Poesias

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO CONTEMPORANEIDADE

Capítulo 5

Ao melhorar um pouco, a moça aproveitou a ausência de Amilton e Rodrigo e se encaminhou
para o centro da cidade.
Dirigiu-se a prefeitura.
Exigiu falar com o prefeito.
Paciente, esperou por duas.
Ao ser chamada para entrar, foi elogiada por Agenor.
O homem comentou que havia visto sua foto nos jornais.
Disse que ela havia se tornado uma espécie de heroína para a cidade.
Sônia parecia não prestar atenção nas palavras do prefeito.
A certa altura, depois de fazer vários elogios, de fazer menção a seu ato de coragem, o homem
finalmente perguntou se ela queria dizer alguma coisa.
Sônia respondeu que a cidade precisava de mais investimentos, que as pessoas precisavam ter
moradias de qualidade, e que aquele estado de coisas não poderia permanecer.
Agenor não gostou do que ouviu.
Nisto a moça segurou uma bandeira. Começou a cantar:
“Quero a utopia, quero tudo e mais
Quero a felicidade nos olhos de um pai
Quero a alegria muita gente feliz
Quero que a justiça reine em meu país

Quero a liberdade, quero o vinho e o pão
Quero ser amizade, quero amor, prazer
Quero nossa cidade sempre ensolarada
Os meninos e o povo no poder, eu quero ver

São José da Costa Rica, coração civil
Me inspire no meu sonho de amor Brasil
Se o poeta é o que sonha o que vai ser real
Bom sonhar coisas boas que o homem faz
E esperar pelos frutos no quintal

Sem polícia, nem a milícia, nem feitiço, cadê poder?
Viva a preguiça viva a malícia que só a gente é que sabe ter
Assim dizendo a minha utopia eu vou levando a vida
Eu viver bem melhor
Doido pra ver o meu sonho teimoso, um dia se realizar
Coração Civil - Composição: Milton Nascimento e Fernando Brant”

Enquanto cantava, balançava a bandeira.
Agenor, ao vê-la descontrolada, exigiu que ela parasse.
Sônia não se intimidou.
Continuou cantando.
Nisto, Agenor chamou dois seguranças, que constrangidos, conduziram a moça para fora do
gabinete.
Preocupados, os homens perguntaram se ela estava precisando de alguma coisa.
Sônia respondeu que não.
Levantou-se e saiu da prefeitura.
No caminho, foi até o lugar onde a família que morrera no morro, fora enterrada.
Caminhando pela cidade, era apontada pelos moradores que a consideravam uma heroína.
Uma criança correndo, aproximou-se.
Ofereceu um flor.
Depois saiu correndo.
Seguindo seu curso, a moça foi abordada por um mendigo que dizia tê-la conhecido em suas
andanças por São Paulo.
Sônia aturdida respondeu que não se lembrava dele.
O homem porém, insistia em dizer que se lembrava dela.
Comentou que a moça gostava muito de estudar, estava sempre com um livro debaixo do braço.
Nisto, afastou-se, deixando a moça mergulhada em seus pensamentos.
Ao vê-la passando pela delegacia, Jandir chamou-a.
Sônia contudo, não o ouviu.
Mais tarde, Amilton surgiu na cidade. Aflito, procurou a moça no morro.
Ao lá chegar, percebeu que não havia mas nenhum morador no local. O local estava interditado.
Policiais proibiam as pessoas de subirem.
Ao voltar ao centro da cidade, o homem foi informado que a moça havia passado pela prefeitura,
sendo convidada a se retirar por Agenor, o prefeito.
Furioso, o homem falou ao prefeito que ela não oferecia nenhuma ameaça.
Estava apenas desnorteada.
Nisto, Amilton passou a perguntar sobre o paradeiro de Sônia aos trauseuntes.
Todos os que se dispunham a passar informações, diziam que ela era uma garota muito corajosa.
Caminhou pelo local onde foram enterrados os mortos no deslizamento.
Soube que a criança que Sônia ajudara a resgatar estava bem, e que a moça fora abordada por um mendigo.
Amilton contudo, só foi encontrá-la, tempo depois, a beira do rio.
Sônia havia seguido até a cidade a cavalo.
Amilton encontrou a moça e o cavalo, ao voltar para casa.
Sônia havia ido a cidade por um caminho alternativo.
Não queria ser encontrada.
Ao vê-la abaixada, contemplando o rio, Amilton parou a charrete.
O homem desceu.
Foi ao encontro de Sônia.
Ao vê-la mergulhada em pensamentos, disse que ela precisava voltar para casa.
Sônia assentiu com a cabeça.
Amilton amarrou o cavalo na charrete, e seguiu para casa.
Ao adentrar a casa, Rodrigo aflito, disse que a cama estava arrumada.
Nisto, os dois conduziram a moça, insistiram que ela dormisse mais um pouco.
Adormeceu.
Sonhou novamente com pessoas sofrendo, pedindo ajuda.
Viu fome, miséria, desespero.
Compungida, agaixou-se. Encolheu-se.
Chorando, cantava:
“Vai, abandona a morte em vida em que hoje estás
Há um lugar onde essa angústia se desfaz
E o veneno e a solidão mudam de cor
Há ainda o amor

Vai, recupera a paz perdida e as ilusões,
Não espera vir a vida às tuas mãos
Faz em fera a flor ferida e vai lutar
Pro amor voltar

Vai, faz de um corpo de mulher estrada e sol
Te faz amante, vai
Teu peito errante
Acreditar que amanheceu

Vai, corpo inteiro mergulhar no teu amor
E este momento
Vai ser teu momento
O mundo inteiro vai ser teu, teu

