Brasil.
Pindorama.
Terra dos papagaios.
De beleza sem igual.
Dos nossos céus azuis, das nossas matas virgens, do nosso ouro
abundante.
Da natureza exuberante com muitas matas e aves mui coloridas.
Palco de inúmeros e sangrentos conflitos.
Mas primeiramente contemos sua origem.
A Colonização Portuguesa
No século XV, as frotas portuguesas avançaram pelo Atlântico Sul, com
o objetivo de descobrir novas rotas marítimas e áreas de exploração
mercantil.
Em sua busca por ouro, marfim, escravos e especiarias,
Portugal passou a navegar regularmente pela costa da África,
organizando benfeitorias no continente e chegando enfim à Ásia,
estabelecendo comércio com a Índia.
O Brasil, situado no outro lado do Atlântico, foi encontrado em 1500, como resultado desse movimento de expansão marítima e comercial.
Sua ocupação e exploração, retardadas em razão da maior importância econômica do Oriente, se impuseram a partir da década de 1530, por conta do assédio de outros europeus ao território, atraídos pelo pau–brasil.
Inicialmente por meio das capitanias e, depois, do governo geral, Portugal lançou as bases de uma colônia na América.
Tratado de Tordesilhas
Nos idos de 1494, foi firmado um acordo entre Portugal e Espanha que
dividiu o mundo a partir de um meridiano 370 léguas a oeste do
Arquipélago de Cabo Verde.
Pelo acordo Portugal ficava com as terras à leste e a Espanha, com as terras à oeste.
Desta forma, o dois países estabeleceram os limites dos territórios descobertos. Tratado este, conhecido como Tratado de Tordesilhas.
O Descobrimento do Brasil
Na tarde de 22 de 1500, a esquadra de dez naus, três caravelas e cerca
de 1,2 mil homens comandada pelo navegador português Pedro
Álvares Cabral atingiu o litoral sul da Bahia, na região da atual cidade
de Porto Seguro.
O desembarque aconteceu no dia seguinte, 45 dias após a partida de Portugal, e, em 26 de abril, foi rezada a primeira missa no território.
Cabral oficializou a posse das terras brasileiras pela Coroa portuguesa no dia 1o de maio, com a celebração da segunda missa diante de uma cruz marcada com o brasão real.
No dia 2, a esquadra continuou sua viagem para as Índias.
Em 1501, uma frota de apenas três navios, foi enviada para Portugal para explorar a nova terra.
Américo Vespúcio foi um dos integrantes do grupo, e fez algumas das anotações mais importantes da viagem.
A expedição margeou a costa brasileira do Rio Grande do Norte até a
altura de Cananéia (SP), e deu nome aos acidentes geográficos litorâneos.
Durante essa viagem, Vespúcio constatou que o território descoberto não era uma ilha, e sim parte de um grande continente.
Os exploradores verificaram também a abundância de pau-brasil, madeira
valorizada na Europa para uso no tingimento dos tecidos.
O descobrimento do Brasil foi um dos momentos marcantes do processo de expansão marítima e comercial portuguesa nos séculos XV e XVI.
Para aumentar sua atuação política e comercial, Portugal voltou-se para o Oceano Atlântico, explorando primeiramente as ilhas
próximas do país e a costa africana.
Com o apoio da burguesia mercantil e da nobreza, o Estado desenvolveu uma poderosa estrutura de navegação e comércio, dirigida inicialmente pelo Infante Dom Henrique.
No começou, obtiveram da África ouro, marfim e escravos.
Mais tarde, trouxeram da Índia as lucrativas especiarias.
Depois de 1942, a crescente disputa dos reinos europeus pelas terras do
continente americano, impulsionou os descobrimentos e a colonização
do Novo Mundo.
Chamado primeiramente de Ilha de Vera Cruz, depois Terra de Santa
Cruz, levou algum tempo para que passasse a se denominar Brasil.
Contudo, não obstante isso, muitos historiadores dizem que a
descoberta do Brasil, não foi acidental.
Isso porque, Portugal sabia da existência de terras à oeste, desde a chegada de Colombo a América e por isso mesmo, já havia garantido parte delas pelo Tratado de Tordesilhas.
Além disso, seus navegadores conheciam bem as correntes do Atlântico Sul.
Os Escravos e o Ciclo da Cana-de-Açúcar
A seguir, em 1530, chegaram ao Brasil, os primeiros escravos.
Vendidos em escala crescente por traficantes portugueses, eles se
tornaram a grande massa trabalhadora na economia colonial.
Os escravos africanos, substituíram os escravos indígenas, que eram
eficientes na extração do pau-brasil mas não na agricultura.
Com isso, nos primeiros tempos da colonização, a abundância de pau-
brasil e as primeiras trocas com os indígenas que habitavam o Brasil,
marcaram o início da exploração econômica da nova colônia.
Inteiramente voltada para o mercado externo, a economia colonial se
organizou de forma a complementar à da metrópole, produzindo tudo o
que ela precisava, e comprando dela tudo o que necessitava.
Assim, ao longo do século XVI, as fazendas e os engenhos de cana-de-
açúcar se espalharam pelo Nordeste, e, em menor escala, cresceu
também a cultura do algodão e do tabaco.
Como os índios não se adaptaram ao trabalho na lavoura, foram trazidos escravos da África.
Desta forma, o ciclo econômico seguinte foi o da mineração, que
atingiu o auge no final do século XVII e contribuiu para transferir o
eixo do desenvolvimento do país, para a atual região Sudeste.
Em 1532, Martim Afonso de Souza, líder da primeira expedição de
colonização das terras brasileiras, funda São Vicente, a Primeira vila
da colônia, no atual estado de São Paulo.
E introduz no país, o cultivo da cana-de-açúcar.
Capitanias Hereditárias
Nos idos de 1534, o Rei Dom João III, criou as Capitanias
Hereditárias, ao dividir a colônia em 14 amplas faixas de terra, e as
entregou aos nobres do reino, os Capitães Donatários, para explorá-las
com recursos próprios e governá-las em nome da Coroa.
A Capitania de Fernando de Noronha, já havia sido doada pelo Rei
Dom Manuel em 1504.
Em troca do compromisso com o povoamento, a defesa, o bom
aproveitamento das riquezas naturais e a propagação da fé católica, o
rei atribuiu aos Donatários, inúmeros direitos e isenções.
Mesmo assim, as Capitanias conseguiram um desenvolvimento pequeno pela
falta de recursos e também, com o desinteresse dos Donatários.
Em 1548, Tomé de Sousa tornou-se o primeiro Governador Geral do Brasil, nomeado pelo Rei Dom João III.
A nova forma de governo permitiu a centralização da administração
colonial.
Isso fez com que Donatários e colonos vissem a nomeação do Governador Geral como ingerência indevida nas Capitanias.
Com isso, surgiram conflitos entre o poder real e o local, em questões como a
escravização indígena, cobrança de taxas e ações militares, etc.
Esse tipo de governo durou até a vinda da Família Real para o Brasil, em
1808.
Os Jesuítas
No ano de 1549, foi fundada na Bahia, a cidade de Salvador, por Tomé
de Souza, para servir como sede de governo.
O lugar foi escolhido tanto em função da localização marítima, como pela riqueza natural da terra.
Nesse mesmo ano, chegaram ao Brasil, os primeiros jesuítas da Companhia de Jesus.
Chefiados pelo Padre Manoel da Nóbrega, dedicaram-se à catequese dos indígenas e à educação dos colonos.
Entre os séculos XVII e XVIII, construíram igrejas e fundaram colégios.
Na região das Bacias dos Rios Paraná, Paraguai e Uruguai, eles instalaram as missões, aldeamentos que buscavam cristianizar e proteger os índios da escravidão.
Os Governadores Gerais
Em 1553, Duarte da Costa substituiu Tomé de Sousa como Governador
Geral.
O segundo Governador Geral porém, envolveu-se em conflitos com os
Donatários e jesuítas em torno da escravização indígena.
Em razão disso, o mesmo terminou se incompatibilizando com as autoridades
locais e foi obrigado a retornar a Portugal em 1557.
Em 1555, a França se recusou a aceitar a partilha de terras feita pelo
Tratado de Tordesilhas e defendeu o direito de posse a quem as
ocupassem.
Com isso deu-se a primeira invasão no território brasileiro,
na Ilha de Serigipe (atual Villegaignon), na Baía de Guanabara.
Ali, os franceses instalaram uma comunidade chamada França Antártica,
destinada a abrigar protestantes calvinistas fugidos das guerras
religiosas na Europa.
Sua principal atividade econômica era a troca de mercadorias baratas por pau-brasil, feita com os indígenas da região.
Assim, eles construíram um forte e resistiram por mais de dez anos.
No ano de 1557, foi nomeado o terceiro Governador Geral, Mem de Sá.
Com a ajuda dos Jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, ele
neutralizou a aliança entre índios tamoios e os franceses.
Em 1565, junto com seu sobrinho Estácio de Sá, expulsou os invasores franceses, na Baía de Guanabara.
No mesmo ano, em 1o de março, Estácio de Sá, fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Assim deve-se salientar, que o desempenho eficiente de Mem de Sá
contribuiu para firmar a posição do governo geral na vida colonial, e
ele permaneceu no posto até sua morte em 1572.
O Tráfico Negreiro
Foi oficializado em 1568, pelo Governador Geral Salvador Correa de
Sá o tráfico de escravos negros.
Desta forma, cada senhor de engenho de açúcar ficava autorizado a
comprar até 120 escravos por ano.
Foram eles que substituíram os bugres (índios), considerados ineficientes para o trabalho agrícola.
Com isso ficou garantido o baixo custo dos produtos produzidos para o
mercado externo.
Tanto, que o tráfico tornou-se um negócio lucrativo para os portugueses.
Engenhos de Açúcar
Nesse momento, o mercado europeu estava ávido por açúcar.
No século XVI, com solo apropriado para o cultivo da cana-de-açúcar e
facilidade para se comprar escravos, Pernambuco passou a ser o
centro da cultura canavieira, que atingiu o apogeu entre 1570 e 1650.
Por conta disso, grandes investimentos foram colocados em terras,
equipamentos e mão-de-obra, o que transformou os engenhos em
unidades de produção completas e, em geral, auto-suficientes.
Estimativas do final século XVII indicavam a existência de 528
engenhos na colônia, que exportavam anualmente 37 mil caixas de 35
arrobas de açúcar (cada arroba equivale a 15 kg).
Esse mercado, só foi abalado na segunda metade do século XVII, quando os holandeses passaram a produzir açúcar nas Antilhas (atual Caribe).
Sebastianismo
Em 1572, a sede do governo ficou dividida entre as cidades de Salvador
e Rio de Janeiro. Em 1578 voltou a se unir na Bahia.
Em 1578, morreu Dom Sebastião, Rei de Portugal, sem deixar
herdeiro, na Batalha de Alcácer-Quibir.
Ele participava da Cruzada que buscava tirar Marrocos, do domínio mouro.
Por conta disso surgiu o Mito do Sebastianismo – lenda de que o rei teria partido para o fundo do mar e que voltaria para assumir novamente o governo.
União Ibérica
Em 1580, morreu o Cardeal Dom Henrique, tio de Dom Sebastião, que
havia assumido o governo de Portugal.
Felipe II, que reinava sobre a Espanha, o Sacro Império Romano-Germânico e Holanda, intitulou-se novo rei de Portugal.– O Tratado da União Ibérica entre a Coroa Portuguesa e a Espanhola, vigorou até 1640 e significava uma espécie de anexação de Portugal pela Espanha.
Com essa união, países como a França, Inglaterra e a
Holanda, inimigos da Espanha, tornam-se também, inimigos de
Portugal.
Assim, mesmo que a princípio as colônias que pertenciam a
Portugal continuassem governadas a partir de Lisboa, e as espanholas
a partir de Madrid, ficava facilitada a penetração portuguesa além dos
limites do Tratado de Tordesilhas.
As Ocupações Maranhenses
Nos idos de 1594, os franceses Jacques Riffault e Charles Vaux,
instalaram-se no Maranhão depois de naufragar na costa da região.
O governo francês os apoiou e incentivou a criação de uma colônia no
território, a França Equinocial.
Em 1612, uma expedição chefiada por Daniel de la Touche desembarcou no Brasil com centenas de colonos.
Eles construíram igrejas, casas e o Forte de São Luís, origem da cidade de São Luís do Maranhão.
Os invasores franceses no entanto, foram expulsos em 1615 por tropas
comandadas por Jerônimo de Albuquerque, governador do Ceará.
Companhia das Índias Ocidentais
Em 1621, o território brasileiro foi dividido em dois estados: o do
Brasil, com sede em Salvador, e o do Maranhão, com sede em São Luís
do Maranhão.
O objetivo da novidade era melhorar a defesa militar da
Região Norte, e estimular a economia e o comércio regional com a
metrópole.
No mesmo ano, o governo da Holanda e Companhias privadas
formaram a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, misto de
empresa comercial, militar e colonizadora, para ocupar as terras
canavieiras, controlar a produção dos engenhos, e superar seus
negócios na América e na África, afetados pela passagem do trono
português para o trono espanhol.
Rivais dos espanhóis, os holandeses, haviam sido proibidos de aportar em terras portuguesas, e tinham perdido privilégios no comércio de açúcar.
Nos idos de 1624, ocorreu a invasão de Salvador por uma frota da
Companhia Holandesa das Índias Ocidentais.
No ano seguinte, forças luso-espanholas, derrotaram os holandeses.
Em 1627 foi feita nova tentativa frustrada contra Salvador.
Invasões em Pernambuco
Em 1630, teve início a mais duradoura invasão holandesa em
Pernambuco.
Uma esquadra de 56 navios chegou ao litoral da região,
e Olinda e Recife, foram ocupadas.
A resistência da população,
organizada pelo governador da Capitania, Matias de Albuquerque, em
torno do Arraial do Bom Jesus de Porto Calvo (Alagoas), dificultou a
consolidação do regime holandês.
A partir de 1632, com a ajuda do pernambucano Domingos Fernandes Calabar, os estrangeiros avançaram contra as fortalezas do litoral e os redutos de resistência do interior.
Matias de Albuquerque retirou-se para a Bahia em 1635.
No ano de 1637, para administrar o domínio holandês no Brasil, chegou a pernambuco João Maurício de Nassau.
Tolerante nos campos político e religioso, Nassau estimulou os engenhos e as
plantações.
Urbanizou o Recife e assegurou liberdade de culto.
Foi o responsável pela vinda de cientistas e artistas, como os pintores Frans
Post e Albert Eckhout, que retrataram o cotidiano brasileiro.
Em sua administração, o domínio holandês se estendeu sobre toda a região
entre o Ceará e o Rio São Francisco.
Nassau voltou para a Europa em 1644.
Fim da União Ibérica
Entre os anos de 1640 a 1648, o Duque de Bragança foi aclamado Rei
de Portugal como Dom João IV.
Todavia, os espanhóis não aceitaram o fim da União Ibérica e a restauração do trono português, sob a dinastia dos Bragança, e, no ano seguinte, Portugal e Espanha, entraram em guerra.
O Rei Dom João IV pediu então, ajuda à Inglaterra e à Holanda – que ocupava terras no Brasil –, em um armistício válido por dez anos.
No tocante a isso, o apoio da Inglaterra na guerra contra a Espanha, foi decisivo para que Portugal conquistasse definitivamente sua independência em 1648.
Invasão Holandesa no Maranhão
No ano de 1641, iniciou-se a Invasão Holandesa no Maranhão, que
perdurou até 1644, quando os holandeses foram expulsos pelos
portugueses.
Essa invasão foi ordenada por Maurício de Nassau, que
procurou consolidar as posições holandesas no país, antes que o
armistício entre Holanda e Portugal fosse amplamente divulgado no
Brasil.
Insurreição Pernambucana
Em 1645 após volta de Maurício de Nassau à Holanda, os
proprietários de terras de Pernambuco, passaram a ter mais dificuldade
de conseguir crédito na Companhia Holandesa das Índias Ocidentais.
Em razão disso, os latifundiários deram início à propalada insurreição,
visando expulsar os holandeses da região.
Assim iniciou-se a Insurreição Pernambucana.
No começo, Portugal não deu nenhum auxílio, interessado que estava
em garantir o apoio da Holanda para enfrentar a Espanha na luta pelo
fim da União Ibérica.
Com isso, entre 1648 e 1649, forças militares do Maranhão e do
governo geral da Bahia derrotaram os holandeses, na Batalha dos
Guararapes.
Mas a insurreição só acabou quando os holandeses,
enfraquecidos por uma guerra contra a Inglaterra (1652), se retiraram
da região em 1654.
Com isso, a soberania portuguesa sobre a Vila do
Recife foi reconhecida pela Holanda no Tratado de Paz de Haia, de
1661.
Para isso Portugal pagou aos holandeses uma grande indenização,
para que desistissem das terras coloniais.
Em 1649, Portugal criou a Companhia Geral de Comércio do Brasil,
para auxiliar a resistência pernambucana às invasões holandesas, e
facilitar a recuperação da agricultura canavieira do Nordeste depois
dos conflitos.
Sua principal atribuição era fornecer escravos e garantir
o transporte do açúcar para a Europa.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Poesias
domingo, 10 de maio de 2020
O DIA ANTES DE ONTEM!
Ultimamente, venho pensando em minha vida.
Anteontem, pensei em escrever alguma coisa.
Pensei em decantar minhas tristezas.
Como num processo mecânico.
Pensei em separar-me dos meus constantes companheiros tristes.
Os momentos de dificuldade.
Ultimamente, venho tendo muitos desenganos.
Desânimo.
Muitas vezes pergunto-me qual a razão de tudo isso.
Sinto minha alegria se esvaindo.
Um cansaço que não consigo explicar.
Inexpugnável.
Em outros momentos, sinto alegria.
Inopinadamente, a tristeza se instalou dentro de mim.
Meu corpo passou a ser sua morada.
As coisas que antes me faziam feliz, não fazem mais sentido.
Não consigo encontrar a alegria que perdi.
E quando me pergunto, por que tenho que passar por tudo isso...
Não encontro a resposta.
É essa angústia que me consome.
Essa voragem que não consigo entender.
Que toma conta da minha alma.
E que nos últimos tempos, vem sendo minha única companheira.
Sinto que preciso mudar minha vida.
Encontrar meu caminho.
Descobrir um elevado valor.
E tornar minha vida mais desenevoada.
Quero sentir-me desenfadada.
Desenfadiça!
Lépida e fagueira.
Quero tomar o tecido de minha vida em minhas mãos.
Fazer como em criança.
Sonhar com novos mundos.
Ser feliz!
Sonhar novos sonhos
Ser realizada.
Afinal do que é feita a vida?
Acredito que os sonhos são a nossa missão.
Inexorável, não podemos nos evadir dela.
Desta feita, deixe-me realizar meus sonhos.
Deixe-me ser feliz.
Deixe-me tomar gosto pela vida novamente.
E ter coragem para velejar por novos mares.
Lugares desconhecidos por mim.
Plagas, paragens, paisagens plácidas, ou não.
Quero ver mais manhãs, caminhar mais, escrever mais, ouvir mais músicas, estudar mais, sonhar mais, ser mais feliz!
Aproveitar mais minha vida.
Reencontrar-me de novo.
E mesmo percebendo que cresci...
E que nunca mais terei, representado numa folha de papel, o retrato da amiga ideal.
Ainda sim, poderei ter um mundo só meu.
E pessoas de verdade a minha volta.
Um mundo em que não tenha que viver só de lembranças.
Mas um lugar onde possa viver tudo de frente.
Usufruir das coisas boas.
Mesmo das mais caras.
Quero ter dinheiro, quero aproveitá-lo.
Utilizá-lo de maneira proveitosa e prazerosa.
Quero trabalhar.
Ao menos uma oportunidade de aprender, e também ganhar dindim.
Por que não?
Uma coisa não exclui a outra.
Por favor, que essas maravilhas aconteçam logo em minha vida.
Que a saúde volte a saudar este corpo.
Que eu seja chamada para trabalhar no concurso em que passei.
Que as coisas melhorem, não só pra mim mas para todos.
Por que eu não posso ser feliz sozinha.
Que a deusa da fortuna, da fartura e da felicidade, me acolha em seus braços.
E que jamais me abandone.
Por que em tendo, jamais me esquecerei daqueles que não tem.
Prometo que farei minha parte.
A parte que cabe a todos nós.
Prometo com toda a força de minha alma combalida.
Que jamais deixarei de cumprir a promessa feita.
Me ajude e nunca se arrependerá.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Anteontem, pensei em escrever alguma coisa.
Pensei em decantar minhas tristezas.
Como num processo mecânico.
Pensei em separar-me dos meus constantes companheiros tristes.
Os momentos de dificuldade.
Ultimamente, venho tendo muitos desenganos.
Desânimo.
Muitas vezes pergunto-me qual a razão de tudo isso.
Sinto minha alegria se esvaindo.
Um cansaço que não consigo explicar.
Inexpugnável.
Em outros momentos, sinto alegria.
Inopinadamente, a tristeza se instalou dentro de mim.
Meu corpo passou a ser sua morada.
As coisas que antes me faziam feliz, não fazem mais sentido.
Não consigo encontrar a alegria que perdi.
E quando me pergunto, por que tenho que passar por tudo isso...
Não encontro a resposta.
É essa angústia que me consome.
Essa voragem que não consigo entender.
Que toma conta da minha alma.
E que nos últimos tempos, vem sendo minha única companheira.
Sinto que preciso mudar minha vida.
Encontrar meu caminho.
Descobrir um elevado valor.
E tornar minha vida mais desenevoada.
Quero sentir-me desenfadada.
Desenfadiça!
Lépida e fagueira.
Quero tomar o tecido de minha vida em minhas mãos.
Fazer como em criança.
Sonhar com novos mundos.
Ser feliz!
Sonhar novos sonhos
Ser realizada.
Afinal do que é feita a vida?
Acredito que os sonhos são a nossa missão.
Inexorável, não podemos nos evadir dela.
Desta feita, deixe-me realizar meus sonhos.
Deixe-me ser feliz.
Deixe-me tomar gosto pela vida novamente.
E ter coragem para velejar por novos mares.
Lugares desconhecidos por mim.
Plagas, paragens, paisagens plácidas, ou não.
Quero ver mais manhãs, caminhar mais, escrever mais, ouvir mais músicas, estudar mais, sonhar mais, ser mais feliz!
Aproveitar mais minha vida.
Reencontrar-me de novo.
E mesmo percebendo que cresci...
E que nunca mais terei, representado numa folha de papel, o retrato da amiga ideal.
Ainda sim, poderei ter um mundo só meu.
E pessoas de verdade a minha volta.
Um mundo em que não tenha que viver só de lembranças.
Mas um lugar onde possa viver tudo de frente.
Usufruir das coisas boas.
Mesmo das mais caras.
Quero ter dinheiro, quero aproveitá-lo.
Utilizá-lo de maneira proveitosa e prazerosa.
Quero trabalhar.
Ao menos uma oportunidade de aprender, e também ganhar dindim.
Por que não?
Uma coisa não exclui a outra.
Por favor, que essas maravilhas aconteçam logo em minha vida.
Que a saúde volte a saudar este corpo.
Que eu seja chamada para trabalhar no concurso em que passei.
Que as coisas melhorem, não só pra mim mas para todos.
Por que eu não posso ser feliz sozinha.
Que a deusa da fortuna, da fartura e da felicidade, me acolha em seus braços.
E que jamais me abandone.
Por que em tendo, jamais me esquecerei daqueles que não tem.
Prometo que farei minha parte.
A parte que cabe a todos nós.
Prometo com toda a força de minha alma combalida.
Que jamais deixarei de cumprir a promessa feita.
Me ajude e nunca se arrependerá.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
sexta-feira, 1 de maio de 2020
.....E A CHUVA QUE CAÍ - CAPÍTULO 8 - VERSÃO OFICIAL
Com isso, enquanto a vida dessas duas famílias prosseguia, Augusto, juntamente com
seu irmão Cláudio, procurava, dentro das limitações de cada um, encontrar uma forma de
trazer a família para o ABC.
Contudo, não foi nada fácil fazer isso.
Orlando, teimoso, insistia não ir.
De tão teimoso, acabou não indo.
Mas para não perder a oportunidade, aproveitou para ao menos, fazer um pequeno passeio pelo lugar.
Com três filhos pequenos, ele e sua mulher Marisa, viajaram de trem até a região.
Pela janela do trem, puderam apreciar as paisagens.
Verdejantes plantações e animais tranqüilos pastando em meio a muita natureza de uma beleza sem igual.
