Poesias

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 37

No dia seguinte, ao acordar e se deparar com todo esse confortou, estranhou.
Acreditando tratar-se de um sonho, demorou para se dar conta de que estava novamente dormindo em uma casa. 
Assustada, pensou que havia sido encontrada e estava novamente no orfanato, a mercê de Francisca e de Talita. 
Porém, qual não fui sua surpresa ao ver Rafaela entrando em seu quarto.
A mulher, trazendo um singelo café da manhã, comentou que já estava quase na hora de Eleutério vir buscá-la para o trabalho.
Andressa mal podia acreditar. 
Atônita com tantas novidades, a menina começou a fazer pergunta atrás de pergunta.
Até que num dado momento, percebeu que não estava usando as roupas com que fora levada até aquela casa.
Rafaela então explicou-lhe:
-- Não. Não está. Aquela roupa estava imunda. Eu precisei por pra lavar. Por enquanto, você usa a roupa que eu vou trazer para você. Com licença.
Ainda que espantada, ao ver a bandeja com comida em cima da cama, começou a comer.
Enquanto isso, Rafaela tratava de providenciar uma nova roupa para a garota.
Quando entrou no quarto, a menina ainda estava comendo. 
Foi então que disse:
-- Apresse-se. Seu Eleutério é um homem muito pontual.
Andressa então, percebendo que estava satisfeita, deu por encerrada sua refeição.
Apressada, tratou logo de se trocar.
Quando Eleutério chegou, Andressa já estava pronta.
Quando o homem viu a menina com roupas limpas e de banho tomado, mal pôde acreditar.
-- O que fizeram com você menina? Trocaram? Nem parece a mesma.
Andressa ao ouvir os comentário, caiu na risada.
Eleutério, despediu-se de Rafaela. 
Dizendo que a menina voltaria mais tarde, pediu para que Andressa entrasse em seu carro.
E lá foram os dois para mais um dia de trabalho.
Todavia, nem tudo seriam flores na vida da pobre menina. 
Um certo dia, percebendo um erro no valor que estava guardado no caixa, Eleutério ficou ligeiramente desconfiado.
Porém, por se tratar de um homem justo, preferiu não acusar a menina logo de cara. 
Esperava que a própria menina admitisse o erro e pedisse desculpas.
Contudo, a menina não fora a responsável pelo sumiço do dinheiro. 
Aproveitando-se de um momento de distração de ambos, um outro garoto de rua afanou alguns trocados.
E assim, não tinha como Andressa assumir a culpa por algo que não havia feito.
Eleutério porém, não conseguia atinar para outra explicação para o sumiço do dinheiro. 
Insatisfeito, a certa altura, comentou com a garota sobre o sumiço do dinheiro.
Andressa ao ouvir isso ficou surpresa. 
Tanto que perguntou:
-- O senhor tem certeza que o dinheiro sumiu? Não deixou cair em algum lugar não? Como pode? A gente conferiu?
O homem porém, não ficou convencido da honestidade da garota.
Andressa, percebendo isso, respondeu:
-- Não fui eu. Lembra? A gente conferiu o dinheiro. Estava tudo certo? Como pôde sumir dessa maneira?
-- Pois é menina. Como pôde. Eu não consigo entender. Eu já revirei todos os lugares.
Olhe, eu sempre fui cuidadoso com dinheiro, jamais deixaria uma quantia dessas, jogada por aí. 
Mesmo assim, talvez eu tenha me distraído e perdido o dinheiro. 
Essas coisas acontecem.
Revoltada, Andressa disse:
-- Acontecem nada. O senhor acha que foi roubado. Por mim. Mas não fui eu!
Nervosa a menina saiu correndo.
Depois desse incidente, nunca mais viu o comerciante.
Pesaroso, Eleutério, ficou a procurá-la por dias a fio. 
Como não a encontrou, após algum tempo, desistiu de sua empreitada. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 36

No dia seguinte, logo cedo, foi pedir dinheiro no farol. 
Muito embora fosse ainda muito cedo, já havia um grande movimento de carros, nos principais pontos da cidade. 
Isso por que a cidade não parava de todo.
E assim, a garota conseguiu ganhar mais uns trocados. 
Não muito, diga-se de passagem, mas ao menos conseguiu algum dinheiro.
A seguir rapidamente, banhou-se no chafariz, e foi ao encontro de Eleutério.