Vai, abandona a morte em vida em que hoje estás
Há um lugar onde essa angústia se desfaz
E o veneno e a solidão mudam de cor
Há ainda o amor

Vai, há ainda o amor
Vai, há ainda o amor
Vai, há ainda o amor ...
Viagem – Compositor: Taiguara”

Outro dia, Rodrigo contou que uma senhora estava caminhando pela outra margem do rio.
Comentou que era uma senhora elegante, distinta.
Disse que achava seu semblante triste.
Ao se aproximar para conversar com a mulher, percebeu que ela se afastava.
Nunca soube seu nome.
Rodrigo respondeu que a vira algumas vezes por ali, mas que depois da tentativa de aproximação,
a mulher desapareceu.
Sônia ouvia as palavras do rapaz.
Perguntou ao rapaz como era a fisionomia da mulher.
Rodrigo ficou feliz ao perceber que a moça se interessara pela conversa.
Comentou que era uma mulher alta, morena de tez clara.

Aparentava uns cinquenta anos.
Nisto Sônia ficou a pensar.
Amilton comentou certa vez com Rodrigo, que precisavam encaminhar a moça para um psicólogo.
O moço respondeu que iria buscar auxilio com alguns amigos que moravam no centro da cidade.
Contudo, não houve tempo de auxiliar a moça.
Sônia certo dia, enquanto todos dormiam, pegou algumas roupas, arrmou uma trouxa.
Vestiu o casaco que trazia no corpo quando foi encontrada por Rodrigo e Amilton, e partiu.
Não levou nada além do que recebera de presente dos moradores do lugar.
Quando o dia amanheceu, Rodrigo e Amilton, ao perceberem que a moça não se encontrava em
nenhum lugar da casa, procuraram ela nos campos, na margem do rio.
Percorreram o rio de um lado a outro.
Nada de encontrarem-na.
Jandir, ao tomar conhecimento deste fato, comunicou a Amilton que havia descoberto que uma
mulher chamada Lara, estava procurando sua filha, uma moça chamada Sônia, e que em tudo
correspondia a descrição daquela Sônia que ficara em sua casa.
Dias depois a mulher chegou ao lugar.
Amilton conversou com a mulher.
Descreveu Sônia para a mulher.
Nisto, o homem lembrou-se que durante a quermesse foram tiradas algumas fotos dos moradores
da cidade.
Mostrou uma foto em que a moça aparecia ao lado de alguns moradores.
Ao ver a fotografia Lara ficou a dizer que aquela moça era sua filha.
Mais tarde foi celebrada uma missa em homenagem aos mortos pelos deslizamentos dos morros
da região.
Todos os políticos da região compareceram em peso.
A imprensa também.
Os moradores criticaram a exploração pela mídia, de toda aquela tragédia.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO CONTEMPORANEIDADE

