Poesias

domingo, 31 de maio de 2020

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 45

CAPÍTULO 45

Já a lenda do Minhocão, foi a terceira narrativa contada.
Trata-se de uma serpente gigantesca, fluvial e subterrânea, vivendo no rio São Francisco e varando léguas e léguas, por baixo da terra, indo solapar cidades e desmoronar casas – explicando os fenômenos de desnivelamento, pela deslocação do corpanzil.
Escava grutas nas barrancas, naufraga as barcas, assombra pescadores e viajantes.
É a réplica da boiúna, sem as adaptações transformistas em navio iluminado e embarcação de vela, rivalizando com o barco-fantasma europeu.
O minhocão é um soberano bestial, dominando pelo pavor e sem seduções de mãe-d’água ou sereia atlântica.
“É um bicho enorme, preto, meio peixe, meio serpente, que sobe e desce este rio em horas, perseguindo as pessoas e as embarcações; basta uma rabanada, para mandar ao fundo uma barca como esta nossa.
Às vezes toma a forma de um surubim, de um tamanho que nunca se viu; outras, também se diz, vira num pássaro grande, branco, com um pescoço fino e comprido, que nem uma minhoca; e talvez por isso é que se chama o minhocão.”44

44 Saint-Hilaire registrou o minhocão em Minas Gerais e Goiás, tentando a possível identificação científica fixou o depoimento dos barqueiros do São Francisco, em fins do séc. XIX. Histórias e Lendas do Brasil (adaptado do texto original de Gonçalves Ribeiro). São Paulo: APEL Editora, sem/data. Dicionário do Folclore Brasileiro/ Câmara Cascudo. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A., sem/data. 

