Poesias

sexta-feira, 10 de julho de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 65

CAPÍTULO 65

Em seguida, ao encerrarem a narrativa, passaram a falar do ‘Bradador’, que segundo os nativos, é um duende que assusta os sertões.
Emite berros altos, "compassados, intermitentes e horríveis".
Atravessa os campos, correndo, todas as sextas-feiras, depois da meia-noite.
É uma alma penada.
Afirmam os caboclos que se trata do espírito de um corpo seco, ou melhor, de uma múmia, que foi desenterrada do cemitério de um povoado, e jaz encostada a um pé de imbuia, completando o seu fado material sobre o solo.
Diz a lenda que a terra não o aceita e só o fará quando este cumprir sua sina.60

60 Lenda oriunda da região sul e sudeste do Brasil.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 64

CAPÍTULO 64

 A primeira foi a ‘Lenda do Barba Ruiva’.
O Barba Ruiva, era um homem de cabelos e barbas avermelhados.
De tempos em tempos, saía da água e deitava-se na areia, tomando banho de sol.
Quem o viu afirma que traz as barbas, as unhas e o peito coberto de lodo.
Não foge ao encontrar os mortais, mas nunca lhes dirigiu qualquer palavra.
Apesar de pacífico, é objeto de medo e todos fogem dele.
Diz-se que era filho de uma mulher que não o desejava, e esta o jogou em uma caçimba. Imediatamente depois do solo, água abundante surgiu e criou-se um lago onde, à noite, ouviam-se relinchos, bater de pratos e o choro de uma criança.

DICIONÁRIO:

cacimba
substantivo feminino
1. cova aberta em terreno úmido ou pantanoso, para recolher a água presente no solo que nela se acumula por ressumação.
2. buraco que se cava até atingir um lençol de água subterrâneo; poço, cisterna.

ressumar
verbo
1. transitivo direto
deixar cair gota a gota; ressudar, gotejar, verter, destilar.
"o filtro ressuma umidade"
2. intransitivo
dar passagem a um líquido; coar, filtrar.
"esta moringa ressuma"

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 63

CAPÍTULO 63 

Ao se aproximarem da vila, os pescadores curiosos, foram logo lhes perguntando se eram turistas.
Fábio e Agemiro disseram que sim.
Ao ouvirem isso, alguns dos pescadores, prestativos, ofereceram hospedagem para os turistas, que aceitaram imediatamente.
Porém, como só iriam pernoitar, os pescadores, animados com a presença dos estranhos, fizeram questão de lhe contar algumas histórias.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 62

