Rubens então comentou, que estava só brincando.
Não era para eles levarem tão a sério a brincadeira.
Com isso, deu-se início a reunião.
Engajados, os militantes começaram discutir sobre os próximos passos. Decididos a agir, acreditavam que podiam modificar o país.
Daí o idealismo dos jovens que a todo o custo queriam derrubar aquele governo retrógrado e ditatorial.
Porém, o que eles não sabiam naquela época, é que para mudar o mundo, não basta ter boa vontade, é necessário que todos participem.
Quando Flávio se deu conta disso, sentiu um enorme aperto no coração. Isso por que, também ele acreditava que poderia mudar o mundo, aliás, como todos os jovens daquela época. Agora se perguntava: Como pôde ser tão romântico e acreditar em contos da carochinha?
Nem ele mesmo entendia.
No entanto, nunca se esquecia daqueles tempos.
E apegado a esse tempo, ficava a pensar e a lembrar.
Pois bem, como era de se esperar, Flávio e Lucimar, assim como seus amigos, estavam cheios de idéias. Planejando os próximos passos que dariam, ficaram durante longas horas conversando.
Mas não só horas. Nos dias que se seguiram, o assunto não podia ser outro.
Assim, quando os jovens não estavam no ‘aparelho’, discutindo os planos, Lucimar e Flávio aproveitavam para namorar um pouco.
Isso por que, nos últimos dias, a questão política vinha absorvendo boa parte do tempo de ambos.
Com isso, sempre que tinham um tempo livre, aproveitavam para ficarem juntos.
Neusa, sempre que via o casal, comentava que nunca tinha visto união mais feliz. Sempre juntos, pareciam estar em eterna lua-de-mel.
Contudo, não seria por muito tempo que os dois seriam vistos sempre juntos.
Mas ultimamente, tudo estava indo bem.
Distribuindo panfletos para a população, os dois estavam tranqüilos.
Tão tranqüilos, que ao final do trabalho, os dois aproveitavam os becos, para se abraçarem e se beijarem, longe de olhares curiosos e moralistas.
A única vez em que distribuíram panfletos e a polícia apareceu, os dois, prevenidos quanto a essa possibilidade, trataram logo de sumir, no meio da multidão. Discretos, conseguiram rapidamente se evadir do local.
Acostumados com a confusão, chegaram até a rir.
Com isso, os planos para uma nova ação, estavam sendo cuidadosamente planejados.
Rubens e Alexandre, cautelosos porém, ao perceberem que o projeto do grupo dava seus contornos finais, pediu a todos que tivessem calma.
Dessa forma, só restou aos mesmos, aguardarem as ordens de seu líder para agirem.
Mas Flávio e Lucimar estavam impacientes. Queriam por queriam que tudo começasse antes.
Foi nesse período, em que o casal estava mais unido que nunca.
Chegaram até a viverem juntos.
Foi nesse período que a moça contou a Flávio que estava grávida.
O rapaz, ao saber da novidade, primeiramente, tomado de surpresa, precisou sentar-se. Depois, procurando se acostumar com a idéia, ao dar-se conta da mudança pela qual passaria sua vida, começou a gostar da idéia.
Flávio ficou tão encantado com a idéia de ser pai, que preocupado com Lucimar, chegou a proibi-la diversas vezes de participar das ações do grupo.
Mas, teimosa que era, a moça sempre enfrentava o rapaz. Dizendo que nunca na vida alguém lhe dera ordens, a não ser quando era menina, comentou que ele não tinha o direito de controlar sua vida.
Flávio, por sua vez, também não aceitava a posição da namorada. Considerando-a atrevida, respondia a todo o momento que ela não podia se arriscar, estando grávida.
Lucimar por sua vez, retrucava dizendo que sempre quis integrar um movimento como aquele e que portanto, nada no mundo a impediria de continuar participando de tudo. Além do mais, ressaltava sempre, já estava envolvida até o pescoço com tudo aquilo. Portanto, agora era muito tarde para abandonar tudo, até por que, se alguém fosse pego, acabaria por entregá-la.
De formas que, não havia saída.
O moço, ao dar-se conta disso, ficou ainda mais preocupado. Porém, ciente de que Luci dizia fazia sentido, acabou aceitando sua permanência nas ações do grupo, desde que quando se sentisse mal ou visse alguma movimentação estranha, fosse para casa.
A moça concordou.
Flávio, então, percebendo que estava conseguindo aos poucos convencê-la do risco que corriam, pediu a mesma, que quando a barriga começasse a aparecer, para que ela parasse um pouco, e não participasse, ao menos não diretamente, das ações.
Lucimar concordou também com isso.
Desta forma, a discussão se encerrou.
Com isso, a moça continuou a distribuir panfletos, e a fazer discursos para tentar convencer mais gente a fazer parte da militância.
Porém, nos últimos tempos, tudo o que esses jovens conseguiam, era cada vez mais chamar a atenção da polícia.
Curiosamente, a polícia parecia adivinhar seus passos.
Antes mesmo de agir, lá estava a polícia pronta para acossá-los e prendê-los.
Por isso mesmo, eram cada vez mais comum as corridas para fugir da polícia.
Lucimar a essa altura, cada vez menos ágil, era um alvo fácil para a sanha dos policiais.
E foi justamente por isso que a moça foi presa.
Contudo, antes de ser presa, Luci teve um sonho bastante estranho.
Sonhando que estava num barco, no Rio Amazonas, trajada com farda militar, viu todos os seus companheiros vestidos da mesma forma.
Estavam em uma missão na floresta.
Entrementes, antes de pisarem em terra firme, o inesperado aconteceu.
A ‘gaiola’ – embarcação típica do lugar – passou a fazer movimentos bruscos, jogando parte dos militares no rio.
Lucimar, percebendo que a confusão se instalara, fez de tudo para tirar os companheiros da água.
No entanto, por mais que tentasse encontrar formas de ajudá-los, nada conseguiu.
E os companheiros arremessados na água, foram desaparecendo lentamente, como que sendo engolidos pela água.
Mas o pior ainda estava por vir.
Isso por que, além dos movimentos bruscos realizados pela embarcação, vinha agora a clara informação de que a mesma estava afundando.
Foi então que o desespero então se instalou e muitos dos militares que estavam na embarcação, sem encontrar uma maneira de se salvarem, começaram a se atirar no rio. Tudo na vã tentativa de nadarem até uma das margens do rio e assim, se salvarem, e quem sabe até, procurarem auxílio para os demais.
Todavia, somente alguns deles conseguiram chegar até a margem.
Já os que ficaram, até o último momento no barco, acabaram mortos.
Tragicamente, no sonho, ela, tentando sair do barco, acabou presa em sua cabine. No desespero, não conseguindo abrir a porta para sair da embarcação, afundou juntamente com o barco.
Somente Flávio conseguiu escapar e boiar nas águas do rio.
Mas não por muito tempo.
Isso por que, antes do barco afundar, foi dado o sinal para que alguém os localizasse, e resgatasse os náufragos.
E assim, alguns dos militares conseguiram escapar. Porém, nem todos.
Lucimar, então, que dormia profundamente, acordou sobressaltada.
Flávio, percebendo o movimento brusco, perguntou a ela, se estava tudo bem.
A moça, então, respondeu:
-- Sim.
Mas Flávio percebeu que ela estava um pouco assustada. Por esta razão, foi logo perguntando o que estava acontecendo.
Lucimar porém, continuava insistindo dizendo que tudo estava bem.
O rapaz contudo, não se convencia nem um pouco com suas palavras. E assim, pressionando a moça, acabou descobriu que a mesma havia tido um sonho muito estranho.
Flávio ouviu tudo atentamente.
Porém, não levou o sonho a sério.
Dizendo que sonho não era realidade, recomendou a moça que não levasse aquilo a sério. Brincando, chegou até a dizer, que ela tinha muito mal gosto em ficar sonhando com fardas militares.
Mas Lucimar, não dava mostras de que isso a tranqüilizava.
Por isso mesmo, Flávio a abraçou e pediu-lhe, que caso tivesse um outro sonho como aquele, era para ela acordá-lo.
Lucimar concordou e Flávio não desgrudou nem um minuto dela.
Com isso, conforme se seguiram as horas, mais um dia iniciou-se.
Um dia de muito trabalho, diga-se de passagem.
Nesse dia, seria dado um grande passo.
Era um dia decisivo.
Flávio e Lucimar, prontos para a aventura, começaram logo cedo a distribuírem panfletos pelas ruas da cidade. Mais tarde, participariam de uma manifestação pleiteando a soltura de alguns presos políticos.
Assim, foi.
Quando os militantes estavam participando da manifestação, os militares, ao contrário do que se podia imaginar, começaram a agir na surdina. Cautelosos, não queriam dispersar a multidão, ou acabariam deixando os líderes do movimento fugir. Por isso mesmo, precisavam ser precisos.
Dito e feito.
Mais preparados, com um grande contingente policial, acompanharam a manifestação por quase duas horas.
Até mesmo Alexandre, Rubens e Neusa estranharam toda aquela tranqüilidade. Isso por que, quando ocorriam grandes manifestações como aquelas, era fatal a presença da polícia e a confrontação.
Mas desta vez não, estava tudo calmo.
Assim, os três começaram a desconfiar de tanta calmaria. Contudo, quando se deram conta de que tudo não passava de uma armadilha, já era demasiado tarde.
Os policiais, que até então aguardavam o momento oportuno para agir, ao perceberem quais eram as lideranças do movimento, trataram logo de fechar as saídas.
Com isso, prendê-los era apenas uma questão de tempo.
Quando Neusa, Rubens e Alexandre perceberam que estavam sendo vigiados pela polícia, trataram logo de correr. No entanto, ao chegarem num determinado ponto, acabaram encurralados. Isso por que, não tinham mais para onde ir.
Desta forma, acabaram presos.
Por sua vez, Flávio e Luci, ao perceberem a presença da polícia, fizeram de tudo para se misturarem a multidão, que nesse momento, começava a se dispersar. Durante algum tempo, a estratégia deu certo. Porém, os mesmos já haviam sido identificados.
Assim, não demoraria muito para também serem pegos.
E assim foi.
Flávio, tentando dar cobertura para a fuga da namorada, foi o primeiro a ser pego. Ao perceber que não tinha como escapar, gritou para que a namorada corresse.
Mas Luci, preocupada com a situação, olhou um breve instante para trás, e só depois dele gritar para que ela corresse, é que ela continuou a carreira.
Isso facilitou o trabalho dos militares que mais acostumados a correr, acabaram pegando-a também.
E Lucimar, por mais que lutasse, não conseguiu escapar.
Desta forma, todos foram conduzidos até o Dops.
Outros manifestantes também foram presos.
Mas o que interessava aos policiais, era realmente dar uma lição nos líderes do movimento. Cortando as asinhas dos líderes, como costumavam dizer, fatalmente dobrariam os demais.
Foi então que começou a sessão tortura.
Os primeiros a serem torturados, foram Neusa, Alexandre e Rubens. Considerados os coordenadores de toda aquela manifestação, começaram logo a apanhar.
Neusa, foi a que mais sofreu com as agressões.
Por ser mulher, acabou sendo molestada pelos policiais. Com certeza o pior mal que fizeram a ela.
Mas também não foi fácil para Alexandre e Rubens. Estes além de levarem socos, pontapés, e choques, sofreram pequenas queimaduras com cigarro.
Já Flávio e Lucimar, foram poupados num primeiro momento. Isso por que o delegado, não acreditava que os dois fossem os principais agitadores. Assim, se ambos contassem aos policiais, tudo o que sabiam, talvez nem sequer tivessem sido torturados.
Mas Flávio insistia em dizer que não sabia de nada.
Insistir nisso, só fez as autoridades policiais ficarem irritadas.
Tão irritados, que depois de algum tempo, os policiais começaram a também agredi-lo.
Mas, por mais que o maltratassem, nem por um instante ele sentia vontade de contar o que sabia.
Os policiais, percebendo isso, resolveram chamar Lucimar para um interrogatório.
Foi então que a moça, que até então estivera presa, mas que não sofrera nenhum tipo de agressão, começou a ser ameaçada e pressionada.
O delegado, dizendo que ela se arrependeria se não contasse tudo o que sabia, fez de tudo para intimidá-la.
