Poesias

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 65

Com isso, Andressa voltou a manifestar sua insatisfação de viver naquela casa.
Paulina, porém, não se deixou intimidar.
Dizendo que ali era seu lugar, com o passar do tempo, percebendo que Andressa estava mais preparada, Paulina, começou a cogitar a idéia de matriculá-la em uma escola.
Dito e feito. 
Assim que pode, matriculou Andressa no mesmo colégio em que Jorge e Cristina estudavam.
Foi o bastante para os dois tornarem a vida da garota ainda mais difícil.
Isso por que, não bastasse a convivência forçada dentro de casa, Andressa ainda tinha aturá-los na escola.
Quando Cristina e Jorge souberam da novidade, ficaram revoltados. 
Dizendo que não aceitariam se misturar com ‘aquela garota’, disseram que se ela passasse a estudar na mesma escola que eles, preferiam mudar de ambiente.
Paulina ao ouvir isso, gritou com os filhos. 
Dizendo que eles estavam abusando do direito de serem mimados, comentou que Andressa precisava de ajuda e não de agressão.
Jorge e Cristina, no entanto, não se importavam com o sofrimento da garota. 
Dizendo que isso não era problema deles, continuaram a argumentar que ela estava ocupando o lugar deles.
Paulina ao ouvir tais palavras, respondeu que não era nada disso.
Cristina e Jorge, todavia, pareciam não acreditar em suas palavras.
Por essa razão, mimados, Jorge e Cristina faziam de tudo para infernizar a vida da moça. 
Inconformados com a atenção que Paulina dispensava a Andressa, os dois irmãos não perdiam a oportunidade de tentar humilhá-la.
Como sabiam que Andressa estava atrasada com seus estudos, viviam dizendo que ela era burra demais para acompanhá-los, e que quem nasceu para lagartixa, nunca chegaria
a jacaré.
Paulina ao saber da tirania dos filhos, tratou de tomar providências.
Assim, novamente, chamou-lhes a atenção.
No que tange o fato de Andressa estar atrasada em seus estudos, Paulina já havia providenciado um professor particular, que a auxiliou a superar a defasagem decorrente dos
anos em que ficou longe da escola. 
Com isso, Andressa agora podia ingressar em uma turma em todos os alunos tivessem a mesma idade que ela.
Sim, Andressa, acabou por conseguir adiantar seus estudos e ir para a primeiro colegial.
Todavia, não foi fácil se adaptar a escola. 
Embora tivesse facilidade em aprender o que era ensinado, Andressa não conseguia se enturmar.
Isso por que os alunos, frutos de uma elite, ao saberem de sua origem pobre, passaram a discriminá-la.
Nesse aspecto, cabe ressaltar, que os comentários maldosos de Jorge e Cristina foram de grande valia. 
Muito embora omitissem o fato de que Andressa era irmã deles, os dois conseguiram complicar a vida da garota. 
Por conta disso, Andressa, acabou por não se enturmar direito com o pessoal da escola. 
Sempre sozinha, a garota aproveitava para caminhar, ler, etc. 
Muito embora fosse discriminada no colégio, nunca reclamou.
Para complicar ainda mais sua situação, Jorge e Cristina, ao saberem das dificuldades de Andressa em arrumar amigos, começaram a ridicularizá-la.
Paulina ficava inconformada com a crueldade de Jorge e Cristina. 
Tanto que vivia a repreendê-los. 
Em vão.
Isso por que, embora ficassem bravos e parassem um pouco com as provocações, era apenas Paulina virar às costas, para que os dois voltassem a atormentar Andressa. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 64

Com isso, no dia seguinte, interessado em conhecer a moça, Augusto resolveu comparecer à casa de Paulina.
A mulher, ao vê-lo, o cumprimentou. 
Após oferecer-lhe um café, comentou que Andressa era uma garota muito especial, que necessitava de uma dedicação especial. 
Um pouco constrangida, Paulina comentou que estava disposta a tudo para ajudar sua filha.
Dizendo que Andressa estava há muitos anos longe da escola, Paulina pediu a ele que lhe ensinasse tudo o que pudesse. 
Comentando que Andressa gostava muito de ler, ressaltou que ela não conseguia falar.
Ao ouvir isso, Augusto ficou espantado.
Paulina percebendo isso, comentou que ela sabia ler e escrever. 
Portanto não haveria empecilho para que ela pudesse estudar. 
Além disso, um dia ela falou. 
Mas por uma infelicidade, perdera a fala em decorrência de um trauma.
Augusto, percebendo que Paulina não queria entrar em detalhes, preferiu perguntar:
-- E quando eu começo?
-- Agora mesmo se o senhor quiser. – respondeu Paulina, satisfeita com a iniciativa do professor.
Curioso, Augusto indagou:
-- Pois então, onde está minha aluna?
Foi então que Paulina respondeu que iria chamá-la.
Assim, foi questão de minutos para que Paulina fosse buscar Andressa e apresentá-la a Augusto.
Quando Andressa se viu diante do professor, a simpatia foi imediata. 
Tanto que Augusto imediatamente começou a lecionar.
Atenta Andressa procurou reter tudo que lhe era dito.
Paulina de longe acompanhava a aula e ficava encantada com o interesse da filha.
Percebendo o interesse de Andressa, Augusto começou a falar de história, da Idade Média, as cantigas de trovador, etc.