Capítulo 4

No tempo das chuvas, começaram os problemas na cidade. Alagamentos. Encostas de morros
deslizando.
Em virtude da ocupação desordenada, muitas pessoas habitavam os morros.
A estrada que dava acesso a cidade, se transformou em um atoleiro.
Com isto, só era possível atravessar a cidade a cavalo.
Sônia sugeriu a doação de roupas e de alimentos para as pessoas que haviam perdido suas casas.
Organizou uma central de coleta, e assim, reuniu uma quantidade razoável de roupas e alimentos,
a qual foi devidamente encaminhada para a cidade por Amilton e outros moradores da região.
Certo dia, precisando comprar alguns itens para a casa, Amilton e Sônia foram de carroça para a
cidade.
No caminho avistaram morros sem cobertura vegetal, árvores caídas, lama.
Os dois ficaram surpresos com o que viram pelo caminho.
Ao chegarem na cidade, depararam-se com o caos.
Pessoas correndo de um lado para o outro, pedindo ajuda.
Amilton então, comentou que iria até a prefeitura se oferecer para ajudar no que fosse preciso.
Sônia se comprometeu em comprar os víveres.
Lá se foi ela para o mercado.
Com uma lista nas mãos, comprou tudo o que precisava.
Nisto, a moça levou os mantimentos para a carroça.
A cidade estava em polvorosa.
Com efeito, a moça foi abordada por um dos passantes.
Pedindo ajuda, uma criança levou-a até um dos morros onde havia risco de mais deslizamentos.
A cobertura vegetal fora parcialmente arrancada e haviam barracos soterrados.
A lama cobria tudo.
Por várias vezes a moça escorregou, sendo auxiliada pelos moradores, os quais auxiliavam no
resgate junto com os bombeiros.
Sem saber direito como agir, a moça começou a escavar a terra com as mãos.
Ao ouvir pedidos abafados de ajuda, Sônia continuou escavando.
Os bombeiros, ao perceberem o que a moça fazia, tentaram afastá-la, em vão.
Irritada, a moça comentou que haviam pessoas ali, precisando de sua ajuda.
E assim, continuou escavando.
Um dos bombeiros então, pegou uma capa e cobriu o corpo da moça.
A capa porém, escorregava.
Nisto, os bombeiros escutaram gritos de ajuda.
Ao constatarem que os gritos vinham do lugar onde a moça escavava, auxiliaram-na tarefa.
Ao término de quase uma hora, resgataram uma criança.
Aturdida, Sônia segurou a criança no colo.
Jornalistas que estavam no local, fotografaram a moça coberta de lama, usando uma capa e
segurando uma criança no colo. O semblante vazio.
Durante as horas em que permaneceu no morro, a moça tentou convencer os moradores que
residiam no local, a saírem dali, comentou que aquelas casas também desabariam.
O bombeiro Alencar, ao constatar que a moça não sairia do local, sugeriu que ela conversasse
com os moradores.
E assim, Sônia, conversando com os moradores, comentou que mais importante do que salvar
alguns bens materiais, era a vida de cada um deles, e que perdida, não haveria nada mais a ser feito.
Diante disto, os moradores concordaram em sair.
Retiraram parte de seus pertences e encaminharam-se para o abrigo da prefeitura.
Houve um morador porém, que insistiu em permanecer no morro.
Momentos depois, houve um novo deslizamento.
O morador retinente, teve sua casa soterrada.
Nisto, os bombeiros continuaram os trabalhos de resgate.
Depois de horas de buscas. A triste constatação.
O homem e sua família, foram encontrados sem vida.
Sônia ficou desolada.
De madrugada a moça voltou ao centro da cidade.
Amilton já estava a horas procurando-a.
Neste momento o centro da cidade estava vazio.
Ao perceber que a moça estava coberta de lama, com uma capa de chuva, o homem perguntou:
- Está tudo bem? Onde você estava?
Sônia não respondeu.
Aflito Amilton insistiu na pergunta. Novamente ficou sem resposta.
Ao notar que a moça parecia não estar bem, encaminhou-a ao Pronto Socorro da cidade.
Lá chegando, pode se deparar com o caos. Pessoas feridas, pacientes em macas espalhadas pelos
corredores.
Constatando que o atendimento no local era inviável, Amilton dirigiu-se ao hospital da cidade
vizinha.
Ao ser atendida pelo médico, o homem recomendou-lhe repouso, e acompanhamento por um
psicólogo.
Amilton agradeceu a atenção.
Comentou que viera da cidade vizinha, e que o ambiente por lá estava horrível.
Por conta dos deslizamentos havia muitos feridos, muita gente desabrigada.
O médico ao observar que a moça estava suja de lama, molhada e com uma capa de chuva,
recomendou que ela não voltasse ao morro.
Se fosse o caso, que ficasse em casa de parentes.
Amilton achou graça.
Ao notar a confusão do médico, respondeu que a moça não morava em nenhum morro.
Todavia, atenderia as recomendações do doutor, afastando-a do palco dos últimos acontecimentos.
Sônia foi levada para a casa.
Lá Amilton conduziu a moça para o quarto.
Rodrigo aflito, ao ver Sônia, ficou preocupado.
Disse que estava tentando contatá-los a horas, já que ambos saíram para fazer compras, naquele
tempo.
Argumentou que ao perceber as horas passando e nada deles voltarem, encheu-se de
aflição.
Passou a ligar de meia em meia-hora para o celular do pai.
Sem sucesso.
Com isto, ao ver a moça toda suja de lama, e em aspecto tão lastimável, abatida, perguntou o que
estava acontecendo.
Amilton respondeu que iria deixar Sônia no quarto.
Rodrigo resolveu acompanhá-los.
Nisto Amilton auxiliou a moça se deitar.
Antes ajudou-a tirar a capa molhada.
Pediu a moça que tirasse o vestido sujo e colocasse uma roupa limpa.
Sônia foi até o biombo, tirou o vestido sujo.
Amilton escolheu um vestido limpo que a moça tratou de colocar.
Depois, deitou-se na cama.
Amilton abriu o cobertor e cobriu-a.
Rodrigo pediu para ela dormir.
Sônia parecida vidrada.
Parecia alheia a tudo.

Em dado momento, começou a cantar:
“Hoje
Trago em meu corpo as marcas do meu tempo
Meu desespero, a vida num momento
A fossa, a fome, a flor, o fim do mundo...

Hoje
Trago no olhar imagens distorcidas
Cores, viagens, mãos desconhecidas
Trazem a lua, a rua às minhas mãos.

Mas hoje,
As minhas mãos enfraquecidas e vazias
Procuram nuas pelas luas, pelas ruas...
Na solidão das noites frias por você.

Hoje
Homens sem medo aportam no futuro
Eu tenho medo acordo e te procuro
Meu quarto escuro é inerte como a morte

Hoje
Homens de aço esperam da ciência
Eu desespero e abraço a tua ausência

Que é o que me resta, vivo em minha sorte
Sorte
Eu não queria a juventude assim perdida

Eu não queria andar morrendo pela vida
Eu não queria amar assim como eu te amei.
Hoje - Composição: Taiguara”

Durante o sono, a moça relembrou dos delizamentos, dos gritos, do desespero, dos pedidos de
ajuda.
De caminhar sem rumo.
De ouvir tudo o que acontecia a sua volta, de não sentir nada.
Ao se lembrar dos últimos acontecimentos, acordou sobressaltada.
A moça teve febre, delírios.
Aflitos Rodrigo e Amilton cuidaram da moça.
Sônia ficou acamada por uma semana.
Movidas por solidariedade, algumas vizinhas se prontificaram a cuidar da moça.
Ministraram remédios, conversaram com ela, insistiram para que ela se alimentasse.
Sônia por sua vez, permanecia alheia a tudo.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO CONTEMPORANEIDADE