Lucimar porém, não aceitava as intimidações. Dizendo que não sabia de nada, acabou também provocando a ira do delegado.
Mas ele no entanto, não deixou que a moça fosse espancada pelos policiais. Pelo menos não por enquanto.
Somente a espancaria se não houvesse outro meio de fazê-la falar.
Não espancá-la, foi o que impediu que ela perdesse o filho que estava gerando.
Isso por que, antes de sequer cogitar aplicar tortura, o delegado tentou de todas as formas possíveis fazê-la falar.
Debalde, Lucimar, por mais ameaçada que fosse, não dizia nada.
À certa altura, o delegado, cansado disso, ordenou aos policiais que a levassem de volta para a cela. Porém, antes dela sair da sala, o mesmo advertiu que nada mais poderia fazer para preservar sua integridade física.
Lucimar estremeceu.
Isso por que, grávida de quatro meses, sabia que não podia colocar a vida de seu filho em risco.
Contudo, não podia também, delatar seus amigos. Pessoas que a aceitaram em suas vidas e que confiaram nela.
Estava diante de um dilema horrível.
Mas, por mais que temesse pela vida do filho, não podia abrir mão da amizade, e assim, resolveu arriscar.
Arriscou, e ao ser levada para a sala de interrogatório, depois de ser bastante pressionada, os policiais, resolveram aplicar-lhe a primeira tortura.
Toda a vez que eles lhe perguntavam alguma coisa e ela nada lhes respondia, os mesmos, enfiavam o rosto dela numa tina d’água e seguravam-na até que a mesma perdesse o fôlego. Depois, retiravam sua cabeça da água e novamente lhe faziam a pergunta.
Lucimar, teimosa, nada respondia.
Era o suficiente para que a operação fosse repetida. E repetida, repetida. Repetida até a quase exaustão.
Mas não era o suficiente para fazê-la confessar nada.
Irritados, com o passar do tempo, as torturas foram se tornando cada vez piores.
Vieram os socos, os pontapés, os choques. Enfim, todo o tipo de sevícias.
Com isso, os policiais, ao perceberem o estado gravídico da moça, dado que sua barriga crescia a olhos vistos, utilizaram-se deste fato para tentar convencê-la a entregar seus companheiros de luta, revelando os próximos passos do grupo, onde se encontravam, e tudo o mais.
Debalde.
Nem ameaçando a vida da moça e de seu filho, a mesma se convencia que o melhor caminho era ser dedo-duro.
Irritado, o delegado, vendo a delicada situação da moça, resolveu mandá-la de volta para a cela.
Foi nessa época, que um dos carcereiros, compadecidos com sua situação, se empenhou o máximo possível para ajudá-la.
Todavia, não havia forma dele impedir que as sessões de tortura, prosseguissem. Como simples funcionário da carceragem, não tinha poder de influência sobre os policiais. Mas, de seu jeito, fazia o que era possível, para tornar os dias de Lucimar na prisão, menos penosos.
Preocupado, mesmo correndo o risco de ser pego pelos policiais, sempre que podia, levava recados dos amigos e de Flávio, para a moça, e vice-versa.
Sempre que via Lucimar abatida e amuada em um canto da cela, tentava lhe dizer palavras consoladoras:
-- Não se preocupe Luci. Tudo vai dar certo. Você vai sair daqui. Não tenha medo.
Em vão, Lucimar sentia que do jeito que as coisas iam, não seria tão fácil sair dali.
Em decorrência das sevícias que sofrera, a moça estava estava muito mal. Tão mal que diversas vezes foi parar na enfermaria. No últimos meses de gravidez, Lucimar passou boa parte do tempo por lá. Abatida, debilitada, foi na enfermagem do Dops, que ela deu à luz a uma bonita criança, que mesmo sendo forte para resistir às sessões de tortura junto com a mãe, havia sofrido as conseqüências de tudo o sofrimento que lhe fora impingido.
A criança, além de nascer prematura, nasceu com pouco peso. Sua situação era tão crítica que ninguém acreditava que ela sobreviveria.
Mas sim.
Quem não agüentou viver muito depois do parto foi a mãe, que depois de algumas semanas tentando cuidar do filho, foi novamente levada para sua cela. Mesmo sem condições de voltar para a carceragem, a moça foi deixada em sua cela.
Todavia, sem a adequada assistência de médicos e enfermeiros, depois de ser levada para um novo interrogatório, a moça, abalada emocionalmente, acabou tendo sua situação agravada.
E diante disso, apesar de não ter sido espancada, foi novamente levada para a enfermaria, e lá, em menos de dois dias, faleceu.
Seus amigos, Neusa, Rubens e Alexandre, extremamente combalidos, depois de meses presos, acabaram revelando todos os planos que pretendiam executar. Além disso, revelaram onde ficava o ‘aparelho’.
Flávio, por sua vez, mesmo sendo torturado constantemente, não entregou os amigos.
Mesmo preocupado com a situação de sua namorada, manteve-se fiel ao que acreditava até o fim.
Quanto a ele, ao sair da cadeia, não tinha a menor idéia de que seu filho já tinha nascido e que sua namorada estava morta.
Porém, determinado a descobrir por que ela não havia sido libertada, empenhou-se com seus amigos, para que isto acontecesse.
Assim, qual não foi sua surpresa, ao descobrir que a moça havia falecido na enfermaria do Dops?
Arrasado, recusava-se a acreditar que tal barbárie tinha sido cometida. Tentando se convencer de que ela estava mal, mas viva, relutou para acreditar em tudo o que lhe dissera o carcereiro que acompanhou o sofrimento de todos na cadeia.
Este homem, que sempre procurava informar a todos da situação dos outros presos, depois que Luci foi levada para a enfermagem, perdeu o contato com a moça. Por esta razão, nos últimos tempos, a única coisa que sabia era que ela havia tido o filho, mas que estava muito mal.
Flávio, ao saber disso, inquiriu o carcereiro, lhe perguntando, por que este não lhe havia contado o que sabia.
Foi então que o rapaz disse, que acreditava que os policiais desconfiavam dele. Assim, não poderia se arriscar. Ou então, acabaria preso, como os outros.
Rubens, percebendo a exaltação do amigo, pediu a ele que não brigasse com o carcereiro. Até por que ele havia feito tudo o que podia para ajudá-los. Ajudou-os mesmo sabendo que estava colocando o próprio pescoço a prêmio.
Flávio, então, percebendo que se excedera, pediu desculpas ao pobre homem, que só quis ajudá-los.
Porém, ao cair em si, percebeu que o carcereiro estava certo. Provavelmente, Lucimar estava morta.
Ao dar-se conta disso, o rapaz entrou em um profundo desespero. Enlouquecido, não conseguia raciocinar direito.
Tanto que foram seus amigos que perguntaram sobre a criança.
O carcereiro então respondeu que a criança ainda estava em poder dos militares. Contudo, se o rapaz queria o menino, devia agir rápido.
Os amigos de Flávio ao ouvirem essa conversa, perguntaram ao carcereiro, o por quê disso.
Ele então respondeu:
-- É por que, se vocês não fizerem alguma coisa, a criança vai ser entregue a adoção.
Neusa, Rubens e Alexandre, ao saberem disso, ficaram revoltados.
Com isso, imbuídos num espírito de solidariedade, os três moveram céus e terra para conseguirem recuperar a criança.
E assim, mesmo arrasados com a perda da amiga, procuraram ajudar de todas as formas Flávio.
Mesmo Neusa, que ficara muito sentida com a perda da grande amiga, e abalada com tudo o que lhe sucedera na prisão, ainda procurava encontrar uma razão de viver.
Flávio contudo, arrasado com a perda, demorou para se dar conta de que tinha um filho e que tinha que cuidar dele.
Sim, por que não seria tarefa nada fácil cuidar de uma criança pequena sozinho.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
quinta-feira, 8 de abril de 2021
GERAÇÃO 70 - CAPÍTULO 5
GERAÇÃO 70 - CAPÍTULO 4
Com isso, Neusa, prestativa, se oferecia para participar de todos os projetos do grupo.
Todavia, em razão dos últimos acontecimentos, como a confusão no auditório e a ameaça de serem pegos, os integrantes do grupo, estavam cautelosos. Não podiam arriscar.
Por isso, resolveram se aquietarem um pouco. Enquanto isso, planejavam novos passos.
Enquanto isso, Flávio e Lucimar, ficava cada vez mais unidos.
Flávio, utilizando-se da desculpa de fazer parte do mesmo grupo que ela, aproveitava sempre as oportunidades que surgiam para discutir os novos passos que tomariam.
Lucimar, que sempre estava cheia de idéias na cabeça, não se cansava de dar sugestões.
Mas que o fazia Flávio prestar atenção nas palavras da moça, não eram suas idéias, e sim o seu interesse em causar boa impressão, e também por que não conseguia desgrudar os olhos daquela criatura que se inflamava por conta da política.
Certa vez, pensando nisso, distraiu-se por alguns minutos, e acabou não ouvindo parte das palavras ditas pela moça.
Lucimar, percebendo que Flávio estava distraído, chamou-lhe a atenção, dizendo que ele devia prestar atenção no que ela dizia. Isso por que, talvez, com a exposição de várias idéias, eles poderiam até chegar numa confluência de resultados.
Flávio, então, depois de ouvir a bronca, desculpou-se. Dizendo que havia se distraído pensando em uma qualidade da moça, acabou desarmando-a.
Lucimar então, percebendo que ele estava diferente, perguntou, preocupada, se ele tinha algum problema.
O rapaz, achando graça na preocupação da moça, começou a rir.
A moça, aborrecida com as risadas do rapaz, perguntou irritada, onde é que estava a graça.
Flávio, notando que havia agido mal, comentou que não havia graça. Apenas achara engraçado ela perguntar se ele estava adoentado.
Lucimar então disse que ele havia mudado de repente, daí a razão de sua pergunta.
Flávio, ao ouvir a explicação da moça, desculpou-se novamente, e comentou apenas que a estava a admirando.
Lucimar, ficou então sem palavras.
O moço, constatando isso, começou a dizer, que não quisera em nenhum momento, ofendê-la, apenas havia se distraído.
Comentando que ela era uma pessoa muito especial, ressaltou que ela deveria estar mais acostumada com esse tipo de comportamento. Até por que, devia ser muito comum para ela, aquele tipo de reação.
Lucimar continuou ouvindo as palavras do rapaz.
Flávio continuou falando. Falando, falando. Elogiou diversas vezes a moça. Ressaltou suas qualidades. Disse até que gostava de seus defeitos.
Lucimar então, perguntou:
-- Que defeitos?
-- Os defeitos que todos nós temos.
-- E como você pode conhecer os meus defeitos se mal me conhece? Praticamente só nos vemos quando nos encontramos no ‘aparelho’.
Flávio no entanto, tratou de desmentir a história. Isso por que, não fazia muito tempo, e eles se encontravam muito mais do que nos agora esporádicos encontros no novo ‘aparelho’.
Lucimar, então concordou.
Realmente, o relacionamento tinha ido além da simples ideologia e passara a ser uma verdadeira amizade. Por conta disso, vinha até negligenciando sua amiga Neusa. Realmente, Flávio estava certo.
Surpresa a moça percebeu que Flávio estava certo. Talvez ele a conhecesse até melhor que sua melhor amiga. A amiga de todas as horas, Neusa.
Admitindo essa verdade, Lucimar desatou a rir. Rindo compulsivamente, causou o espanto de Flávio, que não estava acostumado com as explosões de euforia da moça.
Espantado, o rapaz perguntou:
-- Luci, o que está acontecendo?
A moça explicou então, que ele realmente estava certo no que dissera. Realmente. Talvez até a conhecesse melhor que sua amiga. Por esta razão, ela desatou a rir.
Flávio, então, percebendo o motivo das gargalhadas, acalmou-se.
Foi aí que se instalou entre eles um longo momento de silêncio.
Mas não pensem vocês que isso constrangeu Flávio.
Absolutamente.
O rapaz, percebendo que faltavam as palavras, resolveu agir. Cansado de tentar encontrar a oportunidade certa, resolveu se aproximar de Luci.
Luci, então, percebendo que ele estava estranho, quebrou o silêncio e perguntou a ele o que queria.
