Josie, voltava de mais um dia de trabalho.
Mal via a hora de realizar a série de reportagens para a qual foi designada.
Iria visitar cidades turísticas, conhecer lugares aprazíveis.
Tudo por conta de uma revista especializada em turismo.
Iria indicar os lugares mais interessantes para serem visitados, conhecidos.
Suas colegas de trabalho disseram-lhe que havia tirado a sorte grande, pois iria vincular o trabalho a diversão.
Lucineide vivia chamando-a de sortuda.
Com isto, Josie, ficava a contar os dias e as horas para tal evento. Estava deveras animada.
Já havia preparado sua mala com roupas de frio. Estava com tudo pronto.
Passagens compradas.
Só faltava embarcar na aeronave e rumar para o seu destino.
Medeiros, o editor da revista, lhe fez uma série de recomendações.
Mencionou que não estava ali para se divertir, mas para trabalhar.
Contudo, em que pese este fato, havendo uma folguinha, Medeiros comentou que poderia aproveitar para curtir os lugares por onde passasse.
Irônico, chegou a lhe sugerir que tivesse juízo.
Nisto, enquanto o dia tão esperado não chegava, a moça continuava a executar seu trabalho.
Realizava matérias sobre comportamento.
Recentemente realizou uma matéria sobre os cafés da cidade de São Paulo.
Conversou com baristas, e gente especializada em oferecer cafés incrementados a seus clientes.
Admirada presenciou a elaboração da mais famosa bebida do país, das mais diversas formas: com sorvete, com creme, decorado, com canela em pau. Um espetáculo para o paladar e para os olhos.
E assim, a moça dava prosseguimento a sua rotina.
Quando finalmente chegou o dia da viagem, chamou um táxi.
Estava impecavelmente trajada com um sobretudo azul marinho, e um belo vestido de manga comprida por baixo. Usava botas de cano alto de salto. Ao descer do táxi, conduziu sua mala de rodinhas, e colocou sua bolsa marrom sob um dos ombros.
Adentrou as dependências do aeroporto, fez o check in, e depois dirigiu-se a sala de embarque.
Após cerca de quarenta minutos, entrou na aeronave.
Sentada em sua poltrona, pode observar a pista, parte da trajetória percorrida pelo avião para decolar.
Viu as nuvens.
Nas alturas, avistou o relevo, a vegetação, as construções.
Quanto mais o avião alcava vôo, mais as imagens se pareciam com imagens de satélite.
Josie, cada vez que viajava de avião se deleitava com essas imagens.
Munida de uma câmera com um potente zoom, a moça tentou fotografar a geografia da cidade de São Paulo, vista das alturas.
Aceitou o refrigerante oferecido pela comissária de bordo.
Quando o avião aterrissou, tratou logo de descer da aeronave e se dirigir ao salão de desembarque, com vistas ao recolhimento de sua mala.
Em seguida, saiu do aeroporto, utilizando um táxi.
Destino, a rodoviária da cidade.
De lá pegou um ônibus em direção as serras.
Durante a viagem, apreciou a visão de casinhas nas montanhas, de araucárias.
Como estava um pouco frio, a moça aproveitou para dormir um pouco. Recostou-se no banco e adormeceu.
Ao chegar na pequena cidade serrana, pegou a mala que estava guardada no bagageiro do ônibus. Novamente chamou um táxi, seguindo até o hotel.
Ao chegar na recepção do hotel, preencheu uma ficha de atendimento.
Um funcionário do hotel a conduziu até seu quarto, juntamente com sua mala.
Ao adentrar o ambiente, percebeu que era confortável e aquecido.
Nisto, agradeceu o funcionário, que retirou-se.
Em seguida, retirou suas roupas da mala.
Depois, saiu do hotel e tratou logo de procurar um restaurante para almoçar.
Estava faminta.
Comeu avidamente seu filet ao molho madeira, acompanhado de vinho tinto.
Mais tarde saiu para caminhar pela cidade.
Atenta, tirou algumas fotos do passeio público, dos prédios, da prefeitura, das construções em estilo alemão.
Josie, que não conhecia o sul do país, ficou encantada com a cidade.
A noite foi procurar um restaurante para jantar. Estava faminta.
Comeu macarrão e tomou suco de laranja.
A certa altura, começou a fazer anotações sobre as impressões que tivera a respeito da cidade.
Por fim, comeu uma sobremesa e pagou a conta.
No dia seguinte, a moça continuou suas incursões pela cidade. Visitou lojas, conheceu museus.
Chegou até a fazer algumas compras.
Por fim, contratou os serviços de city tour pela pequena cidade serrana.
Visitou também a cidade vizinha.
Igualmente arborizada, cheia de lojas e restaurantes charmosos.
Na praça principal da cidade, uma imponente igreja de pedra. Magnífica.
Muitas fotografias tiradas com sua câmera profissional.
Conversou com alguns lojistas.
Ficou impressionada com a limpeza dos banheiros públicos, com o fato de não existirem faróis, e com o fato de os carros pararem, quando os pedestres atravessam na faixa.
Josie já estava se sentindo parte das cidades da região.
Com isto, cobriu o evento cinematográfico da cidade onde estava hospedada.
Contratou também, um passeio pela região vinícola.
No trajeto de ônibus, avistou cidades, construções em estilo germânico, muito verde.
Nas regiões rurais, plantações de verduras, casas de pedra, gado.
Antes de passarem pela primeira vinícola, enfrentaram uma estreita estrada de terra.
Ao longo da estrada, avistaram casas de madeira, crianças brincando e acenando.
Ao longe um muro de pedra, realizado com as peças devidamente encaixadas, sem argamassa.
Mais longe estavam os verdejantes parreirais, e as árvores utilizadas nas estruturas dos mesmos, para a sustentação das uvas.
Tudo muito lindo, muito verde.
Por fim, o ônibus de turismo parou em um lugar cheio de construções de pedra.
Em um dos caminhos, cujo calçamento era feito de pedras, como as ruas das cidades serranas por onde Josie passou, lindas camélias vermelhas, com nuances amareladas, ladeavam o caminho.
Encantada, a moça começou a tirar fotos do lugar.
Por fim, ouviu as explicações da vinhateira.
A mulher pacientemente explicou sobre os produtos retirados da uva, do vinho seco.
Do fato de que vinho suave, é um vinho temperado de açúcar.
Descobriu que da uva colhida do pé, é extraído um delicioso suco de uva. Consistente, saboroso, o qual só se diferencia dos melhores vinhos, pelo simples fato de não possuir álcool.
A vinhateira também explicou que dois produtos medicinais são extraídos da uva, os famosos Eno e Sonrisal. Sal de frutas.
Argumentou que um cálice de vinho diário traz muitos benefícios para a saúde.
Mencionou a origem da cachaça de uva, bagaceira, também conhecida como grapa, ou graspa. Com teor alcoólico de 45%.
Na degustação foram oferecidos, vinho tinto seco, vinho branco, suave, uma espécie de conhaque de uva, a famigerada graspa, e o maravilhoso suco de uva.
O local era composto de pequenos barris, entre alguns instrumentos utilizados na destilação da uva. Lugar escuro.
A vinhateira explicou que antigamente, se amassavam as uvas com o pé.
Do lado de fora, o sol, e um imenso parreiral.
Caminhando pela propriedade, a moça se deparou com antigos instrumentos de trabalhos, casinhas de madeira.
Até chegar a loja de produtos da propriedade.
Muitos vinhos, lembranças, cosméticos feitos com uva.
No local é oferecida uma pequena degustação com embutidos como queijos, salames.
O segundo local de visitação, foi uma vinha industrializada.
No entorno, muitos parrerais, verdejantes. Árvores servindo de sustentáculo as vinhas.
Vinícola com um imponente pórtico de entrada.
A frente da construção, alguns jardins. Ao lado, alguns prédios.
Ao entrar em um dos galpões da vinícola, Josie se deparou com imensos barris de madeira, carvalho. Barris de gigantescas dimensões, com vários metros de altura.
Na parte inferior dos barris, uma pequena abertura por onde os homens passavam para fazer a limpeza interna dos barris.
De acordo com o expositor, processo longo e demorado.
Daí a substituição dos imensos barris de madeira, por imensos barris de inox, que também possuem vários metros de altura.
Conforme explicações, tal estrutura não altera a composição química dos vinhos, possuindo barris imensos com capacidade de milhões de metros cúbicos.
Tudo para a confecção dos melhores vinhos e produtos da vinícola.
O expositor, apresentou alguns dos produtos apresentados na vinícola.
Mostrou uma sala com vários pequenos barris de madeira.
Contou sobre os elementos que podem compor um bom vinho, como frutas cítricas, brancas, vermelhas, entre outros elementos.
Comentou que durante a degustação, os visitantes poderiam apreciar um bom vinho, sentir seu aroma e visualizar os elementos constantes em sua fórmulas. Argumentou que um pouco de atenção, é possível perceber alguns dos elementos que entram na composição do vinho.
Mostrou a cave e o modo como os produtos vinícos são fabricados.
O modo como as garrafas são acondicionadas. Sempre deitadas.
O expositor explicou o processo de envelhecimento dos vinhos.
Argumentou que os bons vinhos são envelhecidos, e que a qualidade de um bom produto viníco, também depende da qualidade das uvas e da realização de uma boa colheita.
Falou sobre a formação de uma levedura, a qual fermenta e vai parar na boca da garrafa, sendo posteriormente retirada.
O expositor mostrou alguns dos vinhos produzidos na região. Algumas garrafas imensas.
Enquanto isto, os turistas, entre eles Josie, caminharam pela cave.
No caminho até o local da degustação, se depararam com caixas para o acondicionamento de garrafas de vinho.
Na degustação, mesas ricamente decoradas, seis taças justapostas.
Nas taças foram colocadas várias modalidades de vinho.
O primeiro vinho degustado, foi um vinho branco, de sabor ácido, e que segundo o expositor, deveria ser servido acompanhado de peixe, ou carne branca.
Nisto, pediu para todos inclinarem a taça, e a balançarem levemente, a fim de sentirem o buquê, o aroma do vinho.
O expositor perguntou aos visitantes, se estavam sentindo o aroma o gosto das frutas cítricas de polpa branca.
Em seguida, foi degustado um vinho tinto, de sabor mais suave.
Quanto a este vinho, o expositor explicou que se trata de um vinho mais delicado, que acompanha bem carnes mais suculentas, vermelhas.
Novamente perguntou se os visitantes notavam a presença de frutas vermelhas.
Novos vinhos foram servidos. Vinhos tintos, de sabor mais ácido.
Por último, foi servido um espumante suave.
Durante a degustação dos vinhos tintos mais secos, foi servido um queijo.
Finalizando a exposição, foi dito que todos os produtos ali produzidos, atendem os mais rigorosos pré-requisitos, no que tange a qualidade.
Nisto o expositor se retirou, e os visitantes se dirigiram a loja onde os produtos vinícos eram vendidos. Vinhos, cosméticos feitos à base de uva.
Em seguida, os visitantes foram conduzidos a um restaurante, onde almoçaram.
Comeram carnes, arroz, sobremesas.
Mais tarde realizaram um passeio de trem, embalado por muitas canções italianas, dramatizações.
Uma belíssima paisagem verdejante, construções de pedra, em estilo alemão.
Paradas em antigas estações de trem.
Degustação de vinhos produzidos em vinícolas de região, espumantes, suco de uva.
Durante a degustação, foi dito que somente os vinhos que atendem os pré-requisitos dos produtos produzidos na região da França, possuem o nome de Champagne, e podem ser classificados com este nome.
Fora isto, são meros espumantes, não se tratando de champagne propriamente ditos.
Durante o trajeto de ônibus, foi explicada a existência de uma grande vinícola, a qual é produtora de conhecidos vinhos vendidos em quaisquer supermercados de São Paulo. Produtos bem conhecidos.
Mais tarde os turistas foram levados para outra vinícola da região, onde foi possibilitado para quem tivesse interesse, colher um cacho de uva.
O vinhateiro, filho do dono da vinícola, conduziu os visitantes ao parreiral.
Josie se interessou na colheita.
Com isto o jovem explicou que antigamente a vindima – colheita da uva – era feita por grupos de pessoas. Colhiam uva por uva no parreiral.
Cantavam suas cantigas.
Nisto, o rapaz explicou que os italianos que rumaram para aquelas paragens, vieram em busca do sonho de prosperar em terras estrangeiras. De fazer a América, e que o Brasil fora conhecido como a terra das oportunidades.
