Em memórias, um passado remoto, que não quer se apagar.
Lembranças tristes, álacres, doridas, fagueiras.
Saudades de um tempo, mais que passado.
Repisar de eternas lembranças.
Rodamoinhos existenciais.
Flores do bem e do mal.
De passagem pelo trem da vida, reconheci passagens de um tempo remoto.
Longínquo.
Construções antigas, prédios de tijolos à vista, paredes, galpões, fábricas, fachadas, azulejos.
Detalhes.
Rica ornamentação, esculturas lindamente trabalhadas, casas abandonadas.
Construções de galpões de tijolos – fábricas.
Descortinadas junto as estradas de ferro.
Belíssimas construções.
Monumento erigido em homenagem ao esquecimento.
Memória da história operária do Brasil.
Labéu do esquecimento.
Desdouro em nossas memórias.
Quanta luta, quanto sangue derramado.
Vidas devotadas ao trabalho.
Desidério de uma vida futura, onde a memória fosse preservada.
Operários indo trabalhar em uma tecelagem, em máquinas de fiar.
Mulheres pobres, sacrificadas, morando em cortiços.
Casas velhas e mal cuidadas.
A trabalhar longas horas.
De madrugada “o apito da fábrica de tecido” a ferir aos ouvidos, de todos os passantes dos arrabaldes.
Consoante a inesquecível canção do imortal Poeta da Vila.
Em contraste, belas casas, mansões, palacetes.
Detalhes, entalhes, esculturas, colunas.
Vitrais, estátuas.
Construções a sofrerem com as horas do ocaso.
O crepúsculo de áureos tempos.
Ao passar diante de tais monumentos, muita vida a contemplar.
Memória de um passado não muito remoto.
Muito embora remeta a tempos imemoriais.
Lindas jovens a andarem em seus carros sem capô.
Curtos cabelos cacheados, brancas peles, longas saias e chapéus.
Além das brancas luvas.
Corsos carnavalescos, carros enfeitados com flores.
Confete e serpentina.
O tempo.
Retrato amarelado na parede da memória.
Lembrança a ser resgatada em nossos sentidos.
Cinematografo – a fábrica de sonhos.
Nascimento da indústria cinematográfica.
Humberto Mauro, Rodolfo Valentino, Theda Bara, Clara Bow, Douglas Fairbanks, Charles Chaplin, Greta Garbo.
Ídolos a embalar os sonhos dos jovens da época.
Moços e moças a se imaginarem, fortes e destemidos, galanteadores; ou então, delicadas e donairosas, a espera de um príncipe valoroso.
Assistir as fitas de cinema.
Grande evento social.
Filmes mudos, legendas, retratos em preto e branco.
Expressão corporal.
Olhar marcante.
Olhos marcados.
Forte expressão do olhar.
Virilidade.
Languidez no olhar.
Tempos distantes nos espaços imemoriais.
Lembranças da moça sentada em um banco da praça, tímida, a sonhar com tão belo rapaz.
Melindrosa.
Um príncipe das telas de cinema.
Anos Vintes.
Tempos distantes.
Longânime e resignado senhor de brancos cabelos.
Nem sempre! ...
O tempo a tudo consome, a tudo devora.
A tudo transforma, deixando tudo como dantes.
O tempo não existe, o que existe são as lembranças a marcarem passagens de vida.
Devir do mundo, rotação da vida.
Saudade das coisas e das casas, dos muros, dos prédios, e de tudo que nunca deveria mudar.
Saudades de um mundo melhor.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Poesias
sábado, 25 de abril de 2020
FLASHES
Deus, ó Deus dos insensatos
Como pode permitir tal desiderato?
Luciana Celestino dos Santos
É permitida reprodução, desde que citada a fonte.
Como pode permitir tal desiderato?
Luciana Celestino dos Santos
É permitida reprodução, desde que citada a fonte.
terça-feira, 21 de abril de 2020
Palavreado
Valsando juntos
Mãos seguras em uma dança delicada
Rodopio pelo amplo salão
Vestido longo, vaporoso
A fazer movimentos encantadores pelo salão
Com desenhos etéreos no ar
A desfazerem-se em poucos minutos
Abraçados, estando o rosto inclinado a contemplar seu parceiro
Zanzando pelos salões, convidados
Belas luminárias a compor o ambiente
Pessoas animadas, conversando no jardim
E o tempo a correr, constante, nestas horas alegres
Delineando contornos
Esfinge que nos espera
Para decifrar mistérios infindos
Sempre a nos espreitar
Factual
Consentâneo com as melhores piores coisas do presente
Herança de nossos tempos
Imanente, latente
Sempre a nos acompanhar
Mesmo que não queiramos a sua presença
Gelosias, onde os melhores pensamentos
Permanecem sempre ocultos
Jovens em busca de melhores perspectivas
Linhas indivisas que se transformam
Transbordam, sobejando em seu ser
Novamente o casal a valsar pelo salão
Deslizando em seu chão frio e brilhante
Piso cuidadosamente lustrado
Felizes, caminham juntos em direção ao jardim
E dançam novamente
O vestido vaporoso a mudar de forma,
Os ventos a invadirem todos os espaços vazios
E ao sabor da atmosfera, todas as formas mudar
A brisa fresca do vento
O esquecimento a nos assombrar
Querer mais do que nunca,
Jamais esquecer
Tempo, este cavalheiro sempre constante
Posto que sempre presente está
Mas ao mesmo, nunca o é da mesma forma
E o esquecimento a nos assombrar
Querer mais do que nunca
Não se sabe o quê
Talvez jamais esquecer
Tempo
Universal
Indivisível
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Luciana Celestino dos Santos
Mãos seguras em uma dança delicada
Rodopio pelo amplo salão
Vestido longo, vaporoso
A fazer movimentos encantadores pelo salão
Com desenhos etéreos no ar
A desfazerem-se em poucos minutos
Abraçados, estando o rosto inclinado a contemplar seu parceiro
Zanzando pelos salões, convidados
Belas luminárias a compor o ambiente
Pessoas animadas, conversando no jardim
E o tempo a correr, constante, nestas horas alegres
Delineando contornos
Esfinge que nos espera
Para decifrar mistérios infindos
Sempre a nos espreitar
Factual
Consentâneo com as melhores piores coisas do presente
Herança de nossos tempos
Imanente, latente
Sempre a nos acompanhar
Mesmo que não queiramos a sua presença
Gelosias, onde os melhores pensamentos
Permanecem sempre ocultos
Jovens em busca de melhores perspectivas
Linhas indivisas que se transformam
Transbordam, sobejando em seu ser
Novamente o casal a valsar pelo salão
Deslizando em seu chão frio e brilhante
Piso cuidadosamente lustrado
Felizes, caminham juntos em direção ao jardim
E dançam novamente
O vestido vaporoso a mudar de forma,
Os ventos a invadirem todos os espaços vazios
E ao sabor da atmosfera, todas as formas mudar
A brisa fresca do vento
O esquecimento a nos assombrar
Querer mais do que nunca,
Jamais esquecer
Tempo, este cavalheiro sempre constante
Posto que sempre presente está
Mas ao mesmo, nunca o é da mesma forma
E o esquecimento a nos assombrar
Querer mais do que nunca
Não se sabe o quê
Talvez jamais esquecer
Tempo
Universal
Indivisível
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Luciana Celestino dos Santos
As Formigas E As Flores De Morango
O dia-a-dia segue tranqüilo,
Nas horas calmas e tépidas
Longe da azafama diária
Corre e corre sem parar
Dias de férias, descanso e felicidade
Depois de dias de desengano
Transportes vários, complicados, complexos
Dias de trabalhos intensos
Relações complicadas,
Convivência diária
E assim, nos dias que se seguem,
Rumo a paragens diversas ...
E o inseto dos detalhes,
A nos fazer pensar nos pequenos eventos do cotidiano
A delícia de apreciar os pequenos momentos,
Instantes de felicidade
A contemplar a beleza de um jardim,
A imponência surpreendente de um mar,
O verdume de uma serra, a cortar dois relevos
E um céu azul por companhia
No jardim das maravilhas
Pequenos seres a levarem,
E a trazerem víveres para a existência
Viver em colônias
A fazerem seus ninhos na terra
Seio da terra,
Entranhas do mundo
E a passearem a flor da terra
Anunciando tempos de chuva e raios
Seres plúrimos, sempre a andarem em bandos
As formigas!
Ávidas, a invadirem potes de açúcar,
Pacotes de doces
Seres viventes ávidos de açúcar
Produto manufaturado da cana
Colhido em canaviais
Sendo recolhido em cortes de facões,
E processado em usinas,
A se transformar em açúcar
Refinado produto industrializado,
Que agrupado em torrões,
Formam pães de açúcar,
Os quais origem deram,
A denominação Pão de Açúcar,
Ao Morro da Maravilhosa Cidade,
Cheia de encantos mil!
Agressivos seres,
A morderem os demais viventes
A fazerem companhia aos humanos seres,
Nos mais impróprios momentos
E os seres humanos,
A guardarem seus alimentos em frios lugares
Com vistas a conservarem-no,
Longe de seu terrível e indomável ataque
Consoante o antigo adágio:
Ou o Brasil acaba com as formigas,
Ou as formigas acabam com o Brasil!
Predadoras, invadem plantações
Consomem folhas, alimentos
Antagonistas dos homens, das mulheres, das casas
Percorrem trilhas, as mais impróprias
Invadem as casas, as salas de estar
E assim, a dona de casa;
A mulher que fora do lar trabalha,
Quando da unha está a cuidar
E a dona de casa, a se tratar
As formigas ficam, a passearem pelo lugar
Enquanto as unhas manicuram,
A mulher a sugerir,
As formiguinhas caminheiras,
As unhas fazerem,
Passando-lhes glitter
Insetos brilhantes e brilhosos,
Adornadas com os mil sortilégios de inventividades humanos
Lindas e belas,
As formigas decoradas com pedrinhas de brilhante,
Esmaltadas!
E a passarem por mesas, paredes,
Invadirem despensas,
Caules, troncos, gramas
Engenhosos seres
E nos campos, além das formigas várias
Os singelos pés de morango,
Com suas folhas verdes,
Pequena planta rasteira
A se desabrochar em flor
Singela flor branca, de pólen amarelo,
A fazer parte de doce fruto
E os mais sábios a dizerem:
Que a flor do morango não adoça o pão seco!
Pão seco da dureza dos corações brutos,
Que não se amolecem,
Nem mesmo diante das coisas mais sublimes,
E a delicadeza das coisas mais singelas
Pão seco da secura dos corações áridos,
Sem amor, alegria e sem beleza
Ante a beleza de um pé de morango,
Com sua delicadeza de flor e de fruto
Com doçura e azedo, nos certos tons
Mas a delicadeza da flor,
E a maravilha de seu sabor de morango
Não transforma a compleição das coisas da vida!
