Poesias

quarta-feira, 17 de junho de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 14

CAPÍTULO 14 

Com isso, o pajé passou a falar sobe o Jurupari.9
O Jurupari, é um ente sobrenatural visita os homens em sonhos e causa aflições tanto maiores, quanto trazendo-lhes a faculdade da voz.
Esta concepção que poderá ser a que criaram as amas-de-leite, amalgamando as superstições indígenas, com as de além-mar, tanto vindas da África como da Europa, não é a do nosso indígena.
Para ele Jurupari é o legislador, o filho da virgem sem cópula, pela virtude do sumo da cucura do mato, e que veio mandado pelo Sol, para reformar os costumes da terra, a fim de poder encontrar nela uma mulher perfeita, com o que o Sol possa casar.
Jurupari, conforme contam, ainda não encontrou, e embora ninguém saiba onde, continua a procurá-la, e só voltará ao céu quando a tiver encontrado.
Jurupari é, pois, o antenado lendário, o legislador divinizado, que se encontra como base em todas as religiões e mitos primitivos.
Quando ele apareceu, eram as mulheres que mandavam, e os homens obedeciam, o que era contrário às leis do Sol.
Ele tirou o poder das mãos das mulheres, e o restituiu aos homens e, para que estes aprendessem a ser independentes daquelas, instituiu umas festas, em que somente os homens podem tomar parte, e uns segredos que somente podem ser conhecidos por estes.10
As mulheres que os surpreendem, devem morrer; e em obediência desta lei, morreu Ceuci a própria mãe de Jurupari.
Ainda assim, nem todos os homens conhecem o segredo; só o conhecem os iniciados, os que, chegados à puberdade, derem prova de saber suportar a dor, serem seguros e destemidos.
Os usos, leis e preceitos ensinados por Jurupari e conservados pela tradição ainda hoje professados e escrupulosamente observados por numerosos indígenas da bacia do Amazonas, e embora tudo leve a pensar que Jurupari é um mito Tupi-Guarani, todavia, tenho visto praticadas suas leis por tribos das mais diversas proveniências, e em todo o caso largamente influíram e, pode-se afirmar, influem ainda em muitos lugares do nosso interior sobre usos e costumes atuais, o não conhecê-las, tem decerto produzido mais mal-entendidos, enganos e atritos do que geralmente se pensa.
Ao mesmo tempo, porém, tem permitido, como tem-se dito mais de uma vez, ocasião de observar pessoalmente, que ao lado das leis e costumes trazidos pelo cristianismo e civilização européia, subsistem ainda uns tantos usos e costumes, que embora mais ou menos conscientemente praticados, indicam quão era forte a tradição indígena.
Quanto à origem do nome, aceita-se a explicação que ela foi dada por um velho tapuio, a quem objetava ter sido afirmado que o nome de Jurupari quer dizer “o gerado da fruta” - Intimãã, Iurupari céra onheên putáre o munha iané iurú pari uá.
Nada disso.
O nome de Jurupari quer dizer que fez o fecho da nossa boca.
Vindo, portanto, de iuru boca e pari aquela grade de talas com que se fecham os igarapés e bocas de lagos, para impedir que o peixe saia ou entre.11
A origem Tupi-Guarani do mito é discutível.
Foi divulgado, à força d’armas, no Rio Negro, pelos indígenas da raça Aruaca, vindos do Norte.
É, geograficamente, o mito mais prestigioso, com vestígios vivos em quase todas as tribos.
É um deus legislador e reformador, puro, sóbrio, discursador, exigente no ritual sagrado.
Jurupari-demônio é uma imagem da catequese católica do séc. XVI.
D. Frederico Costa, Bispo do Amazonas, na “Pastorai”, documento de informação etnográfica, não aceitou o satanismo de Jurupari, de quem expôs os oito mandamentos:
1º A mulher deverá conservar-se virgem até a puberdade;
2º Nunca deverá prostituir-se e há de ser sempre fiel a seu marido;
3º Após o parto da mulher, deverá o marido abster-se de todo o trabalho e de toda a comida, pelo espaço de uma lua, a fim de que a força dessa lua passe para a criança;
4º O chefe fraco será substituído pelo mais valente da tribo;
5º O tuxaua (chefe) poderá ter tantas mulheres quantas puder sustentar;
6º A mulher estéril do tuxaua será abandonada e desprezada;
7º O homem deverá sustentar-se com o trabalho de suas mãos;
8º Nunca a mulher poderá ver Jurupari, a fim de castigá-la de algum dos três defeitos nela dominantes: incontinência, curiosidade e facilidade em revelar segredos”.
Os indígenas não adoravam Jurupari.
Um bispo escreveu:
“Parece também evidente que houve erro em identificar Jurupari com o demônio”.
Nenhum demônio possuirá as exigências morais de Jurupari.
O reformador instituiu nas cerimônias instrumentos musicais de sopro, especialmente uma longa trombeta de paxiúba, que um som cavernoso e profundo.
As mulheres não podem, sob pena de morte, ouvir sequer esse som.
Nem os instrumentos musicais, máscaras e outros apetrechos das danças de Jurupari podem ser vistos por mulher e mesmo rapaz não iniciado.12
Com isso o pajé, ao dar-se conta do adiantado da hora, mandou todos os índios se recolherem, pois mais um dia iria se iniciar e todos precisavam trabalhar.