Contudo, conforme explicou, não foi bem isto, o que ocorreu.
Isto porque, os italianos foram utilizados como mão de obra barata no lugar dos negros libertados da escravidão, e muitos não conseguiram realizar seu sonho de prosperar.
Animado, o moço explicou que ali no sul, havia a preocupação em ocupar as terras, com medo da invasão estrangeira, principalmente espanhola. Por conta disto, foram oferecidas terras aos primeiros italianos que por ali chegaram.
Com isto, os italianos que chegaram, primeiramente trataram de plantar, de produzir o alimento necessário a sobrevivência. Depois se ocuparam de construir casas para morarem.
Com isto, passaram a morar dentro de árvores. Abriam o tronco e faziam das árvores suas moradas provisórias.
O guia por sua vez, comentou que alguns italianos chegaram a morar por alguns anos no tronco das árvores.
Mostrou posteriormente algumas casas de pedras, muro de pedras.
Josie realizou então a colheita, como nos primeiros tempos. Colheu a uva de um cacho, munida de uma tesoura.
Lúcio, o guia, comentou que ali o modo de colheita das uvas, é todo artesanal.
Gentil, o moço auxiliou-a no corte do cacho de uva.
Para chegar ao local, foram conduzidos em um carrinho, o qual percorreu estradas de terra, caminhos tortuosos.
Josie achou divertido o sacolejar do passeio.
Os turistas também puderam apreciar, o modo artesanal de se esmagar as uvas, tirando os sapatos.
Não sem antes, realizar uma assepsia nos pés.
Depois era só pisar as uvas em um barril de madeira.
Neste momento, surgiram moços vestidos de calças compridas e camisas xadrez, e moças de vestido comprido. Cantavam e dançavam canções italianas.
O guia comentou sobre a graspa, a cachaça da uva, da qualidade das uvas. Do quanto os fatores climáticos influenciam a qualidade das uvas, e por conseguinte, dos vinhos. Comentou que em época de chuvas ou de sol muito intenso, a qualidade das uvas é inferior. Mencionou também que existem diversas espécies de uvas e que cada uma delas tem um finalidade distinta.
Divertido, disse que muitos italianos costumam tomar a graspa misturada com o café. Uma gotinha da bebida no café, mas que outros preferem uma gotinha de café na graspa.
No momento da degustação, sugeriu que os copos fossem trocados, de acordo com as bebidas que eram servidas. Argumentou que o sabor de uma bebida interfere na outra.
Assim, sugeriu que a bebida fosse sorvida em um generoso gole.
Por fim, Josie acomodou-se em um canto da propriedade e ficou contemplando a paisagem.
Um imenso mar de parreirais a se perder de vista.
Nisto, o guia se aproximou para puxar conversa. Perguntou de onde ela vinha.
Josie respondeu:
- São Paulo.
- Que interessante! Conheço São Paulo! Já estive lá a trabalho. É uma cidade enorme. Assusta um pouco a gente. – comentou Olavo.
- São Paulo é grande sim. Mas só assusta no começo. Depois que a gente conhece, depois que a gente descobre seus encantos, tudo fica mais fácil.
- Concordo! Mas foi difícil descobrir seus encantos. Apanhei um bocado. Mas... não dá para negar, apesar do que dizem, é um lugar muito bonito. São Paulo tem lugares incríveis para se visitar: monumentos, teatros, museus. – prosseguiu Olavo.
Nisto, percebendo que a ainda não sabia o nome da moça, perguntou-lhe:
- E a guria, como se chama?
Sorrindo, Josie respondeu:
- Me chamo Maria Josefa. Mas pode me chamar de Josie. É como eu prefiro.
- Maria Josefa. Nome forte!
- Nome feio, você quer dizer! – comentou Josie.
- Não necessariamente. É nome de mulher forte. De gente determinada.
Josie achou graça. Comentou:
- Isto pode ser. Por que tudo o que eu quero eu consigo. Ainda que eu tenha que ir a luta.
- Uma mulher que não foge à luta. Bravo.
Olavo, então, resolveu perguntar com o que Josie trabalhava.
A moça respondeu-lhe então, que era jornalista, e que aquela viagem fazia parte de seu trabalho. Mencionou que aqueles passeios seriam matéria de uma revista de turismo, na qual trabalhava.
- Que interessante! Eu Olavo, trabalho como guia na vinícola de minha família. Um trabalho que envolve turismo, e você lidando diretamente com turismo. Deve conhecer o Brasil inteiro!
- De certa maneira, sim. Conheço Brasília, Goiás, Rio de Janeiro, São Paulo – é claro, Minas Gerais, Santa Catarina, e agora estou conhecendo um pouco do Rio Grande do Sul. – respondeu a moça, de forma simpática.
- Tu estás gostando? – perguntou o guia.
- Sim. É uma região muito bonita.
- Concordo. Não é por estar em sua presença, mas o sul é lindo.
Mais tarde os turistas foram convidados a degustarem os produtos caseiros produzidos na vinícola, como queijos e alguns salames. Com isto, novamente foram servidos vinhos.
Josie comprou algumas garrafas, bem como alguns cosméticos feitos com diversas qualidades de uvas da vinícola.
Ao término do passeio, Olavo chamou-a em um canto.
Pediu-lhe para que assim que tivesse uma oportunidade, tornasse a visitá-los, voltando ao Sul, pois seria um prazer recepcioná-la.
Josie, impressionada com a gentileza, agradeceu.
Nisto o moço perguntou-lhe onde estava hospedada.
Espantada com a pergunta, Josie respondeu que estava em um hotel localizado em outra cidade, não muito próxima da região vinícola.
Curioso, Olavo pediu para que ela lhe dissesse onde estava hospedada.
Sem jeito, Josie disse que estava hospedada em um hotel da cidade de Gramado, por apenas alguns dias. Acabou deixando escapar que ficaria alguns dias na capital do estado também.
Nisto o guia retrucou:
- Você não vai mesmo me dizer onde está hospedada, não é? Tudo bem, não tem problema, eu descubro. Não precisa se preocupar!
Josie achou graça.
Nisto o guia lhe entregou uma carta, e pediu para que somente a lesse quando chegasse no hotel em que estava hospedada.
A moça mais uma vez agradeceu a hospitalidade e se afastou.
Neste momento, um dos visitantes que a acompanhava, pediu para que se dirigisse até o ônibus pois o mesmo partiria em alguns minutos.
Olavo por sua vez, disse tchau a ambos.
Discretamente, ficou de longe, a olhar a partida do mesmo.
Nisto, Josie se acomodou em um dos bancos, e durante algum tempo, ficou observando a paisagem.
Por fim, acabou adormecendo.
Somente foi despertar quando o ônibus já estava chegando na cidade, que nesta época do ano, estava quente e convidativa.
Ao chegar ao hotel, a moça, entrando em seu quarto, pegou a carta que havia guardado em sua bolsa marrom e passou a lê-la.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Poesias
quinta-feira, 18 de março de 2021
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 24
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 23
Durante a estada no país portenho, o casal passeou por lugares históricos, praças, monumentos, freqüentou bons restaurantes, dançou.
Cecília sempre impecavelmente trajada, assim como o moço.
Ao retornarem ao Uruguai, levaram as lembranças de uma bonita viagem.
Em seus passeios, compraram algumas lembranças para os garotos, que ficaram encantados com os presentes. Também comentaram detalhes da viagem para os meninos: os passeios que fizeram, os monumentos que visitaram.
Nesta época, Francisco contava com sete anos, Eli tinha nove.
Fabrício por sua vez, retornou uma última vez ao Brasil.
Ao retornar ao escritório onde trabalhava, pediu demissão, para espanto de seu chefe que tentou a todo o custo, demovê-lo da idéia.
Em vão, posto que Fabrício argumentou que havia recebido uma proposta de emprego no México, onde ganharia três vezes mais.
Seu chefe, sem ter como cobrir a proposta, aceitou o pedido de demissão do moço.
Fabrício aproveitou também, para visitar os pais.
Comunicou-lhes que passariam um longo tempo sem vê-los, tendo em vista que se mudaria para o México, mas que assim que pudesse, entraria em contato com eles, nem que fosse através de carta.
Carlos, surpreso com a novidade, perguntou-lhe em qual empresa mexicana trabalharia.
Fabrício respondeu-lhe que não lhe diria o nome da empresa e tampouco da cidade para onde iria. Comentou que era segredo, e que somente poderia contar quando estivesse instalado no lugar.
Carlos não se convenceu dos argumentos do moço e iria insistir em suas perguntas, não fosse a intervenção de Angélica que lhe pediu para que parasse de inquirir Fabrício.
Angélica respondeu que o moço quase não os visitava e que ficar insistindo naquela conversa, só faria com que ele se afastasse mais. Afinal de contas, se ele não queria dizer para onde ia, era porque tinha os seus motivos.
Fabrício sorriu para a mãe.
Com isto, desembaraçado de seus compromissos, o moço rumou para o Uruguai, de onde não se afastou mais.
Ao chegar na mansão, comentou que ele não tinha mais vínculos com o Brasil.
Informou que havia pedido demissão.
Cecília perguntou-lhe o que faria no Uruguai.
O moço respondeu-lhe trabalharia nas mesmas atividades em que trabalhou no Brasil.
Apenas com a diferença de que seria seu próprio chefe.
Com isto, começou a dar início a um escritório de advocacia, cuja fama chegou ao Brasil.
Fabrício se tornou um doutrinador, citado até por juristas no Brasil.
Desta forma, aumentou se patrimônio, atuando em causas de vulto.
A propósito...
A família aumentou, com a chegada de uma filha, de nome Carolina.
Cerca de três anos mais tarde, Fabrício enviou uma carta aos pais, explicando-lhes o seu sumiço, bem como lhe participando a informação de que havia se casado com Cecília e tiveram uma filha.
Pedro, ao tomar conhecimento disto, ficou perplexo. Como ela conseguiu se separar dele sem o seu conhecimento?
Anos mais tarde, Pedro descobriu o documento enviado para ele anos atrás, em meio aos seus pertences.
Sua namorada na época recebeu a correspondência, a qual deixou em meio a suas coisas, mas ele não se interessou em abri-la.
Estava tão envolvido em bebedeiras que não se preocupou com o assunto.
Carlos por sua vez, ao tomar conhecimento das segundas núpcias de Cecília, censurou-a chamando a moça de oportunista e aproveitadora.
Angélica fuzilou-o com os olhos.
Por este motivo, o casal ficou semanas sem se falar.
Até que se entenderam.
Não sem protestos de Angélica que dizia que ele afastou Fabrício dela.
Anos mais tarde ela comentou que ele não poderia continuar sendo tão duro. Disse-lhe que eles morreriam e não haveria quem cuidasse dos seus funerais.
Carlos criticando-a, disse-lhe que não precisava exagerar.
Angélica retrucou dizendo que não estava exagerando. Argumentou que o tempo passava depressa, e mais cedo ou mais tarde eles iriam embora.
Triste respondeu que não gostaria de morrer sem ver o filho, nem que fosse só mais uma vez.
Tempos mais tarde, Irineu, mais compassivo, visitou a filha, ao lado de sua esposa.
Eleanor chorou ao ver a filha feliz, ao lado de seu novo marido.
Paparicou o quanto pode os netos, e principalmente, a neta.
Eduardo e Roseli, com o filho Samuel, também visitaram o casal.
O garoto nesta época já tinha quase quatro anos.
Márcia, casada com Vinícius, já tinha um filho de nome Antonio.
Fabrício só se ressentia da ausência dos pais, mas Cecília temerosa, se recusava a voltar ao Brasil.
Ainda temia que Carlos pudesse lhe tirar a guarda dos filhos.
Argumentava que se tratava de um homem poderoso.
E assim, nunca retornou ao Brasil.
Muitos anos depois, Angélica visitou o filho.
Foi a última vez que viu Fabrício.
Meses depois, faleceu.
Quando Fabrício soube do ocorrido, ficou desolado.
Carlos sentiu muito a perda.
Ainda assim, providenciou a abertura do testamento da esposa e comunicou ao filho, por meio de um advogado.
Cecília havia deixado metade do patrimônio que recebera dos pais para ele, e a outra metade para Pedro.
Fabrício, ao tomar conhecimento do falecimento da mãe, voou para o Brasil, mas não conseguiu acompanhar o funeral.
