Poesias

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 51

No dia seguinte, Andressa ao ver novamente atada, começou a berrar.
Cléber, ao ouvir os gritos, ficou satisfeito. 
Pensou: 
‘Finalmente as coisas estão acontecendo da forma como eu quero.’
Apressado se dirigiu até a porta do quarto onde Andressa estava. 
Abriu a mesma e entrou.
A garota ao vê-lo, assustou-se. 
Percebendo que dera o sinal que o rapaz tanto queria, começou dizendo que não estava se sentindo bem. 
Alegando que seu estômago ainda pesava com a refeição do dia anterior, Andressa respondeu que não estava com fome.
Cléber, porém, parecia não ouvir o que ela estava falando. 
Movido por um único pensamento, aproximou-se de Andressa, e dizendo que ela devia ser boazinha com ele, comentou que não se arrependeria se fizesse o que ele tanto queria.
Andressa, no entanto, tentava se afastar. 
Acuada, ameaçou gritar se ele se atrevesse a tocar num fio de cabelo dela.
Ao ouvir tais palavras, Cléber riu. 
Dizendo que ali ninguém a escutaria, afirmou que ela poderia gritar o quanto quisesse.
Foi quando Andressa comentou que ninguém poderia obrigá-la a fazer o que não queria.
Cléber então segurou seus braços.
Nesse momento, a garota começou a espernear.
Cléber um pouco irritado, falou:
-- Vamos Andressa! Pare com isso!
A moça demonstrou espanto.
-- Ué! Pensou que eu não sabia o seu nome? Pois eu sei. Sei muito mais do que você pensa. Sei que tem um namoradinho chamado Mateus. Vocês já vivem há alguns anos juntos.
Não é mesmo?
Assustada, Andressa indagou:
-- E o que você tem a ver com isso?
-- Nada. Mas de certa forma eu tenho tudo a ver. Oras! Vai me dizer que nunca aconteceu nada entre vocês? Uma garota de rua que não conhece essas coisas? Eu duvido. –
respondeu Cléber tentando cortar a blusa de Andressa.
Assustada a moça começou a gritar.
Irritado com a rebeldia de Andressa,Cléber começou a retalhar a roupa da moça.
A garota começou a chorar.
Nervoso, Cléber começou a dizer:
-- Quer chorar? Pois então chore. Chore que está é a única coisa que você pode fazer. Chore o quanto quiser. Eu não me importo.
Reinaldo, que passava pelo local, ao ouvir o choro de uma moça, quis logo saber do que se tratava. 
Ao se deparar com o barraco onde ele e o amigo levaram Andressa, resolveu bater na porta. 
Do lado de fora, gritava:
-- Está tudo bem aí?
Irritado por ser novamente interrompido por seu comparsa, Cléber trancou Andressa, e foi até a entrada do barraco. 
Ao abrir a porta, foi logo perguntando:
-- O que você quer?
Reinaldo, meio sem jeito, perguntou se estava tudo bem. 
Dizendo que ouvira gritos, ofereceu ajuda.
Cléber recusou a oferta. 
Dizendo que estava tudo bem, comentou que não precisava da ajuda de ninguém para ter uma mulher.
Reinaldo ao ouvir a resposta, comentou:
-- Pense bem!
Furioso, Cléber empurrou Reinaldo. 
Dizendo que ninguém poderia se meter naquela história, afirmou que ele poderia cuidar de Andressa sozinho.
Foi quando Reinaldo se levantou e afirmou que não fosse sua ajuda ele não teria conseguido ficar com a moça:
-- Pois bem! Diga o que quer de uma vez! – respondeu Cléber.
Atrevidamente, Reinaldo respondeu que também queria participar.
Cléber ao ouvir isso, ficou com ódio de Reinaldo. 
Furioso, avançou sobre ele e começou a agredi-lo. 
Dizendo que não costumava dividir mulher com ninguém, tentou de todas as formas possíveis, colocá-lo para correr.
Em vão. 
Apesar de ser mais forte, Reinaldo era esperto e logo conseguiu inverter a situação.
Andressa, que estava amarrada, ao ouvir algo que lembrava uma briga, começou a tentar se desamarrar. 
Desesperada, se debatia tentando se libertar. 
Assustada, temia gritar por socorro e fazer os dois homens entrarem no barraco.
Se isso acontecesse, ela estaria perdida.
Por esta razão, tentou se livrar sozinha das cordas. 
Em um dado momento, de tanto se mexer na cama, acabou caindo. 
Ao se ver no chão, percebeu que Cléber esquecera um canivete embaixo da cama.
Constatando isso, Andressa começou a se contorcer para pegar o canivete.
Lembrando-se do dia da rebelião, a moça percebeu que precisava novamente lutar por sua vida. 
Por essa razão, começou a tentar puxar a arma com o pé. 
Nessa luta, demorou algum tempo. 
Até que finalmente conseguiu trazer o canivete para perto de si.
Trêmula, ao perceber que tinha uma das mãos um pouco mais livre, passou a segurar o canivete, e lentamente começou a corta a corda. 
Quando finalmente se viu livre, correu para a porta.
Mas para sua decepção a porta estava trancada. 
O que fazer?
Aflita, Andressa procurou uma saída. 
Confusa com a situação, pegou o canivete e começou a tentar abrir a porta com ele. 
Tentando usar a ponta da lâmina como chave, tentou de todas as formas possíveis, abrir a porta.
Nesse ínterim, Reinaldo, que já havia conseguido inverter a situação, resolveu adentrar o barraco.
Andressa, percebendo que alguém se aproximava, resolveu esconder a corda cortada, e fingir que dormia. 
Com o canivete escondido, pegaria a pessoa de surpresa.
Reinaldo então, girou a maçaneta. 
Quando percebeu que estava trancada, derrubou a porta. 
Ao ver Andressa deitada, com a blusa em farrapos, resolveu se aproximar. 
Crédulo de que seria fácil forçar a moça, avançou sobre ela.
Nesse momento, Andressa, percebendo que estava em situação de vantagem, resolveu reagir. 
Apontando a arma para o pescoço de Reinaldo, ameaçou-o dizendo que se não a deixasse ir, o mataria.
Reinaldo sem ter outra alternativa, acompanhou-a até chegarem numa rua movimentada.
Rapidamente, Andressa mandou ele correr.
Reinaldo correu.
Ao se ver sozinha em um lugar desconhecido, Andressa resolveu pedir ajuda.
Em vão.
As pessoas, ao verem-na com os cabelos desgrenhados, suja e esfarrapada, fugiram
dela. 
