Poesias

quarta-feira, 17 de junho de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 12

CAPÍTULO 12

Depois, passou a falar sobre Iapinari. 
Filho de mulher virgem, Iapinari nasceu cego e recobrou a visão, esfregando o sumo dos olhos do cancão (Cianocorax cyanoleucus). 
Era grande tocador de membi, tornando-se famoso. 
Ficaria cego novamente, se a mãe revelasse a outra pessoa, o segredo que lhe dera a luz dos olhos. Apaixonada por um moço, a mãe de Iapinari contou o segredo, e o filho voltou a cegar, precipitando-se no rio, onde se tornou um rochedo. 
A mãe, moças e rapazes da tribo que seguiram Iapinari, também ficaram encantados. 
Lenda do Rio Uaupés, Rio Negro, Amazonas. 
A pedra Iapinari fica entre as cachoeiras de Tucunaré e Uaracapuri.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 11

CAPÍTULO 11

 Em seguida o pajé passou a contar sobre a Curacanga.
Um lobisomem, cuja cabeça se solta do corpo, e que denominam Curacanga, é sempre a concubina de um padre, ou a sétima filha do seu amor sacrílego.
O corpo fica em casa, e a cabeça, sozinha, sai, durante a noite de sexta-feira, e voa pelos ares como um globo de fogo.
Curacanga:
“Quando qualquer mulher tem sete filhas, a última vira Curacanga, isto é, a cabeça lhe sai do corpo, à noite, e, em forma de bola de fogo, gira à toa pelos campos, apavorando a quem encontrar nessa estranha vagabundeação.
Há, porém, meio infalível de evitar-se esse hórrido fadário: é tomar a mãe, a filha mais velha para madrinha da ultimogênita.”8

8 A Cumacanga é do Pará e a Curacanga, idêntica, é do Maranhão. A cabeça luminosa é um elemento comum aos mitos do fogo, punição, encanto, indicação de ouro ou contos etiológicos. Os indígenas caxinauás, panos do Estado do Acre, explicam a origem da Lua como uma cabeça que subiu ao céu.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 10

