Poesias

terça-feira, 29 de setembro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 5

Nisso, se seguiram os dias.
Marina então, pôde finalmente, retirar a segunda via de seu RG, CIC, Título de Eleitor.
Como era só para retirar seus documentos, a moça gastou menos tempo na rua.
Sozinha, lá se foi logo cedo, resolver este assunto.
Todavia, ainda assim, necessitou ser dispensada do trabalho, durante a manhã.
Por esta razão, avisou seu chefe com antecedência.
Desta forma, só trabalhou durante à tarde.
Quando chegou ao banco, Paulina e Cleide, por sua vez, já estavam trabalhando a
pleno vapor.
Mesmo atarefadas, as duas, ao verem Marina chegando, comentaram entre si:
-- Ainda bem que ela chegou.
Sim o trabalho de caixa, era realmente exaustivo.
E quando alguém precisava faltar por um algum motivo, o trabalho, que já era puxado, ficava ainda pesado.
Isso por que, as pessoas, vão todos os dias ao banco, realizam saques, efetuam depósitos, pagamentos.
E tirando as operações mais complicadas, que são feitas com os gerentes, o trabalho mais pesado fica com os caixas.
Sem contar que mesmo após encerrado o atendimento ao público, os funcionários precisam verificar se os valores estão corretos.
Se não está faltando dinheiro.
Uma tremenda responsabilidade!
E assim, Marina, Cleide, Paulina, e os demais funcionários, ficavam praticamente o dia inteiro as voltas com números.
Uma trabalheira.
Mas elas gostavam do trabalho.
Não bastasse isso, no final do dia, lá se ia Cleide e Marina estudar.
Depois do jantar, lá estavam elas em meio aos livros, estudando, se dedicando.
Tudo com o intuito de passar no vestibular.
Ricardo, por sua vez, só pensava em sair com os amigos e se divertir.
Eugênia, vivia dizendo para o garoto voltar a estudar, mas ele não queria nem saber.
A única coisa que ele fazia, era dizer que estudar não era para ele.
Cleide não estudava?
Então, já era o bastante. Em seu modo de pensar.
E assim, de vez em quando assistia televisão e acompanhava o noticiário. Somente.
Mais nada.
A Eugênia – sua mãe –, só restava se conformar.
Afinal de contas, Ricardo já era adulto e ela não poderia mais obrigá-lo a nada.
Desta foram, ao ver que era inútil convencer seu filho do contrário, foi cuidar da louça.
Enquanto isso Cleide e Marina estudavam.
Dedicadas, passavam algumas horas estudando.
Sim, estavam realmente dispostas a ingressar em uma universidade.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 4