Temerosos, sentiam-na ameaçadora.
Andressa então, vendo-se solitária, começou a caminhar. 
Sem saber direito para onde ir, tentou encontrar os amigos.
Pensando em Robson, Clau, Mateus e Tina, começou a se perguntar onde estariam.
Preocupados com seu sumiço, ou retomando suas vidas?
Nesse momento Andressa se lembrou da conversa que tivera com Tina. 
Pensou: ‘Será que ela já foi morar com o tio?’
Aflita não sabia a quem recorrer. 
Desorientada, caminhou a noite inteira. 
Ao chegar em uma praça, adormeceu. 
Andressa estava novamente sozinha.
Enquando isso, seus amigos, procuravam-na.
Tina, no entanto, já não vivia mais nas ruas. 
Isso por que, cansada de sofrer nas mãos de Robson, e, aproveitando a confusão com o sumiço de Andressa, caiu no mundo. 
Na noite seguinte, acordou, e enquanto todos dormiam, sumiu. 
Ladina, pegou seus poucos pertences e fugiu.
Robson ao se dar conta do sumiço da namorada, ficou furioso. 
Acreditando que ela tivesse sido levada, ficou a procurá-la.
Quanto a Andressa, tanto ele, quanto Clau e Mateus estavam preocupados. 
Supondo que ela tivesse sido levada pelo estranho sujeito que a cercava, os três passam a procurá-la incansáveis.
Robson, porém, tinha uma preocupação a mais.
Por conta disso, Clau e Mateus se ofereceram para ajudá-lo.
Robson agradeceu. 
Porém após muita procura, percebendo que Tina havia desaparecido por livre e espontânea vontade, Clau e Mateus, tentaram demovê-lo da idéia de continuar a procurá-la. 
Mas quem disse que conseguiram?
Contudo, num ponto as coisas terminaram bem. 
Isso porque, finalmente Andressa foi encontrada.
Assustada, ao ver Clau, Robson e Mateus, Andressa finalmente se tranqüilizou.
Quem não estava nada feliz era Cléber, que havia perdido a oportunidade de ter uma noite com a garota. 
Furioso por ter tido seus planos atrapalhados por Reinaldo, prometeu se vingar do comparsa.
Este por sua vez, não demonstrou estar assustado.
Nisso a vida de Andressa prosseguiu.
Mateus, incomodado com seu sumiço, perguntava, a todo momento se havia acontecido alguma coisa entre ela e aquele sujeito.
Nervoso, Mateus só se acalmava quando ela dizia que não. 
E ainda assim, a moça tinha que insistir muito em suas palavras para convencê-lo.
Para Andressa, essa desconfiança de Mateus era muito incômoda. 
Por isso, pensou várias vezes em fazer como Tina.
Mateus, porém, sempre que percebia o distanciamento da namorada, pedia desculpas e prometia que se esforçaria mais para confiar nela. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 50

Mas astuto que era, com o tempo, conseguiu encontrá-la.
E assim, o assédio continuou.
Aflita, Andressa não sabia mais o que fazer.
Mesmo se escondendo, Cléber dava um jeito de encontrá-la.
Desesperada, Andressa pediu ajuda a Clau e Robson.
Quando Mateus descobriu que o assédio continuava, ficou furioso. 
Dizendo que iria acabar com a raça do rapaz, conseguiu fazer com que Andressa ficasse assustada.
Isso por que, Andressa começou a perceber que Cléber não devia agir sozinho. 
Assim, se Mateus se metesse com ele, poderia se dar mal. 
Ao notar essa possibilidade, Andressa, começou a pensar em uma outra solução.
Sem saber o que fazer, pediu a ajuda de Tina, que mesmo com anos de rua, não conseguiu lhe dar uma idéia que prestasse.
Clau e Robson por sua vez, sugeriram pegar o sujeito de surpresa e lhe darem uma surra.
Andressa, ao ouvir essa sugestão, proibiu os amigos de agirem desta maneira.
Dizendo que o tal sujeito poderia ser vingativo, aconselhou os amigos a terem cuidado.
Contrariados, Clau, Robson e Mateus, prometeram que não fariam nada, contra o tal sujeito.
Andressa então se acalmou um pouco.
Mesmo assim, Clau, Mateus e Robson, ainda continuavam com a idéia de acertarem as contas com o sujeito. E, preocupados com a amiga, passaram a acompanhá-la.
Quando não podiam acompanhar Andressa, os três garotos pediam para Tina, fazer-lhe companhia.
Com isso, Cléber se afastou.
Irritado, ao perceber que, quatro garotos de rua estavam protegendo Andressa, começou a pensar no que faria para se aproximar dela novamente.
Reinaldo – seu parceiro nas maldades – sugeriu ao amigo:
-- Se você está tão interessado assim nesta garota, por que não aproveita a noite, para pegá-la?
Curioso, Cléber retrucou:
-- Mas como? Se eu a abordar a noite, ela vai gritar e acordar seus amigos. Não vai dar certo.
-- Mas então você não entendeu. Eu não falei para acordá-la, e sim pegá-la. Agora, entendeu?
-- Entendi! – respondeu Cléber com malícia.
Nisso, os dois comparsas começaram a planejar tudo. 
Cautelosos, não queriam que os amigos da garota acordassem, no momento da abordagem. 
Quanto menos problemas tivessem, melhor.
E assim, ficaram a conversar.
Andressa por sua vez, sentia-se tranqüila. 
Crédula de que Cléber havia desistido de persegui-la, prosseguiu com sua vidinha de sempre. 
Às vezes, furtava objetos de valor. 
Outras vezes, aplicava golpes nos passantes.
Cléber, ansioso para colocar seu intento em prática, continuou a espreitá-la. 
Mal podia esperar para executar sua maldade. 
Animado pensava: 
‘Isso tudo vai acabar. Seus dias de tranqüilidade vão acabar.’
Nisso Andressa conversava com sua amiga Tina.
Desanimada, a garota conversava com Andressa. 
Cansada de ser agredida por Robson, Tina comentou que iria embora.
Andressa ficou surpresa.
Tina, percebendo o ar de espanto da amiga, comentou que arrumara um lugar para ficar.
-- Onde? – perguntou Andressa.
-- O lugar onde eu já vivia antes de vir para cá. – respondeu Tina.
-- O orfanato? – espantou-se Andressa.
-- Não. Eu encontrei um parente meu. – disse Tina.
-- Quem? Eu nunca te vi com nenhum conhecido! – respondeu Andressa.
-- É um tio.
-- Um tio? – bradou Andressa.