9 Jurupari, o demônio, o espírito mau, segundo todos os dicionários e os missionários, exceção feita do Padre Tastevin. “A palavra jurupari parece corrutela de jurupoari”, escreve Couto de Magalhães em nota da segunda parte do Selvagem, que ao pé da letra traduziríamos - boca mão sobre: tirar da boca. Montoia (Tesoro) traz esta frase: - che jurupoari - tirou-me a palavra da boca. O Dr. Batista Caetano traduz a palavra: “Ser que vem à nossa rede, isto é, ao lugar onde dormimos.” 
10 Concepção patriarcal da época.
11 (Stradelli, Vocabulário da Língua Geral, 497-498). Explicação que me satisfaz, porque de um lado caracteriza a parte mais saliente do ensinamento de Jurupari, a instituição do segredo, e do outro lado, sem esforço se presta a mesma explicação nos vários dialetos Tupi-Guaranis, como se pode ver em Montoia, às vezes iuru e pari e às mesmas vozes em Batista Caetano. 
12 (Stradelli, “Legenda Dell’Jurupary,” Bolletino della Societá Geografica Italiana, terc. série, III, Luglio e segs., Roma, 1890, Em Memória de Stradelli, Manaus, 1936; Geografia dos Mitos Brasileiros, longo estudo sobre Jurupari; Renato Almeida, “Trombeta de Jurupari”, opus cit., 44-48). Stradelli estudou o mito, ouvindo indígenas e assistindo à cena do culto nos afluentes do rio Negro. 