Capítulo 3

Nisto a moça continuou a ler o livro. Ficou algumas horas se debruçando sobre poesias.
Ao retornar do trabalho, ao ver a moça lendo um livro velho e empoeirado, Rodrigo perguntou-lhe se gostava de ler.
Sônia respondeu que sim.
Rodrigo estendeu-lhe novamente a mão.
Subiram até o sótão. Lá havia uma série de livros amontoados no chão.
O moço comentou que havia livros de mistério, suspense, poesias, contos, romances, clássicos.
Os olhos da moça brilharam.
Encantada, a moça comentou que adorava ler. Comentou que já lera Jorge Amado, José de
Alencar, Dostoiévski – com seu “Crime e Castigo”, “Os Miseráveis” – de Vitor Hugo, “A
Moreninha” – de Joaquim Manoel de Macedo. Entre outros.
Sorrindo, Rodrigo perguntou se ela havia lembrado de mais alguma coisa.
Sônia respondeu então que se lembrara que gostava de ficar as tardes lendo.
Caminhando pela casa, percebeu que os móveis estavam sem pó. A sala estava um brinco.
Amilton, elogiando a presteza da moça, comentou que ela estava se saindo muito bem.
Sônia pediu para Rodrigo e Amilton para acompanhá-los no trabalho.
Ao ouvir isto, o mais moço comentou que ela não estava acostumada com aquele tipo de trabalho.
Surpresa, a moça perguntou como ele poderia saber disto, se nem ela mesma se lembrava do que
fazia antes de chegar ali.
Rodrigo respondeu-lhe que suas mãos eram macias, denunciando que ela não estava habituada
com a lida na roça.
Acrescentou ainda, que ela estava muito bem trajada para uma camponesa.
Com efeito, ao constatarem que a moça permaneceria algum tempo no lugar, Rodrigo e Amilton
providenciaram junto a vizinhança, algumas roupas para a moça.
Com isto, a moça começou a usar vestidos.
No dia seguinte, acompanhou pai e filho na lida do campo.
Levou para eles um almoço preparado por ela. Mais tarde levou um lanche.
Passou algumas horas com eles, lendo outro livro de poesias.
A moça no dia seguinte, cuidou dos quartos.
Com o tempo, a vizinhança passou a visitar Rodrigo e Amilton.
Conheceram a moça.
Nisto a moça participou dos preparativos para a quermesse.
Preparou bandeirinhas, balões.
Auxiliou as mulheres nos preparativos dos comes e bebes.
Gentis, algumas mulheres confeccionaram um bonito vestido de festa para a moça.
Ao saberem que a moça estava muito bem vestida quando surgiu do outro lado do rio,
preocuparam-se em fazer um vestido com o melhor que possuíam em matéria de tecido.
Ao receber o presente, Sônia agradeceu o presente.
Ficou emocionada.
Na festa, a moça dançou com Amilton e com Rodrigo.
Cumprimentou a vizinhança.
Foi apresentada ao padre.
A festa foi animada.
Sônia dançou ao som da música “Festa do Interior”:
“Fagulhas pontas de agulhas
Brilham estrelas de São João...
Babados, xotes e xaxados
Segura as pontas
Meu coração...

Bombas na guerra-magia
Ninguém matava
Ninguém morria...

Nas trincheiras da alegria
O que explodia
Era o amor...(2x)

Fagulhas pontas de agulhas
Brilham estrelas de São João...
Babados, xotes e xaxados
Segura as pontas
Meu coração...

Bombas na guerra-magia
Ninguém matava
Ninguém morria...

Nas trincheiras da alegria
O que explodia
Era o amor...(2x)

Ardia aquela fogueira
Que me esquentava
A vida inteira
Eterna noite
Sempre a primeira
Festa do Interior...(2x)

Fagulhas pontas de agulhas
Brilham estrelas de São João...
Babados, xotes e xaxados
Segura as pontas
Meu coração...

Bombas na guerra-magia
Ninguém matava
Ninguém morria...

Nas trincheiras da alegria
O que explodia
Era o amor...(2x)

Ardia aquela fogueira
Que me esquentava
A vida inteira
Eterna noite
Sempre a primeira
Festa do Interior...(2x)
Festa do Interior - Composição: Moraes Moreira/Abel Silva”

Tempos depois, a moça começou a realizar um trabalho voluntário de alfabetização de crianças.
Uma vez por semana, Sônia lia histórias para a criançada.
A moça cuidava da casa de Amilton e Rodrigo, levava comida para os dois, enquanto
trabalhavam. Lia livros, uma grande paixão, e realizava trabalhos voluntários.
Certo dia, Jandir visitou a moça.
Comentou que estava muito difícil localizar seus parentes.
Nisto, perguntou-lhe novamente se havia se lembrado de mais alguma coisa.
A moça respondeu que não.
Nisto continuou seus afazeres.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO CONTEMPORANEIDADE

