Poesias

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

SONHO DE VALSA - CAPÍTULO 7

E assim, conforme o ano ía se encerrando, Marilu, telefonou então para os pais, informando que gostaria de ficar por mais algum tempo na Europa.
Paulo, contudo ao ouvir a notícia, ficou profundamente desapontado. Para ele, a primeira coisa que a filha gostaria de fazer, era o quanto antes, voltar para casa. Mas, a despeito de seu desejo mais óbvio, a filha lhe pediu para que autorizasse a viagem dela com as amigas. Diante disso, Paulo acabou concordando em que ela estendesse o passeio.
Sentido com a filha, chegou até a comentar:
-- Nunca imaginei na minha vida, que algum dia, iria ouvir da boca de Marilu, que ela preferiria ficar mais alguns meses na Europa, viajando com as amigas. Eu sempre pensei que ela iria querer voltar correndo para casa. Afinal, nós é que somos a família dela.
Dona Rose, ao perceber o descontentamento do marido, tratou logo de consolá-lo:
-- Querido, isso não é desprezo pela gente. A atitude dela é até compreensível. Afinal, não é todo dia que se tem uma oportunidade como essa. Assim, ela tem mais é que aproveitar.
-- Tem que aproveitar. Tem que aproveitar. – resmoneou – É por conta dessas bobagens que andam colocando na cabeça dela, é que ela não quer mais saber de voltar para casa.
-- Não é verdade, Paulo. Maria Lúcia, vai voltar para casa sim. Afinal nós estamos esperando, morrendo de saudades dela.
-- Bem sei. Eu quero só ver. – completou Paulo, aborrecido.
Paulo, o pai de Marilu estava aborrecido. Muito aborrecido.
Quando sua filha ligou lhe pedindo para ficar mais alguns meses, para que pudesse viajar com suas amigas, tal fato o incomodou muito. Isso por que, sempre tivera a filha do seu lado, e não se acostumara com tanto tempo de separação. 
Esse tempo em que estiveram distantes um do outro só serviu para deixá-lo mais preocupado do que já estava com a educação da filha. Por longos meses, não sabia nada sobre o estado da filha. Não sabia se estava bem, ou mal. A únicas coisas que ainda o mantinham informado sobre os passos da filha, eram as esparsas ligações que a moça fazia para casa, e as cartas que esta lhes enviava.
Com efeito, mesmo durante sua viagem pela Europa Maria Lúcia não se descurou do encargo de enviar-lhes toda semana, um postal e uma carta, relatando os últimos acontecimentos. Zelosa, mesmo nos momentos de grande diversão, nunca se esqueceu da atenção que deveria ter com os pais.
Mas para eles, principalmente para Seu Paulo, isso não era o suficiente. Os últimos meses longe da filha, foram muito duros para ele. Saudoso, já não podia mais contar os minutos para rever a filha.
Mas essa, ao contar-lhe o quão importante era o passeio, acabou por convencê-lo.
Com efeito, após algumas ligações, novamente o venceu pelo cansaço.
Seu Paulo, ao perceber a felicidade da filha ao comentar os inúmeros passeios que iria realizar, acabou convencendo-o a concordar. Afinal, tal viagem até a ajudaria.
E assim, mesmo diante do argumento de que ela já conhecia boa parte dos países os quais iria visitar, Paulo não conseguiu demovê-la da idéia de empreender a viagem. Isso porque, até mesmo para ele que era um tanto quanto turrão, esta viagem era um achado. Nunca mais em sua vida, Maria Lúcia empreenderia um passeio tão magnífico pela Europa. Viajar por quase quatro meses!
Isso realmente, não era para qualquer um.
Assim, Paulo teve que concordar. 
Nem mesmo ele, em viagem com a família, ficou tanto tempo fora do país. Esta era uma oportunidade de ouro para ela.
Diante disso, não tinha argumentos. Rose estava certa, seria bobagem Marilu não aproveitar o convite. Assim, Paulo mais uma vez, capitulou.
Contudo, a despeito do conformismo de Paulo com a decisão de Marilu, Laura – a irmã  caçula –, não ficou nem um pouco satisfeita com a notícia.
Isso por que, mais uma vez, sentiu-se preterida.
Afinal, segundo ela, que direito Marilu tinha de ficar tanto tempo longe de casa, ocupando as mentes e os corações de seus pais? Isso por que durante um ano teve que aturar as lamúrias dos dois, enquanto sentiam saudades de Marilu. Já não agüentava mais.
Como já imaginava o que viria pela frente, Laura ficou ainda mais aborrecida.
Diante do novo quadro apresentado, seu desejo de viajar no final do ano com a família, estava cancelado. Isso por que, seu pai, preocupado com a possibilidade de Marilu desistir da viagem com as amigas a qualquer momento, decidiu que não realizaria nenhuma viagem.
Tal novidade, ao cair nos ouvidos da garota, produziu os mesmos efeitos que uma bomba.
Decepcionada, Laura foi para seu quarto, onde ficou trancada por horas a fio.
Durante todo esse tempo chorou e culpou a irmã pelo cancelamento da viagem que ela faria com os pais.
Por conta disso, Dona Rose fez todo o possível para consolar a filha. 
Tentando-lhe explicar os motivos do cancelamento da viagem, Rose só conseguiu fazer a filha ficar ainda com mais raiva da irmã.
