Poesias

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 47

E o tempo passa.
Considera por Estela, Joana e Cássio – monitores que trabalham na instituição –, com uma de suas melhores alunas, não se cansam de elogiá-la.
Com boas notas, Andressa mostra pendores para os estudos e interesse pelo conhecimento.
Nestes dois anos em que está na instituição, nota-se que a garota terá um grande futuro pela frente, se lhe for dada uma oportunidade.
Satisfeitos, por estarem contribuído um pouco para a formação de Andressa; Estela, Joana e Cássio, sempre comentam com os diretores da instituição que o lugar dela não é lá.
Dizendo que ela teria mais oportunidades lá fora, começam a se preocupar com o futuro de Andressa.
Estela a certa altura, percebendo que a garota quase nunca comenta sobre sua vida, resolve chamá-la para uma conversa.
Afirmando estar encantada com a facilidade que Andressa tem para os estudos, Estela, incentiva a garota a continuar estudando. 
Dizendo que ela pode ir longe, muito longe, comenta que ela nunca deveria ter parado de estudar.
Andressa ao ouvir tais palavras, responde que foi a necessidade que a fez abandonar os estudos.
Quando então a monitora, tenta saber detalhes de sua vida pregressa, a menina agora com quase doze anos, desconversa. 
Dizendo que sua vida não tem nada de interessante para ser contado, começa a mudar de assunto e passa a perguntar sobre o que mais lhe será ensinado.
Estela então lhe conta que lhe ensinará tudo o que ela tiver interesse em aprender.
Andressa ao ouvir isso, fica satisfeita.
Estela percebendo que a garota não se abriria com facilidade, resolve analisar a ficha dela. 
Com a ajuda de outros funcionários, descobre que Andressa fora institucionalizada por conta de um furto. 
Em seguida, ao ler outros documentos, descobre que se trata de uma garota de rua.
Ao saber disso, comenta o assunto com Joana e Cássio, que ficam ainda mais preocupados com o futuro incerto da garota.
Nisso, a garota continua estudando, freqüentando as aulas.
E assim, muito embora a convivência fosse difícil, Andressa consegue levar com algum jeito esta situação.
Tudo muda porém, durante uma rebelião.
Carla, a líder da confusão, aproveita para acertar suas diferenças com Andressa.
Assim, quando a vê sozinha, sem saber para onde ir. 
Perdida entre os corredores do lugar, a moça resolve chamá-la.
Andressa ao ouvir seu nome, fica preocupada. 
Quando resolve ver quem a chama, descobre se tratar de Carla. 
Irritada pergunta:
-- O que você quer?
Carla, já habituada com o jeito de Andressa, comentou:
-- Nada não! Apenas quero saber onde você pensa que vai!
-- Isso não é da sua conta! – responde Andressa, aborrecida.
Carla ri.
Andressa irritada com os modos da moça, resolveu continuar caminhando.
É quando Carla a interrompe:
-- Ei! Eu não lhe dei ordens para continuar andando.
Andressa porém, continua caminhando.
Carla irritada, começa a ir atrás da garota. 
Nervosa, começa a gritar para ela parar.
Andressa por sua vez, continua caminhando.
A moça, ao perceber que não intimidava Andressa, passou a ameaçá-la. 
Dizendo que ela iria se arrepender se não a obedecesse, só conseguiu provocar risos nela.
Andressa não acreditava em suas palavras. 
Por isso, continuava caminhando.
É quando Carla começa a xingá-la. 
A certa altura, cansada de ser ridicularizada por Andressa, começa a correr em sua direção. 
Dizendo que ela iria se arrepender por ter nascido, Carla conseguiu fazer com que Andressa também começasse a correr.
Ligeira, Andressa, conseguiu durante algum tempo, deixá-la para trás.
Foi quando Carla, a ameaçou novamente. 
Dizendo toda a sorte de impropérios, afirmou que quando a pegasse iria acabar com sua raça.
Nisso, ao final do corredor, duas garotas avançam sobre Andressa.