A doçura não amolece, a dureza dos corações empedernidos
E a flor do morango,
Mesmo diante de tanta beleza, azedo e doçura,
Sabiamente temperados,
Não adoça os pães secos,
A percorrerem as estradas da vida
A nos assolarem de azedume e amargura,
E a nos contaminarem, se não nos apercebemos,
De sua sutil maldade,
Pequenas veleidades do cotidiano
A inveja e a aridez das pessoas insatisfeitas do mundo,
Da vida, e das alegrias alheias,
Não devem oferecer obstáculos,
Às flores do morango
E assim como ela,
As flores de maracujá enfeitam o pé da fruta
Fruta sem grandes atrativos de beleza,
A apresentarem bela iguaria em forma de um suco suave,
De calmante poder
Que com o tempo envelhece,
Apresentando rugosidades em seu formato
Bela flor a apresentar a paixão de Cristo!
E as formigas a passearem,
A percorrem o jardim
Entrando e saindo da terra
Abastecendo seu ninho com comida
Praga a atormentar a vida dos humanos seres,
Que de tudo fazem para delas se livrarem
Até quando esta guerra ocorrerá?
Quando a mesma deverá acabar?
Formigas, formigas, formigas!
Detestáveis formigas!
Efêmera existência, a fazer parte da vida,
A contragosto dos humanos seres,
Que não suportam a dureza de sua picada dolorida,
A inocular veneno
A viverem em bandos, gregários seres
E assim, em contraste ao trabalho das formigas
A dipladênia florida,
A espalhar seus galhos e flores pelo jardim
Manacá florido, com sua copa altaneira
Hortência florida,
Em seu buquê de pétalas azuis,
Protegidas pela copa da árvore,
Lindo manacá florido!
Rosas descansam sua beleza,
De caule e folhas sem flores
Dama da noite,
Com suas diminutas flores brancas,
A evocarem a infância de perfumes etéreos
Em bela árvore,
A enfeitar o jardim de minhas saudades!
As Lágrimas de Cristo,
A envolverem a entrada da casa
A enfeitarem as ripas de madeira
Azaléias por todos os cantos, de cores diversas
Dálias lutam estoicamente,
Para ornarem o jardim,
Com suas belas flores coloridas
As lantanas escondem-se sorrateiras,
Atrás de imponentes hibiscos dobrados,
Crescidos e coloridos, laranjas, vermelhos e rosas
E até mesmo, um tímido pé de laranja,
Envolveu-se na trama das plantas do jardim,
Adornado pelas azaléias
Do lado de fora,
Uma bonita árvore com sua copa arredondada
As primaveras entrelaçadas, vermelhas e róseas,
Aguardam o desenvolver de uma primavera maravilha,
Guarnecida por marias-sem-vergonha
E aos pés da parede,
Uma flor boa-noite,
Enfeita o chão revestido com piso
E a grama pouca, parca,
Apresenta um pouco de verde
No jardim de flores e plantas!
Certa vez, um colibri beijou uma flor do hibisco
Ave a colher o pólen das flores,
Voando estático em seu bater de asas no ar,
Momento mágico registrado nas retinas da memória
Lindos retratos registrados no livro das lembranças!
E as flores de ceras com suas cores quentes,
A se mostrarem em exuberância de flores múltiplas
E as formigas a comporem o jardim
Junto as lesmas, com seu corpo branco e viscoso,
E estas últimas, a serem eliminadas com sal
Mas as formigas, sempre as formigas!
Bravamente resistem!
E assim, mesmo sendo temporariamente derrotadas,
Aos poucos retornam,
Reocupando seus lugares nos tormentos humanos
E os humanos seres,
A se acautelarem do traiçoeiro ataque dos insetos
E os insetos dos detalhes,
A não ocuparem nossos dias,
Cheios de preocupações enfindas
E muitas vezes, a nos esquecermos do essencial!
A felicidade é uma porta muito frágil,
Cheia de detalhes sutis,
Os quais muitas vezes não percebemos!
E o orgulho a ocupar as mentes
E os humanos seres,
A derrotados serem,
Pelos pequenos insetos
Que vivem de pequenos detalhes,
Pois suas vidas curtas,
São feitas de pequenos momentos
E o humanos seres,
A se ocuparem apenas,
Dos grandes acontecimentos!
Com isto se denota,
Que a arrogância então deveria ceder espaço ao conhecimento!
E a humildade a nos ensinar deveria,
A melhor viver
Com isto, os seres a aprender deveriam,
A se respeitar
E a inveja de todos deveria se afastar
Pois um existente diz:
Que a inveja, quando não mata, aleija!
Mata e mata sim!
Mata o amor próprio do ser que inveja,
O qual tenta minar a alegria do alvo de sua ira,
Desfeiteando de seus gestos,
Sua maneira de ser!
Raiva que só a ele consome
Embora não consiga enxergar
Pois o ser invejado sua vida prossegue,
A despeito dos venenos e inveja alheios!
Pois assim,
Quando sinto a inveja tentar mirar seus dardos sobre mim,
Tento buscar minha felicidade,
E seguir minha vida,
A despeito das críticas e julgamentos alheios!
Pois quem a cuidar da vida alheia fica
Deveria voltar o foco para si,
E se ocupar mais com sua própria vida,
Pois se aos demais fosse dado cuidar das nossas vidas,
Assim como se para nós fosse dado o referido poder,
Todos estariam credenciados a nossas contas pagarem,
Já que se acham no direito de nossas vidas julgarem
E o mesmo ônus a nós caberia!
Triste sina de quem não tem como sua própria vida ocupar!
Tristes seres a vagarem pela vida,
Errantes
Dignos de pena são!
E nós não devemos com eles nos aborrecer,
E tampouco com eles parecidos ser
Devendo nossa vida viver
E procurando felizes ser
Vivendo, a despeito do desdém, e inveja alheios
Vida alegre e fagueira!
Voa para longe de mim
Os sentimentos mesquinhos,
As horas vazias,
As idéias preconceituosas, pré-concebidas
As pessoas incômodas, que a viver ficam
A existência dos seres a atrapalhar
Que só prevaleçam as alegrias,
E as maravilhas do bem viver
E eu a me ocupar cada vez mais com meu viver
Sem me importar,
Com quem sente prazer em me importunar
Pois que cesse tudo o que antes,
Sem valor se decantava
Por que neste momento,
O ouro da vida, e seu mais alto valor, se alevanta
E viva a vida!
Deixe o inseto dos detalhes ocupar nosso viver
Que possamos admirar o trabalho das formigas,
Sem sermos consumidos por ela
Sem deixarmos ela invadir nossa despensa
E possamos admirar os pequenos instantes de alegria
E a possibilidade de transformarmos nossas vidas
Transformando os momentos de mediocridade,
Em instantes de felicidade
E mudando nossa vida,
Possamos transformar nosso mundo,
E performar nossa realidade
Sem perder o momento rico e único,
De as coisas mudar!
E assim, seguir a vida que se segue
A passar delicioso óleo na pele
Deixando a derme reluzente
Deitando-se em uma esteira,
A tomar um banho de sol,
E a procurar melhores posições para se bronzear,
E a pele aos poucos a colorir,
Ganhando dourados tons
E a contemplar um céu azul, sem nuvens
Lindo de se admirar,
Entrecortado de beirais
Caminhar a beira mar
Vento bravio,
E o sol emoldurar o cenário de praia e areia
E as formiguinhas a percorrerem o jardim
E a flor do morango,
Infelizmente impossibilitada de adoçar o pão seco!
Contemplar a beleza das coisas, das palavras, dos textos
A maravilha e a essência das coisas
Não apenas a beleza efêmera, superficial e fútil
A beleza das violas bem feitas,
Belas em sua exterioridade,
Tendo por dentro somente pão bolorento
Beleza externa exuberante,
Com interior vazio!
Não a isto,
Amo beleza, não apenas pela beleza em si
Mas também pela sua qualidade de belo
Belo por essência,
Não só por fora, mas por dentro também
A beleza da vida, dos dias, dos tempos,
Dos mil sóis a irromperem no horizonte
Os pássaros a voarem pelo jardim
A pousarem em fios de alta tensão
A descasarem nos galhos das plantas das árvores
E a felicidade a residir nas simples coisas
Nos momentos fugazes
Instantes que nos marcam para sempre!
A felicidade não reside nos grandes eventos
Mas nas coisas mais prosaicas do nosso viver
Insetos que dos detalhes, não nos faz esquecer!
Felicidade dos sonhos sonhados;
Vivenciados;
Nos bailes valsados;
Nos olhares trocados;
Na vida vivida;
Nos belos pratos experimentados;
Nos passeios realizados;
Projetos concretizados;
Trabalhos realizados;
No encanto e no desencanto;
No acerto e no desengano
Pois a felicidade é a soma dos momentos alegres
E os tristes momentos a emoldurar os tempos felizes
E a valorá-los para sempre
Pois a vida tem um pouco de alegre e de triste!
Felicidade
Feliz cidade
Pequenos eventos!
Grandes acontecimentos!
E a vida prossegue, assim como os passeios vários!
O jardim a rebentar em verde e em vida
O ipê amarelo a crescer célere em galhos e folhas,
O ipê roxo a descansar em folhas viçosas
E a menina rosa, quando desabrochará?
Rosa flor, rosa menina, que cor terás?
E a vida, quando acontecerá?
Quando então irromperá?
Desabrochará?
Quanto tempo, teremos que esperar?
A curiosidade assola,
E teremos que aprender a saber esperar ...
E a vida continua a se aventurar
Pelos descaminhos do mundo!
E as flores de morango continuam a desabrochar do seio da terra,
Em meio as flores do fruto
E as formigas continuam a passear pelo jardim
E os pães secos já não mais me incomodarão
E assim eu sigo
Vivendo e aprendendo a viver,
A jogar, a chorar e a sorrir
Pois a vida é tão bela,
Apesar de ás vezes parecer tão desprovida de encantos!
E assim tudo a valer a pena ...
Se acaso tentarmos fazer de nossas almas,
Algo pequeno,
Assim não devemos proceder
Pois ...
Nossas almas tem o tamanho do mundo
Só basta a nós, corrermos para alcançá-las!
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Luciana Celestino dos Santos
Nas horas calmas e tépidas
Longe da azafama diária
Corre e corre sem parar
Dias de férias, descanso e felicidade
Depois de dias de desengano
Transportes vários, complicados, complexos
Dias de trabalhos intensos
Relações complicadas,
Convivência diária
E assim, nos dias que se seguem,
Rumo a paragens diversas ...
E o inseto dos detalhes,
A nos fazer pensar nos pequenos eventos do cotidiano
A delícia de apreciar os pequenos momentos,
Instantes de felicidade
A contemplar a beleza de um jardim,
A imponência surpreendente de um mar,
O verdume de uma serra, a cortar dois relevos
E um céu azul por companhia
No jardim das maravilhas
Pequenos seres a levarem,
E a trazerem víveres para a existência
Viver em colônias
A fazerem seus ninhos na terra
Seio da terra,
Entranhas do mundo
E a passearem a flor da terra
Anunciando tempos de chuva e raios
Seres plúrimos, sempre a andarem em bandos
As formigas!