Flávio então respondeu:
-- Isso.
A seguir, segurou o rosto da moça, e rapidamente beijou-lhe a boca.
Lucimar, apesar de desconfiar do gesto do rapaz, por um momento, teve dúvidas de que ele a beijaria. Acreditou que no último momento, desistiria. Entretanto, não foi isso o que aconteceu.
O rapaz, tomado de um profundo sentimento de decisão, resolveu fazer o que tinha que fazer.
E assim o fez, sem nenhum arrependimento.
Tanto que Flávio, ao ser indagado pela moça, sobre qual a razão de seu gesto, simplesmente respondeu:
-- Meu deu vontade. Aliás, eu devo confessar que há muito eu já tinha vontade de fazer isso, mas não tinha coragem. Achava que você não aceitaria. Mas agora chega.
Lucimar ficou sem palavras.
Flávio, porém, não deixou se intimidar por isso. Decidido, exigiu que a moça tomasse uma atitude. Nem que fosse para dispensá-lo sumariamente. Mas que se decidisse.
Lucimar, titubeando, respondeu que não sabia o que dizer.
Flávio insistiu. Angustiado, disse que ela tinha a obrigação de lhe dar uma resposta.
A moça, então notando, a inquietude do moço, ficou morrendo de pena dele.
Contudo, como não havia pensado no assunto, não sabia o que dizer. Porém, penalizada, prometeu que pensaria no assunto.
Flávio, desapontado com a resposta, disse:
-- Pensar? Por que não pode me dar uma resposta agora?
-- Por que não esperava por isso. Me perdoe, mas eu não tenho como te responder agora. Me desculpe.
O rapaz, arrasado, ao ouvir as palavras da moça, sem saber como agir, começou a correr.
Lucimar, ao ver Flávio correndo, pediu para que ele parasse.
Mas ele não a ouviu. Continuou a correr. E correndo, voltou para casa. Foi então que debruçou-se sobre o travesseiro e começou a chorar.
Nisso Lucimar, que se viu sozinha, ficou a pensar no que Flávio lhe disse. Surpreendida pelo ímpeto do amigo, não sabia o que pensar, nem o que responder.
Contudo, suas dúvidas foram se dissipando aos poucos.
Neusa, ao perceber a inquietude da amiga, insistiu para saber o que estava acontecendo.
Lucimar, por sua vez, fez tudo o que pôde para esconder o que estava acontecendo.
Neusa contudo, era esperta demais para ser enganada por uma amiga de tantos anos.
Notando que havia algo errado, ficou a pensar em cada uma das possibilidades que havia para aclarar as dúvidas que tinha. E assim pensando foi que chegou a seguinte conclusão: Se Luci passava praticamente o tempo todo com Flávio, só podia ser alguma coisa com ele.
Mas o que? Pensava, pensava. E foi pensando que chegou a resposta. Lembrando-se que o rapaz, chegou a lhe fazer muitas perguntas sobre Lucimar, Neusa constatou que a única resposta possível seria que ele devia tê-la pedido em namoro, e ela bobamente, pediu para pensar.
Neusa, então, ao chegar a esta conclusão, assim que pôde, foi conversar com a amiga.
Mas Lucimar, negou o quanto pôde que sua preocupação era essa.
No entanto, não teve jeito.
Neusa, ao olhar nos olhos da amiga, percebeu claramente que ela estava mentindo.
Diante disso, Luci, sem alternativa, acabou confessando.
Sim, Neusa estava certa.
Mas ela, apesar de gostar muito do rapaz, não sabia o que responder. Sem saber se era uma boa idéia namorar alguém tão próximo, estava em dúvida sobre que atitude tomar.
Neusa então, disse a amiga:
-- Você tem uma pessoa legal que gosta de você, e ainda tem dúvidas? Luci, você é muito complicada. Por que não aceita? Se não der certo, paciência, você arranja outro namorado. Mas pelo menos tente. Pode não ser o amor de sua vida. Mas pode te trazer muitas coisas boas. Não se preocupe com um relacionamento definitivo. Preocupe-se em ser feliz, nem que seja por alguns momentos.
Lucimar, ao ouvir as palavras de Neusa, ficou visivelmente espantada. Isso por que, não esperava que justamente ela, lhe viesse com um discurso daqueles.
Mas Neusa não se fez de rogada. Notando o espanto da amiga, perguntou:
-- Mas não são os próprios comunistas que pensam dessa forma? Não são vocês, militantes de esquerda, que acreditam no amor livre? Então, qual o espanto?
Lucimar se deu conta, de que Neusa estava realmente mudada. Tanto que chegou até a comentar:
-- Você nunca perde a chance de surpreender as pessoas.
Nisso, as duas caíram na gargalhada.
Após, Lucimar foi até o ‘aparelho’, encontrar com os companheiros de militância.
Lá estava Flávio, que constrangido, fez todo o possível para ir embora.
Contudo, Alexandre e Rubens, preocupados, com os novos planos, exigiram que ele permanecesse.
O rapaz, sem alternativas, acabou concordando em ficar.
E assim, Lucimar, ele e os rapazes, ficaram a discutir os próximos passos. Planejando, uma grande passeata, precisavam pensar em tudo, até em como fariam para fugir, caso a polícia aparecesse. Tais detalhes levavam horas para ser decididos e muitas reuniões precisavam ser feitas para tudo desse certo.
No entanto, após a reunião, Flávio, aflito, pediu para sair. Dizendo que tinha um assunto sério para resolver, argumentou que não poderia ficar mais tempo.
Lucimar, vendo a cena, deixou que o rapaz saísse, para logo em seguida, sair também.
Ao sair do ‘aparelho’, Luci tratou de acelerar o passo. Porém, por mais que corresse, só conseguiu encontrar o rapaz, depois do mesmo ter saído do prédio.
Flávio, percebendo a presença de Lucimar, foi logo dizendo:
-- Vai embora. Eu não quero falar com você.
Mas Luci, persistente, continuou a segui-lo.
Flávio, percebendo isso, tratou de acelerar o passo.
Lucimar fez o mesmo.
Quando o rapaz ameaçou correr, Lucimar contou que precisava conversar com ele.
No que Flávio respondeu:
-- Mas eu não tenho nada que conversar com você.
Lucimar continuou insistindo:
-- Tem sim, oras. Afinal de contas, não foi você que me beijou e depois me exigiu uma atitude? Aliás, que atitude é essa que você quer que eu tome? Você não deixou isto bem claro.
-- Você sabe muito bem. – respondeu ele, impaciente.
Lucimar, irritada com a atitude do rapaz, correu até ele, e puxando-o o pelo braço, respondeu:
-- Escute aqui. Quando eu falo com alguém, eu quero que a pessoa me olhe nos olhos. Está certo?
Flávio, pediu então, para que ela soltasse o braço dele. Desanimado, por acreditar que ela o dispensaria, comentou:
-- Eu não quero saber. Eu só quero que você me deixe em paz. Está bem?
-- Não, não está. Olha! Sinceramente eu não te entendo. Você vem todo galante num dia, e depois, parece que não está nem aí. O que é? Por acaso está com medo de mim?
Flávio caiu na gargalhada.
Pensou: Ora veja, era só o que faltava. Justo ele ter medo de alguém. Até parece.
Aborrecido, resolveu enfrentar a moça.
-- Ah, é? Pois então me dê um bom motivo para que eu tenha medo de você?
Lucimar, respondeu:
-- Olhe Flávio, eu não vim brigar. Eu só quero te comunicar minha resposta.
Flávio, ao ouvir isso, ficou apreensivo. Contudo, mesmo esperando uma negativa, respondeu:
-- Que resposta?
-- Você sabe muito bem... Está certo. Eu aceito.
-- Aceita o quê? – perguntou o rapaz, visivelmente angustiado.
-- Flávio, eu aceito. Eu quero namorar você.
O rapaz, surpreso, perguntou se ela tinha certeza.
Quando Lucimar assentiu com cabeça, o rapaz, incontido, abraçou a moça.
Feliz Flávio confessou que não acreditava que ela fosse aceitar namorá-lo.
Lucimar então comentou:
-- Ah! Deixe de bobagem.
-- Não é bobagem. – continuou.
Flávio não parava de abraçar a moça. Entusiasmado, o rapaz, suspendeu-a pelos braços e gritou que era muito feliz.
Foi assim, que começou o namoro do casal.
Durante os meses em que os dois estiveram juntos, o casal foi muito feliz.
Apaixonados, sempre se ajudavam nas atividades da militância.
Quando finalmente aconteceu a passeata, o casal, procurando evitar chamar a atenção, se dispersou. Com cada um de um lado, ficava mais fácil estimular a multidão a participar da manifestação contra a ditadura.
Estava dando tudo certo.
Com um longo trabalho de convencimento, os militantes conseguiram convencer muitos populares a participarem da passeata. E assim, munidos com faixas e cartazes, gritavam palavras de ordem.
Contudo, não bastou nem meia hora para que passeata fosse desarticulada, com o surgimento de policiais, que tentavam cercar os manifestantes de todas as formas.
Preparados para essa possibilidade, os militantes acabaram encontrando uma saída e conseguiram se evadir do local.
Flávio e Luci, no entanto, quase foram pegos.
Não fosse terem encontrado um beco onde pudessem se esconder, fatalmente seriam presos, e talvez até o ‘aparelho’ caísse. Isso por que, segundo o que eles sabiam, quem caía nas mãos do DOI-Codi, confessava tudo, até o que não tinha feito. Era uma sessão de torturas horrendas, que os policiais perpetravam contra os presos políticos.
Por esta razão, todos ali, fizeram o possível para escapar de toda aquela confusão.
Com isso Flávio e Luci, depois de se verem livres da confusão, foram até o apartamento onde o rapaz vivia, e passaram a noite juntos.
Depois do susto com a polícia, os dois queriam era mais, ficarem sós, sem ninguém para os atrapalhar.
Desta forma, foram até o apartamento, e lá se abraçaram, se beijaram, e se amaram.
No dia seguinte, o rapaz, deixando Luci, dormindo, foi até a rua, para comprar pão e jornais, para saber o que tinha se sucedido.
Luci, por sua vez, parecia um anjo, deitada sobre a cama, descoberta da cintura para cima.
Quando o rapaz voltou com os jornais e os pães, a moça continuava dormindo.
Flávio, encantado com o que via, pegou uma rosa, que havia plantado na varanda e colocou no travesseiro onde a moça dormia.
Foi então que Luci acordou e percebendo a surpresa, segurou a flor, e cheirou-a.
Encantada com o presente, agradeceu a gentileza, e prestes a se levantar, foi interrompida pelo rapaz, que fazia questão de trazer o café para ela, na cama.
Lucimar concordou em esperar pelo café na cama.
E assim, enquanto o rapaz preparava o café, pegou uma camisa dele e vestiu.
Nisso, surge Flávio adentrado o quarto com uma bandeja nas mãos.
Havia pão, manteiga, suco, leite e algumas bolachas para o café da manhã. Complementando, o rapaz colocou uma outra rosa na bandeja.
Encostada na cama, a moça, ao ver o café, ficou impressionada com Flávio. Isso por que, o rapaz, organizado, não havia se esquecido de nada.
Uma pessoa tão cuidadosa assim, merecia ser elogiada.
Foi o que Luci fez.
Depois, comeu um pouco de tudo o que tinha na bandeja. Gentil, ofereceu o café, para o namorado, que prontamente, aceitou a oferta.
A cena era de um completo idílio. Vê-los juntos, era uma graça.
Isso por que, assim que Luci mordia o pão, ela oferecia o outro pedaço ao namorado, que aceitava tudo. Parecia até uma criança recebendo comida na boca.
Após, de café tomado, os dois começaram a conversar, e lendo o jornal, perceberam que a passeata fora um verdadeiro fracasso.
Contudo, a despeito de tudo isso, não ficaram nem um pouco entristecidos.
Ao contrário, tinha muito o que agradecer por toda aquela confusão que se instalara. Não fosse por ela, não teria tido um dos melhores momentos de suas vidas.
Um cálido momento que ficaria para sempre na memória de Flávio.
Uma lembrança difícil de ser esquecida.
Contudo, deixemos de lado as tristezas, agora é o momento de alegrias.
Sim, o casal estava feliz.