CAPÍTULO 62 

Com isso, Felipe juntamente com seus amigos, continuou sua viagem pelo Brasil. 
Sequioso de conhecer o folclore da Região Norte e Centro-Oeste, Felipe, tratou de continuar sua incursão pela região. 
Assim, desejosos de conhecer novas paragens, os cinco rapazes partiram em um monomotor alugado, em direção a tão afamadas regiões. 
Estavam todos tão animados com a viagem, que entre nuvens e paisagens aéreas, puderam vislumbrar a exuberante natureza que fazia parte da região. 
Assim, avistaram grandes matas, florestas aquáticas e grande números de animais, aves em revoada, entre outras coisas. 
Foi nesse momento, no meio da floresta Amazônica, que decidiram pousar e conhecer umas das mais tradicionais festas do lugar. 
A famosa festa de Parintins. 
A cidade fica na Ilha de Tupinambarana, no Rio Amazonas. 
Situada a 420 quilômetros de Manaus, é palco de uma disputa de dois Bois Bumbás. 
O Boi Caprichoso e o Boi Garantido. 
Este espetáculo, conhecido como Festival Folclórico de Parintins, chega a levar cem mil pessoas ao delírio. 
No Bumbódromo – a famosa passarela em forma de boi onde desfilam os dois bois bumbás – todos os que assistem o espetáculo, ficam encantados com a apresentação. 
De cada lado, mais de dez mil participantes, vestidos de iaras, curupiras, serpentes gigantes, rainhas e príncipes encenam a história do boi bumbá – mistura de bumba-meu-boi nordestino com as lendas indígenas. 
O boi, morto para satisfazer o desejo da grávida Catirina, que queria comer a língua do boi, é ressuscitado pelo padre e pelo pajé há setenta anos. 
Muito mais que isso, cada vez mais a festa vem se sofisticando com efeitos especiais e carros alegóricos. 
Além disso o enredo e as luxuosas fantasias mudam a cada ano, e ninguém resiste à passagem da marujada, a conhecida bateria do bumbá. 
O povo animado, ginga no ritmo bunda-de-boi, dois pra lá, dois pra cá. 
Além disso, a cunha-poranga – moça bonita – encanta a todos com sua simpatia. 
Ademais, no restante do ano, o povo amazonense não esquece o boi bumbá. 
Muito pelo contrário, dança o passo do boi nos currais, e danceterias rústicas e improvisadas espalhadas por todas as cidades da região, as quais os turistas foram conhecer. 
Acolhidos pelo gentil povo do lugar, os nativos logo lhes ensinaram os passos da dança, os quais, dedicados, não demoraram muito para aprender. 
Assim, em algumas horas já dançavam a dança do bumbá, como se o fizessem há muitos anos. 
Por conta disso, foram bastante aplaudidos pelos moradores do lugar. 
Gentis, agradeceram a acolhida. 
E assim, ao final de alguns dias, retomaram a viagem. 
Mais uma vez, sobrevoaram a paisagem amazônica. 
Pela janela avistaram o Rio Amazonas, e inúmeras gaiolas – forma como as embarcações da região são conhecidas. 
Embora das alturas parecessem pequenos pontos, os turistas, conhecedores dos meios de transporte fluvial da região, sabiam muito bem que do se que tratava. 
Contudo, não é isso o que importa. 
O importante, é que, impressionados com as dimensões do rio, das alturas puderam então perceber por que falavam que este é o maior rio do mundo. 
Dos céus, avistaram inúmeros igarapés, bem como inúmeras clareiras abertas na floresta. 
Felipe e Fábio ao perceberem isso, ficaram penalizados. 
Chegaram até a comentar: 
--Por conta da ambição os homens são capazes de destruir as coisas mais belas. 
Das alturas, os turistas puderam também se deslumbrar com Rio Amazonas. 
Filho mestiço do amarelo Rio Solimões e do Rio Negro, num acasalamento de doze quilômetros de extensão, que enfinda quando suas águas se misturam, ele segue se destino até chegar ao Atlântico. 
Senhor do maior volume de água do mundo, o rio é tão caudaloso, tão cheio de vida que seria capaz de fornecer a cada vinte e oito segundos, um litro de água para cada habitante da terra. 
Da janela da aeronave, os turistas viram ainda, o porto flutuante de onde partem as expedições pelo rio. 
Aproveitando isso, os cinco rapazes desceram do monomotor e fizeram um passeio de barco. 
De longe os turistas atiram moedas no rio. 
Isso por que, se conseguissem atingir a linha nítida que separa o amarelo do preto, teriam sorte redobrada. 
Por fim, quando os dois rios viram um só, os motores dos barcos são desligados e soam alto os hits do Boi-Bumbá, cantando o encontro das águas. 
Nesse ponto, a selvagem Ilha de Marapatá fica para trás e a próxima paisagem a ver vista é o Parque Ecológico de Janauary. 