Na cidade, passearam com o filho, e conheceram igrejas e monumentos.
Além disso, aproveitaram também para conhecer São Paulo, que nesse tempo, já era uma grande metrópole.
A selva de pedra impressionava.
Tudo era e ainda é colossal em São Paulo.
Porém, assim que se cansou, Orlando voltou para o sítio onde morava, juntamente com Carlota, Tobias e Otávio.
Já Marisa, resolveu ficar um pouco mais.
Foi então que Augusto, Cláudio, ela e mais três crianças, passaram a morar em uma casinha simples, bem retirada do centro da cidade.
Algumas vezes, ocorreram até tiroteios nas proximidades.
Marisa, ao ouvir os tiros, ficava desesperada.
Com isso, o pouco tempo em que Marisa ficaria na cidade, se tornam anos, as crianças cresceram, e freqüentemente Orlando aproveitava para visitar a família.
Foi nessa época que Augusto conheceu Luzia.
Conheceram-se de uma forma bastante curiosa, diga-se de passagem.
Enquanto Luzia ainda cursava supletivo, Augusto diversas vezes a vira saindo da escola, enquanto ele aproveitava para se encontrar com alguns amigos.
Entrementes, apesar de a conhecer de vista, nunca tinha se apresentado a ela.
Mas quando a moça estava andando apressada, distraidamente trombou nele ele.
Ele, aproveitando que ela tentaria se desculpar, se apresentou, e nisso, passaram a conversar.
Daí para fazerem amizade foi um pulo.
Depois para começarem a namorar foi outro pulo.
Nessa época também Luzia conheceu a família de Augusto.
Tiago, nessa época, já tinha seis anos.
Um dia ao encontrar um cachorro na roupa, disfarçadamente, levou-o para casa.
Lá, com a ajuda de Alice e Dulce, passou a cuidar do animal, sem que sua mãe percebesse.
Porém a certa altura, não havia mais como esconder.
Muito embora Marisa, trabalhando com costuras, não tivesse tempo para olhar os filhos, ainda assim, acabou descobrindo o cachorro, depois que este começou a latir como um desesperado. Ao descobrir, Marisa bem que tentou se livrar do cachorro, mas qual o quê! Ao ver Tiago lhe pedindo, suplicando para que ficasse com o cachorro, não teve jeito.
E assim, Dona Marisa acabou aceitando o estranho hóspede.
Hóspede que conviveu com a família por muitos anos.
Tantos, que quando o cãozinho morreu, todos ficaram consternados.
Enquanto isso, morando no interior, Orlando e seus filhos, continuaram cuidando do pequeno sítio em que moravam.
De vez em quando, porém, Orlando realizava algumas viagens para São Paulo, no intuito de visitar a família.
Nessas oportunidades, aproveitava para matar as saudades dos filhos pequenos e da esposa.
Tiago, Alice e Dulce, viviam disputando sua atenção, haja vista que ele vivia distante deles.
Muito embora procurasse sempre visitar a família, as crianças sentiam sua falta.
Por isso, sempre quando ía para o ABC visitar a família, as crianças sempre o recebiam com muita festa.
Numa dessas idas para a cidade, ao ver Dulce aprontando, foi logo lhe chamando a atenção.
Marisa, ao ver Orlando dando bronca na filha, não gostou nem um pouco, e começou a brigar com ele.
Afinal de contas, segundo suas próprias palavras, como ele, que estava sempre tão longe, podia, nos poucos momentos em que ficava com os filhos, dar bronca neles?
Ao ouvir isso, Orlando ficou aborrecido.
Cansado de ouvir as imprecações de Marisa, resolveu dar uma volta.
Foi então, que ao ver um boteco, resolveu dar uma parada em sua caminhada e bebericar uma cerveja.
Assim, entrou no bar e foi logo pedindo uma bebida.
Prontamente atendido, sentou-se no balcão e bebeu calmamente a cerveja.
Nisso apareceram alguns moradores, que freqüentemente iam ao bar, onde bebiam e jogavam sinuca.
Foi assim, que Orlando ficou conhecendo alguns moradores do lugar.
Isso por que, ao conversar com o pessoal que freqüentava o bar, passou a sempre que podia, dar uma passadinha.
Essa passadinha porém, podia durar algumas horas.
Tal fato contribuiu para que surgissem mais desentendimentos entre ele e Marisa.
Depois de algum tempo ouvindo as reclamações da esposa, Orlando, enfastiado, resolveu arrumar suas coisas e voltar para o interior.
Cláudio, ao perceber as brigas do casal, tentou fazer o que pôde para que eles se entendessem.
Tudo em vão.
Além de não conseguir acabar com as brigas dos dois, acabou ouvindo ainda, severas admoestações de Marisa, que lhe avisou mais de uma vez, para não se meter no assunto.
Realmente, a situação estava difícil.
Orlando, aborrecido com o comportamento da esposa, passou a evitar as viagens.
Contudo, Carlota, Otávio e Tobias, a todo momento reclamavam a presença da mãe.
Como já fazia vários meses que não a viam, insistiam com Orlando para este os liberasse para fazerem uma visita a família.
Orlando, todavia, teimoso que era, nunca deixava.
Carlota, aborrecida com a atitude do pai, aproveitando um momento de distração dele, resolveu pegar alguns trocados que o mesmo tinha guardado, e de posse desse dinheiro, tratou de arrumar seus pertences para viajar.
Assim o fez.
Na calada da noite, aproveitando que todos dormiam, aproveitou para, sorrateiramente, sair do quarto, e depois, ganhar o mundo.
Com isso, durante toda a madrugada, caminhou.
Caminhou bastante, até chegar na estação.
Lá comprou uma passagem e rumou em direção a São Paulo.
No trem, aproveitou para recuperar as horas de sono perdidas.
Por isso, não teve nem tempo, nem paciência, para apreciar a paisagem que se descortinava pela janela do trem.
Ao chegar no ABC, foi logo encontrar a família.
Chegando na casa dos irmãos, foi logo recebida por sua mãe, que espantada, perguntou:
-- Mas minha filha, o que você faz por aqui?
Carlota então respondeu:
-- Eu vim visitá-la. Por acaso não gostou da surpresa?
-- Sim. É claro que eu gostei. Mas eu não esperava por isso. Orlando nem avisou que você viria. – respondeu Marisa.
-- Ele não sabe que eu vim.
Marisa ficou então, espantada:
-- Como é que é? Orlando não sabe que você veio? Agora é que a confusão está armada. Como eu vou fazer para explicar isso a ele?
No que Carlota respondeu:
-- Muito simples. Não explique, deixe ele com sua raiva.
Mas Marisa sabia que esta história ía se tornar uma grande confusão.
Dito e feito.
Assim que Orlando deu pela falta da filha, ficou a procurá-la feito um doido.
Vasculhando toda a região perguntou a todo mundo que encontrou se alguém havia visto sua filha.
Como ninguém deu resposta afirmativa, Orlando ficou cismado.
Preocupado, se perguntava a todo momento onde ela havia parado.
Contudo, conforme foram se passando os dias, ao perceber que Carlota não voltava, Orlando começou a desconfiar que a mesma havia ido se encontrar com seus irmãos em São Paulo.
Ao aventar essa possibilidade, Orlando começou a se perguntar como ela havia conseguido dinheiro para viajar.
Desconfiado, procurou a caixinha onde havia guardado seu dinheiro.
Ao perceber que a mesma estava quase vazia, ficou furioso.
Realmente Carlota, desobedecendo suas ordens, foi procurar a mãe.
Orlando, ao constatar isso, prometeu a si mesmo que no dia seguinte iria até a cidade ligar para Marisa.
Assim, enquanto isso, Carlota, aproveitando a estada, foi conhecer melhor a região.
Orlando ficou a procurá-la.
Carlota porém, mesmo sabendo que seu pai poderia vir em seu encalço, estava decidida a ficar por lá.
Comentando com Augusto e Cláudio que pretendia arrumar um emprego, sugeriu que eles a indicassem, quando uma vaga aparecesse.
Augusto e Cláudio, ao ouvirem as palavras de Carlota, não ficaram nem um pouco satisfeitos com a novidade.
Isso por que, aguardando a reação intempestiva do pai, estavam mais do que cientes de que ele, logo que deduzisse onde ela estava, partiria em seu encalço.
Marisa, ao perceber a preocupação dos filhos, comentou que também sabia disso.
No entanto, como fazer para convencer Carlota disso?
Esta não era uma missão fácil.
Augusto porém, percebendo que seria melhor ela voltar para casa, sugeriu que ela voltasse depois, quando as coisas estivessem mais calmas.
Carlota teimosa, não aceitou a sugestão e, dizendo que precisava mudar sua vida, comentou que ali era um ótimo lugar para se realizar aquela mudança.
O rapaz tentou insistir mas Carlota, dizendo que nada a demoveria da idéia, deixou bem claro que não desistiria de seus planos.
Augusto, percebendo que o confronto seria inevitável, resolveu deixar isso para lá.
Ademais em menos de uma semana lá estava Orlando, batendo na porta da casa deles, querendo saber de Carlota.
Por sorte a moça, procurando trabalho, não estava em casa quando ele chegou.
Orlando ao saber que Carlota não estava, não ficou nem um pouco satisfeito.
Marisa contudo, ao contrário das outras vezes, preocupada em evitar uma futura briga, comentou que a moça não havia causado nenhum problema.
O homem porém, não queria nem saber.
Carlota havia desobedecido ordens suas e portanto, merecia um castigo.
Marisa, ao notar a irritação de Orlando, comentou que ela estava procurando emprego na cidade.
Ele ao ouvir isso, ficou mais irritado ainda.
Dizendo que ela já tinha trabalho no sítio, comentou que não tinha nada que ficar na casa dos irmãos dando despesa.
Marisa tentando amenizar a situação, comentou que não havia nada demais ela ficar, desde que ajudasse nas despesas da casa.
Orlando porém, não estava acorde com isso.
Contudo, ainda que quisesse levar Carlota de volta, teria que esperar a moça voltar.
Assim, mesmo nervoso, o homem esperou.
Esperou, esperou.
Quando Cláudio, e depois Augusto apareceram, Orlando foi logo perguntando onde Carlota estava.
Atônitos os dois perguntaram a mãe se ela não havia voltado.
Marisa respondeu que não.
Orlando ao ouvir isso, ficou ainda mais irritado.
Alegando que Marisa não estava tendo o devido cuidado com Carlota, disse:
-- Pois bem! Muito bonito isso! Você me disse que ela saiu para procurar emprego. E como é que até agora ela não voltou?
-- Não sei. – respondeu Marisa.
-- Pode ser que ela já esteja a caminho. – respondeu Cláudio.
-- Então vamos esperar. – respondeu Orlando se sentando.
Nisso, eis que surge Carlota.
Depois de passar o dia inteiro fora de casa, finalmente a moça entra na sala.
Ao ver o pai contudo, Carlota não fica nada feliz.
Orlando ao vê-la entrando, perguntou:
-- E então? Como foi o seu dia? Andou procurando muito um emprego?
Carlota, surpresa com a presença do pai, comentou:
-- Ora pai, o senhor por aqui?
-- Não seja irônica, Carlota. Você sabia muito bem que assim que eu desse pela sua falta, eu viria para cá. – respondeu Orlando irritadíssimo. – Quem é que te mandou desobedecer as minhas ordens?
-- Ninguém. Eu é que já não agüentava mais ter que suportar todas as suas ordens. Cansei! Agora eu vou ficar aqui. – respondeu ela em tom de desafio.
-- Ah! Mas não vai mesmo! Quem você pensa que é pra me enfrentar dessa maneira? Tome tenência. Você vai voltar comigo. E vai ser amanhã.
-- Não vou. – respondeu ela teimosamente.
Marisa ao ver o tom da conversa, tentou apartear os dois, mas Orlando, percebendo a intervenção, mandou a mulher não se meter na conversa.
A mulher mesmo sendo avisada pelo marido, tentou intervir, mas Cláudio e Augusto, percebendo que aquilo poderia acabar mal, segurando a mãe, cada qual por um braço, aconselharam-na a ir com eles até a cozinha.
Diante do gesto dos filhos, mesmo relutante, Marisa acabou concordando, e indo com eles até a cozinha.
Antes porém, a mulher pediu encarecidamente para que ele não batesse em Carlota.
Nisso, enquanto os três ficaram na cozinha, Orlando e Carlota discutiram.
Marisa tentou intervir, mas novamente seus filhos a impediram.
Tiago, Dulce e Alice, cientes do nervosismo do pai, nem ousaram chegar perto dele.
E assim, Orlando e Carlota, continuaram se desentendendo.
No final da discussão no entanto, Carlota, sem argumentos, não teve outra alternativa senão concordar com a sentença do pai e voltar para casa.
Aborrecida, foi até o quarto.
Irritada, arrumou sua pequena mala.
No dia seguinte, para desalento de Marisa, Carlota e Orlando se despediram.
Depois de tomarem um café, foram até o ponto de ônibus.
Lá aguardaram o ônibus.
Assim que o mesmo chegou os dois subiram.
No meio do caminho a paisagem, que Carlota, desolada, nem sequer parou para olhar.
Mais tarde, dentro do trem Carlota só pensava na raiva que estava sentindo de Orlando.
Furiosa, Carlota prometia a si mesma que voltaria para São Paulo, nem que fosse para viver sozinha.
Isso por que, cansada das ordens de seu pai, não via a hora de poder viver sua própria vida, independente da de qualquer outra pessoa.
Estava insatisfeita no sítio, e gostaria de conhecer um modo de vida diferente do dela.
Contudo, neste seu retorno, muita coisa mudaria.
Mas inicialmente, tudo permaneceu com a mesma conformação.
Chateada com seu pai, Carlota, apesar de não ter sofrido nenhum tipo de castigo, continuou a pensar em fugir.
Orlando, percebendo que não seria com pancadas que convenceria Carlota, prometeu não mais bater nela.
Dizendo-se interessado em manter uma boa convivência com ela, prometeu que a deixaria fazer algumas coisas que tanto queria.
Carlota todavia, desconfiada de tanta gentileza e amabalidade, continuou hostil.
Orlando, ao notar que seu esforço não estava adiantando, voltou a se aborrecer.
A moça, percebendo isso, comentou:
-- Sabia que essa sua gentileza não iria durar muito tempo.
O homem, ao perceber isso, constatou que precisaria se esforçar mais, se quisesse convencer a filha, de que estava disposto a dialogar.
E assim nos meses que se seguiram, ele continuou tentando manter a boa convivência.
Carlota por sua vez, demorou um bom tempo para se convencer de que as coisas estavam mudando por lá.
Reticente, não conseguia acreditar em nenhum gesto de boa vontade de Orlando.
Porém, ao ver que mesmo diante de suas provocações Orlando não se irritava, Carlota acabou depois de um certo tempo, se convencendo de que o mesmo estava disposto a mudar.
Foi aí que a relação dos dois mudou.
Embora ainda brigassem, Orlando se mostrava mais disposto a ouvir suas idéias.
Mais amigos, até a vizinhança ficou espantada quando os viu conversando pela primeira vez, sem brigar.
Contudo, quando parecia tomar um rumo certo, eis que uma reviravolta, mudou tudo novamente.
Depois de um certo período de tranqüilidade, Orlando, ao passar pela cidade, sequioso por molhar a goela, como ele mesmo costumava dizer, ao ver um bar aberto, resolveu entrar.
Ao entrar, pediu uma cerveja.
No balcão mesmo bebeu a cerveja.
Apreciando seu sabor, sentiu que já era hora de cuidar dos assuntos que o levaram até lá.
Assim, foi saindo do bar.
Porém, assim que almejou sair, Osíres, ao vê-lo cumprimentou-o, e dizendo que tinham muito o que conversar, pediu para que ficasse um pouco mais no bar.
Orlando dizendo que tinha assuntos para resolver, comentou que tinha voltar para casa.
Osíres contudo, dizendo que tinha algo muito importante a dizer, fez questão de deixar bem claro que queria que ele ficasse.
Orlando, então percebendo a inquietude de Osíres, respondeu que ficaria mais um pouco.
Porém, só ficaria tempo suficiente para ele contar a novidade.
Osíres então, pediu uma cerveja.
Bebericando-a, ele começou a contar que tinha interesse em comprar algumas terras.
Orlando ao ouvir isso, não gostou nem um pouco do tom da conversa.
Nisso Osíres, vendo que ele não pedira mais nada, ofereceu-se para pagar uma bebida.
Orlando recusou.
Dizendo que tinha muita pressa, comentou que tinha que ir.
Osíres então, comentando que o que tinha a dizer era muito importante, pediu mais uma vez que ele esperasse um pouco.
Orlando então, resolveu esperar mais um pouco.
Assim ficou a ouvir as palavras de Osíres.
Osíres, que a cada momento pedia mais uma cerveja, começou em um dado momento a falar bobagens.
Orlando, esquentado que era, não gostou nem um pouco quando o homem começou a falar de sua mulher e de seus filhos.
Em dado momento, depois de ter aceito algumas cervejas oferecidas pelo amigo, Orlando exaltado, mandou Osíres parar de fazer comentários sobre sua família.
Mas o homem, ao invés de ouvir os conselhos do amigo, passou a falar mais e mais da família de Orlando.
Alcoolizado, Orlando a certa altura se irritou sobremaneira, e avançando contra Osíres, ameaçou lhe surrar se ele não parasse de falar de seus familiares.
Osíres ao ouvir as ameaças irritou-se, e dizendo que ele não era ninguém para ameaçá-lo, comentou que ele iria se arrepender do que havia dito.
Irritado, depois de dizer estas palavras, pagou a conta e trôpego, saiu do bar.
O atendente ao ouvir as palavras de Osíres, recomendou a Orlando que este tivesse cuidado.
Dizendo que Osíres era muito vingativo, o rapaz advertiu-o para o fato de que o mesmo era muito perigoso.
Orlando ao ouvir a recomendação do rapaz porém, deu de ombros.
Dizendo que já estava velho demais para ter medo do que quer que fosse, agradeceu a preocupação, mas disse que não tinha com o que se preocupar.
Cambaleante, saiu do bar.
Decidido a resolver os assuntos que tinha para resolver, saiu dali.
Foi a última vez que seria visto na região.
Conforme a noite foi se aproximando, Tobias e Carlota, percebendo que Orlando não chegava, começaram a ficar preocupados.
Otávio, notando a preocupação, comentou que provavelmente o pai havia parado em algum bar e que por isso estava demorando.
Os dois ao ouvirem as palavras do irmão, concordaram com ele.
Sabendo que Orlando adorava tomar uma cervejinha, chegaram a conclusão de que ele deviria estar bebericando com alguns conhecidos.
Algumas vezes de tão empolgado, chegava a ficar bêbado.
Diante disso os dois se acalmaram.
Com isso, vendo que já era tarde para permanecerem acordados, resolveram dormir.
Quando acordaram, qual não foi a surpresa deles ao se depararem com o delegado.
Depois de se aprontarem para irem trabalhar na roça, quando saíram de casa, notaram que o homem, acompanhado de dois policiais, os esperava na porteira.
Otávio, ao ver o homem postado diante deles, mandou que entrasse.
O delegado então entrou, e sendo conduzido até a casa, comentou que Orlando havia sido encontrado morto nos limites da cidade.
Carlota, ao saber disso, ficou chocada.
Ao saber que o pai estava morto, começou a gritar.
Enquanto isso Marisa, que morava no ABC, a essa altura, nem imaginava o que estava acontecendo com o restante de sua família.
Cuidando de Tiago, Dulce e Alice, Marisa nem sequer cogitava que sua vida iria novamente mudar. Mas iria sim.
Enquanto no sítio, Tobias e Otávio tomavam providências para o funeral, e o delegado solicitava os exames e as perícias necessárias para averigüar as razões do crime.
Carlota por sua vez, tomando coragem, teve a difícil missão de contar a mãe que Orlando havia sido assassinado.
Sem coragem de contar a mãe o que estava acontecendo, Carlota demorou para relatar o ocorrido.
Todavia, depois de algum tempo, ao perceber que tinha que contar o ocorrido, a moça ligando a mãe, revelou o que havia sucedido a seu pai.
Marisa ao ouvir a notícia, entrou em desespero.
Descontrolada, não fosse a presença de Cláudio e Augusto, certamente teria saído feito uma doidivanas, até a cidade onde moravam.
Isso por que, assim que soube do ocorrido, depois de muito chorar, comentou que precisava ir até lá para saber melhor o que estava acontecendo.
Se Cláudio e Augusto não a tivessem segurado, certamente Marisa e seus três filhos pequenos teriam ido para lá, sem nem ao menos prepararem uma mala.
Marisa desatinada, não sabia o que fazer.
Sem saber o que pensar, só queria ver seus filhos, que a essa altura, deviam estar enfrentando o momento mais difícil de suas vidas.
Cláudio e Augusto porém, convencendo-a a esperar um pouco, prometeram que a acompanhariam na viagem.
Todavia, precisavam explicar no trabalho que precisariam se ausentar.
Assim procederam.
Cláudio e Augusto, cada qual em seu trabalho, explicando que precisariam viajar, pediram alguns dias de licença.
Seus patrões, ao saberem do ocorrido, concederam-na sem pestanejar.
Nisso, os dois, juntamente com seus três irmãos pequenos e a mãe, prepararam suas malas.
Em seguida, fecharam a casa e indo rumo a estação ferroviária, partiram em direção a cidade e ao sítio, onde estavam Carlota, Otávio e Tobias.
Ansiosos mal podiam ver a hora de chegar para conversar com os três.
As crianças, mesmo sabendo o que havia ocorrido, devido a pouca convivência com Orlando, apesar de tristes, depois de um dado momento, começaram a ficar inquietas e reclamando da viagem, não paravam de perguntar, a que horas chegariam.
Cláudio e Augusto, percebendo que Marisa estava cansada demais para dar atenção aos filhos, pediram aos três que parassem de reclamar.
Isso por que, não demorariam muito, e já estariam no sítio.
Com isso, depois da bronca, os três se acalmaram um pouco.
No sítio mesmo abalados, os três continuaram trabalhando.
Procurando ocupar suas mentes, evitavam ao máximo pensar no que poderia ter ocorrido naquele dia fatídico a Orlando.
Torturados pela idéia de não saberem o que havia ocorrido, os três ficaram algum tempo sem trabalhar.
Contudo, como tinham um sítio para cuidar, os três vendo que não podiam ficar parados, resolveram retomar o labor.
E assim mesmo entristecidos com a morte do pai, os três trabalharam o máximo que puderam para manter o sítio.
Dedicados, não pensavam em mais nada a não ser trabalhar.
Era assim que evitavam pensar no ocorrido.
Foi assim que Marisa e seus cinco filhos, encontraram Carlota, Otávio e Tobias.
Ao chegarem no sítio, perceberam, ao entrarem na propriedade, que os três não estavam em casa. Com isso, vendo a casa fechada, Marisa, deixando suas tralhas na entrada, pediu para que Augusto, ou Cláudio fossem até onde estavam as culturas, as roças e chamassem os três.
Cláudio, oferecendo-se para ir, foi acompanhado de Augusto.
E lá se foram eles caminhando.
Depois de passarem tantos anos longe daquele lugar, voltar até lá, andar pelos mesmos lugares que haviam pisado quando ainda eram crianças, era uma experiência muito rica.
Caminhando por aqueles campos, avistando o pomar, vendo as plantações, enfim, tudo era um novo contato com uma realidade que bem conheciam.
Contudo, muito embora fizesse pouco tempo que não mais viviam lá, parecia que haviam morado lá há muito tempo.
Curiosamente, parecia-lhes uma realidade distante.
Porém, assim que avistaram os três irmãos juntos, trabalhando, Cláudio e Augusto se deram conta de que tudo o que se passara com eles, estava muito vívido.
Ao verem as expressões abatidas dos irmãos, Cláudio e Augusto, percebendo que já haviam sido vistos, acorreram na direção dos mesmos, que suados, não quiseram abraçar os irmãos.
Todavia, a tristeza era tão grande, que em dado momento, vendo-se tão desamparados, não puderam conter o choro e abraçar os irmãos que haviam chegado.
Os três, comentando com Augusto e Cláudio, sobre o resultado das investigações, relataram que o corpo do pai, não havia sido liberado ainda, mas cautelosos, já haviam providenciado o funeral. Tristes, depois de algum tempo, os três acompanharam os irmãos até a casa.
Lá, desculpando-se pelos trajes, abriram a porta e deixando todos entrar, disseram a eles onde podiam ficar.