Ávidas, a invadirem potes de açúcar,
Pacotes de doces
Seres viventes ávidos de açúcar
Produto manufaturado da cana
Colhido em canaviais
Sendo recolhido em cortes de facões,
E processado em usinas,
A se transformar em açúcar
Refinado produto industrializado,
Que agrupado em torrões,
Formam pães de açúcar,
Os quais origem deram,
A denominação Pão de Açúcar,
Ao Morro da Maravilhosa Cidade,
Cheia de encantos mil!
Agressivos seres,
A morderem os demais viventes
A fazerem companhia aos humanos seres,
Nos mais impróprios momentos
E os seres humanos,
A guardarem seus alimentos em frios lugares
Com vistas a conservarem-no,
Longe de seu terrível e indomável ataque
Consoante o antigo adágio:
Ou o Brasil acaba com as formigas,
Ou as formigas acabam com o Brasil!
Predadoras, invadem plantações
Consomem folhas, alimentos
Antagonistas dos homens, das mulheres, das casas
Percorrem trilhas, as mais impróprias
Invadem as casas, as salas de estar
E assim, a dona de casa;
A mulher que fora do lar trabalha,
Quando da unha está a cuidar
E a dona de casa, a se tratar
As formigas ficam, a passearem pelo lugar
Enquanto as unhas manicuram,
A mulher a sugerir,
As formiguinhas caminheiras,
As unhas fazerem,
Passando-lhes glitter
Insetos brilhantes e brilhosos,
Adornadas com os mil sortilégios de inventividades humanos
Lindas e belas,
As formigas decoradas com pedrinhas de brilhante,
Esmaltadas!
E a passarem por mesas, paredes,
Invadirem despensas,
Caules, troncos, gramas
Engenhosos seres
E nos campos, além das formigas várias
Os singelos pés de morango,
Com suas folhas verdes,
Pequena planta rasteira
A se desabrochar em flor
Singela flor branca, de pólen amarelo,
A fazer parte de doce fruto
E os mais sábios a dizerem:
Que a flor do morango não adoça o pão seco!
Pão seco da dureza dos corações brutos,
Que não se amolecem,
Nem mesmo diante das coisas mais sublimes,
E a delicadeza das coisas mais singelas
Pão seco da secura dos corações áridos,
Sem amor, alegria e sem beleza
Ante a beleza de um pé de morango,
Com sua delicadeza de flor e de fruto
Com doçura e azedo, nos certos tons
Mas a delicadeza da flor,
E a maravilha de seu sabor de morango
Não transforma a compleição das coisas da vida!
A doçura não amolece, a dureza dos corações empedernidos
E a flor do morango,
Mesmo diante de tanta beleza, azedo e doçura,
Sabiamente temperados,
Não adoça os pães secos,
A percorrerem as estradas da vida
A nos assolarem de azedume e amargura,
E a nos contaminarem, se não nos apercebemos,
De sua sutil maldade,
Pequenas veleidades do cotidiano
A inveja e a aridez das pessoas insatisfeitas do mundo,
Da vida, e das alegrias alheias,
Não devem oferecer obstáculos,
Às flores do morango
E assim como ela,
As flores de maracujá enfeitam o pé da fruta
Fruta sem grandes atrativos de beleza,
A apresentarem bela iguaria em forma de um suco suave,
De calmante poder
Que com o tempo envelhece,
Apresentando rugosidades em seu formato
Bela flor a apresentar a paixão de Cristo!
E as formigas a passearem,
A percorrem o jardim
Entrando e saindo da terra
Abastecendo seu ninho com comida
Praga a atormentar a vida dos humanos seres,
Que de tudo fazem para delas se livrarem
Até quando esta guerra ocorrerá?
Quando a mesma deverá acabar?
Formigas, formigas, formigas!
Detestáveis formigas!
Efêmera existência, a fazer parte da vida,
A contragosto dos humanos seres,
Que não suportam a dureza de sua picada dolorida,
A inocular veneno
A viverem em bandos, gregários seres
E assim, em contraste ao trabalho das formigas
A dipladênia florida,
A espalhar seus galhos e flores pelo jardim
Manacá florido, com sua copa altaneira
Hortência florida,
Em seu buquê de pétalas azuis,
Protegidas pela copa da árvore,
Lindo manacá florido!
Rosas descansam sua beleza,
De caule e folhas sem flores
Dama da noite,
Com suas diminutas flores brancas,
A evocarem a infância de perfumes etéreos
Em bela árvore,
A enfeitar o jardim de minhas saudades!
As Lágrimas de Cristo,
A envolverem a entrada da casa
A enfeitarem as ripas de madeira
Azaléias por todos os cantos, de cores diversas
Dálias lutam estoicamente,
Para ornarem o jardim,
Com suas belas flores coloridas
As lantanas escondem-se sorrateiras,
Atrás de imponentes hibiscos dobrados,
Crescidos e coloridos, laranjas, vermelhos e rosas
E até mesmo, um tímido pé de laranja,
Envolveu-se na trama das plantas do jardim,
Adornado pelas azaléias
Do lado de fora,
Uma bonita árvore com sua copa arredondada
As primaveras entrelaçadas, vermelhas e róseas,
Aguardam o desenvolver de uma primavera maravilha,
Guarnecida por marias-sem-vergonha
E aos pés da parede,
Uma flor boa-noite,
Enfeita o chão revestido com piso
E a grama pouca, parca,
Apresenta um pouco de verde
No jardim de flores e plantas!
Certa vez, um colibri beijou uma flor do hibisco
Ave a colher o pólen das flores,
Voando estático em seu bater de asas no ar,
Momento mágico registrado nas retinas da memória
Lindos retratos registrados no livro das lembranças!
E as flores de ceras com suas cores quentes,
A se mostrarem em exuberância de flores múltiplas
E as formigas a comporem o jardim
Junto as lesmas, com seu corpo branco e viscoso,
E estas últimas, a serem eliminadas com sal
Mas as formigas, sempre as formigas!
Bravamente resistem!
E assim, mesmo sendo temporariamente derrotadas,
Aos poucos retornam,
Reocupando seus lugares nos tormentos humanos
E os humanos seres,
A se acautelarem do traiçoeiro ataque dos insetos
E os insetos dos detalhes,
A não ocuparem nossos dias,
Cheios de preocupações enfindas
E muitas vezes, a nos esquecermos do essencial!
A felicidade é uma porta muito frágil,
Cheia de detalhes sutis,
Os quais muitas vezes não percebemos!
E o orgulho a ocupar as mentes
E os humanos seres,
A derrotados serem,
Pelos pequenos insetos
Que vivem de pequenos detalhes,
Pois suas vidas curtas,
São feitas de pequenos momentos
E o humanos seres,
A se ocuparem apenas,
Dos grandes acontecimentos!
Com isto se denota,
Que a arrogância então deveria ceder espaço ao conhecimento!
E a humildade a nos ensinar deveria,
A melhor viver
Com isto, os seres a aprender deveriam,
A se respeitar
E a inveja de todos deveria se afastar
Pois um existente diz:
Que a inveja, quando não mata, aleija!
Mata e mata sim!
Mata o amor próprio do ser que inveja,
O qual tenta minar a alegria do alvo de sua ira,
Desfeiteando de seus gestos,
Sua maneira de ser!
Raiva que só a ele consome
Embora não consiga enxergar
Pois o ser invejado sua vida prossegue,
A despeito dos venenos e inveja alheios!
Pois assim,
Quando sinto a inveja tentar mirar seus dardos sobre mim,
Tento buscar minha felicidade,
E seguir minha vida,
A despeito das críticas e julgamentos alheios!
Pois quem a cuidar da vida alheia fica
Deveria voltar o foco para si,
E se ocupar mais com sua própria vida,
Pois se aos demais fosse dado cuidar das nossas vidas,
Assim como se para nós fosse dado o referido poder,
Todos estariam credenciados a nossas contas pagarem,
Já que se acham no direito de nossas vidas julgarem
E o mesmo ônus a nós caberia!
Triste sina de quem não tem como sua própria vida ocupar!
Tristes seres a vagarem pela vida,
Errantes
Dignos de pena são!
E nós não devemos com eles nos aborrecer,
E tampouco com eles parecidos ser
Devendo nossa vida viver
E procurando felizes ser
Vivendo, a despeito do desdém, e inveja alheios
Vida alegre e fagueira!
Voa para longe de mim
Os sentimentos mesquinhos,
As horas vazias,
As idéias preconceituosas, pré-concebidas
As pessoas incômodas, que a viver ficam
A existência dos seres a atrapalhar
Que só prevaleçam as alegrias,
E as maravilhas do bem viver
E eu a me ocupar cada vez mais com meu viver
Sem me importar,
Com quem sente prazer em me importunar
Pois que cesse tudo o que antes,
Sem valor se decantava
Por que neste momento,
O ouro da vida, e seu mais alto valor, se alevanta
E viva a vida!
Deixe o inseto dos detalhes ocupar nosso viver
Que possamos admirar o trabalho das formigas,
Sem sermos consumidos por ela
Sem deixarmos ela invadir nossa despensa
E possamos admirar os pequenos instantes de alegria
E a possibilidade de transformarmos nossas vidas
Transformando os momentos de mediocridade,
Em instantes de felicidade
E mudando nossa vida,
Possamos transformar nosso mundo,
E performar nossa realidade
Sem perder o momento rico e único,
De as coisas mudar!
E assim, seguir a vida que se segue
A passar delicioso óleo na pele
Deixando a derme reluzente
Deitando-se em uma esteira,
A tomar um banho de sol,
E a procurar melhores posições para se bronzear,
E a pele aos poucos a colorir,
Ganhando dourados tons
E a contemplar um céu azul, sem nuvens
Lindo de se admirar,
Entrecortado de beirais
Caminhar a beira mar
Vento bravio,
E o sol emoldurar o cenário de praia e areia
E as formiguinhas a percorrerem o jardim
E a flor do morango,
Infelizmente impossibilitada de adoçar o pão seco!
Contemplar a beleza das coisas, das palavras, dos textos
A maravilha e a essência das coisas
Não apenas a beleza efêmera, superficial e fútil
A beleza das violas bem feitas,
Belas em sua exterioridade,
Tendo por dentro somente pão bolorento
Beleza externa exuberante,
Com interior vazio!
Não a isto,
Amo beleza, não apenas pela beleza em si
Mas também pela sua qualidade de belo
Belo por essência,
Não só por fora, mas por dentro também
A beleza da vida, dos dias, dos tempos,
Dos mil sóis a irromperem no horizonte
Os pássaros a voarem pelo jardim
A pousarem em fios de alta tensão
A descasarem nos galhos das plantas das árvores
E a felicidade a residir nas simples coisas
Nos momentos fugazes
Instantes que nos marcam para sempre!