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE - CAPÍTULO 33

CAPÍTULO 33 

E assim o fizeram.
Depois, foram conhecer a Praia de Itapuã.
Situada no final da orla, ficou famosa ao virar tema de Vinícius de Moraes e Dorival Caymmi.
Subdividida em Placaford, Sereia e Farol.
Nesta praia, seu trecho mais disputado é o que fica a caminho do farol.
Na Praia de Piatã, os turistas se divertiram muito com seus coqueiros, areia amarelada e ondas fracas.
No Jardim de Alá, o gramado tomado pelo coqueiral inspira pequeniques à beira-mar.
Pequenique este, que os turistas, ao visitarem a praia, trataram logo de providenciar.
À noite, com a lua, a inspiração é maior.
Porém, como ainda tinham muitos lugares para conhecer, os turistas não passearam de noite na praia.
Mas no dia seguinte, mais do que depressa, foram conhecer a Praia Pituba.
Com muitas pedras na areia amarela e um lindo e um Jardim dos Namorados à beira-mar, o local, era um convite aos casais.
Todavia, os cinco rapazes estavam sozinhos, por isso mesmo só curtiram a praia.
Assim, mais tarde, passearam pela Praia de Amaralina.
Aproveitando suas águas, se divertiram por algumas horas.
Depois, foram comer um acarajé, num dos inúmeros quiosques que ficam na praia.
No Rio Vermelho, os turistas puderam ver os baianos oferecendo prendas a Iemanjá, num famoso ritual da cultura afro-brasileira.
Durante a cerimônia, barcos levam oferendas para a rainha do mar, também conhecida como Mãe d’água.
É a senhora dos ventos, das tempestades e dos destinos dos que se lançam ao mar, recebendo homenagens.
Ela também é conhecida como Nossa Senhora da Conceição.
Em Ondina, os turistas se deslumbraram com suas piscinas naturais e seus jardins com coqueiros.
Além disso, a região possuí muitos bons hotéis.
Passeando pelo Farol da Barra, no começo da Baía de Todos os Santos, o pôr-do-sol é espetacular e o mar, forte, muito bom para surfe.
Os turistas, aproveitando o ensejo, surfaram um pouco.
Já o Porto da Barra, é uma enseada de águas calmas, considerado o melhor banho de mar de Salvador.
Nesta praia, um painel de azulejos mostra a chegada do primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Souza, ocorrida aqui.
Atentos, os turistas observaram cada detalhe do lugar.
Depois, aproveitando para conhecer a Baía de Todos os Santos, fizeram um belíssimo passeio de barco.
Esta baía, considerada a maior do Brasil, possuí uma superfície de mil e cem quilômetros quadrados e cinqüenta e cinco belas ilhas para serem visitadas.
Lá, os turistas os mergulharam em praias primitivas, onde segundo contam, há vários barcos naufragados.
No dia seguinte, os turistas, visitando a Praia de Itaparica, se impressionaram com suas dimensões.
Isso por que a praia possuí trinta e cinco quilômetros.
Lá, condomínios residenciais, luxuosas casas de veraneio e construções coloniais do povoado fundado por jesuítas em 1560, convivem harmoniosamente.
Os turistas então, passeando de balsa, avistaram mais de vinte praias na região.
Estão nesta relação, a Praia de Gameleira, Mar Grande, Cacha-Prego, Penha, entre outras.
À certa altura, se avista a famosa Fonte da Bica com sua água mineral famosa. Sua costa oriental é ladeada por bancos de areia e manguezais. Próximo dali, fica Passos, um pequeno povoado, bem como as Praias da Pontinha e Ponta do Padre.
Na Praia de Frades, muitos coqueiros, mata atlântica, lagos, cachoeiras e vilas de pescadores.
Os turistas também, aproveitaram para conhecer o Parque do Abaeté.
Lá uma lagoa escura, cantada por Caymmi e Caetano Veloso ganhou quatrocentos hectares urbanizados, com restaurantes, quiosques com água de coco, acarajé e doces típicos.
Nesse lugar, as lavadeiras lavavam pilhas de roupas à beira da lagoa.
Com o tempo, foram para no tanque.
Foram vinte e cinco tanques construídos pelo governo na Casa da Lavadeira.
Isso por que o sabão poluía e matava os peixes.
Outra atração do lugar é a Casa da Música.
