Poesias

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 33

No segundo dia de rua, sentindo fome, começou a pedir comida as pessoas que passavam. 
Apressados os traseuntes tinham pressa. 
Tanta pressa que mal podiam parar para ouvir o que ela tinha a dizer.
Andressa, amuada, sentou-se em um canto e começou a chorar.
Faminta, ficou a tarde toda olhando um forno onde carnes eram assadas. 
Para a garota, ver aquela profusão de comidas era uma tortura. 
Tudo por que, sem ter dinheiro para comprar comida, ao ver tanta fartura diante de si, lhe dava fome. 
Mais fome ainda.
Todavia, o que fazer? 
Novata nas ruas, não sabia como agir. 
Sequer tinha a malandragem de uma vida sofrida.
Certa vez, caminhando pelo centro da cidade, descobriu uma fonte e, tirando um pouco de água, bebeu. 
Sentindo calor, molhou a cabeça. 
Foi quando um guarda começou a caminhar em sua direção.
Pressentindo o perigo, Andressa deu no pé, antes que o guarda se aproximasse.
Contudo, se o dia era difícil, a noite conseguia ser pior. 
Sim, por que muito embora, a garota já estivesse dormindo há alguns dias na rua, ainda não conhecera ninguém que a pudesse ajudar. 
Desamparada, só podia contar com seu próprio instinto.
Com isso, a fome só aumentava. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 32

Sim, Andressa, sem ter para onde ir, passou a viver na rua.
Sem endereço fixo, cada dia a garota dormia em um lugar.
Preocupada, temerosa de que a encontrassem a garota, ficou a se esconder por um longo período.
Perdida, na primeira noite que passou na rua, tudo lhe assustava. 
A visão dos mendigos, crianças se drogando, o mal cheiro. 
Tudo era aterrador. 
Apavorada, perguntava-se o tempo todo, o que estava fazendo ali. 
Pensando se não teria melhor ficar no orfanato, lembrou-se de Carmem, que a essa altura devia estar aflitíssima com seu sumiço. 
Contudo, o que poderia fazer? 
Voltar não podia. 
Isso por que, se retornasse ao orfanato, sua vida, que já era muito difícil lá dentro, se tornaria insuportável. 
Levando-se em consideração o comportamento de Francisca e de outras funcionárias, a garota não teria nenhum minuto sequer, de sossego.
Sim, Andressa estava encrencada.
Não tinha onde dormir, o que comer, nem como se proteger. 
Vagando, ficou praticamente a noite inteira acordada, com medo de que algum indigente se aproximasse dela.
Como não trazia consigo nenhum objeto de valor, não foi abordada por nenhum trombadinha.
Todavia, alguns moradores de rua, estranhando sua presença, passaram a comentar entre si:
-- O que uma menina limpinha e bem arrumada, estaria fazendo na rua aquela hora e sozinha?
Foi aí que começou um burburinho.
Andressa, percebendo que era alvo de olhares, apressou o passo.
Andando, andando, chegou em uma praça. 
No entanto, por mais que andasse. 
Por mais que tentasse se esconder, sentia que nenhum lugar era seguro o bastante. 
Todavia, a certa altura, cansada de andar sem rumo, exausta, acabou por adormecer em qualquer lugar.
Por sorte, ninguém a incomodou.
E assim depois de algum tempo vivendo nas ruas, percebendo que não tinha alternativas, acabou se adaptando a esta vida. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 31

O tempo foi passando.
Andressa, agora com oito anos, cansada da vida sofrida que levava, resolveu fugir.
Muito embora tenha até conseguido fazer algumas amizades naquele lugar, a única pessoa que lhe tinha apreço era Carmem.
Porém, era só a mulher precisar se ausentar, para que as coisas ficassem mais difíceis do que já eram.
Andressa já não agüentava aquela situação.
Por conta disso, resolveu fugir.
Certo, percebendo a distração de uma das funcionárias, observando que o portão de entrada da instituição estava aberto, se evadiu.
Ao ganhar a rua, tratou de correr. 
Quando percebeu que já ganhara uma boa distância do orfanato, sentou-se e procurou descansar um pouco.