A felicidade não reside nos grandes eventos
Mas nas coisas mais prosaicas do nosso viver
Insetos que dos detalhes, não nos faz esquecer!
Felicidade dos sonhos sonhados;
Vivenciados;
Nos bailes valsados;
Nos olhares trocados;
Na vida vivida;
Nos belos pratos experimentados;
Nos passeios realizados;
Projetos concretizados;
Trabalhos realizados;
No encanto e no desencanto;
No acerto e no desengano
Pois a felicidade é a soma dos momentos alegres
E os tristes momentos a emoldurar os tempos felizes
E a valorá-los para sempre
Pois a vida tem um pouco de alegre e de triste!
Felicidade
Feliz cidade
Pequenos eventos!
Grandes acontecimentos!
E a vida prossegue, assim como os passeios vários!
O jardim a rebentar em verde e em vida
O ipê amarelo a crescer célere em galhos e folhas,
O ipê roxo a descansar em folhas viçosas
E a menina rosa, quando desabrochará?
Rosa flor, rosa menina, que cor terás?
E a vida, quando acontecerá?
Quando então irromperá?
Desabrochará?
Quanto tempo, teremos que esperar?
A curiosidade assola,
E teremos que aprender a saber esperar ...
E a vida continua a se aventurar
Pelos descaminhos do mundo!
E as flores de morango continuam a desabrochar do seio da terra,
Em meio as flores do fruto
E as formigas continuam a passear pelo jardim
E os pães secos já não mais me incomodarão
E assim eu sigo
Vivendo e aprendendo a viver,
A jogar, a chorar e a sorrir
Pois a vida é tão bela,
Apesar de ás vezes parecer tão desprovida de encantos!
E assim tudo a valer a pena ...
Se acaso tentarmos fazer de nossas almas,
Algo pequeno,
Assim não devemos proceder
Pois ...
Nossas almas tem o tamanho do mundo
Só basta a nós, corrermos para alcançá-las!
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Luciana Celestino dos Santos
SEIXEANDO, ELIS E OUTROS CANTORES
Quantas belezas em meio a tanta loucura
Raul Seixa zum zum zunzubizando
Maluco Beleza zanzando
A cantar sua filosofia de mundo
Críticas e verdades cruas
Canto Para a Morte
E suas conjecturas aparentemente absurdas
Sem o saber decerto como seria
Elis a cantar as belezas
E agruras da vida
As belezas de um mundo ideal
Por que tiveram que partir
Deixando ausentes, tantas lindas criações?
Ideias órfãs de campos profícuos
Mas restam-nos outros e bons criadores
Oriundos de uma terra de sonhos, poesia e beleza
Novos ou eternos, longevos
Seixas, criador dos mais interessantes temas musicais
Rock brasuca, serestas irreverentes,
Melodiosas canções, dramáticos e inusitados tangos
Tudo a ilustrar seu rico repertório
Elis Regina,
A grande dama da música popular brasileira
Partiu num rabo de cometa
Nos deixando o travo triste da saudade
Pouco a conheci em vida,
Descobrindo seu legado
Após sua despedida deste mundo
Tão cedo partiste desta vida
Grande interprete
E da terra encantada
Nos restam grandes artistas
Uma maravilhosa banda
A lembrar o mais famoso invento de um grande aviador
Com lindas canções
Como Uma Velha Canção Rock and Roll
A lembrar as canções que cantávamos
As quais quase não nos recordamos mais
Inesquecível 14 BIS
Legendária banda,
Assim como seus integrantes,
Entre eles Flávio Venturini,
Hoje em voo solo
Minas,
Terra de grandes cantores
E do igualmente mítico Beto Guedes
E seu eterno Amor de Índio
A espalhar Luz e Mistério
A nos encorajar a enfrentar a estrada
E seus descaminhos
A paz na terra,
Simbolizado no sal a nutrir o solo
Sal da Terra,
O chão que pisamos nossos passos lentos, apressados
E a cada audição das discografias,
Novas descobertas
Sons a ecoarem pelos fones de ouvido
As leituras poéticas
Paz na terra aos homens apressados, precipitados
Pessoas que não sabem,
De onde vem e tampouco, para onde vão
Seres que nem sempre,
Sabem existir ou viver
Perdidos em meio a tantas escolhas do viver ...
Pois viver é difícil,
Inexorável, insondável
E divino!
Muitas vezes,
Não sabemos o mistério da vida
Não sabendo viver
E assim, fica-se tentando se descobrir o segredo do bem viver
E melhor se adaptando, as condições da vida
Sua inevitabilidade, e suas veleidades
Pois se no inferno está
Melhor é cumprimentar o habitante da morada
E se possível, até abraçá-lo
Pois como diria o poeta original
Faz o que tu queres, que há de ser tudo da lei!
Raulzito Elis, a flor de Elis
Flor de Porto Alegre
A germinar pelo Brasil
E esses mineiros incríveis
Tão destacados em suas poesias
Pena não ser possível citá-los todos
Pois a vida é longa e o poema curto
Assim termino, estas mal traçadas linhas
E que se tenha piedade,
De uns pobres diabos,
Que não sabem o que dizem
E tampouco apreciam,
O bom gosto musical
Sinto pesar pelos gênios incompreendidos!
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Luciana Celestino dos Santos
Raul Seixa zum zum zunzubizando
Maluco Beleza zanzando
A cantar sua filosofia de mundo
Críticas e verdades cruas
Canto Para a Morte
E suas conjecturas aparentemente absurdas
Sem o saber decerto como seria
Elis a cantar as belezas
E agruras da vida
As belezas de um mundo ideal
Por que tiveram que partir
Deixando ausentes, tantas lindas criações?
Ideias órfãs de campos profícuos
Mas restam-nos outros e bons criadores
Oriundos de uma terra de sonhos, poesia e beleza
Novos ou eternos, longevos
Seixas, criador dos mais interessantes temas musicais
Rock brasuca, serestas irreverentes,
Melodiosas canções, dramáticos e inusitados tangos
Tudo a ilustrar seu rico repertório
Elis Regina,
A grande dama da música popular brasileira
Partiu num rabo de cometa
Nos deixando o travo triste da saudade
Pouco a conheci em vida,
Descobrindo seu legado
Após sua despedida deste mundo
Tão cedo partiste desta vida
Grande interprete
E da terra encantada
Nos restam grandes artistas
Uma maravilhosa banda
A lembrar o mais famoso invento de um grande aviador
Com lindas canções
Como Uma Velha Canção Rock and Roll
A lembrar as canções que cantávamos
As quais quase não nos recordamos mais
Inesquecível 14 BIS
Legendária banda,
Assim como seus integrantes,
Entre eles Flávio Venturini,
Hoje em voo solo
Minas,
Terra de grandes cantores
E do igualmente mítico Beto Guedes
E seu eterno Amor de Índio
A espalhar Luz e Mistério
A nos encorajar a enfrentar a estrada
E seus descaminhos
A paz na terra,
Simbolizado no sal a nutrir o solo
Sal da Terra,
O chão que pisamos nossos passos lentos, apressados
E a cada audição das discografias,
Novas descobertas
Sons a ecoarem pelos fones de ouvido
As leituras poéticas
Paz na terra aos homens apressados, precipitados
Pessoas que não sabem,
De onde vem e tampouco, para onde vão
Seres que nem sempre,
Sabem existir ou viver
Perdidos em meio a tantas escolhas do viver ...
Pois viver é difícil,
Inexorável, insondável
E divino!
Muitas vezes,
Não sabemos o mistério da vida
Não sabendo viver
E assim, fica-se tentando se descobrir o segredo do bem viver
E melhor se adaptando, as condições da vida
Sua inevitabilidade, e suas veleidades
Pois se no inferno está
Melhor é cumprimentar o habitante da morada
E se possível, até abraçá-lo
Pois como diria o poeta original
Faz o que tu queres, que há de ser tudo da lei!
Raulzito Elis, a flor de Elis
Flor de Porto Alegre
A germinar pelo Brasil
E esses mineiros incríveis
Tão destacados em suas poesias
Pena não ser possível citá-los todos
Pois a vida é longa e o poema curto
Assim termino, estas mal traçadas linhas
E que se tenha piedade,
De uns pobres diabos,
Que não sabem o que dizem
E tampouco apreciam,
O bom gosto musical
Sinto pesar pelos gênios incompreendidos!
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Luciana Celestino dos Santos
domingo, 19 de abril de 2020
Duelo do Sorriso Amarelo
I
E assim, de mudança em mudança
As crianças foram crescendo
Amadurecendo, e novas paragens conhecendo
Pois da longínqua São Paulo
Dos tempos do matrimônio dos pais
As crianças rumaram para as cálidas terras agrestes
Terra de lindos mares, lindas praias
Mar, sol, céu
De muitas histórias de um Brasil antigo
E Carlos adorava ouvir as histórias da mãe
Histórias sobre o cangaço
Heróis ou vilões?
Lampião e Maria Bonita andando pelos sertões
Andanças pelo inóspito Raso da Catarina
Em uma vida dura e áspera de trajes de couro, e chapéus e lenços
Luta pela vida, sobrevivência
Sempre que ouvia histórias do cangaço
Carlos imaginava um cangaceiro destemido
A defender os pobres e desvalidos
A enfrentar autoridades e a mostrar-lhes a injustiças do mundo
E não bandoleiros, como história indica terem sido
Sim, por que Vilma contava sobre a violência a civis
Mas também, sobre a perseguição que sofreram
A vida ao ar livre, sempre a se esconder
A prepararem sua comida em latas,
A dormirem em barracas improvisadas,
Ou ao relento mesmo
Banhando-se em rios
Sempre alertas, ao menor sinal de perigo
Vilma, contava sobre as as volantes enfurecidas
Implacáveis na busca e perseguição aos cangaceiros temidos
Bem como das recompensas por suas cabeças
Em diversos lugares, inúmeros cartazes
Ofereciam dinheiro em troca da localização do paradeiro dos malfeitores
Mas diante do terror que infligiam,
Que se atreveria a tal façanha?
Vilma, como boa professora de história que era
Contava que depois de mortos, alguns cangaceiros
Decapitados foram, e cabeças exibidas tiveram
E depois de mortos,
Tiravam fotos com policiais exibindo as cabeças
E o material era amplamente divulgado em jornais
Ao ouvirem o relato, as crianças ficaram chocadas
Carolina ficava a pensar no horror da cena
Considerava os policiais violentos
E Vilma a explicar que era o modo de agir dos homens daquele tempo
Salientava que os cangaceiros também eram violentos
Pois matavam, roubavam, incendiavam propriedades, espancavam pessoas, entre outras coisas nefandas
Carolina ficava a se perguntar por que todos eram tão maus
E Vilma explicava que a vida dura de ambos os lados não lhes havia mostrado, que as coisas diferentes podem ser
Mudanças de comportamento levam gerações para se fazer sentir
E o que inaceitável o é em um tempo, passa no momento posterior, a aceito ser,
E que o contrário também acontece
II
Sendo assim...
