Poesias

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Saudosa

“No escurinho do cinema
Chupando drops de anis
Longe de qualquer problema
Perto de um final feliz

Se a Débora Kerr que o Gregory Peck
Não vou bancar o santinho
Minha garota é meio west
Eu sou o chique Valentino

Mas de repente
O filme pifou
E a turma toda logo vaiou

Acenderam as luzes,
Cruzes
Que flagra, flagra...”
(Rita Lee, “No Escurinho)

Lembrei-me dos tempos de outrora
Os tempos de minha antiga meninice
Onde recordo com saudade...

As lembranças que nunca tive
De um tempo suave e breve,
Revolto e sisudo
Lembranças de tempos que não são meus...

Nas ondas do rádio,
Tão longínquas e dolentes
As canções magníficas que eu já gostava de ouvir

Saudosas canções nostálgicas
Doces baladas, melodias românticas
Jackson’s Five, Beatles, Elvis Presley

Lindas canções que remetem
As mais belas épocas
Uma época de saudades
De um tempo que não vivi

Recordo-me que em criança, deitada, dormindo
Sonhava com esse mundo
Que a mim não pertencia...
Ao acordar, não entendia

Porque sentia tão vívida em mim
As lembranças dessas décadas
Recordações tão vivazes!

Os anos cinqüentas
Sua moda, suas vestimentas
Seus vestidos bufantes, compridos e inesquecíveis
E suas camélias a enfeitar

As saias rodadas com poás
Anáguas, blusas, pulseiras coloridas
A pesada maquiagem de suas mulheres

O cabelo cuidadosamente penteado com gel
A “Brilhantina”, fazendo as cabeças masculinas
Sapatos, plataformas, scarpins
Jaquetas de couro, camisetas brancas
Calças jeans, botas de cano curto

No imaginário da época
Havia ainda as Lambretas, Romisetas
Os carros, o deleite da sociedade

A sociedade de consumo que começava a se formar
Limusines, carros conversíveis Buick’s, Mustangues,
Landaus, Cadillac’s Gordinis, e até mesmo Fuscas
Tudo para encher as ruas de roncos e barulhos de motor
As épicas construções do início do século passado

O século XX ...
Surgem nesse momento ...
Repaginadas, com ares modernos
Móveis coloridos, televisões antigas,

Imagens em branco e preto
As séries de TV sucesso no momento “Papai Sabe Tudo”,
Programas nacionais “O Céu é o Limite”,
Jota Silvestre “Almoço com as Estrelas”, “Repórter Esso”

As grandes rádios e os ídolos da época
As novelas saídas do rádio, agora nas telinhas
“Sua Vida me Pertence”, e outras

Como forma de entretenimento
Namoricos na praça...
Lugares bucólicos, aprazíveis
Fontes monumentais,

Belos passeios,
Jardins esplendorosos,
Jardim da Luz, o Parque do Ibirapuera, recém inaugurado

As flores, os monumentos históricos
Saudade de uma época que não mais existe
De uma educação esmerada
De lindas canções de amor, de romances...

De sonhos
Que de leves a brisa os desfez “Blue Moon”,
“Moon Light Serenade”,
“My Way” Frank Sinatra,
Ray Connif, Henry Mancini

Tudo era divertido, um eterno bailar
Luvas brancas, tomara-que-caia
Poás brancos, vermelhos

No jardim, belas esculturas renascentistas
Com a banda ao fundo tocando algum sucesso
“Noturne”, não seria nada mal
Coca-cola, “Bossa Nova”, João Gilberto
Juscelino Kubstchek, “O Presidente Bossa Nova”
Na ilustre canção de Juca Chaves

No cinema, as pessoas trajadas elegantemente
Homens de terno e gravata
“Givenchi”, o sonho de consumo das mulheres
Os desfiles de Moda

A tranqüilidade do centro bem cuidado
Da terra da garoa
A outrora acolhedora cidade de Castro Alves
Dos poetas românticos,
Que com sua neblina envolvente e sedutora

Deu-me vontade de conhecer-te
No seu passado de glória
Que pena não poder te ver assim
Cidade querida

No Rio de Janeiro
O Hotel Quitandinha, em seu eterno esplendor
Os Concursos de Miss
Ah! O Brasil parou para olhar
O ideal de beleza que não mais existe...

“O Cruzeiro”, “Revista Manchete”
Marilyn Monroe e “O Pecado Mora ao Lado”
“Sabrina”, Audrey Hepburn
“A Place in Sun”, Montgomery Clift, Elizabeth Taylor
“Here from to Eternity”, com Burt Lancaster
“Absolutamente Certo”, com Anselmo Duarte
“Apassionata”, “Tico-tico no Fubá”
No eminente estúdio Vera Cruz

A derrota de 1950 e a grande conquista de 1958
O sonho do futebol
O torneio de Winbledon, o tênis
Maria Esther Bueno, a grande conquistadora...