Neste lugar tem até o Ford 29 que puxou o primeiro trio-elétrico, criado por Dodô em 1950.
No Parque Florestal do Pituaçu, os turistas conheceram a Praia de Pituaçu.
Lá a atração é o Espaço Mário Cravo, com mais de oitocentos trabalhos do artista baiano, entre gravuras, pinturas e esculturas.
Dias antes, os turistas puderam apreciar a Festa de Reis ou Festa da Lapinha, como também é conhecida.
Durante os festejos, os turistas visitaram o presépio da Igreja da Lapinha e a apresentação de Ternos de Reis.
Trata-se de uma tradição portuguesa temperada com molho caboclo.
Na Festa do Bonfim, os turistas participaram de novenas, missas e festas de largo, que antecipam a lavagem da famosa igreja.
Os turistas também puderam ver a Lavagem da Igreja de Itapuã, feita quinze dias antes do Carnaval.
De Piatã à Igreja de Nossa Senhora da Conceição, viram afoxés e blocos carnavalescos.
No final da cerimônia, os turistas tomaram água na escadaria do templo.
Na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, uma procissão, que saí do local, vira festa de largo para louvar a padroeira da Bahia.
Durante a Procissão dos Navegantes, os turistas, avistaram centenas de embarcações seguindo a galeota com o Senhor dos Navegantes.
No dia 31 de dezembro, a festa vira reveillon popular.
Ao apreciarem o carnaval, os turistas puderam se dar conta da loucura baiana.
Trios elétricos, afoxés, blocos afros e cordões, arrastam multidões entre a Praça Principal e o Bairro de Olinda.
A animação corre solta no Farol da Barra e na Praça Castro Alves, onde na madrugada de terça-feira ocorre o encontro dos mais famosos trios-elétricos.
Os turistas, que quiseram desfilar no bloco do Olodum, tiveram que se associar e comprar uma fantasia.
Mais tarde, ‘saíram na pipoca’, pulando com todos os trios que apareceram.
Nos dias que se seguiram, os turistas, percorreram as principais praias do litoral baiano.
Em Porto Sauípe, por exemplo, os turistas avistaram uma pequena vila de pescadores e inúmeras casas de veraneio.
A praia, é cheia de coqueiros, dunas e ondas fortes.
Atravessando de barco o Rio Sauípe, os turistas avistaram uma área para banho, formada na barra, durante a maré baixa.
Já na Praia do Forte, conhecida como a Polinésia brasileira, os turistas puderam apreciar as belezas do lugar com todo o conforto.
A praia badaladíssima e com uma tremenda infra-estrutura, é considerada uma das melhores da região.
Possuí doze quilômetros de praias com coqueiros, recifes e muitas atrações ecológicas.
Além disso, a preservação da paisagem é garantida por um rigoroso controle urbanístico, quem corta um coqueiro, é obrigado a plantar quatro.
Na Praia do Conde, o Pantanal baiano, tem quarenta quilômetros de praias, dunas, manguezais e lagoas.
Em Baía do Itapirucu, vale a pena passear de barco até o Rio do Cavalo Ruço, que forma uma lagoa de águas cristalinas excelente para banhos.
Já a Praia do Sítio é a mais animada, com infra-estrutura de pousadas e restaurantes.
Em Barra do Itariri, os turistas aproveitaram as belezas do lugar, para mais do que depressa, curtir a praia e tirar algumas fotos.
Lá existe, um pequeno povoado de pescadores encravado num cenário deslumbrante de dunas, coqueiros, manguezais e arrecifes.
Ademais, antes de desaguar num mar de águas transparentes, o Rio Itariri faz uma bela e insinuante curva.
Um braço do Rio Itapirucu atravessa a região e reproduz paisagens do pantanal, com muitas garças negras e alguns jacarés, sempre tímidos e difíceis de se ver.
Ao passarem por Imbassaí, os turistas se sentiram na obrigação de parar.
Esta praia, procuradíssima nos fins-de-semana, fica a noventa quilômetros de Salvador, oferece banhos de água doce e salgada – nas piscinas de águas mornas formadas por arrecifes à beira-mar.
No Rio Barroso, paralelo à praia, e na cachoeira do Rio Imbassaí, os turistas se deliciaram em suas águas.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 13