Capítulo 2

Certo dia, a moça resolveu fazer um passeio.
Chegou a ir até o extremo da cidade.
Perdida, caminhou por um lugar bonito, onde depois de uma longa caminhada, encontrou um
rio.
Caminhou, caminhou, até encontrar um barco.
A moça parecia desorientada.
Rodrigo ao avistá-la, tratou de chamar seu pai, Amilton.
Aflito, o moço apontou para a moça.
A garota, aproximou-se do barco e ficou a observá-lo.
Nisto Amilton aproximou-se da moça. Perguntou:
- Moça? Moça? Você é daqui?
Nada de resposta.
Amilton perguntou-lhe então:
- Como é seu nome?
Silêncio.
Rodrigo resolveu conversar com a moça.
Disse que estava ficando tarde e que precisavam voltar para casa. Perguntou a moça se ela estava
entendendo o que eles estavam falando.
- Sim. Entendo ...
Nisto Rodrigo reiterou as perguntas do pai.
A moça, sem conseguir conectar as idéias, respondeu que havia planejado dar uma volta por São
Paulo e acabou parando por ali.
Disse que havia entrado em vários ônibus até chegar ao lugar. Por fim, disse que se lembrava de
haver caminhado muito, até chegar ali. 
Nervosa, respondeu quase chorando, que não se lembrava de mais nada.
Amilton e Rodrigo se entreolharam. 
Estavam preocupados.
Amilton percebendo que a moça esta dispersa, chamou o filho para perto do rio, e comentou com
ele cochichando:
- E essa agora. O que fazemos?
- Não podemos deixar a moça aqui. É perigoso.
Amilton concordou. 
Contudo, argumentou que não poderia alojar a moça em sua casa por tempo indeterminado.
Rodrigo sugeriu então que se ocupassem de levá-la para casa. 
No dia seguinte, acabariam encontrando uma solução.
Amilton concordou com a sugestão do filho.
Nisto, os dois rapazes se aproximaram da moça, que a esta altura contemplava a imensidão do
rio.
Rodrigo, chamou-a:
- Moça! Venha conosco. Estamos voltando para casa. Você não pode ficar sozinha aqui, é muito
ermo.
A garota ao ouvir o chamado, balançou a cabeça negativamente.
Tentou correr, mas Amilton a conteve.
Dizendo para ela não se assustar, afirmou que não iria fazer-lhe nada de mal.
Olhava diretamente para os olhos da moça.
Rodrigo então se aproximou, estendeu sua mão e pediu para ela os acompanhasse.
Aflita, sem saber direito o que fazer, a moça segurou a mão do rapaz.
Nisto Amilton auxiliou-a a entrar no barco.
E assim, os três seguiram até o outro lado do rio.
Ao chegarem na margem, a moça avistou uma bonita casa de campo. 
Ampla, acolhedora.
Rodrigo respondeu que era ali que moravam.
- Bonita! – respondeu a moça.
Amilton e Rodrigo, conduziram a moça a casa.
Prepararam o jantar, e usando de um pouco de convencimento, fizeram com que a moça comesse
um pouco.
Em seguida Amilton resolveu fazer algumas perguntas a moça, que atordoada, nada conseguia
responder. 
Dizia não se lembrar onde morava, quem era sua família.
 Nem de seu nome se lembrava.
Rodrigo e Amilton só conseguiram descobrir que a moça vinha de São Paulo.
Percebendo que a moça permanecia atordoada, Amilton solicitou que o filho arrumasse um dos
quartos para que ela pudesse dormir.
Depois da arrumação, a moça foi conduzida para o quarto.
Nisto ela, exausta, atirou-se na cama e dormiu.
Enquanto isto, Amilton e Rodrigo discutiam o que fazer com a moça.
Preocupado, Amilton disse ao filho, que precisavam comunicar o desaparecimento da moça para
a polícia.
Ao ouvir isto, Rodrigo questionou a providência a ser tomada. Perguntava:
- Isto é realmente necessário?
Amilton argumentou que precisavam fazer isto, pois caso não o fizessem, poderiam ainda serem
acusados de seqüestro.
Com isto, só coube a Rodrigo aceitar.
Nisto, no dia seguinte Amilton foi até a delegacia de polícia. 
Lá o homem comunicou o desaparecimento de uma moça morena, de estatura mediana e de cabelos pretos e compridos.
O homem comentou que a moça estava perdida, desorientada, não se lembrava de onde vinha,
apenas que saira de São Paulo, vindo a se encontrar naquelas paragens.
Respondeu que ao ver que a moça estava sozinha, ele e seu filho se encarregaram de levá-la para
casa.
O delegado registrou o ocorrido. 
Informou que iria até a casa de Amilton fazer algumas perguntas a moça. 
Relatou que iria verificar que em São Paulo estava sendo procurada uma moça com aquelas características.
Visando obter maiores informações, perguntou se a moça realmente não sabia de onde viera. 
Amilton respondeu que fez esta pergunta a moça, e ela não soube informar seu paradeiro.
Com efeito, ao despertar, a moça se assustou ao se deparar com um ambiente estranho. Levantou-se. Olhou em volta.
Sentou-se na cama.
Nisto Rodrigo bateu na porta.
Pedindo licença, perguntou se poderia entrar.
Sem saber o que dizer, a moça acabou respondendo que podia.
Rodrigo adentrou o quarto.
Ao ver que a moça estava sentada na cama, perguntou se estava tudo bem.
Aturdida, a garota perguntou onde estava.
Rodrigo ficou surpreso com a pergunta:
- Então não se lembra? Você estava desorientada, caminhava perdida por estas paragens. Ao
vê-la neste estado, conduzimos você até esta casa.
A moça começou a pensar. Colocando as mãos na cabeça, a garota lembrou-se dos últimos
acontecimentos.
Diante disto, respondeu que sim, se recordava.
Nisto o moço perguntou seu nome.
A moça tentou se lembrar. Realizou um esforço muito grande.
Rodrigo percebendo isto, pediu para que ela deixar isto para depois. 
Comentou que havia preparado um café da manhã.
Nisto a moça comeu cereais, frutas, leite, suco, pão com frios, queijo branco. Tudo que era
oferecido a ela, aceitava de bom grado.
Rodrigo comentou que ela estava com muita fome.
Belo contraste em relação ao jantar frugal do dia anterior.
O moço comentou que dali a pouco iria trabalhar, e que seu pai havia dado uma saída e que
retornaria dentro em breve.
Com isto, Amilton retornou da delegacia.
Rodrigo comentou que ela havia tomado o café da manhã.
Amilton falou que precisava conversar com a moça.
Assim o fez. 
Contou a moça que comparecera na delegacia da cidadezinha, e que relatou seu desaparecimento ao delegado.
A garota demonstrou que ficou contrariada.
O homem por sua vez, argumentou que não poderia ter agido diferente sob pena de ser acusado
mais tarde, de seqüestro.
A moça então desculpou-se pelo incômodo. Comentou que iria embora dali.
Amilton disse que não havia necessidade. Perguntou-lhe então, se havia se recordado de alguma
coisa.
A moça respondeu que não.
Nisto ouviu uma voz chamando: “Sônia”.
Voltou-se. 
Olhando para Amilton, perguntou se ele a havia chamado.
O homem respondeu que não.
A moça respondeu que havia se lembrado de seu nome. 
Respondeu que se chamava Sônia.
Mais tarde pai e filho saíram para trabalhar.
A moça permaneceu sozinha em casa.
Fechada na casa, circulou pelo imóvel. Ao achar livros, pegou um deles e começou a ler.
Ao voltarem do trabalho, perceberam que a moça havia lavado a louça e arrumado os utensílios
da cozinha.
Amilton agradeceu a gentileza. Perguntou-lhe se havia se lembrado de mais alguma coisa.
Nervosa, a moça respondeu que não.
- Está bem Sônia!
Durante o jantar, o delegado compareceu na residência.
Diante disto, foi convidado para a ceia.
Enquanto jantava, resolveu fazer algumas perguntas a moça, que nervosa, respondeu que não se
lembrava de nada. Recordou-se que viera de São Paulo, e que chamava-se Sônia. 
Jandir, recomendou-lhe não ficar nervosa. Disse que estava apenas tentando auxiliá-la a encontrar
sua família.
Mais tarde, o homem se despediu de Amilton e Rodrigo. Prometeu que continuaria investigando
e que havendo novidade, comunicaria os fatos.
Sônia recolheu-se.
Rodrigo então, criticou a atitude do pai. Dizendo que ele devia ter preparado o espírito da moça,
argumentou que Jandir fora muito incisivo com ela.
Amilton concordou. 
Respondeu que conversaria com Jandir.
Nisto, os dois foram se recolher.
No dia seguinte Amilton foi conversar com o delegado.
Jandir por sua vez, prometeu que seria mais sutil nas próximas abordagens. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO CONTEMPORANEIDADE