A ele restou o consolo de visitar o túmulo de Angélica e depositar algumas flores.
Também encomendou uma lápide, onde mandou inscrever que ela fora uma mulher venturosa por haver encontrado um homem amoroso, e que ele fora abençoado por ser seu filho.
Fabrício tentou conversar com o pai, mas Carlos se recusou a recebê-lo.
Ao retornar ao Uruguai, tentou convencer a esposa a retornar ao Brasil, mas Cecília se recusava.
Os filhos crescidos, já haviam se casado e a moça argumentou que não iria abandoná-los.
A própria Carolina já havia constituído família.
Casou-se aos dezoito anos.
Anos depois deu a luz a uma filha.
Quando a menina nasceu, Carolina e Heitor já estavam instalados no Brasil.
A criança, filha de uruguaios, nasceu no Brasil.
Ainda assim, Cecília permaneceu no Uruguai.
Com o tempo Cecília e Fabrício, acabaram perdendo o contato com o casal.
Isto por que Heitor se envolveu com o movimento estudantil, e precisando se esconder, não pode dizer onde estava.
Como Carolina não retornou ao Uruguai, Cecília morreu sem ter notícias da filha.
A moça não escrevera para a mãe.
Cecília morreu com cerca de setenta anos de idade.
Cecília e Fabrício por sua vez, venderam o imóvel que tinham na cidade praiana e rumaram para a capital.
Como o imóvel tinha comprador certo e o casal precisava de dinheiro rápido, acabaram por se desfazerem do mesmo.
E assim, o contato foi perdido.
Com relação a este fato, por diversas vezes Fabrício tentou localizar a filha, sem êxito.
Angustiado, o casal chegou a pensar que Carolina e Heitor pudessem ter sido presos e estarem sofrendo torturas.
Esta era a maior aflição de Cecília.
Fabrício por sua vez, temia por algo pior.
Porém, percebendo o desespero da mulher, procurava poupá-la de suas conjecturas.
A todo o momento procurava consolá-la. Dizia que devia estar tudo bem.
Fabrício argumentava que notícias ruins chegavam rapidamente. Caso tivesse ocorrido algo com o Carolina e Heitor, saberiam pelos jornais.
Cecília porém respondeu que o Brasil estava vivendo sob a égide da ditadura militar, e que os jornais do país, estavam censurados.
O homem não soube o que dizer.
Fabrício por sua vez, desencantado com a morte da esposa, retirou-se do país.
Deixou seu patrimônio para os filhos e partiu para o Oriente.
Envolvido em atividades de engenharia, resolveu investir nestas atividades no Oriente Médio.
Com efeito, Heitor precisou sair de São Paulo, onde ficou alguns meses em um sítio de um conhecido seu.
Cecília e Fabrício, não chegaram a saber que Carolina havia tido uma filha.
Maria nasceu tempos depois, em um tempo mais calmo.
A moça cresceu. Formou-se em jornalismo.
Anos depois, morando em seu próprio apartamento em São Paulo, longe dos pais, Maria tomou conhecimento do acidente que envolvera Carolina e Heitor, causando a morte de ambos.
Não fosse o apoio dos amigos, e Maria tivesse talvez, desistido de continuar em Sampa.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 22
No café-da-manhã, Cecília recomendou aos filhos que se alimentassem bem.
Em seguida, Jurema acompanhou os meninos ao colégio.
Cecília ficou sozinha em casa.
Fabrício, ao levantar-se, arrumou-se e conduziu seu carro pelas ruas da cidade.
Ao chegar na casa de Cecília, estacionou o carro na rua, abriu o portão que permanecia encostado, e entrou no jardim da casa.
Alcançando a sala da casa, deparou-se com Cecília sentada em um sofá, segurando uma revista nas mãos. Estava distraída.
Tanto, que não percebeu sua presença.
Fabrício aproximou-se vagarosamente.
Quando Cecília notou que Fabrício ocupava a sala, assustou-se.
O moço, pedindo para a moça não fugir dele, pediu para que ela lhe desse uma resposta definitiva. Argumentou que estava cansado de viver em eterna incerteza, no tocante a possibilidade de ficarem juntos.
Cecília gaguejando, respondeu que não sabia o que dizer.
Ao ouvir estas palavras, Fabrício pressionou a moça.
Retorquiu dizendo que não aceitaria evasivas.
Aproximando-se da jovem, agachou-se e novamente segurou suas mãos.
Perguntou-lhe o por quê de não ficarem juntos. Indagou se ela não o achava interessante, digno de atrair o interesse de uma mulher.
No que Cecília retrucou dizendo que não era nada daquilo.
Fabrício insistiu em saber o que os impedia de ficarem juntos.
Cecília ficou sem palavras.
Ao constatar a hesitação da moça, Fabrício perguntou-lhe se ela não gostava nem um pouquinho dele.
A moça constrangida, respondeu que ele era uma pessoa especial.
Nisto, o casal ficou conversando.
Fabrício respondeu-lhe que a cada dia que passava, ficava mais impressionado com a determinação e coragem da moça. Disse que além de bela, era sim, uma pessoa especial.
Cecília respondeu que não tinha nada de excepcional em sua conduta. Argumentou apenas que tivera que cuidar de sua família, já que Pedro os abandonara.
E assim, a moça reafirmou sua decepção com Pedro.
Respondeu desolada, que gostaria muito de se separar dele.
Em um momento de distração do moço, Cecília perguntou:
- E você? Me promete que não vai deixar meus filhos sozinhos? Promete me ajudar a me separar de Pedro?
Fabrício, sem compreender exatamente o que a moça queria dizer com aquelas palavras, prometeu ajudá-la.
Cecília então, olhando nos olhos do moço, depois de ficar algum tempo pensativa, respondeu:
- Então ... está bem! Eu aceito! Concordo em me casar com você.
Fabrício ficou em êxtase.
Por um instante, não acreditou no que seus ouvidos ouviam.
Cecília, percebendo o ar de espanto do moço, perguntou se ele havia entendido o que ela dissera.
Ao voltar a si, perguntou-lhe se poderia abraçá-la.
Cecília concordou.
Fabrício então, abraçou Cecília.
Apoiando sua cabeça no ombro da moça, o homem começou a lacrimar.
Como Fabrício permanecesse abraçado a ela, Cecília perguntou-lhe se estava tudo bem.
O moço, tentando disfarçar o choro, respondeu que sim.
Argumentou que só queria ficar abraçado a ela.
Mais tarde, o casal caminhou pelo jardim.
Quando Jurema retornou a casa, depois de deixar as crianças na escola, a mulher observou o casal de mãos dadas.
Estavam sentados em um banco, onde ficavam observando as árvores e as flores.
Feliz, a mulher percebeu que eles estavam se entendendo.
Pensou consigo mesma, que os conselhos que dera ao rapaz, estavam produzindo resultado.
Nisto quando Eli e Francisco foram informados da novidade, ficaram deveras felizes.
Ansioso, ao se encontrar novamente a sós com Cecília, contou-lhe as providências que teriam que tomar para obter o divórcio.
Pensou em ir a Argentina e providenciar as medidas cabíveis.
Argumentou que ali não chamariam a atenção de ninguém, e que em seguida se casariam.
Com isto, Fabrício perguntou-lhe onde gostaria de se casar.
Cecília respondeu que preferia se casar em outro lugar.
Disse que preferia que os locais não soubessem que estava prestes a se casar.
Fabrício concordou.
E assim, começou um namoro, em que Fabrício estava constantemente em companhia de Eli e Francisco, e que às vezes, conseguia ficar a sós com Cecília.
Geralmente quando saiam juntos para jantar, ou ir ao cinema.
De vez em quando Fabrício aproveitava para passear com ela no jardim.
Certo dia, comentou que sua mãe e seu pai, namoraram muito nos jardins da casa de Ângela e Francelino.
O moço disse brincando, que certas coisas nunca mudavam.
Cecília respondeu que era muito bom que certas coisas não mudassem.
Fabrício beijou-a.
A moça, receosa de que alguém os visse, recomendou-lhe que não fizesse mais isto.
O rapaz respondeu sorrindo que a única pessoa que poderia vê-los do jardim era Jurema.
Com o tempo, o moço começou a presenteá-la com pequenos mimos.
Levava-lhe flores e alguma lembrancinha para os meninos.
Eli e Francisco ficavam encantados com os presentes que ganhavam.
Alertados por Cecília, sempre agradeciam os presentes recebidos.
Eli e Francisco passavam tardes inteiras brincando com os presentes de Fabrício.
Carrinhos e caminhões.
No aniversário de Francisco, o moço presenteou o garoto com uma bola e um uniforme da seleção do Brasil.
Eli ao ver os lindos presentes do irmão, respondeu que em seu aniversário, gostaria também, de ganhar um uniforme.
Fabrício atendeu ao pedido.
No aniversário do garoto, providenciou uniforme, bola, e um trenzinho.
Eli ficou encantado.
Emocionado, chorou e comentou que seu pai nunca lhe dera presentes tão bonitos.
Fabrício sorriu para ele.
Cecília ficou comovida.
A moça providenciou uma festa simples para os meninos, com bolo e alguns doces.
Atenciosa, convidou os amiguinhos do colégio.
Foram festas simples, mas animadas.
Com o tempo, o moço passou a comprar-lhe algumas jóias.
Jurema ao ver os brincos e anéis ofertados pelo moço, elogiou o bom gosto do rapaz. Disse-lhe que era uma mulher de sorte.
Cecília sorriu.
Fabrício por sua vez, cauteloso, evitava permanecer muito tempo no país.
Retornava sempre ao Brasil, e trabalhava no escritório executando sua rotina.
De vez em quando visitava Carlos e Angélica.
Conversava sobre seu trabalho, relatando que sua vida prosseguia tranqüila, sem grandes novidades.
Angélica ao vê-lo mais tranqüilo, sugeriu que encontrasse uma moça para se casar.
Fabrício sorrindo, disse que pensaria com carinho, naquela possibilidade.
Em uma das visitas, percebendo um brilho diferente no olhar do moço, perguntou-lhe se havia conhecido alguém.
Fabrício, tentando desconversar, disse que não.
Angélica porém, não se convenceu.
O moço então, disse-lhe que estava travando conhecimento com alguém muito especial, mas que não sabia se o relacionamento prosperaria, razão pela qual preferia esperar que a relação se fortalecesse para depois, dizer a todos que estava namorando.
Ao ouvir estas palavras, Angélica perguntou se era uma boa moça.
Fabrício respondeu que era a melhor de todas.
Quando Carlos soube da novidade, parabenizou o filho.
Disse que só tiveras decepções com Pedro e que agora um de seus filhos estava lhe dando um pouco de alegria. Contou que sentia falta dos netos e que estava fazendo de tudo para encontrá-los. Completou dizendo que nenhuma família deveria ficar dispersa.
E assim, o moço passou a viver. Ora no Uruguai, ao lado de Cecília, ora no Brasil, tentando não levantar suspeitas sobre seus passos.
Ao tomar conhecimento sobre os progressos junto ao processo de separação, o moço, preparando o espírito da jovem, comentou que Pedro tomaria conhecimento disto, e que talvez Carlos e Angélica também ficassem cientes.
Ao ouvir isto, Cecília ficou transtornada.
Argumentou que se Carlos soubesse o que estava fazendo, viria procurá-la e tomar os seus filhos.
Fabrício, então, tentando acalmá-la, disse que por esta razão, resolveu dar entrada no processo na Argentina.
Desta forma, como ela residia em outro país, ganhariam mais tempo, visto que Carlos procuraria por ela na Argentina. Ademais, completou, talvez até o próprio Pedro ignorasse a manifestação da justiça argentina e deixasse de lado a informação.
Fabrício comentou que Pedro passava a maior parte do tempo alcoolizado, e que passara a viver ao lado de uma mulher abastada, que bancava todos os seus excessos.
E assim foi.
A despeito do nervosismo de Cecília que dizia que iria desistir do divórcio e que pretendia sair do Uruguai, Pedro ignorou o documento vindo do exterior.
Ao receber a correspondência, nem chegou a abri-la, deixando-a jogada em um canto.
Fabrício, por sua vez, ao ouvir as palavras de desespero de Cecília, disse-lhe que ela não iria fazer nada daquilo que estava ameaçando fazer.
O moço recomendou-lhe por diversas vezes que se acalmasse.
Discretamente, pediu o auxílio de Jurema.