Paulina, que nunca se interessara em estudar, admirou-se ao notar a atenção com que Andressa ouvia tudo o que o professor falava. 
Sinceramente, isso ela não tinha herdado dela.
A aula durou um longo tempo.
A certa altura, percebendo que já era hora de interromper os estudos, Paulina foi até a cozinha e pediu a Jurema que providenciasse um café-da-manhã para ambos.
Em questão de minutos, Juraci apareceu na sala com uma bandeja repleta de comes e bebes.
Sem graça, Augusto recusou o café. 
Dizendo que já tinha tomado um café quando saiu de casa, ouviu Paulina dizer:
-- Mas eu exijo que o senhor coma alguma coisa! Afinal de contas, já faz quase três horas que está falando praticamente sem parar! ... Vamos! Coma alguma coisa, ou eu ficarei
ofendida!
Sem jeito o professor pegou um pãozinho e começou a comer.
Andressa, já sem nenhuma cerimônia, também começou a se servir. 
Foi quando derrubou a xícara de chá no chão.
Paulina, ao ver a xícara se espatifar, pediu a Andressa que tivesse um pouco mais de cuidado.
Andressa desculpou-se.
Paulina então, percebendo a falta de jeito de Andressa em manusear copos, pratos e talheres, resolveu ajudá-la. 
Primeiramente, pediu a Juraci que providenciasse uma outra xícara.
Foi o que a mulher fez.
Com isso, Paulina ensinou sua filha a segurar a xícara. 
Depois, ensinou-lhe como segurar o bule. 
Aos poucos lhe ensinou a comer croissantes, entre outras iguarias.
Foi assim. 
Pouco a pouco as coisas começaram a entrar nos eixos.
Com as aulas particulares, Andressa começou a se mostrar menos arredia e um pouco mais disposta a aceitar a ajuda de Paulina.
Para Paulina, isso era uma ótima notícia.
Com isso, após algumas aulas, percebendo que não havia combinado como pagaria o salário do professor, Paulina resolveu fazer um cheque num valor simbólico.
Augusto, ao ver a soma registrada no cheque, ficou espantado. 
Dizendo que era muito dinheiro, fez menção de que recusaria a oferta.
Paulina, porém, dizendo que era o justo, fez questão de que Augusto aceitasse o dinheiro. 
Afirmando que um bom trabalho merecia ser bem recompensado, Paulina comentou que no Brasil, os professores são muito mal pagos. 
O que para ela era um absurdo, já que são os professores os maiores responsáveis pela formação intelectual de um ser humano.
Augusto ao ouvir tais palavras, agradeceu a deferência.
E assim, as aulas prosseguiram.
Cada vez mais animada com as aulas, era cada vez mais raro ver Andressa se indispondo com Paulina.
Ocupada com seus afazeres, Andressa freqüentava as aulas para aprender a linguagem dos sinais, tinha aulas particulares, lia muito. 
Então agora, com pouco tempo ocioso, o que lhe restava era ouvir os conselhos de boas maneiras dados por sua mãe.
Mesmo assim, a garota continua intrigada com o súbito interesse daquela mulher por ela. 
Afinal de contas, como ela poderia ser filha daquela madame, se sua mãe era Andréia?
Andressa não conseguia entender. 
Contudo como tudo estava correndo bem, Andressa desistiu temporariamente, de lutar contra isso.
Desta forma, tudo ia bem, até que Cristina e Jorge resolveram voltar para casa.
Quando os dois irmãos viram aquela garota estranha, em sua casa, pensaram logo que se tratava de uma visita. 
Contudo, depois de pensarem um pouco, se lembraram da história que sua mãe havia contado sobre uma suposta filha que havia abandonado.
Irritadíssimos, Cristina e Jorge foram logo conversar com Paulina, que lhes contou que finalmente encontrara sua filha. 
Porém, evitando entrar em detalhes, Paulina comentou conseguiu localizá-la, graças a ajuda de um detetive particular.
Revoltada, Cristina respondeu:
-- Eu não acredito nisso!
Jorge também parecia estar inconformado.
Irritados e enciumados, os dois insistiram para que Paulina colocasse aquela garota na rua. 
Dizendo que não dividiriam sua casa com uma estranha, começaram a conjecturar de onde ela teria vindo.
Paulina querendo encerrar aquele assunto, comentou que Andressa tivera uma vida muito sofrida. 
Contudo aquele não era o momento para falar sobre isso. 
Dizendo queAndressa precisava de atenção, Paulina pediu aos filhos que fossem compreensivos com ela.
Cristina e Jorge, porém, disseram que não estavam nem um pouco preocupados com ela. 
Dizendo que Andressa que se lixasse, comentaram que no que dependesse deles, a vida daquela garota iria se transformar num inferno.
Nisso, Jorge e Cristina deixaram a mulher sozinha.
Paulina ao ouvir tais palavras, ficou extremamente preocupada.
Jorge e Cristina então, interessados em azucrinar Andressa, passaram a procurá-la.
Ao verem-na diante da piscina, tencionaram jogá-la na água.
Não fosse a aparição de Paulina e eles teriam posto em prática a idéia.
Mas a mulher, conhecendo os filhos como conhecia, tratou logo de ficar de olho nos dois. 