O homem, percebendo que a garota correra para chegar até ali, perguntou-lhe:
-- Onde estava?
Quase sem fôlego, Andressa respondeu que estava tomando banho.
Curioso Eleutério perguntou onde ela tomava banho.
Andressa respondeu:
-- Lá no chafariz. 
Eleutério ficou chocado. 
Indignado, discursou:
-- Como pode um país abandonar suas crianças? Quando é que as coisas irão mudar?
Andressa não compreendia aquelas palavras.
Foi quando Eleutério lhe explicou que lugar de criança era na escola brincando, se divertindo, não morando nas ruas. 
Envergonhado por saber da triste condição de Andressa, o homem prometeu que assim que terminasse o expediente a lavaria num lugar.
Curiosa, perguntou:
-- Que lugar?
-- Um lugar onde você possa tomar um banho decente e dormir numa cama de verdade. – respondeu o homem.
Andressa não compreendia o porquê de tanta consideração.
Eleutério, percebendo a quietude da menina, pediu-lhe logo que o ajudasse a montar seu comércio.
Prestativa, a menina começou a auxiliá-lo.
Depois de auxiliar na montagem da barraquinha, Eleutério pediu-a ela que lavasse bem as mãos, para que pudesse ficar cuidando do dinheiro que os clientes lhe dariam.
Andressa ao perceber que este seria seu trabalho, ficou um tanto desconfiada.
Eleutério, notando o ar assustado da menina, explicou:
-- Não, você não vai cuidar do caixa. Apenas vai pegar o dinheiro e contar. Se estiver tudo certo, você vai colocar o dinheiro naquela caixinha. Se tiver troco, você troca o dinheiro.
Qualquer dúvida você me pergunta e eu, de hora em hora, vou conferir se está tudo certo. Está bem?
Quando a menina ouviu a explicação, concordou.
Nisso, os dois trabalharam juntos durante todo o dia.
No final do dia, contabilizando o dinheiro ganho, Eleutério, destinou uma parte de seus ganhos com a menina.
Andressa, ao receber seu primeiro salário, ficou muito contente. 
Imaginando-se rica, comentou que havia ganho muito dinheiro.
Eleutério, achando graça, comentou que não era nenhuma grande fortuna, mas que ao menos, era um dinheirinho que ela poderia pensar em guardar.
Em seguida, os dois desmontaram a barraca.
E mais, levando a menina em seu carro, Eleutério a conduziu até uma pensão. 
Como era muito amigo da dona, não encontrou problemas em deixar a menina.
Lá, pelas mãos de Rafaela, Andressa tomou um banho. 
Um banho que a menina não tomava há dias.
Em seguida jantou. 
Como há dias não sabia o que era um prato cheio de comida, a menina repetiu três vezes a refeição.
Rafaela ficou espantada.
Com isso, depois de algumas horas, dormiu. 
Dormiu numa cama quentinha e macia.
Desacostumada que estava com esses luxos, chegou até a estranhar. 
Mas se acostumar com coisa boa é fácil. 
E assim, não demorou muito para que Andressa caísse no sono e passasse a dormir profundamente. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 35

No dia seguinte, banhou-se num chafariz. 
Percebendo-se suja demais, tentou remediar a situação. 
Mas cautelosa, teve todo o cuidado para não molhar o dinheiro que havia ganho no dia anterior. 
Precavida, evitou deixar o dinheiro em outro lugar, pois sabia que se deixasse seus pertences longe de suas vistas, certamente seria roubada.
A garota aprendeu isso em seu primeiro dia de rua, quando viu dois mendigos roubando os pertences que um outro morador de rua havia escondido. 
Espantada ao ver a cena, Andressa percebeu que estando na rua, qualquer objeto, encontrado longe de seu dono, não era de ninguém. 
Atenta, aprendeu então a ter cuidado com suas coisas.
Por isso, o banho cuidadoso e atento.
Em seguida, encaminhou-se em direção a um cruzamento. 
Novamente pediria dinheiro. 
Muito embora, muitos motoristas fingissem não notá-la, outros, apiedados auxiliavam. 
E assim, depois de algumas horas, Andressa já tinha dinheiro suficiente para comprar seu lanche.
Contente lá se ia ela novamente em direção a barraca do Eleutério.
Gentil, ao vê-la, o homem a cumprimenta.
Atenciosa, Andressa responde a solicitação.