Para Marisa, voltar para aquela casa e não se deparar com Orlando, foi extremamente triste. Percebendo que não teria mais com quem brigar, a mulher sentiu um profundo pesar.
Observando cada cômodo da casa, Marisa pôde perceber o quanto Orlando estava presente naquele imóvel.
Carlota então, percebendo que todos estavam acomodados, pediu licença e dizendo que tinha que trabalhar, comentou que precisava voltar para a roça.
Marisa tentou contê-la, mas Tobias e Otávio, constatando que a moça precisava ficar sozinha, pediram a mãe, para que a deixasse ir.
A mulher então, consentiu.
Carlota então, percorrendo os caminhos que levavam até a plantação chorou, e ao chegar no lugar onde ela e os irmãos estavam trabalhando, ao se lembrar dos últimos acontecimentos, prometeu a si mesma que vingaria a morte do pai.
Nisso com o passar dos dias, ao liberarem o corpo, os filhos de Orlando trataram de providenciar seu velório.
Carlota providenciando um terno, pediu para que os irmãos o vestissem.
Tobias e Otávio, percebendo a tristeza da irmã, fizeram sua vontade.
Como era tradição naqueles tempos, Orlando foi velado em sua casa.
Marisa ao ver o rosto pálido de Orlando, não se conteve e emocionada, mais uma vez chorou.
Em seguida, depositando um cravo no caixão, colocou entre seus dedos e despedindo-se, disse adeus bem baixinho.
Carlota, alegando que não queria vê-lo no caixão, recusou-se a aparecer na sala, no dia do enterro.
Marisa ao perceber a teimosia da filha, censurou-a.
Dizendo que aquele não era o momento para se lembrar de mágoas e ressentimentos, insistiu para que Carlota estivesse presente no velório.
A moça, ao ouvir as duras palavras da mãe, comentou que não era por falta de consideração que não apareceria na sala e sim por que queria guardar a melhor lembrança que podia ter de seu pai.
Dizendo que preferia lembrar-se dele vivo, comentou que não queria ter por última lembrança a visão dele, em seu leito de morte.
Marisa mesmo contrariada, ao ver a defesa de Tobias e Otávio, acabou desistindo de convencer a filha, a participar da cerimônia fúnebre.
Dizendo que não adiantava falar nada, acabou deixando Carlota sozinha.
Nisso enquanto o velório se realizava, Carlota, angustiada, pulando a janela, resolveu dar uma volta a cavalo.
Triste e pensativa, ficou a se lembrar de seu pai.
Meditativa, passou bastante tempo cavalgando, e refletindo sobre os últimos acontecimentos. Enquanto isso Marisa, pesarosa com o falecimento de Orlando, recebia as condolências.
Ao término da cerimônia, todos os sitiantes acompanharam a família até o local onde o corpo seria enterrado.
Surpreendidos com a morte inesperada do amigo, muitos não conseguiam aceitar o que havia se sucedido.
No entanto, por mais inconformados que estivessem, o inevitável já havia acontecido.
Orlando, o amigo de todas as horas, não estava mais entre eles.
Carlota, apesar de viver sempre as turras com o pai, não conseguia disfarçar sua tristeza em virtude de seu passamento.
Desolada, não queria ver a cerimônia de velório, nem o enterro.
Por lembrança, só gostaria de ter a presença vívida dele.
Marisa todavia, não concordou com a atitude da filha.
Tanto não concordou que durante muito tempo, a criticou por não ter acompanhado o velório, e o enterro de Orlando.
Com relação a isso, muitas outras pessoas concordaram com Marisa.
Carlota errou ao se ausentar da cerimônia.
Contudo com o passar do tempo, a garota impetuosa e petulante, ao contrário do que se poderia esperar, ao se ver sozinha com os irmãos, comentou com a mãe que precisavam manter a pequena propriedade.
Marisa, por sua vez, sequiosa de vender a propriedade, alegou que não havia motivos para manter o sítio, já que o principal interessado em que tudo permanecesse como era, já não estava mais entre eles.
Carlota, ao ouvir as palavras da mãe, ficou chateada.
Por isso mesmo, retrucou:
-- E a senhora pensa que eu vou abandonar tudo logo agora que papai morreu? Não, não vou. Fique sabendo a senhora que esse era o sonho da vida dele, e nada do mundo vai fazer com tudo se acabe. Está entendendo? Assim como a senhora tem direito a parte dessas terras, eu e meus irmãos também temos.
Marisa ao ouvir as palavras agressivas proferidas pela filha, mal pôde acreditar que aquela era a mesma garota que há pouco tempo atrás, só pensava em morar com eles.
Surpreendida pela atitude inesperada da filha, Marisa, procurando pensar um pouco antes de falar, comentou que boa parte dos irmãos dela, já estavam na cidade.
Assim o mais recomendável, era venderem o sítio e o restante da família seguir com ela até a cidade.
Carlota ouviu atentamente as palavras de sua mãe, mas não concordou nem um pouco com seus argumentos.
Dizendo que os três podiam cuidar muito bem da propriedade, comentou que nem por decreto arredaria o pé dali.
Marisa respirou fundo.
Ao notar a teimosia da filha, ficou contrariada, mas depois, conforme foi percebendo o empenho de Carlota em manter o sítio, a mulher acabou desistindo da idéia de vender as terras.
Além disso, apoiando Carlota, estavam Otávio e Tobias, que, acostumados a viverem ali, não queriam saber de outras paragens.
Assim, estava decidido.
E assim, todos os dias, os três íam para a roça trabalhar.
Marisa, cuidadosa, ao perceber que tinham muito trabalho, ofereceu-se para cozinhar para eles.
E nisso, enquanto ela preparava o café, os três comiam alguma coisa antes de irem trabalhar.
Os três jovens, preparando-se para o trabalho, levantavam-se da cama ainda de madrugada.
E, cuidadosamente, Marisa preparava a mesa para servir o café.
Os três então, sentavam-se na mesa, depois de levarem os rostos e colocarem calças e blusas de manga comprida, para protegerem-se do sol.
Precavidos, também usavam chapéus e botas.
Como o trabalho que empreendiam era fatigante, logo que acordavam os três já estavam famintos.
Por isso mesmo o café tinha que ser caprichado.
E assim, os três tomavam leite, café, comiam pão ou bolo, e depois munidos de suas ferramentas, íam até a plantação dar continuidade ao lavoro que nunca terminava.
Mais tarde, ela prepararia um lanche.
Tiago, Alice ou Dulce, encarregados de levar os quitutes dela, entregariam a comida aos irmãos.
Em seguida viria o almoço, e mais tarde o lanche da tarde.
Quando chegasse a hora do jantar, com o lusco-fusco vespertino, os três, sem a luz natural do sol, cessariam o trabalho e voltariam para casa.
Lá se limpariam um pouco, jantariam, conversariam alguns instantes e depois dormiriam.
Foi exatamente assim que transcorreu o dia.
Tiago, empolgado com a idéia de levar e trazer os recipientes de comida, andou o dia inteiro.
Marisa, percebendo que o sol a certas horas, era bastante forte, providenciou para que o menino usasse um chapéu para se proteger durante da caminhada, do sol inclemente.
Com o passar dos dias, o ritual se repetiu.
Duas vezes por semana, o pessoal, aproveitava para tomar banho.
A mulher, percebendo que não podia deixar os filhos na mão, comprometeu-se a ficar.
Conversando com Cláudio e Augusto, desculpou-se não poder voltar com eles para o ABC.
Os rapazes, conscientes da situação pela qual a família passava, comentaram que compreendiam a atitude dela, e que não havia nada do que se desculpar.
Marisa, ao perceber que os filhos entendiam sua posição, prometeu, que assim que pudesse, faria uma visita para eles.
Augusto então, comentando que já havia ficado muito tempo longe do trabalho, alegou que precisava voltar.
Cláudio dizendo o mesmo, ressaltou que precisavam voltar para o trabalho.
Marisa, concordando com os dois, não os reteve.
E assim, dois dias depois da convers,a lá se foram os dois de volta para São Paulo.
Marisa, sentiria saudade dos dois.
Contudo, notando que era ali, naquele pequeno sítio que precisavam mais dela, a mulher decidiu ficar.
Tiago, Alice e Dulce, que ainda eram pequenos, também ajudavam um pouco.
Sempre que Carlota encontrava algum trabalho que exigia pouco esforço físico, a moça os chamava para ajudar.
As crianças ficavam exultantes.
Algumas vezes, quando ficavam muito tempo sem ajudar, chegavam a reclamar com a irmã.
Carlota então, munida de uma paciência que até então nunca tivera, começou a explicar aos irmãos que nem tudo que eles queriam, possuíam condições de fazer.
No entanto, se eles continuassem ajudando nas pequenas coisas, logo logo, crescendo como estavam, estariam eles ajudando-os no trabalho.
Depois de ouvirem as palavras de Carlota, as crianças passaram a perguntar a mãe, se já haviam crescido bastante de um dia para o outro.
Marisa, tentando não desanimar as crianças, comentava que sim, haviam crescido.
No entanto para poderem ajudar os irmãos mais velhos, precisariam crescer ainda mais.
As crianças não gostavam nem um pouco de ouvir isso.
Enquanto isso, as investigações sobre a morte de Orlando prosseguiam.
Ao realizarem os exames periciais, os peritos constataram que ele estava alcoolizado quando foi alvejado.
Por conta disso, começou a se falar que a morte poderia ter sido um acerto de contas.
Alguns mais maldosos, chegaram a comentar que o homem tinha dívidas e que por isso, havia sido morto.
Por isso mesmo, quando alguns moradores da cidade viam que eles ainda moravam no sítio, se aproximavam e perguntavam espantados:
-- Mas vocês não perderam tudo?
Otávio e Tobias, ao ouvirem as palavras dos populares, diversas vezes se irritaram, e não fosse a intervenção de Marisa, teriam partido para a briga.
Carlota, por sua vez, ao tomar conhecimento do que falavam a respeito de seu pai, ficou profundamente decepcionada com os moradores da cidade.
Contudo, ao invés de ameaçar partir para a briga, como fizeram seus irmãos, a moça prometeu que provaria a todos que seu pai, era um homem de bem.
Marisa, ao ficar sabendo que sua filha fizera essa promessa, preocupada, foi conversar com ela.
Temendo que ela fizesse alguma besteira, Marisa pressionou a filha.
Insistindo para que ela revelasse o que estava se passando, cercou-a de todas as formas possíveis e mesmo quando a jovem lhe dava respostas atravessadas, a mesma não se intimidava.
Marisa conhecia a filha, e sabia que ela não sossegaria enquanto não se resolvesse a questão.
Por esta razão, temerosa que estava com o que poderia acontecer, pediu diversas vezes para que Carlota lhe contasse o que estava pensando em fazer.
A certa altura, cansada de olhar para a mãe e ver o olhar de preocupação que esta lhe lançava, Carlota deixou escapar que limparia a honra do pai.
A mulher ao ouvir a filha falar com tanta raiva estas palavras, ficou deveras preocupada.
Marisa, sem saber exatamente quais eram as intenções da filha, perguntou:
-- Mas o que você quis dizer com isso?
Carlota, percebendo que havia falado demais, comentou que não queria dizer nada.
Simplesmente falou sem pensar.
Marisa, preocupada, pediu a filha que não fizesse nenhuma besteira.
Carlota, notando o olhar aflito da mãe, prometeu que não faria nada sem pensar.
Dito isto saiu da casa e foi dar uma volta, pelos arredores.
Nisso Cláudio e Augusto que voltaram para o ABC, retomaram a vida normal.
Trabalhando, os dois só pensavam no dia em que chegaria as férias, e novamente poderiam ver a família.
Augusto, que nessa época namorava Luzia, teve um grande trabalho para explicar seu sumiço.
Isso por que, quando viajou, nem se despediu dela.
Por esta razão, Luzia ficou muito decepcionada com ele.
Castigando-o por sua omissão, ficou um bom tempo sem falar com ele.
Alegando que estava muito ocupada para atendê-lo, pedia a Célia, a Lélio, ou mesmo a Clementino, para que inventassem desculpas.
Com isso, sempre que o rapaz ia visitá-la, ouvia como resposta, ou que ela não estava, ou que estava dormindo, ou mesmo, que havia viajado.
Escolado porém, em dado momento, o rapaz passou a perceber que não era nada daquilo.
O fato era que, chateada por não ter sido avisada de sua viagem, a moça, ao bater na porta de sua casa, descobriu pelos vizinhos que o mesmo havia viajado.
Luzia ficou decepcionada.
Isso por que, se nem ao menos Augusto se dera ao trabalho de comunicar o ocorrido, era por que o namoro não era tão sério como pensava.
Augusto percebendo o erro, comentou com o irmão, que precisava o quanto antes se desculpar com Luzia.
Cláudio, ao saber da falha, concordou com Augusto.
E assim, por reiteradas vezes o rapaz tentou se desculpar com a moça, pela falha.
A moça contudo, não estava nem um pouco interessada em ouvir suas desculpas.
Não fosse a intervenção de Rute – sua mãe –, Luzia teria mais uma vez rechaçado o rapaz.
Rute porém, cansada de ver o rapaz implorando a atenção de Luzia, ralhou com a filha e dizendo que todo mundo tinha o direito de se explicar, insistiu para que ela o ouvisse.
Luzia então, ao ouvir a admoestação da mãe, concordou em ouvir o rapaz.
Augusto aproveitando o ensejo, desculpou-se com a moça.
Dizendo que ficara tão atarantado com tudo o que se sucedera, comentou que não conseguira nem raciocinar direito.
Quando se dera conta, já havia voltado para o ABC.
Luzia ao ouvir a explicação do rapaz, perguntou a ele, por que demorou tanto para se lembrar. Augusto então disse que quando soube que seu pai havia morrido, não pôde acreditar no que estava acontecendo.
De tão aturdido com a idéia de que não mais veria seu pai, não conseguiu pensar em mais nada. Desolado com o passamento de Orlando, egoisticamente, nem sequer chegou a se lembrar que outras pessoas também tinham interesse em saber o que estava acontecendo.
Luzia contudo, não conseguia aceitar o fato de que ele havia se esquecido de avisá-la.
Augusto diante disso, não cansou de pedir desculpas.
Dizendo que não tinha mesmo desculpa para o que fizera, respondeu que se ela não quisesse mais vê-lo, entenderia perfeitamente.
Luzia, ao ouvir as palavras do rapaz, disse que precisava pensar um pouco antes de dar uma resposta.
Augusto ao notar que não seria nada fácil fazê-la esquecer-se do ocorrido, aceitou as condições da moça.
Desapontado com a frieza de Luzia, o rapaz comentou com Cláudio que precisava esperar a resposta da moça.
E assim, Luzia, enquanto trabalhava, ficou a pensar no que havia ocorrido.
Depois de algum tempo, finalmente chegou a uma resposta.
Enquanto isso, Augusto, ansioso com a decisão de Luzia, foi todos os dias até sua casa.
Contudo, levou algum tempo para o rapaz ter sua resposta.
Mas no fim, tudo acabou bem.
Luzia pensando melhor no assunto, chegou a conclusão de que o que ocorrera não era motivo para ambos terminassem.
Mesmo decepcionada com a atitude de Augusto, a moça prometeu deixar de lado aquele assunto.
Augusto ao ouvir a resposta da moça, ficou bastante feliz.
Prometendo que nunca mais falharia com ela, combinou que quando viajassem para visitar a família, ela seria a primeira convidada a participar do passeio.
A moça, ao ouvir as palavras do rapaz, ficou espantada.
Augusto ao perceber que Luzia interpretara mal suas palavras, perguntou a ela se não tinha como convidar alguém para acompanhá-la.
Ao ouvir isso, a moça sorriu.
Pensando no assunto, depois de conversar com o rapaz, comentando com Célia, que o rapaz a havia convidado para viajar com ele para visitar a família, Luzia convidou a irmã para acompanhá-la.
Célia, ao ouvir o convite, não se fez de rogada.
Aceitando prontamente a oferta, foi logo perguntando se demoraria muito para que a viagem acontecesse.
Luzia respondeu que enquanto Augusto não tirasse férias, não seria possível.
Assim, deixou bem claro que demoraria algum tempo para que isto acontecesse.
Enquanto isso, Carlota, tentando manter a propriedade que seu pai deixara, empenhou-se o máximo nessa tarefa.
Envolvidos neste mister, estava não só ela, como seus irmãos Otávio e Tobias, seus irmãos menores e sua mãe, Marisa.
Marisa, dedicada aos filhos, apoiava todas as decisões de Carlota.
A moça, depois da morte do pai, apoiada por seus irmãos, passou a ser o esteio da família. Determinada, foi ela quem decidiu vender pessoalmente as mercadorias que produzia.
Procurando os melhores lugares, pesquisou mercados e negociando com feirantes, conseguiu vender muitas de suas mercadorias por ótimos preços.
Marisa, ao ver a filha se acertando com o trabalho, muito orgulhosa, comentou que ela estava no caminho certo.
Carlota ao perceber o sorriso nos olhos da mãe, observou-a com carinho.
Pegando uma fruta, tirou seu canivete do bolso e descascando-a, passou a saboreá-la.
Sentada na soleira da porta, ficou a observar a entrada do sítio, os pássaros, as árvores frondosas que faziam sombras, a variedade de flores que enfeitavam a casa.
A moça, apreciando um dos raros momentos de descanso que tinha, percebeu, talvez pela primeira vez, o quanto era privilegiada por viver num lugar tão bom quanto aquele.
Era uma privilegiada por ter, a poucos metros de casa, a visão bucólica de campos e de flores, de árvores e de pássaros.
Uma afortunada por ter aquele privilégio.
E por pouco quase jogou toda aquela maravilha fora.
Marisa, percebendo o ar de contemplação da filha, comentou:
-- Está admirando a beleza desse lugar. Não é mesmo?... Realmente, você tinha razão em bater o pé e não deixar que eu vendesse toda essa maravilha. Isso é lindo mesmo!
Depois de proferir estas palavras, foi até a sala.
Carlota, ao terminar de saborear a fruta, lavou as mãos, e saindo da cozinha, resolveu, ir até a cidade. Marisa, ao ouvir da filha, o aviso de que ela só voltaria para casa no dia seguinte, ficou profundamente preocupada.
Por esta razão, sentindo que algo errado poderia acontecer, pediu a filha que não fosse para a cidade. Carlota, contudo, teimosa, respondeu que tinha que ir.
E assim, fazendo uma pequena trouxa, foi de carro até a cidade.
Lá, decidida a esclarecer a morte do pai, não poupou esforços em se apresentar agradável.
Embuída no intuito de defender a honra de Orlando, Carlota sondou os policiais que trabalhavam na delegacia.
Cansada de ouvir meias-palavras do delegado, que, sempre que era inquirido por ela, respondia que o processo estava caminhando, resolveu ela mesma descobrir quem tinha sido o autor da morte.
E assim, não poupou esforços.
Perguntando a todas as pessoas sobre o que pensavam e sabiam sobre a morte do pai, acabou chegando no bar onde o mesmo passara suas últimas horas.
Em conversas com o atendente, descobriu que seu pai, passara por ali antes de ser encontrado morto horas mais tarde.
Curiosa, a moça não parou de fazer perguntas.
Incisiva, não poupou o funcionário, que aturdido com tantas perguntas, acabou revelando que Orlando se desentendera com Osíres.
O funcionário, percebendo que a situação poderia se complicar, recomendou que Orlando tivesse cuidado.
Por fim, nervoso, o atendente contou que isso era tudo o que sabia.
Carlota, ao tomar conhecimento deste fato, teve a mais absoluta certeza de quem era o assassino de seu pai.
Dizendo que já sabia o que iria fazer, vendo que o atendente estava bastante nervoso, prometeu a ele, não contaria a ninguém sobre a conversa que tiveram.
Pensando no assunto, chegou a conclusão de que ela mesma tinha que resolver aquela questão. Enfurecida, a moça saiu do bar e de carro, perscrutou toda a cidade em busca de Osíres.
Sabedora de que este possuía uma casa na cidade, Carlota tratou de descobrir onde ficava.
Ao lá chegar, constatou, decepcionada, que o mesmo não estava lá.
Iracunda, a moça decidiu voltar para casa.
Contudo, não podia voltar, enquanto estivesse transtornada.
Por esta razão, procurando pensando melhor no que faria, Carlota resolveu não ir para casa imediatamente.
Procurando pensar melhor no que faria de posse dessa informação, a moça, rodou de carro por algumas cidades da região.
Tentando se acalmar, começou a elaborar uma estratégia de vingança.
Tencionando fazer Osíres pagar pelo que fizera ao pai, Carlota passou a noite inteira pensando no que faria para se vingar.
Finalmente, durante a manhã seguinte, Carlota voltou ao sítio.
Marisa, preocupada, perguntou a moça, se ela não havia feito nenhuma besteira.
Carlota, respondeu que não.
Desconfiada, a mulher tornou a perguntar se estava tudo bem.
Carlota, calmamente respondeu que sim.
Dizendo que tinha ido até a cidade para saber como andava o inquérito, revelou a mãe que tudo continuava com estava.
Em seguida, dizendo que estava cansada, Carlota comentou que dormira muito pouco.
Diante disso, falou a mãe que iria dormir.
Nos dias seguintes, enquanto trabalhava na roça, ficou a pensar em seu plano.
Decidida a descobrir se Osíres era o assassino de seu pai, Carlota chegou a conclusão que a melhor estratégia, era não dar a entender que ela desconfiava dele.
Pelo contrário, quanto mais ele pensasse que ela o considerava um grande amigo de Orlando, mas próxima da verdade ficaria.
Com isso, assim que viu livre do trabalho, aproveitando o final de semana, alegando que estava em falta com Osíres e Adélia, Carlota comentou que eles precisavam fazer uma visita para eles.
Marisa, sem perceber onde a moça queria chegar, concordou.
E assim, lá se foram eles visitar a família de Osíres.
O homem, ao vê-los se aproximando, ficou espantado.
Isso por que, temendo que eles desconfiassem de alguma coisa, achou que eles estavam ali para agredi-lo.
Porém, ao perceber o ar de cordialidade da família, o homem foi logo se acalmando.
Confiante, passou a conversar com todos com bastante tranqüilidade.
Carlota, desconfiada de que Osíres fosse o assassino de seu pai, dissimulando sua aversão a ele, fingiu cordialidade, e perguntando sobre a família, descobriu por meio de Adélia que o mesmo não estava em casa, na noite do crime.
Carlota então, percebendo que tudo se ligava, passava a cada instante, a ficar mais certa de que ele havia dado cabo na vida de seu pai.
Por isso mesmo fingindo amizade, conversou longamente com ele.
A certa altura, o homem, percebendo que a esposa havia se afastado, sugeriu a moça que eles poderiam continuar a conversa em um lugar mais reservado.
Carlota ao ouvir a proposta do homem, por pouco não colocou tudo a perder.
Contudo, desejosa de descobrir tudo o que se sucedera naquela noite, pensou um longo tempo antes de falar, e dizendo que precisava pensar um pouco, pediu ao homem para que lhe desse algum tempo.
Osíres aquiesceu ao pedido.
Ao retornarem para casa diante do adiantado da hora, trataram de se recolher.
O dia vindouro seria bastante cheio.
Carlota porém, alvoroçada, não parava de rolar na cama.
Por conta disso, no dia seguinte, a moça ao se levantar para trabalhar, estava com um ar bastante cansado.
Tobias e Otávio, percebendo isso, pediram a irmã, para que ficassem em casa.
Se no final da tarde estivesse em condições de ir trabalhar, ela poderia perfeitamente se juntar a eles. Carlota tentou retrucar, mas os dois, percebendo o quanto ela estava cansada, pediram para que fosse dormir.
A moça, sem ter como discutir, acabou concordando.
E assim, voltou a dormir.
Cansada por conta da noite em claro, foi apenas questão de tempo para que dormisse.
Enquanto isso Tobias e Otávio tomaram o café da manhã e foram trabalhar.
Tiago, Alice e Dulce, prestativos como sempre, mais tarde foram ajudar os irmãos a semear.
Ao término do trabalho dos garotos, a semeadura estava completa.
Otávio e Tobias, satisfeitos com a ajuda dos irmãos, elogiaram o trabalho das crianças.
Dizendo que eles estavam se tornando grandes semeadores, alegaram que em pouco tempo eles estariam tomando conta de tudo.
Os três sorriram.
Nesse ínterim, Cláudio e Augusto, depois de um longo tempo trabalhando, já prestes a entrarem de férias, começaram a fazer as malas.
Augusto avisou então Luzia e esta também, foi preparando seus pertences.