A garota, sem para onde correr, é pega por elas. 
É quando Carla se aproxima, e apontando uma faca para ela, diz:
-- Eu avisei que sua hora ainda ia chegar. Quem mandou não me ouvir. Agora você vai se arrepender do dia em que nasceu.
Andressa percebendo-se sem saída, finalmente demonstra temor.
Carla fica feliz com isso. 
Dizendo que irá matá-la, comenta que depois de completar o serviço ninguém terá coragem de desafia-la. 
Andressa, temerosa, começa a observar os gestos da moça.
Quando Carla pede para as outras internas se afastarem, percebe que terá pouco tempo para agir. 
Por isso, resolve controlar seu medo.
Nisso Carla, segurando-a pelo pescoço, continua a ameaçá-la. 
Aproximando a faca perigosamente de seu rosto, ameaça desfigurar Andressa. 
Sádica, diz que primeiro deformará seu rosto para depois matá-la.
Andressa fica ainda mais nervosa.
Carla, percebendo a tensão de Andressa, fica cada vez mais satisfeita. 
Como se segurasse um troféu, pressionava com mais e força o pescoço dela.
Quando Andressa percebeu que Carla tentava estrangulá-la, resolveu reagir.
Surpresa com a reação de Andressa, deixou cair a faca.
Nisso, Andressa, aproveitando-se da situação, chutou e esbofeteou Carla, que nesse momento tentava recuperar a faca que derrubara.
Rapidamente, Andressa, percebendo onde a faca caíra, resolve pegá-la. Ameaçando
Carla, diz que se ela a deixar escapar, não terá nenhum problema.
Carla porém, não está disposta a aceitar estes termos. 
É quando ameaça avançar contra Andressa.
A garota, percebendo a intenção de Carla, ameaça-á com a faca.
Irritada, só resta a Carla deixá-la ir.
Andressa então, foge dali. 
Percebendo que seria apenas questão de tempo para ser pega, resolve fugir.
Sentindo-se ameaçada com a violência perpretada pelas internas, Andressa, aproveitando-se da confusão armada, e, percebendo um portão semi-aberto, resolve arriscar.
Percebendo que é possível passar pelo vão, foge dali.
Aflita, ao ver do lado de fora, começa a correr. 
Assustada, quer sumir o mais depressa possível dali. 
Corre, corre e corre.
É quando volta a viver nas ruas.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 46

Com o passar do tempo, Andressa, que não se deixava abater, procurou viver da maneira que era possível naquela instituição.
Caminhando por um dos inúmeros corredores existentes entre as alas, Cássio, Estela e Joana resolveram se aproximar da garota.
Interessados em fazer com todos façam os cursos e aprender a executar alguma atividade produtiva, resolvem abordar Andressa.
Distraída, a garota não percebem a aproximação de imediato.
Estela, percebendo a distração, pergunta:
-- Nada para fazer?
Andressa então se assusta.
Estela, notando que pegara a garota de surpresa, pede desculpas.
Cássio por sua vez, censurando a falta de cuidado da amiga, pergunta-lhe se não está interessada em estudar, aprender coisas novas. 
Enfim, ocupar seu tempo.
Surpresa com a proposta, Andressa diz que não sabe.
É quando Joana sugere que ela apenas veja o trabalho deles. 
Dizendo que não custa nada ver, acaba convencendo Andressa a passar a tarde com eles.
É quando ela vê menores das mais variadas idades estudando. 
Alguns, empenhados em mudar de vida, fazem planos.
A garota, acostumada com sua vida sem perspectivas, fica encantada com a descoberta deste novo mundo.
Estela, notando o interesse de Andressa, resolve convidá-la para tomar parte naquele projeto.
Relutante, a garota, fica em dúvida. 
Afinal de contas, de que adianta tudo isso, se ela nem ao menos sabe se conseguira ter um proveito disso?
Nesse momento, Cássio intervêm. 
Dizendo que não se pode esperar da vida só vantagens. 
Argumenta dizendo que a vida é muito mais do que simplesmente seguir vivendo.