E assim, depois de conversar com Jurema, Cecília concordou em aguardar o desfecho do processo. Cecília então, aguardou ansiosa, a finalização do processo.
Casaram-se.
A cerimônia ocorreu na Argentina.
Jurema, Eli e Francisco, acompanharam a cerimônia.
Fabrício então, pediu a amigos brasileiros para serem seus padrinhos.
O moço, pedido de Cecília, convidou Eduardo para viajar para a Argentina.
Discreto, comentou com o amigo, que ninguém poderia saber de sua viagem, nem mesmo seus pais.
Ao ouvir isto, Eduardo ficou intrigado, mas prometendo discrição, concordou.
Qual não foi sua surpresa, ao aportar no país, e depois de se instalar em um hotel, descobrir que sua irmã estava se casando com seu melhor amigo.
Durante o café da manhã Eduardo e Roseli foram informados da novidade.
Ficaram perplexos.
Contudo, ao verem o sorriso no rosto de Cecília, desfizeram sua primeira impressão de pasmo, e aos poucos se acostumaram com a idéia.
Cecília segurou Samuel no colo.
Disse ao casal que o menino era uma criança encantadora.
Roseli, agradecida com o elogio, concordou.
Cerca de meia hora depois, Jurema, conduzindo Eli e Francisco, desceram ao salão.
Eduardo e Roseli cumprimentaram os sobrinhos, que ficaram animados com a presença deles.
Ao serem apresentados a Samuel, pediram para segurar o menino no colo.
Cecília, proibiu-os de segurarem a criança.
Roseli por sua vez, percebendo o ar de desapontamento dos meninos, permitiu que eles segurassem a criança.
Preocupada, Cecília perguntou se ela estava realmente certa disto.
E assim, Francisco e Eli seguraram a criança.
Acomodando os garotos nas cadeiras, e auxiliando-os a segurarem o bebê, Francisco e Eli puderam ficar alguns minutos com Samuel.
Não sem recomendações de cuidado por parte de Cecília.
Mais tarde, conversando entre eles, os garotos disseram que já eram homenzinhos e Francisco, querendo se gabar, respondeu que havia ficado mais tempo, segurando a criança.
Esta questão acabou virando uma disputa, na qual Cecília interveio, argumentando que os dois seguraram por igual tempo o menino.
Em passeio por Buenos Aires, Eduardo comentou que Márcia havia ficado noiva e se casado com um rapaz.
Cecília ficou surpresa com a novidade.
Fabrício brincando, disse que o tempo não havia passado só para ela.
Cecília respondeu que não havia reparado que sua irmã havia crescido.
Em um passeio noturno, depois de jantarem em um restaurante e provarem o típico churrasco gaúcho, Fabrício e Cecília dançaram um tango.
Eduardo e Roseli, empolgados com a animação do casal, também arriscaram uns passos da dança.
E assim, no dia ajustado, o casal compareceu a um cartório da cidade.
Cecília usava um vestido longo, rodado e florido. Um típico tubinho.
Fabrício por sua vez, usou terno e gravata cinzas.
Eduardo e Roseli foram os padrinhos de Cecília, e Jurema e um amigo de São Paulo, o padrinho de Fabrício.
Célio, o amigo de Fabrício, comprometeu-se a não comentar sobre o casamento dele, com Carlos e Angélica.
Com isto, depois do casal e das testemunhas assinarem os papéis, todos seguiram para um restaurante, onde comemoraram o casamento.
No cartório, foram tiradas algumas fotos. No restaurante também.
Durante a cerimônia, Regina - a esposa de Célio -, e os meninos ficaram cuidando de Samuel.
No dia seguinte, Eduardo, Roseli e Samuel se despediram do casal e dos garotos.
Retornaram para São Paulo.
O amigo Célio e Regina, rumaram para São Paulo alguns dias depois.
Jurema e os garotos voltaram para o Uruguai.
Eli e Francisco protestaram, mas Fabrício, ao conversar com eles, comentou que ele e Cecília precisavam ficar um pouco sozinhos, e que dentro de alguns dias, retornariam ao Uruguai.
Brincando com os garotos, disse-lhes que em poucos anos, estariam passando pela mesma experiência.
Cecília retrucou dizendo que eles não precisavam ter tanta pressa.
Fabrício riu. Falou-lhe que esta era a conseqüência natural da vida.
Nisto a moça despediu-se dos filhos.
Quando o casal se viu finalmente a sós, aproveitou para caminhar de braços dados pelas ruas de Buenos Aires.
Assistiram a apresentações de tango, foram ao cinema, ao teatro.
Cecília começou a prestar mais atenção no modo de falar do povo.
Morando a alguns meses no Uruguai, já havia aprendido um pouco do idioma.
Fabrício já havia percebido o fato, quando Jurema e os meninos o cumprimentaram em espanhol.
Cecília comentou que Eli e Francisco estavam indo bem na escola, e que já entendiam bem o idioma.
Na viagem, Fabrício aproveitou para comprar alguns vestidos e jóias para a moça.
Simpáticas, as atendentes perguntavam-lhe se era recém-casada.
Como Cecília respondesse que sim, as funcionárias se desdobravam em gentilezas para com ela e Fabrício.
Em sua primeira noite a sós com Fabrício, Cecília estava apreensiva.
Fabrício por sua vez, ao vê-la em uma bonita camisola, segurou as duas mãos da moça, e disse-lhe que não precisava mais se preocupar com o futuro. Falou-lhe que estava ali para tudo o que precisasse.
Cecília sorriu para ele.
No dia seguinte, ao despertar, Fabrício ouviu tocar uma canção bossa nova no rádio. Ficou admirado.
Tanto que tratou logo de despertar a então esposa, para ouvir.
Cecília dormia envolta nos lençóis da cama e Fabrício, tentando fazer com que despertasse, começou a sussurrar em seu ouvido.
A moça, ao despertar ouviu um pedido do moço.
Fabrício lhe disse:
- Escute esta música, é do Brasil!
Cecília ouviu “Chega de Saudade”.
Atenta, procurou descobrir detalhes da canção.
Ao fim da execução da música, Cecília respondeu que a canção era muito linda.
Fabrício respondeu que esta era uma novidade no Brasil, assim como o rock’n roll, que estava correndo o mundo.
Brincando, o moço disse-lhe que provavelmente Eli, Francisco e os filhos que tivessem, ouviriam aquele novo ritmo.
Com isto, abraçou a moça.
Perguntou-lhe se havia pensado na possibilidade de ter outro filho.
Cecília ficou pensativa.
O moço pediu a ela que pensasse nisto.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 21
Mais tarde, o moço telefonou para Cecília. Convidou-a para jantar.
A moça curiosa, aceitou o convite.
Fabrício disse-lhe que jantariam em um restaurante sofisticado, posto que a ocasião exigia algo especial.
Ao desligar o telefone, a moça ficou apreensiva.
Com a ajuda de Jurema, escolheu um bonito vestido azul marinho, com pedrarias, todo rodado.
Ao ver a moça com o vestido no corpo, com os cabelos arrumados, perfumada e maquiada, Jurema elogiou-lhe o talhe.
Vendo uma pequena caixinha de jóias, sugeriu-lhe para colocar um par de brinco de brilhantes.
Cecília respondeu que aquele fora um presente de Pedro. Argumentou que o brilho dos brincos não era adequado ao vestido de pedraria.
Nisto, ao ver um brinco de pérolas, retirou-os da caixa. Colocou-os nas orelhas.
Jurema, ao vê-la tão radiosa, disse que ela estava perfeita.
Cecília agradeceu o elogio.
Eli e Francisco, ao verem a mãe tão bonita, elogiaram-na.
Minutos depois, Fabrício surgiu na frente da mansão, em seu carro.
Entrou na residência e conversou um pouco com os meninos.
Por fim, despedindo-se dos garotos, reiterou os planos de um passeio pela manhã.
Ao chegarem no restaurante, Cecília e Fabrício foram recepcionados por um funcionário, que acomodou o casal em uma mesa centralizada.
Com isto, após fazerem seus pedidos, o casal degustou um prato a base de carnes.
Ao término do jantar, o casal apreciou uma apresentação de tango.
Ao fim da apresentação, o dançarino jogou uma flor na mesa de Cecília.
Todos aplaudiram a apresentação.
Fabrício então, percebendo que a moça estava entretida com a flor, perguntou-lhe se havia gostado do presente.
- Presente? – perguntou a moça, visivelmente surpresa.
Fabrício respondeu que aquela flor fora propositalmente jogada para ela.
A moça ficou intrigada.
Fabrício pediu-lhe para que estendesse sua mão.
Cecília atendeu o pedido.
O moço beijou-lhe a mão.
Segurando-a, disse-lhe que nada era por acaso.
Galante, comentou que a espera tornara tudo mais doce. Disse que talvez tivera que esperar por tantos anos por aquele momento, em razão de sua imaturidade. Precisava conhecer a vida para poder saber o valor de uma mulher como Cecília.
Beijando novamente sua mão, o moço comentou que tinha um presente para lhe ofertar.
Nisto, Fabrício retirou uma caixinha de seu bolso.
Em seguida, colocou-a nas mãos da moça.
Pediu para que ela abrisse a caixinha.
Cecília abriu-a.
Ao se deparar com um anel imenso cheio de brilhantes, ficou constrangida.
Tentando escolher as palavras, respondeu que não poderia aceitar o anel. Argumentou que não ficaria bem para ela, em sendo casada, receber um presente de outro homem.
Fabrício, ao ouvir isto, disse-lhe que com apenas uma palavra, ela poderia modificar sua condição.
Cecília ficou observando-o.
O rapaz então, falou-lhe que em querendo, ela poderia desfazer os laços de casamento com Pedro, e assim, se casar com outra pessoa, a qual gostava muito dela.
Ao notar a hesitação da moça, Fabrício perguntou-lhe por que não tentar. Argumentou que ela não tinha nada a perder, e que se a união não fosse feliz, poderiam se separar.
Cecília, ao ouvir a palavra separação, alegou que não gostaria nunca mais de passar por aquela situação.
Fabrício então, segurando as mãos que portavam a caixinha, disse-lhe olhando em seus olhos, que não pretendia se separar. Salientou que proferiu as palavras apenas por amor a argumentação, mas que não estava disposto a se separar na primeira dificuldade. Argumentou que queria apenas fazer com que se sentisse segura.
Cecília sorriu.
Fabrício, nervoso que estava, perguntou-lhe:
- O que você está pensando?
Cecília tentou desconversar, mas como Fabrício insistiu, a moça respondeu que ele estava lhe oferecendo muitas vantagens.
Respondeu brincando que quando a esmola era muito grande, o santo desconfiava.
Fabrício não gostou do que ouviu.
Alegou que não estava fazendo a proposta para enganá-la. Argumentou que não era Pedro.
Nervoso, aproximou-se mais da moça.
Cecília, percebendo a aproximação, e notando que todos os observavam, pediu para que ele se afastasse.
Fabrício sugeriu pagar a conta e irem para a mansão.
A moça concordou.
Com isto, o casal saiu do restaurante.
Fabrício guiou pelas ruas da cidade.
Cecília por sua vez, apreciou o brilho das luzes, as lojas, o comércio do lugar.
Em dado momento, o homem mudou o itinerário. Seguiu pela praia.
Cecília notou a mudança, mas Fabrício insistiu que precisavam terminar a conversa iniciada no restaurante.
A moça, só coube concordar.
E assim, ao encontrar um lugar para estacionar o veículo, desceu do carro.
Encaminhando-se em direção a Cecília, abriu a porta do carro para ela.
Fabrício estendeu sua mão para a moça.
Juntos, caminharam um pouco pela praia.
Cecília retirou os sapatos e caminhou pela praia.
Fabrício, tentando se acalmar, começou a dizer que não gostou de ser comparado com Pedro.
Tentando se defender, disse que não estava competindo com o irmão, que nunca se interessara por suas garotas.
Cecília respondeu que entendia.
Fabrício por sua vez, prosseguiu dizendo que não escolheu gostar dela, que para estas coisas não havia comando ou escolha.
Aproximando-se da moça, falou que estava sendo sincero. Emendou dizendo que não era tão galante e encantador como Pedro, mas gostava dela de verdade.
E assim, num gesto inesperado, segurou a moça nos braços e beijou-a.
Ao soltá-la, Cecília foi se afastando aos poucos.
Olhou-o perplexa.