Capítulo 1

Sônia estava insatisfeita com sua vida.
Nos últimos tempos, vivia se desentendendo com sua mãe.
Não entendia por que sua vida não era do jeito que gostaria.
Até o curso universitário passara a ser fonte de insatisfações.
Lara costumava dizer que aquilo era uma fase, e que com o tempo iria passar. Dizia que ser reflexo
dos arroubos da juventude.
Ouvir tais palavras de descrédito, deixavam a moça revoltada.
Com o tempo porém, passou a se importar menos com o pouco caso que seus pais creditavam a
seus problemas.
Passou a dar prosseguimento a sua rotina.
Para tentar se distrair, ouvia música, assistia filmes, lia livros.
Cantarolava:
“Um dia frio
Um bom lugar prá ler um livro
E o pensamento lá em você
Eu sem você não vivo

Um dia triste
Toda fragilidade incide
E o pensamento lá em você
E tudo me divide (bis)

Longe da felicidade e todas as suas luzes
Te desejo como ao ar
Mais que tudo
És manhã na natureza das flores

Mesmo por toda riqueza dos sheiks árabes
Não te esquecerei um dia
Nem um dia
Espero com a força do pensamento
Recriar a luz que me trará você

E tudo nascerá mais belo
O verde faz do azul com o amarelo
O elo com todas as cores
Pra enfeitar amores gris (bis)

Um dia frio
Um bom lugar prá ler um livro
E o pensamento lá em você
Eu sem você não vivo

Um dia triste
Toda fragilidade incide
E o pensamento lá em você
E tudo me divide

Mesmo por toda riqueza dos sheiks árabes
Não te esquecerei um dia
Nem um dia
Espero com a força do pensamento
Recriar a luz que me trará você

E tudo nascerá mais belo
O verde faz do azul com o amarelo
O elo com todas as cores
Pra enfeitar amores gris (bis)
Nem um dia - Composição: Djavan”

No momento se ocupava com a leitura de biografia, como a de Casimiro Montenegro, o homem
que criou o ITA; de Oscar Schindler – alemão que salvou a vida de milhares de judeus, durante a
Segunda Grande Guerra.
Ler sobre a vida de pessoas notáveis, lhe fazia esquecer sua insatisfação com a vida.
Ou melhor, fazia com que visse seus problemas por uma outra perspectiva.
Chegava a se sentir pequena, diante da grandeza de tais pessoas.
E nisto, pensava, pensava ...

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO ANOS OITENTAS – AVENTURAS NOS CLUBES DE ESQUINAS

Capítulo 6

Certo dia, Rafael pediu-lhe para cantar alguma coisa.
Lara titubeou um pouco, mas depois, atendendo ao pleito, começou a cantar:
“Diz pra eu ficar muda
Faz cara de mistério
Tira essa bermuda
Que eu quero você sério...

Tramas do sucesso
Mundo particular
Solos de guitarra
Não vão me conquistar...

Uh! eu quero você
Como eu quero!
Uh! eu quero você
Como eu quero!...(x2)

O que você precisa
É de um retoque total
Vou transformar o seu rascunho
Em arte final...

Agora não tem jeito
Cê tá numa cilada
Cada um por si
Você por mim e mais nada...

Uh! eu quero você
Como eu quero!
Uh! eu quero você
Como eu quero!...

Longe do meu domínio
Cê vai de mal a pior
Vem que eu te ensino
Como ser bem melhor...

Longe do meu domínio
Cê vai de mal a pior
Vem que eu te ensino
Como ser bem melhor...
(Bem melhor!)...