Tão feliz e falante, que tiveram a conversa mais franca e mais aberta que jamais teriam novamente em suas vidas.
De tão empolgados um com o outro, passaram praticamente o dia inteiro juntos. Só saíram do apartamento, quando foram chamados por Neusa para irem até uma festa. Esta era a senha para irem até o ‘aparelho’.
E lá foram os dois, rua afora de mãos dadas.
Feliz, Flávio parava algumas vezes para abraçar a namorada. De tão contente comentou com ela, que precisavam de uma fotografia um do outro, para quando estivessem sozinhos.
Lucimar concordou. Mas ressaltou também, que estavam atrasados. Assim, tinham que se apressaram para irem até o apartamento de seus amigos.
Nisso, Lucimar e Flávio começaram a correr.
Correndo, finalmente chegaram ao apartamento.
Ao entrarem na sala, perceberam que eram os únicos que faltavam para a reunião.
Tanto que quando chegaram, Alexandre e Rubens comentaram brincando:
-- Até que enfim. Pensamos que não vinham mais. Que demora heim?
Flávio e Luci, ficaram um pouco constrangidos com a brincadeira, por esta razão, trataram logo de se desculparem pelo atraso.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
GERAÇÃO 70 - CAPÍTULO 3
Lucimar então, passou a juntamente com Flávio, distribuir panfletos, e a participar de discursos inflamados contra a ditadura. Animada, chegou a comentar que todos tinham responsabilidade pelo que aconteceria com o país, caso não tomassem uma providência o quanto antes.
A platéia que a tudo ouvia avidamente, foi ao delírio ao ouvir as palavras de ordem de Lucimar.
Mas nem tudo eram flores.
Certa vez, enquanto proferia um de seus discursos inflamados, a polícia apareceu e armada de cacetetes, invadiu o auditório onde estavam os estudantes, e dispersando-os, começou a abrir espaço, até chegar ao palco onde estavam os militantes.
Com isso, a confusão se instalou e todo mundo corria de um lado para o outro. Tudo com vistas a se evadir do local. Isso por que, dada a extrema violência da polícia, todos temiam ser presos.
E assim, em meio a confusão, os jovens manifestantes, acabaram conseguindo escapar.
Resultado da confusão.
Muita gente ferida e assustada, e alguns estudantes presos.
Alexandre, Flávio, Lucimar e Rubens, escaparam incólumes da confusão.
Ao avistarem a saída de emergência do auditório, trataram logo de sair dali.
Sim, por que se fossem pegos, acabariam por apanhar muito. Assim, cientes disso, trataram logo de fugir.
Por isso, correram com toda a força de suas pernas.
Exaustos, só cessaram a carreira, quando perceberam que estavam bem longe da faculdade.
Cansados, sentaram-se um pouco para descansar e depois irem até o aparelho.
Lá Luci, comentou que precisariam ficar algum tempo sem aparecer na faculdade, ou fatalmente alguém os delataria.
Flávio, concordou.
Além disso, Lucimar comentou que não era uma boa idéia voltarem a se reunir no auditório da faculdade. Isso por que, muito embora tivessem tido sorte dessa vez, não podiam ter a certeza de que sempre conseguiriam escapar.
Mais uma vez, Flávio concordou com a moça. Contudo, percebendo que já estavam na mira dos militares, o rapaz comentou que deveriam dar um tempo antes de realizarem novas ações.
Alexandre e Rubens concordaram. Afinal de contas, não podiam ficar visados. Pelo menos não agora. Ou então, não conseguiriam colocar seus planos em prática.
Assim, durante algum tempo, o ‘aparelho’, por medida de segurança, foi fechado.
Contudo, como não era bom que o mesmo ficasse totalmente abandonado, Alexandre e Rubens, que nesse tempo moravam juntos na casa, resolveram continuar a viver ali. Isso por que, se saíssem de lá e fossem vistos por conhecidos, acabariam levantando suspeitas.
Assim foi feito.
Contudo, os amigos passaram a se encontrar com cada vez menos assiduidade.
Mas isso, não quer dizer que os mesmos não planejassem algumas ações.
Com isso, encontrando-se na casa de um e de outro, os militantes passaram a planejar as próximas ações que praticariam.
Enquanto isso, Flávio e Lucimar estreitavam cada vez mais, seus laços de amizade.
Depois que o rapaz a fez integrar o grupo, pouco a pouco foi provando aos amigos que ela era uma pessoa de confiança.
Isso cativou a moça, que encantada com a atitude do amigo, se esqueceu por completo a forma como se conheceram.
Mas Flávio não. Para ele, apesar da resposta atravessada de Luci, simpatizara com ela. Tanto que tentou de todas as formas possíveis, se aproximar. E tanto tentou que acabou conseguindo. Persistente era agora seu grande amigo, deixando até mesmo Neusa, sua amiga fiel, em segundo plano.
Neusa, por isso mesmo, ficou um tanto quanto sentida com esse relacionamento. Relegada a segundo plano, não estava nem um pouco contente com a nova vida da amiga. Tanto que quando finalmente a encontrou, comentou que desde que ela conseguira realizar seu intento, raramente Lucimar tinha tempo para ela.
Lucimar então, percebendo que estava em falta com a amiga, prometeu que passaria a ficar mais presente.
Porém, qual o quê. Era só aparecer um dia, que sumia dois ou três para só então, novamente aparecer.
Isso deixava Neusa profundamente enervada.
Irritada, certa vez, tomada de um profundo sentimento de decisão, resolveu ir até a casa onde moravam Alexandre e Rubens.
Ao bater na porta da casa dos mesmos, ambos ficaram espantadíssimos com a estranha presença daquela garota em seu apartamento.
Porém, pedindo para entrar, ao ver que os rapazes autorizaram sua entrada, Neusa se apresentou e começou a explicar que também queria fazer parte do grupo, e participar das ações do mesmo.
Alexandre e Rubens, ao ouvirem isso, ficaram ainda mais surpresos.
Isso por que, até onde sabiam, a moça, segundo relatos de Luci, nunca estivera encorajada a participar de um movimento desses.
Pelo contrário, temerosa das conseqüências que adviriam de tal decisão, não queria nem sequer pensar em fazer parte de um grupo desses. Contudo, nos últimos tempos, segundo ela, tomada de um sentimento de patriotismo, não conseguia mais suportar ver tanta coisa errada sem nada poder fazer. Além do mais, não sentia que sua vida fazia sentido.
Os amigos, reticentes, prometeram que pensariam no caso.
Neusa então, ao perceber que não seria fácil fazer parte daquele grupo, insistiu em dizer que era de confiança, e que jamais delataria os amigos. Até por que, já sabia há muito tempo, da existência daquele ‘aparelho’.
Os rapazes, ao ouvirem a moça dizer a palavra ‘aparelho’, recomendaram a mesma, que não repetisse nunca mais o nome. Ademais, tomados de um sentimento de profunda curiosidade, resolveram lhe perguntar, onde ela tinha ouvido que aquele apartamento servia para atividades políticas.
A moça então respondeu que:
-- Olhe. Eu posso garantir que não foi a Luci, como vocês devem estar imaginando. Não, ela nunca foi dedo-duro. Nem pra mim ela contou, sobre este apartamento. Eu fiquei sabendo de vocês, por meio de outro grupo de militantes, que sabiam que vocês se encontravam aqui.
Os rapazes, ao ouvirem essas palavras da boca de Neusa, uma pessoa que até outro dia não queria nem sequer ouvir falar em movimento estudantil, ficaram sobremaneira impressionados. Assustados com a possibilidade dessa informação ter vazado, trataram logo de avisar os demais companheiros, para uma reunião. Sim, por que, de posse dessa informação, os mesmos não podiam ficar reféns dos acontecimentos. Até por que, se era realmente verdade o que a moça dissera, era apenas questão de tempo, para que os militares viessem a bater naquela porta.
Diante disso, os integrantes do movimento, surpresos com a convocação, trataram logo de se dirigir até o ‘aparelho’.
Curiosos, ao lá chegarem, tomaram conhecimento de que outras pessoas sabiam onde ficava o ‘aparelho’ deles. Surpresos, foram logo perguntando, como haviam descoberto.
Rubens então disse:
-- Por incrível que pareça, quem me confidenciou isso foi sua amiga, Luci.
-- A Neusa? – perguntou Lucimar espantada.
-- Sim. – insistiu ele. – E tem mais, segundo ela, foi um outro grupo de estudantes que a informou sobre isso.
-- Um grupo de estudantes? – perguntou novamente Lucimar.
-- Uma outra militância. Talvez seja aquela turma com quem conversamos algumas vezes. Se lembra?
-- Sim, é claro, Rubens. Nós estavamos precisando de alguns conselhos para agir. Mas como é que eles descobriram nosso paradeiro? – Lucimar.
Alexandre então, comentou que sempre que alguém desconhecido se aproximava do grupo, um deles tratava de investigar a pessoa para saber o que era. Assim, talvez tenha sido dessa forma que eles descobriram que o ‘aparelho’.
Todavia, se havia sido dessa forma que haviam descoberto, eles estavam muito expostos. Isso por que, nenhum deles havia se aproximado deles para obter qualquer informação.
Com isso, se mesmo de longe, puderam constatar o que era, a situação era preocupante. Sim, por que desta forma, eles, a despeito do que imaginavam, não estavam sendo nem um pouco discretos.
Assim, precisavam agir, e o quanto antes, ou fatalmente seriam pegos.
Foi então que Lucimar sugeriu que eles deveriam arrumar suas coisas, que dentro em breve poderiam se mudar.
Alexandre e Rubens, porém, ao perceberem a tranqüilidade da moça em dizer alguns dias, comentaram que não tinham tempo a perder. Precisavam sair dali o quanto antes.
Lucimar, notando a apreensão no rosto de todos, comentou que de nada adiantaria fazer as coisas atabalhoadamente. Isso por que, se assim, agissem, fatalmente atrairiam as atenções para eles, e isso não era aconselhável. Por isso, precisavam ser discretos, e discrição não combina com pressa.
Os rapazes então, ao ouvirem as palavras sensatas da moça, acabaram por concordar, e assim esperaram por alguns dias.
E em alguns dias, a moça, cuidadosamente, escolheu um novo lugar para que os dois pudessem se instalar.
Pronto.
Pelo menos momentaneamente as coisas estavam resolvidas.
Nisso, Neusa, que fazia tanta questão de integrar o grupo, tornou novamente a procurá-los no antigo ‘aparelho’. Contudo, qual não foi sua surpresa ao descobrir que os mesmos haviam se mudado não fazia muito tempo.
Curiosa, perguntou a um dos vizinhos se ele fazia idéia de para onde os rapazes poderiam ter ido.
O senhor então, comentou aborrecido:
-- Escute aqui, mocinha! Quem a senhorita pensa que eu sou? Eu não me dou com gente desavergonhada não. Me respeite. Eu sou um pai de família.
Depois de proferir essas palavras, bateu a porta.
Neusa então constatou que não seria nada fácil novamente contatá-los. Porém, faria todo o possível para conseguir. E assim, foi que determinada, ao reencontrar Lucimar, pediu para que ela lhe contasse onde estavam Alexandre e Rubens.
Espantada, Lucimar contou que ambos lhe contaram que a mesma os advertira de que outra militância havia tomado conhecimento de onde estavam. Surpresa com a atitude da amiga, Lucimar resolveu lhe perguntar o por quê da mudança de atitude.
Neusa, disse então, que ao se deparar com novas manifestações estudantis, e a extrema agressividade da policia, isso a deixou bastante incomodada. Além disso, estava cansada de sentir medo. Não bastasse isso, sentia-se muito só e vazia. Foi por esta razão, que ao se lembrar das palavras da amiga, resolveu tomar uma atitude. Foi por esta razão que resolvera bater na porta de Alexandre e Rubens.
Por fim, a moça terminou, dizendo que também, sentia muita a falta da amiga, e por isso queria integrar o mesmo movimento que ela. Adorava-a muito para seguir outro caminho sem ela.
Lucimar emocionada, comentou que ela não precisava arriscar-se para demonstrar seu afeto por ela.
Neusa então comentou que não era só pelos conselhos de Lucimar que resolvera tomar essa decisão. Foi também por conta de uma insatisfação pessoal com o mundo que a cercava.
