Poesias

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 35

No dia seguinte, banhou-se num chafariz. 
Percebendo-se suja demais, tentou remediar a situação. 
Mas cautelosa, teve todo o cuidado para não molhar o dinheiro que havia ganho no dia anterior. 
Precavida, evitou deixar o dinheiro em outro lugar, pois sabia que se deixasse seus pertences longe de suas vistas, certamente seria roubada.
A garota aprendeu isso em seu primeiro dia de rua, quando viu dois mendigos roubando os pertences que um outro morador de rua havia escondido. 
Espantada ao ver a cena, Andressa percebeu que estando na rua, qualquer objeto, encontrado longe de seu dono, não era de ninguém. 
Atenta, aprendeu então a ter cuidado com suas coisas.
Por isso, o banho cuidadoso e atento.
Em seguida, encaminhou-se em direção a um cruzamento. 
Novamente pediria dinheiro. 
Muito embora, muitos motoristas fingissem não notá-la, outros, apiedados auxiliavam. 
E assim, depois de algumas horas, Andressa já tinha dinheiro suficiente para comprar seu lanche.
Contente lá se ia ela novamente em direção a barraca do Eleutério.
Gentil, ao vê-la, o homem a cumprimenta.
Atenciosa, Andressa responde a solicitação.
É quando o homem pergunta:
-- E então? Pronta para se deliciar com mais um cachorro-quente?
Animada, a garota respondeu que sim. 
Ávida, assim que conseguiu seu lanche, percebendo que algumas pessoas evitavam se aproximar da barraquinha, despediu-se do
homem e desejou-lhe um bom trabalho.
Eleutério agradeceu. 
Foi então que as pessoas voltaram a se aproximar de sua barraquinha.
E Andressa seguiu contente carregando seu sanduíche nas mãos. 
Faminta, saboreou o lanche. 
Ao final do dia, foi ter com o vendedor. 
Dizendo que tinha dinheiro para pagar, estendeu novamente sua mão, mostrando o dinheiro.
Mais, uma vez, o homem recusou o pagamento. 
Dizendo que já tinha tudo o que precisava, Eleutério, disse para ela guardar seu dinheirinho.
Andressa então, guardou as notas.
Nesse momento, Eleutério propôs um acordo a Andressa.
Dizendo que ela poderia, uma vez por dia comer em sua barraca, solicitou que ela não tentasse pagar.
A garota ficou perplexa. 
Afinal de contas, esse era o ganha-pão do homem. 
Como ele poderia não querer ser pago pelo seu trabalho? 
Andressa não conseguia compreender.
Foi quando Eleutério, percebendo o ar de surpresa da garota, explicou:
-- Já ouviu falar em corrente?
-- Corrente? – perguntou Andressa curiosa.
-- Sim, corrente. Trata-se de uma corrente especial. É quando eu faço um gesto para ajudar alguém. Esse que foi ajudado então, passa a ajudar um outro alguém. Tem pessoas
que fazem isso com orações. Eu prefiro ter atitudes.
Andressa não compreendeu muito bem.
Eleutério percebendo isso, desculpou-se. 
Dizendo que ela era ainda muito criança para entender, respondeu então, que estava plantando uma sementinha que germinaria no futuro e produziria bons frutos.
Foi quando Andressa se lembrou de Carmem.
Eleutério, dizendo que precisava voltar para sua casa, começou a desmontar sua barraquinha. 
Ajudado por Andressa, o homem agradeceu. 
Quando já estava pronto para ir embora, perguntou a menina, se ela não gostaria de trabalhar com ele.
Andressa respondeu que sim.
Nesse momento, o homem perguntou seu nome.
-- Andressa. – respondeu a garota.
Ele por sua vez, disse que se chamava Eleutério.
Estavam apresentados.
Nesse momento, Eleutério lhe sugeriu que estivesse a postos logo cedo.
A garota prometeu que estaria.
Quem diria. 
Agora finalmente parecia que as coisas estavam mudando. 
Depois de alguns dias sem a mínima perspectiva, a garota agora tinha um amigo e um trabalho. 
Também estava começando a ganhar dinheiro. 
Esperta, estava começando a aprender a se virar.
Muito diferente das primeiras horas, em que não sabia para onde ir, e vagava sem rumo. 
Nos primeiros dias, sentiu frio e fome. 
Isso por que, as madrugadas de São Paulo, são muito frias. 
E a garota, sem agasalho, contando somente com a roupa do corpo, passou maus bocados.
Além disso, certa vez, caminhando distraída, ao perceber que pisara num dos pertences de um morador de rua, acabou por atrair para si a sua fúria. 
Com isso, hostilizada por alguns moradores de rua, precisou fugir deles. 
Ameaçada por alguns deles, correu durante uns bons minutos. 
Temerosa, ficou um longo tempo sem voltar para aquele lugar.
Tremendo de frio, dormiu algumas noites embaixo de um banco de praça. 
Com isso, logo que amanhecia o dia, tratava de sair dali. 
Desesperada, passava as manhãs chorando e pedindo dinheiro as pessoas que caminhavam apressadas nas calçadas. 
Mas nada conseguia.
Até que pensou em pedir dinheiro no lugar certo.
Mas agora, as coisas estavam melhorando. 
Andressa agora tinha dois empregos. 
Um de ajudante do vendedor de cachorros-quentes e outro de pedir esmolas no farol. 
Estava feliz da vida. 
Pensando que uma ajudante ganhava muito dinheiro, já começou a se imaginar muito rica.
Feliz, dormiu contemplando pela primeira vez as estrelas. 
Sim, naquele momento nada poderia destruir sua felicidade. 
E assim, sonhou.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 34