James Dean e sua eterna
“Juventude Transviada”
O rebelde sem causa
E o desidério das jovens dessa geração

As chanchadas da Atlântida, na cidade carioca
Grande Othelo, Oscarito, Derci Gonçalves
Grandes estrelas do nosso cinema nacional

A seguir surgem
Os anos sessentas
Com suas cores psicodélicas, roupas curtas
Minissaia, Mary Quant e suas cortinas
Jovem Guarda,
Roberto Carlos, Wanderléa, Eramos,
Wanderley Cardoso, Eduardo Araújo e companhia

TV Record, MPB
Elis Regina, Jair Rodrigues, “O Fino da Bossa”
Jorge Ben

Os filmes estrelados por essas pessoas maravilhosas
Ditadura, Anos de Chumbo
Da rosa que tortura e mata
Tropicália,
Os Mutantes
“Divino Maravilhoso”
Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque
Gal Costa, Maria Bethânia
Os Hippies, a Contra-Cultura
Geraldo Vandré, os Festivais da Canção

E pensar que todas essas elegantes referências
Pairavam na minha infância
Sem que eu as percebesse
Posto que nunca as sonhara
Somente a eterna sensação de nostalgia
De uma vida que não vivi
De alguma coisa que nunca tive
Tendo somente por companhia,
As minhas saudosas lembranças...

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Efemérides Patrióticas

Sete de Setembro

Glorioso Sete de Setembro
Em que, aos 7 de setembro de 1822 fora proclamada, segundo os historiadores, a Independência do Brasil
Um ato supostamente heróico de Dom Pedro I que teria sido realizado
Às margens do Rio Ipiranga, em razão de um brado seu e do brandir de sua espada
Ao longo dos anos, seguiu-se a tradição de comemorar o Sete de Setembro
Linda cerimônia é organizada nesta data
Militares se esmeram em suas fardas paramentadas
Ricas e ornadas fardas, pertencentes a todos os que servem a pátria
Seja o exército, a marinha ou a aeronáutica
Seguem à pé ou à galope, ou em tanques de guerra
Realizam a salva de tiros e marcham a largos passos, perante um público cioso de suas tradições democráticas
Todos assistem atentos, ao longo do trajeto, o desenrolar do desfile histórico
A marcha dos militares
Ao fundo, o Hino da Indenpendência tocado por uma banda composta por militares, toca:
“...Brava gente, brasileira
Longe vá, temor servil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil...”
Salve, salve o Brasil
Nossa pátria amada.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