Luzia e Célia, há quase dois anos sem tirarem férias, aproveitariam para ficar bastante tempo no sítio da família de Augusto.
Cláudio, por sua vez, aguardando as férias do irmão, resolveu esperá-lo para então, viajarem juntos.
Assim, ao término de uma semana os quatro viajaram até lá.
Durante o trajeto de trem, Cláudio e Augusto aproveitaram para matar as saudades das paisagens da infância.
Já Luzia e Célia, que também viveram a infância na zona rural, aproveitaram para igualmente apreciar a bela paisagem que descortinava da janela.
Era tudo tão azul, tão verde, tão bucólico, tão belo, que seriam necessários anos de pinturas e centenas de quadros, para traduzirem tanta beleza.
Quando finalmente chegaram nas terras da família, as moças se encantaram com o cuidado e capricho com que era mantida a propriedade.
A casa, apesar de simples, era bastante aconchegante e Marisa uma anfitriã muito simpática.
As moças, que já conheciam Marisa, ficaram encantadas com o modo como esta cuidava da casa. Gentis, assim que perceberam que a mulher estava colocando a mesa para o almoço, ofereceram-se para ajudar.
Marisa, dizendo que já estava quase tudo pronto, comentou que elas não precisavam se preocupar com nada.
Ademais, eram hóspedes e assim, não havia cabimento se elas ficassem ali trabalhando.
Enquanto isso, a mulher, percebendo que já era hora de levar comida para Carlota, Otávio e Tobias, pediu para que Tiago e Alice levassem um pouco do almoço para eles.
Dulce ao ver que os dois iriam levar a comida para os irmãos, reclamou e perguntando se só ela ia ficar em casa, pediu a mãe que lhe desse alguma coisa para levar.
Luzia, Célia e Cláudio, ao ouvirem a reclamação da garota, caíram na risada.
Marisa, percebendo que a menina queria ajudar, entregou uma parte dos comes e bebes para que ela levasse.
Diante disso, os três mais do que depressa, saíram da casa e indo até onde os irmãos estavam trabalhando, levaram para eles a comida.
Agradecidos, ao verem as crianças chegando, Carlota, Otávio e Tobias pediram para que as crianças voltassem, e depois levassem os recipientes.
Tiago, Dulce e Alice, animados, foram correndo para casa.
Lá, juntamente com Augusto, Cláudio e as visitas, almoçaram.
Enquanto comiam, Célia e Luzia contavam as novidades.
Marisa animada com a visita, não parava de fazer perguntas aos filhos.
Perguntando a eles como estavam se virando na cidade, os dois comentaram que trabalhavam muito a noite, e quando era possível saíam para passear.
Marisa, curiosa, perguntou a Augusto e Cláudio se eles tinham algo importante a dizer.
Augusto então, enchendo-se de coragem, comentou com a mãe, que trouxera Luzia consigo, para que ela tivesse a oportunidade de conhecer toda a família.
Marisa, perspicaz, deu uma rápida piscadela para a moça, que constrangida, começou a rir. Percebendo que o relacionamento dos dois estava se tornando sério, a mulher perguntou a ambos, se tinham planos para o futuro.
Augusto, surpreendido com a pergunta, respondeu que precisava conversar com Luzia, antes de fazer qualquer plano.
Marisa concordou.
Mais tarde, oferecendo um lanche para as visitas Marisa aproveitou e chamou os meninos.
Precisava que eles levassem um pouco de comida para Carlota, Tobias e Otávio.
As crianças mais do que depressa, pegaram o farnel e levaram bolo, torta, suco, entre outras coisas, para os irmãos, que já estavam trabalhando desde muito cedo.
Famintos, os três sentaram-se e comeram.
Dulce, Alice e Tiago, por sua vez, voltaram para casa levando consigo os recipientes em que foi servido o almoço.
Em casa, Marisa continuava trocando idéias com Luzia e Célia.
A mulher sugerindo a Luzia que ela devia se casar com Augusto, comentou que falaria com ele a esse respeito.
Luzia, percebendo a empolgação de Marisa, alegou que não era necessário ela dizer nada.
Se os dois tivessem que se casar, certamente as coisas aconteceriam naturalmente.
Nisso, Carlota, obcecada com a idéia de vingar a morte do pai, só pensava no dia em que acertaria contas com Osíres.
Passado algum tempo desde que prometera pensar a respeito da proposta, a moça, enchendo-se de coragem, resolveu ir até sua morada.
Dizendo que havia trazido um recado da mãe, para Dona Adélia, a moça entrou na casa.
Osíres, que estava na sala, ao perceber a presença de Carlota, tratou logo de arrumar uma desculpa e ir até a cozinha.
Fingindo surpresa quando entrou na cozinha, cumprimentou Carlota e dizendo que tinha ido buscar algo para comer, pegou uma fruta e saiu do ambiente.
Carlota então, depois de dizer a Adélia que sua mãe havia a convidado para um almoço, comentou que precisava voltar para casa.
A mulher no entanto, agradecida com o convite fez questão de que a mesma ficasse para o almoço. Carlota argumentando que sua mãe e seus irmãos a esperavam, insistiu em dizer que não podia ficar.
Pensam que Adélia desistiu?
Pelo contrário, alegando que não havia problema nenhum no fato dela almoçar ali, comentou que Marisa sabia onde ela estava.
Carlota, sem ter outra alternativa, acabou concordando.
E foi assim que em uma das vezes em que Adélia voltou para a cozinha, a moça, respondeu a Osíres que concordava com o convite.
Contudo, os dois precisavam se encontrar em um lugar discreto, longe das vistas de sua mulher, e ela de sua família.
O homem concordou.
Todavia, quando o mesmo ia dizer onde seria o encontro, Adélia voltou da cozinha.
Animada, contou ao marido, que os dois haviam sido convidados para um almoço na casa de Marisa. Osíres, ao ouvir a notícia, ficou animado.
Sim, por que, se conseguisse ser discreto, certamente conseguiria marcar o encontro ainda durante o almoço.
Nisso, depois de terminado o almoço, Carlota, dizendo que ainda tinha muito o que fazer, despediu-se dos dois e voltou para casa.
Adélia, ao ver que a moça estava a pé, bem que tentou convencê-la a aceitar uma carona do marido.
Carlota porém, dizendo que não morava longe dali, comentou que não seria problema nenhum voltar a pé para casa.
E assim o fez.
Em meia-hora, já estava de volta.
Ao chegar em casa, descobriu que Augusto e Luzia, estavam se preparando para o noivado.
No entanto para que esse fato se tornasse oficial, era necessário conversar com Juvenal e Rute.
Em razão disso, os dois, que estavam de férias, pediram para ambos que fossem até lá, para acertarem tudo.
Carlota, ao saber que os dois estavam decididos a se casar, fez questão de parabenizá-los.
Marisa, ao vê-la em casa, foi logo perguntando se ela já havia avisado Adélia e Osíres sobre o almoço.
Carlota balançou a cabeça afirmativamente.
Augusto, animado com a possibilidade de vir a constituir família, pediu a Luzia, que escrevesse uma carta para os pais, contando sobre as últimas novidades.
A moça prometeu escrever.
E assim munida de papel e caneta, Luzia começou a escrever.
Nervosa, amassou muitos papéis até que conseguisse escrever a missiva como queria.
Ansiosa, assim que surgiu uma oportunidade de ir até a cidade, a moça aproveitou para postar a carta. Contudo, como tudo naquele tempo era demorado, a correspondência levou quase um mês para chegar nas mãos de Dona Rute e Juvenal.
Porém, quando os pais de Luzia tomaram conhecimento do teor da missiva, ficaram surpresos.
Tão surpresos que assim que souberam que eram esperados, trataram de fazer as malas.
Juvenal, pedindo uns dias de afastamento do trabalho, comentou que tinha um assunto pessoal para resolver.
Quando Adalgisa, Adolfo, Lélio e Clementino chegaram em casa, qual não foi a surpresa ao verem os dois de malas prontas, dizendo que dentro em breve viajariam para visitar a filha.
Juvenal e Rute, contando aos filhos que Luzia ia ficar noiva, deixou todos alvoroçados.
Os três rapazes animados, perguntaram ao pai, se eles também não podiam ir juntos.
O casal comentando que não sabiam ao certo, ao verem a insistência dos três rapazes em irem até lá, acabaram aquiescendo.
Animados, lá se foram os três fazer as malas.
De férias, não havia problema nenhum para eles em viajar com os pais.
Quem não ficou nem um pouco feliz com isso foi Adalgisa.
A moça, que entraria de férias dentro de alguns dias, comentou:
-- Grande coisa! Todo dia tem gente se casando!
Juvenal ao ouvir as palavras da filha, proferidas em tom de desprezo, ficou deveras aborrecido.
Rute porém, contendo o marido, comentou que não valia a pena discutir por tão pouco.
Juvenal acabou concordando.
Contudo, sem perder a oportunidade, resolveu alfinetar de leve a filha.
Dizendo que ela devia seguir o exemplo da irmã, ele perguntou a ela, quando a mesma iria se casar. Adalgisa, irritada, saiu da sala pisando duro.
Mais tarde quando viu a moça na cozinha, Juvenal comentou que viajaria com os filhos e que não voltaria tão cedo.
Perguntando a filha se ela queria viajar com eles, ouviu como resposta, uma frase atravessada:
-- Quem disse que eu estou interessada?
Diante disso no dia seguinte, aproveitando a manhã ensolarada que fazia, o homem resolveu partir. Pegando um ônibus, ele e sua família partiram em direção a estação.
De lá seguiriam de trem até a cidade e de lá, acompanhados de alguém da família, iriam até o sítio onde a família morava.
Viajando de trem o casal se recordou dos tempos em que viveram em sítios e fazendas.
Saudoso, Juvenal comentou que daria tudo para voltar para viver aquela vida novamente.
Rute, notando a empolgação do marido, comentou que aquela não era hora de ficar sonhando. Juvenal, repreendeu a mulher.
Dizendo que sempre era tempo de sonhar, comentou que não queria se tornar uma pessoa triste, que só sabe se lamentar.
Sim, tinha o direito de sonhar, insistiu.
Rute então, percebendo que de nada adiantaria argumentar, resolveu deixar a questão de lado e apreciando a paisagem, ficou a viagem toda olhando o mundo pela janela do trem.
Quando finalmente chegaram na cidadezinha, depois de telegrafarem avisando, Cláudio e Augusto os esperavam.
Foram eles que levaram toda a família até o sítio.
Ao notar a ausência de Adalgisa, Cláudio perguntou por que ela não tinha vindo.
Juvenal respondeu:
-- Vocês sabem como é aquela destrambelhada.
Rute ao ouvir o marido falando daquele jeito da moça, censurou-o.
Dizendo que aquele não era modo de tratar a própria filha, ficou aborrecida com o marido, mas Juvenal, insistindo nisso, comentou que ela era mesmo destrambelhada.
Nisso a família seguiu até o sítio.
Ao lá chegarem, foram recebidos por Marisa, Otávio e Tobias.
As crianças também estavam presentes.
Carlota no entanto, trabalhando não estava presente.
Marisa então, comentando que a moça só fazia o que dava na veneta, alegou que era impossível fazê-la ter modos.
Rute dizendo que não tinha problema, perguntou sobre a vida da família.
Marisa respondeu:
-- Olha Rute. Não tem sido nada fácil. Contudo, apesar de todo o sofrimento, eu me surpreendi. Carlota que sempre quis sair daqui, foi a primeira a se recusar a vender o sítio. Logo vieram Otávio e Tobias em sua defesa. Desde então, os três tem trabalhado muito para manter tudo isso. E eu ajudo no que posso. As crianças também.
Rute então comentou:
-- É isso que dá gosto! Todo mundo unido. É assim que família tem que ser.
Animadas, as duas entabularam uma longa conversa.
Falando das últimas novidades, contaram como estavam suas respectivas famílias.
Mais tarde durante o jantar, com todos reunidos, Augusto, nervoso que estava, encheu-se de coragem e pediu a mão de Luzia em casamento.
Preparado para o acontecimento, já tinha até comprado um anel.
Juvenal depois de ouvir o pedido, concordou, e dizendo que queria que os dois fossem muitos felizes, abençoou o casamento.
Depois, todos foram jantar.
Marisa, feliz com a reunião das duas famílias, caprichou no repasto.
Diante disso, todos comeram regaladamente.
Nisso, Adalgisa, cansada de ficar sozinha, de posse do endereço da família de Augusto e Cláudio, resolveu ir até o sítio.
Contudo, ao ver Luzia, comentou rispidamente que não estava ali por causa dela, e sim em respeito a família.
Luzia ao ouvir as palavras da irmã, não deixou por menos.
Dizendo que para ela não fazia a menor diferença saber quais eram os motivos que a levaram até lá, começou a rir.
Alegando que era muito engraçado ela dizer que tinha respeito a família, deixou Adalgisa visivelmente irritada.
Nisso, durante o almoço da família com Osíres e a esposa, Carlota, aproveitando uma das ausências de Marisa e Adélia, combinou com o primeiro, o dia e o local do encontro.
Quando então, as duas mulheres voltaram, os dois já estavam mais do que combinados.
Assim, era só uma questão para os dois se encontrarem e finalmente acertarem suas contas.
Nesse meio tempo, ocorreu uma procissão na cidade.
Carlota, sentindo que chegava a um momento decisivo em sua vida, ao passar pela cidade, passou na igreja.
Na porta de entrada tirou o chapéu e fez a genuflexão.
A seguir, levantou-se e caminhando pelo templo, escolheu um banco, e ajoelhando-se, começou a rezar.
Devota de Nossa Senhora Aparecida, durante a procissão religiosa que se deu na cidade, cantou a plenos pulmões:
“É de sonho e de pó
O destino de um só
Feito eu perdida
Em pensamento
Sobre o meu cavalo
É de laço e de nó
De gibeira o jiló
Desta comprida a sol
Sou caipira Pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Me ilumina minha escura e funda
O trem da minha vida
Sou caipira Pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Me ilumina minha escura e funda
O trem da minha vida.”
O préstito, caminhava segurando velas, cantando e rezando.
À frente estava o andor com a imagem da santa, guiando os romeiros que fiéis, não perdiam a chance de demonstrar sua devoção a Nossa Senhora.
A multidão, seguindo o ritual, caminhava em direção a igreja, local para onde a imagem retornaria após o cortejo pelas ruas da cidade.
Todos os anos era sempre assim.
Em respeito ao dia de Nossa Senhora, a cidade aproveitava para fazer uma homenagem a Padroeira do Brasil.
Por conta dessa devoção, um dia, aproveitando para ver a imagem original, resgatada do Rio Paraíba, por pescadores, Marisa e Orlando, levando os filhos, foram visitar a Basílica que estava sendo construída em Aparecida, no interior do estado.
Rute e Juvenal, também foram certa vez visitar a Basílica.
Impressionados com as dimensões da construção colossal, os dois ficaram dias a contar o espanto e a admiração pela construção.
Na cidade onde morava Marisa e sua família, ou parte dela, boa parte dos moradores já havia ido pelo menos uma vez até Aparecida.
E isso tinha muito valor para eles.
Tanto que a santa de devoção da cidade era Nossa Senhora Aparecida.
Por isso a reverência e a homenagem todos os anos.
Com isso, ao final da procissão, quando a santa era novamente entronizada na igreja, os populares, emocionados, faziam questão de retribuir tudo o que de bom a santa havia proporcionado a todos, com uma salva de palmas.
Carlota, que até então não tinha nada a agradecer, resolveu fazer um pedido.
Assim, enquanto todos aplaudiam, a moça pedia com todas as forças do seu coração, para que se fizesse justiça com relação a seu pai.
Mais tarde, ao término da procissão, Carlota, dizendo que precisava ficar sozinha, pediu a mãe e aos irmãos, que voltassem sem ela para casa.
Marisa contudo, ao ouvir o pedido da filha, tentou se recusar a atendê-lo.
Pedindo para que Carlota voltasse para casa, insistiu para que ela não ficasse sozinha.
A moça porém, dizendo que precisava ficar sozinha, insistiu com a mãe para que fosse embora com os demais.
Marisa relutante, acabou concordando.
Porém, dizendo para que ela não se demorasse, pediu para que assim que quisesse voltar, pedisse carona a um dos amigos da família.
Carlota para tranqüilizar a mãe, prometeu que quando quisesse voltar para casa, aceitaria uma carona e voltaria mais do que depressa.
Marisa e os demais partiram então.
Desta forma Carlota, pensando na vida, ficou a vagar pelas ruas da cidade.
A certa altura, imersa em pensamentos, começou a caminhar pela estrada.
Sem se dar conta começou a voltar para casa.
Andando a pé, percorreu uma longa distância.
Quando deu por si, já estava perto de casa.
Ao se aproximar do sítio, percebeu que já era muito tarde.
A essa altura, todos dormiam.
A moça, percebendo isso, tentando não acordá-los, tratou de entrar na casa, e sem fazer barulho se ajeitou e dormiu.
Cansada, precisava ter uma boa noite de sono.
Só assim estaria em condições de enfrentar Osíres, e assim decidida a moça dormiu.
Dormiu tanto que só foi acordar bem tarde.
Marisa, percebendo o comportamento estranho da filha, perguntou-lhe o que estava acontecendo. Carlota, respondendo com evasivas, só conseguiu deixar sua mãe mais preocupada.
Marisa, sentindo que algo muito sério estava por acontecer, pediu a filha que esta não fizesse nenhuma besteira.
Carlota, fazendo-se de desentendida, respondeu que ela não tinha com o que se preocupar.
Marisa então, dizendo que ela estava muito estranha, comentou que a mesma era surpreendente. Elogiando sua postura ao defender a propriedade do pai, Marisa revelou que tinha muito orgulho dela.
Tanto orgulho que não queria que Carlota pusesse tudo a perder.
Abraçando a filha, a mulher pediu a ela para que não fizesse nenhuma besteira.
Carlota então, respondeu:
-- Minha mãe! Eu não vou fazer nada de mais. Prometo. Eu só quero esclarecer a morte de meu pai. Nada demais. Não se preocupe. Não vou cometer nenhum crime.
Marisa, ao ouvir as palavras da filha, ficou um pouco mais calma.
Contudo, apreensiva que estava, pediu a moça, reiteradas vezes, para que não saísse de casa naquele dia.
Carlota, assentiu com a cabeça concordando.
Como havia combinado o encontro para a noite, não havia problema nenhum em ficar em casa durante o dia.
A noite todavia, precisaria encontrar uma maneira de sumir dali, sem que ninguém desconfiasse. Como havia a janela, sua eterna aliada das fugas e escapadelas, Carlota nem precisou pensar muito no que fazer.
Com isso, enquanto durante o dia ficou praticamente todo o tempo dentro de casa, quando chegou a noite, depois de jantar, dizendo que estava cansada, foi até seu quarto e deitou-se.
Marisa, preocupada, foi ver o que estava acontecendo.
Ao ver Carlota dormindo, tranqüilizou-se.
Encostando a porta, deixou-a dormir.
Nisso Carlota, que só estava esperando a mãe vê-la deitada, levantou-se, e procurando não fazer barulho, vestiu uma linda roupa que ganhara de uma conhecida, e arrumando-se, postou-se diante da porta, e procurando verificar se havia alguém acordado, ao se certificar que estava tudo tranqüilo, andou pé-ante-pé até a janela.
Ao se aproximar, pulou-a e vendo-se do lado de fora da casa, caminhou vagarosamente até onde a caminhonete estava.
Procurando fazer o mínimo de barulho, a moça ligou o motor e saindo da propriedade, foi até o local do encontro.
Ao lá chegar, a moça percebeu que Osíres a esperava há algum tempo.
O homem, impaciente, perguntou a moça, por que ela havia demorado tanto.
Carlota, explicando então que não podia deixar que desconfiassem dela, comentou que teve um pouco de trabalho, para despistar a mãe.
Osíres, ao ouvir as explicações da moça, sorriu satisfeito.
Ansioso, ao saber que tudo estava tranqüilo, começou a se insinuar para a moça.
Dizendo que há muito tempo tinha interesse nela, comentou que mal podia esperar a hora em que ele estaria frente a frente com ela.
Carlota, ao ouvir as palavras de Osíres, sorriu constrangida.
Dizendo que se sentia agradecida com os comentários, tentando encontrar coragem, perguntou a ele se ele era muito amigo de seu pai.
Osíres, curioso com a pergunta, devolveu a indagação, questionando-lhe sobre o por quê da mesma.
Carlota ressabiada, respondeu que apenas estava procurando algum assunto para conversar.
Osíres então, respondendo que não estava interessado em perguntas, tentou abraçá-la, mas a moça se afastou.
O homem então, notando o retraimento da moça, perguntou:
-- Vai se fazer de difícil, não é?
Carlota então tentando evitá-lo, passou a fugir dele.
Dizendo que queria conversar um pouco, perguntou-lhe por que não podiam fazê-lo.
Osíres, percebendo a insistência da moça em conversar, comentou que não tinha nada de interessante a dizer.
Alegou então que era muito amigo de Orlando, e que sempre que se encontravam, os dois aproveitavam para contar as novidades.
Muito embora não existisse muitas coisas novas para serem contadas, sempre havia um causo a ser comentado.
Carlota curiosa perguntou a ele, se eles conversavam sobre questões pessoais.
Osíres, ao ouvir a pergunta, não gostou nada.
Questionando a moça sobre qual era o interesse dela nisso, ouviu como resposta que só queria saber se seu pai falava na família.
Além disso, salientando que era uma simples curiosidade, perguntou a Osíres se havia problema em se falar sobre isso.
O homem respondeu que não.
Dito isso, Osíres começou a dizer que algumas vezes eles falavam da família.
Outras vezes, comentavam sobre assuntos que tinham a resolver na cidade.
O homem então, comentando que na última vez que se encontraram, Orlando tinha alguns assuntos para resolver na cidade, falou a Carlota, que os dois conversaram um pouco antes dele sair do bar, e horas depois ser encontrado morto.
A moça, percebendo que ele estava falando o que queria ouvir, deixou-o falar.
E Osíres continuou falando.
Carlota, percebendo que havia bebidas no ambiente, começou a oferecê-las para ele.
Alcoolizado, Osíres acabou contando que ele e Orlando se desentenderam.
Bêbado, contou até onde era o bar onde estavam.
A certa altura, comentando que estava cansado de falar, Osíres agarrou a moça.
Carlota não gostou nem um pouco disso.
Mandando ele parar, a moça tentou se soltar de todas as maneiras possíveis.
Osíres contudo, não a soltou.
Dizendo que queria uma retribuição por tudo o que havia dito, comentou que não podia deixá-la ir.
A moça começou a bater em Osíres.
Debalde.
O homem, mais forte que ela, não a soltava.
Carlota então, no auge do desespero, ao ver um jarro de barro, cuidadosamente segurou com uma das mãos, e mirando na cabeça dele, atingiu-o em cheio.
Contudo, Osíres, por ser um homem forte, apesar de a ter soltado, não perdeu a consciência.
Mas cambaleante, prometeu se vingar.
Carlota percebendo a deixa, tratou logo de sumir dali.
Para seu azar no entanto, o homem a seguiu de carro.
A moça, desesperada, sem ter para onde ir, foi até a delegacia e dizendo que tinha um homem a ameaçando, pediu para que um policial a acompanhasse até sua casa.
Os policiais, ao verem a moça toda arrumada e sozinha uma hora daquelas pela cidade, ficaram espantados.
Mas prontos a executarem seu trabalho, pediram a mesma que se acalmasse e partiram no encalço do suposto homem.
Vasculhando a região, descobriram que Osíres dirigindo seu carro, parecia procurar alguém.
Os policiais, estranhando sua presença na cidade foram conversar com ele.
O homem, ao ser interpelado pelos policiais, assustou-se e tentando sair do local, foi cercado. Desconfiados da atitude de Osíres, os mesmos o conduziram até a delegacia.
Lá estava Carlota.
O homem bêbado, ao vê-la, perguntou:
-- Então é aí que você está sua pilantra?
O delegado, percebendo o estado do homem, recomendou-lhe que o mesmo se comportasse. Alcoolizado, Osíres enfrentou o delegado.
Dizendo que ela era uma pilantra, comentou que ela havia preparado uma armadilha para ele e que por pouco ele não caiu.
Ao dizer que ela o induzira a dizer que havia visto Orlando horas antes de seu assassinato, comentou que os dois brigaram.
O delegado ao ouvir as palavras de Osíres, comentou surpreso, que o mesmo nunca havia dito que havia conversado com Orlando horas antes do assassinato.