Lucimar então, abraçou a amiga. E contente com sua decisão, disse:
-- Então está bem. Se você está firme em sua decisão, não sou eu que vou me opor. Pelo contrário, vou te apoiar. Porém, te aviso desde então. Fique consciente de fazer parte de uma militância não é algo fácil. Todos os dias você vai estar arriscando seu pescoço. A todo momento estamos correndo contra o relógio e tentando de todas as formas possíveis não sermos pegos. Você está preparada para viver dessa forma? É isso que você quer realmente?
Neusa então respondeu:
-- Sim. É isso o que eu quero. Mais do que tudo.
Lucimar novamente abraçou a amiga.
Depois prometeu ajudá-la a integrar o movimento.
Foi assim que novamente, a relação de ambas se estreitou. Próximas novamente, não paravam de fazer planos.
Neusa, que procurava aprender tudo sobre o movimentos estudantis, não se cansava de ouvir a amiga contar sobre as peripécias em que se envolveu, por estar engajada em um movimento de esquerda.
Mas, ao contrário do que se poderia pensar, Neusa não ficou tão assustada quanto antes, pois agora demonstrava um profundo interesse nas palavras de Lucimar.
Esta, por sua vez, ao notar o interesse da amiga, foi tomada de um profundo sentimento de espanto. Lucimar chegou até a estranhar o comportamento audacioso de Neusa.
Neusa então, comentou que sempre achara os ideais e a convicção dela, fascinantes. Contudo, por medo de se envolver com a polícia, disfarçou seu interesse.
Isso por que, conhecedora do clima de tensão política em que estava mergulhado o país, Neusa sabia que não podia se arriscar, ou facilmente cairia nas mãos do Dops. Daí sua discrição. Porém, insatisfeita com sua vidinha acanhada, resolveu assumir suas convicções, sem se importar muito com as conseqüências que adviriam de seu gesto.
Lucimar, ao ouvir as explicações da amiga, mais uma vez se convenceu de que a amiga estava segura do que fazia. Assim, não tinha o que temer quanto a isso.
Contudo, ainda assim, Lucimar achava algumas vezes, que Neusa não sabia exatamente onde estava se metendo. Por esta razão, prevenida, resolveu, contar detalhes sobre a história de vários movimentos políticos de esquerda que ela conhecia, e as histórias de seus participantes.
Para surpresa de Neusa, boa parte das histórias, não acabava nem um pouco bem. Contudo, a despeito disso, a moça não se abalou nem um pouco.
Sim, estava decidida a ajudar a amiga na luta dos estudantes.
E Lucimar, sem alternativas, acabou concordando em apresentá-la a Rubens e Alexandre, que mesmo reticentes, acabaram concordando e aceitando a idéia de que ela viesse a fazer parte do grupo. Afinal, se tinham aceito ela, a pedido de Flávio, por que não acolher Neusa, que os havia ajudado antes, sem nem mesmo receber um obrigado?
E assim, a moça passou a fazer parte do grupo.
Essa participação, ainda seria muito útil a todos, conforme se poderá observar com o transcorrer da narrativa.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
GERAÇÃO 70 - CAPÍTULO 2
Porém, com o passar do tempo, os dois foram se encontrando cada vez mais, e Flávio, dessa vez, utilizando de diplomacia, acabou aos poucos, convencendo-a de que a imagem que ela fizera dele não era verdadeira.
Sim, ao contrário do que ela pensava ele era muito boa gente. Tão boa gente que acreditava na mesma causa que ela.
Isso por que, depois de algum tempo, perguntando aos colegas da moça, como ela era, do que ela gostava, acabou se enturmando com seus colegas e com bastante paciência, acabou descobrindo que a moça acreditava na causa. Porém, como não conseguia encontrar adeptos, não conseguiu criar um grupo. Esporadicamente, no entanto, aproveitava alguns grupos existentes e fazia alguns trabalhos para eles.
Mas para Lucimar, isso ainda era muito pouco perto do que ela poderia realmente fazer.
Foi exatamente isso, que Flávio descobriu depois de conversar com Neusa.
Lucimar, porém, ao ver a amiga conversando com ele, não ficou nem um pouco satisfeita com a novidade. Desconfiada de que ele poderia ser um delator, comentou com a amiga para que tivesse cuidado com ele.
Neusa porém, com o passar do tempo, acostumando-se com a aproximação de Flávio, passou a cometer cada vez mais inconfidências a respeito de Lucimar. Isso por que, ao ouvir do rapaz que ele também era militante de esquerda, Neusa sentia-se cada vez mais encorajada em falar da amiga.
De tão animada com Flávio, Neusa não se cansava de dizer a Luci, que ele devia realmente estar muito interessado nela para fazer tantas perguntas a seu respeito.
Lucimar, por sua vez, ao ouvir as palavras da amiga, não ficava nem um pouco contente com isso.
Irritada com os comentários da amiga, não se cansava de dizer o quão ela estava sendo inconveniente. Ademais, quem sabia de sua vida era ela e com relação a isso, ninguém, tinha o direito de se meter.
Neusa porém, não se incomodava nem um pouco com isso, e continuava a insistir dizendo que Flávio devia ter um grande interesse nela.
Assim, cansada de brigar com a amiga, Lucimar acabou deixando de lado os comentários de Neusa e passou a se preocupar única e exclusivamente com seus estudos e com a luta política. Idealista, não se cansava de tentar convencer os amigos a participarem da luta armada juntamente com ela.
Porém, ninguém dava crédito a suas palavras.
Muitos dos estudantes, acreditando que aquela era uma luta perdida, não aceitavam que ela tentasse impôr suas idéias para eles.
Certa vez, Flávio vendo a cena, e constatando que Lucimar estava sendo duramente criticada por seus colegas de classe, viu-se tomado de um ímpeto de cavalheirismo. E assim, tomado por esse sentimento de delicadeza, passou a defender a moça, que a duras penas, tentava convencer a todos que a luta era por justiça, e não uma simples pirraça.
Dessa forma, Flávio, começou a dizer, que a luta armada, não era para os fracos. Apenas as pessoas determinadas e convictas de que tinham um papel a cumprir na sociedade, é que deveriam tomar parte na luta. Diante disso, se nenhum deles estava seguro quanto a isso, não tinham a menor obrigação de lutar por algo em que não acreditavam.
Um dos estudantes, ao ouvir as palavras de Flávio, disse porém, que não concordava com aquela luta, não porque fosse covarde, mas sim, por que aquela era uma causa perdida, e que ninguém iria ganhar nada com aquela disputa sem sentido.
Flávio, irado, retrucou que tudo aquilo que ele estava dizendo, era uma falácia. Um retrato puído da realidade.
Mas o estudante não deixou por menos. Insistindo em dizer que aquilo tudo era uma besteira, alegou que a maior luta que os estudantes poderiam travar, seria a luta para mudar de vida. Para trabalharem, e assim, tornarem a vida das outras pessoas melhor.
Flávio teimoso, insistia em argumentar, mas Lucimar, percebendo que de nada adiantaria aquela conversa, resolveu pedir ao rapaz, para que desistisse de tentar impôr sua opinião.
Até por que, nem todos estavam preparados para ouvirem o que eles tinham a dizer.
Flávio, mesmo aborrecido, acabou acatando as recomendações da moça. Mas não sem antes dizer que todos ali estavam errados, e que a história daria razão a eles.
Lucimar então, percebendo a nobreza do gesto do rapaz, agradeceu o fato dele ter tentado defender suas idéias.
O rapaz então, percebendo que havia chegado onde queria, comentou que não havia feito nada demais. Isso por que, também acreditava na causa. Acreditava tanto, que já tinha até se filiado a um movimento, e comentando com a moça que eles precisavam de mais gente participando, convidou-a para fazer parte do mesmo.
Lucimar então, percebendo que esta era sua grande chance, aceitou no mesmo instante. Contudo, depois, constatando que se precipitara, perguntou a Flávio, se o grupo concordaria com isso.
Flávio então, insistiu. Dizendo que não haveria nenhum problema, comentou que ela seria a pessoa ideal para integrar o movimento.
Lucimar, temerosa no entanto, pediu para que ele confirmasse antes, o tal convite. Para que assim, não se criasse uma situação constrangedora para ela.
Flávio diante de tantos cuidados da moça, acabou concordando. Todavia, continuou a dizer, que aquele excesso de zelo era desnecessário.
Mas a moça fazia questão.
E Flávio então foi conversar com seus companheiros de luta, tudo no intuito de arregimentar mais uma pessoa para fazer parte do movimento.
Muito embora alguns deles estivessem reticentes, depois de conversarem durante um longo tempo com Flávio, acabaram concordando. Contudo, precisavam ter certeza, de que ela não era uma delatora. Por isso, combinaram que não revelariam todos os seus planos para ela. Testando-a, tomariam todo o cuidado possível com a moça.
Porém, não se opuseram ao fato de que a mesma passasse a fazer parte do grupo.
E assim, Lucimar foi inserida no grupo.
Satisfeita com a possibilidade de poder fazer algo de efetivo em favor da luta armada, foi logo se interessando pelos passos do grupo.
Porém, o que ela não contava, é que eles a deixariam na retaguarda.
Assim, quando a moça percebeu isso, ficou profundamente insatisfeita.
Isso por que, ao fazer parte de um movimento contra a ditadura, acreditou que seria apenas uma questão de tempo, para entrar em ação.
Porém, o que foi que aconteceu? Foi só ela passar a fazer parte de um movimento estudantil, para ser relegada a segundo plano.
Insatisfeita, ao se ver cuidando de papéis e do ‘aparelho’ como se fora uma dona de casa, passou a reclamar do tratamento que vinha recebendo. Acreditando que merecia mais respeito e consideração, passou a pedir para fazer parte dos planos. Dizendo que já participara de algumas ações, insistia em dizer que poderia ser mais útil.
Mas os colegas de grupo não levavam isso muito a sério. E assim, continuaram a distribuir panfletos, e a fazer discursos, sem a presença de Luci, que para eles, não era a pessoa mais indicada para esse trabalho.
Foi então que o passar do tempo, Lucimar, percebendo que nunca a levariam a sério dentro do grupo, ameaçou ir embora.
Flávio então, percebendo que a moça não estava de brincadeira, resolveu conversar com os amigos.
Debalde. Por mais que o rapaz argumentasse, nada convencia seus amigos de que ele estava sendo imparcial.
Lucimar, percebendo isso, disse:
-- Escute aqui. Eu trabalho como uma moura dentro desse ‘aparelho’. Cuido dessa casa como uma doméstica, sei de todos os seus planos. Sei onde está guardado cada documento que vocês escondem. Ou seja, eu sei como tudo anda aqui. O único porém, é que eu nunca participo de nada, nem sequer das discussões para executar os planos. O que vocês acham que eu vim fazer aqui?
Silêncio total.
Seus companheiros, sem argumentos, se contentaram em ouvir tudo em silêncio.
Mas ela continuou:
-- E tem mais, se eu fosse uma delatora, há muito tempo, esse lugar já tinha caído, e todos vocês estariam presos.
Nisso um dos integrantes do grupo, comentou que eles só estavam fazendo isso para protegê-la.
Lucimar, ao ouvir isso, caiu na risada.
Os rapazes, ao observarem a moça rindo, não entenderam nada. Afinal de contas, do que ela estava rindo?
Lucimar então, rompendo o silêncio, comentou:
-- Me protegendo do quê? Por acaso vocês acham que se todos nós formos pegos, eu vou ser poupada por que? Muito pelo contrário, se eu for presa, foi ser logo tida como companheira de vocês. Dessa forma, logo concluirão, que eu estive presente em todas as manifestações. Então... se eu tiver de pagar por algo, eu quero realmente ter feito alguma coisa. Senão, que sentido tem minha vinda para cá?
Alexandre e Rubens, então, percebendo que Lucimar não estava de brincadeira, acabaram concordando em deixá-la participar de algumas ações.
E foi assim, que Lucimar passou a ser conhecida no meio estudantil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
GERAÇÃO 70 - CAPÍTULO 1
Mas o passado não queria se deixar ser esquecido.
Este passado nunca o abandonara.
Embora não percebesse, sempre esteve presente. Sempre esteve rondando seu futuro. Amargurando-o.
