seguinte, no local onde reconheceu as marcas que fizera, se pôs a esburacar a parede e descobriu um “gargalo” de uma garrafa cheia de ouro”.38

37 (Mato Grosso). 
38 Dicionário do Folclore Brasileiro / Câmara Cascudo. - Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A. sem data * Novo Dicionário Básico da Língua Portuguesa / Aurélio Buarque de Holanda. - São Paulo: Editora Nova Fronteira, 1988. 

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 28

CAPÍTULO 28 

Depois, o homem falou brevemente sobre Kilaino, duende dos bacaeris, caraíbas 35, variante do Caipora, Curupira, Saci-Pererê.
Ao falar do Kilaino, o pescador comentou:
-- “São entes maléficos, que moram no mato ou no morro, assumem formas diferentes, alimentam-se de ratos e passarinhos, não passam água, escondem a caça morta e as setas atiradas, as coisas que caem das mãos da gente; respondem aos gritos de uma pessoa, e gritam para transviar quem anda no mato”.36

35 Lenda oriunda do Mato Grosso.
36 Capistrano de Abre descreve o Kilaino.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 27

CAPÍTULO 27

E assim, encerrada a narrativa, o pescador passou a comentar sobre o Gu-ê-Crig.
Herói popular nas estórias picarescas dos indígenas cadiuéu, remanescentes, no Brasil atual, dos índios de língua guaicuru, constituindo a última tribo dos mbayá.
Gu-ê-Crig era uma espécie de Pedro Malasartes.
Despudorado, zombeteiro, ladrão e covarde, aproveitador de todos os expedientes, mas cheio de vivacidade, atrevimento, originalidade.
Embora muito antipatizado pelos indígenas, é motivo predileto de narrativas por suas aventuras reprovadas, mas inesquecíveis.34

34 (Ver Darci Ribeiro, Religião e Mitologia Cadiuéu, publicação n.º 106 do Serviço de Proteção aos Índios, Rio de Janeiro, 1950, reunindo algumas peripécias típicas do famoso Gu-ê-Crig).

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 26

CAPÍTULO 26 

Ao falar da lenda do Cavalo-Sem-Cabeça, começou dizendo que, é uma assombração comum nas regiões pastoris. 
Penitência sobrenatural dos maus fazendeiros.30 
Os padres que esquecem o juramento da castidade, reaparecem nos lugares do pecado, como cavalos-sem-cabeça. 
“E o Cavalo-sem-Cabeça?... Esse... é bão num si falá... que Deus me perdoe... Diz-que são os padre que andaro troceno as muié dos otros”31 
Duende também chamado Mula-sem-Cabeça.32 
Para muitos, o Cavalo-sem-Cabeça tem a mesma acepção da Mula-sem-Cabeça, ou Burrinha-de-Padre: 
“Esses Cavalos-sem-Cabeça, são mulheres que em vida tiveram relações com sacerdotes. O castigo, porém, ameaça apenas as que anteriormente já tiveram outro compromisso, e que viveram com o sacerdote durante sete anos”.33 

30 Gustavo Barroso cita um cavalo-sem-cabeça que aparece nos pátios do Alhambra, na Espanha (As Colunas do Templo, 327, Rio de Janeiro, 1932). 
31 Cornélio Pires: (Conversas ao Pé do Fogo, 155, 3.ª ed., São Paulo, 1927). 
32 (Amadeu Amaral, Dialeto Caipira, III, São Paulo, 1929). 
33 Karl von den Steinen (Entre os Aborígenes do Brasil Central, “Crendices Populares de Cuiabá,” trans. Antologia do Folclore Brasileiro, III). 

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 25

CAPÍTULO 25

Vendo o espanto das crianças, o pescador tratou então de continuar com suas histórias.
Por esta razão, passou a contar a lenda da Dama de Branco.
Visagem, assombração, fantasma, duende que aparecia aos garimpeiros do Rio das Garças:
“Passeia à noite pelas estradas. Segue à frente dos cavaleiros, leve e inalcançável. Vai de porteira a porteira. Desaparece às vezes na sombra de uma curva do caminho. Anda pelos arredores dos velhos casarões, como se espairecesse de um tédio. Atribuem-lhe o poder de vigiar pelos enterros, guardados ou achados (ouro, riqueza escondida). Vê-la é uma graça. É sinal de sorte”.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.