Assustada, Rose não conseguia compreender o motivo da ira de Laura. Sempre fora mimada pelos dois, bem tratada, bem cuidada. Não compreendia a razão de tanta raiva.
Por isso, tentando remediar a situação, Rose resolveu propor a filha, uma viagem só com as duas, para alguma das inúmeras praias do litoral paulista.
Laura, ao ouvir a proposta da mãe, ficou furibunda. Enraivecida com a proposta, considerou-a estapafúrdia. Furiosa que estava, disse a mãe, que esta só estava fazendo isso para aliviar sua culpa, pois ela fora responsável por toda essa confusão.
Paulo, ao ouvir o que Laura disse, chamou-lhe logo a atenção. Afinal, que direito ela tinha de acusar a mãe, se ela própria, não fazia nada para melhorar a convivência na família? Além disso, para ele, Rose não tinha culpa de nada. Tudo o que ela fizera foi no intuito de ajudar Maria Lúcia.
Mas, mesmo a admoestação, de nada serviu para Laura. Ao ouvir a repreensão, Laura ainda mais magoada com o pai disse:
-- Sempre ela. A Marilu sempre fica com a melhor parte de tudo. Para mim, só sobram os restos. – disse isso, já subindo as escadas para chegar ao quarto.
Quanto então, finalmente entrou em seu quarto, tratou logo de bater a porta.
De tão forte, o estrondo foi ouvido até na sala.
Conforme se pode perceber, as coisas pioraram muito depois que Laura soube que sua irmã só retornaria da Europa, no ano seguinte.
Paulo e Rose, já não sabiam mais o que fazer. 
Em regime de silêncio, Laura mal lhes dirigia a palavra.
Por conta disso, Paulo, certa vez, acabou perdendo a paciência com a filha.
Ao dizer-lhe bom dia, não obteve resposta. Diante disso, tentou novamente puxar conversa. Ao constatar então, que sua filha o ignorava, Paulo ficou irado.
Puxou a menina pelo braço e disse-lhe:
-- Escute muito bem. Ouviu? Sua pirralha, que direito você tem, de agir assim? Por acaso te falta alguma coisa? Não tem tudo o que uma menina da sua idade quer?
No que ela respondeu:
-- Não, eu não tenho tudo o que eu quero. Muito pelo contrário. Nessa casa, eu só levo desaforos. Aqui, ninguém gosta de mim. – disse gritando.
-- Cale sua boca, sua malcriada. Você não tem direito nenhum de dizer isso. Até por que, eu cuido mais de você do que sua mãe e de sua irmã, se quiser saber. – retrucou, enfurecido.
-- É mentira. – gritou Laura.
-- Cale a boca. Vá para o seu quarto. – respondeu gritando. – E só saía de lá, quando eu autorizar. – terminou dizendo, agora mais calmo.
Por conta dessa briga, Dona Rose ficou penalizada. Discordando do marido, chegou até a questionar o rigor do castigo. Mas, ao ver o comportamento da filha, acabou se convencendo que o marido havia tomado a melhor atitude possível, com relação aos últimos acontecimentos.
É, realmente, o clima estava muito ruim na casa da família de Maria Lúcia. Desde que decidira realizar uma grande viagem pela Europa, antes de retornar, as coisas ficaram ainda piores na casa. 
Laura estava cada vez mais impossível. Por conta de seu comportamento, insuportável nos últimos tempos, a garota passava cada vez mais tempo sozinha.
Suas poucas amigas, cansadas de aturar o mau-humor da menina, pouco a pouco foram se afastando dela.
Por este motivo, freqüentes vezes, Laura era vista sozinha, sentada no quintal, observando as pessoas que passavam na rua. Desacostumada a não ser o foco das atenções, nos últimos meses, vinha fazendo de tudo para chamar a atenção dos pais. 
Reiteradas vezes, arrumou discussão com os colegas da escola, só para que seus pais fosse até a escola. Mas, ao contrário do que esperava, tudo o que fazia, resultava em broncas e repreensões.
Tais discussões, no entanto, só serviam para que ela ficasse ainda mais revoltada com os pais.
Muitas vezes, resmoneando sozinha, chegou a seguinte conclusão:
-- Se fosse com Maria Lúcia, o comportamento deles, seria diferente. Mas como sou eu, eu vou ser sempre a culpada de tudo.
Por este motivo, passou a se sentir cada vez mais injustiçada.
Acostumada a ser sempre o alvo de todas as atenções, mal podia acreditar que fora preterida. Sonhando com uma grande viagem pela Europa, sentiu-se em desvantagem em relação a irmã.
Por essa razão, seu relacionamento com a família foi se tornando cada vez mais desgastado.
Por conta da última discussão que tiveram, Laura passou a cada vez ficar em seu quarto. Só saía de lá, quando almoçava ou jantava. Com isso, passou a ficar cada vez mais reclusa. Mesmo quando foi liberada do castigo, a garota raramente ficava com os pais.
Por conta do cancelamento da viagem, Laura ficou profundamente desapontada. Magoada que estava, não queria saber de conversa com ninguém.
Paulo, preocupado com isso, comentou com a esposa, que precisava tomar uma atitude. No entanto, não sabia o que fazer.