Mas ao contrário do que pode parecer,
A idéia da mudança não fora repentina
Isto por que Vilma recebeu uma proposta de trabalho
Há vários meses, e prometeu que iria pensar no assunto
Seu casamento já não andava bem
Com Antônio sempre nervoso e preocupado
A brigar com a esposa e os filhos
Sem ter tempo para conviver com a família
Antônio, cada vez mais distante
Assim, quando percebera que o casamento chegara ao fim
Pacificamente conversou com o marido
E comunicou-lhe o interesse em terminar o matrimônio
Tal notícia deixou Antônio surpreso,
Em que pese saber que a comunicação, seria apenas questão de tempo
E assim, Vilma encheu-se de coragem e falou...
Separaram-se
Dividiram os bens
Venderam o apartamento,
E Vilma vendeu eletrodomésticos, móveis e utensílios da casa
E o que não conseguiu vender, doou
Desta forma, nada escondeu dos filhos e nem dos amigos
Nem ao término do casamento
Bem como do informativo da mudança para outro estado
Pois Vilma aceitara o convite
Para as crianças, narrou os fatos, dizendo que a decisão era irrevogável
Mencionou ainda, que recebera convite para lecionar história
Em uma universidade no Nordeste
Inicialmente as crianças informaram que não queriam ir
Que não queriam que eles se separassem
Choraram
Vilma e Antônio então, conversaram com as crianças e explicaram
Que o melhor seria se separarem
Melhor separados, do que juntos e infelizes
Antônio, recomendou aos filhos, que não ficassem com raiva de Vilma
Posto que a vida é deveras inconstante
E o que era certo em um momento,
Deixa de ser no momento seguinte
As crianças ouviam mas não entendiam
O que se podia fazer?
Vida que segue
E assim, o homem disse-lhes ainda, que seriam felizes em um outro estado
O Nordeste é lindo
Que a Bahia é a terra da alegria
Comentou que já vivera por lá
E disse que eles sempre que pudessem, poderiam visitá-lo em São Paulo
Ou então ele iria vê-los no Nordeste
E assim, aos poucos,
As crianças preparadas foram
Para um recomeço
Novo trabalho, projetos alvissareiros
Escola nova
Nova vida, ou vida nova, novos amigos
E a mãe em um novo trabalho
Todos estavam todos ansiosos e apreensivos com a mudança
Carlos imaginava-se banhando em lindas praias
Carolina perguntava a mãe se a água era tão quentinha quanto falavam
E Vilma respondia a todas as curiosidades
Pacientemente explicava como era o lugar, a cidade, as praias...
E os meses que antecederam a viagem
Muita organização envolveram
Roupas e mais roupas, além de alguns objetos e utensílios encaixotados
E muitos brinquedos...
E assim, viajaram de avião para o Nordeste
Antônio levou-os de carro até o aeroporto
Deixou-os na entrada do local, e despediu-se de todos
Carlos e Carolina, ficaram a contemplar as aeronaves,
Comeram, e depois se dirigiram ao portão de embarque
Durante o voo, as crianças avistaram a cidade de São Paulo do alto, as nuvens
Imagens que as deixaram deslumbradas
Tiveram até, tempo de ficar impacientes...
Até chegarem em seu destino
Desembarcaram, pegaram suas malas, pegaram um táxi
Dirigindo-se ao apartamento onde passariam a viver por algum tempo
Habitação alugada pela universidade, onde iriam morar
Não sem antes contemplar um pouco da beleza da cidade, da orla da praia
Dos prédios, das construções, da natureza
As crianças olhavam a paisagem da janela e ficaram encantadas
Nos dias que se seguiram, a mulher começou a lecionar na universidade
E as crianças passaram a frequentar a escola
No começo ressabiados, mas ao término de um mês, totalmente enturmados
Brincavam com os colegas
Assistiam aulas, participavam das atividades
As mestras eram só elogios as crianças,
Muito cordatas e educadas
Carlos e Carolina, ao término da aula, seguiam com a mãe para casa
Não sem antes passear um pouco pela cidade e até pela orla da praia,
Já que a morada em que habitavam distava cerca de 500 metros da praia
E as crianças adoravam andar
E andavam muito pelas ruas da cidade
Em tudo sendo novidade
De vez em quando a mãe lhes pagava um sorvete
E nos fins-de-semana aproveitavam o mar para brincar,
Andavam de bicicleta,
Brincavam em um parque perto de casa
E a mãe aproveitava para se exercitar em uma academia ao ar livre
Como as existentes em São Paulo
Usando até roupas de ginástica para isto
III
E a vida seguia leve para as crianças
E Omar, o cangaceiro de bom coração
A permear a imaginação do garoto,
Sempre a boas ações praticar
Carolina o contestava dizendo que os cangaceiros eram maus
Mas Carlos retrucava que na sua imaginação,
Os cangaceiros poderiam ser como bem entendesse
Vilma achava graça
E para estimular a imaginação das crianças,
Ficava a criar fabulosas histórias para Omar
Que por viver perto do mar, assim o fora destinado
A ser livre como o mar, rápido e bruto como o vento
E intrépido como a natureza da região
Era homem bom, que fora levado ao cangaço por circunstâncias da vida
Da qual não pudera se furtar
Pois matara um homem para defender uma mulher de uma injusta agressão
E para sempre, se encontrava a fugir da polícia
E assim, de fuga em fuga, chegou ao bando de Lampião
Sim, para Carlos, outro não poderia ser
E o afamado cangaceiro acolheu-o ao perceber que se tratava de homem muito habilidoso
Pois sabia trabalhar na forja, moldando objetos de metal
Transformava couro em peças requintadas, bem como entendia um pouco de cutelaria
E que para quem interessar possa, trata-se da arte de fazer belas facas
Carlos, ficava maravilhado com as aventuras criadas pela mãe
Para seu herói favorito,
Mais do que mocinhos de filmes de cowboy, Carlos se impressionava com os feitos heróicos de Omar
O cangaceiro de bom coração
Não demorou muito, para conflitar com Lampião
Mas a amizade seguiu
E Omar durante longo tempo, permaneceu no bando
Jamais delatou os companheiros,
Embora não concordasse com sua conduta, e jamais tenha participado de uma ação do bando
Mas era hábil para despistar as volantes
E por isto, ganhou o respeito de todos
E assim, a vida seguia leve
Escola, trabalho, passeios, praia, casa
Sonhos, imaginação
Pois Carlos gostava de fabular
IV
Mas de repente, não mais que de repente
As coisas demudaram
Foi mais ou menos assim:
Parecia que estava em um breu profundo
Uma escuridão que não tinha mais fim
E a cada passo, a escuridão aumentava mais e mais
O medo se avizinhava
A cada passo, mais a mais a incerteza chegava
A sensação da escuridão a envolver, mais parecia penetrar em seu ser
O terror a invadir suas faces, seu ser
Ruas escuras, casas escuras
Quase ninguém nas ruas
Quase ninguém
Às vezes, figuras estranhas passavam por eles
Brigas, vozes alteradas
Algumas vezes tiveram que correr
Quase morreram de susto
A vida não era mais a mesma, mas precisava prosseguir
Há tempos, sua mãe não ia ao Mercado
Precisavam fazer compras
E a mãe enfrentou o medo, o terror e o pavor, daquelas noites intérminas
Aquelas noite que se chegaram de mansinho, como quem nada quer e se instalaram no caos
A cada dia, ou melhor a cada noite, o cenário não mudava
A noite chegou escurecendo tudo
Tirando até as luzes de dentro das casas
A noite viera para tirar a luz de tudo
Até dos equipamentos elétricos
Há dias não viam a luz do sol, não assistiam televisão, e nem o computador usavam
Nada, nadica de energia elétrica
Situação que os angustiava deveras
Mas o que fazer?
Precisavam enfrentar a situação
E lá se foi a mãe fazer compras
E como se pode perceber, a ida ao Mercado foi uma verdadeira aventura
Ao lá chegar, em alguns locais do comércio, havia lâmpadas acesas
A mãe fez poucas compras
Apenas do necessário
E nesse clima de aventura, voltaram para casa
A irmã, entre curiosa e aflita, perguntou sobre tinha sido a ida ao Mercado
E a mãe, tentando confortá-la, disse que tudo estava tranquilo
Acariciou o rosto da filha, e disse que tudo ia ficar bem
A menina sorriu
Nos dias que se seguiram, mais do mesmo
Ou melhor, das noites que se seguiram...
Tudo começou em um dia que sua mãe saiu para trabalhar como sempre fazia
Acordou, tomou banho, se arrumou, preparou o café da manhã, acordou os filhos
As crianças se prepararam para ir a escola
Vestiram o uniforme sozinhos, tomaram o café da manhã preparado pela mãe
Café composto de leite, queijo branco, mamão e pão com manteiga
Depois escovaram os dentes, pegaram a mochila com o material escolar e juntamente à mãe, saíram de casa
Enquanto caminhavam, conversavam
Por fim, a mãe deixou os pequenos na escola
A seguir, se dirigiu ao trabalho
Ficou um longo período no ponto de ônibus esperando a condução
Esperava, esperava, e a condução não passava
Estranhou,
Começou a ficar preocupada
Aos poucos, pessoas se aproximaram
Também iam trabalhar
E também estranharam a demora
Começaram a reclamar entre si
Questionaram a demora
Horas se passaram
Por fim, desistiram
Curiosamente, caminhando, Vilma verificou muita gente voltando para casa
E antes de voltar para casa, foi atalhada por uma pessoa apavorada, que dizia que o mundo iria se acabar
Dizia palavras desconexas
Como que a noite iria tomar conta de toda a cidade, de todo o mundo
Dizia que seria uma noite sem fim
Alguns ao redor, chamaram-lhe de louca
Aflita, voltou a escola
Percebeu que uma fila havia de pais
E todos levavam seus filhos de volta para casa
Vilma, ao chegar na escola, foi repreendida pela professora.
Disse-lhe que estava a horas ligando para sua casa, para que viesse buscar as crianças
Vilma pediu-lhe então desculpas
Disse que não estava entendendo nada, e indagou o motivo de tanta agitação
Impaciente, a mulher falou que a televisão estava noticiando a cerca de meia-hora acerca de um misterioso evento astrológico
Cidades inteiras e até países estavam mergulhados na escuridão
Lugares próximos do Brasil totalmente tomados pela noite
A professora disse que seria questão de horas para o negrume chegar ao Brasil
A ao ouvir isto, Vilma ficou pasma
Pegou as crianças e atônita, voltou para casa
Aflita pensou no que estava acontecendo...
- Continua.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
.....E A CHUVA QUE CAÍ - CAPÍTULO 7 - VERSÃO OFICIAL
Mas voltemos ao que interessa.