Empolgado, afirma que o que fica mesmo, são as pequenas coisas. 
Como por exemplo, um lindo poema que se leu, e depois de muito tempo ainda se é capaz de lembrar de suas palavras.
Um gesto. 
Algo de interessante que ouviu e aprendeu. 
Enfim, a vida é feita de coisas singelas, e o que fica são os nossos sonhos, a nossa vontade. 
Segundo ele.
Encantada com essas palavras, Andressa resolve perguntar:
-- Onde o senhor aprendeu a falar desse jeito?
-- Com os livros. Aprendi com os meus diletos amigos. Os livros. – respondeu ele.
Instigada, Andressa, disse:
-- Pois então, eu também quero aprender com os livros. 
-- Ótima idéia. – apoiaram Estela e Joana.
Foi assim, que Andressa voltou a estudar. 
Depois de quase dois anos, longe dos livros e das atividades escolares, sofreu um pouco para retomar o ritmo.
Como estava defasada em relação aos estudos, Andressa teve que se dedicar mais nas aulas. 
Além disso, prestativos, os três monitores se ofereceram para ajudá-la. 
Por conta disso, constantemente Andressa ficava até mais tarde com eles. 
Nessa atividade de reforço, a garota, empenhada em conseguir acompanhar as demais crianças, mostrou-se muito dedicada e esperta.
Desta forma, não demorou muito para que tirasse de letra os estudos, e se tornasse uma das alunas mais participativas.
Passar um longo tempo se dedicando exclusivamente aos estudos, foi muito bom para ela. 
Isso por que, com o rosto praticamente enfiado nos livros, Andressa evitava se encontrar com Carla, e assim, não se criavam atritos.
Entretida com a língua portuguesa, sua gramática, seus textos literários – que começava a ler –, a história, a geografia, a matemática, enfim, com o mundo de conhecimento
que se afigurava, nem sequer se preocupava mais em retrucar as provocações.
Com isso, o clima ficou mais ameno.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 45

No dia seguinte, caminhando pelos corredores da instituição, Andressa inopinadamente é abordada por Carla, que a estava seguindo.
Aproveitando-se da distração da garota, Carla interrompe seu passeio. 
Dizendo que precisa conversar com ela, comenta que ninguém nunca a havia enfrentado antes. 
Afirmando que ela era muito corajosa para enfrentá-la daquela maneira, perguntou seu no nome.
Desconfiada, Andressa respondeu com outra pergunta:
-- E por que você quer saber meu nome?
-- Por que eu mando no pedaço. Não te falaram nada sobre mim? – perguntou Carla.
-- Alguma coisa. – respondeu Andressa, com desdém.
Carla não gostou do tom da garota. 
Mas, controlando sua irritação, disse:
-- Garota! Você se acha a rainha da cocada branca, não é mesmo?
-- Não me acho não. Só não gosto que falem comigo como se eu fosse qualquer coisa. Se você me respeitar, vai ser respeitada por mim.
A moça ao ouvir isso, começou a rir. 
Acostumada a destratar as pessoas, Carla comentou a perceber que não conseguiria dobrar facilmente Andressa. 
Mas, tentando demonstrar tranqüilidade, decidiu tentar mais uma vez, se entender com a garota.
Por esta razão, se apresentou:
-- Pois bem! Eu me chamo Carla. Estou aqui há quase um ano. E você?
Andressa respondeu:
-- Meu nome é Andressa.
-- E o que você fez para parar aqui? – perguntou Carla.
Andressa respondeu esta pergunta com outra pergunta:
-- E você? O que fez para parar aqui?
-- Não te falaram? Eu matei uns caras. – respondeu convencida.
Curiosa, Andressa perguntou por que ela nunca tinha tentado fugir dali.
Carla respondeu então:
-- Quem te disse que eu nunca tentei fugir? Tentar eu tentei, mas as fugas sempre deram errado... Por que, você está pensando em fugir?
-- Não. No momento não. – respondeu Andressa, dando a entender que gostaria de continuar caminhando.