Pelo percurso, saltitantes botos-cor-de-rosa escoltam as embarcações próximas, até que uma sucessão de veias se abre ás margens dos rios rumo à floresta. 
A seguir retornado ao avião, os turistas, deslumbrados com a visão área da Amazônia, puderam ver ainda, os canoeiros seguindo em direção a igarapés e igapós – matas inundadas que só deixam a copa das árvores de fora e onde bóiam, como que adormecidas, vitórias-régias de até dois metros de diâmetro. 
Foi então que o piloto contou que: 
-- O maior herói Manauara é Ajuricaba. 
Não perdoou nem o pai por beber caxiri com os portugueses invasores. 
Por isso foi expulso da aldeia e se escondeu na mata. 
Quando o pai morreu atraiçoado, ele voltou para defender seu povo.
Resultado, acabou preso. 
O militar luso Belchior Mendes de Morais tentou levá-lo para Portugal. 
O índio, porém, não aceitou a humilhação. 
E se atirou no mar. 
Os turistas ficaram atentos ouvindo as lendas da região. 
Foi então que o piloto comentou: 
-- A lua nasceu aqui. 
A índia Iaci não podia casar-se com o irmão e foi morar no céu. 
Com suas flechas, ela construiu uma ponte e subiu ao firmamento. 
Hoje, rege a vida noturna na floresta. 
Quando sua luz é fraca, a cobra Boiúna se disfarça de navio a vela, e devora aventureiros desavisados. 
Na terra, seu rastro se transforma em igarapé. 
Flávio e Agemiro ficaram encantados com a narrativa. 
Em seguida o piloto contou a seguinte história: 
-- Outra índia, enamorada, também, tentou subir ao céu. 
Escalou o mais alto dos montes. 
Era muito baixo. 
Viu Iaci refletida num lago e se atirou. 
A musa, admirada com a valentia, transformou-a na vitória-régia, a ‘estrela d’água’. 
Os cinco rapazes ouviam a tudo com muito interesse. 
Por fim, o piloto narrou a história do Curupira: 
-- O Curupira defende as árvores e os animais da floresta. 
Meio divino, meio diabólico, tem forma quase humana. 
Coberto por pêlos avermelhados, emite ruídos assustadores. 
Quando os caçadores tentam fugir, embrenham-se mais na floresta, no rastro falso do Curupira, cujos pés são virados para trás. 
Pela janela do monomotor, os turistas puderam ver ainda a Serra do Navio, entre outras regiões. 
Pelo monomotor avistaram ainda o Rio Madeira, em Rondônia. 
Em suas várzeas as plantações são feitas durante a vazante, e antes que a cheia cubra tudo com as águas, colhe-se tudo o que foi plantado. 
Ao pousarem em terra firme, conheceram a capital. 
Assim em passeio pela capital, visitaram o Palácio Getúlio Vargas, em Porto Velho – sede do governo de Rondônia. 
No centro, avistaram casarões antigos. 
Também foram conhecer a Catedral Sagrado Coração de Jesus, a construção, em estilo clássico-colonial, possuí vitrais com motivos bíblicos. 
A Praça das Três Marias, com três caixas d’água desativadas no começo do século é referência na cidade. 
Aproveitando as praças da cidade, os cinco turistas visitaram a Praça Madeira-Mamoré. 
Trata-se de uma antiga estação ferroviária transformada em praça. 
Seus galpões abrigam o Museu Ferroviário, no qual estaca-se a locomotiva Coronel Church, a primeira a rodar na ferrovia, e uma garagem com trens quebrados. 
Belíssimo ponto de encontro, fica ao lado do Rio Madeira, que possuí alguns bares flutuantes. 
No Museu de Rondônia, conheceram seu acervo. 
Cerâmicas indígenas, fósseis de animais pré-históricos e animais empalhados. 
Ansiosos por participarem de uma festa, os cinco turistas, mais do que depressa se dirigiram ao Arraial Flor de Maracujá. 
Nesta época, estava havendo um concurso de melhor boi-bumbá e melhor quadrilha. 
Assim, os viajantes não podiam perder a oportunidade de conhecer uma festa típica da região. 
De forma que foram até lá e se divertiram muito. 
Com relação as belezas naturais, os cinco turistas aproveitaram para fazer um passeio pelo Rio Madeira. 
No passeio de uma hora pelo afluente do Amazonas, navegaram no meio da selva entre árvores centenárias, aves exóticas e corredeiras de águas verdes. 
As magníficas visões nos mirantes do rio, impressionaram. 
Além disso, durante o passeio, os cinco rapazes conheceram a Cachoeira de Teotônio. 
Formada por violentas corredeiras no trecho onde o Rio Madeira se alarga, em seu entorno, cortando a região, existe uma pequena vila de pescadores. 
Os viajantes, deslumbrados com a beleza do lugar, aproveitaram para fazer uma pequena visita a região.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 61

