Poesias

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO ANOS SESSENTAS – NOS EMBALOS DA GUARDA GUARDA

Capítulo 6

Nisto Ana passou a se encontrar com Marcos.
O moço porém, não parecia muito interessado na moça.
Tanto que procurava um meio de perguntar por Lorena.
Ao tomar conhecimento de que a moça estava namorando, ficou desapontado.
Ana também estava triste com tanta indiferença.
A moça foi contar suas mágoas para Glória, que a censurou.
Dizendo que ela estava colhendo que o havia plantado, comentou que ela precisava encontrar
alugém que gostasse dela de verdade, que a valorizasse.
Foi o bastante para Ana brigar com Glória.
Não satisfeita em brigar com Glória, Ana foi tomar satisfações com Lorena.
Dizendo que ela estava namorando Marcos, exigiu que Lorena se afastasse dele.
A moça então, dizendo que não estava interessada em Marcos, comentou que estava namorando
Ronaldo.
Ana retrucou malcriada:
- Pois então se ocupe de seu namorado e pare de se importar com o meu!
Lorena achou graça.
Certo dia, voltando da escola, Marcos ficou seguindo-a do carro.
Lorena preferiu ignorá-lo.
O moço não se deu por vencido.
Desceu do carro e começou a correr atrás dela.
- Lorena! Lorena! – gritou.
A moça continuou seguindo seu caminho.
Marcos alcançando-a, segurou sua mão.
Lorena irritada, tentou se desvencilhar. Percebendo que o moço não a soltaria, exigiu que ele a
soltasse.
Marcos atendeu-a.
Lorena continuou sua marcha.
O moço, ao vê-la indo embora, pediu para que ela o escutasse.
Impaciente, a moça perguntou:
- O que você quer?
Marcos respondeu então, que estava arrependido. Disse que gostaria de voltar a namorá-la.
Comentou que se ela o aceitasse de volta, ele seria um novo namorado. Mais atento, mais gentil.
Lorena respondeu então, que não estava interessada.
Argumentando que estava muito bem com Ronaldo, afirmou que o tempo dos dois ficaram juntos havia passado, e que ele deveria arrumar
outra pessoa para gostar.
Marcos ficou arrasado.
Nervoso, virou as costas para ela.
Encaminhou-se até o lugar onde deixara o carro, e saiu em alta velocidade.
Nervoso, o moço ligou o rádio. Naquele momento tocava a canção:
“Se você pretende saber quem eu sou
Eu posso lhe dizer
Entre no meu carro na estrada de Santos
E você vai me conhecer

Você vai pensar que eu não gosto nem mesmo de mim
E que na minha idade só a velocidade
Anda junto a mim

Só ando sozinho
E no meu caminho o tempo é cada vez menor
Preciso de ajuda
Por favor me acuda
Eu vivo muito só

Se acaso numa curva eu me lembro do meu mundo
Eu piso mais fundo
Corrijo num segundo
Não posso parar

Eu prefiro as curvas da estrada de Santos
Onde eu tento esquecer
Um amor que eu tive
E vi pelo espelho na distância se perder

Mas se o amor que eu perdi eu novamente encontrar
As curvas se acabam
E na estrada de Santos não vou mais passar
Não, não vou mais passar
As Curvas Da Estrada de Santos - Composição: Roberto Carlos/Erasmo Carlos”

Marcos estava arrasado.
Depois de dirigir por muito tempo, o moço estacionou o carro e rumou para um bar.
No local bebeu whiske, conhaque, vodca, gim, rum.
Contou suas mágoas para todos os que circulavam pelo balcão.
Cantou:
“Garçom, aqui nessa mesa de bar
Você já cansou de escutar,
Centenas de casos de amor

Garçom, no bar todo mundo é igual,
Meu caso é mais um é banal
Mas preste atenção por favor

Saiba que meu grande amor
Hoje vai se casar
Mandou uma carta pra me avisar,
Deixou em pedaços o meu coração

E pra matar a tristeza, só mesa de bar
Quero tomar todas, vou me embriagar
Se eu pegar no sono, me deite no chão

Garçom, eu sei, estou enchendo o saco,
Mas todo bebum fica chato
Valente, e tem toda razão

Garçom, mas eu, eu só quero chorar
Eu vou minha conta pagar,
Por isso eu lhe peço atenção

Saiba que meu grande amor hoje vai se casar
Mandou uma carta pra mim avisar,
Deixou em pedaços o meu coração
E pra matar a tristeza, só mesa de bar
Quero tomar todas, vou me embriagar
Se eu pegar no sono, me deite no chão
Garçon – Reginaldo Rossi”

Cantou com a voz frouxa. Bêbado, saiu do bar. Rumou para o carro.
Durante algum tempo, ficou procurando o lugar onde havia estacionado o veículo.
Nisto, ao encontrar o veículo, saiu em disparada.
Bêbado, continuou a cantar:
“Esta é mais uma noite
Que eu não vou dormir direito
É a saudade de tão grande
Já não cabe no meu peito

Meu amor, para mim
Não é possível esconder
A vontade que eu sinto
De voltar para você

Eu ando por toda parte
E vivo a me perguntar
Por que esta noite é triste
Em que rua você mora
Onde posso lhe encontrar

Eu corro, e as luzes da avenida
Refletem em cada rosto
O seu sorriso, seu sorriso
O seu sorriso, seu sorriso
Eu ando por toda a parte
E vivo a me perguntar

Por que esta noite é triste
Em que rua você mora
Onde posso lhe encontrar
Eu corro, e as luzes da avenida
Refletem em cada rosto

O seu sorriso, seu sorriso
O seu sorriso, seu sorriso
O seu sorriso, seu sorriso.
Luzes da Avenida – Wanderley Cardoso”

Nisto, parou o carro e começou a chorar.
Amargurado, o rapaz sofreu com a rejeição.
Maltratando Ana, acabou fazendo com que ela se afastasse dele.
Cansada, a moça acabou terminando o namoro.
Marcos, indiferente aos sentimentos da moça, vivia paquerando outras garotas na frente dela.
Ao perceber que o moço não iria mudar, cansou-se.
Ana brigou com o namorado.
Disse que não queria mais vê-lo, que ela a havia decepcionado muito.
Marcos por sua vez, demonstrando indiferença, comentou que achava ótima a decisão da moça.
Com o tempo porém, começou a perceber que Ana era uma garota muito especial.
A moça, ao perceber que havia sido injusta com Glória e Lorena, tratou logo de pedir desculpas
as amigas.
Lorena e Glória, pediram logo que ela se esquecesse daquilo.
Nisto, o trio voltou a ser visto junto.
Marcos passou então a ligar para Ana.
Arrependido, comentou que estava disposto a tratá-la como uma princesa.
Dizendo que estava cansado de fazer tantas besteiras, pediu perdão.
Com os olhos suplicantes, disse que ainda que passasse a vida inteira pedindo perdão, não
conseguiria se redimir de tudo o que havia feito de errado.
A moça por sua vez, relutou em aceitar o pedido de desculpas.
Tentando convencê-la, o moço começou a cantar:
“Todo tempo que eu vivi,
Procurando o meu caminho,
Só cheguei a conclusão
Que eu não vou achar sozinho.

Oh, Ana, Ana, Ana,
Oh oh, oh oh Ana,
Que saudade de você.
Toda essa vida errada
Que eu vivi até agora,
Começou naquele dia,
Quando você foi embora...
Oh Ana, Ana, Ana,
Oh oh oh oh Ana,
Que saudade de você.

Ana eu me lembro com saudade
Do nosso tempo nosso amor nossa alegria,
Agora só te vejo nos meus sonhos

E quando acordo minha vida é tão vazia.
Oh Ana, Ana, Ana,
Oh oh oh oh Ana,
Que saudade de você.
Ana – Roberto Carlos”

Nisto, ao final de alguns dias, Marcos acabou por se reconciliar com Ana.
Glória e Sandro também passaram a serem vistos vistos juntos.
Amanda estava feliz com César.
Ronaldo e Lorena estavam bem.
Tiveram um pequeno estremecimento por conta da insistência de Marcos em retomar o namoro,
mas a rusga logo passou.
Não que o moço não tivesse sofrido.
O conflito porém, foi breve.
Marcos, num gesto de desespero, roubou um beijo da moça.
Ronaldo, ao presenciar a cena, brigou com a moça.
Lorena tentou se explicar, sem êxito.
Ana também presenciou a cena e brigou com ela.
Chamou-a de descarada.
Em seguida, Lorena deu um tapa no rosto de Marcos.
Desolado, Ronaldo foi de carro para casa.
Enquanto dirigia, só conseguia se lembrar da cena.
Nervoso, deixou o carro em sua casa. Foi caminhar.
No caminho, em dado momento agaixou-se.
Depois de chutar as pedrinhas que encontrou nas calçadas, Ronaldo se encolheu em um canto, e
começou a chorar.
Chorou.
Chorando levantou-se e continuou a caminhada.
Enquanto andava, cantava baixinho:
“Se a vida inteira
Você esperou
Um grande amor
E de triste, até chorou
Sem esperanças
De encontrar alguém

Fique sabendo que eu
Também andei sozinho
E sem ninguém pra mim
Fiquei sem entregar
O meu carinho

Se na tua estrada
Não houve flor
Foi só tristeza, enfim
E em cada dia
Sem ter amor
Foi tudo tão ruim

Vou confessar então
Meu coração
Não quer mais existir
Meus olhos vermelhos
Cansados de chorar
Querem sorrir

Ah, Por isso
Foi que eu decidi
Não fico
Nem mais, um minuto aqui
Eu vou buscar
O meu amor, o meu amor

Eu nunca tive alguém
Agora vou,
Olhar você meu bem
Guarde o meu coração

Que nunca mais eu vou
Deixar você tão só
E nunca mais eu vou
Deixar você tão só
E nunca mais eu vou
Ficar também tão só
Eu Não Vou Deixar Você Tão Só – Antonio Marcos”

Magoado, Ronaldo não atendia os telefonemas de Lorena.
Triste, a moça só tinha vontade de chorar.
Natália aflita, tentava conversar com a filha, mas ela se recusava a contar o que estava
acontecendo.
No hospital, Ronaldo evitava a presença de Natália.
Sozinha em seu quarto, Lorena ouvia uma canção no rádio:
“Quando alguém se apaixona
Fica bobo, fica louco
Perde a Razão