Depois de alguns minutos, temendo que alguém a viesse procurar, levantou-se subitamente e continuou a correr. 
Aflita, correu o máximo que pôde. 
Quando se cansou, passou a caminhar. 
Andou praticamente sem parar, por algumas horas.
No orfanato, quando finalmente deram por sua falta, já era tarde.
Andressa já havia sumido fazia muito tempo.
Francisca ao descobrir o sumiço da garota, ficou furiosa. 
Agindo imediatamente, mandou chamar a polícia.
Carmem, por sua vez, tentando contornar a situação, pedia a todo o momento que Francisca não fosse severa demais com a garota. 
Temendo que Francisca maltratasse Andressa, exigiu a ela que tivesse um pouco de paciência.
Francisca porém, não estava para conversas. 
Por isso, logo que os policiais apareceram, chamou-os para conversarem em sua sala. 
Ali ela descreveu fisicamente a garota.
Os policias então, atentos a descrição, chegaram a procurar a garota. 
Contudo, nada encontraram.
Ao saber disso, Francisca não ficou nada satisfeita. 
Temendo uma repreensão de seu superior hierárquico, a mulher fez de tudo para que Andressa fosse encontrada.
Todavia, a menina não queria ser achada.
Por isso, a cada dia, se afastava mais e mais do orfanato. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 30

Por dias a fio rezou. 
Rezou muito para que sua prece fosse atendida. 
Incomodada com a amolação das garotas mais velhas, que viviam dizendo-lhe que ela nunca conseguiria sair daquele orfanato, que não gostavam dela e que ela nunca seria
feliz, Andressa queria sair dali.
Carmem, ao vê-la tão sofrida, conversou com ela. 
Ao saber que algumas garotas a ficavam chateando, repreendeu-as.
Esta atitude de Carmem não melhorou nem um pouco a situação de Andressa.
Isso por que, furiosas, as meninas passaram a mais e mais, implicar com a garota, que a todo tempo, tentava se livrar delas.
A situação chegou a um ponto, que para intrigar Andressa com as funcionárias do orfanato, Larissa e suas amigas, começaram a criar mal entendidos envolvendo a menina.
Primeiro começaram a jogar bolinhas de papel em Francisca, que sem perceber a autora da brincadeira, ao ouvir de Larissa que a responsável por ato fora Andressa, tratou
logo de repreendê-la.
Mesmo assustada, Andressa tentou se defender. 
Mas sempre que abria a boca para dizer algo, era interrompida por Francisca, que não parava de dizer impropérios.
Acabrunhada, ao ouvir que como castigo ficaria sem jantar, saiu correndo. 
Chorando, se encolheu em sua cama.
Mas essa não seria a primeira diabrura arquitetada por Larissa. 
As próximas confusões seriam bem piores.
Certa vez, insinuando que Andressa sumira com um objeto pessoal seu, Larissa conseguiu novamente atrair a fúria de Francisa contra a garota.
Irritada, Francisca pressionou Andressa de todas as formas, para que ela confessasse onde tinha colocado a presilha de Larissa.
Como a menina não havia pego o objeto, não tinha como responder onde o mesmo estava.
Por conta disso, Francisca decidiu colocá-la de castigo. 
Colocando-a ajoelhada em cima de grãos de milho, exigiu que a menina rezasse pedindo perdão por seus pecados.
Atenta, mandou Talita vigiar a garota, para que a punição fosse cumprida.
Por conta disso, Andressa ficou por mais de uma hora rezando sobre o milho. 
A cada vez que ameaçava se levantar, Talita a mandava ficar ajoelhada.
Em dado momento, sem agüentar mais a dor, a menina começou a chorar. 
Dizendo que não havia pego nenhuma presilha, comentou que Larissa sumira com o objeto de propósito.
Foi o suficiente para deixar Talita irritadíssima.
-- Cale-se! Eu não quero saber de mentiras! – respondeu.
-- Mas eu não estou mentindo. – insistiu a menina.
Talita então, percebendo que Andressa continuaria insistindo nisso, ameaçou-a dizendo:
-- Se você não parar de mentir, eu vou ser obrigada a chamar Dona Francisca. Ela certamente, vai lhe impor um castigo bem pior que esse.