No dia seguinte as duas amigas novamente encontram Paulina.
Ricardo, que estava indo mais cedo para o trabalho, também as encontrou no ponto de ônibus aguardando a condução chegar.
Estava um dia frio e todos estão muito bem agasalhados.
Bem agasalhados para as três garotas que trabalham no banco é um pouco difícil por conta do uniforme, mas para Ricardo, é mais fácil.
Mas voltemos ao encontro.
Ricardo, finalmente encontra sua loura fabulosa.
Percebendo que a garota conhecia sua irmã e a colega de vizinhança, logo se apresenta.
-- Prazer! Meu nome é Ricardo. Qual é o seu?
-- Paulina.
-- Vocês três se conhecem há muito tempo?
-- Não muito! Eu vim a conhecer a Cleide e a Marina quando fui trabalhar no banco. – respondeu a moça.
-- E você mora há muito tempo neste bairro? – perguntou ele, curioso.
-- Apenas alguns meses. Mas já estou me enturmando.
-- Desculpe-me. Eu esqueci de apenas um detalhe. Marina é minha vizinha há bastante
tempo e Cleide é minha irmã. – respondeu ele ao perceber que Marina e Cleide olhavam-no
com curiosidade.
-- A sim? É verdade, Cleide já havia falado que tinha um irmão! – respondeu Paulina.
-- E você está gostando do trabalho? – perguntou ele.
-- Um pouco. O ritmo é um tanto quanto puxado. – comentou ela.
Nisso, Cleide e Marina começaram a rir.
Ricardo ao perceber o ar de deboche, não gostou nem um pouco. Mas não se intimou.
Continuou a conversar com a moça.
-- Mas não tem jeito. Quem trabalha tem que se dedicar muito. Eu também. Quando
eu chego no escritório em que trabalho, é uma correria danada. Mal tenho tempo de respirar.
-- E o que você faz? – perguntou Paulina.
-- Eu sou auxiliar administrativo.
-- Que legal! E você trabalha há muito tempo? – continuou Paulina.
-- Muito! Muito tempo. Eu estou trabalhando neste escritório, há cinco anos, desde que eu comecei a trabalhar.
Nisso, o ônibus finalmente apareceu.
Ricardo, que estava indo para a mesma região, acompanhou as três durante o percurso.
E assim, aproveitou para continuar conversando com Paulina dentro do lotação.
Conversa vai, conversa vem, Ricardo descobriu que a moça não tinha namorado.
Fato este que o agradou profundamente.
-- Então a senhorita está sozinha no momento! – comentou Ricardo.
-- Por quê? – perguntou Paulina, curiosa.
-- Por nada. Apenas te achei bonita demais para ficar sozinha. Que homens mais distraídos, meu Deus! Onde já se viu, uma mulher linda como você, sozinha.
Encabulada, Paulina sorriu constrangida.
Ricardo, aproveitando a oportunidade, tascou logo um novo comentário:
-- Não fique constrangida não. Afinal de contas, eu não falei nenhuma bobagem.
Paulina ficou ainda mais sem graça.
Ricardo, percebendo o constragimento da moça, disse:
-- Paulina! Mil perdões! Que falta de jeito essa minha. Você já deve estar cansada de tantos comentários sobre sua beleza, não é mesmo? ... Percebo que não estou sendo nem um
pouco original. Mil perdões, mais é que as circunstâncias não me permitem ser mais criativo. Por esta razão, eu gostaria de te convidar para um passeio. Não me leve a mal. É apenas um passeio.
A moça ao receber o convite ficou surpresa.
Marina e Cleide que os observavam à distância, se seguravam para não rirem da cena.
Ricardo todo gentil diante de Paulina, era uma cena cômica para as duas, que nunca tinham visto o rapaz se derramar em tantas gentilezas.
Nisso, chegou à hora das moças descerem do ônibus.
Ricardo, que aguardava com ansiedade a resposta de Paulina sobre o convite para passear, teve que repetir o convite.
Desta forma, somente quando a moça desceu do ônibus, é que o rapaz finalmente obteve a resposta.
-- Sim, eu aceito. – respondeu Paulina, para sua alegria.
Feliz, Ricardo finalmente sentou-se num banco, e depois de alguns minutos finalmente desceu da condução.
Como o escritório distava algumas quadras do ponto, o rapaz teve que andar um pouco até chegar ao local de trabalho.
Feliz, logo que sentou em sua mesa, comentou com Claudionor:
-- Lindo dia! Não é mesmo?
Claudionor, surpreso com o comentário, disparou:
-- Poxa vida! Eu não sabia que você gostava de contemplar a natureza!
Ricardo riu do comentário.
Claudionor então, dizendo que precisava tirar algumas cópias de documentos, retirou-se do recinto.
Ricardo então, começou a trabalhar. Como de costume, datilografou documentos, realizou operações contábeis, orientou o trabalho dos contínuos, e pediu a Claudionor que
autenticasse mais alguns papéis, bem como entregasse alguns documentos.
E lá se foi Claudionor novamente para a rua.
Em razão de seu ofício, o rapaz freqüentemente, passa muito tempo na rua.
Certa vez, seu amigo Ricardo, percebendo o quão era sacrificado seu trabalho, comentou que quando ele se cansasse de levar e trazer documentos, poderia perfeitamente,
ser taxista, já que conhecia a cidade com a palma da mão.
Ao se lembrar desse comentário, Claudionor sorriu.
No final do dia, ao retornar ao escritório, o rapaz, percebendo o ar de felicidade no rosto de Ricardo, perguntou-lhe o por quê de tanta satisfação.
Ricardo respondeu:
-- Ora meu amigo. E que mal há em ser feliz? Eu estou feliz por que a vida é boa comigo. Só.
-- Sei. Agora você vai me dizer que esse sorriso estampado em seu rosto não tem nenhum motivo.
Tiago, que vinha passando, carregando duas caixas de papelão – repletas de documentos para serem arquivados, comentou ironicamente:
-- Ora, Claudionor! O motivo é o de sempre: mulher!
Claudionor então, percebeu o que estava se passando.
Por esta razão, comentou:
-- Ah! Agora eu entendo todo esse mistério! Só podia ser mulher. Não sei como não percebi isso antes.
Curioso, Tiago perguntou:
-- E aí? Conseguiu conversar com ela?
Fazendo charme, Ricardo respondeu que só voltaria a tocar no assunto quando conquistar a moça.
Desapontados, Tiago e Claudionor, começaram a provocá-lo dizendo que ele estava enrolando demais para tomar a iniciativa.
Aborrecido o rapaz disse:
-- Não me amolem! Vão arrumar o que fazer!
Nisso, Cleide e Marina, curiosas para saber sobre o que Paulina e Ricardo falaram no ônibus, não paravam de fazer perguntas à moça.
Atordoada, Paulina não sabia mais o que dizer para desconversar. Incomodada com tanta curiosidade, a todo momento respondia que não foi nada de mais.
Mas Cleide, comentou que ouviu ela dizer que aceitava alguma coisa.
Insinuando que seu irmão a convidara para sair, queria por que queria que Paulina lhe revelasse o tema da conversa.
Paulina não entanto, se fechou em copas.
Reservada, não queria entrar em detalhes.
Por esta razão, respondia com evasivas.
Essa atitude, frustrou bastante Cleide.
Marina então, percebendo que a amiga estava sendo um pouco inconveniente, sugeriu para que elas deixassem Paulina a sós.
Cleide, concordou.
Conversando com Marina, a moça comentou que Ricardo não era flor que se cheirasse, e que só estava tentando ajudar Paulina.
Marina respondeu:
-- Eu sei, amiga. Mas Paulina, não te conhece direito.
-- Sim! Mas...
Marina interrompeu a amiga:
-- Eu sei que você vai me dizer que ela apesar de não nos conhecer bem, ela sabe mais de nós do que de Ricardo...
Desta vez, foi Cleide que interrompeu o pensamento de Marina.
-- Mas é justamente por isso, que ela deveria nos contar. Eu conheço meu irmão.
-- Sim, Cleide. Mas quem garante que ela está interessada nele? Pode ser apenas um encontro, isso que não quer dizer nada. Pode ser que não dê em nada.
-- Você acha?
-- Sim. E também, se der em alguma coisa, quem garante que ele realmente não está interessado de verdade nela?
-- A minha amiga. Eu não sei não. Estou muito desconfiada dessa história. – insistiu Cleide.
-- Tudo bem. Mas deixa pra lá. Isso não é mais problema seu. – comentou Marina.
-- Está certo. Ela que tenha cautela.
Nisso, as duas trataram de pegar seus pertences e, despedindo-se de Paulina, voltaram para casa.
Mais tarde as duas se encontraram e continuaram sua rotina de estudos.
Paulina por sua vez, demorou um pouco mais para sair do banco.
Desejando evitar Marina e Cleide, voltou mais tarde para casa.
Alaor, seu pai, já estava ansioso com tanta demora.
Éster, já não sabia mais o que fazer para acalmá-lo.
Foi quando finalmente Paulina entrou em casa.
Dizendo que havia se atrasado por conta do trabalho, ouviu as seguintes palavras de seu pai:
-- Está bem! Se foi por um motivo justo, eu não vou me aborrecer com você.
Éster, que já havia posto o jantar na mesa, pediu logo para a filha se sentar.
Nisso os três jantaram.
Após o jantar, Éster comentou com sua filha que estava gostando de ver sua dedicação com o trabalho.
Até mesmo Alaor concordou com sua esposa.
Parecia que finalmente Paulina estava se tornando responsável.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 3