Ao vê-los de longe, rondando Andressa, Paulina percebeu imediatamente qual era a intenção de ambos.
Furiosa, assim que pôde, Paulina chamou-os para uma conversa. 
Decepcionada com o comportamento dos filhos, disse-lhes poucas e boas.
Jorge e Cristina por sua vez, inconformados, tentavam a todo momento retrucar.
Paulina, por sua vez, não estava a fim de desculpas. 
Dizendo que eles não tinham o direito de fazer maldades com a garota, comentou que Andressa não pedira para nascer. 
Além disso, não tinha culpa nenhuma pelo que estava acontecendo.
-- Não tem culpa! E eu tenho! – retrucou Jorge.
-- É claro que não! O erro foi meu. – respondeu Paulina.
-- E por causa de seu erro, nós é que vamos ser punidos? – perguntou Cristina.
Paulina tentou explicar, mas Jorge e Cristina, não queriam mais saber de conversa.
Irritados, deixaram-na falando sozinha.
Paulina gritou, exigiu que eles não a deixassem falando com as paredes, mas eles não a obedeceram.
Em razão disso, Paulina, se viu obrigada a chamar a atenção de ambos por várias vezes. 
Irritados, ao verem que Andressa não tinha a mesma desenvoltura que eles à mesa, começaram a ridicularizar a garota.
Paulina ao notar o ar de desdém dos filhos, chamou-lhes a atenção. 
Em seguida, cuidando para que Andressa não ficasse constrangida à mesa, ensinou-lhe pacientemente, a manusear os talhares.
Jorge e Cristina, só ficavam a olhar a moça. 
Furiosos, se pudessem, a matariam com o olhar.
Andressa, porém, entretida em aprender a como se comportar a mesa, não percebeu o ar de irritação dos irmãos.
Com isso, sua estada na casa se tornou mais difícil.
Isso por que, não bastassem as dificuldades para se adaptar a nova vida, Andressa tinha que lidar agora, com duas feras.
Sim por que, raivosos com sua presença, Jorge e Cristina faziam de tudo para irritar Andressa.
Com isso, procurando evitá-los, Andressa passou a ficar cada vez mais tempo em seu quarto.
Paulina, percebendo isso, começou a levar Andressa para fazer passeios pela cidade.
Sequiosa de tornar sua filha preparada para enfrentar o mundo, Paulina começou a levá-la a cinemas, teatros, museus, parques, etc.
Isso só serviu para deixar Cristina e Jorge mais enciumados.
Porém o que fazer? 
Sempre que os chamava para acompanharem Andressa, os dois se recusavam firmemente.
Sim, a convivência estava difícil.
Por esta razão, Paulina ficava cada vez mais tempo longe de casa. 
Preocupada com Andressa, sempre a levava para sair.
Quando precisava ir até a loja, deixava Andressa sob os cuidados dos empregados, que a essa altura, já se tornaram amigos da moça. 
Para desespero de Paulina que achava que devia haver uma distância entre patrões e empregados.
Andressa, no entanto, acostumada a viver na pobreza, não via diferença entre as pessoas.
Mas para Paulina, havia sim, uma diferença fundamental. 
Disposta a ensinar sua filha este ponto, acabou por criar atritos com Andressa.
Irritada, toda a vez que Paulina dizia que os empregados não deveriam ser tratados com tanta atenção, Andressa se revoltava.
Já um pouco mais familiarizada com a linguagem dos sinais, Andressa argumentou que naquela casa, os empregados foram os únicos que a aceitaram de verdade. 
Com o auxílio da linguagem dos sinais, Andressa disse que até mesmo ela não a aceitava como era de verdade.
Paulina tentou retrucar, mas Andressa insistiu na idéia de que eles eram seus verdadeiros amigos.
Desta forma, a mulher não teve como argumentar.
Até por que, estando em companhia deles, Jorge e Cristina evitavam se aproximar da garota.
Porém, quando Andressa estava sozinha em algum canto da casa, lá estavam eles contando piadinhas, ridicularizando sua maneira de ser. 
Andressa irritada, tratava de se dirigir a cozinha. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 63

Um dia desses, em mais uma tentativa de fuga, Andressa aproveitou-se novamente da distração dos empregados. 
Pretendendo fugir, correu pelo quintal. 
Ao notar que o portão estava semi-aberto, Andressa tentou abri-lo com cuidado. 
Desta forma, vagarosamente, empurrou-o. 
Não queria que os empregados, pelo barulho, dessem por sua falta. 
Contudo, o portão era pesado, e para abri-lo, Andressa precisava fazer força.
Por conta disso, demorou para conseguir abrir o portão.
Nesse momento, Cristóvão – o motorista – preparando o carro para sair, percebeu que havia alguém tentando empurrar o portão. 
Discretamente, aproximou-se.  
Quando viu que era Andressa quem estava tentando abri-lo, começou a gritar para que ela parasse.
Andressa assustada, continuou a tentar abrir o portão.
Entretanto, já era tarde.
Quando o empregado notou sua presença, já não dava mais tempo de ganhar a rua.
Com isso, Andressa teve que se conformar e voltar para casa.
Quando Paulina soube da nova tentativa de fuga de Andressa, passou-lhe um tremendo sermão. 
Dizendo que ela tinha uma vida boa, que não precisava se preocupar com mais nada, Paulina censurou a atitude de Andressa. 