CAPÍTULO 13

Ao contar sobre Juriti-Pepena, o pajé comentou que:
É uma superstição dos índios, em que se crê na vinda de uma juriti invisível que canta numa touceira de tajás.
Os pios lamentosos da ave misteriosa, anunciam desgraças, que serão evitadas por um feiticeiro, pajé, mestre, que saiba rezar, afastando o presságio.
Se não for evitada a profecia da juriti-pepena, a vítima ficará aleijada.

DICIONÁRIO:

Significado de Tajás - O mesmo que: taiobas, tinhorões.

taioba - substantivo feminino
1. BRASILEIRISMO•BRASIL
erva ( Xanthosoma violaceum ) da fam. das aráceas, nativa de regiões tropicais das Américas, de folhas sagitadas, grandes, com pecíolo longo, comestíveis, tubérculos tb. us. como alimento e inflorescência envolta por espata verde-acinzentada com as margens arroxeadas; arão, aro, bezerro, jarro, mangarito-grande, mangarito-roxo, pé-de-bezerro, taiá, taiá-açu, taiaúva, taiova, tajá, tajá-açu, tajabuçu, talo, taro, tarro.
2. BRASILEIRISMO•BRASIL
m.q. MANGARITO ('designação comum').

tinhorão - substantivo masculino ANGIOSPERMAS
1. erva ( Caladium bicolor ) da fam. das aráceas, nativa do Brasil e Peru, de folhas cordiformes, oblongas, peltadas, com pecíolo longo, verdes manchadas de branco ou verdes com o centro vermelho, e espata tubulosa e branca; apresenta propriedades anticatarrais e vermífugas, mas é muito venenosa; brasileira, taiá, tajá, tajurá, tambatajá, tinhorão-de-lombriga.
2. design. comum a diversas variedades e cultivares dessa espécie, que apresentam grande diversidade no tamanho, forma e variegação das folhas.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 12

CAPÍTULO 12

Depois, passou a falar sobre Iapinari. 
Filho de mulher virgem, Iapinari nasceu cego e recobrou a visão, esfregando o sumo dos olhos do cancão (Cianocorax cyanoleucus). 
Era grande tocador de membi, tornando-se famoso. 
Ficaria cego novamente, se a mãe revelasse a outra pessoa, o segredo que lhe dera a luz dos olhos. Apaixonada por um moço, a mãe de Iapinari contou o segredo, e o filho voltou a cegar, precipitando-se no rio, onde se tornou um rochedo. 
A mãe, moças e rapazes da tribo que seguiram Iapinari, também ficaram encantados. 
Lenda do Rio Uaupés, Rio Negro, Amazonas. 
A pedra Iapinari fica entre as cachoeiras de Tucunaré e Uaracapuri.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 11

CAPÍTULO 11

 Em seguida o pajé passou a contar sobre a Curacanga.
Um lobisomem, cuja cabeça se solta do corpo, e que denominam Curacanga, é sempre a concubina de um padre, ou a sétima filha do seu amor sacrílego.
O corpo fica em casa, e a cabeça, sozinha, sai, durante a noite de sexta-feira, e voa pelos ares como um globo de fogo.
Curacanga:
“Quando qualquer mulher tem sete filhas, a última vira Curacanga, isto é, a cabeça lhe sai do corpo, à noite, e, em forma de bola de fogo, gira à toa pelos campos, apavorando a quem encontrar nessa estranha vagabundeação.
Há, porém, meio infalível de evitar-se esse hórrido fadário: é tomar a mãe, a filha mais velha para madrinha da ultimogênita.”8

8 A Cumacanga é do Pará e a Curacanga, idêntica, é do Maranhão. A cabeça luminosa é um elemento comum aos mitos do fogo, punição, encanto, indicação de ouro ou contos etiológicos. Os indígenas caxinauás, panos do Estado do Acre, explicam a origem da Lua como uma cabeça que subiu ao céu.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos 
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 10