E eis que surge uma nova manhã.
Como de costume, Paulina está atrasada para mais um dia de trabalho.
Aturdida, quase esquece sua bolsa em cima da mesa.
Não fossem os apelos de seu pai, Alor e ela teria que voltar correndo para casa atrás da bolsa.
Ê, mocinha distraída! Só não esquece a cabeça por que ela está grudada em cima do pescoço!
Ao sair de casa, despede-se dos pais apressadamente, e corre alvoroçada para o ponto
de ônibus.
Lá encontra Cleide e Marina conversando com a possibilidade de se tornarem
universitárias.
Paulina que nem de longe cogitava voltar a estudar, comentou:
-- Vocês são muito corajosas de a essa altura da vida voltarem a estudar! Imagine só,
conciliar trabalho e estudo. Não vai ser nada fácil!
-- Realmente! Mas a nossa vontade de progredir é maior do que as dificuldades. Além
do que, a vida já está difícil. Dificuldade por dificuldade, esse é o menor dos nossos
problemas. – respondeu Cleide.
Nisso o ônibus chegou. Ao verem o ônibus lotado, quase desanimaram.
-- Ah, meu Deus! E agora? – perguntou Marina.
-- Xi! Nesse horário é melhor encarar. Se nós ficarmos esperando outra condução,
nós não chegaremos a tempo no trabalho. Seja o que Deus quiser! – comentou Cleide.
-- Então, vamos que vamos. – emendou Paulina.
E entraram. Mas que sufoco! Mais espremidas do que costume, as três garotas
chegaram no centro da cidade cansadas. Ao adentrarem a agência o vigia ao vê-las, comentou
espantado:
-- Nossa! Mas que caras! Parece que chegaram até aqui em um comboio de guerra.
-- Pois foi quase isso, Seu Elias. O ônibus estava mais cheio do que de costume. –
comentou Marina.
-- É eu sei. Parece estão circulando em menor número. – comentou Elias.
-- E o senhor sabe por quê? – perguntou Cleide.
-- Parece que vai haver um protesto. – respondeu o vigia.
-- Minha nossa! Só faltava nós não termos como voltar para casa! – comentou
apreensiva Paulina.
-- Eu acho que não vai ter problema não. Até o final do expediente, tudo se resolve.
– respondeu Elias.
-- Assim esperamos. – disseram as três em uníssono.
Com isso, as três garotas trataram logo de começar o trabalho.
Como de costume, verificaram o caixa, ouviram algumas instruções do gerente, e logo que a agência abriu,
começaram a atender os clientes.
Ricardo, auxiliar administrativo, na mesma região, também saiu cedo de casa.
Já no escritório, começou a sua rotina de organizar papéis e realizar cálculos.
Mais tarde orientaria Claudionor para levar documentos para serem autenticados no cartório.
Zeloso com seu trabalho, Ricardo orientava os contínuos em sua rotina diária de levar
e trazer papéis.
Com isso, lá se ia Claudionor, com sua pastinha debaixo do braço, levar documentos
para serem autenticados. Mais tarde realizaria pagamentos por meio do malote.
Vidinha corrida essa, onde o vai-e-vem é uma constante!
São Paulo, em seu vai-e-vem, ao cair da tarde, finalmente concedeu o merecido
descanso aos nossos laboriosos e esforçados cidadãos. Era o momento da volta para casa.
Ônibus lotados, muita gente nas ruas. Até o merecido descanso.
Ao chegar em casa, Marina cumprimenta os pais e comenta sobre mais um dia de
trabalho.
Em seguida, janta rapidamente e se dirige à casa da amiga Cleide.
Lá encontra Cleide em meio a muitos livros. E mais uma vez as duas permanecem
por horas em meio aos livros.
Animadas estudam história. Relembram os tempos de escola e recordam-se de alguns
pontos de matemática.
Ricardo por sua vez, chega em casa e, enquanto sua dedicada irmã estuda, ele
aproveita para acompanhar o noticiário.
Eugênia, sua mãe, aproveita para levar a louça até o cozinha e lavá-la.
Na casa dos pais de Marina, a mesma coisa. Adélia retira pratos, talheres e panelas da
mesa e leva tudo para a pia.
Otávio também acompanha o noticiário.
Quando termina, é a hora da novela que Adélia acompanha assiduamente.
Otávio, que não vê a menor graça nisso, comenta:
-- Não sei como é que você pode gostar disso. Com tanta coisa acontecendo no Brasil,
as pessoas lutando para que tudo mude e você ai, grudada na frente dessa televisão como se
a história de uma novela fosse mais importante que a história do Brasil!
-- Grandes coisas! Como se a história do Brasil fosse realmente muito importante!
Não me amole, me deixe assistir minha novela. É uma das poucas distrações que ainda é
possível ter.
-- Está certo! Está bem! Depois não diga que eu não avisei. – retrucou ele amuado.
Com isso, finalmente terminou a novela. E Marina continuava na casa de Cleide.
Preocupado, Otávio perguntou a esposa, se Marina não estava demorando muito para
voltar.
Descontraída, Adélia respondeu:
-- Está sim! Mas espere um pouco mais. Daqui a pouco ela vai estar estourando por
aí.
Dito e feito. Não demorou cinco minutos e lá estava ela de volta. Cansada, ela
comentou que teria que levantar cedo para tirar novas vias de seus documentos.
-- Vou tirar uma segunda-via de todos os meus documentos. Isso vai me dar uma
trabalheira tão grande e uma canseira, que eu sinto preguiça só de imaginar.
-- Quer que eu vá com você? – perguntou Otávio.
-- Se o senhor quiser. – respondeu Marina.
-- Posto então, iremos juntos. – comentou ele.
E assim foi feito. Como de costume, ambos acordaram cedo e trataram logo de se
dirigirem aos órgãos competentes onde conseguiram solicitar a segunda-via de todos os
documentos.
Nessa brincadeira, levaram o dia inteiro.
Quando Cleide foi até sua casa para as duas estudarem, Marina comentou sobre sua
peregrinação.
-- Uma trabalheira danada! A minha sorte é que não estava com minha carteira de
trabalho. Já bem pensou, ter que tirar uma segunda-via e refazer todos os registros?
-- É verdade!
-- Em compensação, vai ser uma nova via do RG, do CIC, do Título de Eleitor.
-- Mas ainda bem que é só isso. – respondeu Cleide.
-- É agora é só aguardar. Haja paciência. Ainda bem que não preciso desses
documentos com tanta urgência. Senão, estaria perdida.
-- Ainda bem. Mas agora, mudando de assunto, vamos estudar? – sugeriu Cleide.
-- Assim, vamos.
E nisso as duas amigas começaram a abrir livros e a ler sobre os mais variados
assuntos. Também fizeram alguns exercícios de química e matemática.
Mais tarde, Marina e Cleide se despediram, e Ricardo finalmente chegou em casa.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 2