-- Fique quieta! – pediu Tina – O Robson não sabe disso.
-- Você não vai contar a ele?
-- Não. Não dá. Ele não entenderia. Eu não posso falar pra ele. – comentou Tina.
-- Por quê? – insistiu Andressa.
-- Por que ele me ameaçou. Disse-me que se eu tentasse me livrar dele, me mataria. – respondeu Tina.
-- Nossa! – espantou-se Andressa.
Percebendo a gravidade da situação Andressa prometeu que não comentaria o assunto com Robson, Clau, nem com Mateus.
Tina agradeceu.
E Cléber, continuava observando Andressa.
Á noite, aproveitando que todos dormiam, Cléber e Reinaldo, se aproximaram do local onde Andressa e seus amigos estavam.
Caminhando lentamente, os dois se aproximaram de Andressa.
Cléber cuidadosamente pegou a garota nos braços. 
Auxiliado por Reinaldo, Cléber levou a moça para um barraco.
Qual não foi o espanto de Andressa quando acordou e se viu amarrada, em um lugar estranho. 
Assustada, a garota começou a pedir ajuda.
Foi quando Cléber apareceu:
-- Dormiu bem? – pergunta.
Andressa irritada, respondeu que queria sair.
Cléber, por sua vez, fingiu ignorar o pedido da moça. 
Procurando ser gentil, perguntou-lhe se ela tinha fome.
Andressa não respondeu.
O rapaz então, disse que tinha frutas, pão, leite, chá, bolachas e suco.
A garota irritada retrucou:
-- Você não ouviu o que eu disse? Eu quero sair daqui.
Cléber, continuou a fingir que não ouvia. 
Aparentemente prestativo, logo sugeriu:
-- Não gostou do café? Se você quiser, eu compro um bolo. O que você quiser.
Amarrada, Andressa pediu para que ele a soltasse.
Cléber por sua vez, disse que não poderia fazê-lo ou ela tentaria fugir.
A garota ao ouvir estas palavras, ficou irritada.
O rapaz, percebendo então, que precisava colocá-la em uma posição mais confortável, se aproximou da moça. 
Dizendo que iria desamarrá-la, pediu para que ela não fizesse nenhum gesto brusco.
Andressa não respondeu. 
Mas atenta, ao se ver livre das amarras, começou a observar o lugar. 
Por ser um ambiente precário, acreditou que devia estar muito longe do centro da cidade. 
Aflita, pensou: ‘E agora? Como vou fazer para sair daqui?’
Cléber então, se aproximou com uma bandeja repleta de comida.
Andressa, ao ver o café que lhe fora preparado, perguntou por que a levaram até ali.
Dizendo que não tinha dinheiro, comentou que estavam prendendo a pessoa errada.
Cléber respondeu então:
-- Eu não sou um seqüestrador. Não estou esperando um resgate. Eu só quero mostrar a você que eu não sou nenhum bandido. Pode confiar. Você não vai se arrepender.
-- Ah é?! Se você não é nenhum bandido, por que não me deixa sair daqui? Escute, eu não tenho nada contra você. Se me deixar sair desse lugar, eu não vou contar a ninguém
o que você fez. Eu prometo! Agora por favor, me deixe sair daqui! – finalizou Andressa em tom de súplica.
O rapaz, ao ver o desespero nos olhos da moça, sorriu. 
Dizendo que não tinha nada a perder, comentou que finalmente conseguiria o que tanto almejava.
Andressa sentiu um frio percorrer-lhe a espinha.
Cléber, percebendo que assustara a moça, resolveu se afastar. 
Dizendo que não queria incomodá-la, afirmou que só retornaria mais tarde, quando ela tivesse terminado de tomar seu café da manhã. 
Assim, se encaminhou para outro cômodo da casa. 
Antes de deixá-la sozinha, sugeriu:
-- Coma bem! Aproveite! Aposto que em todo esse tempo de rua, você nunca se deparou com um café da manhã tão farto.
Andressa ao ouvir estas palavras, sentiu vontade de jogar a bandeja de comida, na cabeça do rapaz. 
Todavia, faminta que estava, deixou o orgulho de lado e comeu. 
Comeu.
Ao se ver diante de tão farta refeição, se esbaldou. 
Comeu tanto que depois se sentiu mal.
Cléber ao perceber que a garota se excedera, comprou um remédio para tratar de seu mal-estar.
Com isso, quando finalmente Andressa se recuperou, Cléber falou:
-- Tenha mais cuidado! Quando eu disse para comer eu não falei para comer tudo de uma vez. Tenha calma.
Andressa ao ouvir as palavras de Cléber, respondeu que ela passara mal por que a comida devia estar envenenada.
-- Envenenada? Nem pensar! Você é que exagerou. Parece que nunca viu comida na frente.
Andressa calou-se.
Cléber então, comentou que entendia o seu desespero. 
Afirmando que conhecia um pouco de sua história, respondeu que devia ser realmente muito difícil para uma pessoa que passou fome na vida, se deparar com tanta fartura e não se exceder.
Andressa abaixou a cabeça.
Cléber, ao notar que a moça baixara a guarda, resolveu se aproximar. 
Rapidamente, segurou seus cabelos curtos.
Andressa ao perceber o toque, se afastou.
O rapaz, porém, continuou a investir.
A garota passou então, a recuar cada vez mais.
Cléber, que parecia gostar do jogo, se aproximava cada vez mais. 
Aproveitando-se de sua posição de vantagem, agarrou Andressa, que começou a se debater.
Não fosse a chegada de Reinaldo e Cléber teria conseguido atacar a moça.
Aborrecido, Cléber então, deixou Andressa amarrada dentro do quarto e foi atender o amigo.
Reinaldo ao ver o amigo, foi logo perguntando se havia acontecido alguma coisa.
Irritado, Cléber respondeu:
-- Teria, se você não tivesse atrapalhado.
Sem graça, Reinaldo comentou:
-- Desculpe. Foi mal. Eu só pensei que você fosse mais rápido!
Ao ouvir isso, Cléber se irritou. 
Dizendo que certas coisas na vida levam tempo, comentou que já estava quase conseguindo o que tanto desejava. 
A seguir, dizendo que precisava voltar, exigiu que Reinaldo saísse do barraco.
Contrariado, o rapaz saiu.
Nisso, Cléber voltou para o quarto.
Aparentemente Andressa dormia.
Desconfiado, Cléber se aproximou da moça. 
Ao notar que ela não se assustou, convenceu-se de que ela realmente devia estar dormindo.
Irritado, saiu e trancou a porta.  