CAPÍTULO 10

Após, prosseguiu contando a ‘Lenda do M'boitatá’.
Foi assim:
Num tempo muito, muito antigo, houve uma noite tão comprida que pareceu que nunca mais haveria luz do dia.
Noite escura como breu, sem lume no céu, sem vento, sem serenada e sem rumores, sem cheiro dos pastos maduros nem das flores da mataria.
Os homens viveram abichornados, na tristeza dura.
E porque churrasco não havia, não mais sopravam labaredas nos fogões e passavam comendo canjica insossa.
Os borralhos estavam se apagando e era preciso poupar os tições...
Os olhos andavam tão enfarados da noite, que ficavam parados, horas e horas, olhando sem ver as brasas somente, porque as faíscas, que alegram, não saltavam, por falta do sopro forte de bocas contentes.
Naquela escuridão fechada, nenhum tapejara seria capaz de cruzar pelos trilhos do campo, nenhum flete crioulo teria faro, nem ouvido, nem vista para abster na querência, até nem sorro daria no seu próprio rastro!
E a noite velha ia andando... ia andando...
Minto:
No meio do escuro e do silêncio morto, de vez em quando, ora duma banda ora doutra, de vez em quando uma cantiga forte, de bicho vivente, furava o ar.
Era o téu-téu ativo, que não dormia desde o entrar do último sol e que vigiava sempre, esperando a volta do sol novo, que devia vir e que tardava tanto já...
Só o téu-téu de vez em quando cantava; o seu - quero-quero! - tão claro, vindo de lá do fundo da escuridão, ia se agüentando a esperança dos homens, amontoados no redor avermelhado das brasas.
Fora disto, tudo o mais era silêncio; e de movimento, então, nem nada.
Minto:
Na última tarde em que houve sol, quando o sol ia descambando para o outro lado das coxilhas, rumo do minuano, e de onde sobe a estrela-d'alva, nessa última tarde também desabou uma chuvarada tremenda.
Foi uma manga d'água que levou um tempão a cair, e durou... e durou...
Os campos foram inundados; as lagoas subiram e se largaram em fias coleando pelos tacuruzais e banhados, que se juntaram, todos, num; os passos cresceram e todo aquele peso d'água correu para as sangas e das sangas para os arroios, que ficaram bufando, campo fora, campo fora, afogando as canhadas, batendo no lombo das coxilhas.
E nessas coroas é que ficou sendo o paradouro da animalada, tudo misturado, no assombro.
E eram terneiros e pumas, tourada e potrilhos, perdizes e guaraxains, tudo amigo, de puro medo.
E então!...
Nas copas dos butiás vinham encostar-se bolos de formigas; as cobras se enroscavam na enrediça dos aguapés; e nas estivas do santa-fé e das tiriricas boiavam os ratões e outros miúdos.
E, como a água encheu todas as tocas, entrou também na da cobra-grande, a – boiguaçu – que, havia já muitas mãos de luas, dormia quieta, entanguida.
Ela então acordou-se e saiu, rabeando.
Começou depois a mortandade dos bichos e a boiguaçu pegou a comer carniça.
Mas só comia os olhos e nada, nada mais.
A água foi baixando, a carniça foi cada vez engrossando, e a cada hora mais olhos a cobra-grande comia.
Cada bicho guarda no corpo o sumo do que comeu.
A tambeira que só come trevo maduro, dá no leite o cheiro doce do milho verde.
O cerdo que come carne de bagual nem vinte alqueires de mandioca o limpam bem, e o socó tristonho e o biguá matreiro até no sangue têm cheiro de pescado.
Assim também, nos homens, que até sem comer nada, dão nos olhos a cor de seus arrancos.
O homem de olhos limpos é guapo e mão-aberta; cuidado com os vermelhos; mais cuidado com os amarelos; e, toma tenência doble com os raiados e baços!...
Assim foi também, mas doutro jeito, com a boiguaçu, que tantos olhos comeu.
Todos - tantos, tantos! que a cobra-grande comeu -, guardavam, entrenhado e luzindo, um rastilho da última luz que eles viram do último sol, antes da noite grande que caiu...
E os olhos - tantos, tanto! - com um pingo de luz cada um, foram sendo devorados; no princípio um punhado, ao depois uma porção, depois um bocadão, depois, como uma braçada...
E vai...