Não adianta conselhos
Está preso dominado
Pelo Coração

Eu juro não posso entender
Repare você pode ver
Quando alguém se apaixona

Logo esquece as amizades
Que sempre prezou
É capaz de ir ao espaço
Pra buscar aquela estrela
Que ela gostou

Eu juro não posso entender
Repare você pode ver
Quando alguém se apaixona
Fica bobo, fica louco
Perde a Razão

Eu sei...
Já fui apaixonado
Está tudo acabado
E só agora eu posso ver

As coisas que eu fazia
O mundo em que eu vivia
Tão tarde que fui perceber (BIS)

Quando alguém se apaixona
Não admite que ninguém
Venha lhe criticar

Mesmo estando tudo errado
Não consegue não procura
Nada enxergar

Eu juro não posso entender
Repare você pode ver
Quando alguém se apaixona
Fica bobo, fica louco
Perde a Razão

Eu sei...
Já fui apaixonado
Está tudo acabado
E só agora eu posso ver
As coisas que eu fazia
O mundo em que eu vivia
Tão tarde que fui perceber (BIS)

Quando alguém se apaixona
Fica bobo, fica louco
Perde a Razão
Não adianta conselhos
Está preso dominado
Pelo Coração (BIS)
Quando alguém...
Quando Alguém Se Apaixona – Cléo, o Galante”

Ao ouvir a letra da música, a moça recordou-se dos momentos alegres ao lado de Ronaldo.
Dos beijos, dos passeios, das palavras carinhosas.
Lembrar-se dos momentos felizes, lhe acalmava o coração.
Contudo, as lembranças felizes duravam pouco.
Logo vinha a mente a humilhação e a injustiça infligida pelo ser amado.
Recordação dolorosa que a fazia chorar.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO ANOS SESSENTAS – NOS EMBALOS DA GUARDA GUARDA

Capítulo 5

Nisto, Marcos, estava aborrecido com Amanda.
Isto porque a moça, insistia para que o mesmo assumisse o namoro, apresentando-a para seus
pais.
O moço contudo, sempre que o assunto seguia este rumo, tratava de desconversar. Dizia que ainda
era muito novo para assumir um compromisso tão sério.
Era o suficiente para que o casal brigasse.
E assim, Marcos passou a cercar novamente Lorena.
Nisto, a moça levando os irmãos para brincar no parque, ficou segurando as bonecas de Nara,
Laura e Andréa.
Marcos por sua vez, ao ver a garota no parque, tentou puxar conversa.
Dizendo que o dia estava lindo para um passeio, convidou a moça para dar um passeio de carro.
Lorena disse que não podia, posto que estava tomando conta de suas irmãs.
Marcos, observando que a moça segurava bonecas nas mãos, enquanto as crianças brincavam na
areia, cantou:
“Ah!
Deixa essa boneca, faça-me o favor
Deixe isso tudo e vem brincar de amor
De amor, hei hei hei de amor

Oh! Meu bem
Lembre que existe por ai alguém
Que tão sozinho, vive sem ninguém
Sem ninguém, sem ninguém

Menina linda eu te adoro
Menina pura como a flor
Sua boneca vai quebrar
Mas viverá o nosso amor

Oh! Meu bem
Deixa essa boneca, faça-me o favor
Deixe isso tudo e vem brincar de amor
De amor, hei hei hei de amor
Oh! Meu bem

Lembre que existe por ai alguém
Que tão sozinho, vive sem ninguém
Sem ninguém, sem ninguém
Menina linda eu te adoro
Menina pura como a flor
Sua boneca vai quebrar
Mas viverá o nosso amor
Menina Linda - Renato e Seus Blue Caps”

Quando Ronaldo soube deste fato, ficou deveras incomodado.
Só se aquietou quando percebeu pelas palavras da moça, que ela não estava mais interessada no
rapaz.
Contudo, em que pese este fato, Marcos passou a novamente assediar a moça.
Mandou inclusive, entregar flores em sua casa. Pedia perdão.
Lorena porém, lhe era indiferente.
Nisto, quando soube que um novo baile ocorreria num clube próximo, Ronaldo comentou que
precisava de alguém que o acompanhasse no evento, e assim, pensou em Lorena.
A moça ficou surpresa com o jeito direto do moço.
Contudo, mesmo sem jeito, Lorena, pensando um pouco, acabou por aceitar o convite.
Desta feita, o moço ficou surpreso. Feliz perguntou:
- Você aceita?
Lorena respondeu que sim.
Natália e Francisco não se opuseram ao fato da filha ir ao baile com o moço.
Nisto, no dia combinado, Lorena, usando um lindo vestido azul de veludo, seguiu de carro com o
moço, para o baile.
Ao adentrarem o salão, ouviram a banda, tocando e cantando a seguinte canção:
“Quem não acreditar
Venha ver a multidão
Que com ela quer dançar

Ela adivinha que eu
Estou sofrendo
Também querendo
Com ela dançar

Fico em pé olhando
E esperando
Que ela se afaste da multidão

Para eu me aproximar
Com ela dançar
Do meu carinho
Do meu amor, do meu amor
Poder falar

E assim a noite vai passando
Mas sempre encontro a multidão
Que com ela quer dançar
Ela adivinha que
Eu estou sofrendo
Também querendo com ela dançar

O baile vai terminar
E a última dança
A última dança
Já vai começar

Ela entende o meu olhar
Dispensou a multidão
E eu pude então
E eu pude então
E eu pude então
Com ela dançar

O baile vai terminar
E a última dança
A última dança
Já vai começar

Ela entende o meu olhar
Dispensou a multidão
E eu pude então
E eu pude então
E eu pude então
Com ela dançar.
A Garota do Baile - Composição: Roberto Carlos/Erasmo Carlos”

Casais dançavam juntinhos.
Lorena e Ronaldo, apreciaram a cena.
Lá encontraram Ana e Glória.
Como Lorena não correspondia as investidas de Marcos, o moço passou a namorar Ana.
Glória, ao tomar conhecimento disto, tentou alertar a amiga.
Temia que ele tivesse se aproximado dela apenas para fazer ciúmes a Lorena.
A moça contudo, não dava ouvidos a Glória.
Ana acreditava sinceramente que o moço gostava dela.
Quando a banda tocou “Ana”, Marcos chamou-a logo para dançar:
“Ana, estou tão triste
Vieram me dizer
Que eu posso até morrer pra você

Ana, você me disse
Um dia que a ninguém
Daria o seu amor só a mim

Quero escutar dos seus lábios, meu bem
Que é tudo mentira, inveja
De alguém quer nos separar
E assim poder tentar
Seu amor para sempre, então, roubar
Uouououououou

Ana, estou tão triste
Vieram me dizer
Que eu posso até morrer pra você

Quero escutar dos seus lábios, meu bem
Que é tudo mentira, inveja
De alguém quer nos separar
E assim poder tentar
Seu amor para sempre, então, roubar
Uouououououou

Ana, estou tão triste
Vieram me dizer
Que eu posso ate morrer pra você
Ououou pra você
Ououou pra você
Ououou pra você
Ana – Renata e Seus Blue Caps”

Marcos dizia gracejos no ouvido de Ana, que sorria.
Glória não via aquele namoro com bons olhos.
Lorena disse-lhe para não se preocupar que logo logo, ela encontraria a pessoa certa.
Ronaldo sorriu concordando.
Nisto um rapaz aproximou-se da mesa em que o Glória e o casal estavam.
Sandro cumprimentou a todos.
Em seguida, convidou Glória para dançar.
A moça olhou para Lorena, que lhe aconselhou a aceitar o convite.
Lorena e Ronaldo, observaram Glória e Sandro, Ana e Marcos.
Amanda também fora ao baile.
Estava acompanhada de César.
Diziam que era seu novo namorado.
Nisto, tocou, “Veludo Azul”. Ronaldo então, convidou Lorena para dançar.
“Era azul lindo...
O céu na noite de luar
Aveludado a cintilar
Céu azul...
Era azul lindo!

O seu vestido a emoldurar
O corpo que eu abraçei ao luar...
Tão macio o veludo,
Desse vestido azul,
De veludo os seus olhos...
A refletir...o luar...

Era azul lindoooo...
O olhar que doce me fitou
E que na noite me encantou
Ao luar...
De Veludo era a boca
Que eu beijei...

Era azul lindo...
O olhar que doce me fitou
E que na noite me encantou
Ao luar...
De Veludo era a boca
Que eu beijei...
Veludo Azul - Ronnie Cord”

Mais tarde, ao levar a moça de volta para, Ronaldo revelou que não estava apenas interessado em
uma companhia apenas para passear.
Ao ouvir isto, Lorena ficou tensa.
O doutor também estava nervoso.
Pensando no que ia dizer, começou a falar que a considerava incrível. Madura, Lorena era de uma
sensibilidade muito grande. Ronaldo comentou ainda, que a moça tinha gostos muito parecidos
com os seus, e que era muito especial... para ele.
Lorena ouvia a tudo apreensiva.
Ronaldo parou então o carro. Segurou as mãos da moça.
Lorena tentou se desvencilhar.
O moço pediu então para ela não fugir.
Dizendo que estava tentando encontrar palavras para pedi-la em namoro, solicitou que ela não tornasse as coisas mais difíceis do que já eram.
Lorena ficou espantada:
- Namoro?
- Sim, namoro. – respondeu o rapaz – Quer me namorar?
Lorena não sabia o que responder.
Ronaldo pediu-lhe por favor, que dissesse alguma coisa.
Lorena continuava muda.
Ronaldo ficou ainda mais apreensivo.
- Por favor moça, não me deixe assim tanto tempo nesta angústia. Afinal de contas, é tão ruim
assim a idéia?
Lorena então respondeu:
- Não... não.
- Não? Você não quer me namorar? – perguntou chateado.
Nisto Lorena pôs a mão no rosto do médico.
- Nada de febre.
- Hã? Febre? – perguntou Ronaldo, desconcertado.
- Sim febre! Mas não, está tudo bem! Está bem, eu aceito. – respondeu a moça sorrindo.
Ronaldo ficou exultante.
Ao ouvir o esperado sim, o médico abraçou a noiva.
Em seguida, deu partida no carro, e deixou Lorena em casa.
O moço voltou feliz para casa.
Quando Natália e Francisco souberam do namoro, ficaram muito contentes.
Nisto Lorena e Ronaldo passaram a sair juntos.
Passearam, um dia na praia.
Lorena vestiu seu maiô.
Por cima da roupa de praia, um vestido.
Ronaldo também vestiu um calção de banho.
Por cima, uma calça jeans e uma camisa em gola em “V”.
A moça preparou uma cesta com comes e bebes auxiliada por sua mãe.
Ao chegarem na praia, o rapaz estendeu uma esteira.
Lorena já havia se despido do vestido e aguardava para se deitar na esteira e se bronzear.
Ronaldo sentou-se ao seu lado.
A moça deitou-se ao sol.
O moço não parava de olhá-la.
Ao notar isto, Lorena comentou que ele a estava deixando sem graça.
Ronaldo sorriu.
A moça comentou que aquela situação lhe fazia lembrar uma canção.
Ronaldo perguntou de que canção se tratava.
Lorena começou a cantar:
“Isso tudo aconteceu
Quando você apareceu
Era férias e tomando sol
Na praia eu estava