Durante algum tempo, depois de partirem, saindo do interior, moraram em diversas cidades da região metropolitana de São Paulo.
E nessas andanças o tempo foi passando, as crianças foram crescendo, e a vida de todos foi mudando.
Nessa época Luzia já trabalhava em uma confecção e com parte do dinheiro, ajudava a mãe a realizar as despesas da casa.
Ademais, os outros filhos, também ajudavam em casa.
Como todos trabalhavam, parte do dinheiro era justamente para manter a casa.
Assim, todos tinham que colaborar, e assim faziam.
Mas antes disso, Luzia trabalhou em uma fábrica.
Nesse trabalho, Luzia tinha que ajudar a carregar algumas caixas para dentro do prédio.
Contudo seu chefe, ao olhar para o diminuto tamanho de Luzia, bem como seu corpo franzino, o mesmo achou que ela era frágil demais para aquele trabalho.
Em razão disso, algum tempo depois, acabou a demitindo.
Luzia ficou muito desapontada.
Por ser seu primeiro emprego, esperava ficar bastante tempo nele.
Mas não foi o que aconteceu.
Contudo, após um certo lapso de tempo, acabou por encontrar um novo trabalho.
Foi aí então que passou a trabalhar em uma confecção.
E nesse emprego já estava há algum tempo.
Certa vez, seu ex-patrão ao vê-la se aproximar, ficou impressionado.
De tão impressionado, chegou até a comentar:
-- Menina, como você cresceu!
Realmente, não parecia nem de longe aquela meninota de antes.
Porém, nem mesmo ela tinha se dado conta de que havia mudado tanto.
Como precisava de um documento referente ao período em que trabalhou por lá, precisou visitar a fábrica.
Por esta razão, acabou reencontrando seu antigo patrão.
Nesse tempo, Luzia e alguns irmãos, também estudavam.
Aliás, a vida de Luzia era bem complicada na época.
Isso por que, trabalhando e estudando, sua vida era bastante corrida.
Sem tempo para quase nada, tinha que aproveitar os poucos momentos de folga que tinha, para estudar.
Isso por que, fazendo o supletivo de primeiro grau, dentro em breve começariam as provas e ela precisava estar bem preparada.
Por conta disso, muitas vezes, passava horas sem comer.
Durante o trabalho, no horário de almoço, a jovem esquentava a marmita e comia um pouco de arroz e um ovo frito.
Porém, depois desta refeição, a moça só iria comer novamente, quando chegasse em casa, tarde da noite.
Algumas vezes porém, uma de suas irmãs, aproveitando que a empresa onde
trabalhava era quem fornecia o almoço, pegava parte da mistura e colocando-a num pão, e durante o horário da aula, levava para ela comer.
Luzia aceitava a gentileza sempre que a irmã lhe trazia o que comer.
Porém, sempre dividia o lanche com alguma amiga.
Sim, por que não só ela, mas todos os que ali estudavam, levavam uma vida difícil.
Assim, sempre que podia, procurava de alguma forma, ajudar os demais.
Mas antes disso, sua mãe chegou a durante as compras, a comprar algumas bolachas de leite para que ela pudesse comer durante o trabalho, e assim enganar a fome.
No entanto, depois de passar alguns meses comendo a famigerada bolacha, acabou enjoando dela.
Como era sempre o mesmo gosto, depois de um certo tempo passou a pedir a mãe, para que não comprasse mais bolachas, visto que ela não estava conseguindo comer.
Nisso a vida prosseguia.
Um dia contudo... Malfadado dia.
Ao voltar da escola, depois de um longo dia, passando no terminal de ônibus, teve a infelicidade de topar com algumas prostitutas, que não gostaram nem um pouco da presença de Luzia e da amiga.
As prostitutas, que acreditavam que Luzia e sua amiga estavam ali para roubar sua clientela, passaram a encará-las.
Em seguida, saíram correndo na direção das duas, ameaçando agredi-las.
E foi por pouco que as duas não apanharam.
Isso por que, assim que perceberam que as prostitutas corriam em sua direção, as moças, aproveitando que um ônibus passava no lugar, logo que o viram se aproximar, correndo em sua direção, e sem nem mesmo saber para onde ia, subiram nele.
Tudo para fugir das prostitutas.
Depois, mais calmas, perguntaram ao cobrador, qual era o itinerário do ônibus. Por sorte, as duas pegaram exatamente o ônibus que as levava para casa.
Após o incidente, precavidas, as moças nunca mais passaram nem perto do terminal.
Temendo encontrar com as ditas moças, não queriam nem saber de confusão.
Não bastassem uma dura jornada de trabalho, e depois, passar horas a fio num banco de escola ouvindo explanações da professora, que apesar de deveras interessantes, exigiam atenção e esforço para serem assimiladas, bem como força de vontade delas para não dormirem, ainda tinham que correr de prostitutas.
Que injustiça!
No entanto, como já foi dito, a despeito do desagradável incidente, a vida continua.
As aulas de história também.
Nessas aulas, a professora, empolgada, analisava cada detalhe da história. Meticulosa, fazia questão de contar os detalhes que não estavam presentes nos livros de história.
Os relatos eram impressionantes.
De tão vívidos, parecia que os alunos estavam presentes em todos aqueles momentos narrados pela professora.
A história estava diante de seus olhos.
Todavia, como toda escolha tem um preço, fatalmente a professora não conseguiu passar toda a matéria constante do programa.
Porém, o que a mestra conseguiu ensinar, ficou guardado.
Eram realmente, aulas excepcionais.
Contudo, ao término das aulas, como sempre, Luzia pegava o ônibus e ao descer, em meio a breu e mato, prosseguia em sua caminhada.
Nas ruas de barro, tinha que caminhar cuidadosamente.
Isso por que, como não possuía lanterna, e não se via um palmo diante do nariz, e assim, todo cuidado era pouco.
Ademais, voltava para casa sempre sozinha.
Suas irmãs, Adalgisa e Célia, sempre saíam na frente, deixando-a de lado.
E assim, sempre fazia o percurso de volta para casa, sozinha.
Com isso, mesmo quando o barro estava seco, os sapatos ficavam sempre sujos.
Porém, quando chovia, a situação era ainda pior.
Molhado, o barro se tornava tremendamente escorregadio, e o perigo de levar um tombo era grande.
Em virtude disso, Luzia tinha que andar cuidadosamente até chegar em casa.
Quando chegava em casa, por mais cuidado que tivesse no caminho, tinha sempre que passar um pano umedecido no sapato, para retirar a terra que ficava grudada.
Além disso, faminta, sempre aproveitava para jantar antes de dormir.
De tanta fome, nem esquentava a comida.
Comia tudo frio mesmo.
E mesmo frio, achava tudo uma delícia.
Depois, ia se deitar.
No dia seguinte, tomava um café da manhã composto de leite e pão, e depois,
acompanhada pela mãe, seguia a pé até o ponto de ônibus.
Enquanto não chegava no ponto, usava um sapato mais simples, que poderia se sujar de barro sem problema.
Assim, quando finalmente chegava no ponto, trocava o sapato, e sua mãe levava o sapato sujo para casa.
Levava o sapato dos filhos para casa.
E assim, os filhos de Dona Rute chegavam impecáveis ao trabalho.
Luzia, ao chegar na fábrica, ia logo trabalhar.
Confeccionando peças, foi nesta fábrica que aprendeu a costurar.
E assim passava as oito horas de seu trabalho.
Na confecção, na hora de encerramento do expediente, algumas funcionárias
aproveitavam para usar o banheiro da empresa para tomar banho, e depois voltar para casa.
Em seguida, quando era chegada a hora de sair da confecção, as funcionárias eram sempre revistadas.
Isso por que, antes da revista, muitas peças da confecção sumiam.
Desta forma, a revista era uma maneira de coibir qualquer prática de furto.
E assim, depois de sair da fábrica, Luzia corria para o ponto de ônibus.
Isso por que, como tinha aula, não podia perder tempo.
Além do mais, não queria chegar atrasada.
Assim, eram os dias de Luzia.
Sempre cuidadosa, acabava chegando de dez a quinze minutos antes das aulas. De formas que, aproveitava os minutos que antecediam a aula para conversar.
Enquanto isso, Adalgisa, que também fazia o supletivo, ficava na cantina paquerando os homens que por lá passavam.
Contam que certa vez, ao mexer com um homem casado, sua esposa, ao descobrir o assédio, fez questão de aparecer na escola e arrumou uma grande confusão.
Querendo tomar satisfações com Adalgisa, por um triz não se engalfinharam.
Não fosse a turma do deixa-disso, e a encrenca poderia ter tomado grandes dimensões.
Porém, acabou ficando por isso mesmo.
No entanto, mesmo diante dessa confusão, Adalgisa não tomou jeito. Continuando a aprontar das suas.
Durante um certo tempo, um colega de escola, gentil com ela e suas irmãs, sempre que podia, oferecia uma carona.
Educado, sempre que podia as levava para casa.
Mas não foi que Adalgisa cismou com o rapaz?
Adalgisa inconveniente, tanto fez que acabou afugentando o rapaz.
Este, sem ter como escapar, acabou saindo da escola.
Mas, antes, sem saber o que fazer, acabou pedindo para Luzia ajudá-lo.
Todavia, não havia nada que ela pudesse fazer.
Quando Adalgisa cismava com alguém, não havia nada que a segurasse.
Com isso, novamente, Luzia teve que se utilizar de ônibus para voltar para casa.
E assim o fez.
Porém, desta vez, ao voltar para casa, um homem começou a ir atrás dela.
Luzia ao perceber isso, tratou de apertar o passo.
Com isso, o homem também passou a andar mais depressa.
Quando a moça percebeu que não seria fácil se livrar dele, tratou logo de correr, e só parou assim que encontrou um lugar para se esconder.
Nisso, o homem continuou a procurando.
Porém, depois de algum tempo, acabou desistindo e indo embora.
Sua mãe, preocupada com a demora, pediu para que Lélio fosse atrás da irmã. Isso por que, assustada, Luzia não tinha coragem de sair de onde estava.
Temia que o homem voltasse.
Assim, Lélio teve que procurar muito para achá-la.
Como Luzia estava escondida, não foi fácil encontrá-la.
Mas persistente, o moço acabou encontrando-a.
Dessa maneira, sempre que voltava para casa, tomava cuidado para ver se ninguém a estava seguindo.
Contudo, apesar da dureza em que viviam, de vez em quando Luzia e suas irmãs, compravam algumas roupas para usar.
Como o dinheiro era escasso, as peças tinham que ser pagas em prestações. Mas as prestações eram tão longas que as vezes as roupas se acabavam, e ainda havia conta para pagar.
Nessa época, tanto Luzia, quanto Célia e Adalgisa, usavam mini-saia.
Mesmo nos dias mais frios, eram as roupas que tinham para usar.