Um dia porém, cansada de passar fome e sede, começou a pedir dinheiro nos faróis.
Com isso conseguiu matar sua fome. 
Ao se ver pela primeira vez com dinheiro nas mãos, Andressa se encaminhou a uma lanchonete. 
Estava disposta a comprar um sanduíche para comer. 
Porém, qual não foi sua surpresa ao ser impedida de adentrar o estabalecimento.
Como fazia alguns dias que estava dormindo na rua, o aspecto da garota, não era dos mais agradáveis. 
Isso por que, há dias sem tomar banho, escovar os dentes e pentear os cabelos, Andressa, fazia jus ao apelido de garota de rua. 
Assim, com sua aparência nem um pouco confiável, só conseguia fazer com que as pessoas se afastassem dela.
Mesmo assim, a garota não conseguia entender por que as pessoas tinham tanto medo dela. 
Decepcionada, ao se ver impedida de comprar comida, resolveu se dirigir ao um outro local. 
Aborrecida só queria saber de comer.
Foi quando um homem, penalizado com sua precária situação, resolveu ajudá-la.
Percebendo a dificuldade da garota, o homem ofereceu-lhe um cachorro-quente.
Faminta, Andressa aceitou a oferta. 
Afoita, pegou o lanche e começou a devorá-lo.
Quando terminou de comer o lanche, finalmente lembrou-se de que não havia pago a refeição. 
Por isso, tirou os trocados que ganhou do bolso e ofereceu ao dono da barraquinha, que rapidamente recusou o dinheiro.
Novamente a garota ficou espantada.
Eleutério – o dono da barraca – porém, explicando que havia feito um convite, falou que não poderia jamais cobrar por aquele lanche.
Andressa continuou sem entender.
Eleutério então, complementou:
-- Eu sei quando uma pessoa tem fome. Trabalhando há tanto tempo nesse ramo, não tem como uma pessoa me enganar. Quando eu olhei seus olhinhos suplicando por comida,
eu não tive como negar. Por isso ofereci. E se ofereci foi um convite. E um convite não pode ser pago.
Espantada, Andressa só conseguia dizer:
-- Mas... mas...
-- Não se preocupe menina. Esse dinheiro não me fará falta. Deus costuma ajudar quem ajuda os outros.
Quando Andressa tentou mais uma vez fazer com que o homem aceitasse o dinheiro, o mesmo respondeu:
-- Eu já falei. Não precisa... Além do mais, esse dinheiro vai fazer falta para você. Fique com ele. – disse o homem, fechando as mãos da menina.
Andressa se emocionou.
Nisso, Eleutério sugeriu:
-- Volte amanhã. Quem sabe tem um novo cachorro-quente esperando por você?
Andressa surpresa, balbuciou um obrigada. 
Depois disse tchau e foi embora.
Curiosa com o gesto generoso do homem, a menina não conseguia compreender como podia haver no mundo pessoas tão generosas, quando havia tantas outras pessoas egoístas e
insensíveis, que não eram capazes de entender sequer o sofrimento alheio. 
Pelo contrário, estas últimas, só sabiam fazer as pessoas sofrerem mais e mais.
Pensando nisso, a garota caminhou contente pelas ruas da cidade.
Mais tarde, dormiu nas escadarias de uma estação.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 33