De mancinho, então chegou
Com seus olhos me fitou
Eu senti que algo diferente
Em mim se passava.
Um minuto nem levou
Meu coração quase parou

Oh oh sim, sim minha tristeza acabou,
Sim, sim desde que você chegou
Sim, sim muito contente eu estou
Este amor que tão cedo comecei,
Vai durar muito tempo eu bem sei...
Férias na Praia – Suely”

Ronaldo caiu na gargalhada.
Depois meia hora, o casal resolver cair na água.
Brincaram no mar.
Lorena corria de Ronaldo, que corria atrás dela.
Ronaldo jogou água na moça, que reclamou que estava muito fria.
Vingando-se, jogou água em Ronaldo.
A seguir, a moça secou-se na esteira.
Ronaldo notou que a praia estava ficando cada vez mais cheia.
Lorena sugeriu que eles comessem alguma coisa.
O casal então, deliciou-se com alguns lanches e um suco.
Mais tarde, percebendo que a praia estava ficando muito cheia, Ronaldo sugeriu que eles
voltassem para casa. Mais tarde, poderiam ir ao cinema.
Lorena concordou.
E assim, mais tarde o casal foi ao cinema.
Qual não foi a surpresa de Lorena e Ronaldo, ao se depararem com o cinema lotado.
Por pouco não ficaram sem lugar para sentar.
Foram assistir ao filme “Doutor Jivago”.
Lorena em seus encontros com Ronaldo, falava maravilhas sobre o filme. Dizia que as críticas
eram muito boas.
Achando graça, Ronaldo começou a cantar baixinho para Lorena:
“Levei meu broto à praia
Prá passear
Mas admirem vocês
Não tinha lugar
Havia gente demais
Havia gente demais
Havia gente demais
Prá namorar

Mudei de idéia e rumei
P’ro Corcovado
Mas mesmo àquela altura
Estava lotado
Havia gente demais
Havia gente demais
Havia gente demais
Prá namorar

Tentei por fim um cinema
Esperando com o broto ficar
E vejam só, surgiu um dilema
Só havia um lugar pra sentar

Levei meu broto à praia
Prá passear
Mas admirem vocês
Não tinha lugar
Havia gente demais
Havia gente demais
Havia gente demais
Pra namorar

Tentei por fim um cinema
Esperando com o broto ficar
E vejam só, surgiu um dilema
Só havia um lugar pra sentar

Mudei de idéia e rumei
P’ro Corcovado
Mas mesmo àquela altura
Estava lotado
Havia gente demais
Havia gente demais
Havia gente demais
Pra namorar
Não tinha lugar
Gente Demais - Youngsters”

Nisto, o casal se acomodou para assistir ao filme.
Ao término da sessão, a moça comentou que valera a pena passar por aquele sufoco.
Afinal puderam se admirar o ótimo trabalho dos atores. Principalmente de Omar Sharif.
Ronaldo comentou que estava ficanco enciumado.
Lorena riu.
A moça comentou que quando tivesse uma filha, daria a ela o nome de Lara.
O moço ao ouvir isto, respondeu que Lorena também era sinônimo de moça bonita.
Lorena sorriu.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO ANOS SESSENTAS – NOS EMBALOS DA GUARDA GUARDA

Capítulo 4

A fotonovela se intitulava, “O Homem do Castelo”. História em quadrinhos, com fotos e textos
em balões, com periodicidade semanal. Eis a fotonovela.
O jovem nobre, vivia solitário em um palácio.
Ou melhor, vagava pelo castelo, como uma alma assombrada.
Vivia atormentado pela lembrança de sua amada, que partira séculos atrás.
Amargurado, o homem não pode se casar com sua estimada Julieta.
Às vesperas do casamento, a moça morrera misteriosamente.
Enquanto experimentava o vestido de noiva, a moça começou a sentir mal estar.
O conde, que a observava experimentando o vestido, ficou deslumbrado com a visão da noiva.
Julieta estava muito bela.
Porém, qual não foi sua surpresa, quando percebeu que a moça começou a sentir-se mal.
Aflito, correu ao encontro da moça, não se importando em ser descoberto.
Nisto a moça trêmula, apoiou-se em seus braços. O mal estar só piorava.
Delirando, a moça pediu para não partir, dizia que ainda era muito cedo.
Aflita a costureira e suas assistentes, corriam de um lado para o outro, sem saber o que fazer.
Estavam aturdidas.
Julieta então, ergueu seu rosto, olhando fixamente para Eduardo.
Em seguida, fechou os olhos, a cabeça pendeu para trás.
Eduardo ficou desesperado.
Tentando revivê-la, borrifou água em seu rosto, chacoalhou-a, gritou, pediu, implorou para que
ela despertasse.
Nada.
Com isto, ao tocar o pulso da moça, Eduardo percebeu que não havia pulsação.
Ao obter a confirmação pelo médico, de que ela estava morta, Eduardo chegou a duvidar.
- Não! Não! Julieta não está morta!
Desesperado, o homem segurou a camisa do médico.
O conde precisou ser segurado.
O homem não podia acreditar que sua amada havia morrido.
O enterro, teve coroa de flores, cerimônia, pompa.
Eduardo exigiu que tudo fosse perfeito.
O enterro foi triste. Teve direito até a discurso.
Triste, o conde disse que Julieta era uma mulher inesquecível, e que sua perda era irreparável.
Revelou que nunca mais haveria uma mulher como ela, e que dificilmente gostaria de alguém
como gostara dela.
Quem acompanhou o enterro, compreendeu que aquilo era um arroubo decorrente da violência
com que a moça falecera.
Contudo, conforme o tempo passava, e nada das coisas melhorarem.
Eduardo permanecia triste e recluso.
Aflito, Eustáquio, tentou a todo custo, confortar o filho.
Em vão.
O conde definhava a olhos vistos.
O tempo foi passando. Suas forças foram se estiolando.
O rapaz faleceu pouco tempo depois.
Eutásquio enlouqueceu.
Louco, morreu sozinho.
Antes de morrer, ficava delirando. Dizia que havia matado Julieta, com vistas a ajudar o filho,
mas só havia conseguido fazer com que o moço abreviasse sua vida.
Louco, dizia que havia sangue em suas mãos. Sangue de dois inocentes.
Balbuciava os nomes de Julieta e de seu filho Eduardo.
O tempo passou, os séculos também.
Ainda assim, quem passava perto do castelo, jurava ver o vulto de um homem atormentado,
rondando a construção abandonada.
Diziam que o castelo era mal assombrado.
Muitos diziam que fantasmas habitavam o lugar, comportando-se como se ainda fossem vivos,
assustando os passantes.
Nisto, um homem corajoso, acompanhado de sua família, resolveu pernoitar no castelo.
A notícia espalhou-se pela região.
Muitos diziam que eram herdeiros, e que estavam no local para cumprir exigências do testamento,
e assim, não perderem o direito a herança.
E lá se foram eles.
O homem possuía uma linda esposa.
O casal possuía um filho pequeno.
Nisto, Carlos e Rita adentraram o castelo.
O casal espantou-se com o estado de abandono da construção.
Cuidadosa, Rita tratou logo de encontrar um aposento para se recolher com seu filho.
Ao notar que tudo estava muito sujo, solicitou a presença de arrumadeiras para limpar o local.
Contudo, como o local tinha fama de mal assombrado, não foi fácil arrumar mão de obra que se
dispusesse a tal mister.
Mesmo sendo bem pagas, as mulheres tinham medo de trabalhar no lugar.
Contudo, em que pese este fato, acabaram por conseguir três ajudantes.
O trabalho era árduo.
Contudo, ao cair da tarde, alguns cômodos do castelo se apresentavam em condições de
habitabilidade.
Finalmente o pequeno André teria um lugar para dormir.
Enquando a casa era parcialmente limpa, a família aproveitou para conhecer o lugarejo.
Em todo o lugar que passavam eram apontados.
Todos diziam que eles deviam ter cuidado em frequentar lugares mal assombrados.
Carlos achava graça. Considerava aquelas pessoas simplórias e crédulas demais.
Ao cair da tarde, voltaram para o castelo.
Encontraram parte do local limpo. Extenso, não seria possível limpar toda a propriedade em um
só dia.
Com efeito, as arrumadeiras foram regiamente pagas.
Lúcio, o testamenteiro, cuidou da remuneração, e da contratação das mulheres.
A noite, a família se recolheu para um dos quartos.
Lúcio recolheu-se em outro.
Durante a madrugada, Carlos e Rita, ouviram barulhos vindos da janela.
Assustados, levantaram-se para verificar o que era.
Nisto, ao se aproximarem da janela, tudo parecia tranquilo.
Contudo, era somente se recolherem novamente ao leito, para ouvirem mais uma vez o barulho.
André, começou a chorar.
Preocupada, Rita procurou consolá-lo.
A certa altura, ouviram barulho de batida na porta.
Assustaram-se.
Nisto Lúcio falou:
- Abram a porta! Sou eu!
Carlos abriu a porta.
Preocupado, o inventariante perguntou se eles também haviam ouvido barulhos estranhos.
Carlos respondeu então, que os barulhos eram galhos de árvore batendo na janela.
Nisto, tentando se tranquilizarem mutuamente, recolheram-se para os seus aposentos.
Não obstante este fato, os barulhos prosseguiram.
Em dado momento, foram objetos que passaram a ser arrastados.
A esta altura, Rita, Carlos e Lúcio, estavam apavorados.
A criança, só chorava.
Ao tentarem sair do castelo, tiveram a saída obstada.
Em dado momento, Rita tentou se aproximar do filho.
Como não conseguisse chegar perto dele, começou a chorar, implorando para que a deixassem
cuidar de seu filho.
A confusão diminuiu.
A mulher pode finalmente se aproximar do filho.
No dia seguinte, o casal planejou partir.
Lúcio então respondeu, que se deixassem o castelo, perderiam qualquer direito a reclamarem pela
herança.
Carlos decidiu então, permanecer mais uma noite.
Preocupado com a segurança de sua família, sugeriu que todos dormissem juntos, num mesmo
aposento.
E assim o fizeram.
Dormiram no mesmo quarto.
Curiosamente, na segunda noite, não ouviram barulhos, ou presenciaram quaisquer fenômenos
estranhos.
Durante o dia porém, Rita avistou um vulto.
Assustada, correu em direção ao marido.
Disse que havia visto o vulto de um homem.
Sorrindo, Carlos respondeu que ela estava sugestionada com tudo o que presenciara.
Contudo, no dia seguinte, fora ele quem vira o vulto, não de um, mas de dois homens.
No quinto dia, o testamenteiro foi cumprimentado por um homem idoso, com vestes estranhas,
que lhe perguntara no jardim, se ele havia visto sua nora e seu filho.
Horas depois, fora abordado por um homem jovem, que também usava estranhas vestes.
O moço parecia aflito, atormentado. Perguntando ao testamenteiro, por que ele sofria tanto,
conseguiu deixar Lúcio confuso.
Perplexo, o homem comentou com Carlos e Rita, as cenas que acabara de presenciar.
No dia seguinte, depois do jantar, enquanto conversavam sobre amenidades, os três ouviram um
grito lancinante, vindo da sala, que distava de onde estavam.
O grito deixou-os aterrados.
Assustados e mesmo temerosos, os três foram até o local de onde partiram os gritos.
Ao lá chegarem, depararam-se com uma cena dantesca.
Um homem jovem, usavando vestes antigas, gemia. Trazia a cabeça entre as mãos.
Torturado, lamentava a perda da noiva.
Perguntava-se a todo o momento:
- Porque? Porque?
Parecia sofrer horrivelmente.
Ao notar que Rita, Carlos e Lúcio o observavam, perguntou por que eles o estavam olhando.
Como os três nada respondiam, começou a enfurecer-se.
Eduardo começou a arrastar móveis.
Nisto, Rita, Carlos e Lúcio, correram para longe dali.
Estavam assustados.
Rita, buscou o filho que estava em outra sala.
Apavorados, os três trancaram-se em um quarto.
No dia seguinte, o trio estava disposto a partir.
Não queriam ficar mais nem um minuto no castelo.
Nisto, trataram logo de tomarem o café da manhã.
Ao se dirigirem a sala, palco dos acontecimentos da noite anterior, qual não foi a surpresa dos três
ao se depararem com a visão do mesmo homem da noite anterior de pé.
Parecia sorrir para eles.
Rita, Lúcio e Carlos, não compreendiam o que se passava.
Foi então que Eduardo disse:
- Desculpe-me pelo espetáculo deplorável da noite anterior. Eu estava descontrolado, torturado
pela dor!
O trio permanecia calado.
O conde então, ao reparar em Rita, percebeu nela, semelhanças com sua falecida noiva.
Ficou perplexo.
- Julieta minha amada! Voltaste!
Carlos argumentou que ela não era Julieta, e sim sua esposa, Rita.
Lúcio explicou então, que eles eram parentes distantes de Eustáquio, o qual tivera sobrinhos que
se casaram. A árvore genealógica terminava em Carlos, que se casaram com Rita. Disse que o
casal tivera um filho, chamava-se André.
O conde, ficou furioso:
- Como se atrevem! A profanarem meu castelo!
Nisto, olhou para Rita.
- Traidora! Eu não te quero mais! Desprezaste o meu amor!
Rita saiu correndo assustada.
Ao perceber que havia assustado a moça, o conde pediu:
- Não vá ainda! Fique.
Rita, que já se encaminhava para a escada, segurando seu filho nos braços, deteve os passos.
Eduardo desculpou-se então.
Dizendo que há séculos vagava errante por aquelas terras, comentou que já não sabia exatamente
há quanto tempo sofria. Alegava sentir que séculos haviam se passado, talvez toda uma
eternidade.
Respondeu que torturado, procurava desesperadamente por seu pai e sua amada.
Contudo, para sua infelicidade nunca pode reencontrar-se com aqueles a quem amava.
Lamentando-se, comentou que sofria horrivelmente. Disse sentir que aquilo não era vida.
Argumentou que sentia necessidade de algo melhor. Todavia, não sabia como fazer como
conseguir.
Rita então, desfazendo-se de seu temor, perguntou:
- Não podemos ajudar?
Eduardo comentou que talvez pudessem, mas que ele não sabia como.
Pensando, a moça comentou que se ele se libertasse de sua mágoa, talvez conseguisse se libertar,
se desapegar das coisas terrenas.
Nervoso, Eduardo comentou que não era fácil se esquecer de que o haviam separado da pessoa a
quem mais amava. Disse ter descoberto que seu pai fora o responsável pelo passamento de sua
noiva, envenenando-a antes do casamento.
Amargurado, respondeu que o que ele não esperava, era estar matando o próprio filho.
Rita então, comentou que ele de fato, precisava se desfazer de sua tristeza, se libertar de seu
orgulho, e perdoar seu pai.
Lacrimoso, o conde respondeu que não podia perdoar seu pai, pelo mal que lhe fizera.
Resistia a idéia de se desapegar de seus afetos, de suas paixões.
Foi preciso tempo, para convencer aquela alma sofrida que o melhor a fazer seria se libertar de
seus rancores.
Trabalho árduo, a que os três se propuseram a auxiliar.
Rezaram, mentalizaram o momento do perdão. Sugeriram boas idéias ao conde.