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 44

CAPÍTULO 44

A segunda narrativa foi sobre Iara, a Mãe-d’Água.
Espécie de sereia que vive no Rio São Francisco.
Para os barqueiros, o rio dorme quando é meia-noite, permanecendo adormecido por dois ou três minutos.
Neste momento, o rio pára de correr e as cachoeiras de cair.
Os peixes deitam-se no fundo do rio, as cobras perdem o veneno e a Mãe-d’Água vem para fora, procurando uma canoa para sentar-se. e pentear seus longos cabelos.
As pessoas que morreram afogadas, saem do fundo das águas e seguem para as estrelas.
Os barqueiros que se acham no rio à meia-noite, tomam todo o cuidado para não acordá-lo.
Se um barqueiro sente sede, antes de pegar a água do rio, joga nela um pedacinho de madeira.
Se ele fica parado, o barqueiro espera, porque não convém acordar o rio.
Quem o fizer, poderá ser castigado pela Mãe-d’Água, pelo Caboclo-d’Água, pelos peixes, pelas cobras e pelos afogados, que não podem alcançar as estrelas.
Um barqueiro muito moço ao ouvir as histórias, não acreditou em nada do que disseram sobre o rio.
Certa vez, ele estava numa venda bebendo com os companheiros, quando a conversa pendeu para tais mistérios.
Ele ria de tudo.
Ao ouvir, então, que era perigoso despertar o rio à meia-noite, quase se engasgou de tanta risada.
-- Vocês são todos uns medrosos! Parecem crianças! Como é que uma pessoa sensata, pode acreditar nessas coisas?
-- Acho que não se deve brincar com o que não se conhece! – disse um deles.
O moço olhou para os companheiros com ar de superioridade: -
- Escutem aqui. Não acredito nessas bobagens e não é só conversa, não. Se quiserem apostar comigo, tomo banho no rio à meia-noite, quando ele estiver dormindo.
Os homens ficaram horrorizados.
Como era possível fazer tal aposta?
-- Então? – continuou ele. – Aceitam ou não aceitam? Já é hora de acabar com essas mentiras! Vamos!
Os companheiros então, reuniram-se numa roda e começaram a cochichar.
Após alguns minutos, o mais velho dirigiu-se ao moço, que esperava, com ar zombeteiro:
-- Nós somos da opinião que você não deve ir procurar tal perigo. Agora, se você insiste, nós aceitamos a aposta.
Como o moço insistiu, a aposta foi feita.
O dinheiro ficou com o dono da venda e todos combinaram que o banho seria naquela noite.
A notícia correu depressa pelo lugar.
Muitas pessoas procuraram o corajoso jovem, pedindo-lhe que desistisse de idéia tão perigosa.
Mas quem seria capaz de fazê-lo desistir?
Conforme o combinado, perto da meia-noite foram todos para o rio.
Impressionados pela quietude do lugar, as pessoas mantinham-se mudas.
O próprio desafiante sentia a influência do mistério que havia no ar, pois, estava calado e pensativo.
À meia-noite, um dos barqueiros pegou um pequeno pedaço de madeira e o atirou, com cuidado, às águas silenciosas.
Todos os olhos estavam fixos no pedaço de pau que flutuava mansamente, sem sair do lugar.
-- O rio está dormindo! – disse ele, num sussurro.
O moço preparou-se para mergulhar, sem dizer uma palavra, já arrependido do compromisso que assumira.
Respirou profundamente, como que procurando a coragem perdida.
Sabia que não podia esperar mais, sem que seus companheiros percebessem o medo que o dominava.
Corajoso, controlou-se e saltou, quebrando o cristal das águas paralisadas, e desaparecendo nas profundezas misteriosas.
Os barqueiros trocavam olhares de surpresa, pois acreditavam que ele desistiria no último instante.
O tempo foi passando e o moço não retornou à superfície.
Os barqueiros olhavam com ansiedade o lugar onde ele desaparecera.
Quando julgavam confirmado o seu receio, as águas se abriram, deixando surgir a cabeça do corajoso mergulhador.
-- É ele! – disse um dos barqueiros.
-- Olhe que é algum afogado enraivecido, porque acordamos o rio! – avisou outro.
Mas, era mesmo o rapaz que voltava, não havia dúvidas.
Entretanto, ele estava tão diferente, que seus amigos ficaram surpresos.
Falaram com ele, gritaram, chamaram.
Com o olhar vazio, ele ficou andando pelo barco, de um lado para outro, sem destino certo...
De repente, com um salto, atirou-se nas águas do rio.
Aconteceu tão depressa que ninguém pôde fazer nada, e o moço desapareceu, para nunca mais voltar.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 43