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 49

E assim, Andressa vai vivendo esta vida miserável.
Passa o tempo.
Certa vez, caminhando pelas ruas da cidade-país, um rapaz passa a observá-la.
Atento, Cléber acompanha Andressa com os olhos.
Distraída, a garota não percebe que está sendo observada. 
Feliz, Andressa começa a pegar flores pelos vãos dos portões das residências. 
Praticando este gesto, Andressa pensa em fazer uma surpresa à amiga Tina.
Cansada de ver Tina sofrendo com as agressões de Robson, Andressa resolve furtar algumas flores para fazer-lhe um agrado. 
Cautelosa, antes de agir, olha para os lados.
Cléber, a observa. 
Disfarçado, evita se aproximar. 
Não quer assustar a garota, que está entretida com seu projeto.
A certa altura, ao ver que já tinha muitas flores, Andressa resolve sair do local. 
Não quer que a vejam com as flores na mão. 
Satisfeita por realizar seu intento, Andressa caminha por ruas, até chegar num lugar. 
Lá pára e amarra as flores com uma corda. 
Pronto, o buquê improvisado está pronto.
Feliz, Andressa mal podia esperar para entregar o presente à amiga.
Cléber, que acompanhava a menina a distância, finalmente resolveu se aproximar.
Como Andressa estava distraída, não percebeu a aproximação.
Cléber, interessado na moça, tratou logo de se apresentar:
-- Prazer! Me chamo Valdo.
Andressa assustou-se.
O rapaz, percebendo que a assustara, desculpou-se. 
Dizendo que não queria assustá-la, comentou já vinha observando-a há tempos.
A garota não conseguia compreender. 
Surpresa com a abordagem, Andressa se esquivou. 
Dizendo que precisava ir, comentou que tinha gente esperando-a. 
Atenta, começou a caminhar vagarosamente.
Cléber, percebendo que Andressa tentava se evadir, segurou-a pelo braço.
Assustada, Andressa pediu para soltá-la.
Cléber então, ao notar que a moça se assustara, disse:
-- Não precisa se preocupar, moça. Eu não vou te machucar.
Andressa, contudo, tentava se desvencilhar:
-- Me solte.
Cléber, ao ver a reação de Andressa, comentou que não queria fazer nada de mal:
-- Então, me solte! – respondeu ela.
O rapaz, percebendo que não adiantava retê-la, resolveu soltá-la. 
Nesse momento, respondeu:
-- Não pense que você se livrou de mim. Eu sei onde te encontrar!
Assustada, Andressa passou a caminhar agora, rapidamente.
Caído no chão, estava o buquê de flores, montado por Andressa.
Cléber, percebendo o esquecimento da moça, pegou o buquê. 
Satisfeito, pensou consigo mesmo: ‘Agora eu tenho uma desculpa para encontrá-la.’
Foi então que começou o inferno na vida de Andressa. 
Aflita, a certa altura, a moça continuou a correr. 
Desesperada, esbarrou em Mateus, que logo perguntou o que estava acontecendo.
Aflita, Andressa não conseguiu se explicar.
Mateus, percebendo o quão a namorada estava nervosa, tentou acalmá-la.
Tensa, foi um custo conseguir fazer com que ela dissesse com clareza o que havia ocorrido. 
Nervosa, Andressa, revelou que um garoto havia abordado-a. 
Dizendo que a vinha observando, o rapaz começou a falar não queria fazer-lhe nada de mal. 
Desconfiada, Andressa comentou que ao ouvir aquela conversa estranha, tentou sair dali, em vão. 
Astuto, o moço segurou seu braço.
Mateus, revoltado disse:
-- Que absurdo! Como pode isso! Onde já se viu?
Tina que observava o casal à distância, resolveu se aproximar. 
Quando descobriu o que havia acontecido, comentou perplexa:
-- Mas o que passa pela cabeça de uma pessoa, pra agir dessa maneira? Que coisa de maluco!
Irritado, Mateus perguntou a Andressa, onde ela tinha visto o rapaz.
Um pouco mais calma, a garota explicou onde tinha sido abordada.
Mateus, ao tomar conhecimento do local onde se deu tal acontecimento, comentou:
-- Pois deixe estar! Esse tal sujeitinho vai ter o que merece!
Dito e feito!
Nervosíssimo, Mateus, assim que tem uma oportunidade, passou a procurar o sujeito que assediou sua namorada.
Cléber porém, que não era nem um pouco tolo, ficou algum tempo sem passar por aquele local. 
Contudo, não desistiu da idéia de encontrar a moça novamente.
Tanto que continuou seguindo-a. 
Cauteloso, Cléber evitou que Andressa percebesse que estava sendo seguida.
Andressa porém, intranqüila depois do incidente, olhava para todos os lados.
Nervosa, tinha a sensação de que mil olhos a observavam o tempo inteiro.
Contudo, como tudo na vida é uma questão de momento, Andressa aos poucos, foi se esquecendo do acontecido.
Mateus não. 
Nervoso, continuava a procurar pelo rapaz.
Andressa percebendo isso, começou a pedir a ele, para que desistisse da idéia.
Dizendo que nunca mais fora abordada pelo rapaz, comentou que não havia acontecido nada de mais.
Mateus, porém, não se conformava. 
E assim, teimoso que era, continuou a procurar pelo tal sujeito.
Nisso, Cléber continuou seguindo Andressa.
Percebendo a distração da moça, aproveitou para novamente se aproximar.
Quando Andressa notou a aproximação, assustou-se.
Contudo, como o rapaz estava muito próximo dela, Andressa não teve como fugir.
E assim, Cléber aproveitou para segurá-la pelo braço. 
Dizendo que tinha uma coisa para mostrar a ela, comentou que ela havia deixado as flores caírem no chão.
Calmamente Cléber mostrou-lhe o buquê.
Como se era de imaginar, as flores estavam murchas. 
Foi quando ele teve a idéia de levá-la para comprar algumas flores.
Temerosa, Andressa respondeu que não precisava.
Mas Cléber insistiu. 
Dizendo que fora por sua culpa que ela não pôde usufruir das flores, queria por que queria, comprar flores para ela. 
E assim, continuou segurando-a pelo braço.
Andressa aflita, a todo momento, pedia para que ele a soltasse.
Cléber, porém teimava. 
Dizendo que não iria fazer-lhe nada de mal, praticamente arrastou-a em direção a uma banca de flores. 
Escolhendo um buquê, o rapaz por um instante, soltou o braço da moça.
Foi quando Andressa, vendo-se livre, resolveu vagarosamente se distanciar do rapaz.