Com o tempo, Eduardo se mostrou menos reticente.
Depois de muitas lágrimas, finalmente o conde mostrou-se apaziguado.
Chorando, disse que perdoava do fundo do coração seu pai, por todo o mal que este havia causado.
Pediu também perdão a Julieta, por haver sido tão fraco a ponto de não resistir a prova e se
entregar ao desânimo. Reconheceu que por conta disto, não fora possível o reencontro com aquela
a quem tanto amava.
Triste, comentou que por conta disto, talvez a tivesse perdido para sempre.
A seguir, recompondo-se, disse agradecido pelo desprendimento que eles tiveram com ele.
Emocionado, comentou que a generosidade era algo muito raro. Disse que eles eram pessoas de
bem.
Nisto, eis que surge um homem idoso.
Lúcio espantou-se. Comentou com o casal que já havia visto aquele homem perguntando pelo
filho.
O homem então, apresentou-se como Eustáquio – o pai do jovem.
Esclareceu que por conta de suas maldades, fora condenado a vagar pelo castelo e pela região em
seu entorno, sem direito a um descanso. Além disso, teria como punição não poder ficar ao lado
do filho, em que pese o mesmo vagar pelo mesmo local.
Erravam nos mesmos caminhos, mas nunca se encontravam.
Também sentia o martírio de ter sempre diante de si a imagem da moça, desfalecendo nos braços
do filho. E de Eduardo gritando desesperado, fazendo de tudo para salvar Julieta.
Sentia muita dor pelo sofrimento do filho. Contudo, sentiu ainda mais culpa por haver abreviado
a existência de seu único filho.
Estas lembranças eram o que lhe causavam mais dor.
Disse que em seus piores momentos de sofrimento, sempre pedia perdão ao filho, pelo mal que
lhe havia indiretamente infligido. Pensou levianamente que o amor não era tão grande.
Nisto, ao ver o filho diante de si, gritou:
- Perdão! Perdão! Perdão!
Em seguida, ajoelhou-se aos pés do filho.
Eduardo levantou-o e os dois se abraçaram.
Com isto, Eustáquio deu-se conta de que possuía ainda um débito a saldar.
Uma vítima ainda maior sofrera com sua maldade.
Lembrou-se de Julieta.
Aflito pediu, implorou para que ela o perdoasse.
Pediu ardentemente informações a respeito de sua situação. Afligiu-se ao constatar que ela
também poderia estar vagando, perdida, desorientada, pelo castelo.
Nisto, surgiu uma luz muito intensa.
Uma moça muito bonita, bastante semelhante a Rita, comentou que nenhum deles precisavam se
preocupar com ela. Julieta parecia alegre, feliz.
Disse que após seu passamento, encontrou-se logo em outro plano, sendo amparada por almas
acolhedoras e caridosas. Em que pese a brutalidade e violência do passamento, comentou que
pouco sofrera no momento do encontro com o lado espiritual.
Argumentou que estava bem, que não precisavam se preocupar com ela. Disse que a todo
momento rezava por eles.
Chorando, os dois se ajoelharam diante dela.
Ambos pediam perdão.
A certa altura, Eduardo levantou-se e pedindo para chegar mais perto, perguntou se poderia beijar-lhe o rosto.
Sorrindo, Julieta consentiu.
Nisto, os três espíritos foram envolvidos por uma imensa luz, e partiram.
Rita, Carlos e Lúcio, se entreolharam.
Perguntavam-se: teria sido tudo um sonho?
A resposta veio dois meses depois.
O trio, ao cumprir a exigência de viverem três meses no castelo, estavam prontos para partir.
Todavia, antes de se despedirem do castelo, decidiram arrumar o lugar.
Nisto, os moradores do local, ao tomarem conhecimento de que aquele era um bom lugar para se
viver, passaram a ter menos temores em relação ao local.
Assim, foi fácil arrumar empregadas para a arrumação do local.
E desta forma, o castelo, até então velho e abandonado, tornou-se um lugar habitável.
Nessa arrumação, as empregadas descobriram papéis, documentos.
Lúcio, ao se deparar com os documentos, descobriu o título de propriedade.
Deslumbrado, descobriu que o castelo fora construído por um barão, avô de Eustáquio.
Que após a tragédia que envolvera o Conde Eduardo, o castelo fora aos poucos sendo abandonado.
Descobriu que outros pretensos herdeiros tentaram viver no castelo, sem êxito.
Após certo tempo, todos saíam dali.
Pensou que este fato deve ter contribuído para a fama de mal assombrado, que o castelo tinha.
Descobriu cartas de amor do conde para sua amada, o discurso que fizera no enterro da mesma.
Espantado, depois de vasculhar os alfarrábios, descobriu uma carta, escrita em bela caligrafia, em
um papel de ótima qualidade com caneta tinteiro e lacrada com mata borrão.
Ao abrir a missiva, descobriu relatos de Eduardo, Eustáquio e Julieta.
Cada qual dizia estar bem, que Eustáquio estava se recuperando de suas faltas, para mais tarde
poder privar da convivência do filho; quanto a Eduardo, este havia se libertado de sua mágoa e
estava trabalhando com o firme propósito de vir a estar do lado de Julieta, a quem dedicava
profunda afeição. A moça por sua vez, dizia que estava trabalhando com o firme propósito de
auxiliá-los em seu progresso.
Por fim, os três desejavam felicidades a todos os que os auxiliaram.
Eustáquio dizia que o casal Rita e Carlos era mais que merecedor da herança. Provaram ser nobres
de caráter, valorosos.
Eustáquio pediu por fim, que cuidassem bem do castelo. Sugeriu que transformassem o local em
um lugar de estudo e de conhecimento, de esperança, para pessoas que nada tinham para sonhar.
Dizia com isto, estar de alguma forma, compensando o bem que lhe fora feito.
Lúcio apresentou os documentos ao casal.
Ávidos, leram com toda a atenção, a carta deixada pelos espíritos.
Confusos, Rita e Carlos, chegaram por um momento, a duvidar da autenticidade da
correspondência.
Contudo, ao conferirem as assinaturas da carta, com os documentos do castelo, perceberam que
as assinaturas eram semelhantes.
Mais tarde, ao realizarem um exame grafotécnico, a questão fora comprovada. As letras das cartas
eram dos antigos proprietários do imóvel.
As assinaturas das cartas, datavam dos anos sessentas.
De fato, os últimos acontecimentos não foram frutos de devaneios, ou resultado de estímulos a
mentes superexcitadas.
Era fruto sim, de algo real.
Nisto, o casal, atendendo o desejo post-mortem de Eustáquio, providenciaram para que o castelo
se transformasse em uma instituição de educação para órfãos.
E assim, Carlos e Rita puderam receber a herança da família de Eustáquio. A família deles.
Em agradecimento, passaram a celebrar missas em nome de seus antepassados.
Visitavam o túmulo da família.
Quanto ao túmulo de Julieta, este se encontrava em um lugar afastado do cemitério.
Rita mandou confeccionar uma bonita lápide para ele.
Também sugeriu que o túmulo da família fosse frequentemente cuidado.
E assim, terminou a história.
Lorena, Ana e Glória, ficaram terrificadas com a história fantasmagórica.
Contudo, em que pesem os sustos, comentaram que a história era muito bonita.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO ANOS SESSENTAS – NOS EMBALOS DA GUARDA GUARDA