CAPÍTULO 43

A primeira delas, falava sobre o Caboclo-d’Água.
Trata-se de um gigante que mora no lugar mais profundo do rio, numa gruta de ouro.
Tem a mania de perseguir, sem dó, os barqueiros.
Vira as embarcações e também afugenta os peixes, para prejudicar os pescadores.
Tem um couro tão duro, que não adianta nada lhe dar tiros: as balas não penetram.
Assim, quando os barqueiros se sentem perseguidos, oferecem um pedaço de fumo ao monstro.
Ele fica contente e os deixa em paz.
Os pescadores também, costumam pintar uma estrela embaixo do barco, para afugentá-lo.
Guarapiru, chefe de uma tribo de índios das margens do Rio São Francisco, gostava de visitar a cidade dos brancos.
Divertia-se tanto lá, que decidiu mudar-se em definitivo.
Desta forma, apesar da oposição de sua família, Guarapiru quebrou seu arco e flechas, jogou-os longe e partiu, levando apenas a rede onde dormia.
Caminhando junto ao rio, seguiu para a cidade.
A noite chegou e, como estava cansado resolveu dormir ali mesmo, e entrar na cidade de manhã, pois também não era muito seguro a um índio, aparecer numa cidade à noite.
Procurou então uma árvore onde pudesse colocar a rede, deitou-se e adormeceu, sonhando com a cidade, tão diferente do lugar que deixara.
Horas depois, já ao romper do dia, foi acordado por uma voz forte, que cantava uma estranha canção.
Ficou curioso, levantou-se, e foi ver quem estava cantando.
Foi assim que viu um gigante, de pé sobre uma enorme pedra no meio do rio, os braços estirados na direção do sol nascente.
Prestando mais atenção, o moço percebeu, sob a água, uma enorme gruta de ouro.
Era a casa do gigante.
Conhecendo a mania dos brancos pelo ouro, Guarapiru pensou:
“Vou guardar bem o lugar. Mais tarde, quando eu fizer amizade com os brancos, organizarei uma expedição e voltarei aqui. Conseguirei uma boa quantidade de ouro e, em troca, serei um chefe entre eles”.
Depois de sair dali, com todo o cuidado para não ser visto pelo gigante, retirou a rede e seguiu para a cidade.
Como o índio era muito simpático, não tardou a conseguir vários amigos entre os brancos.
O que mais lhe valeu, porém, foi sua habilidade na caça e na guerra.
Participou de diversas batalhas e lutou com tanto conhecimento e valentia, que logo foi nomeado oficial dos exércitos reais.
Se um de seus irmãos o visse agora, não poderiam reconhecer no oficial bem fardado, cheio de pose e orgulho, o humilde Guarapiru.
Com isso, após um certo tempo, concluiu que era chegada a hora de buscar o ouro do gigante, e se tornar chefe dos brancos.
Já tinha um plano em mente.
Tratou, portanto, de organizar uma expedição.
Tão logo revelou que sabia onde encontrar ouro em grande quantidade, apareceram tantos interessados em acompanhá-lo que ele pôde escolher, à vontade, os que achou mais indicados.
Estava em plenos preparativos, quando foi procurado por uma velha índia sua conhecida, e que também vivia na cidade.
-- Ouça o que vou dizer, meu filho, pediu ela. É um aviso e um conselho. Não vá em busca daquele ouro.
Ele achou graça:
-- Por que? Não vá dizer que existe algum feitiço!
-- Não brinque com isso. – prosseguiu a índia. – A esta hora, o Caboclo-d’Água já sabe de sua intenção. Se você se aproximar muito de lá, não escapará à morte.
Desta vez, ele riu até não agüentar mais.
-- Que é isso? Então, não sabe quem sou? Não têm conta os combates que participei. Não sei quantos foram os inimigos que tombaram sob meus golpes, primeiro de tacape, depois de espada. Jamais recuei diante do perigo!
-- Sei que você é valente. – disse a índia. – Valente contra as feras e contra homens. Mas nunca enfrentou o sobrenatural. Não há quem possa com o Caboclo-d’Água. Ouça o meu conselho: desista dessa idéia.
Guarapiru agradeceu, e se despediu com um sorriso de superioridade.
Na tarde do mesmo dia, a expedição partiu rumo à gruta do gigante, onde chegou ao cair da noite.
Acamparam à beira do rio, e ficaram esperando o amanhecer.
Amanheceu um dia festivo.
Sol brilhante no céu muito límpido, aves cantando, flores se abrindo.
Os homens começaram a se preparar.
Nisto, alguém estranhou a ausência do chefe da expedição.
Os homens se espalharam pelo lugar, gritando o nome do chefe.
Nada.
Depois de muita procura, resolveram fazer uma última tentativa, no fundo do rio.
Alguns homens mergulharam e encontraram o corpo de Guarapiru sob umas pedras, quase enterrado no lodo do rio.
O Caboclo-d’Água apanhara Guarapiru, e o arrastara para as profundezas das águas...