CAPÍTULO 10

Após, prosseguiu contando a ‘Lenda do M'boitatá’.
Foi assim:
Num tempo muito, muito antigo, houve uma noite tão comprida que pareceu que nunca mais haveria luz do dia.
Noite escura como breu, sem lume no céu, sem vento, sem serenada e sem rumores, sem cheiro dos pastos maduros nem das flores da mataria.
Os homens viveram abichornados, na tristeza dura.
E porque churrasco não havia, não mais sopravam labaredas nos fogões e passavam comendo canjica insossa.
Os borralhos estavam se apagando e era preciso poupar os tições...
Os olhos andavam tão enfarados da noite, que ficavam parados, horas e horas, olhando sem ver as brasas somente, porque as faíscas, que alegram, não saltavam, por falta do sopro forte de bocas contentes.
Naquela escuridão fechada, nenhum tapejara seria capaz de cruzar pelos trilhos do campo, nenhum flete crioulo teria faro, nem ouvido, nem vista para abster na querência, até nem sorro daria no seu próprio rastro!
E a noite velha ia andando... ia andando...
Minto:
No meio do escuro e do silêncio morto, de vez em quando, ora duma banda ora doutra, de vez em quando uma cantiga forte, de bicho vivente, furava o ar.
Era o téu-téu ativo, que não dormia desde o entrar do último sol e que vigiava sempre, esperando a volta do sol novo, que devia vir e que tardava tanto já...
Só o téu-téu de vez em quando cantava; o seu - quero-quero! - tão claro, vindo de lá do fundo da escuridão, ia se agüentando a esperança dos homens, amontoados no redor avermelhado das brasas.
Fora disto, tudo o mais era silêncio; e de movimento, então, nem nada.
Minto:
Na última tarde em que houve sol, quando o sol ia descambando para o outro lado das coxilhas, rumo do minuano, e de onde sobe a estrela-d'alva, nessa última tarde também desabou uma chuvarada tremenda.
Foi uma manga d'água que levou um tempão a cair, e durou... e durou...
Os campos foram inundados; as lagoas subiram e se largaram em fias coleando pelos tacuruzais e banhados, que se juntaram, todos, num; os passos cresceram e todo aquele peso d'água correu para as sangas e das sangas para os arroios, que ficaram bufando, campo fora, campo fora, afogando as canhadas, batendo no lombo das coxilhas.
E nessas coroas é que ficou sendo o paradouro da animalada, tudo misturado, no assombro.
E eram terneiros e pumas, tourada e potrilhos, perdizes e guaraxains, tudo amigo, de puro medo.
E então!...
Nas copas dos butiás vinham encostar-se bolos de formigas; as cobras se enroscavam na enrediça dos aguapés; e nas estivas do santa-fé e das tiriricas boiavam os ratões e outros miúdos.
E, como a água encheu todas as tocas, entrou também na da cobra-grande, a – boiguaçu – que, havia já muitas mãos de luas, dormia quieta, entanguida.
Ela então acordou-se e saiu, rabeando.
Começou depois a mortandade dos bichos e a boiguaçu pegou a comer carniça.
Mas só comia os olhos e nada, nada mais.
A água foi baixando, a carniça foi cada vez engrossando, e a cada hora mais olhos a cobra-grande comia.
Cada bicho guarda no corpo o sumo do que comeu.
A tambeira que só come trevo maduro, dá no leite o cheiro doce do milho verde.
O cerdo que come carne de bagual nem vinte alqueires de mandioca o limpam bem, e o socó tristonho e o biguá matreiro até no sangue têm cheiro de pescado.
Assim também, nos homens, que até sem comer nada, dão nos olhos a cor de seus arrancos.
O homem de olhos limpos é guapo e mão-aberta; cuidado com os vermelhos; mais cuidado com os amarelos; e, toma tenência doble com os raiados e baços!...
Assim foi também, mas doutro jeito, com a boiguaçu, que tantos olhos comeu.
Todos - tantos, tantos! que a cobra-grande comeu -, guardavam, entrenhado e luzindo, um rastilho da última luz que eles viram do último sol, antes da noite grande que caiu...
E os olhos - tantos, tanto! - com um pingo de luz cada um, foram sendo devorados; no princípio um punhado, ao depois uma porção, depois um bocadão, depois, como uma braçada...
E vai...