É quando o homem pergunta:
-- E então? Pronta para se deliciar com mais um cachorro-quente?
Animada, a garota respondeu que sim. 
Ávida, assim que conseguiu seu lanche, percebendo que algumas pessoas evitavam se aproximar da barraquinha, despediu-se do
homem e desejou-lhe um bom trabalho.
Eleutério agradeceu. 
Foi então que as pessoas voltaram a se aproximar de sua barraquinha.
E Andressa seguiu contente carregando seu sanduíche nas mãos. 
Faminta, saboreou o lanche. 
Ao final do dia, foi ter com o vendedor. 
Dizendo que tinha dinheiro para pagar, estendeu novamente sua mão, mostrando o dinheiro.
Mais, uma vez, o homem recusou o pagamento. 
Dizendo que já tinha tudo o que precisava, Eleutério, disse para ela guardar seu dinheirinho.
Andressa então, guardou as notas.
Nesse momento, Eleutério propôs um acordo a Andressa.
Dizendo que ela poderia, uma vez por dia comer em sua barraca, solicitou que ela não tentasse pagar.
A garota ficou perplexa. 
Afinal de contas, esse era o ganha-pão do homem. 
Como ele poderia não querer ser pago pelo seu trabalho? 
Andressa não conseguia compreender.
Foi quando Eleutério, percebendo o ar de surpresa da garota, explicou:
-- Já ouviu falar em corrente?
-- Corrente? – perguntou Andressa curiosa.
-- Sim, corrente. Trata-se de uma corrente especial. É quando eu faço um gesto para ajudar alguém. Esse que foi ajudado então, passa a ajudar um outro alguém. Tem pessoas
que fazem isso com orações. Eu prefiro ter atitudes.
Andressa não compreendeu muito bem.
Eleutério percebendo isso, desculpou-se. 
Dizendo que ela era ainda muito criança para entender, respondeu então, que estava plantando uma sementinha que germinaria no futuro e produziria bons frutos.
Foi quando Andressa se lembrou de Carmem.
Eleutério, dizendo que precisava voltar para sua casa, começou a desmontar sua barraquinha. 
Ajudado por Andressa, o homem agradeceu. 
Quando já estava pronto para ir embora, perguntou a menina, se ela não gostaria de trabalhar com ele.
Andressa respondeu que sim.
Nesse momento, o homem perguntou seu nome.
-- Andressa. – respondeu a garota.
Ele por sua vez, disse que se chamava Eleutério.
Estavam apresentados.
Nesse momento, Eleutério lhe sugeriu que estivesse a postos logo cedo.
A garota prometeu que estaria.
Quem diria. 
Agora finalmente parecia que as coisas estavam mudando. 
Depois de alguns dias sem a mínima perspectiva, a garota agora tinha um amigo e um trabalho. 
Também estava começando a ganhar dinheiro. 
Esperta, estava começando a aprender a se virar.
Muito diferente das primeiras horas, em que não sabia para onde ir, e vagava sem rumo. 
Nos primeiros dias, sentiu frio e fome. 
Isso por que, as madrugadas de São Paulo, são muito frias. 
E a garota, sem agasalho, contando somente com a roupa do corpo, passou maus bocados.
Além disso, certa vez, caminhando distraída, ao perceber que pisara num dos pertences de um morador de rua, acabou por atrair para si a sua fúria. 
Com isso, hostilizada por alguns moradores de rua, precisou fugir deles. 
Ameaçada por alguns deles, correu durante uns bons minutos. 
Temerosa, ficou um longo tempo sem voltar para aquele lugar.
Tremendo de frio, dormiu algumas noites embaixo de um banco de praça. 
Com isso, logo que amanhecia o dia, tratava de sair dali. 
Desesperada, passava as manhãs chorando e pedindo dinheiro as pessoas que caminhavam apressadas nas calçadas. 
Mas nada conseguia.
Até que pensou em pedir dinheiro no lugar certo.
Mas agora, as coisas estavam melhorando. 
Andressa agora tinha dois empregos. 
Um de ajudante do vendedor de cachorros-quentes e outro de pedir esmolas no farol. 
Estava feliz da vida. 
Pensando que uma ajudante ganhava muito dinheiro, já começou a se imaginar muito rica.
Feliz, dormiu contemplando pela primeira vez as estrelas. 
Sim, naquele momento nada poderia destruir sua felicidade. 
