Poesias

domingo, 24 de maio de 2020

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 24

CAPÍTULO 24

Terminando de contar as lendas sobre dois produtos muito usados por eles, o pescador passou a falar do Arranca-Língua, monstro gigantesco, macacão de mais de dez metros de altura, que atacava os rebanhos bovinos 28, abatendo as vacas e arrancando-lhes apenas a língua, deixando o corpo intacto.
A imprensa goiana, mineira e carioca registrou o mito, divulgando os depoimentos espavoridos dos fazendeiros.
O mito ainda resiste, embora se tenha amplamente provado tratar-se de uma epizootia.29
Ao ouvirem este relato, as crianças ficaram impressionadas.
Como poderia ser?
Enfim, coisas estranhas que acontecem no mundo, e que apesar do empenho em se explicar, ainda assim, não são devidamente esclarecidas.

28 Lenda originária de Goiás.
29 *Epizootia: Doença, contagiosa ou não, que ataca numerosos animais ao mesmo tempo e no mesmo lugar.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 23

CAPÍTULO 23 

Assim, embalado pela Lenda da Mandioca, passou a contar sobre as Lendas do Milho.
Uma lenda ‘pareci’ da origem do milho.
Começava assim:
Um grande chefe pareci, dos primeiros tempos da tribo, Ainotarê, sentindo que a morte se aproximava, chamou seu filho Kaleitôe e ordenou-lhe que o enterrasse no meio da roça assim que terminasse os seus dias.
Avisou, porém, que, três dias depois da inundação, brotaria de sua cova uma planta que, algum tempo depois, rebentaria em sementes.
Disse-lhe que não a comesse: guardasse-a para a replanta, e ganharia a tribo um recurso precioso.
Assim se fez; e apareceu o milho entre eles.25
O pescador, relatando então que havia outra lenda sobre a origem do milho, começou a dizer que a lenda guarani da origem do milho (Zea mays) também envolve o sacrifício humano.
Dois guerreiros procuravam inutilmente caça e pesca e desanimavam de encontrar alimento para a família, quando apareceu um enviado de Nhandeiara (o grande espírito) dizendo ser uma luta entre os indígenas, a solução única.
O vencido seria sepultado ali mesmo, e de sua sepultura nasceria uma planta, que alimentaria a todos, dando de comer e beber.
Lutaram os dois, e sucumbiu Avati.
De sua cova nasceu o milho, avati, abati, no idioma tupi.26
Do México até Paraná, o milho está articulado com os antigos cultos pré-coloniais, figurando nos relevos, signo divino, personalizado por Mama Sara, e sendo mesmo uma constelação (sara-manca - folha de milho).
Depois da mandioca, o complexo etnográfico do milho é o mais vasto e com projeção folclórica pela culinária tradicional (pamonha, canjica, mungunzá, pipocas, espiga de milho assado, farinha de milho, etc.).27

25 (Clemente Brandenburger, Lendas dos Nossos Índios, 33, Rio de Janeiro, 1931).
26 (P.e Carlos Teschauer, Avifauna e Flora, etc., 162-163, Porto Alegre, 1925).
27 Dicionário do Folclore Brasileiro / Câmara Cascudo. - Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A. sem data.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 22

CAPÍTULO 22 

Com isso, encerrando mais uma história, o hábil pescador passou a comentar sobre as Lendas da Mandioca.
Entre os indígenas parecis, conta-se a lenda da origem da mandioca.21
Zatiamare e sua mulher, Kôkôtêrô, tiveram um casal de filhos: um menino, Zôkôôiê e uma menina, Atiôlô.
O pai amava o filho e desprezava a filha.
Se ela o chamava, ele só respondia por meio de assobios, nunca lhe dirigia a palavra.
Desgostosa, Atiôlô pediu a sua mãe que a enterrasse viva, visto que assim, seria útil aos seus.
Depois de longa resistência ao estranho desejo, Kôkôtêrô acabou cedendo aos rogos da filha e a enterrou no meio do cerrado.
Porém ali não pôde resistir por causa do calor, e rogou que a levassem para o campo, onde também não se sentiu bem.
Mais uma vez suplicou a Kôkôtêrô que a mudasse para outra cova, esta última aberta na mata, aí sentiu-se à vontade.
Pediu, então, à sua mãe que se retirasse, recomendando-lhe que não volvesse os olhos quando ela gritasse.
Depois de muito tempo gritou.
Kôkôtêrô voltou-se rapidamente.
Viu, no lugar onde enterrara a filha, um arbusto mui alto, que logo se tornou rasteiro assim que se aproximou.
Tratou da sepultura.
Limpou o solo.
E a plantinha foi-se mostrando cada vez mais viçosa.
Mais tarde, Kôkôtêrô arrancou do solo a raiz da planta: era a mandioca.22
Ao ouvirem isso, as crianças que permaneciam ouvindo as histórias do pescadores, ficaram encantadas.
Ele então, retomando o assunto, revelou que havia outras lendas que tentavam explicar a origem da mandioca.
Assim prosseguiu em sua narrativa.
Numa lenda dos bacairis, o veado salvou o peixe bagadu (Practocephalus) e este presenteou-o com mudas da mandioca que possuía no fundo do rio.
O veado plantou e comia sozinho com a família.
Keri, o herói dos bacairis, conseguiu tomar a mandioca e dividiu-a entre as mulheres indígenas.23
A cultura da mandioca, fixou o indígena nas áreas geográficas de sua produção e possibilitou a colonização do Brasil pela adaptação do estrangeiro a essa alimentação.
As lendas mostram a etiologia sagrada, nascida de um corpo humano em sacrifício consciente.24