Conforme os dias passavam, as coisas só pioravam. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

SONHO DE VALSA - CAPÍTULO 6

Quando retornaram da excursão pela Europa, as meninas estavam cheias de novidades para contar. Retornando ao colégio com quase uma semana de atraso, tinham elas, muito o que contar para as amigas.
Assim, durante as primeiras semanas, quando de retorno as aulas, não faltou assunto para Maria Lúcia. Entusiasmada com a França, com a Espanha, Portugal e com a Itália, tinha muito o que falar sobre o que viu. Durante as semanas de viagem, ela pôde se maravilhar com os castelos do Vale do Loire, na França, e com sua magnífica capital Paris, bem como com os passeios de trem pela região vinícola do país. Sim, por que a França, além de ser um grande país no que se refere a produção de vinhos, também possuí inúmeros outros atrativos.  
Ademais, havia muito o que ser dito sobre Portugal, Espanha e Itália, os outros países que visitaram. Estes também possuem, assim como a França, uma grande tradição histórica.
Animada com o belíssimo passeio que realizou em companhia das novas amigas e de seus pais, Marilu pôde contar então, que Portugal foi o país que colonizou o Brasil, sua terra. 
Curiosas, suas colegas de escola, passaram a lhe perguntar se ela, por ser brasileira, era descendente de Portugueses.
Ao ouvir a pergunta, Maria Lúcia assentiu com a cabeça:
-- Yes, I’m descendant of Portuguese.1 – respondeu.
Assim, igualmente maravilhadas com o passeio da colega, Lisa, Susie e outras meninas, não se cansavam de fazer perguntas.
Embora muitas delas já estivessem acostumadas a realizarem estes passeios, adoravam ouvir a forma como Maria Lúcia comentava cada detalhe de sua viagem. Cuidadosa com as palavras, quando comentava sobre a viagem, conseguia descrever com perfeição, a mesma imagem que já haviam visto.
Enfim, Maria Lúcia, com jeitinho simpático, realmente cativou a todos.
Alvo das constantes atenções da amiga, era freqüentemente convidada para passeios. Certa vez ...
-- Hey Marylu how are you?2 – perguntou Carol.
-- Iam very well, thank you. What about yourself?3
-- I feel great!4 – respondeu.
-- That’s good to hear!5
-- Mary I want to invite you for a strool.6
-- What’s stroll?7
-- Shall we walk with me?8
-- Yes, that’s nice!9
-- At six p.m. Ok?10
-- Ok. That’s good.11 
Com isso, ao aceitar o convite, Marilu e Carol passaram a tarde inteira a passear e a conversar. Visitaram lugares famosos de Londres. 
No centro de Londres por exemplo, passaram por Pall Mall Street, bem como pela National Gallery. Assim por estarem próximas a Saint Martin’s in the Fiel Church, aproveitaram para fazer uma pequena oração.
Depois que saíram da igreja, passaram pela Trafalgar Square, que ladeava a Torre de Nelson. Em seguida foram até a rua próxima e chegaram à Northumberland Avenue.
Logo após, Marilu e Carol atravessaram a Ponte de Charing Cross. Ao lá chegarem, finalmente puderam admirar o Rio Tâmisa, marco da cidade. Próximos a este rio estão, a Torre de Londres, sendo que ao centro, está a Torre Branca, construída durante a Idade Média. Ali perto está também a Ponte Westminster, a Torre Victoria das Casas do Parlamento, a Ponte Lambert e o Edifício Vickers.
Quando chegaram a Abadia de Westminster, Marilu pediu a colega, para que parassem um pouco por ali, para que ela pudesse admirar, mais uma vez, a beleza da Igreja.
Realmente Londres é uma cidade fascinante.
Quando finalmente chegaram a uma das feiras de antigüidades da cidade, caminhando em meio as barracas, Maria Lúcia virou-se para virou-se para Carol e perguntou:
-- What’s that thing?12
-- I’m not sure.13 – respondeu ela.
Foi então que Marilu percebeu, que se tratava de uma banca de perfumes. Interessada, perguntou ao vendedor, qual era o preço de alguns dos perfumes em exposição:
-- How much are these botlles?14
-- This one is fifteen pounds each.15 – respondeu o vendedor.
-- Fifteen pounds!16 – exclamou Maria Lúcia espantada.
-- That’s expensive.17 – reiterou Carol.
-- They’re very old perfums. They’re victorian.18 – explicou o vendedor, tentando convencer as duas a comprarem alguns vidros de perfume.
Diante das argumentações do vendedor, as duas acabaram por se convencer de que se tratava de uma boa aquisição e compraram alguns frascos de perfume.
-- This one is beautiful.19 – disse Carol apontando para um dos frascos.
Maria Lúcia ao ver o perfume, concordou.
E assim, as duas acabaram comprando vários frascos de perfume. 
Quando foram pagar:
-- Here’s sixty pounds.20 – disseram as garotas.
Com isso, devidamente abastecidas com objetos de consumo, as duas foram passear em um dos vários parques da cidade.
Depois, famintas que estavam, foram almoçar em um dos vários restaurantes de Londres. Por serem menores de idade, não poderiam freqüentar os pubs, muito comuns por lá. Mas, apesar disso, puderam se regalar com uma lauta refeição em um dos muitos bons restaurantes da cidade.