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 42

CAPÍTULO 42

Em passagem pela região do Rio São Francisco, ao passear de barco pelo rio, os cinco viajantes se depararam com um rio impressionante.
Nascido na Serra da Canastra, a cerca de mil metros de altura, logo ao deixar a serra, despenca duzentos metros na Cachoeira Casca d’Anta, desce em degraus e, entre Pirapora – Minas Gerais – e Juazeiro – Bahia – , flui suavemente, permitindo que barcos de todos os tamanhos naveguem suas águas.
E esse era o trecho percorrido até então pelas famosas gaiolas.
Hoje, o Parque Nacional da Serra da Canastra, preserva a nascente do grande rio, guarda vales de excepcional beleza, florestas nativas, campos e, para arrematar, tamanduás, tatus-canastra e lontras, ao vivo, em cores.
O velho Chico, como é conhecido o Rio São Francisco, caminha para o mar, irriga a terra árida e realiza o milagre de dar vida ao sertão.
Quem diria que alguns olhos d’água escondidos pela vegetação baixa e ressecada do Chapadão da Zagaia, Serra da Canastra, Minas Gerais, geraria um dos maiores rios do Brasil, o rio da unidade nacional.
Quatro estados nordestinos recebem suas águas generosas, que atravessam dois mil quilômetros de cerrado, até chegar à caatinga, e serve como divisa entre Minas e Bahia, Bahia e Pernambuco, Bahia e Alagoas, Sergipe e Alagoas.
Por fim, depois de Propriá – Sergipe – e Penedo – Alagoas –, deságua no mar.
É fácil navegar entre Pirapora – Minas Gerais e Juazeiro – Bahia.
Daí para a frente, só incorporando o espírito de aventura de Richard Burton – diplomata e escritor inglês, que se aventurou pela região.
Isso por que, é necessário se aboletar numa canoa e torcer para que tudo dê certo.
O Rio São Francisco, percorre as cidades de Januária, Bom Jesus da Lapa, Xique-Xique, Petrolina, Juazeiro, Propriá e Penedo, mas também as hidrelétricas que produzem seis milhões de kilowatts (Três Marias, Sobradinho, Itaparica, Paulo Afonso, Xingó), além de três milhões de hectares agricultáveis, minas de ferro e ouro, garimpos de diamantes e outras pedras preciosas.
Em se plantando tudo dá, como provam melões, uvas e demais frutas cultivadas na região.
Os turistas encantados, trataram é claro, de verificar a grandiosidade da natureza.
As velhas carrancas que enfeitavam os barcos na região, agora só são encontradas nas lojas de artesanato, já que estes monstros, que com três gemidos avisariam o barqueiro do naufrágio iminente da embarcação, viraram uma disputada peça de decoração.
Porém, voltemos ao rio.
De repente, este é represado no maior lago artificial que existe, o de Sobradinho, dá uma guinada para o leste, e despenca na Cachoeira de Paulo Afonso.
É nesse momento que começa a agonia, da chegada à foz, um território ermo entre Piabaçu e Brejo Grande, três mil e cento e sessenta e um quilômetros depois de deixar a nascente.
Então, o espetáculo principal, consiste em ver, por um bom tempo, aquelas águas barrentas atingirem as águas verdes do mar.
Quando a cor e o sabor da água perdem as características originais, o rio do sertão virou mar.
No entanto, além da beleza do lugar, pode-se também aproveitar, para ouvir muitas de suas lendas.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 41