21 Lenda originária do Mato Grosso.
22 (Clemente Brandenburger, Lendas dos Nossos Índios, 34-35). 23 (Karl von den Steinem, Entre os Aborígenes do Brasil Central, 487-488).
24 Dicionário do Folclore Brasileiro / Câmara Cascudo. - Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A. sem data.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 21

CAPÍTULO 21

No tocante a Onça da Mão Torta, os caçadores, principalmente, temem muito encontrar este monstro.
Trata-se de uma onça enorme, rajada e que tem a pata dianteira torta.
Ela é enfeitiçada e, por mais que a atirem, não sofre nada.
Isto porque a onça é a alma penada de um vaqueiro velho.
Este vaqueiro foi muito ruim, tendo cometido toda a sorte de crimes.
Matava, roubava, perdia moças.
Enfim, era muito mau.
Um dia, o vaqueiro, já velho, morreu.
Imediatamente, nas matas próximas, começou a aparecer uma onça grande, esquisita, que tinha a mão torta.
Os caçadores encontrando-a, tirotearam por longo tempo a fera.
Porém sem resultado algum, pois as balas batiam nela e caíam no chão.
E ela se retirava calmamente para o interior da mata.
Por isso, todo mundo acredita que essa onça seja a encarnação da alma do vaqueiro, que, castigada, anda errando pelas florestas da região.20

20 Dicionário do Folclore Brasileiro / Câmara Cascudo. - Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A. sem data.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 20

CAPÍTULO 20 

Ao falar do Pai-do-Mato, o pescador teve o cuidado de dizer, que nas tradições folclóricas de Alagoas, o pai-do-mato é um bicho enorme, mais alto que todos os paus da mata, cabelos enormes, unhas de dez metros, orelhas de cavaco.
O urro dele estronda em toda a mata.
À noite, quem passa na mata, ouve também a sua risada.
Engole gente.
Bala e faca não o matam, é trabalho perdido.
Só se acertar numa roda que ele tem em volta do umbigo.
Em alguns “reisados”, aparece uma figura representando o entremeio do pai-do-mato, sob a forma de um sujeito feio, de cabelos grandes.
É comum a expressão entre as mães de família, a propósito dos filhos que estão com cabelos grandes, sem cortar:
“Está que é um pai-do-mato.”
“Você que é um pai-do-mato.”
“Você quer virar pai-do-mato, menino?”
No “reisado” canta-se no entremeio do pai-do-mato:
“Ó que bicho, Só é pai-do-mato!...”17
Compare-se o pai-do-mato com o Ganhambora, o Mapinguari, o bicho Homem, espécies do ciclo dos monstros.18
“Sem que jamais tivesse sido visto, conta a lenda queijeira da zona de Anicuns que o Pai-do-Mato é um animal de pés de cabrito, à semelhança do deus Pã da mitologia, tendo como este o corpo todo piloso.
As mãos assemelham-se às dos quadrúmanos.
Diferencia destes, entretanto, por andar como ente humano, com o qual se assemelha na fisionomia.
Traz no queixo uma irritante barbinha à Mefistófeles, e a sua cor é escuro-fusca, confundindo-se com a do pelo do suíno preto enlameado.
Dizem que anda quase sempre nos bandos de queixadas, cavalgando a maior, e conservando-se sempre à retaguarda.
Raramente anda só e raramente aparece ao homem.
Quando alguém se lhe atravessa na estrada, não retrocede, e, com indômita coragem, procura dar cabo do obstáculo que se lhe antepõe.
É corrente, onde ele tem o seu “habitar”, que arma branca não lhe entra na pele, por mais afiada e pontiaguda que seja, salvante no umbigo, que é nele instantaneamente mortal...
A urina dele é azul como anil.” 19

17 (Informação de Téo Brandão, Maceió, Alagoas).
18 Geografia dos Mitos Brasileiros, 455.
19 (Derval de Castro, Páginas do meu Sertão, 70-71, São Paulo, 1930). O autor estuda o sertão de Goiás. Dicionário do Folclore Brasileiro / Câmara Cascudo. - Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A. sem data.