E assim, sonhou.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 34

Um dia porém, cansada de passar fome e sede, começou a pedir dinheiro nos faróis.
Com isso conseguiu matar sua fome. 
Ao se ver pela primeira vez com dinheiro nas mãos, Andressa se encaminhou a uma lanchonete. 
Estava disposta a comprar um sanduíche para comer. 
Porém, qual não foi sua surpresa ao ser impedida de adentrar o estabalecimento.
Como fazia alguns dias que estava dormindo na rua, o aspecto da garota, não era dos mais agradáveis. 
Isso por que, há dias sem tomar banho, escovar os dentes e pentear os cabelos, Andressa, fazia jus ao apelido de garota de rua. 
Assim, com sua aparência nem um pouco confiável, só conseguia fazer com que as pessoas se afastassem dela.
Mesmo assim, a garota não conseguia entender por que as pessoas tinham tanto medo dela. 
Decepcionada, ao se ver impedida de comprar comida, resolveu se dirigir ao um outro local. 
Aborrecida só queria saber de comer.
Foi quando um homem, penalizado com sua precária situação, resolveu ajudá-la.
Percebendo a dificuldade da garota, o homem ofereceu-lhe um cachorro-quente.
Faminta, Andressa aceitou a oferta. 
Afoita, pegou o lanche e começou a devorá-lo.
Quando terminou de comer o lanche, finalmente lembrou-se de que não havia pago a refeição. 
Por isso, tirou os trocados que ganhou do bolso e ofereceu ao dono da barraquinha, que rapidamente recusou o dinheiro.
Novamente a garota ficou espantada.
Eleutério – o dono da barraca – porém, explicando que havia feito um convite, falou que não poderia jamais cobrar por aquele lanche.
Andressa continuou sem entender.
Eleutério então, complementou:
-- Eu sei quando uma pessoa tem fome. Trabalhando há tanto tempo nesse ramo, não tem como uma pessoa me enganar. Quando eu olhei seus olhinhos suplicando por comida,
eu não tive como negar. Por isso ofereci. E se ofereci foi um convite. E um convite não pode ser pago.
Espantada, Andressa só conseguia dizer:
-- Mas... mas...
-- Não se preocupe menina. Esse dinheiro não me fará falta. Deus costuma ajudar quem ajuda os outros.
Quando Andressa tentou mais uma vez fazer com que o homem aceitasse o dinheiro, o mesmo respondeu:
-- Eu já falei. Não precisa... Além do mais, esse dinheiro vai fazer falta para você. Fique com ele. – disse o homem, fechando as mãos da menina.
Andressa se emocionou.
Nisso, Eleutério sugeriu:
-- Volte amanhã. Quem sabe tem um novo cachorro-quente esperando por você?
Andressa surpresa, balbuciou um obrigada. 
Depois disse tchau e foi embora.
Curiosa com o gesto generoso do homem, a menina não conseguia compreender como podia haver no mundo pessoas tão generosas, quando havia tantas outras pessoas egoístas e
insensíveis, que não eram capazes de entender sequer o sofrimento alheio. 
Pelo contrário, estas últimas, só sabiam fazer as pessoas sofrerem mais e mais.
Pensando nisso, a garota caminhou contente pelas ruas da cidade.
Mais tarde, dormiu nas escadarias de uma estação.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 33

No segundo dia de rua, sentindo fome, começou a pedir comida as pessoas que passavam. 
Apressados os traseuntes tinham pressa. 
Tanta pressa que mal podiam parar para ouvir o que ela tinha a dizer.
Andressa, amuada, sentou-se em um canto e começou a chorar.
Faminta, ficou a tarde toda olhando um forno onde carnes eram assadas. 
Para a garota, ver aquela profusão de comidas era uma tortura. 
Tudo por que, sem ter dinheiro para comprar comida, ao ver tanta fartura diante de si, lhe dava fome. 
Mais fome ainda.
Todavia, o que fazer? 
Novata nas ruas, não sabia como agir. 
Sequer tinha a malandragem de uma vida sofrida.
Certa vez, caminhando pelo centro da cidade, descobriu uma fonte e, tirando um pouco de água, bebeu. 
Sentindo calor, molhou a cabeça. 
Foi quando um guarda começou a caminhar em sua direção.
Pressentindo o perigo, Andressa deu no pé, antes que o guarda se aproximasse.