Capítulo 3

Em outra consulta, ou melhor, em outra visita médica, Ronaldo perguntou-lhe se estava sentindo-se melhor.
Lorena respondeu que sim.
Ronaldo comentou que estava ouvindo com mais atenção as músicas dos cantores que ela havia
mencionado em outra conversa.
A moça perguntou se ele gostava mesmo daquelas músicas.
Ronaldo respondeu que sim.
Curiosa, Lorena perguntou-lhe sua idade.
O moço respondeu:
- Vinte e oito anos.
A moça argumentou que ele não era tão velho assim.
Achando graça do comentário, Ronaldo respondeu:
- Muito obrigado pelo elogio.
Percebendo a indelicadeza, a moça tentou desculpar-se.
Ronaldo pediu-lhe para não tentar se desculpar. Disse que não estava ofendido.
Curioso, perguntou-lhe o que estava fazendo no momento, e o que gostava de fazer, além de ouvir
música.
Apoiou o braço direito em uma cômoda. Parecia interessado em ouvi-la.
Lorena comentou então, que havia voltado ao colégio, e que estava recuperando as aulas que
havia perdido, copiando a matéria de suas amigas.
Disse também, que adorava os filmes de Peter
O’Toole, Omar Sharif, Alain Delon, Tony Curtis, Jonh Herbert, Eliana, Herval Rossano. Disse
que adorou o filme “O Pagador de Promessas”, com Leonardo Vilar e Geraldo Del Rey.
Comentou que adorou assistir o filme em que os cantores dos anos sessentas atuavam.
Falou ainda que achava o cantor Wanderley Cardoso, muito bonito.
Ao ouvir isto, o médico ficou ligeiramente incomodado.
Tanto que tentou mudar o foco da conversa.
Lorena comentou então, que era curioso como o gosto das pessoas mudavam, de acordo com as
gerações.
A garota falou então, que sua avó Celina adora os filmes de um ator chamado Rodolfo Valentino.
Comentou que sua mãe Natália vivia dizendo que Celina sonhou muitas vezes com o ator, em sua
indefectível caracterização de sheik árabe, sua maquiagem.
Já sua mãe Natália, era apaixonada pelo filme “O Vento Levou”.
Carinhosa, Lorena comentou que já havia visto o filme e que sua mãe, quando moça, lembrava muito a personagem de Vivien Leigh.
Ronaldo ficou enternecido com aquelas palavras.
Para se despedir da moça, o rapaz cantou:
“Meu amor me disse assim,
Assim, boa noite.
Assim, boa noite.
Eu lhe dei boa noite, boa noite
Boa noite, boa noite meu bem,
Meu bem, oh oh oh.
Contigo eu vou sonhar, eu vou,
Sonhar, eu vou sonhar também.

Ele é para mim o meu mundo
E a razão do meu viver
Se alguém entre nós aparece
Oh oh oh...
Eu sei que a minha paz, a minha,
Paz todinha eu vou perder,
Eu sei que a minha paz, a minha,
Paz todinha eu vou perder.
Boa Noite, Meu Bem – Wanderléa”

Nisto, o rapaz deu um beijo no rosto da moça.
Lara ficou surpresa com o gesto.
Em seguida, o moço se despediu.
A moça retomou sua rotina.
Ultimamente, ao retornar para casa, era sempre acompanhada pelas amigas Ana e Glória.
Aos poucos, Lorena voltou a se interessar pelos estudos, deixando de lado, as tristezas.
Animada, voltou a fazer planos.
Ana e Glória, comentaram então, que haveria um novo bailinho.
Lorena contudo, respondeu que não estava interessada em bailes.
Surpresa, Glória perguntou:
- Mas por que?
- Por que tenho muito o que estudar. Fiquei muito tempo parada. – respondeu a moça.
- Estudar num sábado a noite? Pra quê? – insistiu Ana.
Nisto, Glória começou a cantar:
“Eu não tenho namorado
Alguém que eu possa amar
Meu dia é ocupado
Sempre a estudar.
Oi,oi,oi
Sempre a estudar
Sem o amor, que venha comigo sonhar.

"- Oi Celly!
- Oi Tony!
- Você vai sair essa noite?
- Claro que vou!
- Com quem, posso saber?
- Com Pedro Alvares Cabral.
- Como? Você ficou biruta?
- Não, essa noite eu vou estudar história!"
Ela não tem namorado.
Ela não tem namorado.

"- Oi Celly!
- Oi Tony!
- Você ao baile essa noite?
- Vou sim!
- Onde? No bailinho da escola?
- Não, vou num baile na Austrália!
- Na Austrália?!
- Sim, esta noite vou estudar geografia!"
Mas eu não tenho namorado
Alguém que eu possa amar
Meu dia é ocupado
Sempre a estudar
Oi, oi,oi
Sempre a estudar
Sem um amor
Que venha comigo sonhar.
Não Tenho Namorado – Celly Campelo”

Lorena achou graça, mas dizendo que elas estavam muito abusadas, jogou um travesseiro nelas.
Francisco, ao ouvir as risadas das moças, concluiu que sua filha estava melhor.
Ainda assim, Ronaldo continuou a frequentar a casa da moça.
Sob o argumento de que queria se certificar de que estava tudo bem, costumava realizar visitas
esporádicas.
Lorena estava mais alto-confiante.
Tanto, que certo dia, ao voltar da escola, a moça foi abordada por um grupo de rapazes que seguia
de carro.
Ao vê-la, passaram a acompanhar sua caminhada.
Diminuiram a velocidade, até se aproximarem, cantando:
“Na rua faz o trânsito parar
Não quer saber de conversar
Sorri pra todos e pra mim também
Mas bola mesmo, não dá pra ninguém
Se algum rapaz, se aproxima demais
Ela logo vai passando pra trás

Brotinho difícil
Você precisa de carinho
Me dá um beijinho
Um só, mais um
... Veja bem o que faz
Não me passe pra trás yeh, yeh, yeh ...
Não quer saber de conversar
Essa menina é mesmo de amargar
Mas é com ela que eu vou me casar
Veja bem o que faz
Não passe pra trás yeh, yeh, yeh ...
Brotinho difícil – Ronie Cord”

Lorena assustou-se com a abordagem.
Contudo, visando não demonstrar o espanto, continuou a caminhar como nada de estranho tivesse
ocorrido.
Quando contou as amigas o ocorrido, Ana e Glória comentaram que nunca passaram por nada
parecido.
Glória perguntou brincando, se eles pelo menos, eram bonitos.
Lorena retrucou:
- Como posso saber? Estava distraída. Levei um baita de um susto, isto sim.
Ana por sua vez, comentou que adoraria arrumar um namorado que tivesse carro.
Foi a deixa para Glória cantar:
“Se tenho gaita pra gastar
Sem demorar
Brotinho vem e quer saber
Que vou fazer

Mas se estou duro e sem tostão
Ela diz não
Já deixei de ser pão

Interesseira
Esse seu amor é amor a gasolina
Só aquece motor
Interesseira
Finge ser meu
Mas só quer minha carteira
E não ama ninguém ...
Cantor – Ed Wilson”