DAS VOLTAS DO MUNDO - CAPÍTULO 8

E assim, quando o jovem professor entrou na classe e começou a ministrar sua aula, Leonora, acompanhou atentamente a aula.
Enquanto o professor falava da Expansão Ultramarina, a jovem, atenta a aula, procurava anotar, tudo o que de importante, era falado.
Com isso, o professor pôde perceber, que a moça estava bem.
E em assim, percebendo, continuou a aula.
"-- Somente após a formação de um Estado Nacional Português é que as navegações ganharam impulso.
Isso por que, apesar de somente a partir do século XV, com o desenvolvimento das caravelas, é que o país passou a se expandir.
Neste mesmo século, a Europa apresentava um quadro de denso crescimento populacional; deslocamento dos servos do campo para a cidade; desenvolvimento urbano; escassez de produtos agrícolas e ampliação comercial.
Essa ampliação exigia a expansão em busca de novos mercados produtores e consumidores.
Para complicar, o Mar Mediterrâneo estava dominado econômica e comercialmente pelas cidades Italianas, em especial Veneza.
Por isso, uma Europa, necessitada de novas mercadorias, impulsionou Portugal a enfrentar os desafios do oceano, para muito além de sua costa, em direção ao sul do Atlântico.
Essas, viagens, ficaram historicamente conhecidas como as Grandes Navegações.
Foi o momento da Expansão Ultramarina."
E nisso, Leonora, continuava a anotar as explanações do professor.
Enquanto isso, Fábio, continuava explicando, que a queda de Constantinopla nas mãos dos turcos em 1453, e o fechamento da rota terrestre por onde onde passavam os produtos vindos do Oriente, estimularam mais ainda a busca de um caminho marítimo para as Índias.
Contudo, os passos foram lentos.
Em 1415, houve a conquista de Ceuta, na África, importante base dos mercadores muçulmanos.
Este foi o primeiro porto do Atlântico fora da Europa.
Entre 1416 e 1431, aconteceu a conquista das Ilhas da Madeira e dos Açores.
Dois arquipélagos do Atlântico entre a Europa e a África.
Já em 1434, ocorreu o avanço sobre o Cabo Bojador.
Tal passagem, foi decisiva para a conquista definitiva da África.
Entre o período de 1440 a 1480, veio a conquista de várias ilhas, entre elas a de Cabo Verde e Porto Príncipe, e regiões do Continente Africano, como Guiné e Angola.
Em 1487, o navegador Bartolomeu Dias, dobrou o Cabo da Boa Esperança, no sul da África.
Trata-se da passagem do Atlântico para o Oceano Índico.
Já em 1498, Vasco da Gama chegou às Índias.
E por fim, em 1500, o Brasil foi descoberto, por Pedro Álvares Cabral.
Como se podia denotar, a cada conquista, ou avanço sobre o oceano, somavam-se novas experiências e conhecimentos.
Assim, com a conquista das regiões Africanas e Asiáticas, bem como a instalação de entrepostos comerciais, para as atividades mercantis, Portugal tornava-se a nação mais rica e de comércio mais organizado e lucrativo, de toda a Europa do século XV.
As Índias, representaram uma conquista importante para os cofres portugueses, pois de lá vinham a especiarias, pedras preciosas, marfins, perfumes, açúcar, ouro, prata, tecidos, madeira e porcelana.
Tudo para suprir as imperiosas necessidades econômicas européias.
A rota das Índias pelo Atlântico era muito mais lucrativa do que pelo Mediterrâneo, que incluía um longo trecho por terra.
A primeira viagem de Vasco da Gama foi exemplar para a economia portuguesa.
Com esta viagem, obteve-se um lucro de 6000% (seis mil por cento).
Veneza, por exemplo, jogava no mercado europeu, 420 mil libras de pimenta por ano.
Vasco da Gama, por sua vez, com apenas um navio, jogou 200 mil libras no mesmo mercado.
As viagens pelo Atlântico eram mais longas, mas os lucros compensavam, à medida que as transações comerciais cresciam.
Na última década do século XV, Portugal e Espanha eram as duas maiores potências econômicas da Europa.
A importância de tais reinos, pôde ser medida pelo Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, com a aprovação do Papa, em que ambos dividiam entre si o mundo conhecido ou o que viesse a ser conhecido.
As terras encontradas a leste seriam de Portugal, e as terras a oeste, seriam da Espanha.
No entanto, o mais importante ainda não fora dito.
O que fizera Portugal se lançar ao mar e conquistar tanto poder e prestígio?
Para responder essa pergunta, foi preciso falar um pouco, do período que antecedera a tudo isso.
E assim, o professor começou a falar:
"-- A partir do século XII, com a realização das Cruzadas, estas possibilitaram aos Europeus entrarem em contato com povos diferentes.
As viagens pelo Mediterrâneo, as lutas entre Católicos, Muçulmanos e Bizantinos, acarretaram muitas transformações no cenário Europeu, com o aperfeiçoamento de técnicas de guerra, mudança de hábitos alimentares, novas palavras no vocabulário, e principalmente, o aperfeiçoamento de técnicas marítimas.
Ao longo dos séculos XIV, XV e XVI, os Europeus perceberam que a ajuda divina e da Igreja, não eram suficientes para suas vidas.
Era necessário também, um esforço pessoal nos empreendimentos comerciais, na produção agrícola, no domínio da natureza e no conhecimento de técnicas marítimas.
Enfim, os homens começavam a acreditarem em si mesmos.
Com isso, o Teocentrismo Medieval, dava lugar ao Antropocentrismo Renascentista.
O homem passava agora, a ser a medida de todas as coisas.
Por isso mesmo, no século XV, os Portugueses criaram a Escola Naval de Sagres.
Quando o infante Dom Henrique a fundou, foi dado um passo decisivo para as Navegações Portuguesas no Atlântico.
Esta escola, reuniu os maiores estudiosos do mundo Europeu em técnicas de navegação e lançou ao mar pelo menos um navio por ano para se fazer estudos sobre o oceano, fazer mapas e anotar as posições das estrelas para guiar os navegadores.
E assim, enquanto explica o surgimento da navegação portuguesa, Fábio aproveitava para observar o comportamento de Leonora.
Atenta, procurava como sempre, anotar os detalhes mais importantes da aula.
O professor, portanto, ao vê-la prestando atenção em sua explanação, ficou aliviado, e continuou a aula.
Assim passou a dizer que as tais viagens, eram extremamente perigosas.
Por isso, antes dos navegadores se aventurarem no mar, todos os tripulantes do navio, precisavam assinar o livro de óbitos."
Ao ouvirem isso, os alunos ficaram impressionados.
Um deles chegou até a exclamar:
-- Que loucos!
Com isso, o professor retomou as explicações:
"-- Sim. E mesmo diante da morte, eles não capitulavam.
Desejosos por encontrar riquezas em outras paragens, sem temor da morte, lançavam-se ao mar, em suas embarcações.
Além disso, a primeira expedição comercial às Índias, sob o comando de Pedro Álvares Cabral, em 1500 – encerrando o século XV –, foi o marco definitivo das conquistas do país.
Nessa época, reuniu-se a maior e mais bem organizada frota para chegar às Índias.
Cabral, ao partir no dia 8 de março, o fazia com treze embarcações e mil e quinhentos homens.
Como única recomendação, o Rei Dom Manuel, só pedia ao navegante, que se afastasse o máximo possível das águas conhecidas para descobrir um caminho mais rápido para as Índias.
No entanto, desse afastamento, resultaram vários equívocos.
No dia 21 de abril, avistaram sinais de terra.
No dia seguinte pela manhã, avistaram um monte.
Como era semana da páscoa, deram-lhe o nome de Monte Pascoal.
No dia 23 seguiram os primeiros contornos e descobriram que não estavam nas Índias, por que os tradutores conheciam a língua do Oriente, e ao lá aportarem, estes não compreendiam o que os habitantes da terra falavam.
Assim, fora descoberta a Ilha de Vera Cruz, que depois passou a ser chamada de Terra de Santa Cruz e por fim, Brasil.
Estava descoberto o Brasil.
Mas, no dia 1º de maio, a despeito disso, os navegadores decidiram continuar a viagem em direção as Índias.
Por isso, uma nau voltou a Portugal, anunciando a nova terra descoberta.
Para encerrar a aula, o professor, recitou um poema de Fernando Pessoa.
“Ó Mar Salgado, quanto de teu sal São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
 Valeu a pena?
Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”"