Ao ouvir estas palavras, Andressa calou-se.
Embora estivesse cansada, a menina continuou rezando. 
Ao final do castigo, levantou-se e sentou em sua cama.
Talita retirou-se. 
Mas não sem antes dizer, que ela não estava na casa dela, e que por isso mesmo, teria que aprender a se comportar.
Andressa ouviu calada. 
Como Carmem estava de férias, Larissa encontrou a oportunidade ideal para agir.
Sem a interferência da funcionária, poderia intrigar a menina o quanto quisesse, com as funcionárias da instituição.
Por esta razão, a perseguição continuou por um longo tempo.
Certa vez, provocando Andressa, Larissa conseguiu atrair a menina para um outra armadilha.
Isso por que, ao bater em uma menina mais nova, Isabel, Andressa não teve como se explicar. 
Sim, por que as próprias funcionárias que presenciaram a briga, a viram estapeando a menina.
Isabel, já convivia há muito tempo com Larissa, ao se ver levando a pior, caiu no choro.
Andressa então, tentando se explicar, tentou dizer que Isabel que começara a confusão.
Mais quem disse que Francisca a deixou falar? Muito pelo contrário. 
Cada vez mais aborrecida com o comportamento de Andressa, tratou logo de repreendê-la. 
Dizendo que se portava de maneira vergonhosa, insistiu na idéia de que ela era um péssimo exemplo para as outras internas. 
Por conta disso, novamente impôs um castigo.
Só que desta vez, o castigo foi bem pior.
Entendo que Andressa não poderia continuar convivendo com as outras crianças,
Francisca mandou Talita levar a garota para um cômodo isolado e úmido.
Lá a garota ficou por alguns dias.
Até ficou doente.
Carmem ao saber o que fizeram com Andressa, ficou furiosa. 
Dizendo que tudo aquilo era um absurdo, ameaçou denunciar Francisca e Talita.
Francisca ao ouvir as ameaças, comentou que ninguém acreditaria em suas palavras.
Furiosa, Carmem insistiu:
-- Pois se atrevam a tocar novamente nesta menina para ver se eu não denuncio vocês. Eu faço um escarcéu. Convoco até a imprensa se for preciso. A polícia.
-- E você vai se arriscar a perder seu cargo? Sim, por que, se algo acontecer com nossos empregos, eu mesma me encarrego de fazer a mocinha perder o seu também. –
ameaçou Francisca.
-- Pois eu não me importo. Desde que vocês deixem Andressa em paz. – respondeu rispidamente.
Em seguida, foi procurar Andressa.
Preocupadas, Francisca e Talita se entreolharam.
Cautelosas, ficaram algum tempo a perseguirem a garota.
Mesmo, assim, Andressa continuou sofrendo com a hostilidade das funcionárias do lugar. 
Não bastasse isso, tinha que ouvir piadinhas o tempo inteiro, sobre os castigos que sofrera.
Atrevida, Larissa certa vez, ameaçou agredi-la.
Não fosse a intervenção de Carmem, e a menina teria apanhado, já que a outra garota era bem maior.
E assim, as coisas foram se tornando mais e mais complicadas.  

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 29

Os dias passam.
Muito embora Andressa possa contar com o apoio de Carmem, nem todos os funcionários do orfanato são gentis como ela.
As crianças também.
Embora algumas meninas tenham tentado se aproximar e fazer amizade, muitas a desprezaram.
Por se tratar de um orfanato, havia crianças de várias idades.
Bebês, crianças bem pequenas, adolescentes.
Enfim, era uma verdadeira escadinha.
As meninas maiores por exemplo, viviam judiando das menores.
Mas havia crianças pequenas com um histórico de vida muito sofrido.
Essas, raramente queriam saber de amizade.
Não confiavam nas pessoas.
Haviam sido maltratadas por seus pais, espancadas, humilhadas.
Algumas sofreram até, abuso sexual.
Outras viviam na rua, e acabaram levadas para lá.
Muitas, foram abandonas por suas mães, logo que nasceram.
Poucas tinham o histórico de Andressa, foi deixada por lá, depois de crescida, entregue por sua mãe.