Ana retrucou dizendo que não era nada disto.
Apenas gostaria de ter alguma estabilidade no namoro.
Lorena e Glória riram.
Conversando as moças contaram sobre suas preferências musicais.
Lorena disse que gostava de uma forma geral, de todos os cantores da época.
Ana e Glória por sua vez, elencaram os cantores que consideravam bonitos.
Roberto Carlos era o primeiro da lista na opinião de ambas. Na lista tinha Wanderley Cardoso...
Quando Ana disse que gostava do cantor Jerry Adriani, Glória argumentou que eles eram rivais.
- Grande coisa! Gostar de um, não impede de gostar do outro. Essa coisa de brigar pelos ídolos é
uma grande bobagem! Eu gosto de todos. Gosto muito do Roberto Carlos, mas isto não me impede
de admirar a beleza e o talento do Ronnie Vonn.
Glória ficou indignada.
Para ela, Ana ou gostava de um ou de outro. Não poderia gostar dos dois.
Lorena então, comentou que não fazia distinção entre os artistas. Dizia até que isto era feito para
que eles vendessem mais discos.
Com isto, Ana e Glória começaram a se olhar.
Riram.
Perceberam a grande bobagem que era discutir por algo tão pequeno.
Lorena por sua vez, emendou:
- Todo mundo tem direito de gostar de tudo o que é bom. Até de cantores rivais.
E assim, as três amigas se abraçaram.
Mais tarde, as amigas se ocuparam com os estudos. Nos próximos dias, teriam provas.
Quando as moças realizaram as provas, as moças passaram a se ocupar de amenidades.
Apreciadoras de fotonovelas, as moças estavam acompanhando uma história de terror.
Lorena, Glória e Ana, acompanhavam toda a semana, os passos do Conde Eduardo.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO ANOS SESSENTAS – NOS EMBALOS DA GUARDA GUARDA

Capítulo 2

Nos dias que se seguiram, Marcos passou a evitar Lorena.
Surpresa, a moça não conseguia entender a atitude do rapaz.
Triste, chegou a comentar a indiferença do rapaz, com as amigas.
Ana e Glória argumentaram que Marcos não era uma boa companhia com a moça.
Lorena, desolada, só queria entender por que o moço estava agindo daquela forma.
Glória abraçou a amiga.
Não bastasse isto, certo dia, durante o intervalo, a garota viu o seu amado, de braços dados com
Amanda.
Pareciam muito íntimos.
Na saída da escola, Lorena viu o casal se beijando.
Ao se deparar com a cena, Lorena, que estava acompanhada de suas amigas, saiu correndo.
Chorando, foi correndo para a casa.
Ana e Glória tentaram alcançá-la. Em vão.
Depois de um certo tempo correndo, a moça começou a diminuir os passos.
Continuava a chorar.
Para embalar sua tristeza, recordou-se da música “Minha Primeira Desilusão”. Chorando,
começou a cantar baixinho:
“Eu sou tão menina pra me enamorar
Então porque sera que eu fui gostar
De um menininho tão mau pra mim

Ah, eu vou crescer para poder amar
Vou fazer força para não chorar
Dai talvez ele olhara pra mim

Não pense que eu sou acanhada,
Eu estou enamorada
E sou capaz de confessar
Então dou uma piscadinha,
Canto uma musiquinha
Baixinho pra poder lhe conquistar ah ah ah

Mas ele, nem percebeu enquanto eu cantava,
O imenso amor que eu lhe dedicava
Nas entrelinhas da minha canção

E fui andando, enquanto que chorava,
O gosto amargo esperimentava
Da minha primeira desilusão.
Minha Primeira Desilusão – Compositora Sylvinha”

Ao lá chegar, a menina entrou como um furacão. Adentrou seu quarto e se trancou.
Ao fechar a porta do ambiente, jogou-se na cama e começou a chorar.
Chorava copiosamente. Soluçava.
Natália começou a ficar preocupada. Francisco também.
A certa altura, lembrou-se de uma música para embalar sua tristeza:
“Alguém pra gostar de mim
Tem que ser triste como eu
Alguém pra gostar de mim
Tem que ser triste como eu

A dor que eu estou sentindo
Não há no mundo quem já sentiu
Por uma coisinha à toa
Meu bem me disse adeus e partiu

Porém se o arrependimento
Fizer meu bem, voltar!
Eu juro perdoarei e prometo até
Nunca mais brigar

Alguém pra gostar de mim
Tem que ser triste como eu
Alguém pra gostar de mim
Tem que ser triste como eu

A dor que eu estou sentindo
Não há no mundo quem já sentiu
Por uma coisinha à toa
Meu bem me disse adeus e partiu

Alguém pra gostar de mim
Tem que ser triste como eu
Alguém pra gostar de mim
Tem que ser triste como eu

A dor que eu estou sentindo
Não há no mundo que já sentiu
Por uma coisinha à toa
Meu bem me disse adeus e partiu
Meu bem me disse adeus e partiu
Meu bem me disse adeus e partiu
Arrependimento – Rossini Pinto”

A cada frase da música, Lorena se recordava da cena que presenciara na escola.
Marcos e Amanda de mãos dadas, o casal se beijando.
Como Lorena não melhorava, ficando cada vez mais apática, Natália ficou preocupada.
Tanto que resolveu chamar um médico.
Conversando com seus colegas no hospital, a mulher recebeu a indicação de agendar uma consulta
com o doutor Ronaldo.
O jovem médico, realizou a consulta na residência de Natália.
Ao lá chegar, Ronaldo mediu a pressão da moça, auscultou o pulmão.
Tentou conversar com a moça, mas Lorena estava apática e indiferente.
Fazia três dias que não ia a escola.
Francisco também ficou preoucupado.
Natália tentou fazer a filha conversar com o médico, mas o moço argumentou que não havia
necessidade de pressioná-la. Disse que aos poucos, Lorena conversaria com ele, e que as coisas
melhorariam.
Com efeito, o moço percebeu que a moça gostava muito de ouvir músicas.
Naquele momento, tocava baixinho, uma canção:
“Toda vez que passo naquele lugar
Vejo a garotada desfilar ...
Mas é só você que quero ver passar
Por isto finjo que estou a paquerar
Obladi oblada não é sopa ...
Obladi oblada esperando

A turma toda passar
Você não vê que eu estou tão só, tão só
Que sou alguém sempre a lhe esperar
Você passa rindo, rindo

Toda vez que passo naquele lugar
Vejo a garotada desfilar
Mas é só você que eu quero ver passar
Por isto finjo que estou a paquerar
Obladi, oblada não é sopa ...
Obladi oblada esperando
A turma toda passar ...
Obladi oblada – Ed Carlos”

Atento, Ronaldo percebeu que havia encontrado algo interessante para conversar com a moça.
Nisto, em sua segunda visita, o médico fez os exames de praxe.
Em seguida, pediu licença a todos da família para ficar a sós com a moça.
Francisco tentou resistir a idéia, mas Natália, percebendo a estratégia do médico, acabou
convencendo o marido e os filhos, a deixar-los a sós.
E assim, Ronaldo começou a cantar:
“Quando a cidade dorme ah ah ah
Com um blusão no ombro desço pra sair
No peito uma guitarra
E na mente tantas coisas
Eu ando sem saber pra onde ir

Vagabundo, sem destino
Algum santo me guiará
Vagabundo, vou seguindo
Sem saber onde vou chegar

Sozinho não se vive, sem amor não morrerei
Vagabundo, estou sonhando, delirando
Assim vou caminhando ah ah ah
Na estrada vejo um rio não sei onde irá
Na noite sons nos passos
E dois olhos procurando
Alguém que eu preciso encontrar

Vagabundo, sem destino
Algum santo me guiará
Vagabundo, vou seguindo
Sem saber onde vou chegar
Sozinho não se vive, sem amor não morrerei
Vagabundo, vou sonhando, delirando.
Vagabundo (Sem Destino) – Os Incríveis”

Lorena saiu de seu estado de letargia. Dirigiu um olhar ao médico.
Ronaldo comentou que gostava muito daquela música. Disse que aquela era uma época de outro
para a eles, e que dali por diante tudo se transformaria.
Lorena passou a ouvir o médico com atenção.
Lorena comentou que adorava as músicas do Roberto Carlos, Wanderley Cardoso, Jerry Adriani,
Vanusa, Wanderléa, entre outros.
Ronaldo comentou que de vez em quando, via aquelas pessoas cantando, pela televisão.
Empolgada, Lorena perguntou:
- É mesmo?
Ronaldo comentou brincando que sua vida não se resumia a trabalhar, trabalhar e trabalhar.
Afirmou sorrindo, que também tinha seus momentos de laser.
No dia seguinte, Ronaldo encontrou a moça um pouco mais disposta.
Lorena não estava mais de camisola, prostrada em sua cama.
O rapaz novamente examinou-a, conversou com Francisco.
Depois, a sós com Lorena, começou a cantar:
“Olhos tristes tem segredos
Que não posso revelar

Meu bem
Por que esse olhar perdido num ponto do infinito?
Por que essa nuvem de tristeza nesse olhar tão bonito
Crê em mim, a vida é linda
Crê no bem que eu acredito

Não pergunte que eu não digo
Não insista que eu não vou contar
Olhos tristes tem segredos
Que não posso revelar

Tristeza do teu olhar é chuva que vai passar
Quero que saibas meu anjo
A tristeza que sentires
Vai ser depois arco-iris
Hoje choras, é verdade
Amanhã sentirás felicidade

Os segredos de uma chuva
Arco-iris sempre vem contar
Olhos tristes têm segredos
Que não posso revelar

Façamos uma troca
Vou contar-lhe um segredo
Afinal, venci o medo
Eu te amo, vida minha
Preciso confessar
E e por isso que eu não gosto
De ver triste o teu olhar.