-- Vai. Vai em paz, majestade. – desdenhou Carla.
Nisso, Andressa ficou passeando pelo lugar, conheceu os pátios, os cursos que eram ministrados, as aulas. 
Observou o comportamento das demais internas, e reencontrou Taís e Renata, que ao perceberem que não haviam se apresentado, trataram logo de o fazerem.
Andressa fez o mesmo.
E assim, devidamente apresentadas, as duas garotas comentaram como era o dia-adia na instituição.
Alegando que haviam sido presas por engano naquele lugar, insistiam em dizer que não haviam feito nada.
Ao ouvir tais palavras, Andressa não acreditou.
Mesmo assim, as duas colegas continuaram a dizer que eram inocentes.
Foi nesse momento que, ouvindo a conversa das duas, Regina comentou:
-- Todos nós somos inocentes. Eu mesma, pratiquei muitos furtos. Mas mesmo assim, eu sou inocente. Como dizem, sou uma vítima do sistema.
Andressa que estava conhecendo as pessoas, esperou a garota se apresentar.
Foi que ela fez.
Andressa também se apresentou. 
Dizendo que preferia evitar problemas, respondeu que dali por diante, cumprimentaria todos os que se apresentassem a ela.
Regina, que já sabia do enfrentamento dela com Carla, comentou que ela estava encrencada.
Andressa respondeu:
-- Eu sei! Eu estou encrencada praticamente desde o dia em que nasci. Toda a minha vida é uma confusão. Um problema a mais, um a menos, não faz a menor diferença.
Curiosa, Regina pergunta sobre sua vida.
Incomodada com a curiosidade, Andressa muda de assunto. 
Ao observar alguns funcionários andando de lá para cá, resolve perguntar o que eles fazem.
Regina responde então, que eles são monitores.
Interessada, Andressa pergunta se são eles que cuidam dos menores.
Regina responde afirmativamente. 
Curiosa, pergunta o porquê de tanto interesse.
Tentando despistar, Andressa responde:
-- Nada não.
E nisso, as quatro internas continuam conversando.
No refeitório, Carla e Andressa se encontram novamente.
Aflitas, Renata e Taís, comentam entre si, que isso não vai dar certo.
É quando Carla começa a puxar papo com Andressa, que mesmo um pouco desinteressada, se esforça para ser simpática.
Quando Renata e Taís constatam que não haverá brigas, ficam surpresas.
Outras pessoas no refeitório também ficam.
Quando os murmúrios começam a alcançar um volume muito elevado, Carla começa a gritar:
-- Vocês querem fazer o favor de fecharem as matracas?
Ao ouvirem os berros da garotas, todas se calam.
É quando ela comenta com Andressa:
-- Está vendo só? É só pedir com jeitinho que todo mundo atende. Se você não me criar problemas, poderá ter uma vida bem tranqüila aqui dentro.
Andressa preferiu ignorar o comentário.
Nisso, ao término da refeição, Carla saiu do refeitório. 
Seguida de suas fiéis sequazes.
Novamente o burburinho começou.
É quando uma das internas afirmando querer aconselhar Andressa, comenta:
-- Hoje ela estava de bom humor. Mas se eu fosse você, não brincava com a sorte não. A Carla é perigosa.
Andressa ao ouvir isso, resolveu sair do refeitório.
Foi assim que começaram as provocações.
Embora algumas garotas dissessem que Carla estava amarelando, outras viviam debochando de Andressa. 
Dizendo que ela estava brincando com fogo, afirmavam que ela ainda iria se dar muito mal.
Andressa que no começo, ao ouvir as provocações, fingiu ignorá-las, mas com o passar do tempo, passou a retrucar. 
Dizendo que estava cansada de ouvir tantas bobagens, comentou que se algum as duas tivessem que acertar suas diferenças, não seria por determinação delas nem de ninguém. Dessarte, não havia nascido ninguém ainda que pudesse lhe impôr alguma coisa.