Decepcionada, não conseguia entender como uma pessoa poderia querer viver uma vida de miséria, sem nenhuma perspectiva.
Andressa, que não tinha outra escolha, ouvia a tudo calada. 
Com a cabeça baixa, a garota parecia não se importar com suas palavras.
Nesse momento, Paulina perguntou-lhe o que estava faltando.
Andressa continuava indiferente.
Aflita, Paulina falou:
-- Eu sei que não fui uma boa mãe para você! Mas eu estou tentando. O que eu posso fazer para ao menor minorar as conseqüências do meu erro? ... Vamos me diga. Me diga o
que você... Eu prometo que dentro do possível eu vou te atender ... Vamos... Por favor, peça alguma coisa!
Andressa continuava de cabeça baixa.
Paulina, percebendo que não seria fácil penetrar naquele mundo, respondeu:
-- Tudo bem! Eu não vou te prender mais. Pode voltar para seu quarto.
Andressa não precisou ouvir duas vezes. 
Assim que pôde, subiu para o quarto.
Paulina então, pensando nos últimos dias, começou a analisar sua convivência com Andressa. 
Disposta a se aproximar de uma vez por todas da garota, Paulina começou a pensar em aprender a linguagem dos sinais.
Com isso, passou a procurar lugares onde pudesse aprender a linguagem e até ajudar a filha a se comunicar melhor.
Quando finalmente conseguiu entrar em contato com uma instituição, Paulina resolveu conversar com Andressa. 
Dizendo-lhe que ela precisava melhorar sua comunicação, sugeriu-lhe freqüentar as aulas.
Inicialmente, Andressa não demonstrou o menor interesse.
Paulina, porém, era paciente. 
Tanto que conversando com a garota, depois de muito insistir, acabou convencendo-a de que era a melhor solução.
Andressa visando se ver livre de Paulina, acabou concordando.
Com isso, passou a freqüentar as aulas.
Paulina, que desejava ajudar a filha, a acompanha nas aulas.
Para Andressa era um suplício ter aquela mulher o tempo inteiro do seu lado.
Contudo, não tinha outra alternativa. 
Teve que aceitar a convivência forçada.
Vigilante, Paulina evitava deixá-la sozinha. 
Com isso, uma das barreiras fora derrubada.
Para ela, só faltava agora, encontrar um jeito de fazer Andressa voltar a falar. 
Ciente de que a garota sofrera um trauma, Paulina sabia que a garota podia perfeitamente falar.
Ademais, preocupada com o futuro da filha, Paulina começou a se mobilizar para que ela voltasse a estudar. 
Como fazia anos que Andressa não freqüentava uma sala de aula, e que a garota nunca tivera uma vida normal de estudante, Paulina pensou em contratar
professores particulares para ensinarem a garota.
Isso por que, muito embora Andressa não falasse, ouvia perfeitamente, bem como sabia ler e escrever. 
Assim, mesmo não sendo tão simples a comunicação, não era impossível.
Assim, imbuída no firme propósito de ajudar Andressa, Paulina contratou o melhor professor que conhecia para ensinar a garota.  

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 62

Com o tempo, porém, as coisas foram se revelando mais difíceis.
Andressa desacostumada a viver em meio a tanto luxo e tantas facilidades, não conseguia compreender por que alguém estaria disposto a abrir a porta de sua casa para uma
estranha. 
Mesmo com toda aquela história de que ela era a filha da dona da casa, Andressa não conseguia acreditar: 
‘Como ela poderia ser filha daquela mulher? O que Andréia pensava disso?’
Angustiada, só passava uma idéia na cabeça de Andressa. 
Fugir. 
Sim, por que Paulina só poderia estar mentindo. 
Insegura só pensava em como fazer para fugir dali.
Obcecada com essa idéia, por diversas vezes, Andressa tentou sair da mansão. 
Atenta, sempre que percebia uma pequena distração dos empregados, lá se ia ela tentar ganhar a rua.
Contudo, toda vez que sumia das vistas de algum deles, um outro percebia sua ausência e lá se iam todos procurá-la.
Muitas vezes, quando já estava quase conseguindo alcançar a rua, era apanhada.
Paulina, sempre que tomava conhecimento dessas tentativas de fuga, ficava decepcionada.
Andressa, porém, por não ter nenhum afeto por ela, não se importava com sua tristeza.
Como nunca ninguém se importara com ela, Andressa se achava no direito de fazer o que bem entendesse. 
Por essa razão se comportava com extrema rebeldia.
Mesmo muda, Andressa fazia questão de deixar bem claro que não estava gostando nada de viver naquele lugar. 
Numa tentativa desesperada de se livrar daquela mulher, Andressa, relutava em aceitar tudo o que Paulina lhe oferecia. 
Rebelde, não gostava das roupas que Paulina lhe oferecia. 
Tanto que certa vez, chegou a rasgar algumas peças.
Irritada, Paulina pela primeira vez, quase perdeu as estribeiras. 
Por muito pouco não bateu em Andressa. 
Contudo, pensando melhor, conseguiu evitar a agressão.
Assustada com seu gesto extremo, Paulina pediu desculpas para Andressa.
Todavia, nem por isso as coisas ficaram mais calmas.