Cautelosa, foi pouco a pouco se afastando. 
Quando se viu a uma boa distância, tratou de correr.
Cléber distraído, não percebeu isso. 
Quando foi se dar conta do que havia ocorrido, Andressa já estava longe dali. 
Irritado, pagou as flores e começou a procurá-la. 
Em vão.
Desta vez Andressa tivera sorte.
Mas Cléber não desistiria tão fácil. 
E assim, continuou a segui-la.
Andressa, porém, precavida, tratou logo de chamar Mateus, Tina, Clau e Robson, para dormirem em outro lugar. 
Temendo ser novamente encontrada, passou a agir e a dormir em outros lugares da cidade, longe dos olhos vigilantes daquele rapaz estranho.
Cléber, no entanto, não se deu por vencido. 
Ao perceber que a moça tentava se esconder dele, contatou alguns amigos que se incumbiram da tarefa de descobrir onde ela estava. 
Ciente de que Andressa era uma garota de rua, Cléber sabia que não seria tão difícil encontrá-la.
Mas Andressa também era esperta. 
Assim, conseguiu se esconder.
E assim, Cléber teve trabalho para encontrá-la novamente.  

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 48

Alguns dias depois, reencontra Clau e Robson – que agora namorava Tina –, e conhece Mateus.
Além disso, como seria de imaginar, em decorrência das próprias condições de vida nas ruas, Andressa volta a se drogar e a praticar pequenos furtos.
Assustada, toda vez que ouvia o barulho de uma viatura, se escondia.
Cau, Tina e Robson, que nunca haviam ficado tanto tempo enjaulados – conforme diziam –, logo que a viram, perguntaram onde ela havia estado durante todo esse tempo.
Quando Andressa comentou que fora pega, em um furto, Robson comentou que essa parte da história, ele já conhecia.
Andressa então disse:
-- Pois bem. Depois que fui pega, fui parar na FEBEM. E desde então estive lá.
-- Eu não acredito! – comentou Tina – E você não tentou fugir nem uma vez?
-- Eu não tive como. – respondeu Andressa.
-- Como não? Não houve nenhuma rebelião durante todo esse tempo? – perguntou
Robson.
-- Não. A questão não é essa... Eu não sentia necessidade de sair dali. – respondeu ela.
-- Como assim? Necessidade de que? – perguntou Tina.
-- Você gostou de ficar presa? – perguntou Clau, perplexo.
Andressa respondeu:
-- Não. Mas é claro que não. Como eu poderia gostar de ficar trancafiada? Além disso, o clima era hostil, e a convivência, muito difícil. Mas eu gostava dos monitores. Gostava de
aprender. É bom ter um teto, de vez em quando.
-- Estudar? Estudar é coisa pra rico. Não é pra nós não. – respondeu Robson.
-- Sem falar que é uma perda de tempo. – emendou Tina.
Com Mateus, a coisa foi um pouco diferente.
Por ser o mais novo integrante da turma e não conhecer Andressa, resolveu não se intrometer na conversa.
Depois, apresentado por Robson, comentou que já ouvira muitas coisas sobre ela.
Curioso para saber como era a vida dentro de uma instituição como aquelas, Mateus a crivou de perguntas.
Tantas que Andressa ficou atordoada.
Robson, percebendo a ansiedade de Mateus, pediu ao amigo para ir devagar.
Andressa agradeceu. 
Em seguida, tentando se lembrar de todas as perguntas feitas, começou a falar de sua vida lá dentro.
E, muito embora a convivência fosse difícil, Andressa falou com carinho dos monitores e de algumas garotas. 
Segundo ela Renata e Taís, eram muito simpáticas.
Interessado no relato de Andressa, Mateus pediu para que ela falasse mais sobre suas amigas.
Andressa então falou.
Certa vez, ao voltar trazendo uma bolsa, Tina comentou que ela havia engordado.
Andressa respondeu:
-- Comida não era tão ruim.
Tina retruca:
-- É ruim sim. Mas para quem muitas vezes passa até fome, comer aquela gororoba, até que é possível.
Mateus, ao ouvir isso, caiu na risada.
Com isso, os cinco começam a contar o que tinham conseguido pegar.
Com a bolsa, Andressa conseguiu um bom dinheiro.
Tina e Clau, também estavam com sorte.
Já Robson e Mateus, não conseguiram grande coisa.
Por esta razão, os três dividiram com eles, a comida que conseguiram comprar.
E assim, os cinco almoçaram o costumeiro lanche.
Mais tarde, usaram o dinheiro que sobrara, para comprar drogas.
Andressa, Tina, Clau, Robson e Mateus, embarcaram em mais uma viagem. 
Uma tentativa desesperada de fuga da realidade. 
Mais uma entre tantas outras.
É, viver na rua não é fácil. 
Por isso, os cinco jovens passaram a consumir drogas mais pesadas.
Sim, as drogas, cada vez mais pesadas, faziam com que se esquecessem por alguns momentos, de suas vidas de dificuldades.
Contudo, causavam dependência. 
Em decorrência disso, Robson e Clau, passaram a ter um comportamento mais agressivo.
Cada vez mais dependentes do uso de drogas pesadas, os dois garotos não passavam uma noite sem se drogarem. 
Acostumaram-se.
Com o passar do tempo, ficou cada vez mais difícil, vê-los de cara limpa.
Tina, que era a namorada de Robson, não gostou nada da mudança. 
Mas acostumada a aceitar tudo, acabou se conformando.
Isso por que, logo que começou a reclamar do comportamento do namorado, foi logo ameaçada por ele. 
Com isso, temerosa, calou-se.
Quem não concordava com isso era Andressa, que vivia brigando com Robson e Clau.
Mas não adiantava.
Os dois, acreditando que tinham controle sobre as drogas, insistiam na idéia de que não havia com o que se preocupar. 
Seguros, discutiam com Andressa, que teimava em dizer, que estavam errados.
A briga era vã.
Mas, consciente de que também estava correndo o mesmo risco, decidiu por conta própria largar as drogas.
Muito embora tenha sofrido um pouco para tomar essa decisão, Andressa percebeu que não tinha outra alternativa. 
E assim, depois de passar algum tempo, sofrendo com a abstinência, finalmente sentiu-se livre.
Contudo, as coisas não se tornaram mais fáceis para ela por conta disso.
Isso por que, Robson, cada vez mais dependente das drogas, começou a bater em Tina, que agüentava tudo calada, para revolta de Andressa, que tentava abrir os olhos da
amiga.
Tina porém, não ouvia os conselhos de Andressa.