Quem não gostou nada nada dessa conversa foi a própria Carla, que assim que pôde, foi tomar satisfações com Andressa.
Ameaçando-a, Carla diz que ela está passando dos limites. 
Alegando que quem manda ali é ela, comenta que se ela não colaborar, as coisas podem ficar muito difíceis para o seu lado.
Andressa porém, despreza o conselho. 
Dizendo que sabe cuidar de si mesma, afirma que não está incomodando. 
Pelo contrário, toda vez que tenciona ficar sozinha em seu canto, aparece uma infeliz para irritá-la. 
Diante disso, responde como qualquer pessoa faria.
Audaciosa, avisa Carla, que se ela não quer mais ter atritos com ela, é bom deixar suas sequazes longe dela.
Carla fica injuriada com a atitude de Andressa.
-- Eu não estou acreditando! Quem você pensa que é para me dar ordens?
-- Eu não estou dando nenhuma ordem. Eu, ao contrário de certas pessoas, não tento mandar nos outros. Só quero que respeitem o meu espaço.
Aborrecida, Carla agarra Andressa pela manga da blusa.
-- Me solta! Solta a minha blusa. – exigiu Andressa.
-- Pois você está avisada! – respondeu, empurrando a garota.
Taís, ao ver cena comentou:
-- Tá ferrada! Eu bem que avisei.
Irritada, Andressa caminhou para outra ala.
Sozinha, caminhando por entre as alas do lugar, começou a refletir.
Ao se recordar dos tempos em que vivera num orfanato, Andressa percebeu que lá as coisas eram difíceis, contudo ali era bem pior. 
As meninas mais agressivas, a todo o momento lhe criavam problemas. 
Provocando-a e ameaçando-a, estava cada vez mais difícil se acostumar com aquele lugar.
Certa vez, em uma de suas caminhadas constantes, chegou a ver Carla e mais uma amiga, ameaçando uma funcionária.
Observando o dia-a-dia do lugar, começou a perceber que ela não era a única a fazer isso. 
Atrevidas, algumas outras garotas também ameaçam as funcionárias. 
Dizendo que elas iriam se arrepender por não colaborarem com as internas, algumas destas funcionárias frustraram alguns planos de fuga. 
Por conta disso, eram constantemente ameaçadas.
Com isso, o que chamou a atenção num primeiro momento, passou a ser rotineiro e banal. 
Andressa se acostumou com o tratamento hostil das internas.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 44

Mesmo resistindo, não lhe resta outra alternativa. 
Andressa, é obrigada a viver em um ambiente pernicioso, com garotas das mais variadas idades.
Misturada com meninas e moças,aos quais cometeram os mais variados tipos de infrações, Andressa percebe então, que o fato de estar em uma instituição, não melhoraria em
nada sua vida. 
Recordando-se do que sucedeu nos tempos em que vivera em um orfanato, Andressa, começa a se preparar para o pior.
Mal sabe ela o que a espera!
Logo quando se dirige ao refeitório para jantar, percebe que algumas internas cochicham alguma coisa. 
Cismada, Andressa senta em um canto escondido e começa a comer.
É quando uma das internatas diz:
-- Eu não sei como você consegue comer isso! Parece lavagem de porco!
Ao ouvirem isso, algumas internas riem.
Andressa continua comendo.
Irritada, a garota pergunta:
-- Não me ouviu não? É surda por acaso?
Andressa continua na sua.
É quando Carla, levanta-se da cadeira e caminha em direção a ela.
O comentário entre as internas, é de que aquela aproximação não vai dar certo.
Andressa continua comendo.
É quando Carla puxa o prato da garota e o atira ao chão.
Surpresa, Andressa se levanta.
É quando Carla, apontando o dedo para o seu rosto, diz:
-- Isso é só um aviso! Se prepare que a coisa vai ficar bem pior. É só você querer se achar demais.
Andressa, ficou observando-a.
Carla irritada, perguntou:
-- Tá me olhando por quê? Tá me achando bonita?