Sim, com o tempo, Flávio, foi se tornando amargo. Foi se tornando duro e inflexível. Deixou de acreditar em uma causa. Abandonou a ideologia dos tempos de juventude.
Resolveu ser apenas mais um pai de família, que trabalha duro para manter os filhos e a esposa bem.
Mas, ao fazer um passeio pelo campo, lembrou-se de que viveu lindos momentos em sua vida.
Próximo dali, lutou, amou, e foi verdadeiramente feliz.
Num lugar como aquele em que estava, levou sua namorada um dia.
E lá passaram dias felizes.
Flávio lembrou-se, que conheceu Lucimar em São Paulo.
Numa época de extrema convulsão política, conheceu a jovem que seria sua companheira de luta, e que estaria com ele até o fim.
Quando se conheceram, Luci, como era chamada, estava usando calça e blusa bocas de sino. Carregando muitos livros, caminhava apressada pelo centro da cidade.
Por essa razão, em virtude da pressa, acabou por trombar em Flávio, que passava distraído.
Aborrecido com o esbarrão, comentou com a moça, que esta deveria ter mais cuidado.
Ao ouvir isto, Lucimar, subitamente parou sua caminhada e olhando para ele disse:
-- Você é que devia prestar mais atenção por onde anda. – falou ela, continuando a andar apressadamente.
Flávio, sem ação, apenas pensou: Por qual razão a moça havia parado para lhe dizer aquilo? Afinal de contas, não esperava ouvir tal resposta.
Em razão da atitude da moça, Flávio achou-a atrevida, mas não comentou sobre isso com os amigos. Acreditando que fora apenas um pequeno incidente, deixou de lado a impressão que tivera sobre a moça.
Ao chegar no ‘aparelho’, só queria saber de comentar os próximos passos que dariam em sua luta.
Animados, os jovens planejavam cuidadosamente a próxima manifestação política. Mal podiam esperar, para pôr tudo em prática.
Contudo, deviam tomar cuidado. Não podiam facilitar a ação dos militares. Não podiam se deixar prender. Por isso a demora em colocar tudo em prática.
No entanto, alguns dos membros do movimento, estavam impacientes. Isso porque, já havia meses que nada acontecia. Estavam indóceis.
Para acalmá-los o líder do movimento, alegava que ainda não era chegada a hora de agir. Precisavam de tempo para deixar tudo organizado, para que ninguém ficasse exposto a nenhum risco desnecessário. Afinal, eram poucos, e não podiam portanto, se dar ao luxo de perderem seus colaboradores.
Não precisavam se arriscar. Pelo menos, não agora.
Diante dessas explicações, só cabia aos mais exaltados, esperar. Precisavam esperar para poderem agir.
Assim, apesar de descontentes, não ousaram desobedecer seu líder. De formas que, esperariam pacientemente a ordem a ser dada.
E enquanto a ordem não era dada, continuavam a viver suas vidas.
Para não chamar atenção, evitavam ficar até altas horas no pequeno apartamento alugado – vulgo ‘aparelho’.
Também para evitar serem descobertos, cada um deles morava em um lugar diferente. No lugar, somente o líder do movimento morava.
Isso por que, seria muito estranho explicar: Por que um apartamento vazio de repente, ficava cheio de gente?
Isso poderia chamar a atenção de pessoas indesejáveis.
Além do mais, todos os documentos importantes eram escondidos em locais estratégicos do apartamento. Como por exemplo, móveis com fundo falso, gavetas com fundo duplo, etc.
Tudo para evitar que estranhos bisbilhotassem os papéis.
Os membros do movimento usavam também, como medida de segurança, codinomes, e um código para se comunicarem. Assim, em caso de estarem sendo vigiados, nada seria descoberto.
Confiantes, acreditavam que, pelo menos por enquanto, estavam a salvo.
Nesse ponto, estavam certos. Somente muito depois, é que finalmente, a polícia pôs as mãos neles.
Mas, isso no entanto, será melhor explicado mais para frente.
Agora o que interessa ser dito, é que, nesse primeiro momento, tudo estava dando certo.
Tão certo que parecia que a sorte continuaria ao lado deles.
Nesse tempo de luta contra a ditadura, distribuíam planfletos, participavam de passeatas, e fugiam da polícia.
Com isso, assim que os líderes do movimento autorizaram, lá se foram os manifestantes para rua, gritar novamente palavras de ordem contra a ditadura.
Tudo com muito sucesso.
Porém, a despeito disso, como estudantes que eram, também tinham uma faculdade para freqüentar.
Foi na faculdade que Flávio encontrou novamente Lucimar.
A moça ao vê-lo, ficou bastante aborrecida.
Flávio, porém, ao reconhecê-la como a moça que lhe deu um encontrão, fez questão de cumprimentá-la.
Para ele, era ela quem havia agido errado.
Mas, Lucimar, ao perceber a falsa cortesia, fez questão de ignorá-lo. Fingindo nada ver, continuou conversando com algumas amigas.
A moça, ao falar da ditadura, insistia em dizer para as colegas, que se pudesse se integraria a um movimento de esquerda.
Neusa – sua amiga, ao ouvir isso, ficou um tanto quanto assustada com a afirmação de Lucimar. Tanto que disse:
-- Luci, cuidado. Pode ter algum delator ouvindo nossa conversa.
Mas Lucimar não se importava com isso. Ao se deparar com a apreensão de Neusa, A moça começou a falar mais alto.
Neusa apavorada, tratou logo de mandá-la se calar.
Lucimar, começou então a rir. Comentando que era uma grande bobagem ter tanto medo de tudo, a moça disse que o melhor remédio era enfrentar os milicos.
Mas Neusa insistia em dizer que tudo aquilo era arriscado demais, e que todos deveriam ter cautela ao tocarem no assunto.
As demais colegas, logo que ouviram o tema ditadura, trataram de sair da roda, ficando somente Neusa a ouvir as palavras de Lucimar.
Flávio, de longe, observando o comportamento da moça, ficou bastante curioso para saber sobre o que Lucimar estava falando.
Nessa época porém, o rapaz não sabia o nome da moça, nem que ela também era adepta da luta armada.
Da mesma forma, Lucimar pensava que ele era apenas um sujeitinho muito pedante que se julgava melhor do que os outros.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
GERAÇÃO 70 - INTRODUÇÃO
‘... Como se antes nada existisse
Por que nascemos hoje do nada
Por que nascemos hoje pro amor...
Nós estamos descobrindo os corpos ....
Como a canção descobre uma flor ...
Esse mistério azul ...
Esse desejo imenso de sexo
Essa fusão de angustia ...
E nós, vamos descobrir
Sem medo
A solidão de um tempo de guerra
E nossos sonhos,
Loucos e livres
Vão descobrir e celebrar a paz...’
(Taiguara – Geração 70)
INTRODUÇÃO
Sentado a beira de um rio, observou a natureza ao seu redor.
Um lindo campo verdejante, descortinando-se no horizonte.
Tudo em volta era lindo.
O lago de águas claras, a natureza. O céu, de um azul profundo que entristecia a tarde, as flores...
Contudo, não obstante toda a beleza que o envolvia, Flávio não conseguia fazer outra coisa senão chorar.
Chorava copiosamente.
Pranteava suas dores a beira do rio, sentido que estava, com o duro golpe que se abateu sobre ele.
Durante muito tempo, se sentiu duramente injustiçado. Não merecia ter passado pelo que passou.
Mas também, sentia-se culpado.
Nunca, mas nunca devia ter arrastado para viver o seu sonho tresloucado, uma pessoa tão querida. Não tinha o direito de envolver pessoas queridas em sua quimera falaciosa.
Pessoas estas que vagavam como almas penadas, em um país de fantasmas. Tristes, pesarosas.
Amigos com quem trocara confidências.
O amor de sua vida.
Como pode ser tão irresponsável? Perguntava-se sempre.
Por que acreditara tanto em um sonho que se revelou impossível? Por que desperdiçara os melhores anos de sua vida em algo tão inalcançável? Tão intangível?
Por horas caminhou, pensou e chorou suas mágoas à beira do rio.
Durante todo esse tempo, lembrou-se de sua juventude, dos amigos, dos sonhos, dos ideais, da namorada.
Lembrou-se de tudo.
Parecia estar diante de um filme no qual ele era o ator principal. Um filme que trazia de volta, detalhes de sua vida.
Histórias que jaziam, empoeiradas na parede da memória.
Como já dizia a canção, ‘Como Nossos Pais’, da saudosa Elis Regina:
“...Na parede da memória
Esta lembrança é o quadro que dói mais...”
Por todo esse longo tempo, carregou as dores e a tristeza de um tempo de muita luta.
Durante longos anos, vivera como se nada disso tivesse acontecido. Procurando fugir da dor, tentou esquecer o passado.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
DE TRISTEZA E DE SOMBRAS - CAPÍTULO 5
Assim, encheu-se de esperanças.
Murilo, interessado na moça, há muito tempo já dava sinais disso.
Tanto que a própria Elisa já havia percebido isso e comentado com Melissa, que não era comum o interesse que ele demonstrava ter por Carolina.
Isso por que, sempre prestativo e atento ao que menina falava ou fazia, não se cansava de elogiar sua inteligência.
Além disso, sempre que podia levava um presente para ela e para Carolina.
Isso tudo, segundo Elisa, com o intuito de encantá-la e mostrar a ela, que sabia cuidar muito bem de crianças.
Para ajudar, tanto Jane como a própria Carolina, se encantaram com ele. Achando ele educado, Carolina chegou a convidá-lo inúmeras vezes para visitar sua casa, para conhecer seu quarto, e também para fazer companhia a mãe.
No início, sem perceber quais eram as verdadeiras intenções do rapaz.
Mas depois, percebendo o comportamento dele com relação a sua mãe, observando o modo como ele a olhava, a garota notou que ele gostava dela.
Em razão disso, indiscreta, certa vez, chegou a comentar com sua mãe, sobre o interesse de Murilo.
Melissa, ao ouvir comentário da filha, ficou surpresa com sua observação.
Sem esperar por aquilo, comentou com a menina que ela estava sendo muito indiscreta. Além disso, ela ainda era muito nova para entender dos sentimentos alheios.
Carolina, ao ouvir isso, contudo, não se inibiu nem um pouco. Aborrecida com o comentário da mãe, respondeu:
-- Ah, é? Mas parece que eu sei prestar mais atenção nas pessoas do que você. Ou vai me dizer que a senhora não percebeu como ele te olha?
Foi então a vez de Melissa tecer um comentário:
-- É mesmo, espertinha? Pois então, como ele me olha? Me diga, heim, espertinha!
Melissa começou então a fazer cócegas na barriga de Carolina, que não agüentando mais segurar o riso, pediu a mãe para parar de fazer isso.
Mas Melissa não quis saber. Continuou a fazer cócegas na barriga da filha.
Carolina não estava agüentando mais. Por esta razão, resolveu responder:
-- Tá bom mãe. Tá bom. Para de fazer cócegas por favor, que eu não agüento mais rir, eu conto.
-- Então conte. – insistiu Melissa.
Carolina contou então que já se cansou de ver Murilo olhando todo derretido para ela. Abusada, comentou que até mesmo Jane havia percebido.
Melissa comentou então, que nunca havia percebido nada disso.
Isso por que, sempre que o rapaz visitava sua casa, estava muito bem acompanhado. E muito embora o rapaz apresentasse sua companhia como apenas amiga, não sabia ao certo, se os dois eram apenas amigos.
Contudo, depois do toque da amiga e dos comentários da filha, Melissa passou observar mais atenção o comportamento do rapaz.
Murilo então, meio sem jeito, ao perceber que ela notara os olhares, tentou arranjar uma desculpa para ir embora.
Melissa porém, fez de tudo para retê-lo.
Isso por que, não queria criar falsas expectativas.
Como ainda era casada, muito embora não vivesse mais com Mauro, sabia que não seria nada fácil resolver esta questão, até por que, sentia muito medo dele.
Assim, a moça explicou muito claramente sua situação ao rapaz.
Murilo, ao constatar que a conversa seria séria, retrucou dizendo que já sabia disso e que não seria esse simples detalhe que os afastaria.
Melissa, surpresa, perguntou a ele, como sabia disso.