Como a boiguaçu não tinha pêlos como o boi, nem escamas como o dourado, nem penas como o avestruz, nem casca como o tatu, nem couro grosso como a anta, vai, o seu corpo foi ficando transparente, transparente, clareando pelos miles de luzezinhas, dos tantos olhos que foram sendo esmagados dentro dele, deixando cada qual sua pequena réstia de luz.
E vai, afinal, a boiguaçu toda já era uma luzerna, um clarão sem chamas, já era um fogaréu azulado, de luz amarela e triste e fria, saída dos olhos, que fora guardada neles, quando ainda estavam vivos.
Foi assim e foi por isso que os homens, quando pela primeira vez viram a boiguaçu tão demudada, não a conheceram mais.
Não conheceram e julgando que era outra, muito outra, chamam-na desde então, de boitatá, cobra do fogo, boitatá, a boitatá!
E muitas vezes a boitatá rondou as rancherias, faminta, sempre que nem chimarrão.
Era então que o téu-téu cantava, como o bombeiro.
E os homens, por curiosos, olhavam pasmados, para aquele grande corpo de serpente, transparente - tatá, de fogo-que media mais braças que três laços de conta e ia aluminando baçamente as carquejas...
E depois, choravam.
Choravam, desatinados do perigo, pois as suas lágrimas também guardavam tanta ou mais luz que só os olhos e a boitatá ainda cobiçava os olhos vivos dos homens, que já os das carniças a enfaravam...
Mas, como dizia:
Na escuridão só avultava o clarão baço do corpo da boitatá, e era ela que o téu-téu cantava de vigia, em todos os flancos da noite.
Passado um tempo, a boitatá morreu: de pura fraqueza morreu, porque os olhos comidos encheram-lhe o corpo mas lhe não deram substância, pois que sustância não tem a luz que os olhos em si entranhada tiveram quando vivos...
Depois de rebolar rabiosa nos montes de carniça, sobre os couros pelados, sobre as carnes desfeitas, sobre as cabelamas soltas, sobre as ossamentas desparramadas, o corpo dela desmanchou-se, também como cousa da terra, que se estraga de vez.
E foi então, que a luz que estava presa se desatou por aí.
E até pareceu cousa mandada: o sol apareceu de novo!
Minto:
Apareceu sim, mas não veio de supetão.
Primeiro foi-se adelgaçando o negrume, foram despontando as estrelas; e estas se foram sumindo no coloreado do céu.
Depois se foi sendo mais claro, mais claro, e logo, na lonjura, começou a subir um rastro de luz..., depois a metade de uma cambota de fogo... e já foi o sol que subiu, subiu, subiu, até vir a pino e descambar, como dantes, e desta feita, para igualar o dia e a noite, em metades, para sempre.
Tudo o que morre no mundo se junta à semente de onde nasceu, para nascer de novo.
Só a luz da boitatá ficou sozinha, nunca mais se juntou com a outra luz de que saiu.
Anda arisca e só, nos lugares onde quanta mais carniça houve, mais se infesta.
E no inverno, de entanguida, não aparece e dorme, talvez entocada.
Mas de verão, depois da quentura dos mormaços, começa então o seu fadário.
A boitatá, toda enroscada, como uma bola - tatá, de fogo! -, empeça a correr o campo, coxilha abaixo, lomba acima, até que horas da noite!...
É um fogo amarelo e azulado, que não queima a macega seca nem aquenta a água dos manatiais, e rola, gira, corre, corcoveia e se despenca e arrebenta-se, apagado... e quando um menos espera, aparece, outra vez, do mesmo jeito!
Maldito!
Tesconjuro!
Quem encontra a boitatá pode até ficar cego...
Quando alguém topa com ela só tem dois meios de se livrar: ou ficar parado, muito quieto, de olhos fechados apertado e sem respirar, até ir-se ela embora, ou, se anda a cavalo, desenrodilhar o láco, fazer uma armada grande e atirar-lha por cima, e tocar a galope, trazendo o laço de arrasto, todo solto, até a ilhapa!
A boitatá vem acompanhando o ferro da argola... mas de repente, batendo numa macega, toda se desmancha, e vai esfarinhando a luz, para emulitar-se de novo, com vagar, na aragem que ajuda. Campeiro precatado!
Reponte o seu gado de querência da boitatá: o pastiçal, aí, faz peste...
Tenho visto!7