Contudo, se o dia era difícil, a noite conseguia ser pior. 
Sim, por que muito embora, a garota já estivesse dormindo há alguns dias na rua, ainda não conhecera ninguém que a pudesse ajudar. 
Desamparada, só podia contar com seu próprio instinto.
Com isso, a fome só aumentava. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 32

Sim, Andressa, sem ter para onde ir, passou a viver na rua.
Sem endereço fixo, cada dia a garota dormia em um lugar.
Preocupada, temerosa de que a encontrassem a garota, ficou a se esconder por um longo período.
Perdida, na primeira noite que passou na rua, tudo lhe assustava. 
A visão dos mendigos, crianças se drogando, o mal cheiro. 
Tudo era aterrador. 
Apavorada, perguntava-se o tempo todo, o que estava fazendo ali. 
Pensando se não teria melhor ficar no orfanato, lembrou-se de Carmem, que a essa altura devia estar aflitíssima com seu sumiço. 
Contudo, o que poderia fazer? 
Voltar não podia. 
Isso por que, se retornasse ao orfanato, sua vida, que já era muito difícil lá dentro, se tornaria insuportável. 
Levando-se em consideração o comportamento de Francisca e de outras funcionárias, a garota não teria nenhum minuto sequer, de sossego.
Sim, Andressa estava encrencada.
Não tinha onde dormir, o que comer, nem como se proteger. 
Vagando, ficou praticamente a noite inteira acordada, com medo de que algum indigente se aproximasse dela.
Como não trazia consigo nenhum objeto de valor, não foi abordada por nenhum trombadinha.
Todavia, alguns moradores de rua, estranhando sua presença, passaram a comentar entre si:
-- O que uma menina limpinha e bem arrumada, estaria fazendo na rua aquela hora e sozinha?
Foi aí que começou um burburinho.
Andressa, percebendo que era alvo de olhares, apressou o passo.
Andando, andando, chegou em uma praça. 
No entanto, por mais que andasse. 
Por mais que tentasse se esconder, sentia que nenhum lugar era seguro o bastante. 
Todavia, a certa altura, cansada de andar sem rumo, exausta, acabou por adormecer em qualquer lugar.
Por sorte, ninguém a incomodou.
E assim depois de algum tempo vivendo nas ruas, percebendo que não tinha alternativas, acabou se adaptando a esta vida. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 31

O tempo foi passando.
Andressa, agora com oito anos, cansada da vida sofrida que levava, resolveu fugir.
Muito embora tenha até conseguido fazer algumas amizades naquele lugar, a única pessoa que lhe tinha apreço era Carmem.
Porém, era só a mulher precisar se ausentar, para que as coisas ficassem mais difíceis do que já eram.
Andressa já não agüentava aquela situação.
Por conta disso, resolveu fugir.
Certo, percebendo a distração de uma das funcionárias, observando que o portão de entrada da instituição estava aberto, se evadiu.
Ao ganhar a rua, tratou de correr. 
Quando percebeu que já ganhara uma boa distância do orfanato, sentou-se e procurou descansar um pouco.
Depois de alguns minutos, temendo que alguém a viesse procurar, levantou-se subitamente e continuou a correr. 
Aflita, correu o máximo que pôde. 
Quando se cansou, passou a caminhar. 
Andou praticamente sem parar, por algumas horas.
No orfanato, quando finalmente deram por sua falta, já era tarde.
Andressa já havia sumido fazia muito tempo.
Francisca ao descobrir o sumiço da garota, ficou furiosa. 
Agindo imediatamente, mandou chamar a polícia.
Carmem, por sua vez, tentando contornar a situação, pedia a todo o momento que Francisca não fosse severa demais com a garota. 
Temendo que Francisca maltratasse Andressa, exigiu a ela que tivesse um pouco de paciência.
Francisca porém, não estava para conversas. 
Por isso, logo que os policiais apareceram, chamou-os para conversarem em sua sala. 
Ali ela descreveu fisicamente a garota.
Os policias então, atentos a descrição, chegaram a procurar a garota. 
Contudo, nada encontraram.
Ao saber disso, Francisca não ficou nada satisfeita. 
Temendo uma repreensão de seu superior hierárquico, a mulher fez de tudo para que Andressa fosse encontrada.
Todavia, a menina não queria ser achada.
Por isso, a cada dia, se afastava mais e mais do orfanato. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.