Uh! eu quero você
Como eu quero!
Uh! eu quero você
Como eu quero!...(2x)
Uh! eu quero você
Como eu quero!...
Como eu quero - Composição: Leoni e Paula Toller”

Rafael beijou a moça.
A seguir segurou a moça pelos braços.
Lara começou a rir.
O moço sussurrando, convidou-a a ir para seu quarto.
Quando Lara ficou noiva, Lorena e Ronaldo foram apresentados ao moço.
Lorena chegou a comentar que não precisava mais se preocupar com Lara.
Ronaldo, censurou a esposa. Dizendo que aquele não era assunto para ser tratado na frente do
noivo, comentou que era um momento de alegria.
Rafael disse que ele também estava mais tranquilo. 
Confidenciou que ao encontrar Lara, sentiu que seu futuro não seria tão incerto quanto imaginava.
Quando Lorena perguntou como o casal havia se conhecido, Lara e Rafael se entreolharam.
Depois de alguns minutos, o moço respondeu que eles se conheceram em uma boate.
Lara arregalou os olhos.
Rafael emendou dizendo que foi encontro inesquecível. Disse também que acabou perdendo o
contato com a moça, mas persistiu procurando-a por todos os lugares onde passava.
- Que romântico! – comentou Lorena, enternecida.
Clara, Clotilde, Alice e Iolanda, assim como Lucas, Inácio, Artur, Rogério e Fabrício,
acompanharam o almoço de noivado.
Rafael colocou um anel no dedo da moça.
Nisto Rafael e Lara casaram-se e foram morar juntos.
Como o moço, pouco tempo depois de casado, perdeu o emprego, Lara assumiu as despesas do
lar.
Rafael passou então, a se ocupar dos afazeres domésticos.
Passou a lavar, passar cuidar da casa.
Também continuou a procurar trabalho, mas nada de arrumar ocupação.
Este fato o deixava deveras insatisfeito.
Certo dia, percebendo uma certa tristeza no semblante do moço, Lara perguntou o que se passava.
Rafael se fechou em copas.
Ao se deparar então com jornais e ofertas de emprego circuladas, em um jornal dobrado, percebeu
por que o moço andava triste.
Nisto, dizendo-lhe palavras de consolo, argumentou que aquela situação era temporária, e que
com sua força de vontade e garra, ele acabaria encontrando trabalho em sua área.
Triste o homem começou a cantar:
“Um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter
Que nada, minha porção mulher que até então se resguardara
É a porção melhor que trago em mim agora
É o que me faz viver
Quem dera pudesse todo homem compreender, ó mãe, quem dera
Ser o verão no apogeu da primavera
E só por ela ser
Quem sabe, o super-homem venha nos restituir a glória
Mudando como um Deus, o curso da história
Por causa da mulher
Quem sabe o super-homem, venha nos restituir a glória
Mudando como um deus o curso da história
Por causa da mulher
Super-Homem, a Canção - Gilberto Gil”
Lara abraçou o moço. Beijou seu rosto.
Nisto, ao curso de alguns meses, o homem arrumou um trabalho.
Com a situação financeira mais estável, o casal teve um filho.
Ao segurar a criança no colo, Rafael ficou emocionado.
Chegou a cantar baixinho para ela:
“É comum a gente sonhar, eu sei, quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar um sonho lindo de morrer
Vejo um berço e nele eu me debruçar com o pranto a me correr
E assim chorando acalentar o filho que eu quero ter

Dorme, meu pequenininho, dorme que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho de tanto amor que ele tem
De repente eu vejo se transformar num menino igual seu pai
Que vem correndo me beijar quando eu chegar lá de onde eu vim

Um menino sempre a me perguntar um porque que não tem fim
Um filho a quem só queira bem e a quem só diga que sim
Dorme menino levado, dorme que a vida já vem
Teu pai está muito cansado de tanta dor que ele tem

Quando a vida enfim me quiser levar pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba me roçar no derradeiro beijo seu
E ao sentir também sua mão vedar meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz a me embalar num acalanto de adeus

Dorme meu pai sem cuidado, dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado, com o filho que ele quer ter
O Filho Que Eu Quero Ter - Composição: Toquinho/Vinicius de Moraes”

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO ANOS OITENTAS – AVENTURAS NOS CLUBES DE ESQUINAS

Capítulo 5

Nisto Rafael continuou a empreender sua busca. 
Numa noite o moço avistou Lara conversando com suas amigas.
Emocionado, mal podia acreditar no que estava vendo.
Desesperançado, um dia chegou até a procurá-la na boate em que ocorrera o encontro.
Mal podia acreditar no que via.
Lucas, ao perceber o que se passava, incentivou o amigo a ir ao encontro da moça e conversar.
Nervoso, Rafael relutou em se aproximar dela.
Lucas argumentou:
- Eu não acredito! Eu você me enlouqueceu com a história dessa moça. Encheu os meus ouvidos
por meses, para no momento em que finalmente a encontra, resolve desistir? Cadê a coragem do
conquistador! Estou decepcionado!
Nisto, ficou empurrando o amigo na direção em que a moça estava.
Constrangido, Rafael disse que não havia necessidade daquilo.
Nervoso, afastou a mão do amigo, e disse que ele iria encontrá-la por sua própria iniciativa.
E assim, tentando encontrar coragem, o moço foi ao encontro da moça.
Lucas observava o amigo à uma certa distância.
Cauteloso, Rafael não queria assustá-la.
Contudo, sentindo que precisava não se fazer notar até se aproximar da moça, foi caminhando
lentamente ao seu encontro.
Lucas ironizou dizendo que ele era tão rápido quanto uma tartaruga.
Rafael pediu para ele se calar.
Com isto, finalmente se aproximou da moça.
Lara, surpresa, o reconheceu imediatamente. 
Assustada, tentou sair do lugar.
O moço porém, agil, segurou a sua mão.
Nisto, pediu para que ela não fosse embora. 
Disse que depois de tanta procura, ela não poderia partir simplesmente.
Rafael começou a cantar:
“Eu tô perdido
Sem pai nem mãe
Bem na porta da tua casa
Eu tô pedindo
A tua mão
E um pouquinho do braço

Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos me interessam
Pequenas porções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam...