CAPÍTULO 61

Com isso, quando todos se recolheram, já era madrugada.
Mas, independente disso, todos deveriam levantar-se cedo.
Afinal, no dia seguinte, os tão simpáticos turistas iriam partir, para prosseguirem em viagem por outras paragens.
Como recordação e lembrança da viagem que fizeram, todos ganharam dos moradores da vila algum artesanato.
Cestas de palha e algumas esculturas feitas pelas mulheres.
E ao amanhecer, todos os habitantes da Vila de Itamaracá, fizeram questão de se despedir deles e lhes desejar uma boa viagem.
E assim, os cinco partiram.
Conforme o combinado, alugaram um pequeno avião e partiram.
Da mesma forma que chegaram, foram embora.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 60

CAPÍTULO 60 

Após, ainda animado com a possibilidade de contar suas lendas aos turistas, os pescadores passaram a contar mais sobre a ‘A Lenda da Vitória-régia’:
Ela é considerada a rainha das flores aquáticas.
Nós a encontramos na Amazônia, em Mato Grosso e também nas Guianas.
É cultivada nos jardins botânicos de muitos países, por ser considerada uma planta realmente preciosa.
As folhas maiores podem suportar perto de quarenta quilos de peso!
A flor, branca, se abre ao cair da tarde, perfuma o ar e dura apenas duas noites.
Estava fazendo uma noite muito quente.
O luar era tão claro, que se enxergava quase como se fosse de dia.
Perto da lagoa havia uma importante tribo de índios, que hoje não existe mais.
Entre os índios, havia um velho chefe, muito procurado pelas crianças, que gostavam de ouvir suas histórias.
Como a noite estava quente e o luar muito lindo, o velho cacique havia-se sentado bem perto da lagoa, para descansar e gozar daquela beleza.
Logo que as crianças descobriram que ele estava ali, foram sentar-se perto dele.
Pediram que lhes contasse uma história.
O cacique, porém, estava tão distraído admirando a vitória-régia, que nem percebera a chegada das crianças.
Custou para que ele saísse daquela contemplação.
Por fim, sorriu para elas.
-- O que o senhor estava vendo com tanta atenção? - perguntou uma.
-- Aquela estrela! Aquela bonita estrela. – respondeu o cacique, apontando para a vitória régia.
As crianças ficaram admiradas e trocaram um olhar significativo.
A vitória-régia era uma estrela?
Pobre cacique!
Ele percebeu o espanto das crianças, e lhes disse:
-- Não tenham medo! Não fiquei doido, não. Não acreditam que a vitória-régia seja uma estrela?
Então ouçam:
Faz muitos e muitos anos.
Nem sei quantos.
Em nossa tribo, vivia uma índia, muito moça e muito bonita, a quem haviam contado que a lua era um guerreiro forte e poderoso.
A moça apaixonou-se por esse guerreiro e não quis casar-se com nenhum dos índios da tribo.
Não fazia outra coisa a não ser esperar que a lua surgisse.
Aí, então, punha os olhos no céu e não via mais nada.
Só o poderoso guerreiro.
Muitas vezes, ela saía correndo pela floresta, os braços erguidos, procurando agarrar a lua.
Todos da tribo tinham pena da índia, pena de vê-la dominada por um sonho tão louco.
E o tempo foi passando...
Contudo, o sonho não deixava a pobre moça em paz.
Queria ir para o céu.
Queria transformar-se numa estrela, numa estrela tão bonita, que fosse admirada pela lua.
Mas a lua continuava distante e indiferente, desprezando o desejo da moça.
Quando não havia luar, a jovem permanecia aborrecida em sua oca, sem falar com ninguém.
Eram inúteis os esforços dos amigos e parentes para que ela ficasse com as outras moças.
Continuava recolhida, silenciosa, até a lua aparecer novamente.
Uma noite em que o luar estava mais bonito do que nunca, transformando em prata a paisagem da floresta, a moça repetiu sua tentativa.
Chegando à beira da lagoa, viu a lua refletida no meio das águas tranqüilas e acreditou que ela havia descido do céu para se banhar ali.
Finalmente, ia conhecer o famoso e poderoso guerreiro.
Sem hesitar, a moça atirou-se às águas profundas e nadou em direção à imagem da lua.
Quando percebeu que havia sido ilusão, tentou voltar, mas as forças lhe faltaram e morreu afogada.
A lua, que era, um guerreiro forte e poderoso, uma espécie de deus, viu o que havia acontecido e ficou compadecida.
Sentiu remorso por não ter transformado a formosa índia em uma estrela do céu.
Agora era tarde.
A moça ia pertencer, para sempre, às águas profundas da lagoa.
Porém, já que não era possível torná-la uma estrela do céu, como ela tanto desejara, podia transformá-la numa estrela das águas.
Uma flor que seria a rainha das flores aquáticas.
E, assim, a formosa índia foi transformada na vitória-régia.
À noite, essa maravilhosa flor que abre, permitindo que a lua a ilumine e revele sua impressionante beleza.59