DICIONÁRIO:
abichornado - adjetivo SUL DO BRASIL
1. que se tornou abafado, sufocante; abochornado.
2. que se tornou abatido, desanimado.

tapejara - substantivo de dois gêneros
1. BRASILEIRISMO•BRASIL S. B C.-O. MG aquele que conhece bem o território; baqueano, vaqueano.
2. POR EXTENSÃO•RIO GRANDE DO SUL pessoa que dirige com segurança qualquer navio.

flete - substantivo masculino RIO GRANDE DO SUL
cavalo bom e formoso, arreado com luxo e elegância.

butiá - substantivo masculino ANGIOSPERMAS
1. design. comum às palmeiras do gên. Butia, com oito spp., nativas da América do Sul, ger. de estipe médio, com cicatriz de pecíolos antigos, longas folhas penatífidas us. em obras trançadas, e pequenas drupas comestíveis, com semente oleaginosa.
2. m.q. OURICURI (Syagrus coronata).

Tambeira - Garrota - Novilha.

enfarar - Fazer com que (alguém) sinta enfaro (enjoo ou aborrecimento); entediar-se. Etimologia (origem da palavra enfarar). De origem questionável.

precatado - adjetivo - que se precatou; aprecatado, acautelado, prevenido.

7 Lenda do Sul.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 9

CAPÍTULO 9

Dessa forma, passou a contar sobre a ‘Lenda de Mani’.
Começa assim:
Em tempos idos, apareceu grávida a filha dum chefe selvagem.5
O chefe quis punir no autor da desonra de sua filha, a ofensa que sofrera seu orgulho e, para saber quem ele era, empregou debalde, rogos, ameaças e por fim castigos severos.
Tanto diante dos rogos, como diante dos castigos, a moça permaneceu inflexível, dizendo que nunca tinha tido relação com homem algum.
O chefe tinha deliberado matá-la, quando lhe apareceu em sonho um homem branco, que lhe disse que não matasse a moça, porque ela efetivamente era inocente, e não tinha tido relação com homem.
Passados os nove meses, ela deu à luz uma menina lindíssima e branca, causando este último fato a surpresa não só da tribo, como das nações vizinhas, que vieram visitar a criança, para ver aquela nova e desconhecida raça.
A criança, que teve o nome de Mani e que andava e falava precocemente, morreu ao cabo de um ano, sem ter adoecido e sem dar mostras de dor.
Foi ela enterrada dentro da própria casa, descobrindo-se e regando-se diariamente a sepultura, segundo o costume do povo.
Ao cabo de algum tempo, brotou da cova uma planta que, por ser inteiramente desconhecida, deixaram de arrancar.
Cresceu, floresceu e deu frutos.
Os pássaros que comeram os frutos se embriagaram, e este fenômeno, desconhecido dos índios, aumentou-lhes a superstição pela planta.
A terra afinal fendeu-se, cavaram-na e julgaram reconhecer, no fruto que encontraram, o corpo de Mani.
Comeram-no e assim aprenderam a usar a mandioca.6
Um dos índios, ao ouvir a história, comentou:
-- Quer dizer que foi assim que surgiu a mandioca?
O pajé assentiu com a cabeça.

5 Lenda originária da região do Pará. 
6 (O Selvagem, p.134-135). Mani - Menina de cujo corpo nasceu a mandioca, Manihot utilíssima Pohl., euforbiácea, base da alimentação brasileira. O nome mandioca proviria de Mani-óca, casa de Mani. É lenda da raça tupi. A lenda de Mani foi registrada por Couto de Magalhães em 1876. Dicionário do Folclore Brasileiro / Câmara Cascudo. - Rio de Janeiro: Ediouro Publicações. S.A. sem data.  