Ao se sentarem a mesa, foram logo atendidas por um maitre:
-- Are you read to order?21 – perguntou o garçom.
-- Yes. I’d like a steak, please with chips and salad of carrots.22 – pediu Carol.
-- And your miss?23 – perguntou o garçom.
-- I’d like some chicken, with chips, please.24 – pediu Marilu.
-- Anything to drink?25 – perguntou o garçom.
-- I would like a glass of orange juice.26 – pediu Marilu. 
-- And me, a refreshment.27 – pediu Carol.
-- Thank you.28 – respondeu o garçon, já se dirigindo a cozinha do lugar.
Assim, quando finalmente a refeição chegou, as duas nem se deram conta de quanto tempo havia se passado. Afinal, ficaram o tempo todo conversando.
Quando então a comida chegou, assim entretidas, ficaram espantadas com a rapidez do cozinheiro. Famintas que estavam, foram logo se servindo.
Enquanto se deliciavam com a comida, Carol e Maria Lúcia, elogiavam o cardápio.
-- Ah, delicious.29 – comentou Marilu.
-- Would you like a dessert?30 – perguntou o garçom ao perceber que as moças haviam terminado a refeição.
-- No thanks.31 – respondeu educadamente Carol.
-- And yours?32
-- For me, a piece of cake, please.33 – respondeu Maria Lúcia.
E Maria Lúcia se deliciou com a sobremesa.
Depois, que terminaram a refeição, novamente o garçon se aproximou e perguntou as moças:
-- Would you like some more?34
-- No thanks.35 – respondeu Marilu.
Era sempre assim. Depois de alguns meses freqüentando o colégio inglês, Maria Lúcia era alvo constante de convites para sair, de passeios. Sua excursão pela Europa, por exemplo, fora mais um dos inúmeros convites que recebia de suas novas colegas.
Mas, tal solicitação tinha duas faces. Assim como ela era muito querida por lá, Maria Lúcia fazia questão também, de ser gentil com as amigas.
Por isso, quando lhe pediam qualquer livro emprestado, Marilu o emprestava sem problemas.
-- Can you lend me your book?36
-- Yes, dont have problems.37
-- Thank you, friend.38 – respondiam sempre.
Da mesma forma, que era sempre bem tratada por todos, fazia questão sempre, de retribuir a gentileza.
Assim, quando ía dormir.
-- Were you asleep?39 – certa vez lhe perguntaram.
-- No. I’m just going to bed.40 – respondeu ela.
-- At that time, good night to you, Marylu.41
-- Good night to you, Emily.42
Para ela, tais gestos eram extremamente importantes. Afinal de contas, se agressividade só traz como retorno violência, a educação, a cordialidade, só poderiam gerar gentileza. Aliás, essa era sua máxima. Delicadeza, gera gentileza.
Por isso sempre procurava retribuir as gentilezas que recebia.
Contudo certa vez, Maria Lúcia ficou deveras aborrecida com o comportamento das amigas. Isto por que, devido ao adiantado do ano letivo, começou a sentir mais e mais, saudades de sua família. 
Por conta disso, algumas vezes ficava triste e pedia as amigas para ficar sozinha. Mas estas, ao verem Marilu reclusa, absorta em seus pensamentos, chegaram a cogitar que a moça estava sofrendo de solidão. Assim, mesmo não intencionalmente, começaram a fazer-lhe perguntas inconvenientes, e preocupadas, passaram a agir com o intuito de distraí-la.
Atenciosas, só queria ajudá-la, mas o que conseguiram, foi justamente o oposto do que desejavam.
Aconteceu desta forma.
Maria Lúcia, conversando com as amigas, comentou que estava muito saudosa de sua família. 
-- I’m feeling miss of my relatives.43
Uma das meninas disse:
-- You’re lonely.44
-- I’m not lonely. I have a family.45 – respondeu Maria Lúcia, irritada.
-- But you’re sad.46 – insistiram as amigas.
No entanto, a despeito da boa intenção das meninas, estas, ao verem que ela ficou aborrecida com os novos rumos da conversa, trataram logo de distraí-la. Para isso, ofereceram-lhe um chá.
-- Would you like a cup of tea?47
-- Yes, please.48 – respondeu agora, mais tranqüila.
-- Here it is.49
-- Thank’s.50
-- Tomorrow I’ll walk around London’s center. Do you like to walk with us?51
-- Yes, with pleasure. Thank you very much.52 – disse agradecida.
E assim, tudo acabou se resolvendo.
Diante disso, Pamela, Susie, Emily, Helen, Carol, Marilu e Lisa, aproveitaram os últimos meses do ano letivo, para, além de estudar, se conhecerem melhor. Para isso, sempre que podiam sair da escola, aproveitavam para passear e conhecer melhor a região.
Por conta disso, cansadas que estavam de só passear por Londres, decidiram certa vez, quando os pais de Helen vieram de passagem pela cidade, que, sob os seus cuidados e vigilância, conheceriam algumas cidades próximas da capital.
Convidadas pela amiga, as garotas não puderam recusar. E assim foram, passear.
Viajando de trem, puderam conhecer belos lugares da Inglaterra. 
Pela janela do trem, puderam avistar magníficas paisagens. 
No Condado de Kent, considerado ‘O Jardim da Inglaterra’, conheceram algumas de suas construções pitorescas, onde se põe o lúpulo para secar. A propósito, o lúpulo, é um precioso componente das cervejas. 