Maquiagem, só Célia e Adalgisa que usavam.
Mas, pobres que eram, a maquiagem consistia em se passar um pó branco no rosto, e quanto muito, um batom nos lábios.
Célia, nessa época, trabalhava em casa de família.
Como doméstica, passava toda a semana na casa dos patrões.
O que para Juvenal era um alívio.
Em suas palavras, a ausência de Célia era algo bom por que assim, tinha uma boca a menos em casa.
Com uma pessoa a menos em casa, gastava-se menos com comida.
Célia, revoltada com isso, passou a não mais ajudar em casa.
Porém ela também não era fácil.
Ao saber que a louça que iria utilizar para suas refeições, não era a mesma que os seus patrões usavam, passou a lamber toda a louça da família.
Sentindo-se vitoriosa, inúmeras vezes, contou isso as irmãs.
Luzia, ao ouvir os comentários de Célia, tratou logo de adverti-la.
-- Se a sua patroa descobrir que você lambe os pratos dela antes de servir as refeições, ela vai te colocar no olho da rua.
Mas Célia nem ligava.
Além do mais, acredita que nunca descobriram.
Por isso mesmo, Célia trabalhou por muitos anos na casa desta família.
Porém, como nem tudo é só trabalho, as irmãs, bem como suas amigas, sempre que podiam, aproveitavam para passear e ir ao cinema.
Afinal de contas, ninguém é de ferro.
Assim, muito de vez em quando as moças saíam para passear.
Sim, por que era raro sobrar dinheiro para tal.
Além disso, com a proximidade dos exames do supletivo, precisavam aproveitar e estudar.
Afinal se queriam passar, precisavam se dedicar.
Foi o que todas fizeram, inclusive Luzia.
Aplicada, passava dias a fio estudando.
Por fim, foi fazer as provas.
Para sua alegria passou em boa parte das matérias, porém, algumas disciplinas ficaram pendentes.
Com isso precisou estudar mais um pouco, e depois fez novamente as provas.
Nessa segunda tentativa, conseguiu ser aprovada em todas as matérias pendentes.
Dessa maneira, encerrou-se o período de estudos.
E assim, só precisava ir ao trabalho.
Um dia, ao voltar para casa, percebeu dentro do ônibus, que havia esquecido sua carteira, dentro do armário da empresa em que trabalhava.
Ao constatar que estava longe demais para buscar a aludida carteira, conversou com o cobrador, na tentativa de explicar sua situação.
Dizendo que havia perdido a carteira, pediu ao cobrador, para deixá-la passar, pois no dia seguinte, quando encontrasse a carteira, prontamente o pagaria.
O cobrador concordou, e assim, deixou-a passar sem pagar.
Com isso, assim que Luzia encontrou novamente o cobrador, pagou a passagem de dias atrás.
Dessa forma, como não tinha mais que se preocupar com escola, a moça passou a ajudar a mãe na limpeza da casa.
E assim, a vida prosseguia.
Uma vez, quando Luzia e os demais saíram para trabalhar, um estranho adentrou a casa.
Isso por que, sempre que saía, Rute deixava a porta da casa aberta.
Como naqueles tempos, a violência não campeava solta, não havia problema nenhum em se deixar portas e janelas abertas.
Contudo, nesse dia, uma pessoa suspeita entrou em casa.
Quando Rute voltou da rua, depois de acompanhar os filhos até o ponto de ônibus, cansava que estava, resolveu se deitar e dormiu.
Quando acordou, percebeu que algumas coisas na casa, estavam fora do lugar.
Estranhando isso, passou a não mais deixar a porta aberta.
Depois do incidente, sempre que precisava sair, trancava a porta.
Nisso, conforme o tempo passou, Luzia arrumou um novo emprego.
Agora trabalhando em uma fábrica, a moça pôde conhecer pessoas novas, bem como um novo trabalho.
Foi nesse novo trabalho que ela ouviu de uma colega, uma história escabrosa.
A moça, contou para Luzia uma história muito triste que havia acontecido com um conhecido dela.
Esse conhecido, vítima da violência, acabou sendo mutilado.
Como essas, Luzia ouviu muitas outras histórias.
Algumas tristes, outras engraçadas.
Dessarte, agora que Luzia não estudava mais, freqüentemente passava os fins-de-semana ajudando a mãe em casa.
Ultimamente, sempre que saía do trabalho, ia direto para casa.
Utilizando-se dos trens para voltar para casa, certa vez, ao passar na estação, ficou sabendo de um acidente que ocorrera momentos antes, quando uma mulher, ao atravessar os trilhos, levantou a cancela que ficava ao lado e atravessou.
Porém, para sua infelicidade, vinha um trem do outro lado, em sentido contrário, que a pegou em cheio.
Nisso pedaços de roupa, sapato, pé, e de outras partes do corpo da mulher, voaram para todo o lado.
Quando Luzia passou, jazia um corpo estendido no chão.
Como os pedaços do corpo da mulher que haviam se espalhado, já haviam sido recolhidos e colocados ao lado do corpo – agora coberto de jornal, para que ninguém ficasse olhando –, Luzia não chegou a ver o estado em que a infeliz mulher ficou.
Luzia a partir de então, passou a ter mais cuidado quando passava nos trilhos. Isso por que, a cancela só funcionava se o transeunte tivesse paciência para esperar.
Sem isso facilmente, ocorreriam acidentes horríveis como aquele.
Vai ver que foi justamente por isso que cercaram os trilhos do trem.
Talvez tenham feito isso para evitar mais acidentes.
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Luciana Celestino dos Santos
Durante algum tempo, depois de partirem, saindo do interior, moraram em diversas cidades da região metropolitana de São Paulo.
E nessas andanças o tempo foi passando, as crianças foram crescendo, e a vida de todos foi mudando.
Nessa época Luzia já trabalhava em uma confecção e com parte do dinheiro, ajudava a mãe a realizar as despesas da casa.
Ademais, os outros filhos, também ajudavam em casa.
Como todos trabalhavam, parte do dinheiro era justamente para manter a casa.
Assim, todos tinham que colaborar, e assim faziam.
Mas antes disso, Luzia trabalhou em uma fábrica.
Nesse trabalho, Luzia tinha que ajudar a carregar algumas caixas para dentro do prédio.
Contudo seu chefe, ao olhar para o diminuto tamanho de Luzia, bem como seu corpo franzino, o mesmo achou que ela era frágil demais para aquele trabalho.
Em razão disso, algum tempo depois, acabou a demitindo.
Luzia ficou muito desapontada.
Por ser seu primeiro emprego, esperava ficar bastante tempo nele.
Mas não foi o que aconteceu.
Contudo, após um certo lapso de tempo, acabou por encontrar um novo trabalho.
Foi aí então que passou a trabalhar em uma confecção.
E nesse emprego já estava há algum tempo.
Certa vez, seu ex-patrão ao vê-la se aproximar, ficou impressionado.
De tão impressionado, chegou até a comentar:
-- Menina, como você cresceu!
Realmente, não parecia nem de longe aquela meninota de antes.
Porém, nem mesmo ela tinha se dado conta de que havia mudado tanto.
Como precisava de um documento referente ao período em que trabalhou por lá, precisou visitar a fábrica.
Por esta razão, acabou reencontrando seu antigo patrão.
Nesse tempo, Luzia e alguns irmãos, também estudavam.
Aliás, a vida de Luzia era bem complicada na época.
Isso por que, trabalhando e estudando, sua vida era bastante corrida.
Sem tempo para quase nada, tinha que aproveitar os poucos momentos de folga que tinha, para estudar.
Isso por que, fazendo o supletivo de primeiro grau, dentro em breve começariam as provas e ela precisava estar bem preparada.
Por conta disso, muitas vezes, passava horas sem comer.
Durante o trabalho, no horário de almoço, a jovem esquentava a marmita e comia um pouco de arroz e um ovo frito.
Porém, depois desta refeição, a moça só iria comer novamente, quando chegasse em casa, tarde da noite.
Algumas vezes porém, uma de suas irmãs, aproveitando que a empresa onde
trabalhava era quem fornecia o almoço, pegava parte da mistura e colocando-a num pão, e durante o horário da aula, levava para ela comer.
Luzia aceitava a gentileza sempre que a irmã lhe trazia o que comer.
Porém, sempre dividia o lanche com alguma amiga.
Sim, por que não só ela, mas todos os que ali estudavam, levavam uma vida difícil.
Assim, sempre que podia, procurava de alguma forma, ajudar os demais.
Mas antes disso, sua mãe chegou a durante as compras, a comprar algumas bolachas de leite para que ela pudesse comer durante o trabalho, e assim enganar a fome.
No entanto, depois de passar alguns meses comendo a famigerada bolacha, acabou enjoando dela.
Como era sempre o mesmo gosto, depois de um certo tempo passou a pedir a mãe, para que não comprasse mais bolachas, visto que ela não estava conseguindo comer.
Nisso a vida prosseguia.
Um dia contudo... Malfadado dia.
Ao voltar da escola, depois de um longo dia, passando no terminal de ônibus, teve a infelicidade de topar com algumas prostitutas, que não gostaram nem um pouco da presença de Luzia e da amiga.
As prostitutas, que acreditavam que Luzia e sua amiga estavam ali para roubar sua clientela, passaram a encará-las.
Em seguida, saíram correndo na direção das duas, ameaçando agredi-las.
E foi por pouco que as duas não apanharam.
Isso por que, assim que perceberam que as prostitutas corriam em sua direção, as moças, aproveitando que um ônibus passava no lugar, logo que o viram se aproximar, correndo em sua direção, e sem nem mesmo saber para onde ia, subiram nele.
Tudo para fugir das prostitutas.
Depois, mais calmas, perguntaram ao cobrador, qual era o itinerário do ônibus. Por sorte, as duas pegaram exatamente o ônibus que as levava para casa.
Após o incidente, precavidas, as moças nunca mais passaram nem perto do terminal.
Temendo encontrar com as ditas moças, não queriam nem saber de confusão.
Não bastassem uma dura jornada de trabalho, e depois, passar horas a fio num banco de escola ouvindo explanações da professora, que apesar de deveras interessantes, exigiam atenção e esforço para serem assimiladas, bem como força de vontade delas para não dormirem, ainda tinham que correr de prostitutas.
Que injustiça!
No entanto, como já foi dito, a despeito do desagradável incidente, a vida continua.
As aulas de história também.
Nessas aulas, a professora, empolgada, analisava cada detalhe da história. Meticulosa, fazia questão de contar os detalhes que não estavam presentes nos livros de história.
Os relatos eram impressionantes.
De tão vívidos, parecia que os alunos estavam presentes em todos aqueles momentos narrados pela professora.
A história estava diante de seus olhos.
Todavia, como toda escolha tem um preço, fatalmente a professora não conseguiu passar toda a matéria constante do programa.
Porém, o que a mestra conseguiu ensinar, ficou guardado.