59 (Esta é uma das versões da lenda da vitória-régia) Texto extraído do livro Histórias e Lendas do Brasil (adaptado do texto original de Gonçalves Ribeiro). - São Paulo: APEL Editora, sem/data.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
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sábado, 4 de julho de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 59

CAPÍTULO 59

Com isso, ao terminar a narrativa, Túlio prosseguiu contando a ‘Lenda de Cobra Norato’.
Começou dizendo:
No paraná do Cachoeiri, entre o Amazonas e o Trombetas, nasceram Honorato e sua irmã Maria, Maria Caninana.
A mãe sentiu-se grávida quando se banhava no Rio Claro.
Os filhos eram gêmeos e vieram ao mundo na forma de duas serpentes escuras.
A tapuia batizou-os com os nomes cristãos de Honorato e Maria.
E sacudiu-os nas águas do Paraná porque não podiam viver em terra.
Criaram-se livremente, revirando ao sol os dorsos negros, mergulhando nas marolas e bufando de alegria selvagem.
O povo chamava-os: Cobra Norato e Maria Caninana.
Cobra Norato era forte e bom.
Nunca fez mal a ninguém.
Vez por outra vinha visitar a tapuia velha, no tejupar do Cachoeiri.
Nadava para a margem esperando a noite.
Quando apareciam as estrelas e a aracuã deixava de cantar, Honorato saía d’água, arrastando o corpo enorme pela areia que rangia.
Vinha coleando, subindo, até a barranca.
Sacudia-se todo, brilhando as escamas na luz das estrelas.
E deixava o couro monstruoso da cobra, erguendo-se um rapaz bonito todo de branco.
Ia cear e dormir no tejupar materno.
O corpo da cobra ficava estirado junto do Paraná.
Pela madrugada, antes do último cantar do galo, Honorato descia a barranca, metia-se dentro da cobra que estava imóvel.
Sacudia-se.
E a cobra, viva e feia, remergulhava nas águas do Paraná.
Voltava a ser a Cobra Norato.
A cobra, salvou muita gente de morrer afogada.
Direitou montarias e venceu peixes grandes e ferozes.
Por causa dele a piraíba do Rio Trombetas abandonou a região, depois de uma luta de três dias e três noites.
Já Maria Caninana era violenta e má.
Alagava as embarcações, matava os náufragos, atacava os mariscadores que pescavam, feria os peixes pequenos.
Nunca procurou a velha tapuia que morava no tejupar do Cachoeiri.
No porto da Cidade de Óbidos, no Pará, vivia uma serpente encantadora, dormindo, escondida na terra, com a cabeça debaixo do altar da Senhora Sant’Ana, na igreja que é da mãe de Nossa Senhora.
A cauda está no fundo do rio.
Se a serpente acordar, a Igreja cairá.
Maria Caninana então, mordeu a serpente para ver a Igreja cair.
A serpente não acordou, mas se mexeu.
A terra rachou, desde o mercado até a Matriz de Óbidos.
Aborrecido com a atitude da irmã, Cobra Norato matou Maria Caninana porque ela era violenta e má.
E ficou sozinho, nadando nos igarapés, nos rios, no silêncio dos paranás.