Tentando colocar panos quentes em toda a confusão, a garota vivia a dizer que Robson só estava um pouco nervoso, por isso a agrediu. 
No entanto, quando as coisas se acalmassem, tudo voltaria ao normal.
Mas não era assim, Tina vivia apanhando do rapaz.
No entanto, não havia só problemas na vida dos menores.
Andressa, por exemplo, percebendo que Mateus não sucumbira as drogas, apesar de usá-las com freqüência, passou a se aproximar mais dele.
Mateus por sua vez, percebendo a força de vontade de Andressa, abandonou as drogas.
A garota elogiou a atitude do rapaz.
Cada vez mais próximos, para começarem a namorar, foi um pulo.
E assim, embora no começo, tenha sido um simples namorico, a certa altura, a relação passou a adquirir contornos de uma verdadeira união.
Como Tina e Robson, Andressa e Mateus passaram a viver como um casal.
É, na rua, as coisas acontecem de forma mais rápida. 
Sem convenções.
Sem preconceitos e sem grandes formalidades.
Juntos, passam a praticar pequenos roubos e aplicar pequenos golpes.
Os golpes que Andressa aprendera com Robson, momentos antes da trágica noite que tiveram, onde perderam os amigos Vanderlei e Cleusa.
Abandonados, os dois foram enterrados como indigentes. 
Esquecidos de tudo. 
Até de justiça.
De vez em quando, Andressa visitava o túmulo dos amigos. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 47

E o tempo passa.
Considera por Estela, Joana e Cássio – monitores que trabalham na instituição –, com uma de suas melhores alunas, não se cansam de elogiá-la.
Com boas notas, Andressa mostra pendores para os estudos e interesse pelo conhecimento.
Nestes dois anos em que está na instituição, nota-se que a garota terá um grande futuro pela frente, se lhe for dada uma oportunidade.
Satisfeitos, por estarem contribuído um pouco para a formação de Andressa; Estela, Joana e Cássio, sempre comentam com os diretores da instituição que o lugar dela não é lá.
Dizendo que ela teria mais oportunidades lá fora, começam a se preocupar com o futuro de Andressa.
Estela a certa altura, percebendo que a garota quase nunca comenta sobre sua vida, resolve chamá-la para uma conversa.
Afirmando estar encantada com a facilidade que Andressa tem para os estudos, Estela, incentiva a garota a continuar estudando. 
Dizendo que ela pode ir longe, muito longe, comenta que ela nunca deveria ter parado de estudar.
Andressa ao ouvir tais palavras, responde que foi a necessidade que a fez abandonar os estudos.
Quando então a monitora, tenta saber detalhes de sua vida pregressa, a menina agora com quase doze anos, desconversa. 
Dizendo que sua vida não tem nada de interessante para ser contado, começa a mudar de assunto e passa a perguntar sobre o que mais lhe será ensinado.
Estela então lhe conta que lhe ensinará tudo o que ela tiver interesse em aprender.
Andressa ao ouvir isso, fica satisfeita.
Estela percebendo que a garota não se abriria com facilidade, resolve analisar a ficha dela. 
Com a ajuda de outros funcionários, descobre que Andressa fora institucionalizada por conta de um furto. 
Em seguida, ao ler outros documentos, descobre que se trata de uma garota de rua.
Ao saber disso, comenta o assunto com Joana e Cássio, que ficam ainda mais preocupados com o futuro incerto da garota.
Nisso, a garota continua estudando, freqüentando as aulas.
E assim, muito embora a convivência fosse difícil, Andressa consegue levar com algum jeito esta situação.
Tudo muda porém, durante uma rebelião.
Carla, a líder da confusão, aproveita para acertar suas diferenças com Andressa.
Assim, quando a vê sozinha, sem saber para onde ir. 
Perdida entre os corredores do lugar, a moça resolve chamá-la.
Andressa ao ouvir seu nome, fica preocupada. 
Quando resolve ver quem a chama, descobre se tratar de Carla. 
Irritada pergunta:
-- O que você quer?
Carla, já habituada com o jeito de Andressa, comentou:
-- Nada não! Apenas quero saber onde você pensa que vai!
-- Isso não é da sua conta! – responde Andressa, aborrecida.
Carla ri.
Andressa irritada com os modos da moça, resolveu continuar caminhando.
É quando Carla a interrompe:
-- Ei! Eu não lhe dei ordens para continuar andando.
Andressa porém, continua caminhando.
Carla irritada, começa a ir atrás da garota. 
Nervosa, começa a gritar para ela parar.
Andressa por sua vez, continua caminhando.
A moça, ao perceber que não intimidava Andressa, passou a ameaçá-la. 
Dizendo que ela iria se arrepender se não a obedecesse, só conseguiu provocar risos nela.
Andressa não acreditava em suas palavras. 
Por isso, continuava caminhando.
É quando Carla começa a xingá-la. 
A certa altura, cansada de ser ridicularizada por Andressa, começa a correr em sua direção. 
Dizendo que ela iria se arrepender por ter nascido, Carla conseguiu fazer com que Andressa também começasse a correr.
Ligeira, Andressa, conseguiu durante algum tempo, deixá-la para trás.
Foi quando Carla, a ameaçou novamente. 
Dizendo toda a sorte de impropérios, afirmou que quando a pegasse iria acabar com sua raça.
Nisso, ao final do corredor, duas garotas avançam sobre Andressa.
A garota, sem para onde correr, é pega por elas. 
É quando Carla se aproxima, e apontando uma faca para ela, diz:
-- Eu avisei que sua hora ainda ia chegar. Quem mandou não me ouvir. Agora você vai se arrepender do dia em que nasceu.
Andressa percebendo-se sem saída, finalmente demonstra temor.
Carla fica feliz com isso. 
Dizendo que irá matá-la, comenta que depois de completar o serviço ninguém terá coragem de desafia-la. 
Andressa, temerosa, começa a observar os gestos da moça.
Quando Carla pede para as outras internas se afastarem, percebe que terá pouco tempo para agir. 
Por isso, resolve controlar seu medo.
Nisso Carla, segurando-a pelo pescoço, continua a ameaçá-la. 
Aproximando a faca perigosamente de seu rosto, ameaça desfigurar Andressa. 
Sádica, diz que primeiro deformará seu rosto para depois matá-la.
Andressa fica ainda mais nervosa.
Carla, percebendo a tensão de Andressa, fica cada vez mais satisfeita. 
Como se segurasse um troféu, pressionava com mais e força o pescoço dela.