DICIONÁRIO:
quadrúmano - adjetivo 1. que possui quatro mãos; quadrímano. 2. relativo aos quadrúmanos.
quei·xa·da - (queixo + -ada) - substantivo feminino - 1. Maxila. 2. Cada um dos lados maiores de uma abertura quadrangular.
substantivo de dois géneros. 3. [Zoologia]  Mamífero artiodáctilo (Tayassu pecari) de morfologia semelhante ao javali, com cerca de 1 metro de comprimento e 60 centímetros de altura, de pelagem escura e manchas brancas ao longo do queixo, que se encontra em florestas tropicais húmidas da América Latina. = PORCO-DO-MATO
"queixada", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/queixada [consultado em 24-05-2020].

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Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 19

CAPÍTULO 19

 Já o Ossonhe, relatou o pescador, era um orixá que correspondia ao Caipora indígena, unipedal, zombeteiro.
Ossonhe era um outro orixá e correspondia ao Caipora, que só tinha uma perna.
O africano nutria a mesma crença do indígena, neste particular.13
“O Caapora, vulgarmente Caipora, veste as feições de um índio, anão de estatura, com as armas proporcionais ao seu tamanho, habita o tronco das árvores carcomidas, para onde atrai os meninos que encontra desgarrados nas florestas.
Outras vezes divagam sobre um tapir, ou governam uma vara de infinitos caititus, cavalgando o maior deles.
Os vaga-lumes são os seus batedores; é tão forte o seu condão que o índio que por desgraça o avistasse, era mal sucedido em todos os seus passos.
Daqui vem chamar-se caipora ao homem a quem tudo sai ao revés”14
“O gênio da mata que transmite a infelicidade de quem o vê.”15
Por esta razão se alude ao orixá, dando a entender que, adotando o mito do Caipora, o Caipoi na gíria do negro, o afro-baiano supersticiosamente crê que o espírito da floresta, é portador de má morte. Chama-lhe Ossonhe, que deve ser uma falsa audição de Oxonhe ou Oxonhê.
O verdadeiro nome do gênio é Eberê; os iorubanos conhecem o mito, o egbére, o gênio maléfico, espécie de anãozinho que vaga à noite nas matas.
Oçonhe, ou antes Oxonhe, um nome complementar, preferido dos afro-baianos do iorubano, óshónu, iyé, o enfermo ou aleijado da vida.16

13 Manuel Querino escreveu (Costumes Africanos no Brasil, 48)
14 Gonçalves Dias, Obras Póstumas, vol. VI, 130.
15 Jacques Raimundo (O Negro Brasileiro, 158-159).
16 Querino (Raça Africana). (Artur Ramos, Negro Brasileiro, 124).

DICIONÁRIO:
unipedal - adjetivo de dois gêneros. 1. relativo a um só pé. 2. que tem um só pé; unípede.
tapir - substantivo masculinoMASTOZOOLOGIA•MAMÍFERO - design. comum aos mamíferos da fam. dos tapirídeos, de corpo pesado, membros curtos, os anteriores dotados de quatro dedos e os posteriores de três, todos terminados em pequenos cascos, cauda muito curta e focinho longo e flexível. m.q. ANTA ( Tapirus terrestris ).

Significado de Caititu - substantivo masculino Mamífero paquiderme, espécie de porco do mato, também chamado queixada. Cilindro do aparelho de ralar mandioca.

caipora - substantivo de dois gêneros BRASILEIRISMO•BRASIL 1. entidade fantástica da mitologia tupi, muito difundida na crença popular, talvez derivada da crença no curupira, do qual seria uma variante, e que é associada às matas e florestas e aos animais de caça, dele se dizendo que aterroriza as pessoas e é capaz de trazer má sorte e mesmo causar a morte; caapora. 2. adjetivo e substantivo de dois gêneros - diz-se de ou pessoa que, involuntariamente e apenas por sua presença ou proximidade, traz ou causa azar a outra.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.  

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 18

CAPÍTULO 18 

Quanto ao Num-Si-Pode, trata-se de um fantasma que aparecia na praça da Igreja de Nossa Senhora das Dores, em Teresina, Piauí.
Mulher de talhe desmesurado, com alvíssima mortalha, surgia nas noites e madrugadas, determinando um pavor irresistível.
Não se pode afrontar aquele assombro, espalhador de um medo indizivel.

12 (Informação de Vítor Gonçalves Neto, Teresina, Piauí). Registrou-a em versos o Sr. João Terry (Chapada do Corisco, 28-29, Teresina, 1952).12

DICIONÁRIO:
desmesurado - adjetivo - acima da medida habitual; enorme, imenso; que excede em dimensão ou forma o usual; excessivo, exagerado, abusivo. FIGURADO (SENTIDO)•FIGURADAMENTE - que revela intensidade ou grandeza acima do comum; desmedido, notável, extraordinário.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
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