As meninas dos mes olhos
De alegria estão a cantar
Olhos tristes eram tristes
Tão somente por te amar.
Olhos Tristes – Barros de Alencar”

A menina ficou encantada com a música.
Tanto que cantou junto com o médico a canção.
O doutor, percebendo isto, perguntou-lhe então, o que estava acontecendo.
Por que estava tão triste.
Lorena calou-se.
Ronaldo insistiu.
Dizendo que quando tinha a idade dela, apaixonou-se por uma garota em seu colégio.
Comentou que ela era a menina mais bonita do colégio.
Curiosa, Lorena perguntou:
- E vocês ficaram juntos?
Ronaldo respondeu que não. A moça começou a namorar um rapaz que também era cobiçado por
outras moças. Disse que eles nunca ficaram juntos.
- Que pena! – respondeu Lorena.
Ronaldo disse, que nunca mais a vira. Não sabia se estava casada, se ainda era bonita, se era feliz,
se tinha filhos.
Lorena achou graça em seus devaneios.
Ronaldo, ao perceber isto, emendou:
- Pois então! Tudo passa. Um dia você vai olhar para trás e vai perceber que perdeste o tempo
com uma bobagem. Seja feliz. Você ainda vai ter muito o que chorar.
Os olhos de Lorena encheram-se de lágrimas.
Ronaldo segurou o rosto da moça. Olhando-a nos olhos, cantou:
“Quem deixaria molhar seus olhos nessa tristeza
Eu nunca vi o seu olhar tão triste assim
Não é por mim que você chora tenho a certeza
E quem sou eu para você chorar por mim

Se alguém disser que é por mim que você chora
Eu lhe darei todo amor que eu sinto agora
E se provar que eu fiz você ficar tão triste
Eu saberei que existe um céu, que Deus existe.
Não É Por Mim – Roberto Carlos”

Lara achou graça na brincadeira do médico.
Ronaldo disse que ela seria muito feliz.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO

ANOS SESSENTAS – NOS EMBALOS DA GUARDA GUARDA

Capítulo 1

Lorena, era uma garota alegre, estudiosa.
Embalada pelas jovens tardes de domingo, a moça adorava passar horas trancadas em seu quarto
ouvindo música.
Animada, não se contentava em ouvir as canções.
Também cantava:
“Sou a garota papo-firme
Que o Roberto falou
Dirijo em disparada
Pois eu sou um amor

Sou a garota que eles pensam
Que vão conquistar
Pois já pensei e nem bola vou dar

Sou a garota papo-firme
Que o Roberto falou
Estou por ai dentro da onda

Essa turma de cabeludo
Só pensam em cantar
Não pensam em se casar

Se tenho mil razões pra ser assim
A mini saia fica bem em mim
Eu vou deixar a turma toda louca
A turma toda com água na boca

Sou a garota papo-firme
Que o Roberto falou
Por isso sou um amor
Garota do Roberto - Waldirene”

Não contente em cantar, a moça também dançava.
Natália quando via a filha no quarto, brincando de ser celebridade, achava graça.
Lorena, adorava acompanhar pela televisão, os programas de música.
Nos últimos tempos contudo, andava dispersa.
Não estudava direito.
Não prestava atenção nas aulas.
Só tinha olhos e ouvidos para Marcos.
O casal se encontrava no intervalo das aulas.
Trocava bilhetinhos.
Neles o casal dizia que estava sentindo muitas saudades um do outro.
Marcos escrevia palavras doces, dizia que sentia sua falta, que ela era o seu brotinho, o seu mundo.
Dia desses, o moço aproveitou um momento de distração de Lorena, e colocou um bilhetinho
dentro de um dos livros da moça.
Ao chegar em casa, Lorena percebeu que um bilhete fora colocado entre as páginas de seu livro
de matemática.
Ao ler o conteúdo do mesmo, percebeu que se tratava de um convite para ir a um bailinho.
Feliz, a moça guardou o bilhete. Começou a cantar:
“Dentro do meu livro de leitura
Encontrei um bilhetinho que você me escreveu
Era um bilhetinho apaixonado
Que dizia estar gamado
Só por mim e por mais ninguém.

Dentro do meu livro de leitura
Encontrei um bilhetinho que você me escreveu
Era um bilhetinho apaixonado
Que dizia estar gamado
Só por mim e por mais ninguém.

Quase que chorei só em pensar que era meu
Pois meu coração também é seu e de mais ninguém.
Quase que chorei só em pensar era meu
Pois meu coração também é seu e de mais ninguém.

Dentro do meu livro de leitura
Encontrei um bilhetinho que você me escreveu.
Era um bilhetinho apaixonado
Que dizia estar gamado
Só por mim e por mais ninguém
E por mais ninguém...
Bilhetinho Apaixonado – Kátia Cilene”

Animada com a idéia de ir a um baile com seu namorado, Lorena insistiu para que Natália a
autorizasse a sair com suas amigas. Ana e Glória iriam juntas.
Ao saber disto, a mulher autorizou a saída.
Disse contudo, que iria telefonar para as mães de ambas para confirmar tudo.
Ao perceber isto, Lorena pediu para as amigas a acompanharem no baile.
Animadas, as amigas concordaram.
Lorena contudo, só contou metade da história.
Nisto Natália entrou em contato com a mãe das moças.
E assim, quando chegou o dia do baile, as três amigas estavam impecavelmente vestidas.

Ao chegarem no baile, Ana e Glória foram logo convidadas para dançar.
Animadas, deixaram Lorena sozinha.
A moça aguardava Marcos.
Dançaram ao som da música:
“Vejam só que Festa de Arromba!
Que noutro dia, eu fui parar...
Presentes no local, o rádio e a televisão;
Cinema, mil jornais,
Muita gente, confusão...

Quase não consigo
Na entrada chegar,
Pois a multidão
Estava de amargar!
Hey! Hey! (Hey! Hey!)
Que onda!
Que festa de arromba!...

Logo que eu cheguei,
Notei, Ronnie Cord com um copo na mão.
Enquanto Prini Lorez bancava o anfitrião,
Apresentando a todo mundo
Meire Pavão...
Wanderléa ria e Cleide desistia
De agarrar um doce que do prato não saia!
Hey! Hey! (Hey! Hey!)
Que onda!
Que festa de arromba!...

Renato e seus Blue Caps tocavam na piscina;
The Clevers no terraço;
Jet Black's no salão;
Os Bells de cabeleira, não podiam tocar,
enquanto a Rosemary não parasse de dançar...

Mas!
Vejam quem chegou de repente:
Roberto Carlos em seu novo carrão!
Enquanto Tony e Demétrius fumavam no jardim,
Sérgio e Zé Ricardo esbarravam em mim...

Lá fora um corre corre
Dos brotos do lugar:
Era o Ed Wilson que acabava de chegar!
Hey! Hey! (Hey! Hey!)
Que onda!
Que festa de arromba!...
Hey! Hey! (Hey! Hey!)

Renato e seus Blus Caps tocavam na piscina;
The Clevers no terraço;
Jet Black's no salão;
Os Bells de cabeleira, não podiam tocar,
Enquanto a Rosemary não parasse de dançar...
Mas!

Vejam quem chegou de repente:
Roberto Carlos em seu novo carrão!
Enquanto Tony e Demétrius fumavam no jardim,
Sérgio e Zé Ricardo esbarravam em mim...
Lá fora um corre corre dos brotos do lugar:
Era o Ed Wilson, que acabava de chegar
Hey! Hey! (Hey! Hey!)
Que onda!
Que festa de arromba!...(7x)
Festa de Arromba - Composição: Erasmo Carlos”

Nisto, Marcos se aproximou da mesa em que Lorena estava. Chegando de surpresa, cobriu seus
olhos, e perguntou:
- Advinhe quem é!
Lorena tocou nas mãos do moço, e retirando-as de seu rosto, disse sorrindo:
- Marcos!
O rapaz aproximou-se, e o casal se abraçou.
Ficaram se observando.
Quando tocou uma canção de Reginaldo Rossi, Marcos convidou a moça para dançar.
“Lembro com muita saudade
Daquele bailinho
Onde a gente dançava
Bem agarradinho
Onde a gente ía mesmo
É prá se abraçar...

Você com laquê no cabelo
E um vestido rodado
E aquelas anáguas
Com tantos babados
E você se sentava
Só prá me mostrar...

E tudo que a gente transava
Eram três quatro cubas
Eu era a raposa
Você era as uvas
Eu sempre querendo
Teu beijo roubar...

E por mais que você
Se esquivasse
Eu tinha certeza
Que no fim do baile
Na minha lambreta
Aquele broto bonito
Ia me abraçar...

Quando a orquestra
Tocava "Besame Mucho"
Eu lhe apertava
E olhava seu busto
Dentro do corpete
Querendo pular...

Eu todo cheiroso
À "Lancaster"
E você à "Chanel"
Eu era um menino
Mas fazia o papel
Do homem terrível
Só prá lhe guardar...

E tudo que a gente transava
Eram três quatro cubas
Eu era a raposa
Você era as uvas
Eu sempre querendo
Seu beijo roubar...

E por mais
Que você se esquivasse
Eu tinha certeza
Que no fim do baile
Na minha lambreta
Contente prá casa
Eu ia te levar...

E ao chegar em tua casa
Em frente ao portão
Um beijo, um abraço
Minha mão, tua mão
Com medo que o velho
Pudesse acordar...

A pílula já existia
Mas nem se falava
Pois nos muitos conselhos
Que tua mãe te dava
Tinha um que dizia:
"Só depois de casar"...

E tudo que a gente transava
Eram três quatro cubas
Eu era a raposa
Você era as uvas
Eu sempre querendo
Teu beijo roubar...

E por mais
Que você se esquivasse
Eu tinha certeza
Que no fim do baile
Na minha lambreta
Aquele corpo bonito
Ia me abraçar...

Tudo que a gente transava
Eram três quatro cubas
Eu era a raposa
Você era as uvas
Eu sempre querendo
Teu beijo roubar...