CAPÍTULO 41

A essa altura, Felipe, sequioso de narrativas da região, passou a ouviu agora, a lenda do Carro caído.
Um negro vinha da Aldeia Velha, servindo de carreiro. 
Seu carro tinha muito sebo com carvão nas rodas e chiava como frigideira.
Aquilo não acabava nunca.
Sua Incelência já reparou os ouvidos da gente quando está com as maleitas? 
Pois, tal e qual.
O carreiro era meu charapim: acudia pelo nome de João, como eu.
Deitou-se nas tábuas, enquanto os bois andavam para diante, com as archatas merejando suor que nem macaxeira encroada.
Levavam um sino para a Capela de Estremoz. 
Na vila era povo como abelha, esperando o brônzio para ser batizado logo.
João de vez em quando acordava e catucava a boiada com a vara de ferrão:
-- Eh, Guabiraba!, eh, Rompe-Ferro, eh, Manezinho!
Era lua cheia.
Sua Incelência já viu moeda de ouro dentro de uma bacia de flandres?
Assim estava a Lua em cima.
João encarou o céu como onça ou gato-do-mato.
Pegou no sono, e o carro andando...
Mas a boiada começou a fracatear, e ele quando acordava, zás! – tome ferroada!
Os bois tomaram coragem à força. 
Ele cantou uma toada da terra dos negros, triste, triste, como quem está se despedindo.
Os bois parece que gostaram e seguraram o passo. 
Então ele pegou de novo no sono.
Quando acordou, os bois estavam de novo parados.
-- Diabo! – e tornou a emendá-los com o ferrão!
A coruja rasgou mortalha. 
João não adivinhou, mas a coruja era Deus que lhe estava dizendo que naquela hora, e carregando um sino para a casa de Nosso Senhor, não se devia falar no Maldito.
Gritou outra vez:
-- Diabo!
O Canhoto então gritou do inferno:
-- Quem é que está me chamando?
João a modo que ouviu e ficou arrepiado. 
Assobiou para enganar o medo, tornou a cantar a toada, numa voz de fazer cortar o coração, como quem está se despedindo.
Pegou ainda no sono uma vez.
A luz da Lua escorrendo do céu era que nem dormideira!
Quando acordou – aquilo só mandando! – a boiada estava de pé.
-- Diabo!
O Maldito rosnou-lhe ao ouvido:
-- Cá está ele!
E arrastou o carro para dentro da lagoa com o pobre do negro, os bois e tudo.
Estou que ele nem teve tempo de chamar por Nossa Senhora, que talvez lhe desse socorro.
Mas ainda está vivo debaixo d’água, carreando...
Sua Incelência já passou por aqui depois da primeira cantada do galo no tempo da Quaresma? 
Quando passar, faça reparo: - canta o carreiro, chia o carro, toca o sino e a boiada geme... 43

Por fim, despedindo-se das narrativas, Agemiro, Flávio, Lúcio, Fábio e Felipe, seguiram viajem.

43 Histórias e Lendas do Brasil (adaptado do texto original de Gonçalves Ribeiro). São Paulo: APEL Editora sem/data. Lendas Brasileiras/ Câmara Cascudo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos 
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terça-feira, 26 de maio de 2020