No segundo dia de rua, sentindo fome, começou a pedir comida as pessoas que passavam. 
Apressados os traseuntes tinham pressa. 
Tanta pressa que mal podiam parar para ouvir o que ela tinha a dizer.
Andressa, amuada, sentou-se em um canto e começou a chorar.
Faminta, ficou a tarde toda olhando um forno onde carnes eram assadas. 
Para a garota, ver aquela profusão de comidas era uma tortura. 
Tudo por que, sem ter dinheiro para comprar comida, ao ver tanta fartura diante de si, lhe dava fome. 
Mais fome ainda.
Todavia, o que fazer? 
Novata nas ruas, não sabia como agir. 
Sequer tinha a malandragem de uma vida sofrida.
Certa vez, caminhando pelo centro da cidade, descobriu uma fonte e, tirando um pouco de água, bebeu. 
Sentindo calor, molhou a cabeça. 
Foi quando um guarda começou a caminhar em sua direção.
Pressentindo o perigo, Andressa deu no pé, antes que o guarda se aproximasse.
Contudo, se o dia era difícil, a noite conseguia ser pior. 
Sim, por que muito embora, a garota já estivesse dormindo há alguns dias na rua, ainda não conhecera ninguém que a pudesse ajudar. 
Desamparada, só podia contar com seu próprio instinto.
Com isso, a fome só aumentava. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 32

Sim, Andressa, sem ter para onde ir, passou a viver na rua.
Sem endereço fixo, cada dia a garota dormia em um lugar.
Preocupada, temerosa de que a encontrassem a garota, ficou a se esconder por um longo período.
Perdida, na primeira noite que passou na rua, tudo lhe assustava. 
A visão dos mendigos, crianças se drogando, o mal cheiro. 
Tudo era aterrador. 
Apavorada, perguntava-se o tempo todo, o que estava fazendo ali. 
Pensando se não teria melhor ficar no orfanato, lembrou-se de Carmem, que a essa altura devia estar aflitíssima com seu sumiço. 
Contudo, o que poderia fazer? 
Voltar não podia. 
Isso por que, se retornasse ao orfanato, sua vida, que já era muito difícil lá dentro, se tornaria insuportável. 
Levando-se em consideração o comportamento de Francisca e de outras funcionárias, a garota não teria nenhum minuto sequer, de sossego.
Sim, Andressa estava encrencada.
Não tinha onde dormir, o que comer, nem como se proteger. 
Vagando, ficou praticamente a noite inteira acordada, com medo de que algum indigente se aproximasse dela.
Como não trazia consigo nenhum objeto de valor, não foi abordada por nenhum trombadinha.
Todavia, alguns moradores de rua, estranhando sua presença, passaram a comentar entre si:
-- O que uma menina limpinha e bem arrumada, estaria fazendo na rua aquela hora e sozinha?
Foi aí que começou um burburinho.
Andressa, percebendo que era alvo de olhares, apressou o passo.
Andando, andando, chegou em uma praça. 
No entanto, por mais que andasse. 
Por mais que tentasse se esconder, sentia que nenhum lugar era seguro o bastante. 
Todavia, a certa altura, cansada de andar sem rumo, exausta, acabou por adormecer em qualquer lugar.
Por sorte, ninguém a incomodou.
E assim depois de algum tempo vivendo nas ruas, percebendo que não tinha alternativas, acabou se adaptando a esta vida. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 31

O tempo foi passando.
Andressa, agora com oito anos, cansada da vida sofrida que levava, resolveu fugir.
Muito embora tenha até conseguido fazer algumas amizades naquele lugar, a única pessoa que lhe tinha apreço era Carmem.
Porém, era só a mulher precisar se ausentar, para que as coisas ficassem mais difíceis do que já eram.
Andressa já não agüentava aquela situação.
Por conta disso, resolveu fugir.
Certo, percebendo a distração de uma das funcionárias, observando que o portão de entrada da instituição estava aberto, se evadiu.
Ao ganhar a rua, tratou de correr. 
Quando percebeu que já ganhara uma boa distância do orfanato, sentou-se e procurou descansar um pouco.
Depois de alguns minutos, temendo que alguém a viesse procurar, levantou-se subitamente e continuou a correr. 
Aflita, correu o máximo que pôde. 
Quando se cansou, passou a caminhar. 
Andou praticamente sem parar, por algumas horas.
No orfanato, quando finalmente deram por sua falta, já era tarde.
Andressa já havia sumido fazia muito tempo.
Francisca ao descobrir o sumiço da garota, ficou furiosa. 
Agindo imediatamente, mandou chamar a polícia.
Carmem, por sua vez, tentando contornar a situação, pedia a todo o momento que Francisca não fosse severa demais com a garota. 
Temendo que Francisca maltratasse Andressa, exigiu a ela que tivesse um pouco de paciência.
Francisca porém, não estava para conversas. 
Por isso, logo que os policiais apareceram, chamou-os para conversarem em sua sala. 
Ali ela descreveu fisicamente a garota.
Os policias então, atentos a descrição, chegaram a procurar a garota. 
Contudo, nada encontraram.
Ao saber disso, Francisca não ficou nada satisfeita. 
Temendo uma repreensão de seu superior hierárquico, a mulher fez de tudo para que Andressa fosse encontrada.
Todavia, a menina não queria ser achada.
Por isso, a cada dia, se afastava mais e mais do orfanato. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 30