Andressa, pensando na cena, respondeu:
-- Não. Não estou achando nada. Eu só queria entender, o que te faz achar que tem o direito de se intrometer na vida dos outros.
O burburinho recomeça.
Algumas internas, dizendo que a estranha estava indo longe demais, começaram a dizer que ela havia se ferrado.
Carla, não gostou nem um pouco do comentário. 
Mas, tentando se fazer de generosa, disse que ela teria a oportunidade de se desculpar.
Andressa, percebendo o ar de deboche, retrucou dizendo que não iria se desculpar por nada.
A garota ao ouvir isso, ficou furiosa. 
Irritada, com o comportamento de Andressa, Carla respondeu que ela não perdia por esperar. 
A seguir, retirando-se do refeitório, é acompanhada de outras garotas.
Taís e Renata, se aproximam de Andressa. 
Dizendo que ela estava frita, comentaram que Carla não brincava em serviço. 
Sim por que, segundo elas, a garota era a líder das meninas. 
Desta forma, tudo o que ela determinava era lei.
Demonstrando que temiam Carla, as duas garotas disseram a Andressa que ela estava brincando com fogo.
Ao ouvir estes comentários, a garota começa a rir. 
Dizendo que já havia passado por coisas bem piores, comentou que não seria uma ameaça que a intimidaria.
Foi quando Taís respondeu:
-- Pois eu se fosse você, ficaria com medo. Ela já tem cinco mortes nas costas.
Andressa ao ouvir isso, retrucou sarcasticamente:
-- Ah, é mesmo?! Pois eu vi a morte de perto.
Incrédulas, Renata e Taís perguntaram quando isso se deu.
Andressa contou então vira seus amigos serem mortos por três homens armados.
Espantadas, as duas perguntam:
-- E como você fez para se safar?
-- Eu tive a sorte de não estar dormindo, no momento em que os homens chegarem. Estava em outro lugar. Quando cheguei, o massacre já havia começado. Vi Cleusa e
Vanderlei serem mortos, praticamente na minha frente.
-- Caramba! – exclamou Taís.
Nisso, as três garotas ficaram a conversar durante algum tempo.
Mais tarde, sozinha, Andressa – deitada em uma cama – relembra de seus tempos de orfanato, onde aprendeu a conviver com a indiferença. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 43

Certo dia, ao furtar um turista, Andressa acabou se dando mal. 
Isso por que, o homem, ao perceber que afanaram sua carteira, tratou logo de chamar a polícia. 
Para azar de Andressa, havia dois policiais próximos dali, os quais, ao ouvirem os apelos do homem, trataram de agir prontamente.
Em razão disso, a garota acabou indo parar numa delegacia.
Levada a delegacia, Francisco – o delegado –, se surpreende com Andressa.
Isso por que, percebendo que a cada dia que passava, os menores ficavam mais atrevidos, Francisco, comenta:
-- Então é você a espertinha! Onde já se viu? Nessa idade e já praticando furto! Onde esse mundo vai parar!
Andressa, só olhava para o chão. 
Mostrando-se constrangida por ter sido pega, ficou o tempo todo se debatendo.
Alexandre e João – que conduziram a garota até o Distrito Policial – disseram que não fora nada fácil, levar a menina para lá.
Curioso, o delegado Francisco, pergunta:
-- Menina, qual o seu nome?
Andressa não responde nada.
Nervoso, o homem pergunta novamente, já impaciente, qual era o seu nome.
Andressa balbucia alguns sons, mas nervosa, não consegue responder a pergunta.
Furibundo, Francisco, começa a gritar:
-- Não vai me responder? É surda por um acaso?
Andressa, tremendo, responde:
-- Andrrreeessa!
Mais calmo, o delegado, responde:
-- Melhor assim!
Nisso é registrada a ocorrência e Andressa, por ser menor de idade, é levada a presença de um promotor.
Nesse momento, sua vida começa a mudar.
É por que aí, que a garota é levada para uma instituição, onde permanecerá por muito tempo. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 42

Assustados e desconfiados, Andressa, Clau, Tina e Robson evitavam ficar muito tempo dormindo no mesmo lugar. 