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 40

CAPÍTULO 40

Com isso, Felipe descobriu a Lenda do Quilombo dos Palmares.
Quanto a essa lenda, conta-se que a partir do início do século XVII, os escravos que conseguiam fugir das fazendas e dos engenhos, começaram a reunir-se em lugares seguros, e ali ficavam vivendo em liberdade, longe de seus senhores.
Estes lugares ficaram conhecidos por “quilombos” e seus habitantes, “quilombolas”.
Houve muitos quilombos no Brasil.
O mais importante foi o “Quilombo de Palmares”, instalado na Serra da Barriga, onde hoje é o estado de Alagoas.
Durou mais de sessenta anos e chegou a contar com uma população de vinte mil habitantes, o que era bastante para a época.
Na verdade, era um quilombo formado de vários outros, organizados sob a forma de reino.
Quando houve a Invasão da Holanda, os diversos quilombos que o compunham foram reforçados, pois inúmeros escravos deixavam os lugares onde viviam e iam refugiar-se nos quilombos, aproveitando a ausência dos seus senhores, que também fugiam dos invasores.
Enquanto os brasileiros e portugueses lutavam contra os holandeses, os fugitivos trataram de fortalecer os seus quilombos.
No princípio, para poder viver, os quilombolas praticavam assaltos às fazendas e povoados mais próximos.
Pouco a pouco, foram-se organizando, cultivando a terra, e trocando parte das colheitas por outras coisas de que precisavam.
Durante o tempo em que brasileiros e portugueses estavam ocupados, combatendo os invasores, os negros viveram sossegados.
Logo, porém, que os holandeses deixaram de ser preocupação, os brancos começaram a combater os quilombolas.
Apesar dos inúmeros ataques que realizaram, os brancos porém, não conseguiram arrasar os quilombos, como era sua intenção.
Os quilombos estavam bem reforçados, os negros eram corajosos e, ainda por cima, lutavam pela liberdade!
Por fim, o governo de Pernambuco solicitou a ajuda do bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, que preparou uma expedição para derrotar os fugitivos.
Também ele falhou nas primeiras tentativas, mas não desistiu.
Organizou um exército realmente poderoso e voltou ao ataque.
Mesmo assim, a resistência dos quilombolas foi tão grande, tão valente, que a luta durou perto de três anos.
Mas os negros tinham uma desvantagem: estavam cercados.
Enquanto os atacantes podiam conseguir reforços e munições de fora, principalmente contando com o interesse do governo, os quilombolas encontravam-se sozinhos e apenas podiam contar com o que possuíam.
É claro que, um dia, a munição dos sitiados tinha de se esgotar.
Quando isto se deu, muitos negros fugiram para o sertão.
Outros se suicidaram, ou renderam-se aos atacantes.
Nisso, segundo nos conta a tradição, logo no início da formação do quilombo, foi escolhido um rei: chamava-se Gangazuma.
Habitava um palácio denominado Musumba, juntamente com seus parentes, ministros e auxiliares mais próximos.
Organizara e mantinha sob seu comando um verdadeiro exército.
Um dia, morreu Gangazuma.
Os quilombolas ficaram tristes, mas a vida continuava e eles precisavam de um novo rei.
Assim, elegiam vitaliciamente, um Zumbi, o senhor da força militar e da lei tradicional.
Não havia ricos, nem pobres, nem furtos nem injustiças.
Três cercas de madeira rodeavam, numa tríplice paliçada, o casario de milhares e milhares de homens.
A princípio, para viver, desciam os negros armados, assaltando, depredando, carregando o butim para as atalaias de sua fortaleza de pedra inacessível.
Depois o governo nasceu e com ele a ordem; a produção regular, simplificou comunicações pacíficas, em vendas e compras nos lugarejos vizinhos, constituiu-se a família e nasceram os cidadãos palmarinos.
As plantações ficavam nos intervalos das cercas, vigiadas pelas guardas de duzentos homens, de lanças reluzentes, longas espadas e algumas armas de fogo.
No pátio central, como numa aringa africana, o primeiro governo livre em todas as terras americanas.
Ali o Zumbi distribuía justiça, exercitava as tropas, recebia festas e acompanhava o culto, religião espontânea, aculturação de catolicismo com os rituais do continente negro.
Vinte vezes, durante a existência, foram atacados, com sorte diversa, mas os Palmares resistiam, espalhando-se, divulgando-se, atraindo a esperança de todos os escravos chibateados nos eitos de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.
A república palmarina desorganizava o ritmo do trabalho escravo em toda a região.
Dia a dia fugiam novos cativos, futuros soldados do Zumbi, com seu manto, sua espada e sua lança real.
Debalde o Zumbi levou suas forças ao combate, repelindo e vencendo.
O inimigo recompunha-se, recebendo víveres e munições, quando os negros, sitiados, se alimentavam de furor e de vingança.
Numa manhã, todo exército atacou ao mesmo tempo, por todas as faces.
As paliçadas foram cedendo, abatidas a machado, molhando-se o chão com o sangue desesperado dos negros guerreiros.
Os paulistas de Domingos Jorge Velho, Bernardo Vieira de Melo com as tropas de Olinda e Sebastião Dias, com os homens de reforço – foram avançando e pagando caro cada polegada que a espada conquistava.
Gritando e morrendo, os vencedores subiam sempre, despedaçando as resistências, derramando-se como rios impetuosos, entre as casinhas de palha, incendiando, prendendo, trucidando.
Quando a derradeira cerca se espatifou, o Zumbi correu até o ponto mais alto da serra, de onde o panorama do reino saqueado era completo e vivo.
Daí, com seus companheiros, olhou o final da batalha.
Paulistas e olindenses iniciavam a caçada humana, revirando as palhoças, vencendo os últimos obstinados.