E por mais
Que você se esquivasse
Eu tinha certeza
Que no fim do baile
Na minha lambreta
Aquele corpo bonito
Ia me abraçar...
A Raposa e as Uvas – Reginaldo Rossi”

Enquanto dançavam, Marcos tentou roubar um beijo de Lorena.
Ana e Glória, por sua vez, conversaram um pouco com os rapazes com quem dançaram.
Sandro havia simpatizado com Glória.
Ana e Glória, comentaram entre elas, que Lorena não devia deixar Marcos ficar tão próximo dela.
Ao término da música, a moça voltou para a mesa, de mãos dadas com Marcos.
Feliz, Lorena apresentou o namorado às amigas.
Mais tarde, conversando a sós com a moça, longe dos olhares vigilantes das amigas, o moço
sugeriu que eles deveriam ficar a sós.
Lorena contudo, ciente das recomendações de sua mãe, respondeu que precisava voltar para casa
na hora combinada, ou nunca mais Natália a deixaria sair com suas amigas.
Contrariado, Marcos parou de insistir.
Nisto, levou a moça de volta para casa.
Ao se despedir da moça, Marcos tentou beijá-la, mas Lorena novamente se esquivou.
O moço ficou contrariado.
Ao notar isto, a moça perguntou:
- Nos veremos no colégio?
- Sim. – respondeu o moço secamente.
Antes de descer do carro, a moça deu um beijo no rosto do rapaz.
Nisto o rapaz deixou Lorena a algumas quadras de sua casa.
Irritado, o moço saiu em alta velocidade.
Ao ligar o rádio, Marcos ouviu a canção:
“As coisas estão passando mais depressa
O ponteiro marca 120
O tempo diminui
As árvores passam como vultos
A vida passa, o tempo passa
Estou a 130

As imagens se confundem
Estou fugindo de mim mesmo
Fugindo do passado, do meu mundo assombrado
De tristeza, de incerteza
Estou a 140
Fugindo de você

Eu vou voando pela vida sem querer chegar
Nada vai mudar meu rumo nem me fazer voltar
Vivo, fugindo, sem destino algum
Sigo caminhos que me levam a lugar nenhum

O ponteiro marca 150
Tudo passa ainda mais depressa
O amor, a felicidade
O vento afasta uma lágrima
Que começa a rolar no meu rosto

Estou a 160
Vou acender os faróis, já é noite
Agora são as luzes que passam por mim
Sinto um vazio imenso
Estou só na escuridão
A 180
Estou fugindo de você

Eu vou sem saber pra onde, nem quando vou parar
Não, não deixo marcas no caminho pra não saber voltar
Às vezes sinto que o mundo se esqueceu de mim
Não, não sei por quanto tempo ainda eu vou viver assim

O ponteiro agora marca 190
Por um momento tive a sensação
De ver você a meu lado
O banco está vazio
Estou só a 200 por hora
Vou parar de pensar em você
Pra prestar atenção na estrada

Vou sem saber pra onde, nem quando vou parar
Não, não deixo marcas no caminho pra não saber voltar
Às vezes, às vezes sinto que o mundo se esqueceu de mim
Não, não sei por quanto tempo ainda eu vou viver assim
Eu vou, vou voando pela vida
Sem querer chegar
120...150...200 Km Por Hora - (Roberto Carlos/Erasmo Carlos)”

Marcos corria como um louco.
Furioso, perguntava-se por que as coisas não aconteciam do jeito que ele gostaria.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO

ANOS QUARENTAS – NAS ONDAS DO RÁDIO

Capítulo 8

Semanas mais tarde, Francisco voltou a seu posto na marinha.
Natália chorou.
Mais uma vez, Celina consolou a filha.
Francisco mais uma vez, lutou em batalhas no Atlântico Sul.
Em uma cerimônia de hasteamento da bandeira, a tripulação começou a cantar o Hino da Marinha.
Francisco, era um dos militares que cantava o hino com mais empolgação:
“Qual cisne branco que em noite de lua
Vai deslizando num lago azul.
O meu navio também flutua
Nos verdes mares de Norte a Sul.

Linda galera que em noite apagada
Vai navegando num mar imenso
Nos traz saudades da terra amada
Da Pátria minha em que tanto penso.

Qual linda garça que aí vai cortando os ares
Vai navegando
Sob um belo céu de anil
Minha galera
Também vai cortando os mares
Os verdes mares,
Os mares verdes do Brasil.

Quanta alegria nos traz a volta
À nossa Pátria do coração
Dada por finda a nossa derrota
Temos cumprido nossa missão.
Hino Oficial Da Marinha Brasileira (Cisne Branco)
Composição: Letra: 1º-Ten. Marinha do Brasil Francisco Dias Ribeiro e música: 1º-Sgt.
Exército Brasileiro Antonio Manoel do Espírito Santo"

Ao término da solenidade, os homens ocuparam seus postos.
Francisco então, encaminhando-se para sua posição, começou a sentir uma forte dor na cabeça.
Atoardo, o homem foi ao chão.
Perdera os sentidos.
Os marinheiros, percebendo o ocorrido, ficaram em volta de Francisco.
Cassiano foi chamar o Capitão de Fragata.
Francisco foi levado ao alojamento.
Lá foi examinado pelo doutor Adão.
O médico ao ouvir as queixas do militar, mostrou-lhe algumas letras.
Francisco se esforçava, mas não conseguia enxergar as letras com nitidez.
Cauteloso, o médico sugeriu retormar o exame mais tarde.
O Capitão Clodoaldo, sugeriu que o homem descansasse.
Ao sair do alojamento, percebeu que Cassiano, Glauco, André e Severo estavam a espera de
novidades.
Aflitos, queriam saber se o amigo havia melhorado.
Clodoaldo respondeu que o médico havia examinado o rapaz, mas que ainda era muito cedo para
se fazer um prognóstico.
Com efeito, no dia seguinte, Francisco foi novamente examinado.
Mais uma vez, o rapaz respondeu que não conseguia enxergar as letras com nítidez.
Doutor Adão, pediu então, para que ele identificasse alguns objetos, sem sucesso.
Ao perceber isto, Francisco ficou tomado de desespero.
- Meu Deus! O que está acontecendo?
Nisto, o médico pediu para ele caminhar pelo alojamento.
Francisco trombou nos pés da cama, tropeçou em outras camas e em alguns móveis.
Perplexo, o médico comentou com o Capitão:
- Assim vamos mal!
Clodoaldo percebeu que precisaria transferir o militar para um hospital em terra firme.
Com isto, após alguns dias, Francisco foi transferido.
Doutor Adão recomendou repouso absoluto. Disse-lhe que não devia forçar os olhos.
Ao perceber o desespero do moço, aconselhou-o a não entrar em pânico, e que tudo acabaria bem.
Em resposta as recomendações do médico, Francisco dizia que a cada dia, enxergava menos.
Comentou aflito, que tinha medo que a luz se apagasse definitivamente de seus olhos.
Em dado momento, chegou até a chorar.
Clodoaldo tentava consolá-lo. Em vão.
Mais tarde, o moço tornou a submeter-se aos cuidados de doutor Epitácio, no Uruguai.
Quando finalmente Natália foi informada do ocorrido, tratou logo de arrumar as malas e se dirigir
ao Uruguai.
Ao encontrar o esposo prostrado em uma cama, ficou espantada.
Tanto que chegou a comentar que nem quando estivera ferido, parecia tão abandonado de si. Tão
sofredor.
O médico disse que o homem estava perdendo a visão e que este processo era irrerversível.
Ao ouvir a palavra irreversível, Natália desafiou o doutor. Dizendo que nada era irreversível nesta
vida, informou que iria procurar outros médicos.
Epitácio concordou. Afirmou até, que ela não deveria se ater a uma só opinião médica. Ressaltou
porém, que dificilmente encontraria alguém que poderia dizer-lhe algo diferente.
Ainda assim, a mulher buscou outros médicos.
Auxiliada pelos amigos de Francisco e pelo Capitão de Fragata, senhor Clodoaldo, a moça levou
Francisco de volta para São Paulo.
O moço estava desolado.
Nem a companhia dos amigos, as conversas, a presença da esposa, ou mesmo da filha, o
consolavam.
Ao receber a confirmação de que a perda da visão era progressiva e irreversível, o homem ficou
tomado de desespero.
Nervoso, chegou a gritar com Natália. Exigia que ela o deixasse sozinho.
Por conta disto, a moça saia do quarto, chorando.
Celina, percebendo a frequência destes incidentes, resolveu certa vez, aproximar-se do quarto
onde o moço estava.
Encostada a porta, e sem que Francisco percebesse, a mulher ouviu soluços e suspiros.
Constatou que o homem chorava.
Diante disto, foi conversar com filha.
Tentando de alguma forma, defender o genro, disse que ele estava sofrendo muito mais do que
qualquer uma delas.
Natália por sua vez, continuava a criticar a agressividade do marido.
Celina então, disse:
- Minha filha? Como você gostaria que ele reagisse? Um homem que perdeu todo o referencial
de uma vida. Tudo o que alicerçava sua vida ruiu. Ele vai ter praticamente criar uma vida nova a
partir de agora. Como se fosse outra pessoa. Você acha que isto é pouco? Você acha que está
sendo fácil para ele? Um homem livre, que corria o mundo. Agora preso em um mundo
inesperado, aprisionado em uma realidade totalmente nova, e a qual não gostaria de
experimentar... Minha filha, tenha um pouco de paciência. Esta agressividade vai passar. Ajude o
seu marido.
Natália calou-se.
Celina então retrucou:
- Você não fez um curso de enfermagem para trabalhar no hospital? Pois então volte a trabalhar,
consulte seus amigos médicos, peça uma sugestão de tratamento. Se isto não lhe devolver a visão,
ao menos lhe devolverá a dignidade. Quem sabe não é possível uma vida até determinado ponto,
independente.
O semblante de Natália iluminou-se.
- Será? – indagou.
- Claro! E pode contar comigo no que for necessário. Eu ajudo a cuidar de Lorena e até de
Francisco. Posso preparar uma comida para os dois.
Natália agradeceu o gesto de desprendimento de sua mãe.
Nisto, retomou seu trabalho como enfermeira.
Auxiliada pelos colegas do hospital, começou a ensiná-lo a se orientar, caminhando pela casa.
Separou suas roupas por cor, e explicou a posição em que elas estavam dentro do armário.
Com o tempo, o casal começou a caminhar junto pelas ruas da cidade.
Francisco a esta altura, já utilizava-se de uma bengala.
Muitos, ao perceberem que ele era cego, ficavam com pena.
Natália ficava revoltada.
Certo dia, ao ouvir os comentários, disse:
- A boca fala, do que o coração está cheio. Meu marido não é um coitado para que todos tenham
dó. Mais digno de pena, é quem não cuida da própria vida.
Quem ouviu as palavras de Natália, acabou se desculpando e se afastando.
Na rua em que moravam, nunca mais se ouviu um comentário de pena, sobre a sorte de Francisco.
O homem aprendeu a ser independente.
Passou a cuidar da casa, cuidava de Lorena.
Tornou-se como dissera Celina, uma pessoa independente.
O sorriso voltou ao seus lábios.
Atento, guiava-se pelos sons para saber onde a filha estava.
Nisto, Natália conseguiu uma promoção no hospital.
Francisco por sua vez, ao entrar para a reserva, foi alçado ao posto de Capitão de Corveta.
O casal teve outros filhos: Francisco, Nara, Laura e Andréa.
Natália e Francisco foram muito felizes, em que pesem as dificuldades.
Quando o homem faleceu, Natália foi tomada de profunda tristeza.
Viveram juntos por mais de vinte anos.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.