Murilo então comentou que a própria Elisa havia lhe contado, quando ela percebeu que ele estava interessado nela.
Preocupada com os prováveis problemas que esse interesse acarretaria, resolveu lhe alertar. Isso por que, sabia de cátedra, que sua amiga estava farta de problemas. O que Melissa mais queria agora era sossego. Com sua vida organizada, um emprego, uma casa, e o curso que estava fazendo, o que era mais importante agora para ela era sua segurança.
Melissa ao ouvir as explanações do rapaz, ficou mais uma vez estupefata. É que ela era a última pessoa a saber disso.
Murilo, então, aproveitando a deixa, disse que mesmo diante da delicada situação de Melissa, não tinha motivos para desistir de viver com ela. Até por que, naqueles tempos de lei do divórcio, desfazer o vínculo do casamento, não era a coisa mais intrincada do mundo. Assim, era só ela entrar em contato com Mauro para que toda a confusão fosse resolvida.
Melissa contudo, receosa, comentou que nem tudo era tão simples como parecia. Alegando que Mauro era um homem extremamente violento, respondeu que não seria nada fácil convencê-lo a lhe dar a separação.
Murilo retrucou então, que não cabia a ele concordar ou não com isso.
Melissa então revelou, que temia que, ao mexer com isso, ele voltasse novamente a aparecer, e mais uma vez, infernizasse sua vida como antes.
O rapaz, ao perceber o temor de Melissa, comentou que mesmo que ele quisesse, não havia como ele voltar a atormentá-la. Isso por que, os dois estavam separados de fato, há mais de um ano.
Mas Melissa sabia do que estava falando.
Mesmo depois de tanto tempo, sabia que Mauro jamais se esqueceria do que fizera. Além disso, ao ligar recentemente para sua mãe, descobriu que ele ainda não desistira de encontrá-la e de acertar contas com ela.
Isso refletia claramente, que Melissa tinha razão em manter sua preocupação e prevenção em relação a Mauro.
Murilo contudo, fazia de tudo para convencer a moça a tomar uma atitude.
Melissa, então, diante de insistentes apelos para que mudasse sua vida, prometeu que iria pensar. Depois daria uma resposta.
Enquanto isso, cansado de ficar afastado dela, Murilo aproveitava todas as oportunidades que tinha para ficar próximo e namorá-la um pouco.
De vez em quando, quando não era Elisa que ía sair com seu namorado, era a amiga quem tomava conta de Carolina, para que ela pudesse sair para jantar e passear com Murilo.
Cúmplices, as duas sempre se ajudavam.
Com isso, os laços entre Murilo e Melissa, foram se estreitando cada vez mais. Namorando, Melissa aproveitava para de vez em quando ir a praia acompanhada de Murilo e sua filha.
Quanto a esses passeios, cabe um comentário. Sempre que as pessoas viam os três juntos, todos achavam que Carolina era filha dele. Encantados com a família feliz, chegavam a elogiar a beleza do casal, que se via refletida na filha.
Melissa sem graça, fazia menção de que iria dizer algo, mas Murilo, sensatamente, toda vez que lhe atribuíam a paternidade de Carolina, fazia questão de confirmá-la.
A moça, ao ver a atitude do rapaz, ficava encantada com ele.
Elisa, sempre que conversava com Melissa sobre o namoro com Murilo, não se cansava de elogiá-lo. Além disso, com base no que a amiga dizia a respeito do ex-marido, o rapaz era muito melhor. Portando-se exemplarmente, o rapaz era um exemplo de educação para qualquer homem. Principalmente para o tal do Mauro, em suas palavras.
E assim, o namoro do casal feliz, ia de vento em popa.
Carolina, acostumada com o rapaz, chegou a comentar com a mãe, que não ficaria nem um pouco chateada se ele passasse a ser seu novo pai.
Melissa, ao constatar a aprovação da filha, sentiu-se aliviada. Isso por que, se a menina não se opunha a seu relacionamento com Murilo, não havia mais com o que preocupar. Feliz, abraçou longamente a filha.
Sua felicidade se refletia até no seu trabalho.
Suas colegas, percebendo que ela estava diferente, foram logo lhe perguntar qual era a razão de sua felicidade.
Melissa porém, cautelosa, fez questão de dizer que não era nada de mais.
Suas colegas, contudo, perceberam que a razão da felicidade só poderia ser um namorado novo.
Realmente, estava tudo indo muito bem.
Não fosse pela insistência de Mauro em descobrir seu paradeiro, tudo seria uma maravilha.
No entanto, essa era uma situação que ela teria que enfrentar de qualquer jeito. Até por que, por ser ainda jovem, mais cedo ou mais tarde acabaria se ajeitando com Murilo, – e mesmo que fosse com outro rapaz – acabaria se casando novamente.
Assim, precisava resolver sua situação com Mauro.
O problema, era que ela não tinha coragem de procurá-lo.
De tão apavorada com essa possibilidade, não conseguia nem pensar em vê-lo novamente.
Contudo, não podia mais viver também, numa eterna indefinição.
Porém, como fazer para resolver a situação?
Murilo, percebendo a angústia de Melissa, sugeriu que ela promovesse uma ação mais para frente. Assim, poderia, ao invés de promover uma separação, entrar logo com o pedido de divórcio.
Melissa ao saber que poderia fazer isso, ficou um pouco mais aliviada. Mas não suficiente para esquecer de um detalhe:
-- E se ele alegar que eu abandonei o lar? E se ele pleitear a guarda de Carolina? – perguntou Melissa aflita.
Murilo, percebendo a gravidade da situação, recomendou a ela, que arrumasse testemunhas para comprovar as agressões que sofria do marido.
Melissa comentou que poderia chamar enfermeiras dos prontos-socorros e hospitais onde esteve internada. Além disso sua mãe, e até mesmo antigas colegas de trabalho, sabiam que ela sofria agressões de Mauro.
Murilo, ao ouvir isso, respondeu que em decorrência disso, mesmo que Mauro entrasse com um pedido de guarda, nada conseguiria em razão das circunstâncias.
A moça, ao ouvir isso, ficou aliviada.
Sim por que, se não tinha nada a temer, era só esperar um pouco para entrar com o pedido de divórcio.
O que ela não contava, era que nesse ínterim, Mauro acabaria por descobrir seu paradeiro.
Apesar de todo o cuidado que a moça e sua mãe tiveram, Mauro acabou descobrindo que Melissa estava no Rio de Janeiro.
Isso ocorreu, por que a diretora do colégio onde Carolina estava estudando, preocupada com sua ausência durante as aulas, resolveu contatá-lo, para tentar entender o que estava acontecendo já que ele nunca aparecia, por lá.
Indiscreta, chegou até a perguntar se eles estavam se separando.
Surpreso, Mauro perguntou a mulher, como ela descobrira seu telefone.
A mulher então contou que sua filha Carolina estudava naquela escola, e no momento da matrícula da menina, Melissa havia dado o endereço de São Paulo.
Talvez distraída, acabou dando o endereço de outra cidade.
Mauro então perguntou:
-- E de onde a senhora está me ligando?
A mulher respondeu que aquela ligação era do Rio de Janeiro.
Mauro ao ouvir isso, disse:
-- Quer dizer então, que Melissa levou minha filha para o Rio de Janeiro? Mas que absurdo! Nunca em minha vida vi uma situação tão absurda como essa! Abandonou minha casa, levou minha filha embora, e se escondeu por quase dois anos de mim. Onde já se viu, tamanho absurdo?
A diretora da escola, ficou espantada:
-- Dois anos? Quase dois anos? Mas não é essa a história que ela contou para nós. Ela disse que o senhor viaja muito.
-- Viajo muito! A maior viajante dessa história é ela que mentiu e enganou todo o mundo. Inclusive a mim. Afinal de contas, isso é atitude de uma mulher decente?
A diretora, percebendo que Mauro estava alterado, percebeu que por sua voz pastosa, provavelmente o homem estava bêbado.
Mas não bêbado o suficiente para deixar de pedir informações sobre a localização da escola.
No tocante a localização da nova residência de Melissa, isso não foi possível descobrir, em razão da mesma ter fornecido o endereço de São Paulo na escola.
Todavia, seria apenas questão de tempo para ele, descobrir onde as duas moravam.
O ponto de partida para tanto, seria justamente a escola.
E assim, determinado a encontrar a esposa, lá se foi ele para o Rio de Janeiro.
Primeiro, arrumou as malas e depois foi direto para a rodoviária.
Agora, era apenas uma questão de tempo, para que Melissa e Carolina fossem encontradas.
Decidido, pediu afastamento por uns dias do trabalho, e lá foi ele.
Enquanto isso, Melissa e Murilo aproveitavam os poucos momentos sozinhos para namorar. Juntos iam ao cinema, ao teatro, a restaurantes, a discotecas, e passeavam pelos principais pontos turísticos da cidade.
Certa noite, chegara a ir até Copacabana e caminharam à noite pela beira da praia.
Decerto estavam felizes e despreocupados.
Já Mauro, mal podia ver a hora para se vingar da esposa.
Por esta razão, assim que chegou na cidade, tratou de arrumar uma pensão para se hospedar.
No dia seguinte fez plantão nas proximidades da escola onde Carolina estudava.
Decidido, ficou o dia inteiro esperando.
Porém, a escola era grande e demorou algum tempo para que finalmente visse a filha entrando no colégio.
Contudo, conforme se passaram os dias, finalmente acabou encontrando com Carolina. Cauteloso porém, resolveu não se apresentar de imediato. Até por que, se queria descobrir onde ela e sua mãe viviam, não podia espantar a garota.
E assim, Mauro esperou pacientemente.
Ao término das aulas, quando Elisa foi buscar Jane e Carolina, Mauro à distância, passou a segui-las.
Lentamente, o homem percorreu ruas e logradouros públicos. Finalmente chegou em frente a uma residência.
Exatamente nessa residência era que Carolina passava as tardes com sua amiga Jane.
Mais tarde Melissa, depois de um longo dia, após muito trabalhar e estudar, finalmente foi buscar a filha e levá-la para casa.
No trajeto, foi acompanhada de longe por Mauro.
Melissa então, desconfiada de que era seguida, diversas vezes, olhou para trás, na tentativa de ver se alguém. No entanto, toda vez que se virava, Mauro se escondia.
Assim, quando finalmente as duas chegaram no prédio, entraram, e Mauro ficou do outro lado da rua espreitando.
Enquanto isso, as duas subiram para o apartamento.
Nisso Mauro, resolveu sondar o porteiro do prédio.
Mas qual não foi a surpresa, quando ao tentar conversar com o porteiro, foi logo dispensado. Com a recomendação de que não cabia a ele comentar sobre a vida da moça, o porteiro foi logo despachando o rapaz.
Aborrecido, chegou a comentar com uma das faxineiras do prédio que aquele rapaz era muito impertinente.
Mauro, aborrecido, começou a andar, como se estivesse indo embora dali.
No entanto, sequioso de saber se era ali que ela morava, ficou observando o prédio a noite inteira. Esperando, esperando, ficou durante toda a madrugada.
Quando amanheceu e o sol começou a aparecer timidamente, Mauro viu Melissa e Carolina saírem do prédio.
Ao perceber que era ali que as duas moravam, Mauro foi até elas, que distraídas, nem perceberam que era ele quem se aproximava.
Diferente, Mauro estava mais mal cuidado. Com barba cerrada, nem dava para reconhecê-lo. Mas, foi só ele falar alguma coisa, que finalmente Melissa percebeu que era ele:
-- Minha cara. Não está lembrada de mim?
Um arrepio percorreu a espinha de Melissa.
Carolina, assustada, começou a olhar ressabiada para o homem que as cercava.
Mauro, percebendo o temor da filha, perguntou a ela:
-- Mas o que é isso Carolina? Sou eu, teu pai. Não vai me dar um abraço não?
Enquanto proferia estas palavras, Mauro tentou se aproximar da menina, mas Carolina tinha verdadeira aversão por ele. Por esta razão, assim que encontrou uma forma de escapar, saiu correndo em direção a casa de Elisa.
Melissa, percebendo que Carolina estava correndo, tentou ir atrás da filha, mas foi impedida por Mauro.
O rapaz, segurando-a pelos braços, disse a ela, que não seria daquela vez que ela escaparia, até por que os dois ainda tinham muito o que conversar.