No dia seguinte, ela e sua amiga iniciaram mais um longo dia de trabalho. Ao
tomarem o ônibus, fizeram todo o percurso do trabalho em pé.
Ricardo por sua vez, também foi trabalhar. Numa época que emprego que era algo
certo, o rapaz também seguia num ônibus lotado até o centro da cidade para trabalhar. Era
auxiliar administrativo em um escritório da região.
Sua rotina de trabalho também era bastante puxada. Mas ao contrário da irmã, Cleide,
não estava muito interessado em estudar. Tanto que sempre que podia, ao final do expediente,
aproveitava para sair com os amigos.
Neste dia não foi diferente. Enquanto ele saía com os amigos pela cidade,
freqüentando os botecos da cidade, Marina e Cleide aproveitavam para estudar.
Assim, depois de jantar, Cleide foi até a casa de Marina. Carregada de livros, tratou
de fazer Marina ler. Revendo as matérias do colegial, Marina demonstrou um pouco de
dificuldade em se concentrar e apreender as informações, mas Cleide, paciente, explicava
para a amiga, tudo o que ela não entendia.
Otávio, ao ver as duas amigas estudando juntas, ficou deveras feliz.
Tanto que quando Cleide se despediu da amiga e voltou para casa, ele aproveitou para elogiar a atitude da moça.
-- Que grande amiga é essa Cleide, não?
-- Com certeza! Outra em seu lugar não teria metade da paciência que ela teve em me
explicar as coisas que eu não entendi.
-- Está muito difícil?
-- Um pouco. Mas ela me disse que logo logo eu vou tirar isso de letra.
-- Com certeza! Filha minha não nega a que veio. – respondeu Otávio sorridente.
-- Eu espero que o senhor esteja certo!
Nisso Ricardo, Claudionor, Tiago e Clóvis, caminhavam pelas ruas da cidade.
Freqüentadores dos bares, os quatro amigos inseparáveis não se cansavam de comentar suas
peripécias e incursões pela Terra da Garoa. Animados a certa altura, depois da caminhada,
sentaram-se em um bar e começaram a falar do filme que haviam acabado de assistir.
Ricardo disse:
-- Adoro estes filmes! Estas histórias água com açúcar me cansam. Só a Cleide mesmo
pra gostar do John Travolta.
-- Mas que ouvir a Olívia Newton John cantando não é nada mal, ah, isso não é que
não! – retrucou Tiago.
-- É verdade! Eu não tinha visto a situação por este ângulo. – reconheceu Ricardo.
-- Tudo bem! Está certo que esta atriz é muito bonita, mas que filmes de luta são bem
mais interessantes, ah isso são mesmo! – concordou Clóvis
-- E os filmes do Charles Bronson? – perguntou Claudionor.
-- Melhor que isso, só Bruce Lee, ou qualquer outro filme de lutas marciais. – disse
Tiago.
-- Com certeza. – concordaram todos.
Mas além de filmes, os rapazes também gostavam de comentar sobre seu dia-a-dia, o
trabalho. Contudo o assunto que eles mais gostavam de falar, era esse: mulheres.
-- Outro dia indo para o trabalho, eu encontrei uma loira tão bonita no ônibus! –
comentou Ricardo.
-- Ah é? E você sabe o nome dela? – perguntou Claudionor curioso.
-- Não, infelizmente não! Quando eu estava tomando coragem e finalmente ia me
aproximar pra puxar papo, ela desceu do ônibus. – respondeu Ricardo.
-- Nossa! Que grande conquistador você está me saindo! Não consegue nem descobrir
o nome da mulher. – comentou Tiago irônico.
-- Ah, gente! Calma lá, também né? Como eu ia saber que ela ia descer justamente
quando eu estava me aproximando? Mas não pensem que eu me dei por vencido. Eu ainda
vou conseguir conversar com ela.
-- Mas ela é bonita mesmo? – insistiu Clóvis.
-- Muito. Tanto que não é fácil encontrar belezas como a dela por ai. Aquela loura é
uma em um milhão. – comentou Ricardo.
-- Pois eu aposto que deve ser feia. Tão feia que você nem tem coragem de nos
apresentar. – provocou Clóvis.
-- É nada. É linda, é mais linda do que todas as garotas que vocês já conheceram! –
retrucou Ricardo.
-- Mais bonita que a Marina? – perguntou Claudionor.
-- Ah, Claudionor, aí é covardia. Você vai querer comparar duas belezas sem igual no
mundo? Não dá, meu chapa! Não dá!
-- Pois eu começo a desconfiar de que essa loira deve ser realmente fenomenal. Eu
quero conhecer. Quando você finalmente conseguir se apresentar a ela, apresente-a a nós. Eu
prometo não ficar com saliências. – respondeu Clóvis.
-- Está certo! Assim que tiver a oportunidade, eu a apresento a vocês. Só que antes
ela precisa me conhecer. – respondeu Ricardo.
-- Esse Ricardo! Já está se sentindo um galã de novela. – ironizou Claudionor.
-- Um verdadeiro Toni Ramos. – comentou entre risadas, Tiago.
-- Ah, vocês estão rindo? Pois me aguardem. Eu ainda vou fisgar esse mulherão.
Risos.
-- Vocês duvidam? Pois então, esperem para ver. – retrucou Ricardo.
-- Está certo! Vamos aguardar. – ironizou Claudionor.
E assim a conversa prosseguiu. Ora os quatro rapazes falavam sobre as mulheres, ora
comentavam sobre o que teriam que fazer no dia seguinte.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 1