Fabrício tentou se aproximar, mas a moça se afastou.
Cecília pediu para que ele a levasse de volta para casa.
O moço concordou.
A moça, ao adentrar o lar, subiu rapidamente as escadarias da mansão. Trancou-se em seu quarto.
Sentou-se em sua cama.
Seus pensamentos eram confusos.
Lembrava de suas conversas com Fabrício, de seus momentos com Pedro. Recordou-se de cada detalhe dos momentos vividos ora antes.
Aturdida, não sabia o que diria a Fabrício.
O moço por sua vez, ao se deitar na cama do quarto em que estava hospedado, pensava haver posto tudo a perder com seu gesto precipitado.
Cecília, ao deitar-se em sua cama, vestida em uma camisola de renda branca, tentou dormir.
Tentou, por que por mais que fechasse os olhos, não conseguia dormir.
Virava-se e virava na cama.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 20
Convidando-a para almoçar em um restaurante da cidade, o moço comentou que precisavam conversar reservadamente.
Cecília, concordou.
Com isto, vestiu uma bonita roupa e acompanhou o moço em um almoço.
Conversaram sobre amenidades, como os dias lindos que estavam despontando na cidade, os passeios gostosos na praia, as caminhadas pelas ruas do lugar.
Fabrício sugeriu um prato com frutos do mar para o almoço.
Cecília concordou com a proposta.
Almoçaram.
Fizeram um brinde a nova vida de Cecília.
Fabrício sugeriu o brinde.
Nesta oportunidade, Fabrício comentou então, que não retornaria mais para São Paulo se este fosse o desejo dela.
Ao ouvir isto, Cecília ficou surpresa.
- Como assim? – perguntou.
Fabrício respondeu que como ela já devia ter percebido, já há algum tempo ele estava interessado nela.
Tímida, a moça respondeu que não, não havia percebido.
Fabrício então, segurou as mãos da moça.
Disse que ela tinha por obrigação lhe dar uma resposta. Argumentou que merecia esta resposta.
Sem graça, a moça ficou de pensar.
O moço então, seguindo os conselhos de Jurema, arrumou suas malas e se hospedou em um hotel na cidade.
Cecília, ao perceber isto, pediu ao rapaz para que não deixasse a casa. Comentou que ele tinha mais direito de permanecer no imóvel do que ela.
Fabrício por sua vez, dizendo que havia comprado a casa para a família da moça, insistiu para que ela permanecesse na residência. Disse-lhe que ficaria aborrecido, se ela abandonasse a casa.
Cecília então, concordou em permanecer no imóvel, mas insistiu para que ele ficasse também.
Fabrício respondendo que precisava pensar em tudo o que estava acontecendo, recomendou-lhe que ela fizesse o mesmo.
Nisto, despediu-se da moça e de malas prontas, saiu do imóvel, acompanhado da moça e dos meninos.
Eli e Francisco insistiram para que ele não fosse embora.
Fabrício, conversando com os garotos, explicou-lhe que ele não iria se afastar deles, apenas estava deixando que eles ficassem mais à vontade na casa.
Eli então, insistiu para que ele ficasse. Argumentou que a casa era grande e que cabiam todos ali.
Fabrício riu.
Abaixou-se e segurando os ombros do menino, explicou-lhe que não estava abandonando-os.
Disse que jamais faria isto. Revelou que gostava dele e de Francisco como se fossem filhos deles.
Foi o bastante para Eli e Francisco chorarem.
Eli por sua vez, em meio a soluços e lágrimas, pediu:
- Então se eu sou como um filho pro senhor, porque você não se casa com minha mãe?
Cecília, que não esperava por um gesto tão espontâneo de seu filho mais velho, censurou-o.
Disse-lhe que não deveria falar daquele jeito com o moço. Argumentou que Fabrício era apenas um bom amigo, sem nenhuma obrigação de assumir aquela família.
Fabrício, ao ouvir as palavras de repreensão da jovem, disse-lhe que não precisava brigar com as crianças. Comentou que não se ofendeu com a pergunta de Eli.
Pausadamente, respondeu que para se casar com Cecília, precisava primeiro de seu consentimento, e também regularizar a situação jurídica da moça com Pedro.
Rindo, perguntou se era isto mesmo que ele queria.
Eli respondeu que sim.
Cecília repreendeu-o.
Fabrício, olhando o menino com ternura, pediu a moça para que não brigasse com ele.
E assim, o moço saiu da residência.
Mais tarde, Fabrício telefonou para Cecília, convidando-a para jantar com ele. A sós.
A moça aceitou o convite.
Colocou um vestido preto, rodado, com brilho.
Prendeu os cabelos com um coque.
Ao se apresentar a Jurema e aos filhos tão arrumada, os três elogiaram o talhe e a elegância.
Jurema, ao acompanhar a moça até a porta, disse-lhe baixinho que ela estava muito arrumada para um encontro com um amigo.
Cecília criticou-a. Falou-lhe que estava sendo muito bisbilhoteira.
Jurema riu. Comentou que tudo se aclararia com o tempo.
Nisto, Fabrício buzinou para a moça.
Gentil o moço desceu do carro e conduziu a jovem até o carro.
Jurema acenou para o casal, despedindo-se.
No restaurante, Fabrício e Cecília degustaram uma paella.
De sobremesa, uma mouse.
Fabrício contou então, que precisava voltar para São Paulo, posto que precisava justificar sua ausência no trabalho.
Cecília constrangida, perguntou se a razão para voltar ao Brasil era realmente o trabalho. Indagou se não estava chateado com ela por algum motivo.
Sorrindo, Fabrício respondeu que não. Argumentou que de fato precisava retornar ao Brasil, ou poderia levantar suspeitas de Carlos.
Ao ouvir isto, Cecília ficou apreensiva.
O homem, ao perceber isto, respondeu-lhe que ela não precisava se preocupar com nada.
Disse baixinho que Carlos nunca descobriria onde ela estava.
Sorrindo, pediu para que ela não se sentisse pressionada, e que assim que pudesse, retornaria para ouvir uma resposta da moça. Comentou maroto, que ela deveria pensar em sua pergunta, e responder assim que pudesse.
Cecília não entendeu.
Fabrício brincalhão, respondeu:
- Santo Deus! Eu vou te que te dizer com todas as palavras, para pensar na possibilidade de ficarmos juntos?
Cecília ficou perplexa.
Fabrício, segurando em sua mão, perguntou-lhe se ela não sentia nada por ele.
A moça, constrangida, não sabia o que dizer.
O rapaz, percebendo isto, ficou desapontado.
Cecília tentou então amenizar a situação dizendo que fora pega de surpresa, que não sabia o que pensar.
Fabrício porém, não a deixou falar. Argumentou que não queria piedade.
Cecília respondeu que nunca sentira pena. Disse-lhe que ele não era digno de pena, e sim, de admiração. Argumentou que se havia alguém digno de pena, esse alguém não era ele. Incomodada, a moça revelou que sentia pena de Pedro. Que ele sim era um coitado.
Fabrício ficou surpreso com aquelas palavras.
Cecília então, segurando as mãos do moço, disse-lhe que quando dissera que não sabia o que pensar, que fora pega de surpresa, estava sendo sincera. Relatou que nunca pensara nesta possibilidade.
Fabrício confessou então, que desde que a vira pela primeira vez ao lado de Pedro, percebeu que ela era uma pessoa muito especial, e que se o irmão não lhe desse o devido valor, demonstraria seu interesse por ela.
Cecília ficou surpresa e comovida com o relato.
Fabrício completou dizendo que desde que a vira pela primeira vez, se encantou com ela.
Contudo, em respeito ao irmão, procurou sublimar o que sentia. Por isto, se envolveu com outras mulheres, e conheceu um pouco o mundo de Pedro.
Cecília não gostou de ouvir isto.
Fabrício por sua vez, disse que ela não era responsável por sua suposta degradação.
Não que viver uma fase boêmia, tenha sido algo reprovável. Não para ele.
Nisto, o jovem argumentou que não poderia se casar com alguém por quem não sentia afeto. Mencionou que se assim o fizesse, estaria enganando a si mesmo. Estaria também sendo leviano.
Cecília completou dizendo que se assim o fizesse, estaria incorrendo no mesmo erro de Pedro.
Fabrício, percebendo amargura nas palavras da moça, disse-lhe que Pedro era um tanto imaturo, mas que a amara com sinceridade.
Relatou que até onde sabia, ela e o irmão viveram felizes por alguns anos.
Cecília assentiu com a cabeça.
Fabrício, segurando suas mãos, disse-lhe para que se recordasse dos melhores momentos ao lado de Pedro, mas que não se fechasse para uma nova possibilidade.
Cecília respondeu que não estava disposta a sofrer uma nova decepção.
Fabrício prometeu-lhe que ela não passaria por isto novamente.
A moça prometeu pensar no assunto.
Dois dias depois, o moço de malas prontas, retornou ao Brasil.
Em São Paulo, Fabrício retornou ao escritório.
Dedicou-se a suas atividades rotineiras.
Em conversas no escritório, comentou que vendera todas as suas propriedades no Uruguai, e que para realizar os trâmites necessários, precisou permanecer no país mais tempo do que esperava.
Seu patrão aceitou as desculpas do moço.
Fabrício por sua vez, comprometeu-se a colocar o trabalho em ordem.
Com isto, o moço passou a fazer serão.
Todos os dias chegava tarde em seu quarto de hotel.
Carlos, ao saber que o filho se desfizera de parte dos bens herdados, censurou-o.
Disse que ele não deveria ter vendido os bens, a menos que pretendesse investir em outras propriedades.
Fabrício respondeu que não tinha interesse em possuir bens no país, já que o Uruguai não o atraía.
Carlos sugeriu-lhe adquirir bens na Argentina.
O moço respondeu que iria pensar.
Cecília por sua vez, se entretinha em acompanhar os filhos em seus passeios pela praia.
Mais tarde, a moça decidiu matricular os meninos em um colégio da cidade, pois dentro de alguns meses, se iniciaria um novo ano letivo.
Como não sabia se comunicar em espanhol, pediu para que uma das empregadas a acompanhasse.
Qual não foi a dificuldade para a moça se fazer entender na escola.
Não fosse o auxílio de Esmeralda, e talvez não tivesse conseguido matricular os filhos.
A moça também passeava pelo centro da cidade. Procurava emprego.
Jurema, argumentou que ela também poderia arrumar trabalho, e que poderiam se revezar nos cuidados com Eli e Francisco.
Cecília, ao ouvir isto, perguntou-lhe se ela não pensava em casamento, se não gostaria de construir uma família.
Jurema respondeu que no momento não tinha nenhum pretendente à vista, mas que se aparecesse alguém em sua vida, ela seria a primeira a saber. Comentou que não estava desesperada à espera de alguém que poderia não aparecer. Argumentou que não seria uma solteirona.
Cecília achou graça no jeito descontraído da amiga.
Certa tarde, enquanto Jurema caminhava pelo centro da cidade, Cecília resolveu passar a tarde com os filhos.
As crianças ficaram brincando no jardim em frente a casa.
De vez em quando os meninos perguntavam quando Fabrício retornaria.
Cecília não sabia o que dizer. Respondia que o moço não havia informado data de retorno.
Certa vez, quando a moça folheava uma revista, os garotos pediram para que ela telefonasse para ele.
Cecília respondeu que não poderia fazê-lo.
Insistiu para que os filhos tivessem paciência.
Argumentou que Fabrício voltaria.
Todavia, controlar a impaciência dos meninos era difícil.
Com relação a isto, a moça também sentindo falta do moço.
Fabrício estava demorando para retornar.
Jurema percebendo isto, chegou a comentar em tom provocativo, que Cecília estava sentindo falta de Fabrício.
Aborrecida Cecília comentou que como bom amigo que era, Fabrício era muito querido de todos.
Tempos depois, Fabrício retornou ao Uruguai.
Para surpresa de todos, o moço decidiu se hospedar em um hotel. Argumentou que não ficaria bem se hospedar em casa de duas jovens, já que não era casado com nenhuma delas.
Cecília, sem jeito, concordou.
Embora não concordasse em permanecer na casa comprada por ele, aceitou a opinião do moço.
Com isto, o jovem, que estava de visita, brincou com os meninos.
Perguntou-lhes como eram seus dias, se estavam gostando do Uruguai.
Eli e Francisco disseram que sim.
Fabrício almoçou com os meninos.