Por dias a fio rezou. 
Rezou muito para que sua prece fosse atendida. 
Incomodada com a amolação das garotas mais velhas, que viviam dizendo-lhe que ela nunca conseguiria sair daquele orfanato, que não gostavam dela e que ela nunca seria
feliz, Andressa queria sair dali.
Carmem, ao vê-la tão sofrida, conversou com ela. 
Ao saber que algumas garotas a ficavam chateando, repreendeu-as.
Esta atitude de Carmem não melhorou nem um pouco a situação de Andressa.
Isso por que, furiosas, as meninas passaram a mais e mais, implicar com a garota, que a todo tempo, tentava se livrar delas.
A situação chegou a um ponto, que para intrigar Andressa com as funcionárias do orfanato, Larissa e suas amigas, começaram a criar mal entendidos envolvendo a menina.
Primeiro começaram a jogar bolinhas de papel em Francisca, que sem perceber a autora da brincadeira, ao ouvir de Larissa que a responsável por ato fora Andressa, tratou
logo de repreendê-la.
Mesmo assustada, Andressa tentou se defender. 
Mas sempre que abria a boca para dizer algo, era interrompida por Francisca, que não parava de dizer impropérios.
Acabrunhada, ao ouvir que como castigo ficaria sem jantar, saiu correndo. 
Chorando, se encolheu em sua cama.
Mas essa não seria a primeira diabrura arquitetada por Larissa. 
As próximas confusões seriam bem piores.
Certa vez, insinuando que Andressa sumira com um objeto pessoal seu, Larissa conseguiu novamente atrair a fúria de Francisa contra a garota.
Irritada, Francisca pressionou Andressa de todas as formas, para que ela confessasse onde tinha colocado a presilha de Larissa.
Como a menina não havia pego o objeto, não tinha como responder onde o mesmo estava.
Por conta disso, Francisca decidiu colocá-la de castigo. 
Colocando-a ajoelhada em cima de grãos de milho, exigiu que a menina rezasse pedindo perdão por seus pecados.
Atenta, mandou Talita vigiar a garota, para que a punição fosse cumprida.
Por conta disso, Andressa ficou por mais de uma hora rezando sobre o milho. 
A cada vez que ameaçava se levantar, Talita a mandava ficar ajoelhada.
Em dado momento, sem agüentar mais a dor, a menina começou a chorar. 
Dizendo que não havia pego nenhuma presilha, comentou que Larissa sumira com o objeto de propósito.
Foi o suficiente para deixar Talita irritadíssima.
-- Cale-se! Eu não quero saber de mentiras! – respondeu.
-- Mas eu não estou mentindo. – insistiu a menina.
Talita então, percebendo que Andressa continuaria insistindo nisso, ameaçou-a dizendo:
-- Se você não parar de mentir, eu vou ser obrigada a chamar Dona Francisca. Ela certamente, vai lhe impor um castigo bem pior que esse.
Ao ouvir estas palavras, Andressa calou-se.
Embora estivesse cansada, a menina continuou rezando. 
Ao final do castigo, levantou-se e sentou em sua cama.
Talita retirou-se. 
Mas não sem antes dizer, que ela não estava na casa dela, e que por isso mesmo, teria que aprender a se comportar.
Andressa ouviu calada. 
Como Carmem estava de férias, Larissa encontrou a oportunidade ideal para agir.
Sem a interferência da funcionária, poderia intrigar a menina o quanto quisesse, com as funcionárias da instituição.
Por esta razão, a perseguição continuou por um longo tempo.
Certa vez, provocando Andressa, Larissa conseguiu atrair a menina para um outra armadilha.
Isso por que, ao bater em uma menina mais nova, Isabel, Andressa não teve como se explicar. 
Sim, por que as próprias funcionárias que presenciaram a briga, a viram estapeando a menina.
Isabel, já convivia há muito tempo com Larissa, ao se ver levando a pior, caiu no choro.
Andressa então, tentando se explicar, tentou dizer que Isabel que começara a confusão.
Mais quem disse que Francisca a deixou falar? Muito pelo contrário. 
Cada vez mais aborrecida com o comportamento de Andressa, tratou logo de repreendê-la. 
Dizendo que se portava de maneira vergonhosa, insistiu na idéia de que ela era um péssimo exemplo para as outras internas. 
Por conta disso, novamente impôs um castigo.
Só que desta vez, o castigo foi bem pior.
Entendo que Andressa não poderia continuar convivendo com as outras crianças,
Francisca mandou Talita levar a garota para um cômodo isolado e úmido.
Lá a garota ficou por alguns dias.
Até ficou doente.
Carmem ao saber o que fizeram com Andressa, ficou furiosa. 
Dizendo que tudo aquilo era um absurdo, ameaçou denunciar Francisca e Talita.
Francisca ao ouvir as ameaças, comentou que ninguém acreditaria em suas palavras.
Furiosa, Carmem insistiu:
-- Pois se atrevam a tocar novamente nesta menina para ver se eu não denuncio vocês. Eu faço um escarcéu. Convoco até a imprensa se for preciso. A polícia.
-- E você vai se arriscar a perder seu cargo? Sim, por que, se algo acontecer com nossos empregos, eu mesma me encarrego de fazer a mocinha perder o seu também. –
ameaçou Francisca.
-- Pois eu não me importo. Desde que vocês deixem Andressa em paz. – respondeu rispidamente.
Em seguida, foi procurar Andressa.
Preocupadas, Francisca e Talita se entreolharam.
Cautelosas, ficaram algum tempo a perseguirem a garota.
Mesmo, assim, Andressa continuou sofrendo com a hostilidade das funcionárias do lugar. 
Não bastasse isso, tinha que ouvir piadinhas o tempo inteiro, sobre os castigos que sofrera.
Atrevida, Larissa certa vez, ameaçou agredi-la.
Não fosse a intervenção de Carmem, e a menina teria apanhado, já que a outra garota era bem maior.
E assim, as coisas foram se tornando mais e mais complicadas.  