 Ao término da récita, foi entusiasticamente aplaudido pela classe.
Mas ainda não era terminada a aula.
Por isso, continuou dizendo:
"-- Agradeço a todos, mas ainda tenho o que dizer. Esses versos ressaltam a força que o oceano tinha sobre a vida dos portugueses. Além disso, o lema da Escola de Sagres, e dos navegantes dos mares, era: “Navegar é preciso, viver não é preciso”.
Isso explica o enorme interesse dos portugueses sobre o mar. O mar lhes trouxe riqueza e grandeza, e isso para eles, era muito mais importante, do que suas próprias vidas."
E assim, a aula terminou.
Encantadas com a poesia, mais uma vez as garotas tiveram uma oportunidade de conversar com o professor.
Elogiando sua aula, e comentando que ficaram encantadas com a poesia de Fernando Pessoa, mais do que depressa, pediram a Fábio, para que lhes desse uma cópia do poema.
Este, educadamente, se prontificou a lhes trazer.
Contudo, como tinha pressa, tratou de se despedir das alunas e sair da classe.
Ao retornar para casa, acabou encontrando Leonora pelo caminho.
Ao vê-la tão vivaz e contente, ficou satisfeito.
Por isto, quando se aproximou da moça, comentou:
-- Gostei de ver sua atenção durante a aula. Ah, seria um gosto se todos os meus alunos fossem assim como você.
 Ao ouvir isto, Leonora ficou deveras lisonjeada.
Por isso agradeceu as palavras de Fábio:
-- Obrigada. É muita gentileza sua dizer isso. Mas tenho que discordar do senhor em um ponto. Existem inúmeros alunos e alunas dedicadas nesta escola.
Foi então que ele respondeu:
-- Eu sei que você não é minha única aluna dedicada. Existem outros. Mas ainda assim são poucos. E isso é uma pena. Muitos alunos não fazem a menor idéia do quão são importantes estes anos de estudos. Não sabem o que estão perdendo com tamanho desinteresse pelos estudos, e no dia em que perceberem isso, talvez já não dê mais para recuperar isso.
-- É. Eu sei. Muitas das minhas colegas não se interessam pelos estudos. Entendem que essas horas que ficam na escola, é um período em que têm que fazer sacrifícios. -- Sim. Isso é uma pena. Silêncio.
Sem ter o que dizer, os dois caminharam em silêncio.
Constrangidos, não sabiam mais sobre o que falar.
Foi então que Leonora, observando que algumas meninas faziam sinais para que se aproximasse, desculpou-se e despediu-se do professor.
Foi conversar com as amigas.
Nisso, Fábio continuou caminhando, em direção a sua casa.
Estava feliz com os últimos acontecimentos.
Os alunos deixaram de implicar com sua pessoa, todos estavam prestando atenção às suas explanações, e Leonora. Ah!, Leonora.
Esta estava acompanhando sua aula com toda a atenção.
Enfim, após enfrentar alguns problemas com seus alunos, e a chateação por ter sido repreendido por Seu Rubens, finalmente estava tendo momentos bons.
Ao perceber o contentamento do filho, Dona Irene se alegrou.
Isso por que, já fazia algum tempo que ela não via Fábio tão animado assim.
Por isso, encorajada com a alegria do filho, insistiu com a história da formatura.
Quando percebeu a manobra da mãe, ficou logo aborrecido:
-- Pronto. Já não posso contar nenhuma boa novidade, que a senhora vem com essa conversa de baile. Já não conversamos sobre isso?
Mas Dona Irene não desistiu de seus planos.
Queria por queria que seu filho participasse da formatura.
Afinal, ele era seu único filho e durante muito tempo sonhou com isso.
De tão obcecada que estava com a idéia, chegou até a perguntar:
-- Fábio. Mas o que te custa satisfazer um pequeno capricho de uma mãe? Eu só estou te pedindo um pequeno favor. Não estou te pedindo algo que deverá seguir a vida inteira. Está certo? O que te custa? O que é a breve alegria de uma mãe?
Ao proferir estas palavras, Dona Irene sentiu que começou a sensibilizar o filho.
Este ao ouvir o que ela disse, respondeu que:
-- Ei mãe. Eu não posso prometer que vou participar da formatura. Mas quero que saiba de uma coisa. Prometo que vou pensar com carinho na sua proposta. Está bem? Só não posso garantir que a minha resposta será positiva. Está bem?
No que ela concordou.
Entretanto, Fábio fez a mãe prometer que não tocaria mais no assunto, enquanto ele não se decidisse sobre o que fazer.
Afinal, havia muito tempo ainda para pensar nisso.
Assim, não havia razão para pressa.
Com isso, o rapaz conseguiu um pouco de tempo.
E assim, sossegadamente pode almoçar, para logo em seguida, dirigir-se a seu quarto e durante toda tarde, ficar estudando.
Estudando e pensando em Leonora, e na conversa que tiveram enquanto os dois voltavam para suas respectivas casas.
Sim, caminharam juntos por algum tempo.
Mas, foram interrompidos pelos chamados das colegas dela.
Enquanto se distraía com a lembrança da moça, Dona Irene entrou repentinamente em seu quarto.
O rapaz, distraído que estava, nem percebeu a presença da mãe.
Era como se ele estivesse em outro planeta.
Por isso, Dona Irene, tomou todo o cuidado para lhe chamar.
Mas mesmo cautelosa, ao chamá-lo para a atender uma ligação, acabou o assustando.
Fábio distraído que estava, ao ser chamado por Dona Irene para atender um telefonema, deu um pulo da cadeira em que estava sentado.
Dona Irene então, percebendo que assustou o filho desculpou-se e avisou-lhe de que tinha uma ligação para atender.
Nisso o rapaz levantou-se e foi até o telefone, atender a ligação.
Era a turma da faculdade ligando para informá-lo de que a reunião do grupo se realizaria antes da aula.
Com isso, depois que desligou o telefone, retornou para seu quarto e continuou os seus estudos.
Dona Irene por sua vez, ao notar que seu filho estava distraído, começou a especular sobre o que faria ele ficar perdido em seus pensamentos.
Afinal de contas o rapaz adorava estudar e nunca foi de ficar alheio ao que ocorria ao seu redor.
Sim, realmente, o comportamento de Fábio, dava o que pensar.
Mais atenta, Dona Irene, passou a prestar mais atenção em seu filho.
Por isso, durante o jantar – que teve que apressar, dada a hora em seu filho iria para a escola –, aproveitou para lhe perguntar se além do que havia contado à tarde, quando retornou do colégio, havia algo mais, que ele havia esquecido de lhe falar.
Fábio, cauteloso e desconfiado com a pergunta da mãe, respondeu que havia contado todas as novidades, e procurando desconversar, disse que tinha que se apressar, ou acabaria chegando tarde na faculdade.
Assim Dona Irene percebeu, que não seria nada fácil descobrir o que estava acontecendo.
Mas, como é de se esperar, o segredo não ficaria muito tempo escondido.
Entretanto, este é um assunto para mais adiante.
Agora o que interessa é contar que o rapaz foi até a faculdade, conforme o combinado e lá, conversando com seus amigos, aproveitou para descobrir a melhor maneira de dividirem o trabalho que estavam preparando.
Na discussão com o grupo, ficou estabelecido que ele cuidaria da apresentação do trabalho, enquanto o restante do pessoal, cuidaria da redação do mesmo.
Contudo Fábio, por trabalhar como professor, se comprometeu a ajudá-los a organizar o trabalho.
Assim, quando chegou em casa, antes mesmo de dormir, teve o cuidado de dar uma olhada nos livros que tinha em casa.
Dona Irene, ao perceber que o filho ainda não tinha ido dormir, aconselhou-o:
-- Vá se deitar, já esta tarde para você ficar aí, olhando estes livros. Deixe isso para amanhã.
No que ele respondeu:
-- Já estou indo. Só vou olhar uma coisa e depois eu vou dormir.
E assim procedeu.
Contudo, empolgado que ficou com o trabalho, só foi dormir as duas da manhã.
Mas, ao contrário do que sua mãe esperava, Fábio levantou-se na hora certa para ir trabalhar.
Animado que estava, ao sair de casa disse a mãe, que talvez demorasse um pouco para voltar, já que iria aproveitar o tempo na escola, para pesquisar na biblioteca sobre o assunto de seu trabalho.
E assim, quando saiu de casa, foi direto para a escola.
Enquanto caminhava, encontrou Leonora, acompanhada de suas amigas.
Leonora, ao notar a presença do professor, logo o cumprimentou.
Fábio por sua vez, respondeu o cumprimento.
Com isso, as duas garotas que a acompanhavam, encantadas com a presença do jovem professor, aproveitaram para perguntarem sobre as dúvidas que tinham.
Mas este, em percebendo que as garotas queriam arrumar assunto para uma longa conversa, simplesmente disse:
-- Olhe garotas, eu não quero ser indelicado com as senhoritas, mas eu aconselho as duas a me procurarem no horário da aula para fazerem suas perguntas, está bem? Aqui andando, observando esta bela praça, eu só quero me distrair um pouco. Daqui alguns minutos eu posso responder a todas as perguntas. Certo? Vocês não ficam chateadas, não é mesmo?
-- Não. – responderam.
E assim, continuou caminhando.
Percebendo que o silêncio se instalara, resolveu então, perguntar as moças se estas gostavam de estudar no colégio.
As duas moças então, responderam que sim.
Já Leonora, ao dar resposta, comentou que já estudou em outros colégios.
Fábio curioso, perguntou-lhe então, se havia morado em outra cidade.
Leonora respondeu-lhe então, que sim.
Já havia morado em duas outras cidades.
-- Então você não nasceu aqui? – perguntou novamente o professor.
-- Não. Mas já faz quase três anos que eu moro aqui. E o senhor, nasceu aqui?
-- Sim, eu nasci aqui. E também já estudei naquele colégio em que vocês estudam.
-- Ah, sim? Que interessante. – comentaram as duas colegas de Leonora.
 Nisso, acabaram chegando no colégio.
Fábio então, despediu-se das garotas e foi até a sala dos professores.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Vagas