Quando havia putirão de farinha, dabucuri de frutas nas povoações plantadas à beira-rio, Cobra Norato desencantava, na hora em que os aracuãs deixam de cantar, e subia, todo de branco, para dançar e ver as moças, conversar com os rapazes, agradar os velhos.
Todo mundo ficava contente.
Depois, ouviam o rumor da cobra mergulhando.
Era madrugada e Cobra Norato ia cumprir seu destino.
Uma vez por ano Cobra Norato convidava um amigo para desencantá-lo.
Amigo ou amiga.
Podia ir na beira do Paraná, encontrar a cobra dormindo como morta, boca aberta, dentes finos, riscando de prata o escuro da noite: sacudir na boca aberta três pingos de leite de mulher e dar uma cutilada com ferro virgem na cabeça da cobra, estirada no areião.
A cobra fecharia a boca e a ferida daria três gotas de sangue.
E Honorato ficaria só homem, para o resto da vida.
O corpo da cobra seria queimado.
Porém, não fazia mal.
Bastava que alguém tivesse coragem.
Muita gente, com pena de Honorato, foi, com aço virgem e fresquinho leite de mulher, ver a cobra dormindo no barranco.
Era tão grande e tão feia que, mesmo dormindo como morta, assombrava.
A velha tapuia do Cachoeiri, ela mesma foi e teve medo.
Cobra Norato continuou nadando e assobiando nas águas grandes, do Amazonas ao Trombetas, indo e vindo, como um desesperado sem remissão.
Num putirão famoso, Cobra Norato nadou pelo Rio Tocantins, subiu para Cametá.
Deixou o corpo na beira do rio e foi dançar, beber e conversar.
Fez amizade com um soldado e pediu que o desencantasse.
O soldado foi, com o vidrinho de leite e um machado que não cortara pau, aço virgem.
Viu a cobra estirada, dormindo como morta.
Boca aberta.
Sacudiu três pingos de leite entre os dentes.
Desceu o machado, com vontade, no cocuruto da cabeça.
O sangue marejou.
A cobra sacudiu-se e parou.
Honorato deu um suspiro de descanso.
Veio ajudar a queimar a cobra onde vivera tantos anos.
As cinzas voaram.
Honorato ficou homem.
E morreu, anos e anos depois, na Cidade do Cametá, no Pará.
Não há nesse rio e terras do Pará quem ignore a vida da Cobra Norato.
São aventuras e batalhas.
Canoeiros, batendo a jacumã, apontam os cantos, indicando as paragens inesquecidas:
“Ali passava, todo dia, a Cobra Norato...”. 58

SIGNIFICADO:

Significado de Bufando: O mesmo que: arquejando, reclamando.

TEJUPAR
Mucambo (cabana): Mucambo ou mocambo, palhoça ou tejupar são denominações dadas a moradias construídas artesanalmente, muitas vezes de frágil constituição. ... A coberta de colmo usou-se até o século XVIII, de modo que Portugal já nos trazia a tradição do mucambo.

Significado de colear Mover o colo (serpentes). Andar, deslizar, fazendo curvas como a serpente; serpear.

58 Lendas Brasileiras / Câmara Cascudo. - Rio de Janeiro: Ediouro, 2000.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
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