Quando Andressa percebeu que Carla tentava estrangulá-la, resolveu reagir.
Surpresa com a reação de Andressa, deixou cair a faca.
Nisso, Andressa, aproveitando-se da situação, chutou e esbofeteou Carla, que nesse momento tentava recuperar a faca que derrubara.
Rapidamente, Andressa, percebendo onde a faca caíra, resolve pegá-la. Ameaçando
Carla, diz que se ela a deixar escapar, não terá nenhum problema.
Carla porém, não está disposta a aceitar estes termos. 
É quando ameaça avançar contra Andressa.
A garota, percebendo a intenção de Carla, ameaça-á com a faca.
Irritada, só resta a Carla deixá-la ir.
Andressa então, foge dali. 
Percebendo que seria apenas questão de tempo para ser pega, resolve fugir.
Sentindo-se ameaçada com a violência perpretada pelas internas, Andressa, aproveitando-se da confusão armada, e, percebendo um portão semi-aberto, resolve arriscar.
Percebendo que é possível passar pelo vão, foge dali.
Aflita, ao ver do lado de fora, começa a correr. 
Assustada, quer sumir o mais depressa possível dali. 
Corre, corre e corre.
É quando volta a viver nas ruas.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 46

Com o passar do tempo, Andressa, que não se deixava abater, procurou viver da maneira que era possível naquela instituição.
Caminhando por um dos inúmeros corredores existentes entre as alas, Cássio, Estela e Joana resolveram se aproximar da garota.
Interessados em fazer com todos façam os cursos e aprender a executar alguma atividade produtiva, resolvem abordar Andressa.
Distraída, a garota não percebem a aproximação de imediato.
Estela, percebendo a distração, pergunta:
-- Nada para fazer?
Andressa então se assusta.
Estela, notando que pegara a garota de surpresa, pede desculpas.
Cássio por sua vez, censurando a falta de cuidado da amiga, pergunta-lhe se não está interessada em estudar, aprender coisas novas. 
Enfim, ocupar seu tempo.
Surpresa com a proposta, Andressa diz que não sabe.
É quando Joana sugere que ela apenas veja o trabalho deles. 
Dizendo que não custa nada ver, acaba convencendo Andressa a passar a tarde com eles.
É quando ela vê menores das mais variadas idades estudando. 
Alguns, empenhados em mudar de vida, fazem planos.
A garota, acostumada com sua vida sem perspectivas, fica encantada com a descoberta deste novo mundo.
Estela, notando o interesse de Andressa, resolve convidá-la para tomar parte naquele projeto.
Relutante, a garota, fica em dúvida. 
Afinal de contas, de que adianta tudo isso, se ela nem ao menos sabe se conseguira ter um proveito disso?
Nesse momento, Cássio intervêm. 
Dizendo que não se pode esperar da vida só vantagens. 
Argumenta dizendo que a vida é muito mais do que simplesmente seguir vivendo.
Empolgado, afirma que o que fica mesmo, são as pequenas coisas. 
Como por exemplo, um lindo poema que se leu, e depois de muito tempo ainda se é capaz de lembrar de suas palavras.
Um gesto. 
Algo de interessante que ouviu e aprendeu. 
Enfim, a vida é feita de coisas singelas, e o que fica são os nossos sonhos, a nossa vontade. 
Segundo ele.
Encantada com essas palavras, Andressa resolve perguntar:
-- Onde o senhor aprendeu a falar desse jeito?
-- Com os livros. Aprendi com os meus diletos amigos. Os livros. – respondeu ele.
Instigada, Andressa, disse:
-- Pois então, eu também quero aprender com os livros. 
-- Ótima idéia. – apoiaram Estela e Joana.
Foi assim, que Andressa voltou a estudar. 
Depois de quase dois anos, longe dos livros e das atividades escolares, sofreu um pouco para retomar o ritmo.
Como estava defasada em relação aos estudos, Andressa teve que se dedicar mais nas aulas. 
Além disso, prestativos, os três monitores se ofereceram para ajudá-la. 
Por conta disso, constantemente Andressa ficava até mais tarde com eles. 
Nessa atividade de reforço, a garota, empenhada em conseguir acompanhar as demais crianças, mostrou-se muito dedicada e esperta.
Desta forma, não demorou muito para que tirasse de letra os estudos, e se tornasse uma das alunas mais participativas.
Passar um longo tempo se dedicando exclusivamente aos estudos, foi muito bom para ela. 
Isso por que, com o rosto praticamente enfiado nos livros, Andressa evitava se encontrar com Carla, e assim, não se criavam atritos.
Entretida com a língua portuguesa, sua gramática, seus textos literários – que começava a ler –, a história, a geografia, a matemática, enfim, com o mundo de conhecimento
que se afigurava, nem sequer se preocupava mais em retrucar as provocações.
Com isso, o clima ficou mais ameno.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 45

No dia seguinte, caminhando pelos corredores da instituição, Andressa inopinadamente é abordada por Carla, que a estava seguindo.
Aproveitando-se da distração da garota, Carla interrompe seu passeio. 
Dizendo que precisa conversar com ela, comenta que ninguém nunca a havia enfrentado antes. 
Afirmando que ela era muito corajosa para enfrentá-la daquela maneira, perguntou seu no nome.
Desconfiada, Andressa respondeu com outra pergunta:
-- E por que você quer saber meu nome?
-- Por que eu mando no pedaço. Não te falaram nada sobre mim? – perguntou Carla.
-- Alguma coisa. – respondeu Andressa, com desdém.
Carla não gostou do tom da garota. 
Mas, controlando sua irritação, disse:
-- Garota! Você se acha a rainha da cocada branca, não é mesmo?
-- Não me acho não. Só não gosto que falem comigo como se eu fosse qualquer coisa. Se você me respeitar, vai ser respeitada por mim.
A moça ao ouvir isso, começou a rir. 
Acostumada a destratar as pessoas, Carla comentou a perceber que não conseguiria dobrar facilmente Andressa. 
Mas, tentando demonstrar tranqüilidade, decidiu tentar mais uma vez, se entender com a garota.
Por esta razão, se apresentou:
-- Pois bem! Eu me chamo Carla. Estou aqui há quase um ano. E você?
Andressa respondeu:
-- Meu nome é Andressa.
-- E o que você fez para parar aqui? – perguntou Carla.
Andressa respondeu esta pergunta com outra pergunta:
-- E você? O que fez para parar aqui?
-- Não te falaram? Eu matei uns caras. – respondeu convencida.
Curiosa, Andressa perguntou por que ela nunca tinha tentado fugir dali.