Eram realmente, aulas excepcionais.
Contudo, ao término das aulas, como sempre, Luzia pegava o ônibus e ao descer, em meio a breu e mato, prosseguia em sua caminhada.
Nas ruas de barro, tinha que caminhar cuidadosamente.
Isso por que, como não possuía lanterna, e não se via um palmo diante do nariz, e assim, todo cuidado era pouco.
Ademais, voltava para casa sempre sozinha.
Suas irmãs, Adalgisa e Célia, sempre saíam na frente, deixando-a de lado.
E assim, sempre fazia o percurso de volta para casa, sozinha.
Com isso, mesmo quando o barro estava seco, os sapatos ficavam sempre sujos.
Porém, quando chovia, a situação era ainda pior.
Molhado, o barro se tornava tremendamente escorregadio, e o perigo de levar um tombo era grande.
Em virtude disso, Luzia tinha que andar cuidadosamente até chegar em casa.
Quando chegava em casa, por mais cuidado que tivesse no caminho, tinha sempre que passar um pano umedecido no sapato, para retirar a terra que ficava grudada.
Além disso, faminta, sempre aproveitava para jantar antes de dormir.
De tanta fome, nem esquentava a comida.
Comia tudo frio mesmo.
E mesmo frio, achava tudo uma delícia.
Depois, ia se deitar.
No dia seguinte, tomava um café da manhã composto de leite e pão, e depois,
acompanhada pela mãe, seguia a pé até o ponto de ônibus.
Enquanto não chegava no ponto, usava um sapato mais simples, que poderia se sujar de barro sem problema.
Assim, quando finalmente chegava no ponto, trocava o sapato, e sua mãe levava o sapato sujo para casa.
Levava o sapato dos filhos para casa.
E assim, os filhos de Dona Rute chegavam impecáveis ao trabalho.
Luzia, ao chegar na fábrica, ia logo trabalhar.
Confeccionando peças, foi nesta fábrica que aprendeu a costurar.
E assim passava as oito horas de seu trabalho.
Na confecção, na hora de encerramento do expediente, algumas funcionárias
aproveitavam para usar o banheiro da empresa para tomar banho, e depois voltar para casa.
Em seguida, quando era chegada a hora de sair da confecção, as funcionárias eram sempre revistadas.
Isso por que, antes da revista, muitas peças da confecção sumiam.
Desta forma, a revista era uma maneira de coibir qualquer prática de furto.
E assim, depois de sair da fábrica, Luzia corria para o ponto de ônibus.
Isso por que, como tinha aula, não podia perder tempo.
Além do mais, não queria chegar atrasada.
Assim, eram os dias de Luzia.
Sempre cuidadosa, acabava chegando de dez a quinze minutos antes das aulas. De formas que, aproveitava os minutos que antecediam a aula para conversar.
Enquanto isso, Adalgisa, que também fazia o supletivo, ficava na cantina paquerando os homens que por lá passavam.
Contam que certa vez, ao mexer com um homem casado, sua esposa, ao descobrir o assédio, fez questão de aparecer na escola e arrumou uma grande confusão.
Querendo tomar satisfações com Adalgisa, por um triz não se engalfinharam.
Não fosse a turma do deixa-disso, e a encrenca poderia ter tomado grandes dimensões.
Porém, acabou ficando por isso mesmo.
No entanto, mesmo diante dessa confusão, Adalgisa não tomou jeito. Continuando a aprontar das suas.
Durante um certo tempo, um colega de escola, gentil com ela e suas irmãs, sempre que podia, oferecia uma carona.
Educado, sempre que podia as levava para casa.
Mas não foi que Adalgisa cismou com o rapaz?
Adalgisa inconveniente, tanto fez que acabou afugentando o rapaz.
Este, sem ter como escapar, acabou saindo da escola.
Mas, antes, sem saber o que fazer, acabou pedindo para Luzia ajudá-lo.
Todavia, não havia nada que ela pudesse fazer.
Quando Adalgisa cismava com alguém, não havia nada que a segurasse.
Com isso, novamente, Luzia teve que se utilizar de ônibus para voltar para casa.
E assim o fez.
Porém, desta vez, ao voltar para casa, um homem começou a ir atrás dela.
Luzia ao perceber isso, tratou de apertar o passo.
Com isso, o homem também passou a andar mais depressa.
Quando a moça percebeu que não seria fácil se livrar dele, tratou logo de correr, e só parou assim que encontrou um lugar para se esconder.
Nisso, o homem continuou a procurando.
Porém, depois de algum tempo, acabou desistindo e indo embora.
Sua mãe, preocupada com a demora, pediu para que Lélio fosse atrás da irmã. Isso por que, assustada, Luzia não tinha coragem de sair de onde estava.
Temia que o homem voltasse.
Assim, Lélio teve que procurar muito para achá-la.
Como Luzia estava escondida, não foi fácil encontrá-la.
Mas persistente, o moço acabou encontrando-a.
Dessa maneira, sempre que voltava para casa, tomava cuidado para ver se ninguém a estava seguindo.
Contudo, apesar da dureza em que viviam, de vez em quando Luzia e suas irmãs, compravam algumas roupas para usar.
Como o dinheiro era escasso, as peças tinham que ser pagas em prestações. Mas as prestações eram tão longas que as vezes as roupas se acabavam, e ainda havia conta para pagar.
Nessa época, tanto Luzia, quanto Célia e Adalgisa, usavam mini-saia.
Mesmo nos dias mais frios, eram as roupas que tinham para usar.
Maquiagem, só Célia e Adalgisa que usavam.
Mas, pobres que eram, a maquiagem consistia em se passar um pó branco no rosto, e quanto muito, um batom nos lábios.
Célia, nessa época, trabalhava em casa de família.
Como doméstica, passava toda a semana na casa dos patrões.
O que para Juvenal era um alívio.
Em suas palavras, a ausência de Célia era algo bom por que assim, tinha uma boca a menos em casa.
Com uma pessoa a menos em casa, gastava-se menos com comida.
Célia, revoltada com isso, passou a não mais ajudar em casa.
Porém ela também não era fácil.
Ao saber que a louça que iria utilizar para suas refeições, não era a mesma que os seus patrões usavam, passou a lamber toda a louça da família.
Sentindo-se vitoriosa, inúmeras vezes, contou isso as irmãs.
Luzia, ao ouvir os comentários de Célia, tratou logo de adverti-la.
-- Se a sua patroa descobrir que você lambe os pratos dela antes de servir as refeições, ela vai te colocar no olho da rua.
Mas Célia nem ligava.
Além do mais, acredita que nunca descobriram.
Por isso mesmo, Célia trabalhou por muitos anos na casa desta família.
Porém, como nem tudo é só trabalho, as irmãs, bem como suas amigas, sempre que podiam, aproveitavam para passear e ir ao cinema.
Afinal de contas, ninguém é de ferro.
Assim, muito de vez em quando as moças saíam para passear.
Sim, por que era raro sobrar dinheiro para tal.
Além disso, com a proximidade dos exames do supletivo, precisavam aproveitar e estudar.
Afinal se queriam passar, precisavam se dedicar.
Foi o que todas fizeram, inclusive Luzia.
Aplicada, passava dias a fio estudando.
Por fim, foi fazer as provas.
Para sua alegria passou em boa parte das matérias, porém, algumas disciplinas ficaram pendentes.
Com isso precisou estudar mais um pouco, e depois fez novamente as provas.
Nessa segunda tentativa, conseguiu ser aprovada em todas as matérias pendentes.
Dessa maneira, encerrou-se o período de estudos.
E assim, só precisava ir ao trabalho.
Um dia, ao voltar para casa, percebeu dentro do ônibus, que havia esquecido sua carteira, dentro do armário da empresa em que trabalhava.
Ao constatar que estava longe demais para buscar a aludida carteira, conversou com o cobrador, na tentativa de explicar sua situação.
Dizendo que havia perdido a carteira, pediu ao cobrador, para deixá-la passar, pois no dia seguinte, quando encontrasse a carteira, prontamente o pagaria.
O cobrador concordou, e assim, deixou-a passar sem pagar.
Com isso, assim que Luzia encontrou novamente o cobrador, pagou a passagem de dias atrás.
Dessa forma, como não tinha mais que se preocupar com escola, a moça passou a ajudar a mãe na limpeza da casa.
E assim, a vida prosseguia.
Uma vez, quando Luzia e os demais saíram para trabalhar, um estranho adentrou a casa.
Isso por que, sempre que saía, Rute deixava a porta da casa aberta.
Como naqueles tempos, a violência não campeava solta, não havia problema nenhum em se deixar portas e janelas abertas.
Contudo, nesse dia, uma pessoa suspeita entrou em casa.
Quando Rute voltou da rua, depois de acompanhar os filhos até o ponto de ônibus, cansava que estava, resolveu se deitar e dormiu.
Quando acordou, percebeu que algumas coisas na casa, estavam fora do lugar.
Estranhando isso, passou a não mais deixar a porta aberta.
Depois do incidente, sempre que precisava sair, trancava a porta.
Nisso, conforme o tempo passou, Luzia arrumou um novo emprego.
Agora trabalhando em uma fábrica, a moça pôde conhecer pessoas novas, bem como um novo trabalho.
Foi nesse novo trabalho que ela ouviu de uma colega, uma história escabrosa.
A moça, contou para Luzia uma história muito triste que havia acontecido com um conhecido dela.
Esse conhecido, vítima da violência, acabou sendo mutilado.
Como essas, Luzia ouviu muitas outras histórias.
Algumas tristes, outras engraçadas.
Dessarte, agora que Luzia não estudava mais, freqüentemente passava os fins-de-semana ajudando a mãe em casa.
Ultimamente, sempre que saía do trabalho, ia direto para casa.
Utilizando-se dos trens para voltar para casa, certa vez, ao passar na estação, ficou sabendo de um acidente que ocorrera momentos antes, quando uma mulher, ao atravessar os trilhos, levantou a cancela que ficava ao lado e atravessou.
Porém, para sua infelicidade, vinha um trem do outro lado, em sentido contrário, que a pegou em cheio.
Nisso pedaços de roupa, sapato, pé, e de outras partes do corpo da mulher, voaram para todo o lado.
Quando Luzia passou, jazia um corpo estendido no chão.
Como os pedaços do corpo da mulher que haviam se espalhado, já haviam sido recolhidos e colocados ao lado do corpo – agora coberto de jornal, para que ninguém ficasse olhando –, Luzia não chegou a ver o estado em que a infeliz mulher ficou.
Luzia a partir de então, passou a ter mais cuidado quando passava nos trilhos. Isso por que, a cancela só funcionava se o transeunte tivesse paciência para esperar.
Sem isso facilmente, ocorreriam acidentes horríveis como aquele.
Vai ver que foi justamente por isso que cercaram os trilhos do trem.
Talvez tenham feito isso para evitar mais acidentes.
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Luciana Celestino dos Santos
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