Embora a garota gostasse de ler e ficasse boa parte do tempo fazendo isso, Paulina estava preocupada com ela.
Sim por que Andressa evitava qualquer aproximação.
Muito embora, Paulina trocasse breves palavras com a moça, para ela não era suficiente. 
Atenciosa com a garota, Paulina queria tentar estabelecer uma forma de contato entre as duas.
Certo dia, ao passar por uma papelaria, pensou em comprar uma agenda para Andressa. 
Foi o que fez.
Ao voltar para casa, presenteou a garota com o objeto.
Andressa por sua vez, não ficou nem um pouco entusiasmada com o presente. 
Tanto que o deixou de lado.
Paulina ficou desapontadíssima.
Por conta de sua dificuldade de relacionamento com Andressa, por diversas vezes, Paulina chorou. 
Preocupada, perguntava-se a todo o momento sobre o que deveria fazer. 
Para piorar, por mais que tentasse, não conseguia encontrar uma resposta. 
Muito pelo contrário, quanto mais tentava entender, mais as coisas pareciam confusas.  

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 61

No dia seguinte, ao acordar em meio a lençóis de seda, em uma cama macia, Andressa assustou-se.
Contudo, dessa vez não precisou gritar. 
Assim que acordou eis que surge Paulina trazendo uma bandeja com seu café-da-manhã.
Para sua tranqüilidade, seus filhos Jorge e Cristina estão curtindo suas férias, longe dali em casa de amigos. 
De formas que, os dois ainda não tiveram conhecimento das últimas novidades.
Paulina por sua vez, sentia-se livre para tentar conquistar Andressa.
As coisas, porém, não se tornariam mais fáceis por conta deste detalhe.
Mesmo assim, num primeiro momento, parecia que tudo estava indo muito bem.
Aceitando o café-da-manhã, Andressa comeu regaladamente. 
Mas, lembrando-se do que acontecera quando fora aprisionada por Cléber, a moça evitou comer demais. 
Cautelosa, não queria sentir-se mal.
Paulina ao vê-la com tanto apetite, ficou satisfeita.
Contudo, ao término do café, quando tentou puxar assunto com a garota, Paulina só conseguiu o silêncio. 
Muito embora Andressa estivesse muda por conta do acidente que sofrera, Paulina esperava ao menos que a garota mostrasse disposta a aceitar sua ajuda.
Andressa, contudo, parecia distante. 
Preferindo ficar sozinha a ter sua companhia, ao ver que na residência havia livros, começou a bisbilhotá-los.
Certa vez, surpreendida por Paulina, Andressa fez menção de se retirar da biblioteca.
Foi quando Paulina disse:
-- Gostou dos livros? Se quiser pode pegá-los. Você pode fazer o que quiser dentro desta casa. Pode ler quantos livros quiser. – emocionada, lembrou-se do marido. – Quem
adorava passar boa parte do dia aqui dentro, era Antenor. Como ele gostava de ler. Quem dera seus filhos tivessem o mesmo gosto. Mas Jorge e Cristina passam longe dos livros.
Andressa, observando os livros, parecia não ouvir o que Paulina falava.
A mulher, percebendo o desdém da garota, começou a tentar chamar sua atenção.
Aproximando-se da estante, pegou um livro, e comentando que era um dos maiores clássicos da literatura mundial, sugeriu a Andressa que o lesse.
Andressa, alheia a conversa de Paulina, continuava a observar os livros.
Foi quando Paulina, segurou seu braço e colocou o livro em suas mãos.
-- Leia. Tenho certeza de você vai gostar! – comentou.
Tratava da obra ‘Dom Casmurro’, de Machado de Assis.
Andressa, ao ver a belíssima capa, abriu o livro. Curiosa, começou a ler algumas páginas. 
Por fim, entretida, acabou em dois dias, lendo o livro inteiro. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 60

Por conta das abordagens quase diárias, Andressa conversando por meio de gestos com Clau, Robson e Mateus, resolveu com eles, dormir em outra praça.
Desta forma, quando Paulina voltou ao local onde encontrara Andressa e não a viu, ficou profundamente decepcionada. 
Nervosa, contatou novamente o detetive Arthur.
O homem, com toda a sua experiência, não demorou muito para encontrar a garota.
À distância, sem que a garota e seus amigos percebessem, lá estava ele, observando-a.
Nisso, conversando com Clau, Robson e Mateus, Andressa gesticulava irritada, que não agüentava mais aquela mulher querendo buzinar bobagens no seu ouvido.
Clau, Robson e Mateus, que já tinham visto a mulher, só conseguiam se perguntar:
‘O que uma mulher elegante como aquela queria como Andressa?’ 
‘Suspeito, muito suspeito.’ 
Era o que conseguiam pensar.
Andressa também estava encucada com esta história. 
Temendo que ela fosse uma policial, resolveu sumir. 
Por isso todos estavam dormindo em outro lugar.
Paulina por sua vez, cansada de tentar fazer Andressa ouvi-la, resolve impor sua vontade. 
Ao tomar conhecimento de onde a garota estava, decide tomar uma medida drástica.
Utilizando-se da justiça, contrata um advogado e através de uma ação, acaba por obter uma ordem judicial obrigando Andressa a viver em sua casa. 
Isso por que, alegando ser a mãe biológica da garota, Paulina consegue convencer a todos de suas boas intenções.