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 8

CAPÍTULO 8

Em seguida o pajé passou a contar sobre a ‘Lenda das Amazonas‘:
Em 1542, Frei Gaspar de Carvajal, escrivão da frota espanhola de Francisco Orellana, ao penetrar num enorme rio brasileiro, que ele chamou de "Mar Dulce", encontrou mulheres guerreiras, tendo sido por elas atacado.
O medo foi tanto que o frade escriba, ao vê-las jovens, belicosas, nuas, chegou a afirmar que queimavam um dos seios para melhor manejar o arco e a flecha.
Confundiu-as com o mito grego das Amazonas.
E o grande rio foi batizado como: - o Rio das Amazonas, Rio Amazonas.
Contam que no Reino das Pedras Verdes somente vivem mulheres - as Amazonas.
Trabalham muito.
Caçam, pescam.
Fazem cerâmica, redes, tecido, enfeitados de penas.
Trabalham na roça.
Fazem armas.
É uma comunidade onde todos possuem tudo em comum.
A direção está nas mãos de uma das Amazonas, que exerce também função religiosa, dirigindo as festas.
Seu reinado é curto, somente as virgens de vinte a vinte e cinco anos, podem disputar a chefia das Amazonas.
A cada cinco luas cheias, no mês de abril (cinco anos), há renovação do comando das Amazonas.
As Amazonas fazem um amuleto famoso - o muiraquitã.
É uma raridade.
Os próprios índios afirmam que não sabem como fabricá-lo.
Dizem que o muiraquitã vem de um lugar muito distante, da terra das mulheres sem marido, do país das mulheres guerreiras ...
Em um lago enorme - jaci-uaruá, no mês de abril de todos os anos, quando a lua cheia aparece, as Amazonas mergulham no lago e do fundo trazem um punhado de barro.
Com este barro limoso modelam figuras: peixes, rãs, tartarugas.
O mais comum é a rã, símbolo de fertilidade.
O amuleto é perfurado para ser usado no pescoço.
O barro tem que ser modelado depressa, ainda debaixo da água, porque o luar faz endurecer o limo verde.
Nesta mesma noite elas recebem a visita dos homens de uma tribo vizinha.
É a noite nupcial.
Só os índios que já lhe deram uma filha, recebem o muiraquitã.
Os que lhes deram um filho terão que levar o menino para a sua aldeia, porque entre as Amazonas só vivem mulheres.
Os índios contam assim.4
Os índios, ao ouvirem a narrativa do pajé, ficaram impressionados.
Afinal de contas, como ele podia saber tantas coisas? 
Isso por que, além do conhecimento da cultura indígena, o pajé sabia também, da história dos brancos, e em detalhes.
Coisa rara por aquelas paragens.
Nisso o pajé comentou que durante alguns anos, chegou a conviver com alguns brancos.
Foi durante esse período em que foi aculturado pelos brancos, que passou a conhecer a histórias dos portugueses.
Porém, muito embora lhe tivessem ensinado muitas coisas, os brancos eram tremendamente cruéis.
Foi nesse momento que o pajé comentou que pôde ver de perto a maldade dos brancos.
Cauteloso, não entrou em detalhes, mas comentou que já viu pessoas morrendo nas mãos dos brancos.
Por isso mesmo, insistia com os índios para que tivessem cuidado com os brancos, pois os mesmos eram perigosos.
Com isso, encerrou-se o assunto, e o pajé continuou a contar histórias para os índios.

4 Texto de Alceu Maynard Araújo. Extraído do site: http://www.terrabrasileira.net/folclore/regioes/3contos/amazonas.html.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 7