Osíres percebeu então, que havia falado demais.
Contudo, já era muito tarde para negar, e o delegado intrigado, começou a pressioná-lo para contar tudo o que havia acontecido naquele dia.
Por diversas vezes Osíres entrou em contradição.
No fim, sem ter como negar, acabou confessando.
Havia matado Orlando.
Sem nenhum motivo aparente que justificasse a morte, comentou que estava com raiva dele e por isso ao vê-lo, sentindo-se desafiado, acabou o matando.
Carlota ao ouvir a confissão, ficou tão furiosa que começou a bater nele.
O delegado percebendo a exaltação da moça, pediu aos policiais que a levassem para fora dali.
Nesse ínterim, foram preenchidas as todas formalidades, e depois de Osíres assinar o termo do interrogatório, o delegado oficiou ao juiz.
Queria que a autoridade judicial autorizasse a prisão.
E assim, a noite, que parecia tranqüila, revelou-se mais tumultuada do que se poderia imaginar.
Marisa ao ver sua filha chegando de carro, guiada por uma viatura da policial, ficou apavorada. Temendo que a mesma tivesse feito uma grande besteira, acorreu em direção a entrada quando a viu descer do carro.
Assustada, foi logo perguntando:
-- Minha filha! O que foi que você fez?
O susto durou pouco.
Depois de ouvir as explicações dos policiais, descobriu que se não fosse a intervenção de Carlota, eles teriam demorado muito mais tempo para encerrar as investigações.
A mulher, orgulhosa da filha, abraçou-a, e agradecendo sua coragem, chorou emocionada.
Mais tarde, depois da condenação de Osíres, a família de Rute e Juvenal, meses depois, juntamente com a família de Marisa, foram visitar o túmulo de Orlando.
Carlota emocionada, depositou flores na sepultura.
Enfim, era a feita a derradeira despedida.
Mais tarde realizou-se do casamento de Augusto e Luzia.
Sim, um ano depois, os dois se casaram no sítio.
Numa cerimônia ao ar livre, tendo como padrinhos Cláudio e Célia, os dois se casaram.
Vestida com um vestido bufante Luzia estava radiosa.
Marisa não cabia em si de contente.
O padre, vindo da igreja da cidade, foi quem celebrou o casamento.
Otávio e Tobia,s conversando com duas vizinhas, começaram a namorar.
Carlota durante a festividade, passou todo o tempo conversando com os irmãos de Luzia.
Ao jogar o buquê, Célia, pegou-o.
Marisa ao ver a cena, comentou que tinha mais um casamento para providenciar.
Nisso os anos se passaram.
Muito embora muita coisa tivesse mudado, Carlota continuava sentada, na soleira da porta, esperando que talvez um dia tudo voltasse a ser como já fora antes.
Solitude.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Contudo, não foi nada fácil fazer isso.
Orlando, teimoso, insistia não ir.
De tão teimoso, acabou não indo.
Mas para não perder a oportunidade, aproveitou para ao menos, fazer um pequeno passeio pelo lugar.
Com três filhos pequenos, ele e sua mulher Marisa, viajaram de trem até a região.
Pela janela do trem, puderam apreciar as paisagens.
Verdejantes plantações e animais tranqüilos pastando em meio a muita natureza de uma beleza sem igual.
Na cidade, passearam com o filho, e conheceram igrejas e monumentos.
Além disso, aproveitaram também para conhecer São Paulo, que nesse tempo, já era uma grande metrópole.
A selva de pedra impressionava.
Tudo era e ainda é colossal em São Paulo.
Porém, assim que se cansou, Orlando voltou para o sítio onde morava, juntamente com Carlota, Tobias e Otávio.
Já Marisa, resolveu ficar um pouco mais.
Foi então que Augusto, Cláudio, ela e mais três crianças, passaram a morar em uma casinha simples, bem retirada do centro da cidade.
Algumas vezes, ocorreram até tiroteios nas proximidades.
Marisa, ao ouvir os tiros, ficava desesperada.
Com isso, o pouco tempo em que Marisa ficaria na cidade, se tornam anos, as crianças cresceram, e freqüentemente Orlando aproveitava para visitar a família.
Foi nessa época que Augusto conheceu Luzia.
Conheceram-se de uma forma bastante curiosa, diga-se de passagem.
Enquanto Luzia ainda cursava supletivo, Augusto diversas vezes a vira saindo da escola, enquanto ele aproveitava para se encontrar com alguns amigos.
Entrementes, apesar de a conhecer de vista, nunca tinha se apresentado a ela.
Mas quando a moça estava andando apressada, distraidamente trombou nele ele.
Ele, aproveitando que ela tentaria se desculpar, se apresentou, e nisso, passaram a conversar.
Daí para fazerem amizade foi um pulo.
Depois para começarem a namorar foi outro pulo.
Nessa época também Luzia conheceu a família de Augusto.
Tiago, nessa época, já tinha seis anos.
Um dia ao encontrar um cachorro na roupa, disfarçadamente, levou-o para casa.
Lá, com a ajuda de Alice e Dulce, passou a cuidar do animal, sem que sua mãe percebesse.
Porém a certa altura, não havia mais como esconder.
Muito embora Marisa, trabalhando com costuras, não tivesse tempo para olhar os filhos, ainda assim, acabou descobrindo o cachorro, depois que este começou a latir como um desesperado. Ao descobrir, Marisa bem que tentou se livrar do cachorro, mas qual o quê! Ao ver Tiago lhe pedindo, suplicando para que ficasse com o cachorro, não teve jeito.
E assim, Dona Marisa acabou aceitando o estranho hóspede.
Hóspede que conviveu com a família por muitos anos.
Tantos, que quando o cãozinho morreu, todos ficaram consternados.
Enquanto isso, morando no interior, Orlando e seus filhos, continuaram cuidando do pequeno sítio em que moravam.
De vez em quando, porém, Orlando realizava algumas viagens para São Paulo, no intuito de visitar a família.
Nessas oportunidades, aproveitava para matar as saudades dos filhos pequenos e da esposa.
Tiago, Alice e Dulce, viviam disputando sua atenção, haja vista que ele vivia distante deles.
Muito embora procurasse sempre visitar a família, as crianças sentiam sua falta.
Por isso, sempre quando ía para o ABC visitar a família, as crianças sempre o recebiam com muita festa.
Numa dessas idas para a cidade, ao ver Dulce aprontando, foi logo lhe chamando a atenção.
Marisa, ao ver Orlando dando bronca na filha, não gostou nem um pouco, e começou a brigar com ele.
Afinal de contas, segundo suas próprias palavras, como ele, que estava sempre tão longe, podia, nos poucos momentos em que ficava com os filhos, dar bronca neles?
Ao ouvir isso, Orlando ficou aborrecido.
Cansado de ouvir as imprecações de Marisa, resolveu dar uma volta.
Foi então, que ao ver um boteco, resolveu dar uma parada em sua caminhada e bebericar uma cerveja.
Assim, entrou no bar e foi logo pedindo uma bebida.
Prontamente atendido, sentou-se no balcão e bebeu calmamente a cerveja.
Nisso apareceram alguns moradores, que freqüentemente iam ao bar, onde bebiam e jogavam sinuca.
Foi assim, que Orlando ficou conhecendo alguns moradores do lugar.
Isso por que, ao conversar com o pessoal que freqüentava o bar, passou a sempre que podia, dar uma passadinha.
Essa passadinha porém, podia durar algumas horas.
Tal fato contribuiu para que surgissem mais desentendimentos entre ele e Marisa.
Depois de algum tempo ouvindo as reclamações da esposa, Orlando, enfastiado, resolveu arrumar suas coisas e voltar para o interior.
Cláudio, ao perceber as brigas do casal, tentou fazer o que pôde para que eles se entendessem.
Tudo em vão.
Além de não conseguir acabar com as brigas dos dois, acabou ouvindo ainda, severas admoestações de Marisa, que lhe avisou mais de uma vez, para não se meter no assunto.
Realmente, a situação estava difícil.
Orlando, aborrecido com o comportamento da esposa, passou a evitar as viagens.
Contudo, Carlota, Otávio e Tobias, a todo momento reclamavam a presença da mãe.
Como já fazia vários meses que não a viam, insistiam com Orlando para este os liberasse para fazerem uma visita a família.
Orlando, todavia, teimoso que era, nunca deixava.
Carlota, aborrecida com a atitude do pai, aproveitando um momento de distração dele, resolveu pegar alguns trocados que o mesmo tinha guardado, e de posse desse dinheiro, tratou de arrumar seus pertences para viajar.
Assim o fez.
Na calada da noite, aproveitando que todos dormiam, aproveitou para, sorrateiramente, sair do quarto, e depois, ganhar o mundo.
Com isso, durante toda a madrugada, caminhou.
Caminhou bastante, até chegar na estação.
Lá comprou uma passagem e rumou em direção a São Paulo.
No trem, aproveitou para recuperar as horas de sono perdidas.
Por isso, não teve nem tempo, nem paciência, para apreciar a paisagem que se descortinava pela janela do trem.
Ao chegar no ABC, foi logo encontrar a família.
Chegando na casa dos irmãos, foi logo recebida por sua mãe, que espantada, perguntou:
-- Mas minha filha, o que você faz por aqui?
Carlota então respondeu:
-- Eu vim visitá-la. Por acaso não gostou da surpresa?
-- Sim. É claro que eu gostei. Mas eu não esperava por isso. Orlando nem avisou que você viria. – respondeu Marisa.
-- Ele não sabe que eu vim.
Marisa ficou então, espantada:
-- Como é que é? Orlando não sabe que você veio? Agora é que a confusão está armada. Como eu vou fazer para explicar isso a ele?
No que Carlota respondeu:
-- Muito simples. Não explique, deixe ele com sua raiva.
Mas Marisa sabia que esta história ía se tornar uma grande confusão.
Dito e feito.
Assim que Orlando deu pela falta da filha, ficou a procurá-la feito um doido.
Vasculhando toda a região perguntou a todo mundo que encontrou se alguém havia visto sua filha.
Como ninguém deu resposta afirmativa, Orlando ficou cismado.
Preocupado, se perguntava a todo momento onde ela havia parado.
Contudo, conforme foram se passando os dias, ao perceber que Carlota não voltava, Orlando começou a desconfiar que a mesma havia ido se encontrar com seus irmãos em São Paulo.
Ao aventar essa possibilidade, Orlando começou a se perguntar como ela havia conseguido dinheiro para viajar.
Desconfiado, procurou a caixinha onde havia guardado seu dinheiro.
Ao perceber que a mesma estava quase vazia, ficou furioso.
Realmente Carlota, desobedecendo suas ordens, foi procurar a mãe.
Orlando, ao constatar isso, prometeu a si mesmo que no dia seguinte iria até a cidade ligar para Marisa.
Assim, enquanto isso, Carlota, aproveitando a estada, foi conhecer melhor a região.
Orlando ficou a procurá-la.
Carlota porém, mesmo sabendo que seu pai poderia vir em seu encalço, estava decidida a ficar por lá.
Comentando com Augusto e Cláudio que pretendia arrumar um emprego, sugeriu que eles a indicassem, quando uma vaga aparecesse.
Augusto e Cláudio, ao ouvirem as palavras de Carlota, não ficaram nem um pouco satisfeitos com a novidade.
Isso por que, aguardando a reação intempestiva do pai, estavam mais do que cientes de que ele, logo que deduzisse onde ela estava, partiria em seu encalço.
Marisa, ao perceber a preocupação dos filhos, comentou que também sabia disso.
No entanto, como fazer para convencer Carlota disso?
Esta não era uma missão fácil.
Augusto porém, percebendo que seria melhor ela voltar para casa, sugeriu que ela voltasse depois, quando as coisas estivessem mais calmas.
Carlota teimosa, não aceitou a sugestão e, dizendo que precisava mudar sua vida, comentou que ali era um ótimo lugar para se realizar aquela mudança.
O rapaz tentou insistir mas Carlota, dizendo que nada a demoveria da idéia, deixou bem claro que não desistiria de seus planos.
Augusto, percebendo que o confronto seria inevitável, resolveu deixar isso para lá.
Ademais em menos de uma semana lá estava Orlando, batendo na porta da casa deles, querendo saber de Carlota.
Por sorte a moça, procurando trabalho, não estava em casa quando ele chegou.
Orlando ao saber que Carlota não estava, não ficou nem um pouco satisfeito.
Marisa contudo, ao contrário das outras vezes, preocupada em evitar uma futura briga, comentou que a moça não havia causado nenhum problema.
O homem porém, não queria nem saber.
Carlota havia desobedecido ordens suas e portanto, merecia um castigo.
Marisa, ao notar a irritação de Orlando, comentou que ela estava procurando emprego na cidade.
Ele ao ouvir isso, ficou mais irritado ainda.
Dizendo que ela já tinha trabalho no sítio, comentou que não tinha nada que ficar na casa dos irmãos dando despesa.
Marisa tentando amenizar a situação, comentou que não havia nada demais ela ficar, desde que ajudasse nas despesas da casa.
Orlando porém, não estava acorde com isso.
Contudo, ainda que quisesse levar Carlota de volta, teria que esperar a moça voltar.
Assim, mesmo nervoso, o homem esperou.
Esperou, esperou.
Quando Cláudio, e depois Augusto apareceram, Orlando foi logo perguntando onde Carlota estava.
Atônitos os dois perguntaram a mãe se ela não havia voltado.
Marisa respondeu que não.
Orlando ao ouvir isso, ficou ainda mais irritado.
Alegando que Marisa não estava tendo o devido cuidado com Carlota, disse:
-- Pois bem! Muito bonito isso! Você me disse que ela saiu para procurar emprego. E como é que até agora ela não voltou?
-- Não sei. – respondeu Marisa.
-- Pode ser que ela já esteja a caminho. – respondeu Cláudio.
-- Então vamos esperar. – respondeu Orlando se sentando.
Nisso, eis que surge Carlota.
Depois de passar o dia inteiro fora de casa, finalmente a moça entra na sala.
Ao ver o pai contudo, Carlota não fica nada feliz.
Orlando ao vê-la entrando, perguntou:
-- E então? Como foi o seu dia? Andou procurando muito um emprego?
Carlota, surpresa com a presença do pai, comentou:
-- Ora pai, o senhor por aqui?
-- Não seja irônica, Carlota. Você sabia muito bem que assim que eu desse pela sua falta, eu viria para cá. – respondeu Orlando irritadíssimo. – Quem é que te mandou desobedecer as minhas ordens?
-- Ninguém. Eu é que já não agüentava mais ter que suportar todas as suas ordens. Cansei! Agora eu vou ficar aqui. – respondeu ela em tom de desafio.
-- Ah! Mas não vai mesmo! Quem você pensa que é pra me enfrentar dessa maneira? Tome tenência. Você vai voltar comigo. E vai ser amanhã.
-- Não vou. – respondeu ela teimosamente.
Marisa ao ver o tom da conversa, tentou apartear os dois, mas Orlando, percebendo a intervenção, mandou a mulher não se meter na conversa.
A mulher mesmo sendo avisada pelo marido, tentou intervir, mas Cláudio e Augusto, percebendo que aquilo poderia acabar mal, segurando a mãe, cada qual por um braço, aconselharam-na a ir com eles até a cozinha.
Diante do gesto dos filhos, mesmo relutante, Marisa acabou concordando, e indo com eles até a cozinha.
Antes porém, a mulher pediu encarecidamente para que ele não batesse em Carlota.
Nisso, enquanto os três ficaram na cozinha, Orlando e Carlota discutiram.
Marisa tentou intervir, mas novamente seus filhos a impediram.
Tiago, Dulce e Alice, cientes do nervosismo do pai, nem ousaram chegar perto dele.
E assim, Orlando e Carlota, continuaram se desentendendo.
No final da discussão no entanto, Carlota, sem argumentos, não teve outra alternativa senão concordar com a sentença do pai e voltar para casa.
Aborrecida, foi até o quarto.
Irritada, arrumou sua pequena mala.
No dia seguinte, para desalento de Marisa, Carlota e Orlando se despediram.
Depois de tomarem um café, foram até o ponto de ônibus.
Lá aguardaram o ônibus.
Assim que o mesmo chegou os dois subiram.
No meio do caminho a paisagem, que Carlota, desolada, nem sequer parou para olhar.
Mais tarde, dentro do trem Carlota só pensava na raiva que estava sentindo de Orlando.
Furiosa, Carlota prometia a si mesma que voltaria para São Paulo, nem que fosse para viver sozinha.
Isso por que, cansada das ordens de seu pai, não via a hora de poder viver sua própria vida, independente da de qualquer outra pessoa.
Estava insatisfeita no sítio, e gostaria de conhecer um modo de vida diferente do dela.
Contudo, neste seu retorno, muita coisa mudaria.
Mas inicialmente, tudo permaneceu com a mesma conformação.
Chateada com seu pai, Carlota, apesar de não ter sofrido nenhum tipo de castigo, continuou a pensar em fugir.
Orlando, percebendo que não seria com pancadas que convenceria Carlota, prometeu não mais bater nela.
Dizendo-se interessado em manter uma boa convivência com ela, prometeu que a deixaria fazer algumas coisas que tanto queria.
Carlota todavia, desconfiada de tanta gentileza e amabalidade, continuou hostil.
Orlando, ao notar que seu esforço não estava adiantando, voltou a se aborrecer.
A moça, percebendo isso, comentou:
-- Sabia que essa sua gentileza não iria durar muito tempo.
O homem, ao perceber isso, constatou que precisaria se esforçar mais, se quisesse convencer a filha, de que estava disposto a dialogar.
E assim nos meses que se seguiram, ele continuou tentando manter a boa convivência.
Carlota por sua vez, demorou um bom tempo para se convencer de que as coisas estavam mudando por lá.
Reticente, não conseguia acreditar em nenhum gesto de boa vontade de Orlando.
Porém, ao ver que mesmo diante de suas provocações Orlando não se irritava, Carlota acabou depois de um certo tempo, se convencendo de que o mesmo estava disposto a mudar.
Foi aí que a relação dos dois mudou.
Embora ainda brigassem, Orlando se mostrava mais disposto a ouvir suas idéias.
Mais amigos, até a vizinhança ficou espantada quando os viu conversando pela primeira vez, sem brigar.
Contudo, quando parecia tomar um rumo certo, eis que uma reviravolta, mudou tudo novamente.
Depois de um certo período de tranqüilidade, Orlando, ao passar pela cidade, sequioso por molhar a goela, como ele mesmo costumava dizer, ao ver um bar aberto, resolveu entrar.
Ao entrar, pediu uma cerveja.
No balcão mesmo bebeu a cerveja.
Apreciando seu sabor, sentiu que já era hora de cuidar dos assuntos que o levaram até lá.
Assim, foi saindo do bar.
Porém, assim que almejou sair, Osíres, ao vê-lo cumprimentou-o, e dizendo que tinham muito o que conversar, pediu para que ficasse um pouco mais no bar.
Orlando dizendo que tinha assuntos para resolver, comentou que tinha voltar para casa.
Osíres contudo, dizendo que tinha algo muito importante a dizer, fez questão de deixar bem claro que queria que ele ficasse.
Orlando, então percebendo a inquietude de Osíres, respondeu que ficaria mais um pouco.
Porém, só ficaria tempo suficiente para ele contar a novidade.
Osíres então, pediu uma cerveja.
Bebericando-a, ele começou a contar que tinha interesse em comprar algumas terras.
Orlando ao ouvir isso, não gostou nem um pouco do tom da conversa.
Nisso Osíres, vendo que ele não pedira mais nada, ofereceu-se para pagar uma bebida.
Orlando recusou.
Dizendo que tinha muita pressa, comentou que tinha que ir.
Osíres então, comentando que o que tinha a dizer era muito importante, pediu mais uma vez que ele esperasse um pouco.
Orlando então, resolveu esperar mais um pouco.
Assim ficou a ouvir as palavras de Osíres.
Osíres, que a cada momento pedia mais uma cerveja, começou em um dado momento a falar bobagens.
Orlando, esquentado que era, não gostou nem um pouco quando o homem começou a falar de sua mulher e de seus filhos.
Em dado momento, depois de ter aceito algumas cervejas oferecidas pelo amigo, Orlando exaltado, mandou Osíres parar de fazer comentários sobre sua família.
Mas o homem, ao invés de ouvir os conselhos do amigo, passou a falar mais e mais da família de Orlando.
Alcoolizado, Orlando a certa altura se irritou sobremaneira, e avançando contra Osíres, ameaçou lhe surrar se ele não parasse de falar de seus familiares.
Osíres ao ouvir as ameaças irritou-se, e dizendo que ele não era ninguém para ameaçá-lo, comentou que ele iria se arrepender do que havia dito.
Irritado, depois de dizer estas palavras, pagou a conta e trôpego, saiu do bar.
O atendente ao ouvir as palavras de Osíres, recomendou a Orlando que este tivesse cuidado.
Dizendo que Osíres era muito vingativo, o rapaz advertiu-o para o fato de que o mesmo era muito perigoso.
Orlando ao ouvir a recomendação do rapaz porém, deu de ombros.
Dizendo que já estava velho demais para ter medo do que quer que fosse, agradeceu a preocupação, mas disse que não tinha com o que se preocupar.
Cambaleante, saiu do bar.
Decidido a resolver os assuntos que tinha para resolver, saiu dali.
Foi a última vez que seria visto na região.
Conforme a noite foi se aproximando, Tobias e Carlota, percebendo que Orlando não chegava, começaram a ficar preocupados.
Otávio, notando a preocupação, comentou que provavelmente o pai havia parado em algum bar e que por isso estava demorando.
Os dois ao ouvirem as palavras do irmão, concordaram com ele.
Sabendo que Orlando adorava tomar uma cervejinha, chegaram a conclusão de que ele deviria estar bebericando com alguns conhecidos.
Algumas vezes de tão empolgado, chegava a ficar bêbado.
Diante disso os dois se acalmaram.
Com isso, vendo que já era tarde para permanecerem acordados, resolveram dormir.
Quando acordaram, qual não foi a surpresa deles ao se depararem com o delegado.
Depois de se aprontarem para irem trabalhar na roça, quando saíram de casa, notaram que o homem, acompanhado de dois policiais, os esperava na porteira.
Otávio, ao ver o homem postado diante deles, mandou que entrasse.
O delegado então entrou, e sendo conduzido até a casa, comentou que Orlando havia sido encontrado morto nos limites da cidade.
Carlota, ao saber disso, ficou chocada.
Ao saber que o pai estava morto, começou a gritar.
Enquanto isso Marisa, que morava no ABC, a essa altura, nem imaginava o que estava acontecendo com o restante de sua família.
Cuidando de Tiago, Dulce e Alice, Marisa nem sequer cogitava que sua vida iria novamente mudar. Mas iria sim.
Enquanto no sítio, Tobias e Otávio tomavam providências para o funeral, e o delegado solicitava os exames e as perícias necessárias para averigüar as razões do crime.
Carlota por sua vez, tomando coragem, teve a difícil missão de contar a mãe que Orlando havia sido assassinado.
Sem coragem de contar a mãe o que estava acontecendo, Carlota demorou para relatar o ocorrido.
Todavia, depois de algum tempo, ao perceber que tinha que contar o ocorrido, a moça ligando a mãe, revelou o que havia sucedido a seu pai.
Marisa ao ouvir a notícia, entrou em desespero.
Descontrolada, não fosse a presença de Cláudio e Augusto, certamente teria saído feito uma doidivanas, até a cidade onde moravam.
Isso por que, assim que soube do ocorrido, depois de muito chorar, comentou que precisava ir até lá para saber melhor o que estava acontecendo.
Se Cláudio e Augusto não a tivessem segurado, certamente Marisa e seus três filhos pequenos teriam ido para lá, sem nem ao menos prepararem uma mala.
Marisa desatinada, não sabia o que fazer.
Sem saber o que pensar, só queria ver seus filhos, que a essa altura, deviam estar enfrentando o momento mais difícil de suas vidas.
Cláudio e Augusto porém, convencendo-a a esperar um pouco, prometeram que a acompanhariam na viagem.
Todavia, precisavam explicar no trabalho que precisariam se ausentar.
Assim procederam.
Cláudio e Augusto, cada qual em seu trabalho, explicando que precisariam viajar, pediram alguns dias de licença.
Seus patrões, ao saberem do ocorrido, concederam-na sem pestanejar.
Nisso, os dois, juntamente com seus três irmãos pequenos e a mãe, prepararam suas malas.
Em seguida, fecharam a casa e indo rumo a estação ferroviária, partiram em direção a cidade e ao sítio, onde estavam Carlota, Otávio e Tobias.