Em Berkshire, puderam conhecer uma das mais famosas tradições inglesas. O Derby de Ascot, em Ascot, onde acontecem corridas de cavalo. Segundo os turistas foram informados, a realeza sempre abre as festividades.
Ao passarem por York, puderam conhecer suas típicas ruas estreitas, remanescentes de períodos medievais. Caminhando em meio a essas construções, acabaram avistando ao fundo, as torres do Mosteiro de York. Ao se aproximarem da construção, puderam constatar o quanto este era bonito.
Durante o passeio, visitaram fábricas de produtos de porcelana, em Longton, Staffordshire. De tão maravilhados com a profusão de bons produtos, os turistas resolveram comprar algumas porcelanas.
De tão animados, chegaram até a conhecer Liverpool, que alguns anos após, revelaria grandes nomes da música inglesa.
Assim, aproveitaram muito os últimos meses do ano. E, mesmo sob restrições, durante a viagem de trem, puderam conhecer e visitar muitos lugares das cidades vizinhas.
Durante o passeio, os turistas se fartaram de ver inúmeras construções no mais clássico estilo inglês. 
No colégio em que estudavam, a arquitetura e os elementos do prédio, datavam da época medieval. Assim, durante meses as alunas se viram cercadas por muros e uma arquitetura sóbria.
Quando então, podiam ver outros tipos de construções, as garotas se maravilhavam com o que viam. Afinal, mesmo podendo passear em alguns fins de semanas, a vida de uma interna, não é fácil. Por estarem sob a responsabilidade de terceiros, não podem se dar ao luxo de fazerem o que bem entendem. Para tudo, tem darem satisfações.
Daí a razão de adorarem sair, e aproveitarem isso muito bem.
Por isso, quando do término do ano letivo, Lisa, Carol, Susie, Pamela e Marilu estavam mais do que preparadas para seguirem viagem pelos países da Europa. Convidadas pelos pais de Helen e Emily, aceitaram mais do que depressa viajar.
Marilu então, nem se fala. Com a experiência de haver feito uma viagem com a família, teve o cuidado de recomendar as quatro meninas, que aceitassem o convite. Acompanhantes maravilhosos, Mister Winston e Mister Willian eram muito simpáticos. Ademais, um convite desses, era irrecusável. Afinal, não é todo dia que se tem uma oportunidade dessas.
Assim, diante de tantos argumentos, as garotas acabaram por aceitar realizar o passeio.
Este aliás, passou a ser uma coisa certa para todas elas.
Mas, antes disso, foi realizada uma bela recepção, para comemorar o encerramento do ano letivo. 
Em uma recepção simples, as moças, foram cumprimentadas pela direção do colégio, que fez questão de convidar a todas, para que permanecessem por lá. Mas, Maria Lúcia, mesmo ante a decepção das amigas, teve que recusar o convite.
Apesar de ter adorado o colégio, não podia continuar. Afinal, havia prometido aos pais, que só ficaria um ano na Inglaterra. Mas, gentil, agradeceu a oferta.
E assim, após o cerimonial, todos foram se sentar e conversar. E entre quitutes, comes e bebes as moças se divertiram muito.
Emily e Helen, insistindo para que Marilu ligasse para os pais para que os mesmos a autorizassem a fazer a viagem acabaram convencendo a moça. Marilu então prometendo que falaria com os pais, pediu então para que aguardassem um pouco.
As moças então concordaram. Mesmo assim, Carol, Susie, Lisa, Pamela, Helen, Emily e ela, trataram de sair cedo da festa. 

Tradução:
Eu sou descendente de Portugueses.
Oi Marylu, como vai você?
Eu vou bem, obrigada. E você?
Estou bem.
Fico feliz por ouvir isso!
Mary, eu quero te convidar para um passeio.
Que passeio?
Você gostaria de fazer um passeio comigo?
Sim, com prazer.
Às seis da tarde. Está bem?
Sim. Está bem.
O que é aquilo?
Não sei ao certo.
Quanto custam estes frascos com perfume?
Cada um custa quinze libras.
Quinze libras!
É muito caro.
 São perfumes muito antigos. São da Era Vitoriana.
 Este é bonito.
Aqui estão sessenta libras.
Estão prontas para fazerem o pedido?
Sim. Eu quero um bife com batatas fritas e uma salada de cenoura.
E você senhorita?
Eu quero frango com batatas fritas, por favor.
Alguma coisa para beber?
Eu quero um suco de laranja.
E eu, um refrigerante.
Obrigado.
Delicioso!
Vão querer sobremesa?
Não, obrigada.
E você?
Para mim, um pedaço de torta de chocolate, por favor.
Mais alguma coisa?
Não, obrigada.
Você pode me emprestar seu livro?
Sim, sem problema.
Obrigada amiga. 
Você está dormindo?
Não. Eu estou indo para cama.
Então, boa noite pra você Marylu.
Boa noite pra você Emily.
Eu estou sentindo saudades dos meus parentes.
Você está sozinha.
Eu não estou sozinha. Eu tenho uma família.
Mas você está triste.
Você gostaria de tomar uma xícara de chá?
 Sim, por favor.
Aqui está.
Obrigada.