A Morte de Zumbi. 
Do cimo da serra, o Zumbi brandiu a lança espelhante, e saltou para o abismo.
Seus generais o acompanharam, numa fidelidade ao Rei e ao Reino vencidos.
Em certos pontos da serra, ainda estão visíveis as pedras negras das fortificações.
E vive ainda a lembrança ao último Zumbi, o Rei de Palmares, o guerreiro que viveu na morte, seu direito de liberdade e de heroísmo...
Felipe, ao conhecer a história de Zumbi, ficou deveras encantado com o espírito de luta, do povo negro.
Realmente, a história do Quilombo de Palmares era magnífica.

42 Histórias e Lendas do Brasil (adaptado do texto original de Gonçalves Ribeiro). São Paulo: APEL Editora sem/data. Lendas Brasileiras/ Câmara Cascudo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000.

DICIONÁRIO:
butim 1. conjunto de bens materiais e de escravos, ou prisioneiros, que se toma ao inimigo no curso de um ataque, de uma batalha, de uma guerra. 2. produto de roubo ou de pilhagem.
atalaia 1. aquele que vigia, que observa; sentinela. 2. lugar elevado de onde se observa ou se vigia.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 39

CAPÍTULO 39 

Além disso, Felipe, encantado com a beleza do lugar, conheceu a lenda da Cidade Encantada de Jericoacoara.
Dizem alguns habitantes de Jericoacoara que, sob o serrote do farol, jaz uma cidade encantada, onde habita uma linda princesa.
Perto da praia, quando a maré está baixa, há uma furna onde só se pode entrar de gatinhas.
Essa furna de fato existe.
Contudo, só se pode entrar pela boca da caverna, mas não se pode percorrê-la, porque, dizem, é fechada por um enorme portão de ferro.
A princesa está encantada no meio da cidade que existe além do portão.
Esta maravilhosa princesa está transformada numa serpente de escamas de ouro, só tendo a cabeça e os pés de mulher.
Diz a lenda que ela só pode ser desencantada com sangue humano.
Assim, no dia em que se imolar alguém perto do portão, abrir-se-á a entrada do reino maravilhoso. Com sangue será feita uma cruz no dorso da serpente, e então surgirá a princesa com sua beleza olímpica, no seio dos tesouros e maravilhas da cidade.
E então, em vez daquela ponta escalvada e agreste, surgirão as cúpulas dos palácios e as torres dos castelos, maravilhando toda a gente.
Na povoação há um feiticeiro, o velho Queiroz, que narra, com fé dos profetas e videntes, os prodígios da cidade escondida.
Certo dia Queiroz, acompanhado de muita gente da povoação, penetrou na gruta.
O feiticeiro ía desencantar a cidade.
Estavam em frente ao portão, que toda a gente diz ter visto.
Eis que surge a princesa à espera do desencanto.
Dizem que ouviram cantos de galos, trinados de passarinhos, balidos de carneiros e gemidos estranhos originados da cidade sepultada.
O velho mágico, entretanto, nada pôde fazer porque no momento ninguém quis se prestar ao sacrifício.
Todos queriam sobreviver, naturalmente para se casar com a princesa...
O certo é que o feiticeiro pagou caro a tentativa.
Foi parar na cadeia, onde permanece até hoje.
Com isso, a cidade e a princesa ainda esperam o herói que se decida a remi-las com seu sangue.
A princesa ainda continua na gruta, metade mulher, metade serpente, como Melusina, e também como a maioria das mulheres.41

41 Lendas Brasileiras/ Câmara Cascudo. Rio de Janeiro. Ediouro, 2000
DICIONÁRIO: furna 1. cavidade profunda na encosta de uma rocha, floresta etc.; caverna, gruta, cova."o homem primitivo transformava f. em habitações grupais" 2. POR EXTENSÃO subterrâneo de uma edificação.
Significado de Melusina Feltro de pêlos longos, usado principalmente na fabricação de chapéus femininos. [Heráldica] Sereia com cauda de serpente, banhando-se e penteando-se num tanque.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 
Luciana Celestino dos Santos
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