Como a boiguaçu não tinha pêlos como o boi, nem escamas como o dourado, nem penas como o avestruz, nem casca como o tatu, nem couro grosso como a anta, vai, o seu corpo foi ficando transparente, transparente, clareando pelos miles de luzezinhas, dos tantos olhos que foram sendo esmagados dentro dele, deixando cada qual sua pequena réstia de luz.
E vai, afinal, a boiguaçu toda já era uma luzerna, um clarão sem chamas, já era um fogaréu azulado, de luz amarela e triste e fria, saída dos olhos, que fora guardada neles, quando ainda estavam vivos.
Foi assim e foi por isso que os homens, quando pela primeira vez viram a boiguaçu tão demudada, não a conheceram mais.
Não conheceram e julgando que era outra, muito outra, chamam-na desde então, de boitatá, cobra do fogo, boitatá, a boitatá!
E muitas vezes a boitatá rondou as rancherias, faminta, sempre que nem chimarrão.
Era então que o téu-téu cantava, como o bombeiro.
E os homens, por curiosos, olhavam pasmados, para aquele grande corpo de serpente, transparente - tatá, de fogo-que media mais braças que três laços de conta e ia aluminando baçamente as carquejas...
E depois, choravam.
Choravam, desatinados do perigo, pois as suas lágrimas também guardavam tanta ou mais luz que só os olhos e a boitatá ainda cobiçava os olhos vivos dos homens, que já os das carniças a enfaravam...
Mas, como dizia:
Na escuridão só avultava o clarão baço do corpo da boitatá, e era ela que o téu-téu cantava de vigia, em todos os flancos da noite.
Passado um tempo, a boitatá morreu: de pura fraqueza morreu, porque os olhos comidos encheram-lhe o corpo mas lhe não deram substância, pois que sustância não tem a luz que os olhos em si entranhada tiveram quando vivos...
Depois de rebolar rabiosa nos montes de carniça, sobre os couros pelados, sobre as carnes desfeitas, sobre as cabelamas soltas, sobre as ossamentas desparramadas, o corpo dela desmanchou-se, também como cousa da terra, que se estraga de vez.
E foi então, que a luz que estava presa se desatou por aí.
E até pareceu cousa mandada: o sol apareceu de novo!
Minto:
Apareceu sim, mas não veio de supetão.
Primeiro foi-se adelgaçando o negrume, foram despontando as estrelas; e estas se foram sumindo no coloreado do céu.
Depois se foi sendo mais claro, mais claro, e logo, na lonjura, começou a subir um rastro de luz..., depois a metade de uma cambota de fogo... e já foi o sol que subiu, subiu, subiu, até vir a pino e descambar, como dantes, e desta feita, para igualar o dia e a noite, em metades, para sempre.
Tudo o que morre no mundo se junta à semente de onde nasceu, para nascer de novo.
Só a luz da boitatá ficou sozinha, nunca mais se juntou com a outra luz de que saiu.
Anda arisca e só, nos lugares onde quanta mais carniça houve, mais se infesta.
E no inverno, de entanguida, não aparece e dorme, talvez entocada.
Mas de verão, depois da quentura dos mormaços, começa então o seu fadário.
A boitatá, toda enroscada, como uma bola - tatá, de fogo! -, empeça a correr o campo, coxilha abaixo, lomba acima, até que horas da noite!...
É um fogo amarelo e azulado, que não queima a macega seca nem aquenta a água dos manatiais, e rola, gira, corre, corcoveia e se despenca e arrebenta-se, apagado... e quando um menos espera, aparece, outra vez, do mesmo jeito!
Maldito!
Tesconjuro!
Quem encontra a boitatá pode até ficar cego...
Quando alguém topa com ela só tem dois meios de se livrar: ou ficar parado, muito quieto, de olhos fechados apertado e sem respirar, até ir-se ela embora, ou, se anda a cavalo, desenrodilhar o láco, fazer uma armada grande e atirar-lha por cima, e tocar a galope, trazendo o laço de arrasto, todo solto, até a ilhapa!
A boitatá vem acompanhando o ferro da argola... mas de repente, batendo numa macega, toda se desmancha, e vai esfarinhando a luz, para emulitar-se de novo, com vagar, na aragem que ajuda. Campeiro precatado!
Reponte o seu gado de querência da boitatá: o pastiçal, aí, faz peste...
Tenho visto!7