São Paulo, manhã de 1977, Marina e Cleide se preparam para mais um dia de trabalho.
Amigas, são funcionárias de um Banco, no qual atuam na função de caixa. Como todos os
paulistanos que vivem na mesma condição, ambas se levantam cedo, se arrumam, tomam o
café da manhã, e vão até o ponto de ônibus, onde esperam por quase meia-hora a condução
para poderem ir até o centro da cidade, onde trabalham.
No caminho, conversam sobre diversos assuntos, inclusive, os planos de vida.
Cleide, entusiasmada com a vida apesar das dificuldades, revela que pretende cursar
uma faculdade e lutar por uma vida melhor.
Marina a aprovou.
Cleide comenta:
-- Sim! Eu quero muito cursar uma faculdade, ter uma profissão. Eu não quero ficar
o resto da minha vida trabalhando como caixa em Banco, não. Não que a profissão não seja
digna, mas eu sonho com muito mais que isso. Sonho com uma vida melhor, menos
sacrificada.
-- Cleide, você tem toda a razão! A vida está muito difícil! Não dá mais pra continuar
desse jeito. Temos que fazer alguma coisa. Meu pai sempre diz que se a gente quer ser alguém
na vida, tem que estudar. O único caminho que nós temos é a escola. Não nascemos em berço
de ouro, então só podemos contar com nós mesmas.
-- Com certeza Marina! Por isso que quando eu chego do trabalho eu trato logo de
pegar nos livros e estudar. Quero tentar o vestibular no final do ano. Por que você não tenta
também? Ainda dá tempo de estudar.
-- Não sei amiga! A vida tem estado tão corrida nos últimos tempos! Não sei se vou
conseguir dar conta de tudo.
-- Não vai! Mas é lógico que vai! Você é esperta, inteligente. Você pode conseguir
tudo, Marina. Tudo, só tem que querer.
-- Sei lá! As vezes as coisas são tão complicadas!
-- Deixe disso Marina! Se for o caso, nós podemos estudar juntas. Pra que curso você
pretende concorrer?
-- Deixe-me ver... Olha, eu sempre gostei de ajudar as pessoas. Talvez eu preste para
assistente social.
-- Uma bela carreira sem dúvida. Pois eu penso em prestar vestibular para o curso de
letras.
-- É verdade Cleide! Você sempre me falou que gostaria de ser professora.
-- Sim, eu acho fascinante lecionar.
-- Sempre participou das aulas!
-- Pois é.
Nisso, eis que chegam no centro da cidade.
Já é hora de entrarem na agência em que são funcionárias e começarem a trabalhar.
A rotina é cansativa, o trabalho é incessante e somente no final da tarde as duas finalmente puderam retomar o assunto.
Enquanto as duas amigas conversavam distraidamente quando um menor se aproximou das
duas e aproveitando de um instante de distração delas e subtraiu a carteira de Marina.
Quando a moça percebeu o furto, o ladrãozinho já estava a metros de distância, e não havia mais nada
para ser feito.
A única coisa que lhe restou a fazer, foi reclamar.
Por isso:
-- Mas que absurdo é esse? Onde é que essa violência vai parar?
Surpresa, Cleide perguntou:
-- Mas o que houve, Marina?
-- Um ladrãozinho levou meus documentos. E agora, como eu vou pagar a passagem
do ônibus? – indagou a moça aflita.
-- Calma Marina, eu pago sua passagem. Mas eu acho que devemos passar antes em
uma delegacia, e relatar o que aconteceu.
-- Está certo.
Solícita, Cleide acompanhou Marina até a delegacia de polícia.
Ao voltarem para casa já tarde da noite, a moça estava inconformada com o ocorrido,
dizendo que São Paulo estava a cada dia pior, Marina precisou ser consolada por Cleide.
-- Ora amiga, isso acontece. Mas não se preocupe. Não foi você mesma que me disse
que aquele garoto não roubou nada de valor?
-- Sim, falei e repito. A questão não é o dinheiro roubado em si. O problema é que eu
vou ter tirar uma nova via de todos os meus documentos, vou ficar preocupada com o uso
que esse delinqüente vai fazer deles... Você já parou para pensar em tudo isso, Cleide? Sem
falar na paranóia da gente!
-- Está certo! Está bem! Eu concordo com tudo o que você disse. Foi muito
desagradável. Mas pense bem. Poderia ter sido bem pior. Já pensou se ele estivesse armado?
Pense só no susto que seria. Além disso, o que aquele menor fez só o vai prejudicar.
Provavelmente ele vai usar o dinheiro para se drogar.
-- Se drogar? É verdade! Eu não tinha pensado nisso. Provavelmente ele furtou minha
carteira para arrumar dinheiro para se drogar.
-- Pois é! E como é que uma futura assistente social reage dessa maneira? Você já
parou para pensar que quando estiver atuando, acabará se deparando com esse tipo de
situação? Minha amiga, se você pensa realmente em seguir esta carreira, é melhor mudar
seus conceitos.
-- É Cleide. Você sempre com uma palavra sensata. Eu vou pensar nisso. Até por que,
dificilmente vão pegar aquele garoto. E se o pegarem, quem sabe qual será o futuro dele?
-- Marina, parece que finalmente você está entendendo melhor as coisas.
-- É verdade! – respondeu pensativa.
Curiosa, Cleide perguntou:
-- O que foi?
-- Por um instante eu pensei que seria muito bom tentar uma vida melhor... Pensando
bem Cleide, eu acho que vou aceitar sua sugestão. Já que não tenho condições financeiras de
freqüentar um cursinho, vamos estudar juntas para passar no vestibular. Você realmente acha
que ainda dá tempo?
Cleide sorriu:
-- Claro que sim! Mas eu aconselho começar o quanto antes. Que tal amanhã?
-- Amanhã? Claro, sem falta. Eu prometo que amanhã estarei mais animada.
-- Ótimo! Então até amanhã, Marina. – respondeu abraçando a amiga.
-- Até amanhã, Cleide. – disse Marina.
Marina, educadamente, conduziu Cleide até a porta. Como as duas moravam a poucos
metros de distância, Cleide chegou logo em casa.
Ricardo e Eugênia, seu irmão e sua mãe, respectivamente, ficaram preocupados ao
perceberem que Cleide demorava para retornar.
Ao verem-na chegar tão tarde em casa,
crivaram-na de perguntas:
-- Cleide, onde esteve minha filha? – perguntou Eugênia.
-- Minha mãe, você não vai acreditar!
-- Pois então, conte! – respondeu Ricardo.
Aflita, Eugênia disse:
-- Quieto Ricardo, deixe Cleide falar.
Nisso a moça começou a falar:
-- Desculpem-me pela demora. Mas aconteceu um imprevisto.
-- Que imprevisto? – perguntou Eugênia curiosa.
-- É que quando eu e minha amiga voltávamos para casa, um menor furtou a carteira
de Marina. Aí tivemos que ir até a delegacia. E foi um fiasco.
-- Por quê? – perguntou Ricardo.
-- Por que, em razão da rapidez da ação do garoto, eu e minha amiga não pudemos
identificá-lo e assim, não há o que se fazer.
-- Nada? – perguntou Eugênia.
-- Nada, nada, não. É claro que foram adotadas as providências de praxe, mas nada
de extraordinário, foi feito o B.O. Só que agora minha amiga vai ter que tirar uma segunda
via de todos os seus documentos.
-- Isso vai dar uma trabalheira! – respondeu Eugênia penalizada.
-- Pois bem! E com isso, provavelmente minha amiga vai precisar faltar alguns dias
no trabalho.
-- Que chateação! – insistiu Eugênia.
-- Mas ainda bem que não foi nada mais grave.
-- Com certeza! Já pensou se ao invés de simplesmente furtar, o menor a tivesse
ameaçado com uma arma? Teria sido bem pior. – respondeu Ricardo.
-- Mas enfim, mudemos de assunto. Eu vou já esquentar seu jantar minha filha.
-- Está bem mãe.
Na casa de Marina, o alvoroço era geral, Otávio – seu pai – e Adélia – sua mãe –,
estavam inconformados com o incidente.
Otávio era o mais nervoso.
Revoltado, dizia que a situação de São Paulo estava piorando a cada dia.
Marina por sua vez, já refeita do aborrecimento que passara, comentou:
-- Ora papai, todo mundo está sujeito a isso! Eu já nem estou mais me importando com isso.
-- Mas isso é um absurdo minha filha, esta cidade não pode continuar desse jeito. Se
não, onde nós vamos parar. Se a freqüência de assaltos continuar aumentando dessa maneira,
daqui a pouco nós não poderemos mais sair de casa. O medo vai ser tanto que as pessoas vão
sair de casa inseguras, sem a certeza de que irão voltar.
-- Papai! Não exagere.
-- Não minha filha, não é exagero. Se as coisas continuarem do jeito que estão, daqui
a pouco não teremos mais controle da situação. E São Paulo é uma cidade tão bonita, não
merece ser maltratada dessa forma. Por que as autoridades não tomam uma providência? Por
que ninguém faz nada? Isso é uma pouca vergonha!
-- Acalme-se Otávio! Não é pra tanto! Foi desagradável? Foi, mas não é por isso que
você tem que transformar um simples incidente em um cavalo de batalha. Há coisas piores
acontecendo por aí todos os dias. – respondeu Adélia, tentando dissuadir o marido de fazer
mais um discurso inflamado.
-- Mas isso é muito grave, esta cidade está se tornando uma terra sem lei. Não
podemos concordar com isso Adélia.
-- Eu sei que não Otávio! Não devemos nunca nos conformar com as coisas erradas.
Só que eu não acho que ficar fazendo discurso resolve alguma coisa.
-- Está bem, Dona Adélia! Você mais uma vez está coberta de razão! Se discurso
resolvesse alguma coisa, o nosso Brasil seria um dos melhores países do mundo. É ver os
enorme discursos vazios de nossos políticos. Realmente você tem razão, nós precisamos de
gente atuante, não de políticos pernósticos, que só sabem falar enrolado para engambelar o
povo.
-- Falou o nosso grande sábio. – respondeu Adélia.
Marina concordou com seu pai.
Enquanto jantavam, já que seus pais sempre a esperavam para isso, Marina comentou que estava pensando em voltar a estudar.
Otávio, que desde que a filha deixara o colegial insistia para que ela voltasse a estudar,
ficou muito feliz. Entusiasmado, perguntou o que ela pretendia fazer:
-- Olha, eu ainda não estou muito certa, mas eu vou estudar junto com minha amiga
Cleide, ela pretende cursar letras e eu pretendo ser assistente social.
-- Assistente social? Não poderia ser alguma profissão mais promissora não? –
perguntou um pouco desapontada, Adélia.
-- Ora mãe, se foi a senhora mesma que comentou que é hora de agirmos, por que não
uma profissão como essa? Quem sabe entendendo um pouco o que passam os desvalidos, não
fique mais fácil ajudá-los?
-- Ora minha filha, e por que não fazer alguma coisa pelos mais pobres sendo uma
advogada? Por exemplo. É uma belíssima profissão, dá futuro, prestígio e você pode até
advogar para quem não tem recursos, desde que sejam apenas alguns clientes.
-- Mas mãe, eu nunca sonhei com essa profissão!
-- Minha filha, você está certa! A gente tem fazer aquilo que gosta. E não existe nada
mais lindo do que ajudar o nosso semelhante. Faça o que te faz feliz. Só não tenha ilusões de
que sozinha você poderá ajudar o mundo. Infelizmente, pouca coisa no mundo depende da
nossa vontade. Mas certamente se você puder fazer um pouco, já será um grande feito. –
respondeu Otávio.
Nisso os três trataram de jantar.
Mas tarde, antes de todos se recolherem para dormir, Otávio felicitou a filha pelo
passo que estava dando. Dizendo que sonhava com isso desde que ela deixara o colegial,
confidenciou-lhe que sempre desejou que sua filha tivesse um diploma. Comentando que o
estudo era o único caminho que possuía para ter uma vida melhor, abraçou Marina e lhe
desejou boa noite.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO CONTEMPORANEIDADE