Muitas a invejavam por ser alvo de atenção e carinho de Carmem, muito embora a funcionária fosse dedicada a todas as crianças.
Mas Andressa era nova, e isso despertava ciúmes e curiosidade.
Por conta disso, algumas meninas se aproximaram nos primeiros dias para conversar.
Estavam curiosas em saber como ela havia parado lá.
Andressa, sem vontade de conversar, dizia apenas que sua mãe a deixara por lá.
Algumas garotas ao ouvirem isso, se desinteressavam dela, outras ficavam, tentando se aproximar.
Mas Andressa era arredia.
Somente com muita paciência, é que algumas garotas conseguiram fazer amizade com ela.
Mesmo assim, a menina era muito desconfiada.
Carmem, percebera este fato com pesar.
Contudo, ela não era o caso mais complicado.
Havia, como já dito, crianças em situação pior.
Certo dia, caminhando pelos ambientes do orfanato, uma dessas crianças a abordou.
Dizendo que ela não era bem vinda naquela lugar, sugeriram que ela fugisse dali.
Assustada, ao ouvir isso, Andressa, saiu correndo do recinto.
Aflita, foi até a gruta.
Lá começou a rezar.
Como já havia aprendido algumas orações a Carmem, tratou logo de fazer um pedido.
Angustiada, queria que sua mãe voltasse para buscá-la.
Não queria mais ficar ali, naquele orfanato.
Queria voltar para casa.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 28

Pensando em seu pai e sua mãe, recordou-se do dia em que ambos a levaram ao circo, e ela se encantou com os palhaços, os malabaristas e os acrobatas.
O circo, era um desses circos grandes, com um amplo espaço para as arquibancadas.
Havia muita luz e cor no espetáculo.
A tocha humana, na qual um homem e uma mulher, passavam fogo no próprio corpo.
Foi um dia muito feliz.
Mais tarde, Juscelino, explicou a Andressa, que ela não deveria tentar reproduzir o que vira, com seus coleguinhas de escola.
Isso por que, brincar com fogo era muito perigoso.
Dizendo que muitas pessoas se ferem gravemente todos os dias, por mexer com fogo, Juscelino acabou assustando um pouco Andressa.
Percebendo isso, disse:
-- Não precisa ficar assustada. Eu não falei isso para que colocar medo. Eu só estou te alertando. Não mexa com fogo! Não toque em palitos de fósforos. Não se aproxime do
fogão, nem do botijão de gás. É perigoso. Quando precisar usar faca, peça para Andréia, cortar o pão para você. Seja cuidadosa e nada de mal vai te acontecer. Nada de mal.
Como nada de mal poderia lhe acontecer, se já estava acontecendo?
Por conta disso, novamente Andressa, chorou.
Talita, que sempre passava pelos corredores para observar se todos estavam dormindo, ao ouvir um choro de criança, foi ver o que era.
Ao ver Andressa sentada em sua cama, mandou que se deitasse.
No entanto, a menina parecia não ouvir o que lhe falavam.
Ao perceber a distração da garota, Talita, irritada, puxou-a pelo braço e disse:
-- Deite-se agora. Durma. Eu não quero voltar aqui e ver você acordada.
Assustada, Andressa se deitou.
Mas não conseguiu dormir.
Demorou para pegar no sono.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 27

No dia seguinte, ainda abalada com o abandono, Andressa permanecia retraída.
Triste, raramente conversava com alguém.
Só ficava de longe observando as outras crianças brincarem.
Carmem – uma das funcionárias do orfanato –, ao notar o ar de desânimo de Andressa, chamou-a para conversar.
Preocupada com toda aquela tristeza, a mulher fez de tudo para chamar a atenção da menina.
Dizendo que entendia seu pesar, Carmem ofereceu-se para ser sua amiga.
Andressa porém, estava triste demais para aceitar qualquer oferta.
Carmem então, percebendo que não seria fácil entrar no mundo daquela criança, resolveu ficar atenta.
Desta forma, quando viu a menina isolada no refeitório, sem tocar na comida, Carmem se aproximou.
Gentil, perguntou-lhe se não estava com fome.