CAPÍTULO 7

Quanto a lenda do Jaguarari, o pajé contou então que este era um moço índio.
Ele era muito forte, tão forte como a onça.
E se houvesse uma luta entre os dois, não se sabe quem saíria ganhando.
Era, também, muito corajoso e os outros moços índios morriam de inveja dele.
Os velhos gostavam dele, porque era bondoso.
As moças, então, viviam elogiando sua elegância, sua força, sua ligeireza!
E é claro que ele se sentia feliz.
O índio Jaguarari gostava de remar e possuía uma canoa muito bonita.
Mas bonita mesmo!
Feita com todo o capricho.
Quando ele passava, remando, as aves da beira do rio não fugiam.
Ao contrário, esticavam o pescoço o mais que podiam para vê-lo passar.
Para pescar e caçar não havia outro!
Não tinha nem graça!
Enquanto os outros índios se cansavam, correndo pela selva atrás de algum bicho, Jaguarari caçava quantos queria.
Depois, pedia aos jovens índios que o ajudassem a carregar os animais que havia caçado.
E eles, embora tivessem inveja de Jaguarari, não conseguiam resistir ao seu pedido, tão grande era sua simpatia.
Como o moço era bondoso, ainda repartia os animais abatidos com os amigos, proibindo-os de contar aos outros índios quem os havia caçado...
Um dia, ele partiu bem cedo para a caça.
Ia sozinho.
A manhã estava linda.
De toda parte, saíam gritos, pios, cantos, saudando o sol que transformava tudo em vida e alegria.
O moço índio sentia-se mais feliz do que nunca, e não parava de admirar as maravilhas que encontrava: as aves voando perto das águas tranqüilas do lago... o colorido das flores... as teias de aranha cobertas de orvalho, parecendo tecidas com fios de prata...
Quanta beleza!
Entusiasmado, ele resolveu passar o dia na floresta.
Só voltaria à aldeia quando começasse a anoitecer.
Queria aproveitar bem aquele dia maravilhoso.
Por isso mesmo, foi entrando pela selva, até alcançar lugares que ainda não conhecia.
Em tudo encontrava a mesma vida e a mesma beleza, que pareciam nascer da luz do sol.
Foi então que encontrou um lago muito bonito, o mais bonito que ele já havia visto.
Tinha uma superfície tão calma e cristalina, que parecia ser de vidro.
Não resistiu e resolveu dar um mergulho.
Como sempre, as aves que se achavam nas margens não fugiram.
Ao contrário, chegaram mais perto do lago, para ver melhor o moço índio.
Depois de se banhar demoradamente, Jaguarari deitou-se à beira do lago e ficou admirando a beleza do céu.
Ficou assim horas, completamente esquecido do que pretendia fazer.
Quando se lembrou, deu um salto, apanhou o arco, as flechas e partiu para a caça.
Não queria caçar muito, pois estava longe de sua aldeia.
E ficou por ali, caçando, até sentir fome.
Preparou e comeu uma das caças e, sentindo sono, deitou-se para descansar um pouco.
Adormeceu profundamente.
Quando despertou, viu que o dia já estava terminando.
Apressou-se em voltar à aldeia.
Mal começou a andar, ouviu um canto que o deixou maravilhado.
Nunca ouvira nada tão bonito, antes.
Deixava longe o canto do uirapuru!
Jaguarari, encantado, queria conhecer a ave que cantava assim, mas já era tarde.
Precisava ir embora, mas o canto era tão bonito!
Poderia voltar outro dia...
E não conseguia afastar-se.
Sem perceber, foi andando na direção da doce e mágica melodia.
Afastando cipós e folhagens, sem ligar para o perigo que podia encontrar, foi seguindo, como que puxado por uma corda invisível.
Não demorou muito, chegou, por outro caminho, ao lago onde havia nadado.
E viu a Iara.
Era realmente a Iara.
Tinha um rosto tão lindo, que o moço ficou impressionado.
Sempre atraído, ele já estava quase dentro da água.
Lembrou-se, porém, do que os velhos costumavam contar sobre a Iara, e se agarrou desesperadamente ao tronco de uma árvore, à beira do lago.
A Iara, que já o tinha visto antes, quando ele estava nadando, queria levá-lo para o fundo das águas.
Como não gostava da luz do dia, esperara entardecer para atrair o moço com o seu canto.
Jaguarari, por ser forte, muito forte, conseguiu resistir, agarrado ao tronco da árvore.
Depois, segurando os cipós que havia por perto, conseguiu afastar-se do lago.
Percebeu, então, inúmeros animais e aves, paralisados pelo canto da Iara.
Estavam tão hipnotizados, que nem perceberam a sua passagem.
Quando chegou à aldeia, sua mãe notou que ele estava diferente.
-- Que aconteceu? - perguntou-lhe. Você foi atacado por alguma fera?
-- Não, minha mãe. Nada me aconteceu.
-- Mas você está tão esquisito! Nunca o vi assim!
-- É apenas cansaço. Estive muito longe e precisei andar depressa, para que a noite não me pegasse na floresta.
-- Ainda bem. Pensei que fosse coisa mais grave.
No dia seguinte, porém, ele continuou preocupado e triste, bem diferente do que havia sido até então.
Todos estranharam e queriam saber o que lhe havia acontecido.
Muitos acreditavam que ele estava sendo vítima de Jurupari, o espirito do mal, pois o moço não ligava para mais nada.
Apenas continuava a caçar e a pescar.
Só que não trazia mais bichos e peixes, como antes.
Agora, trazia apenas algum bichinho e dois ou três peixes, quando muito.
Ele ficava a maior parte do tempo na beira do lago, para tornar a ver a Iara.
Estava completamente enfeitiçado.
A Iara, porém, não aparecia mais.
E o moço ficava ali, atento, procurando perceber algum movimento na água ou ouvir algumas notas de seu maravilhoso canto.
A mãe dele é que não conseguia descansar.
Ficava à espera do filho e, todas as vezes que lhe perguntava o que estava acontecendo, a resposta era sempre a mesma:
-- Nada. Apenas estou cansado.
Justo ele, que antes não gostava de ficar na floresta quando escurecia, voltava agora muitas horas depois de ter anoitecido.
E, desde aquele dia, não aceitou mais a companhia de ninguém.
Os dias foram passando e cada vez Jaguarari parecia mais triste e desanimado.
Tanto sua mãe insistiu, que, uma noite, ao voltar do lago, ele lhe contou:
-- Vi a Iara, minha mãe. Num lago, bem dentro da floresta. É a moça mais linda que já me apareceu. Não existe outra igual. Seu canto é tão bonito, que não consigo esquecê-lo. Preciso vê-la outra vez e, novamente, ouvir a sua voz maravilhosa!
A pobre mãe pôs-se a chorar:
-- Fuja da Iara! - pediu-lhe. – Ela conseguiu enfeitiçá-lo e você será morto, se não se afastar dela!
Ele então foi para a rede, mas não pôde dormir.
A lembrança do canto da Iara roubara-lhe o sono.
No dia seguinte, ouvindo o conselho da mãe, Jaguarari não saiu da aldeia.
À medida, porém, que a tarde ia caindo, ele foi ficando impaciente.
Não conseguia conter-se.
Precisava ir até o lago!
Como era tarde demais para atravessar a floresta, tomou uma canoa e começou a descer o rio.
Os que estavam por perto pensaram que ele ia pescar.
De repente, um índio gritou:
-- Ei, Jaguarari não estava sozinho? Pois agora não está mais! Vejam!
Ao longe, avistava-se Jaguarari de pé, na canoa, em companhia de uma moça.
Era a Iara.
Foi a última vez que alguém o viu.3