Depois ficou conversando com os garotos no jardim.
Contou-lhes que quando criança, brincara em um jardim parecido com aquele.
Ao ouvirem isto, os meninos ficaram interessados em sua história.
Fabrício contou-lhes histórias de sua infância ao lado do irmão, Pedro. Disse que por ser mais velho, Pedro era um exemplo para ele.
Eli e Francisco ouviram o relato com toda a atenção.
Tristes se perguntaram por que Pedro os havia abandonado. Por que havia batido em sua mãe.
Eli disse que odiava o pai.
Fabrício censurou, o menino. Segurando-o pelo ombro, disse em tom calmo, que ele não deveria nutrir ódio por Pedro. Argumentou que Pedro não fizera o que fizera por maldade, e sim por falta de preparo para viver em família.
Nervoso, Eli respondeu que o pai deveria pagar pelo que fez.
Fabrício argumentou que a vida se encarregaria de ensinar-lhe o que faltava aprender.
Disse que Pedro não era feliz, mas que ainda não havia acordado. Argumentou que cedo ou tarde, ele despertaria, e procuraria o perdão deles.
Francisco, tentando imitar o irmão, disse que não o perdoaria não.
Fabrício se assustou ao perceber a mágoa dos meninos.
Em vão, tentou convencê-los de que Pedro os amava. Amava de uma maneira estranha, mas não deixava de ser afeto.
Eli ao ouvir estas palavras, comentou que não acreditava nisto. Disse que a mãe tentou fazer com que se encontrassem com o pai, mas Pedro não estava disposto a vê-los. Perguntou se o pai os amava tanto, por que não os procurava.
Fabrício ficou sem palavras.
Nisto, Eli endereçou-lhe uma pergunta:
- O senhor gosta de mim e do meu irmão?
Fabrício enternecido, respondeu:
- Mas é claro que sim! Como não gostaria? Vocês são duas das pessoas mais importantes em minha vida.
Eli, segurando as mãos do homem, disse:
- Se isto é verdade, por que o senhor não se casa com minha mãe? Aí poderíamos ter uma família de verdade. Seria tão bom!
Fabrício ficou visivelmente emocionado com as palavras.
Quando o moço foi conversar com Cecília, os meninos ficaram em volta deles, como a esperar por uma proposta de casamento.
Jurema, percebendo que os meninos não deixavam o casal conversar à vontade, chamou-os.
Convidou Eli e Francisco para fazerem um bolo, convencendo-os de que se a ajudassem a fazê-lo, poderiam lamber as fôrmas.
Com isto, diante de tão irresistível proposta, os meninos correram para a cozinha.
Eli disputou com o irmão a preferência na confecção do bolo. Argumentou que por ser o mais velho, seria ele o primeiro a experimentar o bolo.
Francisco reagiu dizendo que ele seria o primeiro, por ser o mais novo.
Jurema afastou-se.
Fabrício achou graça na disputa dos meninos.
Cecília respondeu que Eli e Francisco era competitivos, mas se adoravam.
Eram muito unidos. Um sempre defendia o outro.
Fabrício respondeu que se via um pouco nos meninos.
Cecília respondeu que eles sentiam muito a falta de Pedro.
Fabrício, segurando a mão da moça, perguntou-lhe se havia pensado em sua proposta.
A moça, começou a gaguejar.
Fabrício argumentou que ela teve muito tempo para pensar.
Cecília, constatou que precisava responder.
A moça então, pensativa, contou que ficou a pensar na proposta por um longo tempo.
Preocupada com seu futuro, mencionou que durante a ausência do moço, procurou emprego. Relatou que Jurema também.
Angustiada, comentou que não agüentava mais viver naquela situação. Sempre precisando partir, se esconder de todos, como se estivesse fazendo alguma coisa errada.
Triste, comentou que às vezes se sentia sozinha.
Relatou que às vezes acordava a noite, sobressaltada, com medo de ser descoberta.
Por um certo momento, ficou com o olhar perdido.
Fabrício aproximou-se. Olhou-a nos olhos.
Disse segurando suas mãos, disse-lhe que ela não precisava se sentir assim. Argumentou que ela não precisa sentir mais medo. Completou dizendo que estava segura.
Cecília retorquiu dizendo que não estava certa disto.
Fabrício perguntou se ela ainda nutria a esperança de voltar a se entender com Pedro.
A moça ficou surpresa com a pergunta.
Todavia, nem por isto deixou de demonstrar que não tinha a menor intenção de voltar a viver com Pedro. Comentou que não gostava do temperamento instável do moço, e que se tivesse descoberto isto a tempo, não teria se casado com ele.
Relatou ainda, que não gostaria que Eli e Francisco ouvissem o que pensava a respeito do pai.
Completou dizendo que seus filhos foram as únicas coisas bonitas que Pedro deixou como legado do casamento.
Fabrício sorriu. Comentou que diante disto, não havia óbice em ficarem juntos.
Cecília respondeu-lhe que não era livre.
Ao ouvir isto, Fabrício comentou que se ela estivesse disposta a ficar a seu lado, poderiam obter o divórcio.
Cecília respondeu que no Brasil não havia divórcio.
Fabrício argumentou que alguns países da América Latina, o divórcio era possível, e que um segundo casamento também.
Os olhos de Cecília encheram-se de esperança.
O moço, percebendo isto, disse-lhe a deixaria pensar mais um pouco.
Tentando seduzi-la, comentou que poderiam se casar sim, e que ao lado dela e dos meninos, poderiam ser uma família. Argumentou que já tinha os meninos em conta de filhos.
Cecília ao ouvir estas palavras, argumentou que ele poderia estar confundindo as coisas.
Fabrício, olhando-a nos olhos, disse-lhe que não havia confusão alguma. Afirmou que seu sentimento era antigo, e que em respeito a Pedro, decidira não interferir.
A moça indagou-lhe por que ninguém lhe dissera nada sobre a vida pregressa de Pedro.
O rapaz respondeu que Pedro parecia sincero em seu propósito de mudar. Disse que ela havia promovido uma grande mudança no moço, que passou a se ocupar com o trabalho, coisa que raramente fazia, o que gerava descontentamento em Carlos.
Fabrício respondeu-lhe que não se sentiu no direito de atrapalhar o projeto de vida do irmão.
Respondeu com convicção que Pedro a amou de verdade.
Fabrício falou que Pedro nunca fora tão atencioso e dedicado a uma mulher, como ele fora com ela.
Por fim, dizendo que aquela conversa o estava incomodando um pouco, disse que ele e sua família nunca tiveram a intenção de enganá-la.
Cecília ficou pensativa.
Por um instante, lembrou-se que seu irmão Eduardo nunca simpatizou com Pedro.
Fabrício percebendo a distração da moça, perguntou-lhe o que estava pensando.
Cecília respondeu que pensara em sua família, como estavam. Mencionou que Eduardo nunca gostou de Pedro, que sempre lhe fora hostil. Disse que ele percebera antes de todos, que o casamento fracassaria.
Ao recordar-se das conversas que tivera com o irmão, pôs-se a chorar.
Fabrício aproximou-se da moça e a consolou.
Cecília respondeu entre lágrimas, que Eduardo sempre achou que o moço não prestava.
Fabrício tentou argumentar dizendo que eles tiveram momentos felizes. Disse que Pedro, amou-a de verdade. Comentou que o moço abandonou a vida desregrada ao conhecê-la. O moço passou a trabalhar com afinco. Coisa que nunca fizera antes.
Cecília argumentou que nunca fora advertida do temperamento boêmio do moço.
Fabrício respondeu que ninguém tivera a intenção de ludibriá-la. Mencionou que Pedro parecia sincero em seu propósito em ser feliz ao lado dela. E que por esta razão, a família não julgou conveniente comentar sobre o passado boêmio do moço.
Cecília respondeu que não queria mais sofrer.
Fabrício aproximando-se mais, disse-lhe que ela não precisava sofrer.
Abraçando-a, argumentou que ao seu lado, ela seria muito amada, assim como seus filhos, que ficariam amparados em uma nova família.
Contou que casada novamente, Carlos não poderia mais ameaçá-la, que não poderia mais tirar-lhe a guarda dos meninos. Mencionou que ela não estava mais só. E que em querendo, poderia retornar ao Brasil.
Cecília, ao ouvir estas palavras, retrucou assustada, que não queria retornar ao país.
Com isto, tornou a chorar.
Fabrício por sua vez, tentando acalmá-la, disse que não faria nada que ela não quisesse. Argumentou que tudo seria feito a seu gosto.
Galante, respondeu-lhe que deixasse ele mostrar a ela o quanto poderia ser galante.
Neste momento, a moça parou de chorar.
Fabrício ofertou-lhe um lenço.
Comentou que estava cansado de falar de Pedro. Argumentou que gostaria de falar dele, e do quanto vinha guardando aquele sentimento.
Enchendo-se de coragem, o moço convidou-a para jantar. Disse-lhe que tinha uma proposta irrecusável a fazer.
Cecília encheu-se de curiosidade. Insistiu para que ele contasse o que estava pensando.
Fabrício, com ar de mistério, respondeu que no momento certo, ela saberia o que iria propor.
A moça enxugou o rosto.
Eli e Francisco, irromperam pela sala, gritando e chamando Cecília e Fabrício para comerem um pedaço de bolo.
Jurema, tentando conter os meninos, pediu desculpa ao casal.
Argumentou que foi impossível segurá-los por mais tempo na cozinha.
Fabrício respondeu que não havia problema.
Com isto, o bolo foi servido.
Cecília serviu Fabrício.
Jurema, ao observar a cena sorriu para o moço.
Francisco aproximou-se de Fabrício e perguntou-lhe se iria ficar.
Cecília ficou constrangida.
Razão pela qual, pediu para o menino ficar ao seu lado.
O rapaz, achando graça, comentou que não seria possível, mas que no dia seguinte, passaria a manhã com eles.
Eli e Francisco comemoraram.
Com isto, Fabrício retornou ao hotel em que estava hospedado.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 19
Ao chegarem na capital Montevideu, o homem adquiriu um carro.
Veículo que utilizou para seguir viagem para o litoral do país.
Nisto, quando Fabrício parou o carro, pediu para que Cecília descesse primeiro.
A moça atendeu ao pedido.
Fabrício então conduziu-a até a entrada da casa.
Disse-lhe que aquela seria a sua casa, o seu lar.
Segurando-lhe as mãos, prometeu que nunca mais seria importunada por sua família, e que Carlos jamais a localizaria naquele lugar.
Cecília ficou atônita. Aturdida, não sabia direito o que pensar.
Nisto, o rapaz disse-lhe que aquela era sua casa.
Cecília chorando, abraçou-o. Disse entre lágrimas, nunca tivera um presente tão bonito. Sua liberdade.
Fabrício timidamente, abraçou-a também.
Quando a moça se acalmou, Fabrício chamou Jurema e as crianças para entrarem na casa.
Com isto, pegou as malas e colocou-as na sala.
Um dos criados, ao ver o moço se ocupando da bagagem, auxíliou-lhe.
Eram várias malas.
Em seguida, Fabrício convidou a todos para um passeio pela casa.
Mostrou-lhe a sala de visitas, o escritório, a cozinha.
Para surpresa de Cecília, lá havia duas empregadas, além do rapaz o qual auxiliou com as malas.
Nisto Fabrício mostrou-lhes a parte superior da casa. Quatro quartos.
Cecília ao ver o luxo do imóvel, perguntou a Fabrício se não havia o risco de Carlos localizá-los ali, haja vista que se recebera o imóvel de herança, e assim, seria muito fácil concluir que ela estaria no Uruguai.
Fabrício respondeu-lhe então, que seu pai não fazia a menor idéia seus planos.
Argumentou que fazia tempos, rompera com Carlos e trabalhava em outro escritório.
Ressaltou que tal possibilidade era remota.
Ainda assim, Cecília ficou aflita.
Ao perceber isto, Fabrício sorriu dizendo-lhe que não precisava se preocupar.
Cecília procurou disfarçar sua apreensão.
Com isto, ela e Jurema, com o auxílio das empregadas, desfizeram as malas e organizaram tudo.
A pedido de Fabrício, as criadas prepararam um almoço para Cecília, ele, Jurema e as crianças.
Por fim o moço passou a tarde se ocupando de entreter os meninos.
Brincaram no jardim.
No jantar, o rapaz prometeu que no dia seguinte, levaria a todos para um passeio pela cidade.