Lacônica, Andressa respondeu que não.
Carmem, ao ouvir isto, respondeu:
-- Menina! Coma pelo menos um pouquinho! Senão você some.
Andressa não respondeu.
Carmem, notando o desinteresse da menina, ficou preocupada.
Afinal de contas, diante das circunstâncias, não podia obrigar a criança a comer.
Mas o que fazer afinal?
Quando a história da recusa de Andressa em se alimentar caiu nos ouvidos, de uma das funcionárias responsáveis pelo orfanato, aí é que a situação se complicou.
Isso por que, Francisca, ao tomar conhecimento da situação, ficou aborrecida.
Sem ter muito jeito para lidar com crianças, quis logo obrigar a menina a comer.
Mesmo diante dos apelos de Carmem, Francisca se dirigiu até o jardim, e perguntando a uma das funcionárias quem era a menina que não queria comer, descobriu que se tratava de
Andressa.
Rapidamente, mandou a funcionária chamar a menina para uma conversa.
Andressa então, conduzida pela funcionária, caminhou em direção a Francisca.
Irritada a mulher perguntou:
-- Por que a mocinha não quer comer?
Intimidada com Francisca, a menina se assustou.
Francisca, percebendo que Andressa não tinha coragem de responder sua pergunta, disse:
-- Responda menina. Eu te fiz uma pergunta.
Andressa continuava muda.
Francisca então, ficou mais irritada ainda.
Puxando a menina pelo braço, respondeu:
-- Menina! Você é surda? Quando eu te fizer uma pergunta, responda. - Eu não aceito falta de educação. Insolente!
Andressa, ao ouvir estas palavras, começou a chorar.
Carmem, que observava a cena de longe, ao notar que Francisca se excedia, resolveu intervir.
Aflita, pediu insistente para que Francisca soltasse o braço da menina.
Francisca, ao ouvir os apelos de Carmem, não ficou nada satisfeita.
Dizendo que aquele não era assunto dela, respondeu que faria Andressa entender que ali não ela não podia fazer o que quisesse.
Carmem porém, não se deixou intimidar.
Dizendo que precisava conversar com Andressa, pediu encarecidamente para Francisca, deixa-la a sós com a garota.
Francisca contrariada, retrucou dizendo que não era hora de passar a mão na cabeça de ninguém.
Carmem, por sua vez, insistiu.
Precisava muito conversar com a menina.
Dizendo que se responsabilizaria por tudo o que Andressa fizesse, finalmente conseguiu fazer com que Francisca atendesse seu pedido.
Não sem antes ouvir, o seguinte:
-- Tudo bem! Está certo! Mas ouça bem! Você se responsabilizou por tudo o que esta garota fizer daqui para frente. Então, faça se comportar com se deve, ou você vai sofrer as
conseqüências.
Nisso se afastou do jardim.
Carmem então, se aproximou de Andressa.
Dizendo que ela não precisava ficar com medo, comentou que Francisca só estava um pouco nervosa.
Argumentando que ela não a agredira por mal, tentava consertar a situação.
Mas Andressa estava desconfiada daquelas maneiras.
Carmem, percebendo que não estava sendo convincente o bastante, perguntou-lhe novamente por que não queria comer.
Andressa não respondia.
Ao constatar que não adiantaria fazer perguntas a meninas, estendeu sua mão para Andressa.
Dizendo que gostaria de levá-la para um lugar muito especial, conseguiu finalmente despertar o interesse de Andressa para alguma coisa.
E assim, mesmo ressabiada, a menina segurou a mão da gentil mulher.
E as duas caminharam pelo jardim.
Como se tratava de um terreno grande, as duas caminharam durante algum tempo.
Durante este trajeto, Carmem comentou que aquele era um lugar muito acolhedor.
Andressa parecia não acreditar.
-- Apesar de tudo. De todas as histórias tristes que essas crianças trazem consigo, ainda assim é possível haver espaço para a alegria. Eu sou feliz por trabalhar aqui. Mesmo
convivendo com tantas histórias tristes, eu vejo que as crianças tentam ser felizes a sua maneira, e isso é bom. É sinal de que existe algo por que lutar.