Ansiosos mal podiam ver a hora de chegar para conversar com os três.
As crianças, mesmo sabendo o que havia ocorrido, devido a pouca convivência com Orlando, apesar de tristes, depois de um dado momento, começaram a ficar inquietas e reclamando da viagem, não paravam de perguntar, a que horas chegariam.
Cláudio e Augusto, percebendo que Marisa estava cansada demais para dar atenção aos filhos, pediram aos três que parassem de reclamar.
Isso por que, não demorariam muito, e já estariam no sítio.
Com isso, depois da bronca, os três se acalmaram um pouco.
No sítio mesmo abalados, os três continuaram trabalhando.
Procurando ocupar suas mentes, evitavam ao máximo pensar no que poderia ter ocorrido naquele dia fatídico a Orlando.
Torturados pela idéia de não saberem o que havia ocorrido, os três ficaram algum tempo sem trabalhar.
Contudo, como tinham um sítio para cuidar, os três vendo que não podiam ficar parados, resolveram retomar o labor.
E assim mesmo entristecidos com a morte do pai, os três trabalharam o máximo que puderam para manter o sítio.
Dedicados, não pensavam em mais nada a não ser trabalhar.
Era assim que evitavam pensar no ocorrido.
Foi assim que Marisa e seus cinco filhos, encontraram Carlota, Otávio e Tobias.
Ao chegarem no sítio, perceberam, ao entrarem na propriedade, que os três não estavam em casa. Com isso, vendo a casa fechada, Marisa, deixando suas tralhas na entrada, pediu para que Augusto, ou Cláudio fossem até onde estavam as culturas, as roças e chamassem os três.
Cláudio, oferecendo-se para ir, foi acompanhado de Augusto.
E lá se foram eles caminhando.
Depois de passarem tantos anos longe daquele lugar, voltar até lá, andar pelos mesmos lugares que haviam pisado quando ainda eram crianças, era uma experiência muito rica.
Caminhando por aqueles campos, avistando o pomar, vendo as plantações, enfim, tudo era um novo contato com uma realidade que bem conheciam.
Contudo, muito embora fizesse pouco tempo que não mais viviam lá, parecia que haviam morado lá há muito tempo.
Curiosamente, parecia-lhes uma realidade distante.
Porém, assim que avistaram os três irmãos juntos, trabalhando, Cláudio e Augusto se deram conta de que tudo o que se passara com eles, estava muito vívido.
Ao verem as expressões abatidas dos irmãos, Cláudio e Augusto, percebendo que já haviam sido vistos, acorreram na direção dos mesmos, que suados, não quiseram abraçar os irmãos.
Todavia, a tristeza era tão grande, que em dado momento, vendo-se tão desamparados, não puderam conter o choro e abraçar os irmãos que haviam chegado.
Os três, comentando com Augusto e Cláudio, sobre o resultado das investigações, relataram que o corpo do pai, não havia sido liberado ainda, mas cautelosos, já haviam providenciado o funeral. Tristes, depois de algum tempo, os três acompanharam os irmãos até a casa.
Lá, desculpando-se pelos trajes, abriram a porta e deixando todos entrar, disseram a eles onde podiam ficar.
Para Marisa, voltar para aquela casa e não se deparar com Orlando, foi extremamente triste. Percebendo que não teria mais com quem brigar, a mulher sentiu um profundo pesar.
Observando cada cômodo da casa, Marisa pôde perceber o quanto Orlando estava presente naquele imóvel.
Carlota então, percebendo que todos estavam acomodados, pediu licença e dizendo que tinha que trabalhar, comentou que precisava voltar para a roça.
Marisa tentou contê-la, mas Tobias e Otávio, constatando que a moça precisava ficar sozinha, pediram a mãe, para que a deixasse ir.
A mulher então, consentiu.
Carlota então, percorrendo os caminhos que levavam até a plantação chorou, e ao chegar no lugar onde ela e os irmãos estavam trabalhando, ao se lembrar dos últimos acontecimentos, prometeu a si mesma que vingaria a morte do pai.
Nisso com o passar dos dias, ao liberarem o corpo, os filhos de Orlando trataram de providenciar seu velório.
Carlota providenciando um terno, pediu para que os irmãos o vestissem.
Tobias e Otávio, percebendo a tristeza da irmã, fizeram sua vontade.
Como era tradição naqueles tempos, Orlando foi velado em sua casa.
Marisa ao ver o rosto pálido de Orlando, não se conteve e emocionada, mais uma vez chorou.
Em seguida, depositando um cravo no caixão, colocou entre seus dedos e despedindo-se, disse adeus bem baixinho.
Carlota, alegando que não queria vê-lo no caixão, recusou-se a aparecer na sala, no dia do enterro.
Marisa ao perceber a teimosia da filha, censurou-a.
Dizendo que aquele não era o momento para se lembrar de mágoas e ressentimentos, insistiu para que Carlota estivesse presente no velório.
A moça, ao ouvir as duras palavras da mãe, comentou que não era por falta de consideração que não apareceria na sala e sim por que queria guardar a melhor lembrança que podia ter de seu pai.
Dizendo que preferia lembrar-se dele vivo, comentou que não queria ter por última lembrança a visão dele, em seu leito de morte.
Marisa mesmo contrariada, ao ver a defesa de Tobias e Otávio, acabou desistindo de convencer a filha, a participar da cerimônia fúnebre.
Dizendo que não adiantava falar nada, acabou deixando Carlota sozinha.
Nisso enquanto o velório se realizava, Carlota, angustiada, pulando a janela, resolveu dar uma volta a cavalo.
Triste e pensativa, ficou a se lembrar de seu pai.
Meditativa, passou bastante tempo cavalgando, e refletindo sobre os últimos acontecimentos. Enquanto isso Marisa, pesarosa com o falecimento de Orlando, recebia as condolências.
Ao término da cerimônia, todos os sitiantes acompanharam a família até o local onde o corpo seria enterrado.
Surpreendidos com a morte inesperada do amigo, muitos não conseguiam aceitar o que havia se sucedido.
No entanto, por mais inconformados que estivessem, o inevitável já havia acontecido.
Orlando, o amigo de todas as horas, não estava mais entre eles.
Carlota, apesar de viver sempre as turras com o pai, não conseguia disfarçar sua tristeza em virtude de seu passamento.
Desolada, não queria ver a cerimônia de velório, nem o enterro.
Por lembrança, só gostaria de ter a presença vívida dele.
Marisa todavia, não concordou com a atitude da filha.
Tanto não concordou que durante muito tempo, a criticou por não ter acompanhado o velório, e o enterro de Orlando.
Com relação a isso, muitas outras pessoas concordaram com Marisa.
Carlota errou ao se ausentar da cerimônia.
Contudo com o passar do tempo, a garota impetuosa e petulante, ao contrário do que se poderia esperar, ao se ver sozinha com os irmãos, comentou com a mãe que precisavam manter a pequena propriedade.
Marisa, por sua vez, sequiosa de vender a propriedade, alegou que não havia motivos para manter o sítio, já que o principal interessado em que tudo permanecesse como era, já não estava mais entre eles.
Carlota, ao ouvir as palavras da mãe, ficou chateada.
Por isso mesmo, retrucou:
-- E a senhora pensa que eu vou abandonar tudo logo agora que papai morreu? Não, não vou. Fique sabendo a senhora que esse era o sonho da vida dele, e nada do mundo vai fazer com tudo se acabe. Está entendendo? Assim como a senhora tem direito a parte dessas terras, eu e meus irmãos também temos.
Marisa ao ouvir as palavras agressivas proferidas pela filha, mal pôde acreditar que aquela era a mesma garota que há pouco tempo atrás, só pensava em morar com eles.
Surpreendida pela atitude inesperada da filha, Marisa, procurando pensar um pouco antes de falar, comentou que boa parte dos irmãos dela, já estavam na cidade.
Assim o mais recomendável, era venderem o sítio e o restante da família seguir com ela até a cidade.
Carlota ouviu atentamente as palavras de sua mãe, mas não concordou nem um pouco com seus argumentos.
Dizendo que os três podiam cuidar muito bem da propriedade, comentou que nem por decreto arredaria o pé dali.
Marisa respirou fundo.
Ao notar a teimosia da filha, ficou contrariada, mas depois, conforme foi percebendo o empenho de Carlota em manter o sítio, a mulher acabou desistindo da idéia de vender as terras.
Além disso, apoiando Carlota, estavam Otávio e Tobias, que, acostumados a viverem ali, não queriam saber de outras paragens.
Assim, estava decidido.
E assim, todos os dias, os três íam para a roça trabalhar.
Marisa, cuidadosa, ao perceber que tinham muito trabalho, ofereceu-se para cozinhar para eles.
E nisso, enquanto ela preparava o café, os três comiam alguma coisa antes de irem trabalhar.
Os três jovens, preparando-se para o trabalho, levantavam-se da cama ainda de madrugada.
E, cuidadosamente, Marisa preparava a mesa para servir o café.
Os três então, sentavam-se na mesa, depois de levarem os rostos e colocarem calças e blusas de manga comprida, para protegerem-se do sol.
Precavidos, também usavam chapéus e botas.
Como o trabalho que empreendiam era fatigante, logo que acordavam os três já estavam famintos.
Por isso mesmo o café tinha que ser caprichado.
E assim, os três tomavam leite, café, comiam pão ou bolo, e depois munidos de suas ferramentas, íam até a plantação dar continuidade ao lavoro que nunca terminava.
Mais tarde, ela prepararia um lanche.
Tiago, Alice ou Dulce, encarregados de levar os quitutes dela, entregariam a comida aos irmãos.
Em seguida viria o almoço, e mais tarde o lanche da tarde.
Quando chegasse a hora do jantar, com o lusco-fusco vespertino, os três, sem a luz natural do sol, cessariam o trabalho e voltariam para casa.
Lá se limpariam um pouco, jantariam, conversariam alguns instantes e depois dormiriam.
Foi exatamente assim que transcorreu o dia.
Tiago, empolgado com a idéia de levar e trazer os recipientes de comida, andou o dia inteiro.
Marisa, percebendo que o sol a certas horas, era bastante forte, providenciou para que o menino usasse um chapéu para se proteger durante da caminhada, do sol inclemente.
Com o passar dos dias, o ritual se repetiu.
Duas vezes por semana, o pessoal, aproveitava para tomar banho.
A mulher, percebendo que não podia deixar os filhos na mão, comprometeu-se a ficar.
Conversando com Cláudio e Augusto, desculpou-se não poder voltar com eles para o ABC.
Os rapazes, conscientes da situação pela qual a família passava, comentaram que compreendiam a atitude dela, e que não havia nada do que se desculpar.
Marisa, ao perceber que os filhos entendiam sua posição, prometeu, que assim que pudesse, faria uma visita para eles.
Augusto então, comentando que já havia ficado muito tempo longe do trabalho, alegou que precisava voltar.
Cláudio dizendo o mesmo, ressaltou que precisavam voltar para o trabalho.
Marisa, concordando com os dois, não os reteve.
E assim, dois dias depois da convers,a lá se foram os dois de volta para São Paulo.
Marisa, sentiria saudade dos dois.
Contudo, notando que era ali, naquele pequeno sítio que precisavam mais dela, a mulher decidiu ficar.
Tiago, Alice e Dulce, que ainda eram pequenos, também ajudavam um pouco.
Sempre que Carlota encontrava algum trabalho que exigia pouco esforço físico, a moça os chamava para ajudar.
As crianças ficavam exultantes.
Algumas vezes, quando ficavam muito tempo sem ajudar, chegavam a reclamar com a irmã.
Carlota então, munida de uma paciência que até então nunca tivera, começou a explicar aos irmãos que nem tudo que eles queriam, possuíam condições de fazer.
No entanto, se eles continuassem ajudando nas pequenas coisas, logo logo, crescendo como estavam, estariam eles ajudando-os no trabalho.
Depois de ouvirem as palavras de Carlota, as crianças passaram a perguntar a mãe, se já haviam crescido bastante de um dia para o outro.
Marisa, tentando não desanimar as crianças, comentava que sim, haviam crescido.
No entanto para poderem ajudar os irmãos mais velhos, precisariam crescer ainda mais.
As crianças não gostavam nem um pouco de ouvir isso.
Enquanto isso, as investigações sobre a morte de Orlando prosseguiam.
Ao realizarem os exames periciais, os peritos constataram que ele estava alcoolizado quando foi alvejado.
Por conta disso, começou a se falar que a morte poderia ter sido um acerto de contas.
Alguns mais maldosos, chegaram a comentar que o homem tinha dívidas e que por isso, havia sido morto.
Por isso mesmo, quando alguns moradores da cidade viam que eles ainda moravam no sítio, se aproximavam e perguntavam espantados:
-- Mas vocês não perderam tudo?
Otávio e Tobias, ao ouvirem as palavras dos populares, diversas vezes se irritaram, e não fosse a intervenção de Marisa, teriam partido para a briga.
Carlota, por sua vez, ao tomar conhecimento do que falavam a respeito de seu pai, ficou profundamente decepcionada com os moradores da cidade.
Contudo, ao invés de ameaçar partir para a briga, como fizeram seus irmãos, a moça prometeu que provaria a todos que seu pai, era um homem de bem.
Marisa, ao ficar sabendo que sua filha fizera essa promessa, preocupada, foi conversar com ela.
Temendo que ela fizesse alguma besteira, Marisa pressionou a filha.
Insistindo para que ela revelasse o que estava se passando, cercou-a de todas as formas possíveis e mesmo quando a jovem lhe dava respostas atravessadas, a mesma não se intimidava.
Marisa conhecia a filha, e sabia que ela não sossegaria enquanto não se resolvesse a questão.
Por esta razão, temerosa que estava com o que poderia acontecer, pediu diversas vezes para que Carlota lhe contasse o que estava pensando em fazer.
A certa altura, cansada de olhar para a mãe e ver o olhar de preocupação que esta lhe lançava, Carlota deixou escapar que limparia a honra do pai.
A mulher ao ouvir a filha falar com tanta raiva estas palavras, ficou deveras preocupada.
Marisa, sem saber exatamente quais eram as intenções da filha, perguntou:
-- Mas o que você quis dizer com isso?
Carlota, percebendo que havia falado demais, comentou que não queria dizer nada.
Simplesmente falou sem pensar.
Marisa, preocupada, pediu a filha que não fizesse nenhuma besteira.
Carlota, notando o olhar aflito da mãe, prometeu que não faria nada sem pensar.
Dito isto saiu da casa e foi dar uma volta, pelos arredores.
Nisso Cláudio e Augusto que voltaram para o ABC, retomaram a vida normal.
Trabalhando, os dois só pensavam no dia em que chegaria as férias, e novamente poderiam ver a família.
Augusto, que nessa época namorava Luzia, teve um grande trabalho para explicar seu sumiço.
Isso por que, quando viajou, nem se despediu dela.
Por esta razão, Luzia ficou muito decepcionada com ele.
Castigando-o por sua omissão, ficou um bom tempo sem falar com ele.
Alegando que estava muito ocupada para atendê-lo, pedia a Célia, a Lélio, ou mesmo a Clementino, para que inventassem desculpas.
Com isso, sempre que o rapaz ia visitá-la, ouvia como resposta, ou que ela não estava, ou que estava dormindo, ou mesmo, que havia viajado.
Escolado porém, em dado momento, o rapaz passou a perceber que não era nada daquilo.
O fato era que, chateada por não ter sido avisada de sua viagem, a moça, ao bater na porta de sua casa, descobriu pelos vizinhos que o mesmo havia viajado.
Luzia ficou decepcionada.
Isso por que, se nem ao menos Augusto se dera ao trabalho de comunicar o ocorrido, era por que o namoro não era tão sério como pensava.
Augusto percebendo o erro, comentou com o irmão, que precisava o quanto antes se desculpar com Luzia.
Cláudio, ao saber da falha, concordou com Augusto.
E assim, por reiteradas vezes o rapaz tentou se desculpar com a moça, pela falha.
A moça contudo, não estava nem um pouco interessada em ouvir suas desculpas.
Não fosse a intervenção de Rute – sua mãe –, Luzia teria mais uma vez rechaçado o rapaz.
Rute porém, cansada de ver o rapaz implorando a atenção de Luzia, ralhou com a filha e dizendo que todo mundo tinha o direito de se explicar, insistiu para que ela o ouvisse.
Luzia então, ao ouvir a admoestação da mãe, concordou em ouvir o rapaz.
Augusto aproveitando o ensejo, desculpou-se com a moça.
Dizendo que ficara tão atarantado com tudo o que se sucedera, comentou que não conseguira nem raciocinar direito.
Quando se dera conta, já havia voltado para o ABC.
Luzia ao ouvir a explicação do rapaz, perguntou a ele, por que demorou tanto para se lembrar. Augusto então disse que quando soube que seu pai havia morrido, não pôde acreditar no que estava acontecendo.
De tão aturdido com a idéia de que não mais veria seu pai, não conseguiu pensar em mais nada. Desolado com o passamento de Orlando, egoisticamente, nem sequer chegou a se lembrar que outras pessoas também tinham interesse em saber o que estava acontecendo.
Luzia contudo, não conseguia aceitar o fato de que ele havia se esquecido de avisá-la.
Augusto diante disso, não cansou de pedir desculpas.
Dizendo que não tinha mesmo desculpa para o que fizera, respondeu que se ela não quisesse mais vê-lo, entenderia perfeitamente.
Luzia, ao ouvir as palavras do rapaz, disse que precisava pensar um pouco antes de dar uma resposta.
Augusto ao notar que não seria nada fácil fazê-la esquecer-se do ocorrido, aceitou as condições da moça.
Desapontado com a frieza de Luzia, o rapaz comentou com Cláudio que precisava esperar a resposta da moça.
E assim, Luzia, enquanto trabalhava, ficou a pensar no que havia ocorrido.
Depois de algum tempo, finalmente chegou a uma resposta.
Enquanto isso, Augusto, ansioso com a decisão de Luzia, foi todos os dias até sua casa.
Contudo, levou algum tempo para o rapaz ter sua resposta.
Mas no fim, tudo acabou bem.
Luzia pensando melhor no assunto, chegou a conclusão de que o que ocorrera não era motivo para ambos terminassem.
Mesmo decepcionada com a atitude de Augusto, a moça prometeu deixar de lado aquele assunto.
Augusto ao ouvir a resposta da moça, ficou bastante feliz.
Prometendo que nunca mais falharia com ela, combinou que quando viajassem para visitar a família, ela seria a primeira convidada a participar do passeio.
A moça, ao ouvir as palavras do rapaz, ficou espantada.
Augusto ao perceber que Luzia interpretara mal suas palavras, perguntou a ela se não tinha como convidar alguém para acompanhá-la.
Ao ouvir isso, a moça sorriu.
Pensando no assunto, depois de conversar com o rapaz, comentando com Célia, que o rapaz a havia convidado para viajar com ele para visitar a família, Luzia convidou a irmã para acompanhá-la.
Célia, ao ouvir o convite, não se fez de rogada.
Aceitando prontamente a oferta, foi logo perguntando se demoraria muito para que a viagem acontecesse.
Luzia respondeu que enquanto Augusto não tirasse férias, não seria possível.
Assim, deixou bem claro que demoraria algum tempo para que isto acontecesse.
Enquanto isso, Carlota, tentando manter a propriedade que seu pai deixara, empenhou-se o máximo nessa tarefa.
Envolvidos neste mister, estava não só ela, como seus irmãos Otávio e Tobias, seus irmãos menores e sua mãe, Marisa.
Marisa, dedicada aos filhos, apoiava todas as decisões de Carlota.
A moça, depois da morte do pai, apoiada por seus irmãos, passou a ser o esteio da família. Determinada, foi ela quem decidiu vender pessoalmente as mercadorias que produzia.
Procurando os melhores lugares, pesquisou mercados e negociando com feirantes, conseguiu vender muitas de suas mercadorias por ótimos preços.
Marisa, ao ver a filha se acertando com o trabalho, muito orgulhosa, comentou que ela estava no caminho certo.
Carlota ao perceber o sorriso nos olhos da mãe, observou-a com carinho.
Pegando uma fruta, tirou seu canivete do bolso e descascando-a, passou a saboreá-la.
Sentada na soleira da porta, ficou a observar a entrada do sítio, os pássaros, as árvores frondosas que faziam sombras, a variedade de flores que enfeitavam a casa.
A moça, apreciando um dos raros momentos de descanso que tinha, percebeu, talvez pela primeira vez, o quanto era privilegiada por viver num lugar tão bom quanto aquele.
Era uma privilegiada por ter, a poucos metros de casa, a visão bucólica de campos e de flores, de árvores e de pássaros.
Uma afortunada por ter aquele privilégio.
E por pouco quase jogou toda aquela maravilha fora.
Marisa, percebendo o ar de contemplação da filha, comentou:
-- Está admirando a beleza desse lugar. Não é mesmo?... Realmente, você tinha razão em bater o pé e não deixar que eu vendesse toda essa maravilha. Isso é lindo mesmo!
Depois de proferir estas palavras, foi até a sala.
Carlota, ao terminar de saborear a fruta, lavou as mãos, e saindo da cozinha, resolveu, ir até a cidade. Marisa, ao ouvir da filha, o aviso de que ela só voltaria para casa no dia seguinte, ficou profundamente preocupada.
Por esta razão, sentindo que algo errado poderia acontecer, pediu a filha que não fosse para a cidade. Carlota, contudo, teimosa, respondeu que tinha que ir.
E assim, fazendo uma pequena trouxa, foi de carro até a cidade.
Lá, decidida a esclarecer a morte do pai, não poupou esforços em se apresentar agradável.
Embuída no intuito de defender a honra de Orlando, Carlota sondou os policiais que trabalhavam na delegacia.
Cansada de ouvir meias-palavras do delegado, que, sempre que era inquirido por ela, respondia que o processo estava caminhando, resolveu ela mesma descobrir quem tinha sido o autor da morte.
E assim, não poupou esforços.
Perguntando a todas as pessoas sobre o que pensavam e sabiam sobre a morte do pai, acabou chegando no bar onde o mesmo passara suas últimas horas.
Em conversas com o atendente, descobriu que seu pai, passara por ali antes de ser encontrado morto horas mais tarde.
Curiosa, a moça não parou de fazer perguntas.
Incisiva, não poupou o funcionário, que aturdido com tantas perguntas, acabou revelando que Orlando se desentendera com Osíres.
O funcionário, percebendo que a situação poderia se complicar, recomendou que Orlando tivesse cuidado.
Por fim, nervoso, o atendente contou que isso era tudo o que sabia.
Carlota, ao tomar conhecimento deste fato, teve a mais absoluta certeza de quem era o assassino de seu pai.
Dizendo que já sabia o que iria fazer, vendo que o atendente estava bastante nervoso, prometeu a ele, não contaria a ninguém sobre a conversa que tiveram.
Pensando no assunto, chegou a conclusão de que ela mesma tinha que resolver aquela questão. Enfurecida, a moça saiu do bar e de carro, perscrutou toda a cidade em busca de Osíres.
Sabedora de que este possuía uma casa na cidade, Carlota tratou de descobrir onde ficava.
Ao lá chegar, constatou, decepcionada, que o mesmo não estava lá.
Iracunda, a moça decidiu voltar para casa.
Contudo, não podia voltar, enquanto estivesse transtornada.
Por esta razão, procurando pensando melhor no que faria, Carlota resolveu não ir para casa imediatamente.
Procurando pensar melhor no que faria de posse dessa informação, a moça, rodou de carro por algumas cidades da região.
Tentando se acalmar, começou a elaborar uma estratégia de vingança.
Tencionando fazer Osíres pagar pelo que fizera ao pai, Carlota passou a noite inteira pensando no que faria para se vingar.
Finalmente, durante a manhã seguinte, Carlota voltou ao sítio.
Marisa, preocupada, perguntou a moça, se ela não havia feito nenhuma besteira.
Carlota, respondeu que não.
Desconfiada, a mulher tornou a perguntar se estava tudo bem.
Carlota, calmamente respondeu que sim.
Dizendo que tinha ido até a cidade para saber como andava o inquérito, revelou a mãe que tudo continuava com estava.
Em seguida, dizendo que estava cansada, Carlota comentou que dormira muito pouco.
Diante disso, falou a mãe que iria dormir.
Nos dias seguintes, enquanto trabalhava na roça, ficou a pensar em seu plano.
Decidida a descobrir se Osíres era o assassino de seu pai, Carlota chegou a conclusão que a melhor estratégia, era não dar a entender que ela desconfiava dele.