E assim o fez.
Aconselhando a todos a vestirem roupas de banhos, o grupo saiu de carro e passeou pelas ruas da cidade, até chegarem a praia.
Eli e Francisco, ao verem o mar, ficaram encantados.
Conversando entre eles, comentaram que parecia Santos.
Fabrício ao ouvir os meninos conversando, percebeu que eles já conheciam o mar.
Cecília respondeu então, que de vez em quando Pedro os levava para passarem alguns dias na praia.
- Entendo. – respondeu o moço.
Nisto, os meninos foram brincar de pular as ondas, devidamente acompanhados de Cecília, que os observava de longe.
Jurema então, aproximou-se de Fabrício e disse-lhe:
- Eu sei que você está interessado em Cecília! Mas tenha calma. Com jeitinho tudo se acerta. Ela já está começando a se esquecer de Pedro.
Fabrício, ao ouvir isto, tentou desconversar dizendo que não estava entendendo o que ela estava querendo dizer com aquelas palavras, mas Jurema emendou dizendo que não precisava se justificar.
Nisto Cecília entrou no mar e brincou com os filhos.
Mais tarde Jurema se ocupou dos meninos e Fabrício e Cecília entraram juntos no mar.
Fabrício jogava água em Cecília.
A certa altura, Cecília começou a jogar água em Fabrício.
Ao saírem da água, o grupo comeu um lanche que trouxe em uma cesta.
A manhã transcorreu agradabilíssima.
Ao retornarem a casa, o grupo tomou banho e depois almoçou.
Caminharam pelas ruas da cidade.
Eli e Francisco perguntaram a Fabrício se ele ficaria com Cecília.
O moço, ao ouvir a pergunta, ficou um pouco sem jeito, mas tentando disfarçar, perguntou aos meninos, se eles gostariam de sua permanência.
Francisco respondeu que sim.
Eli, titubeante, também respondeu afirmativamente. Disse que gostaria que sua mãe não ficasse tão sozinha.
Jurema, ao perceber o tom da conversa, chamou os meninos para perto dela. Comentou que eles estavam importunando o tio.
Eli e Francisco tentaram replicar, mas Jurema intimou-os a ficarem perto dela.
Cecília, que observava uma vitrine, distraída que estava, não percebeu os rumores.
Fabrício por sua vez, aproveitou para se aproximar.
Ao notar os olhares atentos de Cecília para um bonito vestido, o moço perguntou quase a sussurrar, se ela havia gostado da roupa.
Cecília, que estava absorta, assustou-se com a abordagem.
Fabrício, ao perceber isto, pediu-lhe desculpas.
Cecília então, disse-lhe que estava observando as roupas. Comentou que tudo era muito bonito sim.
O moço sorriu.
Mais tarde, a família voltou para casa.
Nisto, os meninos ficaram assistindo televisão.
Contudo, estranharam o idioma.
Fabrício explicou-lhes que ali, o idioma falado era o espanhol, próximo do português, e que eles o aprenderiam com muita facilidade.
Durante o jantar, uma das empregadas perguntou a Cecília:
- Desea algo más?
- No, gracias. – respondeu Cecília, titubeante.
Certo dia, quando uma das empregadas perguntou-lhe se poderia servir a refeição “en el comedor”. Cecília não compreendeu a expressão.
Fabrício ao perceber que a moça não entendera o que a empregada dissera, explicou-lhe que ela estava lhe perguntando se poderia servir a refeição na sala de jantar.
Cecília respondeu que sim. A refeição poderia ser servida.
No dia seguinte, Fabrício levou Cecília até o Banco.
Francisco e Eli seguiram para a praia, devidamente acompanhados por Jurema.
As crianças brincaram de fazer castelos de areia.
Entraram no mar. Comeram.
No Banco, Fabrício explicou a moça que abrira uma conta em seu nome.
Cecília ao ouvir isto, tentou argumentar, mas Fabrício explicou-lhe que era necessário, e que não aceitaria recusa. Contou que o dinheiro depositado na conta era dela, e que poderia dispor dele, como bem entendesse.
Fabrício comentou que em poucos dias, partiria e precisava deixá-la em uma situação confortável.
Nisto o moço acompanhou-a em sua conversa com o gerente do Banco.
Fabrício foi o mediador da conversa.
Por fim, ao saírem do Banco, Cecília agradeceu a ajuda que ele vinha concedendo desde que ela se separara de Pedro.
Fabrício respondeu-lhe dizendo que não lhe custava nada.
Com isto, dias depois, aconselhado por Jurema, Fabrício resolveu conversar a sós com Cecília.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 18
Quando Cecília chegou de seu trabalho, ficou admirada com a presença de Jurema.
Abraçaram-se.
Jurema contou-lhe então, que o apartamento em que ela morara com Pedro fora alugado.
Ao ouvir isto, Cecília ficou perplexa.
Isto por que o apartamento estava no nome dela e de Pedro.
Ao pensar nisto, chegou a conclusão de que somente com a autorização de Pedro, o imóvel poderia ser alugado.
Com isto, o quarteto jantou.
No dia seguinte, Jurema passou a tarde cuidando dos meninos, verificando seus cadernos.
Recomendou-lhes que fizessem os deveres de casa.
Mais tarde, os meninos brincaram com carrinhos de madeira, um peão, e uma bola de capotão.
Cecília, antes de sair para o trabalho, recomendou para que não voltassem sozinhos da escola.
Disse-lhes que Jurema iria buscá-los no final da aula.
Com efeito, ao término das aulas, lá estava Jurema.
E assim, os meninos fizeram o caminho de volta para casa, brincando e conversando com a mulher.
Ao avistarem uma vitrine repleta de doces, os meninos pediram a Jurema para comer um doce de abobora.
Jurema, ao se ver diante do olhar pidonho dos meninos, capitulou.
Comprou dois doces, mas recomendou que não se acostumassem, pois não poderia comprar doces todos os dias.
Eli e Francisco, ao se verem com os doces na mão, agradeceram.
E assim, se seguiram os dias, com o trabalho de Cecília no escritório, para onde ia, sempre impecavelmente vestida. Pegava um ônibus e se dirigia ao trabalho.
Os meninos iam a escola, participavam das aulas, onde tinham noções de matemática, alguns fatos históricos.
Francisco e Eli faziam desenhos, e às vezes faziam lembrancinhas alusivas a alguma data comemorativa.
No dia das mães fizeram um cartão, onde foram colocadas mensagens de felicitações sobre o dia.
Quando Cecília recebeu os presentes, ficou felicíssima.
Agradeceu o carinho e o capricho.
Comentou que a escola estava de parabéns por estimular com que as crianças aprendessem trabalhos artesanais.
Jurema preparou um almoço especial. Providenciou até flores para a data.
Emocionada, Cecília agradeceu o carinho de todos. Relatou que aquele era um dia muito especial para ela.
Almoçaram carne, salada.
Desta forma, Cecília e os meninos brincaram enquanto Jurema lavava a louça e limpava a cozinha.
Mais tarde, o quarteto foi ao cinema.
Foram assistir a mais um filme da Disney.
Jurema se ocupava dos meninos, levava e buscava os meninos na escola.
Enquanto os meninos se ocupavam dos estudos, na escola e em casa, fazendo os deveres escolares, Jurema aproveitava para lavar e passar roupa. Limpava a sala de estar, de jantar, o banheiro, os quartos, a cozinha, a área de serviço. Preparava as refeições.
Para Eli e Francisco, Jurema era uma cozinheira quase tão boa quanto sua mãe.
A mulher ficava satisfeita quando ouvia o elogio.
Cecília a esta altura, estava organizando os arquivos do escritório.
Por conta do aumento no volume de trabalho, voltava sempre a noite para a casa.
Em razão disto, os meninos começaram a reclamar da ausência da mãe. Diziam-lhe que estava trabalhando muito.
Cecília então explicava que era uma situação transitória, e que depois de organizar os arquivos voltaria a normalidade.
Eli e Francisco porém, reclamavam. Diziam que ela iria se esquecer deles.
Cecília ao ouvir isto, respondeu que jamais se esqueceria deles, e que trabalhava tanto, para proporcionar-lhes uma vida confortável.
Nesta época, houve dois passamentos na família de Pedro.
Primeiramente a morte de Francelino, que já vinha enfrentando problemas de saúde.
Meses mais tarde, Ângela faleceu.
Angélica ficou arrasada.
Carlos consolou-a.
Dizendo que sabia pelo que estava passando, relembrou que passara por situação semelhante quando seus pais faleceram.
Nisto o casal se abraçou.
Nos velórios de ambos, compareceu a família de Cecília. Eduardo e sua esposa Roseli, Márcia, Eleanor e Irineu.
A família da moça desejou condolências.
Preocupado com a tristeza da esposa, Carlos nem se lembrou de perguntar aos pais de Cecília onde a moça estava.
Tal fato foi observado por Eleanor e Irineu, ao retornarem para casa.
Márcia já era uma bonita moça, freqüentando o curso normal.
Eleanor, em conversa com Angélica, disse-lhe que a jovem estava se preparando para ser normalista.
Angélica parabenizou a mulher.
Fabrício, ao saber do ocorrido, compareceu no velório dos avós.
Comentou pesaroso com sua mãe, que lamentava a perda. Considerava-os pessoas muito especiais.
Pedro, ao tomar conhecimento do falecimento dos avós, apareceu na mansão dos pais.
Interessado no patrimônio deixado pelos avós, perguntou diretamente a Carlos, se os avós não haviam deixado alguma herança para ele.
Carlos, ao ouvir as palavra do rapaz, perguntou-lhe onde estava que não compareceu nem no enterro deles. Ressaltou que ele não vira o enterro do avô e tampouco da avó, o qual ocorrera recentemente.
Seu pai perguntou-lhe onde andava, por que abandonara a família, por que desistira da esposa e dos filhos. Argumentou que não o reconhecia mais, que aquele não era o filho que havia criado.
Irritado, Pedro disse que não estava interessado em volteios, e sim na situação jurídica do patrimônio dos avós.
Irritado, Carlos respondeu que o testamento ainda não fora aberto e que somente após a abertura do mesmo, saberia quais eram as disposições testamentárias.
Argumentou que o filho, sendo bacharel em direito, deveria saber destas formalidades.
Nisto Pedro perguntou se Diva e Odair não haviam deixado nenhum patrimônio, nada para ele.
Carlos aborrecido respondeu que o testamento de seus avós paternos já haviam sido lidos há muito tempo, e que ele estava cansado de saber que Diva e Odair, haviam deixado a herança para o filho e esposa.
Pedro nervoso, argumentou que também fazia parte da família.
Carlos com desdém, comentou que o curioso era que somente naquele momento ele se lembrava disto.
Disse que estava decepcionado com ele.
- Comigo! Ora vejam! Comigo! Que me casei, constitui família, deixei herdeiros ... e Fabrício, que não se casou, que vive em noitadas. Ele é motivo de orgulho? – comentou Pedro com rancor.
Carlos respondeu que muito embora ele tenha se casado com Cecília, abandonou a esposa e os filhos. Argumentou que depois da briga, nunca mais vira os meninos. Tampouco demonstrou interesse em vê-los.
Pedro retrucou dizendo que os meninos estavam bem. Mencionou que Cecília sempre fora melhor mãe do que ele fora pai.
Carlos concordou. Disse também que ele não era um bom pai, pois não soubera criar seu filho mais velho. Amargurado, respondeu que Pedro só lhe dava desgosto.
Revoltado, o homem retrucou dizendo que se o filho que só trazia desgosto a ele, iria sumir.
Pedro mencionou que eles só voltariam a se encontrar no momento da leitura do testamento.
Com efeito, no momento da leitura do testamento, feito em casa de Angélica e de Carlos, descobriu-se que o casal deixara alguns bens para Fabrício.
O moço, que havia comparecido a leitura do testamento a pedido da mãe, ficou surpreso.
Pedro, que também esperava ser mencionado ao menos como legatário, ficou desapontado, ao ver que os avós não lhe legaram nada. Nem as jóias de Ângela foram deixadas para ele.
Para Angélica, ficou a maior parte do patrimônio.
Nos dias seguintes foram tomadas as providências burocráticas para a transferência da titularidade dos bens deixados para Fabrício para seu nome, e também, para os bens deixados para Angélica.
O moço, ao se ver dono de casas no Rio de Janeiro e no Uruguai, ficou a pensar no que faria com tais bens.