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 29

Os dias passam.
Muito embora Andressa possa contar com o apoio de Carmem, nem todos os funcionários do orfanato são gentis como ela.
As crianças também.
Embora algumas meninas tenham tentado se aproximar e fazer amizade, muitas a desprezaram.
Por se tratar de um orfanato, havia crianças de várias idades.
Bebês, crianças bem pequenas, adolescentes.
Enfim, era uma verdadeira escadinha.
As meninas maiores por exemplo, viviam judiando das menores.
Mas havia crianças pequenas com um histórico de vida muito sofrido.
Essas, raramente queriam saber de amizade.
Não confiavam nas pessoas.
Haviam sido maltratadas por seus pais, espancadas, humilhadas.
Algumas sofreram até, abuso sexual.
Outras viviam na rua, e acabaram levadas para lá.
Muitas, foram abandonas por suas mães, logo que nasceram.
Poucas tinham o histórico de Andressa, foi deixada por lá, depois de crescida, entregue por sua mãe.
Muitas a invejavam por ser alvo de atenção e carinho de Carmem, muito embora a funcionária fosse dedicada a todas as crianças.
Mas Andressa era nova, e isso despertava ciúmes e curiosidade.
Por conta disso, algumas meninas se aproximaram nos primeiros dias para conversar.
Estavam curiosas em saber como ela havia parado lá.
Andressa, sem vontade de conversar, dizia apenas que sua mãe a deixara por lá.
Algumas garotas ao ouvirem isso, se desinteressavam dela, outras ficavam, tentando se aproximar.
Mas Andressa era arredia.
Somente com muita paciência, é que algumas garotas conseguiram fazer amizade com ela.
Mesmo assim, a menina era muito desconfiada.
Carmem, percebera este fato com pesar.
Contudo, ela não era o caso mais complicado.
Havia, como já dito, crianças em situação pior.
Certo dia, caminhando pelos ambientes do orfanato, uma dessas crianças a abordou.
Dizendo que ela não era bem vinda naquela lugar, sugeriram que ela fugisse dali.
Assustada, ao ouvir isso, Andressa, saiu correndo do recinto.
Aflita, foi até a gruta.
Lá começou a rezar.
Como já havia aprendido algumas orações a Carmem, tratou logo de fazer um pedido.
Angustiada, queria que sua mãe voltasse para buscá-la.
Não queria mais ficar ali, naquele orfanato.
Queria voltar para casa.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.