Amanhã, nós iremos passear pelo centro de Londres. Você quer ir com a gente?
Com prazer. Muitíssimo obrigada.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

terça-feira, 3 de agosto de 2021

SONHO DE VALSA - CAPÍTULO 5

Assim, quando finalmente chegaram no aeroporto de Orly – na França, trataram logo de pegar um táxi.
Quando chegou ao hotel, onde ficaria hospedada, Maria Lúcia, que sempre sonhara com Paris, mal podia esperar para rever o país que lhe havia sido apresentado quando criança.
Na época com cinco anos, não possuía idade suficiente para apreciar a beleza do lugar, e muito menos para ter uma nítida lembrança daquela viagem. Por isso, mal podia esperar para agora para conhecer a capital da França.
Assim, quando todos lá chegaram, foram logo para o hotel onde haviam feito reservas. Lá, depositaram suas malas e tentaram descansar.
Tentaram, por que Marilu, ansiosa que estava por realizar alguns passeios, insistiu com os pais de Helen e Emily, para que a deixassem sair sozinha para um passeio.
Mas, os mesmos, ciosos de suas obrigações com a garota, mesmo estando cansados, ofereceram-se para acompanhá-la. Como os mesmos já conheciam muito bem a localidade, foram logo convidando-a para passear por algumas das principais praças da cidade. Por isso, caminharam às margens do Rio Sena. Visitaram também alguns monumentos históricos, passaram em frente alguns museus, e foram se sentar para descansar e bebericar um cafezinho, em um dos muitos cafés que haviam na Cidade Luz.
Com isso, estando cansados da viagem, combinaram com Maria Lúcia, que a visita aos museus, restaurantes e outros lugares encantadores da cidade, ficariam todos para o dia seguinte.
Além disso, eles aproveitariam se fosse possível, para visitar algumas outras cidades do país. O pai de Helen, profundo conhecedor de vinhos, fazia questão de visitar a região do Vale do Loire.
Depois, visitariam outros países. Segundo Winston – pai de Helen, Portugal, Espanha e Itália, assim como a França e a própria Inglaterra, eram também, ótimos lugares para se conhecer. Por esta razão, Winston fez questão de organizar a viagem com todo o cuidado, para que tudo desse certo.
Assim, todos aproveitaram a primeira semana da viagem, conhecendo os principais pontos turísticos da Cidade Luz.
Visitaram o Museu do Louvre, Notre Dame – famosa edificação em estilo gótico. Conheceram o Boulevard Montmartre, o Palais Royal, a Biblioteca Nacional, a Praça da Bastilha, que como o próprio nome diz, foi palco de importantes acontecimentos na época da Revolução Francesa. No Bairro de Montmartre, visitaram a Sacre Coeur, ou Sagrado Coração, famosa igreja do lugar. Caminharam pela Torre Eiffel, o que aliás, foi o ponto culminante do passeio, já que este ainda é, o principal cartão de visitas do país.
Durante esses longos passeios, onde visitavam os principais bairros da cidade, aproveitavam também, para apreciar a boa culinária francesa, freqüentando alguns dos melhores restaurantes do mundo. Passeavam de metrô, e em meio as inúmeras estações, puderam observar, com prazer, que Paris realmente é uma festa.
E, assim a viagem prosseguiu. Visitaram o Hotel des Invalides, erigido em honra das glórias napoleônicas.
Aliás, esse era um assunto muito interessante. Isso por que dado as circunstâncias históricas, a Inglaterra e a França, estiveram em lados opostos em certos momentos. Por isso mesmo, Mister Winston sempre aproveitava a bela paisagem oferecida pela cidade, para discorrer suas impressões e mostrar o conhecimento que tinha sua história.
Maria Lúcia mesma, já acostumada com o detalhismo de seu pai ao narrar as viagens que fizera pela Europa, não podia deixar de admitir que Mister Winston era um profundo conhecedor da cidade.
Helen, ao perceber a admiração da amiga, comentou com que esta, que seu pai sempre fora fascinado por Paris. Por conta disso, ela mesma já havia perdido as contas das vezes em seu pai já havia viajado para cá.
Aí está, portanto a explicação para tão profundo conhecimento sobre a cidade.
Nisso, os turistas prosseguiram o passeio conhecendo o Palais Bourbon, o Boulevard Saint-Germain, a Escola de Belas Artes, o Palácio e os Jardins de Luxemburgo, o Bairro de Montparnasse, Boulevard Saint-Michel, Sorbone, a Praça do Panthéon, o Cimetiére du Père Lachaise, famoso cemitério de Paris.
Tudo isso, regada à muitas explicações de Mister Winston. Fanático por vinhos, ele não perdeu a oportunidade de visitar o Museu du Vin. Para ele, um lugar fascinante.
Mas embora a viagem estivesse sendo maravilhosa, Mister Winston desejava conhecer a região vinícola da França. Por dedicou o seu último dia na capital, uma visita a Igreja de Saint-Denys, a Catedral de Saint-Pierre, Fontainebleau, o Bosque do lugar, entre outras coisas. Conheceu o Palácio de Versalles, reviu o Arco do Triunfo, e visitou os Champ’s Elysées. Aliás, por conta de alguns desses passeios, chegou até, a visitar outras cidades.
Contudo, o enfoque principal do passeio, era realmente conhecer a Cidade Luz.