Uma boa ideia perdida, não regressa mais
Voa para longe, em busca de campos mais férteis
E voos mais duradouros

Um texto perdido, um tema perdido
Não tem retorno
Permanece no campo morredouro

Ou talvez parta para novos rumos,
A ser trabalhado por melhores mãos
Uma boa ideia, não volta nunca mais   

Para sempre perdida
Sempre lembrada
Embora não se saiba exatamente como

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

AS CANÇÕES DE MINHA HISTÓRIA

As vitrines com suas belas roupas,
Acessórios e enfeites a adornarem as vidraças
Cenário em contraste com os carros as passar
As passadas apressadas dos pedestres

Todos a correr em busca de um sonho
Sucesso e realização profissional
Money no bolso, é tudo o que todos querem

Que venha a vida com suas mil possibilidades
Se for ficar, que fique comigo
Vamos cultivar a flor do Lácio
Posto que atração, é um trator, um motor,
A fundir nossos universos
Materializando nossos pensamentos
A voragem de nossas idéias não concretizadas

Em São Paulo, passeios pela mais Paulista das avenidas
Em seus faróis que logo se abrirão
E os carros ganharão as ruas da cidade
Passarão pelas ruas, ladeados por imensos arranha-céus

Só quem não te conhece,
Para não admirar-te os encantos
Na cidade onde todos ocupados estão
Em acumular dinheiros,
A contar o vil metal

Por isto, a todos se recomenda
Cuidado com o perigo nas esquinas
E o rio de asfalto e gente,
A germinar pelos caminhos,
Ora sombrios,
Da grande cidade
Oceano de concreto, em um mar de paredes

Seus Manoéis, uns audazes, outros nem tanto
A trafegar pela famosa avenida
Que um dia, detentora de imponentes palacetes
Resolveu um dia, exilar seus casarões
A abrigar hoje uma construção amarela,
Berço de cultura e poesia
Cenário de encantamento e deleite!