Andressa, não conseguia compreender o que Carmem estava dizendo.
Percebendo que estava confundindo a menina, Carmem se desculpou.
-- Eu não sei onde estou com a cabeça, para falar de um assunto tão sério com uma criança.
Nisso, as duas chegaram a uma gruta.
Carmem, mostrou a Andressa uma bica d’água que existia dentro da gruta.
Curiosa, a menina se aproximou.
Foi quando percebeu que haviam vários objetos espalhados pela gruta.
Carmem, percebendo o interesse da menina em saber o porquê dos objetos espalhados pela gruta, começou a explicar:
-- Esses objetos foram aqui deixados, como forma de agradecer um pedido atendido.
Andressa, ao ouvir tais palavras, timidamente, perguntou:
-- Que pedido?
Carmem, ao ouvir a pergunta, satisfeita, respondeu:
-- São pedidos que as crianças fazem para serem felizes, encontrarem uma nova família ... enfim, qualquer coisa.
-- São sempre atendidas? – perguntou novamente Andressa.
-- Quase sempre. É que para um pedido ser atendido, tem que ser feito com muita fé.
Muita confiança.
E nem sempre é atendido de forma imediata.
Sem entender muito bem o que Carmem dizia, Andressa perguntou para quem devia ser feito o pedido.
A mulher respondeu:
-- A quem você quiser. A seu Anjo da Guarda, ao seu Santo de devoção, diretamente a Deus. Você é quem sabe. Peça do seu jeitinho. Nem é preciso saber uma oração de cor.
Aliás, você sabe rezar?
Envergonhada, Andressa respondeu que não.
Prestativa, Carmem que iria lhe ensinar todas as orações que conhecia.
A seguir, aproveitando que havia conseguido despertar a atenção de Andressa, começou a conversar com ela sobre sua tristeza.
Dizendo entender suas dificuldades em se adaptar àquele ambiente, a mulher comentou que ela não podia se deixar abater.
Andressa ao ouvir tais palavras, emudeceu novamente.
Mas Carmem insiste.
Dizendo que ela precisa se alimentar, conta que as crianças são como plantinhas, e assim, para crescerem fortes, precisam de alimentos.
Curiosa, Andressa pergunta como as plantinhas fazem para comer.
Carmem sorri.
-- Elas se alimentam com o que tem no solo.
-- Mas eu nunca vi uma planta comendo o que tem no chão.
-- É que elas se alimentam através de suas raízes, que estão cravadas no solo. Nós não podemos ver.
Andressa fez sinal de parecer entender.
-- Assim, como você pôde notar, até mesmo as plantas precisavam de alimento. É assim que elas crescem. As crianças também precisam se alimentar. É assim que crescem
fortes e determinadas para enfrentarem a vida. E é por isso que você precisa comer. Senão você vai ficar fraquinha, e vai sumir, sumir, até desaparecer.
-- Eu não tenho fome. – respondeu a menina.
-- Mesmo assim, coma pelo menos um pouquinho. Coma, brinque. Não se ocupe com problemas que não são da sua idade. Deixe que nós nos preocupemos com a vida de vocês.
Tente ser feliz, mesmo vivendo neste lugar. Não deixe que as tristezas lhe tirem o ânimo para fazer o que se tem vontade. Seja feliz, apesar de tudo!
Andressa, ao ouvir estas palavras, começou a chorar.
Lembrou-se de seu pai, e da maneira carinhosa como ele sempre respondia todas as suas dúvidas.
De como ele sempre que podia ia buscá-la na escola.
E mesmo quando estava cheio de trabalho, deixava de lado um pouco suas obrigações, somente para lhe dar um pouco de atenção.
Triste, lembrou-se destes momentos, mas não os revelou a Carmem, que prontamente a abraçou e procurou consolá-la.
Durante o jantar, Andressa ao ver o prato de comida a sua frente, fez um esforço para comer um pouco.
Embora a comida não fosse saborosa, a menina finalmente tocou no prato e comeu um pouco.
Carmem, que a observava à distância, ficou deveras feliz com o esforço da criança.
A noite, quando todas as crianças foram se recolher, mais uma vez Andressa, ficou sentada em sua cama.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.