Capítulo 7

Sônia despertou.
Em nova consulta com a psicóloga, a moça comentou que somente agora estava começando a
entender o que havia se passado.
Disse que sofrera uma crise existencial.
Que todo aquele sentimento de desengano, aquela tristeza inexplicável, aquela mágoa profunda
pelo mundo hostil que a maltratava, era resultado não apenas de uma insatisfação com a vida, mas
também, uma falta de entendimento do mundo.
Constatou que a crise por que passara, sua falta de memória, os seus modos errantes, foram a
resposta que sua cabeça encontrou, para digerir o sofrimento.
O que atrapalhou o processo, foi ter se chocado contra os acontecimentos.
Comentou que sua mãe descobrira uma foto sua nos jornais, segurando uma criança que fora
soterrada em uma enchente.
Ao ser perguntada se se sentia uma heroína por isto, Sônia respondeu que não.
Depois da sessão, mais bem disposta, a moça foi levada para a praia.
Lá, permaneceu contemplando o mar.
Cantou:
“Só eu sei
As esquinas por que passei
Só eu sei só eu sei

Sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar
Sabe lá
Sabe lá

E quem será
Nos arredores do amor
Que vai saber reparar
Que o dia nasceu
Só eu sei
Os desertos que atravessei
Só eu sei
Só eu sei

Sabe lá
O que e morrer de sede em frente ao mar
Sabe lá
Sabe lá

E quem será
Na correnteza do amor que vai saber se guiar
A nave em breve ao vento vaga de leve e trás
Toda a paz que um dia o desejo levou

Só eu sei
As esquinas por que passei
Só eu sei
Só eu sei

E quem será
Na correnteza do amor...
Esquinas – Composição: Djavan”

Caminhando sozinha, lembrou-se dos amigos Amilton e Rodrigo.
Onde andariam?
Perguntou-se.
Procurando se acertar com sua mãe, Sônia prometeu que faria o possível para se manter
equilibrada.
Lara prometeu que entraria em contato com seus amigos, e que dentro em breve eles iriam se
encontrar.
Sônia beijou o rosto da mãe.
Dias mais tarde, enquanto a moça caminhava pela praia, ouviu uma voz cantando ao longe:
“É bonito se ver na beira da praia
A gandaia das ondas que o barco balança
Batendo na areia, molhando os cocares dos coqueiros
Como guerreiros na dança
Oooh, quem não viu vai ver
A onda do mar crescer
Oooh, quem não viu vá ver
A onda do mar crescer