Em contraste as paredes acolhedoras,
De uma casa de conhecimento;
O vento de maio, a invadir os ares,
A permear e a envolver a atmosfera,
Com seus frios tons gélidos
A caminhar e a correr pela cidade inconstante,
Assim como nossos pais

Outrora caipiras, romeiros do coração,
E da saudade e de um sertão, que não volta mais

Quantas tardes fagueiras a pescar
Da casinha distante a cuidar,
Das plantações, as colheitas, as matas,
As brincadeiras a beira dos rios
Os passarinhos a cantar,
Com suas penas, suas cores, multicores

Os riozinhos amigos,
Cenários de tantas histórias
Dos encontros e das despedidas
De gente que chega, de gente que vai
Das pessoas que vão, das gentes que ficam
Dos abraços partidos,
Das lágrimas vertidas,
Os olhos cheios d’água
A lacrimar por um tempo já passado,
Distante, e que não volta mais

A saudade, triste palavra
A lembrar a nós todos
Tantas histórias de vida
Tanta tristeza, tantas belas coisas
Tanto passado para na memória se guardar
Histórias reveladas, outras tantas a jazerem
Somente sendo despertadas por eventos inesperados

Pois no meio da noite, a se esperar
Nunca poderemos esquecer-nos
De todos os que daqui partiram

Pois a vida é maior do que a canção
E uma canção é apenas um fragmento,
Da vida de qualquer pessoa
Só quem não te conhece,
Não se apercebe disto
Veleidades das frágeis mentes
Que ficam a vagar
Em cenário distante,
Sem rompantes de a tudo mudar

Quantos caminhos a percorrer
Quantas encruzilhadas por se desfazer
Tantas pedras no caminho
Pedregulhos mil
Falsas pistas a nos desviar,
Dos caminhos que a verdade levam!

E um sol de arrebol, a nos esperar
As estradas falsas,
A nos afastar do verdadeiro caminho

Rostos embrutecidos,
A esconder tanta luz e mistério
São tantas canções e emoções expressas
Em letras melodiosas e poéticas
Negra nuvem a passar,
Apartando as dores e as tristezas da vida     

Deitada no sofá, a ouvir baladas insanas
Buana, Buana,
E um cabelo à la garçon
Como uma fina chuva de vento
A embalar os sonhos infantis
Lembranças escritas nos páramos
Terrenos pedregosos de modesta cobertura vegetal,
De um amor sem fim,
Pela vida, com sua porfia
Contenda pertinaz com as palavras,
Os mistérios de seu lidar

A seguir de trem pela estação da vida
A contemplar a chegada do verão
Na estação da luz
Quantas paisagens a se observar
Quantos passeios para se fazer
Caminhadas

Lembrar das ruas, seus ramalhetes
Abraços, de um sonho a mais
Que não faz nada mal
Anjo

Pensamentos, na casa,
Apartamentos perdidos na cidade
Da cidade que todos conhecem,
Desconhecendo
Luz e pedras!

A desvendar seus olhares,
Neste véu escuro,
A desfolhar os mistérios da cidade
Construções grandiosas,
Monumentos
Parques, estátuas, pombos

Leituras enfindas
Caminhar ao som de canções
As canções me alcançar
Coração civil,
De uma interessada estudante,
A ter saudades de seu tempo de escola

Na estrada do sol,
A caminhar de manhã
Sem relva, sem orvalho, sem flores
Amparada por suave brisa

Até se chegar a um sonho de planeta
A contemplar um profundo mar azul
Todo o azul do mar,
A perder a visão em tão hipnótico cenário

Tanto tempo eu sei
A pensar, a sonhar, a viver
Carrossel a girar em seu sol
Como um país todo em flor

Músicas a construírem novas realidades
Em se ter na vida simplesmente
Uma casinha com janela,
A contemplar um lindo nascer do sol

Luz do sol, a ser cuidadosamente
Elaborada pelas flores,
Através da seiva das plantas,
Das fagueiras manhãs

Tardes frias de se ver,
Oceano de se olhar 
Que saudade da Serra do Luar
E poder voltar para se contar
Tantas viagens feitas,
Tantas coisas para se mencionar
Canções para se ouvir,
Descobrir e apreciar
Continuo a caminhar
Longas passadas ...

Um sonho de valsa a nos embalar!

Estas são, algumas das canções de minha história
Vivência onde não se cabe apenas uma canção
Para uma pessoa que não tem apenas,
Uma música em sua vida!

Pois todas em grande ou pequena parte,
Lembram os passos, os caminhos,
Os tropeços de uma jornada

E assim, todas, são as canções
Da minha vida,
Todas as belas melodias que me encantam,
Assim, como outras tantas serão 

Como a lembrar de passagens da vida:
Água de beber
Sede viver
Eu era criança,
E hoje você o é!

Viver as noites com sol ...
E entender o que a rosa diz ao rouxinol
A singeleza das pequenas coisas!