Mas, depois de terem uma visão panorâmica sobre a cidade, todos foram intimados a conhecer a região vinícola do país. Assim, foram visitar o Vale do Loire. Encantadas com a beleza do lugar, Marilu, Helen e Emily chegaram até a passear de bicicleta pela região. Mas por serem menores, foram devidamente acompanhadas por Mister Winston. Afinal, não poderiam ficar sós, moças tão jovens.
Ao cair da tarde, todos pararam um pouco para descansar, e assim, em meio a muita beleza natural, começaram a abrir duas cestas e prepararam um pequenique. Com isso, enquanto se encantavam com a beleza do lugar, os turistas aproveitavam para descansar e esperar a nova ordem dos Senhores Winston e Willian para continuarem o passeio.
E assim, os últimos dias estavam sendo maravilhosos. Isso por que, depois de um duro semestre de aulas, as meninas estavam adorando passear pela Europa. Conhecendo novos países, estavam expandindo seus horizontes.
Por isso também, o interesse em aproveitar cada minuto da viagem para conhecer e visitar novos lugares. Nesse quesito aliás, estavam realmente muito atarefadas. Afinal, conhecer quatro países em tão curto espaço de tempo, era verdadeiramente uma empreitada fascinante, embora para poucos privilegiados.
No tocante a região praiana da França, só puderam ficar por um dia na famosa Riviera Francesa. Mas, aproveitaram o quanto puderam, a beleza do sol e das praias do lugar.
E apesar da correria da viagem, animadas, Marilu, Helen e Emily, estavam dispostas a percorrer os caminhos que as levariam aos demais países.
Assim, puderam conhecer a Espanha, Portugal e Itália.
Itália.
A Itália, assim com a França, era um país que atraía muito a atenção dos turistas. Estes, acostumados a verem nas telas, a beleza do país, ficavam fascinados e sequiosos por conhecerem a tão maravilhosa terra.
Viajando de trem, Helen, Emily, seus respectivos pais e Marilu, tiveram a agradável surpresa, de ver diante de seus olhos, os Alpes Italianos e sua bela floresta de coníferas. Durante o passeio, também puderam se deslumbrar com a beleza de sua região vinícola.
Com isso, em passeio pela Itália, cuidaram de visitar também, algumas de suas cidades famosas. Assim, como fizeram na França, tiveram o cuidado de conhecer algumas cidades vizinhas.
Em Roma, puderam visitar a Coluna de Trajano e a Igreja do Santo Nome de Maria.
Também apreciaram, ao fazerem um passeio pela cidade, a vista geral do Forum Romano. Próximo dali, havia as colunas do Templo de Vespasiano, e ao centro Colunas do Templo de Saturno. Ao fundo estava distinto, o Arco de Tito. Ainda no Forum Romano, avistaram o monumento ao Rei Vítor Emanuel II.
Passeando, também puderam conhecer a Igreja de São Luca e Martina – sua parte superior foi construída a partir de 1640, sobre a restauração de uma igreja do século VII erigida sobre as ruínas do Secretarium Senatus. À sua direita está o Arco de Septímio Severo, no Forum Romano, construído em 203, depois de Cristo em honra do imperador e seus filhos Caracalla e Geta.
No centro de Roma, os turistas puderam ainda, conhecer a Ilha do Tibre. Visitaram também, a escadaria da Praça de Espanha.
No Castelo de Santo Ângelo, visitaram o túmulo do Imperador Adriano, cuja construção foi iniciada em 135, depois de Cristo.
Na Fonte de Trevi, construída em 1732, admiraram a beleza de suas esculturas. Em seu centro, Netuno, está num carro puxado por cavalos alados e tritões. A famosa fonte, além de bela, apoia-se no Palácio de Poli, outro belo monumento da cidade.
No Monte Palatino, puderam visitar as ruínas dos palácios dos imperadores romanos. E assim, entre caminhadas pelo centro histórico de Roma, puderam se maravilhar com construções antiqüíssimas. Puderam avistar o Coliseu, igrejas, fontes, entre outras antigüidades. Na Piazza Della Rotanda, admiraram uma imponente fonte, que se erguia em uma coluna. Ali era um belo lugar para parar e admirar a beleza do país.
Assim, ao pararem, próximas de tão belo monumento, Helen e Marilu foram logo abordadas por alguns estrangeiros que estavam de passagem pelo mesmo local.
Ao perceber isso, Mister Winston tratou logo de se apresentar aos moços, e dizer-lhe que era pai de uma das moças.
Os rapazes ao ouvirem isso, foram logo se desculpando e despedindo-se das moças. Alegando estarem com pressa, saíram na direção oposta, a que as moças estavam.
No entanto, a despeito de ter espantado os rapazes, Mister Winston não ficou satisfeito. Por conta do incidente, reclamou o tempo todo com a esposa, que os turistas eram muito abusados. Afinal para ele, onde já se viu paquerar meninas tão novas?
Mister Winston estava deveras aborrecido. Mas, com o passar dos dias, o severo senhor acabou se acalmando. Afinal, era natural que as moças fossem alvo de flertes, isso porque, já estavam em idade para isso, a despeito da opinião do respeitável senhor.