Olha que brisa é essa
Que atravessa a imensidão do mar
Rezo, paguei promessa
E fui a pé daqui até Dakar
Praia, pedra e areia
Boto e sereia
Os olhos de Iemanjá

Água, mágoa do mundo
Por um segundo
Achei que estava lá
Eu tava na beira da praia
Ouvindo as pancadas das ondas do mar
Não vá, oooh, morena
Morena lá
Que no mar tem areia

Olha que luz é essa
Que abre caminho pelo chão do mar
Lua, onde começa
E onde termina
O tempo de sonhar
Gandaia Das Ondas/Pedra E Areia – Compositores Lenine/Dudu Falcão”

Ao voltar-se, a moça percebeu quem era.
Era Rodrigo se aproximando.
O moço cumprimentou-a.
Sônia perguntou se ele estava ali há muito tempo.
Rodrigo respondeu que só o suficiente para perceber que ela estava entretida com aquele cenário
maravilhoso.
A moça abraçou o amigo.
Mais tarde, os dois voltaram para casa e Sônia pode ver Amilton.
Sônia agradeceu a ele e ao filho por a terem acolhido.
Lara e Rafael também agradeceram.
Cláudio, irmão de Sônia, também agradeceu os préstimos.
Almoçaram juntos.
Amilton chegou a comentar indiscreto, que Rodrigo não parava de perguntar por Sônia.
Mais tarde a dupla caminhou pela praia.
Rodrigo comentou com Sônia, que todos na cidade perguntava por ela.
A moça respondeu que estava bem.
Em seguida, o moço começou a assoviar uma canção.
Sônia começou a cantar a letra:
“É bom andar a pé
Sem sapato, sem direção à toa
Na cabeça o sol
Um boné

É bom andar a pé devagar
Devagar para aguentar o calor
E olhar a vista pro mar
Melhor
É bom andar a pé
Sem dinheiro, sem documento
A favor do vento
Semi nu

É bom andar a pé
Devagar para aguentar o calor
E olhar a vista pro mar
Melhor
Esqueça tudo
Que tudo sobrevive
Isto é tempo livre pra viver

É bom saber
Andar acompanhado de ti
Faz meu coração se sentir
Melhor

É bom andar a pé
Sem sapato, sem direção a toa
Na cabeça o sol
Um boné
É bom andar a pé
Devagar para aguentar o calor
E olhar a vista pro mar
Melhor

Esqueça tudo
Que tudo sobrevive
Isto é tempo livre pra viver
É bom saber
Saber não ocupa lugar
Andar acompanhado de ti
Faz meu coração se sentir
Melhor
Lara Lara larará...
Melhor
É Bom Andar a Pé - Wilson Simoninha - Composição: (novo CD - Melhor)”

Por fim, o casal passou a caminhar de mãos dadas.
FIM

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO CONTEMPORANEIDADE

Capítulo 6

Nisto, Sônia ficou a caminhar pelos arredores de São Paulo.
A moça dormia cada dia na casa de uma família diferente.
Até ser encontrada por policiais, que a abordaram.
A moça tentou resistir, mas os homens a dominaram.
Ao chegar na delegacia, já em São Paulo, a moça foi reconhecida através de um retrato.
Lara havia mandado afixar cartazes com um número de telefone, solicitando informações sobre
o paradeiro da moça.
Mais tarde Sônia foi levada a casa da mãe, que a abraçou emocionada.
Nisto a moça foi submetida a um tratamento com uma psicóloga.
Em seus sonhos, Sônia lembrou-se de seu relacionamento com Francisco.
Lembrou-se do dia em que passou na praia e se encontrou com o rapaz.
O moço sentou perto dela.
Apresentou-se.
Disse que adorava acordar cedo como ela fizera, e ficar a contemplar o mar.
Comentou que não havia tristeza que não se dissipasse enquanto ficava a observar o ir e vir das
vagas, a espuma das ondas, o sol chegar de mansinho até tomar conta da praia.
Sônia ficou a ouvi-lo.
Continuou a contemplar o mar.
Disse que o mar lhe trazia uma sensação de grande paz e liberdade.
O moço começou então a cantar:
“Morena, dos olhos d'água,
Tira os seus olhos do mar.
Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar.

Descansa um meu pobre peito
Que jamais enfrenta o mar,
Mas que tem abraço estreito, morena,
Com jeito de lhe agradar.

Vem ouvir lindas histórias
Que por seu amor sonhei.
Vem saber quantas vitórias, morena,
Por mares que só eu sei.

Morena, dos olhos d'água,
Tira os seus olhos do mar.

Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar.
Seu homem foi-se embora,
De partir ou de voltar.

Mas as ondas não tem hora, morena,
Prometendo voltar já.

Passa a vela e vai-se embora
Passa o tempo e vai também.
Mas meu canto inda lhe implora, morena,
Agora, morena, vem.

Morena, dos olhos d'água,
Tira os seus olhos do mar.
Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar.
Morena dos Olhos D'água - Composição: Chico Buarque”

Mais tarde, os dois caminharam juntos pela praia.
Com o tempo passaram a namorar.
Frequentemente eram vistos andando de braços dados pela praia.
Namoravam.
Se beijavam.
De vez em quando a moça dormia na casa do rapaz.
Certa vez, observando a moça dormindo em seus braços, o moço começou a cantar:
“Amor é um livro
Sexo é esporte
Sexo é escolha
Amor é sorte...
Amor é pensamento
Teorema
Amor é novela
Sexo é cinema...

Sexo é imaginação
Fantasia
Amor é prosa
Sexo é poesia...

O amor nos torna
Patéticos
Sexo é uma selva
De epiléticos...

Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão

Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval
Oh! Oh! Uh!

Amor é para sempre
Sexo também
Sexo é do bom
Amor é do bem...
Amor sem sexo
É amizade
Sexo sem amor
É vontade...

Amor é um
Sexo é dois
Sexo antes
Amor depois...

Sexo vem dos outros
E vai embora
Amor vem de nós
E demora...

Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão

Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval
Oh! Oh! Oh!