E assim, mesmo Melissa tentando se soltar, não conseguiu. Sem saída, acabou tendo que ir com ele para onde quer que ele a quisesse levar.
Com isso, enquanto os dois caminhavam juntos, Mauro comentou com ela, que fazia muito tempo que estava no encalço das duas. Dizendo que perguntou a Elena, mãe dela, sobre seu paradeiro, nunca conseguiu nenhuma resposta.
Mauro então, respondeu que mesmo insistindo muito e até fazendo ameaças, nada a convencia a falar. Furioso, chegou até a agredi-la. Por conta disso, teve que responder um processo por lesões corporais.
Ao ouvir isso, Melissa espantada, comentou que sua mãe nunca comentara nada sobre isso.
Mauro começou a rir. Sarcástico perguntou:
-- E por que ela comentaria? Por acaso ela não é a mãe zelosa que vive a proteger a filhinha querida? Por que ela te deixaria preocupada? Não é assim que todas as boas mães agem? Elas não cuidam muito bem de suas crias?
Irritado, Mauro começou a empurrar Melissa, que segundo ele, estava andando muito devagar.
Nisso, enquanto Melissa era ameaçada por Mauro, Carolina já havia chegado a casa de Elisa, que informada da situação, tratou de avisar Murilo.
Carolina, nervosa, não conseguiu explicar direito o que estava acontecendo.
Contudo, ao dizer que seu pai estava com sua mãe, Murilo – depois de ir até a casa de Elisa – entendeu perfeitamente o que a menina queria dizer.
Sim, o rapaz ao saber da situação, foi logo a casa de Elisa.
Ao lá chegar, ficou conhecendo detalhes da história.
Preocupado, pediu que a menina lhe indicasse onde elas encontraram Mauro.
Carolina, ele, Jane e Elisa foram até o local.
Mauro, pedindo para que a menina se acalmasse, prometeu que traria Melissa de volta.
Foi então que a menina mostrou o local do encontro.
Murilo então, procurando Melissa e Mauro pelos arredores, não viu nenhum sinal dos dois. Preocupado, ao ver a aflição de Carolina, resolveu chamar a polícia.
Contudo, ao explicar o que estava acontecendo, o policial que atendeu a ligação, respondeu que não tinha nada a fazer. Se ele era o marido, estava no direito dele, querer conversar com ela. Além disso, segundo o que ele relatou, não havia nenhuma evidência de que ele poderia fazer algo de mal.
Murilo então, comentou que ela já fora vítima de violência doméstica por parte dele.
O policial perguntou a ele, se ela já havia tomado alguma providência com relação a isso.
Murilo respondeu que não.
O policial respondeu então, que não havia nada a ser feito.
Murilo então, ao receber a negativa do policial, ficou profundamente aborrecido. Contudo, preocupado, ao perceber que a policia nada faria, resolveu ele próprio ir atrás da moça.
Elisa, constatando a gravidade da situação, falou que pediria a um conhecido, ajudá-lo a procurá-la.
E assim, lá se foram os dois procurar Melissa.
Aflito, Murilo vasculhou as principais praias e pontos turísticos do Rio de Janeiro.
O conhecido, por sua vez, procurou Melissa em todos os lugares improváveis em que ela poderia estar. Pensando na história que Elisa lhe contara, chegou a conclusão de que ele talvez estivesse a pouco tempo no Rio de Janeiro. Se estivesse há muito tempo, já teria ido atrás dela há muito tempo. Pensando nisso, constatou que ele não conhecia bem a cidade. Por isso, seria mais fácil ele tê-la levado para onde estava hospedado.
Desta forma, imaginando que a situação financeira do sujeito não devia ser das melhores, pelo que Elisa contara da convivência dele com a mulher, certamente Mauro devia estar em alguma pensão barata, próxima de algum lugar muito conhecido.
Ao pensar nisso, passou a procurar o rapaz pelas pensões e hotéis mais baratos da cidade.
Enquanto isso Mauro, continuava a ameaçar Melissa.
Dizendo que ela iria pagar por tudo o que fizera a ele, comentou que ela não era digna.
Ao deixá-lo para viver em outra cidade, Melissa desrespeitou-lhe. Fez pouco do seu casamento com ele.
Melissa, ao ouvir as palavras de Mauro, tentou retrucar, mas ele, agressivo, mandou que ela se calasse.
E assim, continuou a dizer cada vez mais impropérios.
Nisso, o conhecido de Elisa, depois de horas procurando, finalmente encontrou uma pensão, onde provavelmente estaria. Pedindo para que ela passasse o endereço para Murilo, quando ele ligasse, ficou espreitando para ver se o homem saía.
Murilo, ao saber disso, foi direto para o local onde o conhecido estava.
Afobado, perguntou a ele, se tinha certeza que Mauro estava ali. O homem então comentou, que em todos os outros lugares por onde passou, não descobriu nem sombra de Mauro.
Isso por que, utilizando-se da desculpa de que tinha uma encomenda para entregar ao sujeito, descobriu que ele não estava hospedado em nenhum daqueles lugares.
Com isso, o único lugar que sobrou, foi aquele.
Contudo, temendo espantar o sujeito, resolveu não usar a história da entrega da encomenda para descobrir se ele estava ali.
Murilo porém, temendo pela moça, pediu a ele que sondasse.
E assim, o homem, usando novamente da desculpa de que tinha uma entrega a fazer, descobriu que Mauro estava hospedado ali.
Contudo, a dona da pensão, ao saber da encomenda, quis logo avisar Mauro. Não fosse a agilidade do homem, e ela teria posto tudo a perder.
Nisso, Murilo entrou na pensão e armou-se a confusão.
A dona do lugar, percebendo que algo estranho estava acontecendo, começou a gritar com os dois, pedindo para que saíssem de lá.
Murilo porém, resistiu a ordem. Irado, começou a bater na porta de todos os quartos da pensão. Nervoso, começou a gritar.
Melissa, ao ouvir os gritos do rapaz, respondeu:
-- Estou aqui.
Murilo ao ouvir isso, foi direto no quarto onde ouviu o som.
Ao se aproximar da porta, ouviu os gritos de socorro de Melissa, que aquela altura, estava sendo agredida por Mauro, que insistentemente, pedia para que ela calasse a boca.
A dona da pensão, ao ver a confusão armada, tentou empurrar Murilo.
O amigo de Elisa, ao perceber isso, ameaçou chamar a polícia, se ela não abrisse a porta do quarto e deixasse o rapaz entrar.
Sem ter outra alternativa, a senhoria acabou concordando. Abriu a porta do quarto.
Porém, ao abrir a porta do quarto, o pior aconteceu.
Mauro, armado, ameaçou atirar em Melissa se alguém se aproximasse.
Murilo, sem saber o que fazer, acabou distanciando-se dos dois.
Nisso Mauro e Melissa foram embora dali.
O rapaz, enfurecido, ao fugir, pegou um carro que estava ali por perto e foi embora.
Sem saber para onde ir, acabou indo para um lugar afastado, cheio de morros.
Murilo e seu acompanhante, partiram no encalço dos dois. Ao saírem da pensão, trataram logo de entrar no carro de Murilo e procurar os dois.
Saindo a toda velocidade, acabaram seguindo a pista dos dois.
Alucinado, o próprio Mauro acabou dando a pista certa para que os dois encontrassem-no.
Além disso, perdido numa cidade que não conhecia, acabou sendo encurralado.
Sem ter para onde correr, arrastou Melissa com ele.
A moça, ameaçada com uma arma, não teve outra alternativa senão segui-lo.
Murilo, aflito, pediu ao companheiro para que tivesse cuidado.
O conhecido de Elisa, então, sugeriu que cada um fosse para um lado, cercá-lo. Fingindo que estavam indo embora, aproveitariam para distraidamente, cercarem-no.
Com isso, os dois inicialmente, foram embora juntos.
À uma certa altura, percebendo que não tinham como serem mais notados, começaram a caminhar cada um para um lado. Vagarosamente, foram se aproximando.
Enquanto isso, Mauro ficava a ameaçar Melissa. Dizendo que ela tinha acabado com sua vida, prometeu que se vingaria dela.
Melissa ao ouvir as palavras de Mauro, percebeu que ele iria matá-la.
Por esta razão, constatou que precisava ficar atenta, ou ele acabaria lançando-a ao mar. Diante disso, ao ver alguns arbustos, tratou de enrolar seus pés neles. Acreditando que Murilo e seu amigo haviam ido embora, julgou que só podia contar consigo mesma.
E assim, procurou se defender o quanto pôde.
Mauro então, percebendo que ela estava muito quieta, começou a empurrá-la cada vez mais para a beira do precipício.
Murilo e seu colega, começaram a se aproximar cada vez mais.
Mas o plano deu errado. Mauro percebendo a aproximação, deu um tiro pro alto.
Depois, diante da distração de Melissa, empurrou-a.
Sem ter onde apoiar um dos pés, Melissa se desequilibrou e caiu.
Murilo ao ver isso, ficou desesperado.
Acreditando que Melissa havia caído no mar, começou a chorar compulsivamente.
Depois, percebendo que Mauro continuava parado no lugar, Murilo avançou para cima dele.
Mauro, covardemente, empurrou-o para a beira do penhasco.
Foi aí que Murilo ouviu gritos. Gritos cada vez mais constantes.
Murilo percebeu então, que Melissa estava enroscada em uns arbustos.
Quando Mauro percebeu que era isso que mantinha Melissa viva, resolveu lançar mão de mais uma de suas maldades. Ou seja, cortar o arbusto.
Mas não conseguiu.
Murilo, ao perceber a intenção do sujeito, foi logo o empurrando para longe.
Mauro então, começou a socá-lo.
Por pouco Mauro o não atirou do precipício.
O mal de Mauro, foi justamente este, ao tentar empurrar Murilo, ele próprio acabou tropeçando em uns arbustos, e caindo numas pedras.
Nisso, eis que surge a polícia e Elisa.
Preocupada, a moça ligou para o namorado. Comentando sobre a situação, pediu a ele, se suas empregadas não podiam olhar as meninas por dia. Isso por que, ela estava tão preocupada, que precisava ver de perto o que estava acontecendo.
Foi justamente ela, que ligando novamente para a polícia, insistiu para que alguém a acompanhasse. Desta forma, ela foi até a pensão. Lá, ao chegar, descobriu a confusão.
Desesperada, ela e os policiais, passaram a procurar os dois carros que saíram em disparada da pensão.
Foi assim, que chegaram até lá.
Ao chegarem no local onde Melissa estava, constataram que a mesma estava presa em um arbusto. Percebendo a gravidade da situação, trataram logo de improvisar uma corda.
Foi por esta corda, segurada pelos policiais, que Murilo desceu até o ponto onde Melissa estava, e auxiliando-a, fez com que ela subisse.
Enquanto isso, os policiais trataram logo de chamar uma ambulância.
Percebendo que o estado da moça inspirava cuidados, providenciaram logo a remoção.
Nisso, Melissa finalmente foi resgatada.
Ao pisar finalmente em terra firme, foi prontamente socorrida.
Imobilizada, foi levada de maca até a ambulância.
No hospital, a moça foi tratada, e em uma semana recebeu alta.
Por sorte a maior seqüela de todo acidente foi só o susto. Com a queda, a moça sofreu algumas escoriações, mas nada de mais.
No tocante a Mauro, com a queda, o mesmo faleceu.
Carolina, ao saber da notícia, ficou um pouco impressionada, mas não culpou a mãe.
Durante sua vida, nunca tivera uma boa relação com o pai.
Contudo, isso não impediu que ela lamentasse a perda. Afinal de contas, era seu pai.
Porém, sabedora de que o melhor para sua mãe era viver em paz, concordou quando esta lhe contou que depois do casamento, que ela passaria a viver com Murilo.
E assim foi.
Alguns meses depois deste lamentável acidente, finalmente Melissa se casou com Murilo.
Numa cerimônia no campo, durante a manhã, Melissa deu o passo definitivo para uma nova vida.
Elisa e seu agora novo marido, foram os padrinhos dos noivos. Elena também compareceu a cerimônia.
Carolina, foi a dama-de-honra.
Até os pássaros abençoaram a união.
Luciana Celestino dos Santos
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