Para evitarem chamar a atenção, dormiam em lugares escondidos, onde os transeuntes não podiam vê-los. 
Pelo menos de longe.
De dia, ou pediam esmolas, ou praticavam pequenos furtos. 
De vez em quando tomavam banho num chafariz. 
A noite procuravam abrigo em lugares discretos.
A certa altura, Andressa – por meio de uma campanha de caridade – ganhou algumas peças de roupas. 
Poucas. 
Todavia, por conta de sua precária situação, tinha que ficar o tempo todo carregando suas coisas. 
Mesmo assim, raramente trocava de roupa. 
Quase sempre suja e mal-cheirosa, era o retrato do desamparo.
Tina, Clau e Robson, também ganharam algumas peças de roupas. 
Mas irônicos, perguntavam:
-- Onde nós vamos nos trocar?
-- De que adiantam roupas limpas se não temos onde guardá-las?
-- Guardá-las é o menor de nossos problemas. A questão é que não temos onde tomar banho. 
Andressa, no entanto, estava satisfeita com o presente ganho. 
Sim, por que desde que estava na rua, já havia se desacostumado com isso. 
Ganhar de algo de alguém. 
Vivendo há quase dois anos nas ruas, Andressa estava acostumada a roubar para conseguir o que
precisava.
A garota, com quase dez anos de idade, começava a perceber que estava crescendo, e que precisava de roupas maiores. 
Por esta razão, chegou até a agradecer o presente ganho.
Tina, Robson e Clau, não entendiam a gratidão da garota. 
Tanto que a criticaram.
Mas Andressa não ligou para a crítica.
Todavia, nem tudo seriam flores. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 41

Nisso, um ano mais tarde, presenciando uma chacina da qual poderia ter sido vítima, vê dois de seus amigos serem mortos.
Andressa só conseguiu escapar por quê demorou para chegar no local onde todos dormiam. 
Estava com Robson que a ensinava algumas estratégias para que pudesse aplicar golpes nas pessoas, com sucesso.
Empolgado em ensinar algo para ela, Robson se empertigava todo para explicar o procedimento.
Mal sabiam eles o que estava acontecendo próximo dali.
Quando chegaram, três homens já estavam atirando nas pessoas que dormiam, entre elas Cleusa e Vanderlei. 
Para Andressa e Robson, ver os amigos morrendo sem que pudessem fazer nada, foi a coisa mais difícil com a qual tiveram que lidar. 
Atordoados, a vida dos dois nunca mais seria a mesma.
Impressionados com a tragédia, só conseguiam se lembrar dos gritos desesperados das vítimas, implorando por socorro.
A chacina foi horrível. 
Isso por que, nem todos morreram com o primeiro tiro. 
Em alguns casos, as vítimas morreram com o corpo crivado de balas. 
Morreram sofrendo e gritando por ajuda.
Ajuda esta que só viria na forma de caixões.
Tina e Clau, por sua vez, em razão de uma pequena discussão com Cleusa e Vanderlei, foram dormir em outro lugar.
Curiosamente, os quatro amigos, brigaram horas antes da chacina, justamente por que não achavam seguro dormir naquele lugar.
Cleusa e Vanderlei, acostumados a dormirem sempre no mesmo lugar, não queriam de forma alguma sair dali.
Já Tina e Clau, temerosos com as ameaças dos comerciantes da região, queriam por que queriam sair dali.
Mas Cleusa e Vanderlei teimaram. 
Chamando Clau e Tina de covardes, dizia que eles estavam medrando.
Irritado, Clau chamou Tina em canto. 
Nervoso, comentou com ela que eles deviam sair dali.
Tina, percebendo o perigo, concordou.
Assim, os dois foram dormir em outro lugar.
Mais tarde, ficaram sabendo da tragédia. 
Horrorizados, choraram quando souberam do óbito de Cleusa e Vanderlei.
Com tempo, voltaram a encontrar Andressa e Robson.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.