Contudo a decisão era provisória.
Mesmo assim, Paulina se deu por satisfeita.
Com isso, graças à ajuda de um oficial de justiça e de dos policiais Alexandre e João; Andressa – surpreendida que fora – foi jogada em um carro e levada até a casa de Paulina.
Irritada, a garota urrou o tempo inteiro. 
Tentando dizer que não fizera nada demais, só conseguia pronunciar sons incompreensíveis.
O escândalo demorou o percurso todo.
Paulina que a aguardava em sua luxuosa residência, mal podia esperar para o tal sonhado encontro. 
Esmerada, preparou um quarto todo arrumado só para a garota. 
Também comprou roupas, sapatos, livros e cadernos.
Tudo para que Andressa tivesse e uma vida normal, e assim que pudesse começar a estudar. 
Feliz, Paulina já havia planejado tudo. 
Sim, segundo seus planos, a partir de agora, Andressa seria muito feliz.
Enlevada nesse sonho bom, Paulina foi despertada quando viu um carro se aproximando de sua residência.
Um carro comum, conforme havia pedido. 
Dentro dele, o senhor Francisco – delegado – e dois policiais.
Quando todos saíram do carro, foi que Paulina finalmente viu a garota.
Andressa, por sua vez, lutou o quanto pôde para não ser levada. 
Ao sair do carro, esperneou o quanto pôde. 
Mas estava em desvantagem. 
Assim, não teve como evitar ser levada.
Quando por um instante, parou de brigar, percebeu que estava no jardim de uma mansão. 
E mais, diante dela estava Paulina. 
A mulher que vivia tentando falar com ela.
Andressa não acreditou no que via. 
Pensando se tratar de uma brincadeira de mau gosto, a garota começou novamente a gesticular.
Paulina, dizendo que gostou dela, pediu para os policiais levarem Andressa para dentro da casa.
Irritada, Andressa resistiu a ordem.
Paulina dizendo que tinha uma ordem judicial autorizando-a a assim proceder, comentou com Andressa que não adiantava brigar. 
Segura, afirmou que ela tinha mais a ganhar, do que a perder ficando naquela casa.
Andressa, todavia, não estava interessada em luxos. 
Acostumada a viver na rua, lutou contra tudo e contra todos para que não a levassem para dentro da residência. 
Em vão.
Os dois homens a levaram arrastada. 
Ao entrarem na casa, deixaram-na sala. 
A seguir despediram-se.
Francisco, comentou então que ela devia ter cuidado com Andressa. 
Dizendo que a garota não era fácil, recomendou que ela nunca ficasse sozinha. 
Insinuando que já a vira freqüentando ambientes menos nobres, chegou a perguntar a Paulina se ela estava certa do que estava fazendo.
Paulina aborrecida com o modo arrogante do delegado, comentou que estava absolutamente segura do que estava fazendo. 
Alegando que já conhecia a história da garota, afirmou que não havia com o que se preocupar.
Francisco, percebendo que irritara a mulher, desculpou-se e pedindo licença, entrou no carro.
Em seguida, os três homens partiram.
Finalmente vendo-se a sós com a garota, Paulina resolveu levá-la até seu novo quarto.
Andressa então se deparou com um ambiente ricamente adornado. 
Impressionada com o luxo do ambiente, a garota parou para olhar.
Paulina, ao perceber um pequeno interesse de Andressa pelo ambiente, ficou a observá-la. 
Após alguns minutos, comentou que ela precisava tomar um banho.
Andressa ao ouvir a palavra banho, ficou incomodada.
Paulina, no entanto, insistindo em dizer que ela precisava tomar um banho, chamou duas empregadas da casa, para ajudá-la.
Jurema e Juraci, atenderam prontamente a ordem.
Com isso, Andressa, mesmo contra a vontade, acabou por tomar o banho. 
Em uma banheira, Jurema e Juraci esfregam suas costas, lavaram seus cabelos, limpam seu rosto, lavaram seus braços e pernas. 
Por fim, entregam-lhe um sabonete, para que esfregasse o restante do corpo.
Paulina observava tudo de longe.
Desta forma, após quase meia-hora de banho, finalmente o que se via era uma água imunda, e uma garota limpa.
Foi quando Paulina estendeu uma toalha limpa e Andressa se enrolou nela.
Logo em seguida, Paulina tencionou ajudá-la a se vestir.
Andressa, desconfiada, gesticulou.
Com muito custo, Paulina compreendeu que Andressa estava tentando dizer que conseguia se vestir sozinha.
Nesse momento, ao finalmente ver o rosto de Andressa, a mulher comentou:
-- Finalmente posso ver seu rosto como ele realmente é! Que bonita que você é minha filha!
Andressa ao ouvir isso, ficou perplexa. 
Chocada com estas palavras, demonstrou espanto.
Paulina então, percebendo o efeito que causara suas palavras, resolveu lhe explicar tudo.
Andressa, porém, não parecia disposta a ouvir. 
A mulher, percebendo que a garota precisava se trocar, pediu para que ela se vestisse.
Dizendo que elas poderiam conversar mais tarde, prometeu esclarecer tudo. 
A seguir saiu e encostou a porta.
Andressa ao ver uma roupa estendida na cama, enxugou-se na toalha e começou a se vestir. 