Amor é isso
Sexo é aquilo
E coisa e tal!
E tal e coisa!
Uh! Uh! Uh!
Ai o amor!
Hum! O sexo!
Amor E Sexo - Composição: Rita Lee/Roberto de Carvalho/Arnaldo Jabor”

Certo dia, a moça foi até o litoral, acompanhada do rapaz.
Durante o trajeto, a moça se deslumbrou com a beleza da paisagem. A Represa se descortinava
diante de seus olhos, um mar de uma imensidade azul de profundo esplendor. Em torno, muito
verde, árvores.
Linda visão dos braços da Represa. Muito azul.
Encantada, a moça chegou a comentar que parecia um Nilo Azul, como o que vira em alguns
filmes antigos.
- Que beleza! – falava.
Ao chegarem na casa de praia, descarregaram as malas que estavam no bagageiro do carro.
Mais tarde a moça comentou que estava cansada de se desentender com seus pais.
Principalmente com sua mãe.
Comentou que ela não concordava com a liberdade de seu namoro.
Sônia disse também, que não via sentido nas coisas. Não entendia por que tinha que correr atrás
de sucesso, de dinheiro e de prestígio, e ao conquistar estas coisas, perceber o quanto elas são
vazias.
Triste, chegou a cantar:
“Eu desisto
Não existe essa manhã que eu perseguia
Um lugar que me dê trégua ou me sorria
E uma gente que não viva só pra si

Só encontro
Gente amarga mergulhada no passado
Procurando repartir seu mundo errado
Nessa vida sem amor que eu aprendi

Por uns velhos vãos motivos
Somos cegos e cativos
No deserto do universo sem amor

E é por isso que eu preciso
De você como eu preciso
Não me deixe um só minuto sem amor

Vem comigo
Meu pedaço de universo é no teu corpo
Eu te abraço corpo imerso no teu corpo
E em teus braços se unem em versos à canção

Em que eu digo
Que estou morta pra esse triste mundo antigo
Que meu porto, meu destino, meu abrigo
São teu corpo amante amigo em minhas mãos
São teu corpo amante amigo em minhas mãos
São teu corpo amante amigo em minhas mãos

Vem, vem comigo
Meu pedaço de universo é no teu corpo
Eu te abraço corpo imerso no teu corpo
E em teus braços se unem em versos a canção

Em que eu digo
Que estou morta pra esse triste mundo antigo
Que meu porto, meu destino, meu abrigo
São teu corpo amante amigo em minhas mãos
São teu corpo amante amigo em minhas mãos
São teu corpo amante amigo em minhas mãos.
Universo no Teu Corpo – Taiguara”

Francisco abraçou a moça.
Mais tarde, a moça comentou que Francisco era o nome de seu bisavô.
O moço achou graça na coincidência.
Com isto, Francisco e Sônia caminharam de mãos dadas pela praia.
Um dia o moço convidou a moça para jantar.
Sônia vestiu um bonito e florido vestido frente única.
Francisco vestiu uma calça jeans e uma camisa pólo.
Foram a pé até um restaurante que ficava em frente a orla marítima.
Ao lá chegarem, um garçon ajudou a moça a sentar-se.
Primeiramente pediram um suco.
Conversaram.
Francisco comentou que a retomada do cinema nacional era muito alvissareira, já que ele gostava
de filmes nacionais.
Comentou que adorara assistir ao filme “Carlota Joaquina – Princesa do
Brasil”, “O Quatrilho”.
Sônia comentou que gostara de assistir filmes como “Meu Tio Matou Um Cara”, “Se eu Fosse
Você”, a tragetória do Barão de Mauá.
Concordou com o moço. Disse que o cinema nacional não
ficava nada a dever a outros países bons produtores de filme.
Mais tarde, o moço pediu o cardápio, pediu um vinho tinto, lula a dorê com molho tártaro, e
fritada de peixes.
O casal deliciou-se com as iguarias.
Serviram-se de arroz.
Francisco brindou a noite.
Mais tarde, o moço pediu ostras.
Sônia respondeu que não sabia comer ostras, e que aquilo lhe causava aflição.
Francisco ofereceu uma ostra com limão a moça.
Colocou o molusco na boca de Sônia, que sentiu o bicho escorregar por sua garganta.
- Gostou? – perguntou.
A moça respondeu que não era ruim.
Mais tarde ao voltar para casa, o moço contou que tinha um presente para ela.
Sônia perguntou o que era.
Nisto o homem mostrou-lhe uma caixa.
A moça viu de relance, que era um anel.
Nisto o moço puxou-a pelo braço, e começou a dançar no passeio.
Sônia pediu para ele parar, posto que todos os olhavam.
Francisco parecia não se importar.
O homem começou a cantar:
“Fonte de mel
Nos olhos de gueixa
Kabuki, máscara

Choque entre o azul
E o cacho de acácias
Luz das acácias
Você é mãe do sol

A sua coisa é toda tão certa
Beleza esperta
Você me deixa a rua deserta
Quando atravessa
E não olha pra trás

Linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz

Você é linda
Mais que demais
Vocé é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim

Você é forte
Dentes e músculos
Peitos e lábios

Você é forte
Letras e músicas
Todas as músicas
Que ainda hei de ouvir

No Abaeté
Areias e estrelas
Não são mais belas
Do que você
Mulher das estrelas
Mina de estrelas
Diga o que você quer

Você é linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz

Você é linda
Mais que demais
Você é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim

Gosto de ver
Você no seu ritmo
Dona do carnaval
Gosto de ter
Sentir seu estilo
Ir no seu íntimo
Nunca me faça mal

Linda
Mais que demais
Você é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim
Você é linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz
Você É Linda – Compositor: Caetano Veloso”

Ao chegar em casa, o moço perguntou-se ela gostaria de se casar com ele.
Sônia, ao ouvir a pergunta do moço, comentou sem jeito, que ainda não estava preparada para se
casar.
Francisco ficou arrasado.
Mais tarde, o casal acabou se separando.
Para justificar o término da relação, o moço cantou-lhe uma canção:
“O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver
Não pode ver que no meu mundo
Um troço qualquer morreu
Num corte lento e profundo
Entre você e eu

O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba a gente pensa
Que ele nunca existiu
O nosso amor
A gente inventa
Inventa
O nosso amor
A gente inventa

Te ver não é mais tão bacana
Quanto a semana passada
Você nem arrumou a cama
Parece que fugiu de casa

Mas ficou tudo fora de lugar
Café sem açúcar, dança sem par
Você podia ao menos me contar
Uma história romântica

O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba a gente pensa
Que ele nunca existiu
O nosso amor
A gente inventa
Inventa
O nosso amor
A gente inventa
O Nosso Amor A Gente Inventa - Composição: Cazuza/João Rebouças/Rogério Meanda”

O moço beijou as mãos da moça.
Despediu-se.
Nunca mais se viram.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.