3 Sociedade e Cultural - Enciclopédia Compacta Brasil - Larousse Cultural - Nova Cultural – 1995. Texto extraído do livro Histórias e Lendas do Brasil (adaptado do texto original de Gonçalves Ribeiro). - São Paulo: APEL Editora, sem/data.  

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Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 6

CAPÍTULO 6

Iara, figura lendária conhecida como Mãe-D'água, é bastante conhecida dos índios.
Essa entidade, loira e muito bonita – a mãe-d'água –, atrai os pescadores, ou quem quer que se aproxime de rio ou praia à noite, e leva o pretendente a afogar-se por conta da fascinação que causa nos mesmos.
Estes, encantados com a Iara, partem em seu encalço, em busca de diversão.
Em algumas comunidades é reputada como protetora das águas e pescas.
Sendo meio peixe e meio mulher, apresenta-se a pentear os cabelos, a cantar ou mesmo conversar com algum passante.
Encantado e quase que sob efeito hipnótico, o pretenso parceiro mergulha nas profundezas da água, onde sufoca e morre.
A Iara é uma bonita moça que vive na água, contam os índios.
Dizem que é tão linda, que ninguém resiste ao seu encanto.
Costuma cantar com uma voz tão doce, que atrai as pessoas.
Quando se percebe, já é tarde.
Ela arrasta a vítima para o fundo das águas.
Os índios têm tanto medo da Iara, que, ao entardecer, evitam ficar perto dos lagos e dos rios.
Receiam ser atraídos por ela.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.