Tratava-se de uma calça escura e uma blusa branca.
Ao terminar de vestir a roupa, resolveu se olhar num espelho que estava instalado do outro lado do quarto. 
Admirada com sua imagem, passou a se observar por um longo tempo.
Perplexa com a situação, começou a se perguntar: 
‘O que levou aquela estranha mulher a deixá-la entrar em sua casa?’ 
Sim por que, poderia ser tudo, menos que ela fosse filha da tal mulher. 
Andressa não acreditava nisso.
Foi quando Paulina, percebendo que a moça se demorava demais, resolveu voltar ao quarto. 
Cuidadosamente abriu a porta. 
Ao ver por um instante o quarto vazio, assustou-se.
Temendo que a garota tivesse fugido, passou a procurá-la.
Quando a viu se admirando no espelho, percebeu que Andressa assustou-se. 
Sem graça, pediu desculpas. Dizendo que não queria assustá-la, Paulina comentou que só queria saber se ela estava precisando de alguma coisa.
Andressa nada respondeu. 
Desde que sofrera o malfadado acidente não conseguira mais pronunciar nenhuma palavra.
Nisso Paulina começou a contar sua história.
Impaciente, por diversas vezes, Andressa fez menção de se levantar e deixá-la falando sozinha.
A mulher, porém foi enérgica, e dizendo que aquele assunto também se referia a sua vida, exigiu que Andressa ouvisse tudo o que ela tinha a dizer.
Sem outra alternativa Andressa sentou-se e ouviu tudo o que Paulina tinha a dizer.
Ouviu a história de que ela tivera um relacionamento antes de se casar. 
Que ao se envolver com Clóvis, tivera uma filha. 
Que fora expulsa de casa e que por isso, abandonara a filha em um orfanato. 
Em seguida casou-se, constituiu família. 
Tempos depois o marido morreu, e ela voltou a pensar na sua filhinha.
Andressa irritada com tanta conversa fiada, demonstrava impaciência. 
Incomodada com tanta lenga-lenga, perguntava a si mesma: 
‘E o que eu tenho a ver com isso?’
Paulina percebendo a impaciência de Andressa, comentou que contratou um detetive, e descobriu para seu espanto que sua filha vivia nas ruas.
Andressa ficou surpresa.
Paulina então, revelou que sua filha era ela e que conhecia toda sua história.
A garota, ao ouvir tais palavras, parecia não acreditar. 
Nem um pouco convencida, Andressa começou a gesticular violentamente. 
Revoltada com a situação, parecia tentar dizer que queria sair dali.
Paulina, assustada com a reação de Andressa, pediu por diversas vezes que ela se acalmasse.
Contudo, nada parecia acalmar a garota.
Foi quando a mulher, sacando um calmante da bolsa, chamou uma das empregadas e auxiliada por ela, fez com que a garota engolisse o comprimido.
Depois de alguns minutos Andressa apagou. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 59

Mesmo assim, Paulina conseguiu manter, durante todo o tempo em que esteve casada, uma postura correta. 
Sempre preocupada em fazer Antenor feliz, Paulina aprendeu a respeitar o casamento. 
Tanto que nunca o traiu.
Se nunca contou a verdade sobre seu passado, Paulina também nunca o enganou no presente.
Contudo, após sua morte, precisando acertar contas com seu passado, Paulina resolveu procurar sua filha.
E mesmo ansiosa, soube pacientemente esperar.
E assim, após dois anos de buscas, finalmente encontrou sua filha.
Andressa, nessa época, depois do acidente que sofrera, tornou a viver nas ruas.
Muito embora tivesse passado longos meses se recuperando em um hospital, após receber alta, Andressa, passou uma temporada na casa de Andréia, e mais tarde voltou as
ruas.
Isso por que, Cléber, insistiu para que Andréia deixasse a garota voltar para o cortiço.
Andréia, que fazia tudo o que o enteado pedia, e mesmo contrariada, concordou.
E assim, mesmo contra a vontade, Andressa se viu obrigada a voltar para o lugar onde tivera um grande trabalho para sair. 
Levada para o cortiço, Andressa passou a ser cuidada por Andréia.
Entrementes, apesar dos cuidados de Andréia, Andressa sofria em suas mãos. 
Isso por que, a mulher somente a auxiliava quando era forçada a tanto. 
Sempre de má vontade, era penoso para a garota, ser cuidada por ela.
Podendo apenas gesticular, já que não conseguia articular os sons a ponto de formar uma palavra, Andressa estava completamente à mercê de sua mãe. Em razão disso, por várias
vezes foi esquecida por Andréia.
Esta, por achar conveniente, nunca se lembrava de lhe dar os remédios receitados pelo médico, e conseguidos de graça em um posto de saúde.
Com isso, Andressa tinha que sair mancando do quartinho, para ir até a cozinha tomar os remédios. 
Para quem ainda sentia um pouco de dor em decorrência do tombo que levara, era penosa esta tarefa. 
Mas se ela mesma não fosse até a cozinha, ficaria sem tomar os remédios.
Não bastasse isso, sempre que podia, Andréia jogava-lhe na cara que era sustentada por ela. 
Constantemente, Andréia lhe dizia que estava fazendo um favor. 
Certa vez, por maldade, Andréia, cansada de ver Andressa deitada no quartinho, resolveu pegar o que sobrara dos remédios e escondê-los. 