Angélica recomendou-lhe alugar, ou até mesmo vender algumas propriedades, e investir o dinheiro em outros bens. Sugeriu-lhe até ações.
Fabrício ficou surpreso com a sugestão.
Brincando, disse a mãe estava se saindo uma mulher de negócios.
Rindo, Angélica comentou que embora não pudesse trabalhar, Carlos sempre a colocava a par de tudo o que acontecia em sua empresa, assim com seu pai fizera com sua mãe, Ângela, que embora não trabalhasse fora, sempre soube do andamento dos negócios da família.
Fabrício comentou que um dia, no que dia em que as mulheres tomassem as rédeas do mundo, a vida seria completamente transformada.
Angélica comentou que este era o curso natural das coisas.
Mais tarde, depois de umas visitas aos pais, o moço, usando da desculpa de que faria uma viagem a trabalho, despediu-se do casal.
Comentou que talvez precisasse ficar alguns meses fora.
Angélica perguntou-lhe então, se a viagem era realmente necessária.
Fabrício respondeu que sim.
Nisto, o homem arrumou suas malas.
Viajou para algumas cidades do interior do estado, até se deparar com a cidadezinha onde Cecília estava morando.
De fato, Fabrício estava a trabalho. Porém, aproveitando o ensejo, aproveitou para visitar a cidade onde a moça estava morando.
Quando Jurema se deparou com o moço batendo em sua porta, evitou atendê-lo.
Acreditava que evitando o homem, Fabrício acabaria desistindo, e voltaria para São Paulo.
O moço contudo, era persistente.
Durante três dias, bateu na porta de Jurema.
Certo dia, perguntou a um vizinho se não havia ninguém em casa, sendo informado que havia uma mulher e duas crianças na casa.
Quando Eli e Francisco souberam que se tratava de Fabrício, pediram para que Jurema o deixasse entrar.
Jurema porém, exigiu que os meninos se calassem e ficassem em seu quarto.
Eli e Francisco, mesmo contrariados, obedeceram a ordem.
Nisto, Fabrício, que não se dera por vencido, ficou espreitando a casa.
Certa vez, ao ver Cecília se dirigindo para a casa, caminhou discretamente em sua direção, surpreendendo-a, no momento em que abria o portão da casa.
A moça então, olhou-o assustada.
Fabrício, dizendo que não queria prejudicá-la, pediu para abrir a porta para ela.
Trêmula a moça deixou-o entrar.
Ao entrar na residência, o moço cumprimentou as crianças e perguntou a Jurema se ela estava bem.
A mulher surpresa, respondeu que sim.
Jurema pediu então aos meninos, para que deixasse a mãe a sós com o tio.
Eli e Francisco tentaram retrucar, mas ao perceberem o olhar severo de Jurema, trataram de se dirigir ao quarto.
Jurema argumentou que se fosse possível, mais tarde poderiam conversar com o moço.
Os meninos reclamaram, mas tiveram que acatar as ordens da mulher.
Jurema era uma segunda mãe para eles, e tinha autoridade sobre os mesmos.
Tanto que Eli e Francisco não ousaram desobedecer as ordens.
Nisto Cecília e Fabrício ficaram conversando.
O moço, percebendo o nervosismo da jovem, comentou que não estava ali para atrapalhar sua vida e tampouco iria contar a seu pai, onde ela estava.
Segurando as mãos da moça, contou que conhecia sua luta, que sabia que as coisas não andavam nada fáceis para ela, e entendia o fato de haver sumido de São Paulo. Relatou que descobriu que Carlos a ameaçara alegando que tiraria a guarda dos meninos.
Fabrício questionou apenas o fato dela não haver-lhe contado os fatos, e por que não lhe pedira ajuda. Por que não contara que iria sumir da cidade?
Cecília começou a chorar.
Preocupado, Fabrício pediu para que ela se acalmasse.
Como a moça não parasse de chorar, Fabrício pediu licença para ir a cozinha e ficou procurando onde ficavam os copos, o bebedouro com água, e o açúcar.
Desajeitado, preparou uma água com açúcar para a moça.
Cecília, com as mãos trêmulas, segurou o copo, e após alguma insistência de Fabrício, sorveu o líquido.
Fabrício então, insistindo para que se acalmasse, disse-lhe que ela não deveria temê-lo.
Cecília foi se acalmando.
Fabrício percebendo que a moça ia se tranqüilizando aos poucos, disse-lhe que Carlos não sabia que onde ela estava. Prometeu-lhe que iria ajudá-la.
Cecília, tentando coordenar as palavras, perguntou-lhe como havia descoberto sua localização.
Fabrício explicou-lhe que contratara os serviços de um detetive particular.
Dizendo querer se precaver contra as ameaças de Carlos, decidiu se antecipar e tratou logo de contratar os serviços de um profissional. Contou que conversava semanalmente com o detetive para se inteirar dos progressos.
Quando finalmente descobriu que havia se instalado em uma cidade do interior do estado, aproveitou uma viagem de negócios, e se dirigiu a cidade onde estava.
Cecília ao ouvir o relato, tornou a ficar nervosa.
Aflita, disse que Carlos já sabia onde estava, e que precisava arrumar suas coisas e sair o quanto antes dali.
Fabrício, percebendo a exaltação da moça, insistiu em dizer-lhe que não havia perigo.
Comentou que Carlos pensara em partir em seu encalço mas que ele, combinado com Eleanor, Irineu e seus irmãos, conseguiram convencer o homem de que ela poderia estar em casa de parentes, em outra região do país.
Cecília parecia não compreender as palavras do jovem.
Fabrício então, agachou-se e explicou em detalhes a moça, o plano que engendrara, auxiliado pelos parentes da moça.
A jovem parecia não acreditar no que estava ouvindo.
Quando Fabrício frisou que até Irineu participara do plano, a moça sorriu.
Tornou a chorar.
Fabrício aflito, perguntou:
- Oh meu Deus! Pra que chorar?
Cecília explicou que não estava chorando de tristeza. Argumentou que estava feliz por seu pai ajudá-la.
Fabrício abraçou-lhe.
Mais calma, Cecília falou a Fabrício que não poderia permanecer na cidade.
Fabrício, dizendo que seria questão de tempo para Carlos encontrá-los, relatou que os auxiliaria desta vez.
Argumentou que havia recebido uma herança dos avós, e que após as providências de praxe, se tornara proprietário de alguns imóveis, os quais pretendia vender.
Comentou que possuía alguns bens no exterior.
Pensando nisto, o homem chegou a conclusão de que a melhor solução, seria que ela e os filhos fossem para o exterior.
Cecília ficou surpresa com a idéia.
Fabrício então, tentando convencê-la, argumentou que estando no Brasil, seria mais fácil para Carlos encontrá-los. Relatou que vivendo no exterior, ficariam longe da perseguição do homem. Alegou que poderiam viver em paz.
Mais tarde, depois de fazer os meninos dormirem, não sem antes conversar muito com os garotos, Jurema retornou a sala.
Ao ouvir a proposta do rapaz, a mulher sugeriu a Cecília que aquela era uma boa proposta, e que ela não estava em condições de recusar.
Cecília tentou argumentar.
Jurema respondeu-lhe então, que seria questão de tempo Carlos localizá-los. Argumentou que se Fabrício descobrira seu paradeiro, não seria difícil para Carlos fazer o mesmo.
Fabrício concordou.
Disse que o pai era muito determinado, para o bem, ou para o mal.
Brincando, disse que sua mãe sabia muito bem disto.
Jurema perguntou-lhe o que ele estava querendo dizer com aquelas palavras.
O moço respondeu que um dia, quando tudo estivesse mais calmo, explicaria melhor a frase.
Nisto, perguntou como estavam as crianças.
Cecília respondeu que estavam bem.
Fabrício, ao obter a concordância da moça, se comprometeu com os preparativos.
Recomendou que a moça prosseguisse com sua rotina.
Disse-lhe para que não se preocupasse.
E assim, Cecília continuou indo para seu trabalho.
Fabrício por sua vez, retornou a São Paulo.
Com efeito, antes de voltar a cidade, visitou os meninos e conversou com eles.
Para Eli e Francisco, conforme combinado com Cecília, disse-lhes que estava de visita, e que dali há alguns dias, voltaria para São Paulo.
Atencioso, o moço levou alguns doces para os meninos.
Eli e Francisco adoraram.
E assim, o moço brincou com os meninos por horas.
Em São Paulo, Fabrício retornou ao escritório.
Para vender alguns imóveis no Uruguai e no Rio de Janeiro, pediu afastamento do escritório onde trabalhava.
E assim Fabrício, se desfez de alguns imóveis.
Com o dinheiro ganho, investiu em um imóvel em outra localidade.
O restante do dinheiro foi depositado em uma conta em nome de Cecília.
Carlos por sua vez, cansado das evasivas da família Cordeiro, passou a investigar o paradeiro de Cecília. Decidiu contratar um novo detetive particular.
Cecília estava ansiosa.
A cada dia que Fabrício não dava notícias, ficava mais ansiosa.
Jurema, percebendo isto, dizia para que não preocupasse. Argumentava que o moço estava tomando todas as providências necessárias para a mudança.
Segundo Jurema, esta seria uma mudança definitiva.
Cecília dizia que esperava que sim. Argumentou que ficar o tempo todo se escondendo era muito desgastante.
Dias depois Fabrício enviou-lhe um telegrama informando que as providências estavam tomadas. Orientava que deveria preparar as malas, pois ele voltaria para buscá-la, dentro de poucos dias.
Cecília, ao ler o telegrama, ficou mais tranqüila.
Tratou logo de preparar as malas.
Conversando com Eli e Francisco, Cecília pediu para não contassem a ninguém que iriam partir.
Disse que seria um segredo deles.
Eli e Francisco concordaram.
Cecília, segurando as mãos dos meninos, perguntou-lhes se saberiam guardar o segredo.
Eli e Francisco responderam que sim.
Jurema e Cecília empacotaram objetos.
Conversaram com o locador do imóvel. Cecília informou-lhe que não poderia permanecer no imóvel até o fim do contrato.
O locador informou-lhe que deveria proceder ao pagamento de uma multa.
Cecília respondeu então que não teria condições de fazê-lo em dinheiro.
Diante disto, propôs ao homem, que ficasse com os móveis que guarneciam a casa.
A moça disse que os móveis foram adquiridos há muitos anos, mas eram bons, e estavam em bom estado.
Nisto o locador perguntou-lhe o por quê da mudança.
Cecília surpresa com a pergunta, respondeu que havia recebido uma proposta de emprego em outra cidade. Algo que lhe proporcionaria melhor salário e conforto para os filhos.
Desta forma, o homem não fez mais perguntas.
Concordou com a proposta.
Em seguida, a moça pediu demissão.
Seu patrão ficou surpreso com o pedido, mas Cecília, dizendo que precisava voltar para sua terra natal, argumentou que não poderia permanecer no emprego.
Ao homem, só restou concordar com a demissão.
Comentou que lamentava a demissão de uma de suas melhores funcionárias.
Cecília agradeceu a acolhida. Comentou que desde que se mudara para aquela cidade, só aconteceram coisas boas em sua vida.
Desta forma, despediu-se dos colegas e partiu.
Uma semana depois, a moça assinou o termo de rescisão.
Seu chefe pagou-lhe todas as verbas a que tinha direito.
Alguns dias depois, Fabrício voltou para a cidadezinha.
Cecília ao vê-lo, abraçou-o.
Fabrício, ao ser recebido com tanta cordialidade, ficou emocionado.
O moço perguntou-lhe então se suas malas estavam prontas.
Cecília respondeu que sim.
Fabrício, sorrindo, disse que estava tudo pronto. Comentou que havia comprado um belo imóvel para a moça, e que ela teria uma grande e bela surpresa em sua nova vida.
Cecília, curiosa, perguntou que surpresa seria esta.
Fabrício, fazendo mistério, comentou que ela só descobriria no momento certo.
Disse que Jurema poderia se juntar a eles se tivesse interesse.
Fabrício, perguntou as moças, se estavam bem.
Cecília e Jurema responderam que sim.
Mais tarde, Cecília, Fabrício, Jurema, Eli e Francisco, retornaram para São Paulo.
Lá, Fabrício providenciou passaporte para as mulheres.
E assim, o grupo seguiu para o Uruguai.
Viajaram de avião.
Luciana Celestino dos Santos
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