E o solstício, fenômeno de longos dias
Em virtude da inclinação do eixo terrestre,
Rivalizado com o efeito das noites,
Sem brumas e sem escuridade,
Para além das Américas ou da Europa,
Onde o sol não se põe por longas horas,
Longos dias, eternamente iluminados 

Música a entoar pelos caminhos
Ecoando pelos dial’s dos rádios
A permanecer por longos tempos
Em profusa sintonia
A contar uma romântica história

Músicas, e mais músicas!
Todas as fazerem parte de nossas vidas,
Como se feitas fossem para nós,
Sendo então, feitas para nós
Dirigem-se como flechas aos seus destinos,
Sempre certeiras

São as flores do jardim de nossa existência
A perfumar as nossas vidas
Com o frêmito de muitas emoções
Mil vidas que compartilhamos,
De alguma forma,
Sentidas e vividas por nós!   

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

*arrebol
substantivo masculino
1. cor avermelhada do crepúsculo.
2. POR METONÍMIA - a hora em que o sol está surgindo ou sumindo no horizonte.

*porfia
substantivo feminino
1. contenda de palavras; discussão, disputa, polêmica. "adorava uma p. calorosa"
2. qualidade do que é persistente; insistência, perseverança, tenacidade.

*pertinaz
adjetivo de dois gêneros
que demonstra muita tenacidade; persistente.

*frêmito
substantivo masculino
1. som estrepitoso, ruído surdo; estrondo, bramido, estrugido. "f. dos trovões"
2. som frouxo, mas áspero
Conforme consulta ao Google - Dicionário.

*páramoˈ parɐmu
nome masculino
1. campo solitário, raso e deserto
2. lugar ermo e desabrigado
3. campos das altas montanhas (3000 a 4000 metros de altitude) da América do Sul
4. abóbada celeste; firmamento
5. cume; ponto mais alto.


                   

A LUA, O TREM, A JORNADA, O CAMINHO

A lua com seus ornatos multiformes
Atuando de forma desconforme
Em altaneiro cenário abobadado
Ora se faz brancura,
Linda e redondamente branca
Aos poucos vai se findando,
Minguando dia a dia

Postando-se no céu de forma mais elevada
A fazer variadas poses
Como se caminhasse em seu firmamento
Dando passadas cada dia mais longas
Distanciando-se mais e mais dos olhares
De seus poucos admiradores e amantes apaixonados

Um céu carente de estrelas
Poucas ainda teimam em brilhar em seu firmamento
Mas iluminam o céu escuro
Breu profundo

A lua a mostrar suas formas
Arredondada, branca,
Ora manchada em negro manto de poluição
A diminuir suas formas, até sumir de nossos olhares   

Inicialmente uma forma quase arredondada
A se desfazer aos poucos no horizonte
Linda em seu espetáculo noturno de transformar-se

A forma quase redonda, a diminuir os contornos
A ficar cada vez mais fina, mais esquálida
Até sumir nos céus
Obumbrada pelos movimentos de outros astros celestes
Nova configuração

Até novamente mostrar-se em seu formato cheio
Opulência branca
Mal posso esperar para admirar tanta beleza!
Natureza cíclica

E assim, a lua segue seu curso
Mostrando com suas transformações,
As mudanças por que passa o tempo
O tempo, sempre o tempo,
Cavalheiro tão inconstante

E o trem a atravessar as escuras e obscuras madrugadas
Em meu caminho de prédios antigos, construções abandonadas         

Uma velha chaminé de fábrica,
A soltar um pouco de fumaça, durante os dias fugidios
Chaminés a me acompanharem em meus caminhos
Em quase todos os destinos que faço
São Paulo, São Caetano, Santo André

Troleibus a circular por caminhos de prédios novos,
E construções abandonadas
Promessas de melhores tempos,
Com melhores moradas para se habitar

Ao chegar na estação férrea
Aglomerado das gentes, a se ajuntar quando o trem se aproxima
Condução dos moradores do ABC,
Migrantes nordestinos em grande parte,
E outros naturais do lugar,
Como uma simples moradora,
Há muitos anos afastada, e agora ocupante de um espaço no trem

Trem de cenários abandonados,
Fábricas e galpões envelhecidos,
Telhados tortos, telhas caídas,
Mato a crescer por todos os cantos,
Por todas as paragens
A rivalizarem com as belas árvores frondosas, que ainda compõe o caminho
Para embelezar um pouco a vida árida dos viandantes
Por que percorrer o mundo, atravessar cidades,
Visualizar novas gentes
A dispersar o cenário lúgubre

É uma aventura de todos os dias
Viagem diária, migração pendular
A em pé permanecer,
E o trem a percorrer os trilhos de um tempo presente
Memórias de um tempo passado
Assaz distante, recuado num tempo de mudanças velozes
A tremular ao sabor dos trilhos imperfeitos
E os passageiros embalados pelo balançar inconstante do trem

Diariamente a aguardar o trem na plataforma
E a esperar que não ocorram transtornos
Com a multidão constante, a invadir os trens, e as escadas
Enxame de abelhas a invadir escada açucarada,
Como se fora favo de mel

O trem a rasgar a escuridão da noite
A vislumbrar o dia amanhecendo aos poucos
E a escuridão da noite, azular,
Em seus tons escuros, clareando aos poucos

Certos dias, um lindo amanhecer alaranjado
Com certos tons amarelos

Presenciar um belo amanhecer pela janela imensa
Abraçar um mundo de prédios
Construções contornadas pelos tons da madrugada,
Azuis a comporem a atmosfera,
Cada vez mais definida!