Dizendo que havia jogado tudo fora, deixou a garota se sentindo mal por longas horas.
Não fosse a intervenção de Genival, e Andressa teria que interromper o tratamento, podendo ficar até com seqüelas do acidente que sofrera.
Genival, porém, agiu rápido. 
Ao perceber a maldade de Andréia, Genival passou a procurar os remédios pela casa inteira. 
Só descansou quando finalmente os encontrou no fundo de um armário. 
Rapidamente, levou a medicação até o quarto onde Andressa estava e ministrou-lhe os mesmos.
Andressa, depois de tomá-los, ao se sentir um pouco melhor, agradeceu.
Foi quando ele advertiu-a de que deveria guardar os remédios bem guardados, para que Andréia não os jogasse fora.
A garota quando ouviu isso, ficou espantada. 
Decepcionada, meneou a cabeça indicando que entendera o recado e que iria tomar cuidado. 
Assim o fez.
Quem não ficou nada feliz com isso foi Andréia, que brigou com Genival.
Ele, porém, nem ligou.
No que tange o senhorio, Genival, Clodoaldo, Lucrécia e Cléber, acabaram por arrumar dinheiro para pagar o aluguel atrasado. 
Assim, as ameaças cessaram.
Conforme voltaram a pagar o aluguel em dia, nunca mais Gervásio apareceu para incomodá-los. 
Enfim todos respiravam aliviados.
Nesse ínterim, a convivência entre Andréia e Andressa, continuava difícil. 
Tanto que a certa altura, a garota voltou a viver na rua.
Depois de tudo o que ocorrera, ficou impossível ficar morando no cortiço com Sérgio e sua mãe. 
Isso por que, além do fato dele bater em Andréia, a moça já não agüentava mais o assédio de Cléber, que depois de saber que ela emudecera, ficou ainda mais ousado.
Contudo, mesmo com dificuldades, Andressa conseguia se safar. 
Mas, por quanto tempo ainda?
Pensando nisso, assim que se sentiu um pouco melhor, Andressa voltou a viver na rua.
Quando Clau, Mateus e Robson descobriram que ela ficara muda, ficaram perplexos.
Sim, por que sem poder falar, como faria para se comunicar? 
Assustados, não sabiam o que dizer a Andressa.
No entanto, o que parecia um grande pesadelo, com o passar do tempo ficou menor.
Sim por que, aprendendo a conviver com a nova limitação da amiga, os três pouco a pouco foram a aprendendo uma forma de se comunicarem com ela.
Andressa também se esforçava ao máximo para se fazer entender.
Com isso os quatro amigos, acabaram por superar esta barreira.
Contudo, para Andressa não foi fácil. 
Para pedir esmolas, por exemplo, tinha que escrever numa grande folha de papel, que era muda. 
Com isso, o agradecimento era sempre em letras garrafais em um pedaço de cartolina.
Por várias vezes seus amigos a auxiliaram. 
Sim por que sem ter como falar, por uma vez quase se perdeu na cidade.
Mateus então, nunca mais a deixou ficar sozinha. 
Pensando em uma forma melhor de pedir dinheiro Robson aconselhou-a a explorar sua deficiência para conseguir esmolas. 
Ardiloso, foi logo sugerindo a ela que fosse pedir esmolas perto de estações de ônibus.
Mateus a acompanhava sempre.
E lá ia Andressa com suas plaquinhas. 
Uma contando sua história e outra para agradecer o dinheiro que havia ganho.
Foi lá que Paulina a encontrou.
Andressa, estava suja, maltrapilha e fedendo.
Embora tenha sentindo repulsa num primeiro momento, ao perceber o mal que fizera a ela, Paulina se comoveu. 
Perplexa, percebeu que sua filha tivera uma vida muito complicada.
Ao ouvir do detetive, toda a história de vida da garota, Paulina ficou penalizada. 
Por conta disso, sua primeira reação foi a de querer se aproximar da filha.
Relutante, o detetive concordou somente depois de muita insistência, em levá-la até o local onde Andressa dormia.
Nisso, quando Paulina viu em detalhes, o estado de miséria em que vivia a filha, ficou chocada. 
Atordoada, ao chegar em casa, pensou logo em uma estratégia para se aproximar da garota.
Andressa, porém, não queria saber de conversa.
Na primeira vez em que tentou conversar com Andressa, Paulina foi logo rechaçada por ela.
Contudo, insistente, Paulina tornou a tentar abordá-la.
Andressa, desconfiada, gesticulava a todo instante, como se perguntasse: 
‘O que você quer?’
Quando Paulina tentava responder, era logo interrompida pelo gestual da garota que insistia em espernear, pois não queria saber de ouvir nenhuma história.
Paulina insistia, porém. 
Ansiava por tirar Andressa daquela vida, tudo o que conseguia, no entanto, era fazer com que a moça se afastasse cada vez mais dela.
Clau certa vez, irritado com tanta insistência, resolveu tomar as dores da amiga.
Dizendo a mulher que Andressa não queria saber de conversa, pediu para que ela fosse embora.
Paulina ao ouvir as palavras do garoto, relutou, mas o detetive que a acompanhava a aconselhou a sair dali.
E a mulher mesmo não querendo, foi embora.
Andressa agradeceu gesticulando. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.