Eu tô pedindo
A tua mão
Me leve para qualquer lado
Só um pouquinho de proteção
A um maior abandonado
Teu corpo, com amor ou não
Raspas e restos me interessam
Me ame como a um irmão

Mentiras sinceras me interessam
Me interessam...
Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos me interessam
Pequenas poções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam...

Eu tô pedindo
A tua mão
Me leve para qualquer lado
Só um pouquinho de proteção
A um maior abandonado
Maior Abandonado - Compositor(es): Cazuza/Frejat”

Lara resolveu então, ouvir o moço.
Rafael lhe explicou que ela o deixara muito bem impressionado, e que razão, sentiu necessidade
de vê-la novamente. Comentou que o que sentira por ela, nunca havia sentido isto, antes por outra
pessoa.
Lara ficou perplexa.
Nisto, Lucas resolveu se aproximar. 
Simpático, cumprimentou a moça, elogiando o bom gosto do amigo.
A moça sorriu agradecendo.
Nisto, Lucas despediu-se.
Aflito, Rafael perguntou-lhe então, se eles poderiam se encontrar novamente.
Lara não sabia o que responder.
O moço insistiu.
Dizendo que não poderia obrigá-la a aceitar o convite, argumentou que ela não perderia nada com
isto.
Desta forma, Lara aceitou o convite.
Nisto, ele se apresentou, e ela finalmente disse seu nome.
Ao ouvir Lara, o homem ficou encantado. Gentil, disse que aquele era um bonito nome.
Lara agradeceu a gentileza.
Mas tarde, a moça lhe contaria que sua mãe lhe dera este nome, em homenagem a personagem do
filme “Doutor Jivago”.
O primeiro encontro do casal, foi num restaurante.
Inicialmente tímidos, o casal passou mais tempo se olhando, do que propriamente conversando.
Rafael porém, a despeito disto, estava muito feliz com o encontro.
Tanto que acabou conseguindo um novo encontro com a moça.
Conforme o tempo foi passando, finalmente o casal começou a namorar.
Certo dia, o moço convidou-a para almoçar em sua casa.
Zeloso e esforçado, o homem tentou preparar arroz, batatas douradas, bisteca e salada.
Passou dias elaborando um cardápio.
Nervoso, preparou a refeição com todo o cuidado.
Lara usava um vestido bandagem, calçava um scarpin.
Nisto a moça foi até o apartamento de Rafael. Apertou a campanhia.
Ao vê-la, Rafael elogiou-a. Disse que ela estava muito bonita.
A moça agradeceu o elogio.
Nisto, o moço convidou-a para entrar. Perguntou-lhe se gostaria de bebericar algo.
Lara respondeu que não.
Nisto, Rafael pediu licença e voltou para a cozinha. Respondeu que faltava pouco para o almoço
ser servido.
Quando estava tudo pronto, o moço colocou o arroz, as batatas, a carne e a salada em bonitas
louças.
A seguir, convidou a moça para sentar-se.
Puxou a cadeira e a moça agradecida, sentou-se.
Nisto, serviu a mesa. Colocou arroz, batatas, carne e salada em seu prato.
Depois, serviu-se.
Com isto, o moço pediu a moça para experimentar a comida.
Lara se serviu de um pouco de arroz, batata e bisteca.
Porém, ao colocar a comida na boca. Sentiu um gosto estranho. 
Ansioso, Rafael perguntou o que ela tinha achado da comida.
Sem graça, Lara respondeu que a comida estava ótima.
Todavia, em que pese o elogio a comida, sua expressão dizia o contrário.
Percebendo isto, Rafael resolveu experimentar a comida.
Ao colocar a comida na boca, o moço perceber que a mesma não estava boa.
Diante disto, disse:
- Não! Não coma! Está horrível!
Chateado, recolheu a comida e jogou o almoço fora.
Em seguida, pediu desculpas.
Lara então, percebendo que ele estava se esforçando para ser gentil, respondeu que não tinha
problema.
Nisto, ao ver que o moço estava chateado, segurou o queixo do moço. 
Convidou-o para almoçar fora.
Rafael concordou. Disse porém, que pagaria a conta. Tentando se desculpar, argumentou que já
que havia estragado o almoço, precisava compensá-la de alguma forma.
E lá se foi o casal procurar um restaurante para almoçar.
Nisto, o moço resolveu levar a moça para o restaurante onde costumava ir com seus amigos.
O dono do restaurante, ao reconhecê-lo, comentou que ele estava muito bem acompanhado.
Rafael e Lara agradeceram.
Juntos, comeram uma boa pizza. Beberam vinho.
Conversaram.
Rafael contou que vivia sozinho em São Paulo. Disse que estava na cidade para estudar.
Lara por sua vez, comentou que nascera em São Paulo, que sua mãe era paulistana, que sua avó,
assim como sua bisavó também eram.
Rindo, Rafael brincou dizendo que ela advinha de uma família paulistana quatrocentona.
Lara achou graça.
Ao voltarem para o apartamento de Rafael, o casal parou em frente a uma sorveteria. Compraram
sorvetes e foram tomando a sobremesa enquanto caminhavam pelo Centro da cidade.
Rafael comentou que aquela cidade era fascinante. Sua grandeza assustava e atraía ao mesmo
tempo.
Lara parecia compreender o que ele estava querendo dizer.
Aquele foi momento em que Lara decidiu que valia a pena investir naquela relação. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.