Azul marinho, a se tornar cada vez mais claro
Abrindo os caminhos para a manhã
E o trem a contornar caminhos,
A percorrer silos, entrepostos
Construções de tijolos à vista
Até chegar ao seu destino
E a despejar as gentes em uma nova plataforma
Lagoa de gente a inundar escadas e caminhos

E a lua cada vez mais clara,
A se dissolver na claridade do dia
A pegar metrôs, em suas linhas coloridas
Verde, azul e vermelha
Para finalmente se chegar em algum lugar

Em tempos mais escuros
Caminhos de breu,
Andados a passos rápidos,
Em direção ao destino
Em prédio, em ermo lugar nas manhãs, madrugadas escuras
Noites escuras
Ladeado a jardim com frutas,
Maciços de beri amarelos, árvores com flores amarelas
E o chão do caminho com pedras, paralelepípedos
Substituído por concretos em grande parte
E o sol a aquecer as tardes, e queimar as peles dos passantes
A ter por consolo, a suave brisa da tarde

Em domingo de manhã,
A realizar densas provas
São Paulo de outrora a dar o ar de sua graça
Em textos repletos de muita poesia

Pensamento povoado de intrincadas questões
E o voo das aeronaves a riscar os céus com constância
Diversas companhias a riscarem os ares
Assim como naves de pequeno porte

Céu azul, de densas nuvens a embelezarem a tarde azul
Lindo jardim a enfeitar saída de estacionamento
Lugar de acessos intrincados, complicados
Como num labirinto

Passeio em meio a shopping repleto de lojas vazias
A regalar-me com lauta refeição
Feita com muitas e saborosas iguarias
Mariscos; camarões; bolinhos caprichados; arroz com cenouras cortadas em diminutos pedaços, presuntos com igual corte; cenoura cortada, milho; peixe com alcaparras, medalhão de frango; camarão na moranga; suco de laranja
Regalado repasto
Um festival de sabores e de sensações maravilhosas!

A tarde, mais provas,
Na mais dura prova que é viver
Enfrentar a vida, para que assim se possa melhores caminhos escolher
De um viver poético e incessante

Cidade de prédios imensos, belas construções
Lugares aprazíveis
Assim como de lugares horríveis, feios, sujos, solitários, abandonados
Cenário de ricos e dolorosos contrastes

E assim, em meio a extenuante dia de dedicações
Em meio a interminável espera em meio a trânsito infernal
Sentar em meio ao gramado, em uma mureta
Banco improvisado
A multidão, lagoa das gentes, a se ajeitar no concreto duro das calçadas
A conversar para matar o tempo,
Ou esperar a vida passar, e a carona chegar

O regresso para o lar em meio a trânsito e engarrafamento
Em meio a cenário de ruas vazias, caminhos sinuosos,
Longas e imensas avenidas, oceano de carros

A chegar em casa para descansar,
Depois de muito labutar

Labuta que acontece de diversas formas no palco da vida
Trabalhar, estudar, aprender, conhecer, viver, sofrer
Realizar provas testes, escritas, estudos, ensinos,
As provas da vida

E a lua a ressurgir no palco da noite
A retratar as passagens do tempo
A sinalizar que tudo se transforma
Para permanecer constante
Afinal de contas:
Tudo nunca é sempre muito igual!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Faz de Teu Sonho A Bandeira de Tua Vida!

Faz de teu sonho a bandeira de tua vida
Pendão de tua existência!
Lute por seus ideais, acredite em suas possibilidades!
O mundo é uma estrada de infinitas possibilidades
E o teu sonho só não pode ser menor que o seu mundo!

E vivendo e sonhando, seguimos nossas vidas
E de sonho em sonho, vamos construindo nossas realidades
E assim sigo sonhando
E pisando em poeira de estrelas, tropeçando nas fantasias
Delineando novos encantamentos, e novos sonhos ... 

Sonho um sonho irrealizado
Encontro marcado em um cenário azulado
Repleto de luar
Atmosfera vaporosa a enfeitar,
Uma bela morada
Com seus quartos arrumados,
Colcha a emoldurar a cama,
Objetos guarnecem o quarto com bibelôs e criatividade
Além de inventividade e beleza

Ao fundo no quintal banhado pelo luar
Uma moça que percorrera os cômodos da casa
E apreciara os pequenos detalhes de um quarto especial
Avista um vulto
É um alguém que a espera,
Diz uma voz que não se sabe de onde vem

E moça com seu lindo vestido
Lindo vestido claro, de longa saia, alças
Sai em direção ao quintal, o jardim

A jovem aproxima-se do vulto
Indiviso em meio a noite
E o vulto aparece
Mostra sua face, seu semblante, suas vestes
Estende sua mão a jovem
E embalados, ficam a valsar sob a luz da lua

A moça segura a barra do vestido,
E com a outra mão, segura a mão do moço
De longe, alguém parece observar a cena 
Do casal dançando, unidos ...

Em outro devaneio
Uma moça procura um jovem, em meio a simplórias construções
Procura, procura ...
Em dado momento, um moço aparece
A garota parece conhecê-lo
Caminham unidos ...

E os sonhos prosseguem turvos, indefiníveis, indecifráveis!
Sonho sonhos de casas, construções
Sonhos de passados distantes
Histórias vivificantes 
 
E entre os sonhos etéreos inconclusos
Há os sonhos de um mundo melhor, uma vida melhor
A fazerem de nossas vidas, um norte
Bandeira de nossas existências 
Obra de arte de tua existência!
Sonhos de ideais, alegrias e mortes
Simbólicas mortes!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.