Carla respondeu então:
-- Quem te disse que eu nunca tentei fugir? Tentar eu tentei, mas as fugas sempre deram errado... Por que, você está pensando em fugir?
-- Não. No momento não. – respondeu Andressa, dando a entender que gostaria de continuar caminhando.
-- Vai. Vai em paz, majestade. – desdenhou Carla.
Nisso, Andressa ficou passeando pelo lugar, conheceu os pátios, os cursos que eram ministrados, as aulas. 
Observou o comportamento das demais internas, e reencontrou Taís e Renata, que ao perceberem que não haviam se apresentado, trataram logo de o fazerem.
Andressa fez o mesmo.
E assim, devidamente apresentadas, as duas garotas comentaram como era o dia-adia na instituição.
Alegando que haviam sido presas por engano naquele lugar, insistiam em dizer que não haviam feito nada.
Ao ouvir tais palavras, Andressa não acreditou.
Mesmo assim, as duas colegas continuaram a dizer que eram inocentes.
Foi nesse momento que, ouvindo a conversa das duas, Regina comentou:
-- Todos nós somos inocentes. Eu mesma, pratiquei muitos furtos. Mas mesmo assim, eu sou inocente. Como dizem, sou uma vítima do sistema.
Andressa que estava conhecendo as pessoas, esperou a garota se apresentar.
Foi que ela fez.
Andressa também se apresentou. 
Dizendo que preferia evitar problemas, respondeu que dali por diante, cumprimentaria todos os que se apresentassem a ela.
Regina, que já sabia do enfrentamento dela com Carla, comentou que ela estava encrencada.
Andressa respondeu:
-- Eu sei! Eu estou encrencada praticamente desde o dia em que nasci. Toda a minha vida é uma confusão. Um problema a mais, um a menos, não faz a menor diferença.
Curiosa, Regina pergunta sobre sua vida.
Incomodada com a curiosidade, Andressa muda de assunto. 
Ao observar alguns funcionários andando de lá para cá, resolve perguntar o que eles fazem.
Regina responde então, que eles são monitores.
Interessada, Andressa pergunta se são eles que cuidam dos menores.
Regina responde afirmativamente. 
Curiosa, pergunta o porquê de tanto interesse.
Tentando despistar, Andressa responde:
-- Nada não.
E nisso, as quatro internas continuam conversando.
No refeitório, Carla e Andressa se encontram novamente.
Aflitas, Renata e Taís, comentam entre si, que isso não vai dar certo.
É quando Carla começa a puxar papo com Andressa, que mesmo um pouco desinteressada, se esforça para ser simpática.
Quando Renata e Taís constatam que não haverá brigas, ficam surpresas.
Outras pessoas no refeitório também ficam.
Quando os murmúrios começam a alcançar um volume muito elevado, Carla começa a gritar:
-- Vocês querem fazer o favor de fecharem as matracas?
Ao ouvirem os berros da garotas, todas se calam.
É quando ela comenta com Andressa:
-- Está vendo só? É só pedir com jeitinho que todo mundo atende. Se você não me criar problemas, poderá ter uma vida bem tranqüila aqui dentro.
Andressa preferiu ignorar o comentário.
Nisso, ao término da refeição, Carla saiu do refeitório. 
Seguida de suas fiéis sequazes.
Novamente o burburinho começou.
É quando uma das internas afirmando querer aconselhar Andressa, comenta:
-- Hoje ela estava de bom humor. Mas se eu fosse você, não brincava com a sorte não. A Carla é perigosa.
Andressa ao ouvir isso, resolveu sair do refeitório.
Foi assim que começaram as provocações.
Embora algumas garotas dissessem que Carla estava amarelando, outras viviam debochando de Andressa. 
Dizendo que ela estava brincando com fogo, afirmavam que ela ainda iria se dar muito mal.
Andressa que no começo, ao ouvir as provocações, fingiu ignorá-las, mas com o passar do tempo, passou a retrucar. 
Dizendo que estava cansada de ouvir tantas bobagens, comentou que se algum as duas tivessem que acertar suas diferenças, não seria por determinação delas nem de ninguém. Dessarte, não havia nascido ninguém ainda que pudesse lhe impôr alguma coisa.
Quem não gostou nada nada dessa conversa foi a própria Carla, que assim que pôde, foi tomar satisfações com Andressa.
Ameaçando-a, Carla diz que ela está passando dos limites. 
Alegando que quem manda ali é ela, comenta que se ela não colaborar, as coisas podem ficar muito difíceis para o seu lado.
Andressa porém, despreza o conselho. 
Dizendo que sabe cuidar de si mesma, afirma que não está incomodando. 
Pelo contrário, toda vez que tenciona ficar sozinha em seu canto, aparece uma infeliz para irritá-la. 
Diante disso, responde como qualquer pessoa faria.
Audaciosa, avisa Carla, que se ela não quer mais ter atritos com ela, é bom deixar suas sequazes longe dela.
Carla fica injuriada com a atitude de Andressa.
-- Eu não estou acreditando! Quem você pensa que é para me dar ordens?
-- Eu não estou dando nenhuma ordem. Eu, ao contrário de certas pessoas, não tento mandar nos outros. Só quero que respeitem o meu espaço.
Aborrecida, Carla agarra Andressa pela manga da blusa.
-- Me solta! Solta a minha blusa. – exigiu Andressa.
-- Pois você está avisada! – respondeu, empurrando a garota.
Taís, ao ver cena comentou:
-- Tá ferrada! Eu bem que avisei.
Irritada, Andressa caminhou para outra ala.
Sozinha, caminhando por entre as alas do lugar, começou a refletir.
Ao se recordar dos tempos em que vivera num orfanato, Andressa percebeu que lá as coisas eram difíceis, contudo ali era bem pior. 
As meninas mais agressivas, a todo o momento lhe criavam problemas. 
Provocando-a e ameaçando-a, estava cada vez mais difícil se acostumar com aquele lugar.
Certa vez, em uma de suas caminhadas constantes, chegou a ver Carla e mais uma amiga, ameaçando uma funcionária.
Observando o dia-a-dia do lugar, começou a perceber que ela não era a única a fazer isso. 
Atrevidas, algumas outras garotas também ameaçam as funcionárias. 
Dizendo que elas iriam se arrepender por não colaborarem com as internas, algumas destas funcionárias frustraram alguns planos de fuga. 
Por conta disso, eram constantemente ameaçadas.
Com isso, o que chamou a atenção num primeiro momento, passou a ser rotineiro e banal. 
Andressa se acostumou com o tratamento hostil das internas.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.