DICIONÁRIO:
abichornado - adjetivo SUL DO BRASIL
1. que se tornou abafado, sufocante; abochornado.
2. que se tornou abatido, desanimado.

tapejara - substantivo de dois gêneros
1. BRASILEIRISMO•BRASIL S. B C.-O. MG aquele que conhece bem o território; baqueano, vaqueano.
2. POR EXTENSÃO•RIO GRANDE DO SUL pessoa que dirige com segurança qualquer navio.

flete - substantivo masculino RIO GRANDE DO SUL
cavalo bom e formoso, arreado com luxo e elegância.

butiá - substantivo masculino ANGIOSPERMAS
1. design. comum às palmeiras do gên. Butia, com oito spp., nativas da América do Sul, ger. de estipe médio, com cicatriz de pecíolos antigos, longas folhas penatífidas us. em obras trançadas, e pequenas drupas comestíveis, com semente oleaginosa.
2. m.q. OURICURI (Syagrus coronata).

Tambeira - Garrota - Novilha.

enfarar - Fazer com que (alguém) sinta enfaro (enjoo ou aborrecimento); entediar-se. Etimologia (origem da palavra enfarar). De origem questionável.

precatado - adjetivo - que se precatou; aprecatado, acautelado, prevenido.

7 Lenda do Sul.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 9

CAPÍTULO 9

Dessa forma, passou a contar sobre a ‘Lenda de Mani’.
Começa assim:
Em tempos idos, apareceu grávida a filha dum chefe selvagem.5
O chefe quis punir no autor da desonra de sua filha, a ofensa que sofrera seu orgulho e, para saber quem ele era, empregou debalde, rogos, ameaças e por fim castigos severos.
Tanto diante dos rogos, como diante dos castigos, a moça permaneceu inflexível, dizendo que nunca tinha tido relação com homem algum.
O chefe tinha deliberado matá-la, quando lhe apareceu em sonho um homem branco, que lhe disse que não matasse a moça, porque ela efetivamente era inocente, e não tinha tido relação com homem.
Passados os nove meses, ela deu à luz uma menina lindíssima e branca, causando este último fato a surpresa não só da tribo, como das nações vizinhas, que vieram visitar a criança, para ver aquela nova e desconhecida raça.
A criança, que teve o nome de Mani e que andava e falava precocemente, morreu ao cabo de um ano, sem ter adoecido e sem dar mostras de dor.
Foi ela enterrada dentro da própria casa, descobrindo-se e regando-se diariamente a sepultura, segundo o costume do povo.
Ao cabo de algum tempo, brotou da cova uma planta que, por ser inteiramente desconhecida, deixaram de arrancar.
Cresceu, floresceu e deu frutos.
Os pássaros que comeram os frutos se embriagaram, e este fenômeno, desconhecido dos índios, aumentou-lhes a superstição pela planta.
A terra afinal fendeu-se, cavaram-na e julgaram reconhecer, no fruto que encontraram, o corpo de Mani.
Comeram-no e assim aprenderam a usar a mandioca.6
Um dos índios, ao ouvir a história, comentou:
-- Quer dizer que foi assim que surgiu a mandioca?
O pajé assentiu com a cabeça.

5 Lenda originária da região do Pará. 
6 (O Selvagem, p.134-135). Mani - Menina de cujo corpo nasceu a mandioca, Manihot utilíssima Pohl., euforbiácea, base da alimentação brasileira. O nome mandioca proviria de Mani-óca, casa de Mani. É lenda da raça tupi. A lenda de Mani foi registrada por Couto de Magalhães em 1876. Dicionário do Folclore Brasileiro / Câmara Cascudo. - Rio de Janeiro: Ediouro Publicações. S.A. sem data.  

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
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