Pelo contrário, quanto mais ele pensasse que ela o considerava um grande amigo de Orlando, mas próxima da verdade ficaria.
Com isso, assim que viu livre do trabalho, aproveitando o final de semana, alegando que estava em falta com Osíres e Adélia, Carlota comentou que eles precisavam fazer uma visita para eles.
Marisa, sem perceber onde a moça queria chegar, concordou.
E assim, lá se foram eles visitar a família de Osíres.
O homem, ao vê-los se aproximando, ficou espantado.
Isso por que, temendo que eles desconfiassem de alguma coisa, achou que eles estavam ali para agredi-lo.
Porém, ao perceber o ar de cordialidade da família, o homem foi logo se acalmando.
Confiante, passou a conversar com todos com bastante tranqüilidade.
Carlota, desconfiada de que Osíres fosse o assassino de seu pai, dissimulando sua aversão a ele, fingiu cordialidade, e perguntando sobre a família, descobriu por meio de Adélia que o mesmo não estava em casa, na noite do crime.
Carlota então, percebendo que tudo se ligava, passava a cada instante, a ficar mais certa de que ele havia dado cabo na vida de seu pai.
Por isso mesmo fingindo amizade, conversou longamente com ele.
A certa altura, o homem, percebendo que a esposa havia se afastado, sugeriu a moça que eles poderiam continuar a conversa em um lugar mais reservado.
Carlota ao ouvir a proposta do homem, por pouco não colocou tudo a perder.
Contudo, desejosa de descobrir tudo o que se sucedera naquela noite, pensou um longo tempo antes de falar, e dizendo que precisava pensar um pouco, pediu ao homem para que lhe desse algum tempo.
Osíres aquiesceu ao pedido.
Ao retornarem para casa diante do adiantado da hora, trataram de se recolher.
O dia vindouro seria bastante cheio.
Carlota porém, alvoroçada, não parava de rolar na cama.
Por conta disso, no dia seguinte, a moça ao se levantar para trabalhar, estava com um ar bastante cansado.
Tobias e Otávio, percebendo isso, pediram a irmã, para que ficassem em casa.
Se no final da tarde estivesse em condições de ir trabalhar, ela poderia perfeitamente se juntar a eles. Carlota tentou retrucar, mas os dois, percebendo o quanto ela estava cansada, pediram para que fosse dormir.
A moça, sem ter como discutir, acabou concordando.
E assim, voltou a dormir.
Cansada por conta da noite em claro, foi apenas questão de tempo para que dormisse.
Enquanto isso Tobias e Otávio tomaram o café da manhã e foram trabalhar.
Tiago, Alice e Dulce, prestativos como sempre, mais tarde foram ajudar os irmãos a semear.
Ao término do trabalho dos garotos, a semeadura estava completa.
Otávio e Tobias, satisfeitos com a ajuda dos irmãos, elogiaram o trabalho das crianças.
Dizendo que eles estavam se tornando grandes semeadores, alegaram que em pouco tempo eles estariam tomando conta de tudo.
Os três sorriram.
Nesse ínterim, Cláudio e Augusto, depois de um longo tempo trabalhando, já prestes a entrarem de férias, começaram a fazer as malas.
Augusto avisou então Luzia e esta também, foi preparando seus pertences.
Luzia e Célia, há quase dois anos sem tirarem férias, aproveitariam para ficar bastante tempo no sítio da família de Augusto.
Cláudio, por sua vez, aguardando as férias do irmão, resolveu esperá-lo para então, viajarem juntos.
Assim, ao término de uma semana os quatro viajaram até lá.
Durante o trajeto de trem, Cláudio e Augusto aproveitaram para matar as saudades das paisagens da infância.
Já Luzia e Célia, que também viveram a infância na zona rural, aproveitaram para igualmente apreciar a bela paisagem que descortinava da janela.
Era tudo tão azul, tão verde, tão bucólico, tão belo, que seriam necessários anos de pinturas e centenas de quadros, para traduzirem tanta beleza.
Quando finalmente chegaram nas terras da família, as moças se encantaram com o cuidado e capricho com que era mantida a propriedade.
A casa, apesar de simples, era bastante aconchegante e Marisa uma anfitriã muito simpática.
As moças, que já conheciam Marisa, ficaram encantadas com o modo como esta cuidava da casa. Gentis, assim que perceberam que a mulher estava colocando a mesa para o almoço, ofereceram-se para ajudar.
Marisa, dizendo que já estava quase tudo pronto, comentou que elas não precisavam se preocupar com nada.
Ademais, eram hóspedes e assim, não havia cabimento se elas ficassem ali trabalhando.
Enquanto isso, a mulher, percebendo que já era hora de levar comida para Carlota, Otávio e Tobias, pediu para que Tiago e Alice levassem um pouco do almoço para eles.
Dulce ao ver que os dois iriam levar a comida para os irmãos, reclamou e perguntando se só ela ia ficar em casa, pediu a mãe que lhe desse alguma coisa para levar.
Luzia, Célia e Cláudio, ao ouvirem a reclamação da garota, caíram na risada.
Marisa, percebendo que a menina queria ajudar, entregou uma parte dos comes e bebes para que ela levasse.
Diante disso, os três mais do que depressa, saíram da casa e indo até onde os irmãos estavam trabalhando, levaram para eles a comida.
Agradecidos, ao verem as crianças chegando, Carlota, Otávio e Tobias pediram para que as crianças voltassem, e depois levassem os recipientes.
Tiago, Dulce e Alice, animados, foram correndo para casa.
Lá, juntamente com Augusto, Cláudio e as visitas, almoçaram.
Enquanto comiam, Célia e Luzia contavam as novidades.
Marisa animada com a visita, não parava de fazer perguntas aos filhos.
Perguntando a eles como estavam se virando na cidade, os dois comentaram que trabalhavam muito a noite, e quando era possível saíam para passear.
Marisa, curiosa, perguntou a Augusto e Cláudio se eles tinham algo importante a dizer.
Augusto então, enchendo-se de coragem, comentou com a mãe, que trouxera Luzia consigo, para que ela tivesse a oportunidade de conhecer toda a família.
Marisa, perspicaz, deu uma rápida piscadela para a moça, que constrangida, começou a rir. Percebendo que o relacionamento dos dois estava se tornando sério, a mulher perguntou a ambos, se tinham planos para o futuro.
Augusto, surpreendido com a pergunta, respondeu que precisava conversar com Luzia, antes de fazer qualquer plano.
Marisa concordou.
Mais tarde, oferecendo um lanche para as visitas Marisa aproveitou e chamou os meninos.
Precisava que eles levassem um pouco de comida para Carlota, Tobias e Otávio.
As crianças mais do que depressa, pegaram o farnel e levaram bolo, torta, suco, entre outras coisas, para os irmãos, que já estavam trabalhando desde muito cedo.
Famintos, os três sentaram-se e comeram.
Dulce, Alice e Tiago, por sua vez, voltaram para casa levando consigo os recipientes em que foi servido o almoço.
Em casa, Marisa continuava trocando idéias com Luzia e Célia.
A mulher sugerindo a Luzia que ela devia se casar com Augusto, comentou que falaria com ele a esse respeito.
Luzia, percebendo a empolgação de Marisa, alegou que não era necessário ela dizer nada.
Se os dois tivessem que se casar, certamente as coisas aconteceriam naturalmente.
Nisso, Carlota, obcecada com a idéia de vingar a morte do pai, só pensava no dia em que acertaria contas com Osíres.
Passado algum tempo desde que prometera pensar a respeito da proposta, a moça, enchendo-se de coragem, resolveu ir até sua morada.
Dizendo que havia trazido um recado da mãe, para Dona Adélia, a moça entrou na casa.
Osíres, que estava na sala, ao perceber a presença de Carlota, tratou logo de arrumar uma desculpa e ir até a cozinha.
Fingindo surpresa quando entrou na cozinha, cumprimentou Carlota e dizendo que tinha ido buscar algo para comer, pegou uma fruta e saiu do ambiente.
Carlota então, depois de dizer a Adélia que sua mãe havia a convidado para um almoço, comentou que precisava voltar para casa.
A mulher no entanto, agradecida com o convite fez questão de que a mesma ficasse para o almoço. Carlota argumentando que sua mãe e seus irmãos a esperavam, insistiu em dizer que não podia ficar.
Pensam que Adélia desistiu?
Pelo contrário, alegando que não havia problema nenhum no fato dela almoçar ali, comentou que Marisa sabia onde ela estava.
Carlota, sem ter outra alternativa, acabou concordando.
E foi assim que em uma das vezes em que Adélia voltou para a cozinha, a moça, respondeu a Osíres que concordava com o convite.
Contudo, os dois precisavam se encontrar em um lugar discreto, longe das vistas de sua mulher, e ela de sua família.
O homem concordou.
Todavia, quando o mesmo ia dizer onde seria o encontro, Adélia voltou da cozinha.
Animada, contou ao marido, que os dois haviam sido convidados para um almoço na casa de Marisa. Osíres, ao ouvir a notícia, ficou animado.
Sim, por que, se conseguisse ser discreto, certamente conseguiria marcar o encontro ainda durante o almoço.
Nisso, depois de terminado o almoço, Carlota, dizendo que ainda tinha muito o que fazer, despediu-se dos dois e voltou para casa.
Adélia, ao ver que a moça estava a pé, bem que tentou convencê-la a aceitar uma carona do marido.
Carlota porém, dizendo que não morava longe dali, comentou que não seria problema nenhum voltar a pé para casa.
E assim o fez.
Em meia-hora, já estava de volta.
Ao chegar em casa, descobriu que Augusto e Luzia, estavam se preparando para o noivado.
No entanto para que esse fato se tornasse oficial, era necessário conversar com Juvenal e Rute.
Em razão disso, os dois, que estavam de férias, pediram para ambos que fossem até lá, para acertarem tudo.
Carlota, ao saber que os dois estavam decididos a se casar, fez questão de parabenizá-los.
Marisa, ao vê-la em casa, foi logo perguntando se ela já havia avisado Adélia e Osíres sobre o almoço.
Carlota balançou a cabeça afirmativamente.
Augusto, animado com a possibilidade de vir a constituir família, pediu a Luzia, que escrevesse uma carta para os pais, contando sobre as últimas novidades.
A moça prometeu escrever.
E assim munida de papel e caneta, Luzia começou a escrever.
Nervosa, amassou muitos papéis até que conseguisse escrever a missiva como queria.
Ansiosa, assim que surgiu uma oportunidade de ir até a cidade, a moça aproveitou para postar a carta. Contudo, como tudo naquele tempo era demorado, a correspondência levou quase um mês para chegar nas mãos de Dona Rute e Juvenal.
Porém, quando os pais de Luzia tomaram conhecimento do teor da missiva, ficaram surpresos.
Tão surpresos que assim que souberam que eram esperados, trataram de fazer as malas.
Juvenal, pedindo uns dias de afastamento do trabalho, comentou que tinha um assunto pessoal para resolver.
Quando Adalgisa, Adolfo, Lélio e Clementino chegaram em casa, qual não foi a surpresa ao verem os dois de malas prontas, dizendo que dentro em breve viajariam para visitar a filha.
Juvenal e Rute, contando aos filhos que Luzia ia ficar noiva, deixou todos alvoroçados.
Os três rapazes animados, perguntaram ao pai, se eles também não podiam ir juntos.
O casal comentando que não sabiam ao certo, ao verem a insistência dos três rapazes em irem até lá, acabaram aquiescendo.
Animados, lá se foram os três fazer as malas.
De férias, não havia problema nenhum para eles em viajar com os pais.
Quem não ficou nem um pouco feliz com isso foi Adalgisa.
A moça, que entraria de férias dentro de alguns dias, comentou:
-- Grande coisa! Todo dia tem gente se casando!
Juvenal ao ouvir as palavras da filha, proferidas em tom de desprezo, ficou deveras aborrecido.
Rute porém, contendo o marido, comentou que não valia a pena discutir por tão pouco.
Juvenal acabou concordando.
Contudo, sem perder a oportunidade, resolveu alfinetar de leve a filha.
Dizendo que ela devia seguir o exemplo da irmã, ele perguntou a ela, quando a mesma iria se casar. Adalgisa, irritada, saiu da sala pisando duro.
Mais tarde quando viu a moça na cozinha, Juvenal comentou que viajaria com os filhos e que não voltaria tão cedo.
Perguntando a filha se ela queria viajar com eles, ouviu como resposta, uma frase atravessada:
-- Quem disse que eu estou interessada?
Diante disso no dia seguinte, aproveitando a manhã ensolarada que fazia, o homem resolveu partir. Pegando um ônibus, ele e sua família partiram em direção a estação.
De lá seguiriam de trem até a cidade e de lá, acompanhados de alguém da família, iriam até o sítio onde a família morava.
Viajando de trem o casal se recordou dos tempos em que viveram em sítios e fazendas.
Saudoso, Juvenal comentou que daria tudo para voltar para viver aquela vida novamente.
Rute, notando a empolgação do marido, comentou que aquela não era hora de ficar sonhando. Juvenal, repreendeu a mulher.
Dizendo que sempre era tempo de sonhar, comentou que não queria se tornar uma pessoa triste, que só sabe se lamentar.
Sim, tinha o direito de sonhar, insistiu.
Rute então, percebendo que de nada adiantaria argumentar, resolveu deixar a questão de lado e apreciando a paisagem, ficou a viagem toda olhando o mundo pela janela do trem.
Quando finalmente chegaram na cidadezinha, depois de telegrafarem avisando, Cláudio e Augusto os esperavam.
Foram eles que levaram toda a família até o sítio.
Ao notar a ausência de Adalgisa, Cláudio perguntou por que ela não tinha vindo.
Juvenal respondeu:
-- Vocês sabem como é aquela destrambelhada.
Rute ao ouvir o marido falando daquele jeito da moça, censurou-o.
Dizendo que aquele não era modo de tratar a própria filha, ficou aborrecida com o marido, mas Juvenal, insistindo nisso, comentou que ela era mesmo destrambelhada.
Nisso a família seguiu até o sítio.
Ao lá chegarem, foram recebidos por Marisa, Otávio e Tobias.
As crianças também estavam presentes.
Carlota no entanto, trabalhando não estava presente.
Marisa então, comentando que a moça só fazia o que dava na veneta, alegou que era impossível fazê-la ter modos.
Rute dizendo que não tinha problema, perguntou sobre a vida da família.
Marisa respondeu:
-- Olha Rute. Não tem sido nada fácil. Contudo, apesar de todo o sofrimento, eu me surpreendi. Carlota que sempre quis sair daqui, foi a primeira a se recusar a vender o sítio. Logo vieram Otávio e Tobias em sua defesa. Desde então, os três tem trabalhado muito para manter tudo isso. E eu ajudo no que posso. As crianças também.
Rute então comentou:
-- É isso que dá gosto! Todo mundo unido. É assim que família tem que ser.
Animadas, as duas entabularam uma longa conversa.
Falando das últimas novidades, contaram como estavam suas respectivas famílias.
Mais tarde durante o jantar, com todos reunidos, Augusto, nervoso que estava, encheu-se de coragem e pediu a mão de Luzia em casamento.
Preparado para o acontecimento, já tinha até comprado um anel.
Juvenal depois de ouvir o pedido, concordou, e dizendo que queria que os dois fossem muitos felizes, abençoou o casamento.
Depois, todos foram jantar.
Marisa, feliz com a reunião das duas famílias, caprichou no repasto.
Diante disso, todos comeram regaladamente.
Nisso, Adalgisa, cansada de ficar sozinha, de posse do endereço da família de Augusto e Cláudio, resolveu ir até o sítio.
Contudo, ao ver Luzia, comentou rispidamente que não estava ali por causa dela, e sim em respeito a família.
Luzia ao ouvir as palavras da irmã, não deixou por menos.
Dizendo que para ela não fazia a menor diferença saber quais eram os motivos que a levaram até lá, começou a rir.
Alegando que era muito engraçado ela dizer que tinha respeito a família, deixou Adalgisa visivelmente irritada.
Nisso, durante o almoço da família com Osíres e a esposa, Carlota, aproveitando uma das ausências de Marisa e Adélia, combinou com o primeiro, o dia e o local do encontro.
Quando então, as duas mulheres voltaram, os dois já estavam mais do que combinados.
Assim, era só uma questão para os dois se encontrarem e finalmente acertarem suas contas.
Nesse meio tempo, ocorreu uma procissão na cidade.
Carlota, sentindo que chegava a um momento decisivo em sua vida, ao passar pela cidade, passou na igreja.
Na porta de entrada tirou o chapéu e fez a genuflexão.
A seguir, levantou-se e caminhando pelo templo, escolheu um banco, e ajoelhando-se, começou a rezar.
Devota de Nossa Senhora Aparecida, durante a procissão religiosa que se deu na cidade, cantou a plenos pulmões:
“É de sonho e de pó
O destino de um só
Feito eu perdida
Em pensamento
Sobre o meu cavalo
É de laço e de nó
De gibeira o jiló
Desta comprida a sol
Sou caipira Pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Me ilumina minha escura e funda
O trem da minha vida
Sou caipira Pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Me ilumina minha escura e funda
O trem da minha vida.”
O préstito, caminhava segurando velas, cantando e rezando.
À frente estava o andor com a imagem da santa, guiando os romeiros que fiéis, não perdiam a chance de demonstrar sua devoção a Nossa Senhora.
A multidão, seguindo o ritual, caminhava em direção a igreja, local para onde a imagem retornaria após o cortejo pelas ruas da cidade.
Todos os anos era sempre assim.
Em respeito ao dia de Nossa Senhora, a cidade aproveitava para fazer uma homenagem a Padroeira do Brasil.
Por conta dessa devoção, um dia, aproveitando para ver a imagem original, resgatada do Rio Paraíba, por pescadores, Marisa e Orlando, levando os filhos, foram visitar a Basílica que estava sendo construída em Aparecida, no interior do estado.
Rute e Juvenal, também foram certa vez visitar a Basílica.
Impressionados com as dimensões da construção colossal, os dois ficaram dias a contar o espanto e a admiração pela construção.
Na cidade onde morava Marisa e sua família, ou parte dela, boa parte dos moradores já havia ido pelo menos uma vez até Aparecida.
E isso tinha muito valor para eles.
Tanto que a santa de devoção da cidade era Nossa Senhora Aparecida.
Por isso a reverência e a homenagem todos os anos.
Com isso, ao final da procissão, quando a santa era novamente entronizada na igreja, os populares, emocionados, faziam questão de retribuir tudo o que de bom a santa havia proporcionado a todos, com uma salva de palmas.
Carlota, que até então não tinha nada a agradecer, resolveu fazer um pedido.
Assim, enquanto todos aplaudiam, a moça pedia com todas as forças do seu coração, para que se fizesse justiça com relação a seu pai.
Mais tarde, ao término da procissão, Carlota, dizendo que precisava ficar sozinha, pediu a mãe e aos irmãos, que voltassem sem ela para casa.
Marisa contudo, ao ouvir o pedido da filha, tentou se recusar a atendê-lo.
Pedindo para que Carlota voltasse para casa, insistiu para que ela não ficasse sozinha.
A moça porém, dizendo que precisava ficar sozinha, insistiu com a mãe para que fosse embora com os demais.
Marisa relutante, acabou concordando.
Porém, dizendo para que ela não se demorasse, pediu para que assim que quisesse voltar, pedisse carona a um dos amigos da família.
Carlota para tranqüilizar a mãe, prometeu que quando quisesse voltar para casa, aceitaria uma carona e voltaria mais do que depressa.
Marisa e os demais partiram então.
Desta forma Carlota, pensando na vida, ficou a vagar pelas ruas da cidade.
A certa altura, imersa em pensamentos, começou a caminhar pela estrada.
Sem se dar conta começou a voltar para casa.
Andando a pé, percorreu uma longa distância.
Quando deu por si, já estava perto de casa.
Ao se aproximar do sítio, percebeu que já era muito tarde.
A essa altura, todos dormiam.
A moça, percebendo isso, tentando não acordá-los, tratou de entrar na casa, e sem fazer barulho se ajeitou e dormiu.
Cansada, precisava ter uma boa noite de sono.
Só assim estaria em condições de enfrentar Osíres, e assim decidida a moça dormiu.
Dormiu tanto que só foi acordar bem tarde.
Marisa, percebendo o comportamento estranho da filha, perguntou-lhe o que estava acontecendo. Carlota, respondendo com evasivas, só conseguiu deixar sua mãe mais preocupada.
Marisa, sentindo que algo muito sério estava por acontecer, pediu a filha que esta não fizesse nenhuma besteira.
Carlota, fazendo-se de desentendida, respondeu que ela não tinha com o que se preocupar.
Marisa então, dizendo que ela estava muito estranha, comentou que a mesma era surpreendente. Elogiando sua postura ao defender a propriedade do pai, Marisa revelou que tinha muito orgulho dela.
Tanto orgulho que não queria que Carlota pusesse tudo a perder.
Abraçando a filha, a mulher pediu a ela para que não fizesse nenhuma besteira.
Carlota então, respondeu:
-- Minha mãe! Eu não vou fazer nada de mais. Prometo. Eu só quero esclarecer a morte de meu pai. Nada demais. Não se preocupe. Não vou cometer nenhum crime.
Marisa, ao ouvir as palavras da filha, ficou um pouco mais calma.
Contudo, apreensiva que estava, pediu a moça, reiteradas vezes, para que não saísse de casa naquele dia.
Carlota, assentiu com a cabeça concordando.
Como havia combinado o encontro para a noite, não havia problema nenhum em ficar em casa durante o dia.
A noite todavia, precisaria encontrar uma maneira de sumir dali, sem que ninguém desconfiasse. Como havia a janela, sua eterna aliada das fugas e escapadelas, Carlota nem precisou pensar muito no que fazer.
Com isso, enquanto durante o dia ficou praticamente todo o tempo dentro de casa, quando chegou a noite, depois de jantar, dizendo que estava cansada, foi até seu quarto e deitou-se.
Marisa, preocupada, foi ver o que estava acontecendo.
Ao ver Carlota dormindo, tranqüilizou-se.
Encostando a porta, deixou-a dormir.
Nisso Carlota, que só estava esperando a mãe vê-la deitada, levantou-se, e procurando não fazer barulho, vestiu uma linda roupa que ganhara de uma conhecida, e arrumando-se, postou-se diante da porta, e procurando verificar se havia alguém acordado, ao se certificar que estava tudo tranqüilo, andou pé-ante-pé até a janela.
Ao se aproximar, pulou-a e vendo-se do lado de fora da casa, caminhou vagarosamente até onde a caminhonete estava.
Procurando fazer o mínimo de barulho, a moça ligou o motor e saindo da propriedade, foi até o local do encontro.
Ao lá chegar, a moça percebeu que Osíres a esperava há algum tempo.
O homem, impaciente, perguntou a moça, por que ela havia demorado tanto.
Carlota, explicando então que não podia deixar que desconfiassem dela, comentou que teve um pouco de trabalho, para despistar a mãe.
Osíres, ao ouvir as explicações da moça, sorriu satisfeito.
Ansioso, ao saber que tudo estava tranqüilo, começou a se insinuar para a moça.
Dizendo que há muito tempo tinha interesse nela, comentou que mal podia esperar a hora em que ele estaria frente a frente com ela.
Carlota, ao ouvir as palavras de Osíres, sorriu constrangida.
Dizendo que se sentia agradecida com os comentários, tentando encontrar coragem, perguntou a ele se ele era muito amigo de seu pai.
Osíres, curioso com a pergunta, devolveu a indagação, questionando-lhe sobre o por quê da mesma.
Carlota ressabiada, respondeu que apenas estava procurando algum assunto para conversar.
Osíres então, respondendo que não estava interessado em perguntas, tentou abraçá-la, mas a moça se afastou.
O homem então, notando o retraimento da moça, perguntou:
-- Vai se fazer de difícil, não é?
Carlota então tentando evitá-lo, passou a fugir dele.
Dizendo que queria conversar um pouco, perguntou-lhe por que não podiam fazê-lo.
Osíres, percebendo a insistência da moça em conversar, comentou que não tinha nada de interessante a dizer.
Alegou então que era muito amigo de Orlando, e que sempre que se encontravam, os dois aproveitavam para contar as novidades.
Muito embora não existisse muitas coisas novas para serem contadas, sempre havia um causo a ser comentado.
Carlota curiosa perguntou a ele, se eles conversavam sobre questões pessoais.
Osíres, ao ouvir a pergunta, não gostou nada.
Questionando a moça sobre qual era o interesse dela nisso, ouviu como resposta que só queria saber se seu pai falava na família.
Além disso, salientando que era uma simples curiosidade, perguntou a Osíres se havia problema em se falar sobre isso.
O homem respondeu que não.
Dito isso, Osíres começou a dizer que algumas vezes eles falavam da família.
Outras vezes, comentavam sobre assuntos que tinham a resolver na cidade.
O homem então, comentando que na última vez que se encontraram, Orlando tinha alguns assuntos para resolver na cidade, falou a Carlota, que os dois conversaram um pouco antes dele sair do bar, e horas depois ser encontrado morto.
A moça, percebendo que ele estava falando o que queria ouvir, deixou-o falar.
E Osíres continuou falando.
Carlota, percebendo que havia bebidas no ambiente, começou a oferecê-las para ele.
Alcoolizado, Osíres acabou contando que ele e Orlando se desentenderam.
Bêbado, contou até onde era o bar onde estavam.
A certa altura, comentando que estava cansado de falar, Osíres agarrou a moça.
Carlota não gostou nem um pouco disso.
Mandando ele parar, a moça tentou se soltar de todas as maneiras possíveis.
Osíres contudo, não a soltou.
Dizendo que queria uma retribuição por tudo o que havia dito, comentou que não podia deixá-la ir.
A moça começou a bater em Osíres.
Debalde.
O homem, mais forte que ela, não a soltava.
Carlota então, no auge do desespero, ao ver um jarro de barro, cuidadosamente segurou com uma das mãos, e mirando na cabeça dele, atingiu-o em cheio.
Contudo, Osíres, por ser um homem forte, apesar de a ter soltado, não perdeu a consciência.
Mas cambaleante, prometeu se vingar.
Carlota percebendo a deixa, tratou logo de sumir dali.
Para seu azar no entanto, o homem a seguiu de carro.
A moça, desesperada, sem ter para onde ir, foi até a delegacia e dizendo que tinha um homem a ameaçando, pediu para que um policial a acompanhasse até sua casa.
Os policiais, ao verem a moça toda arrumada e sozinha uma hora daquelas pela cidade, ficaram espantados.
Mas prontos a executarem seu trabalho, pediram a mesma que se acalmasse e partiram no encalço do suposto homem.
Vasculhando a região, descobriram que Osíres dirigindo seu carro, parecia procurar alguém.
Os policiais, estranhando sua presença na cidade foram conversar com ele.
O homem, ao ser interpelado pelos policiais, assustou-se e tentando sair do local, foi cercado. Desconfiados da atitude de Osíres, os mesmos o conduziram até a delegacia.
Lá estava Carlota.
O homem bêbado, ao vê-la, perguntou:
-- Então é aí que você está sua pilantra?
O delegado, percebendo o estado do homem, recomendou-lhe que o mesmo se comportasse. Alcoolizado, Osíres enfrentou o delegado.
Dizendo que ela era uma pilantra, comentou que ela havia preparado uma armadilha para ele e que por pouco ele não caiu.
Ao dizer que ela o induzira a dizer que havia visto Orlando horas antes de seu assassinato, comentou que os dois brigaram.
O delegado ao ouvir as palavras de Osíres, comentou surpreso, que o mesmo nunca havia dito que havia conversado com Orlando horas antes do assassinato.
Osíres percebeu então, que havia falado demais.
Contudo, já era muito tarde para negar, e o delegado intrigado, começou a pressioná-lo para contar tudo o que havia acontecido naquele dia.
Por diversas vezes Osíres entrou em contradição.
No fim, sem ter como negar, acabou confessando.
Havia matado Orlando.
Sem nenhum motivo aparente que justificasse a morte, comentou que estava com raiva dele e por isso ao vê-lo, sentindo-se desafiado, acabou o matando.
Carlota ao ouvir a confissão, ficou tão furiosa que começou a bater nele.
O delegado percebendo a exaltação da moça, pediu aos policiais que a levassem para fora dali.
Nesse ínterim, foram preenchidas as todas formalidades, e depois de Osíres assinar o termo do interrogatório, o delegado oficiou ao juiz.
Queria que a autoridade judicial autorizasse a prisão.
E assim, a noite, que parecia tranqüila, revelou-se mais tumultuada do que se poderia imaginar.
Marisa ao ver sua filha chegando de carro, guiada por uma viatura da policial, ficou apavorada. Temendo que a mesma tivesse feito uma grande besteira, acorreu em direção a entrada quando a viu descer do carro.
Assustada, foi logo perguntando:
-- Minha filha! O que foi que você fez?
O susto durou pouco.
Depois de ouvir as explicações dos policiais, descobriu que se não fosse a intervenção de Carlota, eles teriam demorado muito mais tempo para encerrar as investigações.
A mulher, orgulhosa da filha, abraçou-a, e agradecendo sua coragem, chorou emocionada.
Mais tarde, depois da condenação de Osíres, a família de Rute e Juvenal, meses depois, juntamente com a família de Marisa, foram visitar o túmulo de Orlando.
Carlota emocionada, depositou flores na sepultura.
Enfim, era a feita a derradeira despedida.
Mais tarde realizou-se do casamento de Augusto e Luzia.
Sim, um ano depois, os dois se casaram no sítio.
Numa cerimônia ao ar livre, tendo como padrinhos Cláudio e Célia, os dois se casaram.
Vestida com um vestido bufante Luzia estava radiosa.
Marisa não cabia em si de contente.
O padre, vindo da igreja da cidade, foi quem celebrou o casamento.
Otávio e Tobia,s conversando com duas vizinhas, começaram a namorar.
Carlota durante a festividade, passou todo o tempo conversando com os irmãos de Luzia.
Ao jogar o buquê, Célia, pegou-o.
Marisa ao ver a cena, comentou que tinha mais um casamento para providenciar.
Nisso os anos se passaram.
Muito embora muita coisa tivesse mudado, Carlota continuava sentada, na soleira da porta, esperando que talvez um dia tudo voltasse a ser como já fora antes.
Solitude.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Apresentações
Feéricas¹ apresentações fenomenológicas
Garoa fina a correr pelas janelas do coletivo
Os sons a invadir os meus ouvidos,
Embalados pelas melodiosas canções
As vesperais² se despedindo do dia que pouco a pouco escurece
A adquirir escuras formas
E o espetáculo da vida a tomar forma
E as coisas se sucedem, acontecem ...
O ribombar das tempestades
A chuva a cair fortemente
O vento a arrastar tudo consigo
Barulhos naturais
A natureza a se manifestar, mesmo nas cidades mais desprovidas de verde
E as leituras se sucedendo, livros mil, aventurosas leituras ...
As pedras, as gemas preciosas
E a semi preciosidade dos eventos banais
Ante a riqueza do devir natural
Pérolas a serem produzidas no interior de conchas
Devassadas por indesejados seres
A formarem nacarada substância, a envolver o corpúsculo estranho
E a se transformar em bela preciosidade
E saber que ...
O diamante pode ser uma colônia de bactérias calcificada
Bela formação de bactérias, a enfeitar colos, dedos e pulsos femininos
Acaso em verdade, isto se convertendo,
Tratando-se da mais bela combinação de bactérias que se tem notícia!
Os rubis, com seu vermelho
A esplenderem suas partículas rutilantes
Em contraste aos fogos lançados na atmosfera
Com seus dons e mil artifícios
A riqueza das formas naturais
Pelo ouro, e pelas materiais riquezas
Homens guerrearam, conquistaram e subjugaram
Dominaram e impuseram seus modos pensantes
Construíram e destruíram impérios
Revestiram o mundo das materiais belezas
Apuro e aprumo do engenho e da arte
Inventividade humana
Quase tudo pelo tempo devorado
Auríferas lutas
Idealismo de mentes a lutarem por uma terra livre
Derrama sobre o quinto de Portugal
Não mais a entrega da quinta parte do ouro extraído,
Nas Minas Gerais dos confins deste país
Estradas reais, a percorrerem as Minas Gerais e Paraty – histórica cidade
Em todo seu percurso, seus saudosos calçamentos de pedras
Onde mulas, carregando enormes cargas, fardos - cestos,
Percorreram os caminhos
Não mais a entrega da quinta parte do ouro extraído,
Nas Minas Gerais dos confins deste país
Estradas reais, a percorrerem as Minas Gerais e Paraty – histórica cidade
Em todo seu percurso, seus saudosos calçamentos de pedras
Onde mulas, carregando enormes cargas, fardos - cestos,
Percorreram os caminhos
Passado assaz distante,
Nem tão distante assim
Com suas estradas - outrora de pedra -, atualmente descaracterizadas,
Invadidas por hodiernas construções, e a abandonar seu original calçamento
A história sendo lentamente apagada de nossas memórias
Triste constatação de um Brasil que não volta os olhos para o passado,
Muito embora esta tradição esteja lentamente se modificando!
Bandeiras paulistas a desbravarem os sertões
De um Brasil tão enveredado em suas rurais origens
A buscarem ouro nas mais distantes plagas
Jesuítas a catequizarem os índios conquistados
Em suas andanças, a edificarem construções
Povoados sendo então criados
Comerciantes pelas paragens se afirmando
E os índios aculturados pelo branco supostamente superior, trabalhando
Guerreiros ou bandidos, a enfrentarem a natureza inóspita,
Índios selvagens
Mataram e conquistaram,
Impuseram seu modus vivendi aos habitantes do lugar
Modos de viver, vestuário, alimentação
E com isto forjaram, novas formas culturais
Sendo seguidos pelos tropeiros,
Os novos desbravadores dos rincões brasileiros
A levarem reses e víveres sertão afora
Enfrentando perigos muitos, rios caudalosos, chuva, frio, sol intenso
Noites ao relento,
Com suas capas a cobrirem o corpo
Desbravando a natureza bruta
E levando víveres a diversas partes do país,
Do meu Brasil varonil!
Nas leituras e ensinos diversos,
A descobrir novos detalhes desta fascinante história chamada vida,
Denominada história dos povos, do mundo, e do Brasil
Descobrir conformações diversas dos estados
Que parte de Minas Gerais já foi anexada ao estado de Goiás, sendo após, devolvida
Que o estado de São Paulo, imenso em seu potencial gerador de riquezas,
Já foi igualmente colossal em tamanho,
Diminuindo pouco a pouco suas dimensões
Ramos de Azevedo a elaborar monumentais edifícios para a localidade
Teatro Municipal, com suas escadarias imponentes, e sua fachada impressionante,
Vale do Anhangabaú, prédios belíssimos
Art Deco, Art Noveau, Belle Époque
Manifestações culturais das épocas
Teatro Municipal, com suas escadarias imponentes, e sua fachada impressionante,
Vale do Anhangabaú, prédios belíssimos
Art Deco, Art Noveau, Belle Époque
Manifestações culturais das épocas
Cidade sitiada e bombardeada nos anos vintes
Os bondes pela cidade a circular
A Avenida Paulista a pouco a pouco, exilar seus casarões
A cidade e o país a se industrializar
São, São, São Paulo
A revezar-se no poder com Minas Gerais na famosa política do “café com leite”
Cultura cafeeira paulista, em contraponto a pecuária leiteira de Minas
Sendo atraiçoadas nos idos de 1930
Tal fato, a gerar descontentamento
Ocasionou uma insurgência Revolução Constitucionalista de 32
Paulistas abandonados em sua luta, isolados,
Muitas vidas ceifadas no conflito
A lutarem de forma improvisada, contra os desmandos
A improvisarem canhoeiras com matracas barulhentas
Hoje raramente lembrados
Tendo como monumento um
Obelisco erigido na capital paulista
E um Mausoléo destinado a algum dos heróis da luta,
Muitos, anônimos heróis!
Berço do heróico e imagético
Sete de Setembro, dos idos de 1822
Onde um idealizado Dom Pedro I, bradou:
Independência ou morte!
As margens do Riacho Ipiranga
Hoje tão tristemente esquecido e poluído
Próximo ao monumento construído em homenagem a Independência,
E da “Casa do Grito”, modesta construção construída num elevado na região,
Humilde abrigo de tal realeza
Em quadro de Pedro Américo,
Um séquito de súditos o acompanha, todos ricamente fardados, e de armas empunhadas
Assim, com um galante Dom Pedro I representado, e imortalizado nas telas
Arte imortal a decorar as paredes do Museu do Ipiranga
No quadro em homenagem a Independência do Brasil
Em Cubatão, uma “Casa de Pedra”,
Supostamente abrigo de amorosos encontros do imperador,
Com sua Marquesa de Santos,
Cujo túmulo é monumento na Consolação, histórico cemitério,
Última morada da mais famosa de suas amantes São Paulo, berço dos paulistas
Inicialmente instalados no litoral,
A vencerem a serra íngreme
E se instalarem na região altaneira,
São Paulo de Piratininga
Onde as gentes, de modo rudimentar viviam
De agricultura a sobreviver, enfrentando ataques de índios, doenças,
E a aridez da terra selvagem
Em Santo André da Borda do Campo,
Alguns viveram
Lugarejo alçado a condição de vila em 8 de abril de 1553,
Sendo logo após, abandonado
Pelas gentes que rumaram para São Paulo,
Irmão mais novo, fundado em 25 de janeiro de 1554
Para traz deixando parte da história,
João Ramalho, o Cacique Tibiriçá e sua filha Bartira,
Os fundadores do vilarejo, abrigados sendo, pela:
Paulistarum Terra Matter!
São Paulo, Terra Mãe!
Cidade a se industrializar
Tornando-se cada vez mais veloz
Metrôs, trens e ônibus a rasgarem a cidade
Localidade que nunca dorme, domicílio que nunca para
Lugar para onde me desloco constantemente,
Com vistas a realizar meu labor
Na azafama diária, no corre corre das gentes
Pendular migração
São Paulo que amanhece todo dia, sempre apressada
No compasso descompassado, do andar das carruagens sobre trilhos
Os trens e metrôs da vida, a carregarem dentro de si, milhares de gentes,
As mais diversas ...
Cidade que nasceu destinada a sempre ensinar que as gentes,
Sempre devem se conduzir, e nunca serem conduzidas pelos outros:
Nom ducor, duco!
E no brocardo:
Pro Brasilia Fiant Eximia!
Onde o povo paulista sempre está a buscar, fazer o melhor pelo Brasil,
Valiosa lição de presteza!
E a natureza a sempre se fazer presente
Ainda que de discretas formas,
Nas mais diversas manifestações:
Na chuva, que escorre lânguida, ora bravia;
Na alvorada que insiste em se apresentar,
Mesmo em meio a prédios, alguns feios, outros abandonados,
Eis o sol altaneiro e atmosfera a se colorir com seus mil tons,
Pouco a pouco se apagando
E a música a embalar os caminhos
A espera, com um livro nas mãos,
A leitura ás vezes abundante, ora escassa
E a vida a se manifestar
Tangenciando seus compassos, com as devidas oportunidades
A mostrar sua história em seus movimentos,
Como as histórias de uma vida, de uma cidade, de um país, ou dos povos
Apresentações sutis,
A demonstrarem que sempre existe algo novo para se aprender
E que isto não é um fim em si mesmo,
Apenas um começo!
1 - Adj. Que pertence ao mundo das fadas, ou é próprio de fadas; mágico. Fig. Deslumbrante, maravilhoso, espetacular: iluminação feérica.
2 - Relativo à tarde: claridade vesperal.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Garoa fina a correr pelas janelas do coletivo
Os sons a invadir os meus ouvidos,
Embalados pelas melodiosas canções
As vesperais² se despedindo do dia que pouco a pouco escurece
A adquirir escuras formas
E o espetáculo da vida a tomar forma
E as coisas se sucedem, acontecem ...
O ribombar das tempestades
A chuva a cair fortemente
O vento a arrastar tudo consigo
Barulhos naturais
A natureza a se manifestar, mesmo nas cidades mais desprovidas de verde
E as leituras se sucedendo, livros mil, aventurosas leituras ...
As pedras, as gemas preciosas
E a semi preciosidade dos eventos banais
Ante a riqueza do devir natural
Pérolas a serem produzidas no interior de conchas
Devassadas por indesejados seres
A formarem nacarada substância, a envolver o corpúsculo estranho
E a se transformar em bela preciosidade
E saber que ...
O diamante pode ser uma colônia de bactérias calcificada
Bela formação de bactérias, a enfeitar colos, dedos e pulsos femininos
Acaso em verdade, isto se convertendo,
Tratando-se da mais bela combinação de bactérias que se tem notícia!
Os rubis, com seu vermelho
A esplenderem suas partículas rutilantes
Em contraste aos fogos lançados na atmosfera
Com seus dons e mil artifícios
A riqueza das formas naturais
Pelo ouro, e pelas materiais riquezas
Homens guerrearam, conquistaram e subjugaram
Dominaram e impuseram seus modos pensantes
Construíram e destruíram impérios
Revestiram o mundo das materiais belezas
Apuro e aprumo do engenho e da arte
Inventividade humana
Quase tudo pelo tempo devorado
Auríferas lutas
Idealismo de mentes a lutarem por uma terra livre
Derrama sobre o quinto de Portugal
Não mais a entrega da quinta parte do ouro extraído,
Nas Minas Gerais dos confins deste país
Estradas reais, a percorrerem as Minas Gerais e Paraty – histórica cidade
Em todo seu percurso, seus saudosos calçamentos de pedras
Onde mulas, carregando enormes cargas, fardos - cestos,
Percorreram os caminhos
Não mais a entrega da quinta parte do ouro extraído,
Nas Minas Gerais dos confins deste país
Estradas reais, a percorrerem as Minas Gerais e Paraty – histórica cidade
Em todo seu percurso, seus saudosos calçamentos de pedras
Onde mulas, carregando enormes cargas, fardos - cestos,
Percorreram os caminhos
Passado assaz distante,
Nem tão distante assim
Com suas estradas - outrora de pedra -, atualmente descaracterizadas,
Invadidas por hodiernas construções, e a abandonar seu original calçamento
A história sendo lentamente apagada de nossas memórias
Triste constatação de um Brasil que não volta os olhos para o passado,
Muito embora esta tradição esteja lentamente se modificando!
Bandeiras paulistas a desbravarem os sertões
De um Brasil tão enveredado em suas rurais origens
A buscarem ouro nas mais distantes plagas
Jesuítas a catequizarem os índios conquistados
Em suas andanças, a edificarem construções
Povoados sendo então criados
Comerciantes pelas paragens se afirmando
E os índios aculturados pelo branco supostamente superior, trabalhando
Guerreiros ou bandidos, a enfrentarem a natureza inóspita,
Índios selvagens
Mataram e conquistaram,
Impuseram seu modus vivendi aos habitantes do lugar
Modos de viver, vestuário, alimentação
E com isto forjaram, novas formas culturais
Sendo seguidos pelos tropeiros,
Os novos desbravadores dos rincões brasileiros
A levarem reses e víveres sertão afora
Enfrentando perigos muitos, rios caudalosos, chuva, frio, sol intenso
Noites ao relento,
Com suas capas a cobrirem o corpo
Desbravando a natureza bruta
E levando víveres a diversas partes do país,
Do meu Brasil varonil!
Nas leituras e ensinos diversos,
A descobrir novos detalhes desta fascinante história chamada vida,
Denominada história dos povos, do mundo, e do Brasil
Descobrir conformações diversas dos estados
Que parte de Minas Gerais já foi anexada ao estado de Goiás, sendo após, devolvida
Que o estado de São Paulo, imenso em seu potencial gerador de riquezas,
Já foi igualmente colossal em tamanho,
Diminuindo pouco a pouco suas dimensões
Ramos de Azevedo a elaborar monumentais edifícios para a localidade
Teatro Municipal, com suas escadarias imponentes, e sua fachada impressionante,
Vale do Anhangabaú, prédios belíssimos
Art Deco, Art Noveau, Belle Époque
Manifestações culturais das épocas
Teatro Municipal, com suas escadarias imponentes, e sua fachada impressionante,
Vale do Anhangabaú, prédios belíssimos
Art Deco, Art Noveau, Belle Époque
Manifestações culturais das épocas
Cidade sitiada e bombardeada nos anos vintes
Os bondes pela cidade a circular
A Avenida Paulista a pouco a pouco, exilar seus casarões
A cidade e o país a se industrializar
São, São, São Paulo
A revezar-se no poder com Minas Gerais na famosa política do “café com leite”
Cultura cafeeira paulista, em contraponto a pecuária leiteira de Minas
Sendo atraiçoadas nos idos de 1930
Tal fato, a gerar descontentamento
Ocasionou uma insurgência Revolução Constitucionalista de 32
Paulistas abandonados em sua luta, isolados,
Muitas vidas ceifadas no conflito
A lutarem de forma improvisada, contra os desmandos
A improvisarem canhoeiras com matracas barulhentas
Hoje raramente lembrados
Tendo como monumento um
Obelisco erigido na capital paulista
E um Mausoléo destinado a algum dos heróis da luta,
Muitos, anônimos heróis!
Berço do heróico e imagético
Sete de Setembro, dos idos de 1822
Onde um idealizado Dom Pedro I, bradou:
Independência ou morte!
As margens do Riacho Ipiranga
Hoje tão tristemente esquecido e poluído
Próximo ao monumento construído em homenagem a Independência,
E da “Casa do Grito”, modesta construção construída num elevado na região,
Humilde abrigo de tal realeza
Em quadro de Pedro Américo,
Um séquito de súditos o acompanha, todos ricamente fardados, e de armas empunhadas
Assim, com um galante Dom Pedro I representado, e imortalizado nas telas
Arte imortal a decorar as paredes do Museu do Ipiranga
No quadro em homenagem a Independência do Brasil
Em Cubatão, uma “Casa de Pedra”,
Supostamente abrigo de amorosos encontros do imperador,
Com sua Marquesa de Santos,
Cujo túmulo é monumento na Consolação, histórico cemitério,
Última morada da mais famosa de suas amantes São Paulo, berço dos paulistas
Inicialmente instalados no litoral,
A vencerem a serra íngreme
E se instalarem na região altaneira,
São Paulo de Piratininga
Onde as gentes, de modo rudimentar viviam
De agricultura a sobreviver, enfrentando ataques de índios, doenças,
E a aridez da terra selvagem
Em Santo André da Borda do Campo,
Alguns viveram
Lugarejo alçado a condição de vila em 8 de abril de 1553,
Sendo logo após, abandonado
Pelas gentes que rumaram para São Paulo,
Irmão mais novo, fundado em 25 de janeiro de 1554
Para traz deixando parte da história,
João Ramalho, o Cacique Tibiriçá e sua filha Bartira,
Os fundadores do vilarejo, abrigados sendo, pela:
Paulistarum Terra Matter!
São Paulo, Terra Mãe!
Cidade a se industrializar
Tornando-se cada vez mais veloz
Metrôs, trens e ônibus a rasgarem a cidade
Localidade que nunca dorme, domicílio que nunca para
Lugar para onde me desloco constantemente,
Com vistas a realizar meu labor
Na azafama diária, no corre corre das gentes
Pendular migração
São Paulo que amanhece todo dia, sempre apressada
No compasso descompassado, do andar das carruagens sobre trilhos
Os trens e metrôs da vida, a carregarem dentro de si, milhares de gentes,
As mais diversas ...
Cidade que nasceu destinada a sempre ensinar que as gentes,
Sempre devem se conduzir, e nunca serem conduzidas pelos outros:
Nom ducor, duco!
E no brocardo:
Pro Brasilia Fiant Eximia!
Onde o povo paulista sempre está a buscar, fazer o melhor pelo Brasil,
Valiosa lição de presteza!
E a natureza a sempre se fazer presente
Ainda que de discretas formas,
Nas mais diversas manifestações:
Na chuva, que escorre lânguida, ora bravia;
Na alvorada que insiste em se apresentar,
Mesmo em meio a prédios, alguns feios, outros abandonados,
Eis o sol altaneiro e atmosfera a se colorir com seus mil tons,
Pouco a pouco se apagando
E a música a embalar os caminhos
A espera, com um livro nas mãos,
A leitura ás vezes abundante, ora escassa
E a vida a se manifestar
Tangenciando seus compassos, com as devidas oportunidades
A mostrar sua história em seus movimentos,
Como as histórias de uma vida, de uma cidade, de um país, ou dos povos
Apresentações sutis,
A demonstrarem que sempre existe algo novo para se aprender
E que isto não é um fim em si mesmo,
Apenas um começo!
1 - Adj. Que pertence ao mundo das fadas, ou é próprio de fadas; mágico. Fig. Deslumbrante, maravilhoso, espetacular: iluminação feérica.
2 - Relativo à tarde: claridade vesperal.
Luciana Celestino dos Santos
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