Com isso, ao longo da viagem, Mister Winston e Mister Willian trataram de se acostumar com os flertes de que suas filhas eram alvo. Afinal, como suas esposas lhes disseram, isto era natural.
E assim, enquanto os pais de Emily e Helen se acostumavam com os flertes das filhas, mais uma cidade italiana se tornava conhecida deles. Veneza com seus belos canais, encantou os olhos das três jovens que estavam juntas em viagem. Acostumadas que estavam a ver fotos da cidade em livros, mal podiam imaginá-la tão encantadora.
Já, na cidade de Florença, puderam apreciar a Ponte Vecchio, sua ponte mais antiga e famosa. Lá, também puderam apreciar esculturas, e obras de artistas famosos.
Em Veneza, visitaram a Piazza de São Marco. Já em Nápoles, os turistas se deleitaram com a beleza das praias da região, bem como conheceram sua região portuária.
Em Salermo, puderam apreciar a vista da Baia de Ravello. Em um magnífico hotel do lugar, puderam se divertir por algum tempo, passeando.
Durante o passeio pela Itália, conheceram também, a Ilha de Capri, e puderam se maravilhar com a vista magnífica do lugar. Aproveitando o sol generoso, mergulharam com gosto, nas águas de suas belas praias.
Os turistas também aproveitaram para alugar um barco, e saíram velejando por aí. Foi assim que puderam conhecer outras ilhas da região. Dessa forma então, avistaram inúmeras outras praias e conheceram variadas vilas de pescadores. Enfim, a Itália é um país deslumbrante. Contudo, após uma semana de viagem, trataram de despedir da cidade e rumar para outras paragens.
Com isso, as moças já estavam viajando há duas semanas. Diante desta situação, Mister Willian resolveu alterar os planos de viagem. Como havia ainda dois países para serem vistos, ele e Mister Winston, combinaram de esticar a viagem por mais uma semana. Assim, teriam tempo de sobra para conhecer os dois países e mostrar a convidada deles, Marilu, o quanto a cultura latina é fascinante.
Encantados com o interesse da moça pela viagem, os dois senhores fizeram questão de levá-la para conhecer os dois países. Ainda mais quando ela disse, que já havia estado naqueles dois lugares, a cerca de quatro anos atrás. Tal fato só contribuiu para que ficassem ainda mais interessados em empreender a viagem.
Como nenhum deles conhecia os referidos lugares, ao saberem que a moça já havia estado lá, fizeram ainda mais questão de conhecer os países. Afinal estavam diante de uma estrangeira que os conhecia e que poderia lhes mostrar o que havia de melhor nos países.
E assim o fizeram.
Ao rumarem pela Espanha, atravessaram novamente a França, o fantástico país no qual haviam estado por uma semana. Durante o passeio de trem, puderam novamente apreciar a paisagem francesa, bem como a imponência do país.
Rever tais paisagens, deixou-os completamente maravilhados.
Após, foram conhecer a Espanha.
Ao passarem pela Calle de Alcalá, puderam se dar conta da pujança da Cidade de Madri. Assim, ao chegarem ao hotel, trataram de se desfazer de suas malas, e descansar um pouco.
Ao final da tarde foram logo passear. Caminhando pelas ruas, puderam avistar imponentes construções, restaurantes, palácios. Enfim, caminharam bastante.
No dia seguinte, visitaram o Mosteiro Real de São Lourenço do Escorial, situado nas proximidades de Madrid. Como estavam próximos de Guadarrama, aproveitaram também para conhecer o Valle de los Caído, gigantesco monumento mausoléu, construído em homenagem aos mortos franquistas da Guerra Civil Espanhola.
Ao retornarem para Madri, visitaram uma praça de touros. Lá estava se realizando uma grande tourada, a qual puderam presenciar. Enquanto apreciavam o espetáculo, no qual um toureiro, ricamente paramentado enfrentava um touro, o pobre animal, já tinha um destino ser certo, ao final do embate. Seria sacrificado em comemoração a tourada. Mas, isso não era o que estava interessando aos turistas. Talvez os mesmos nem soubessem dessa maldade cometida.
Enfim, retornemos ao passeio.
Em Valladolid, puderam apreciar a beleza da Igreja de São Paulo.
Lá também conheceram construções pitorescas, características da Cidade de Cuenca. Tratavam-se de casas apoiadas em um morro, que mais pareciam, estarem penduradas nele.
Em Malaga, os turistas puderam apreciar o vasto panorama da cidade, e conhecer a praça de touros da cidade.
Aliás, deve-se ressaltar, que na Espanha, as touradas são prática comum. Por isso, em praticamente todas as cidades visitadas, haviam praças de touros, e touradas sendo realizadas.
Já, em Salamanca, os viajantes conheceram o Castelo de Alba de Tormes, em Castilla de la Vieja. Conheceram também, o porto de uma das cidades bascas. Visitaram a Catedral de Cádiz, bem como os campos e montanhas do Vale Eseva, em Bunasque, Huesca. Conheceram a Cidade de Puerto de la Cruz.
Passeando pelo interior do país, puderam apreciar a cultura das oliveiras na Andaluzia. Em Tordesilhas, Marilu explicou que ali havia sido celebrado um tratado com o mesmo nome da cidade, que dividia o Brasil entre Portugal e Espanha.
Curiosos, os turistas puderam perceber em Mérida, ruínas de um teatro romano. Isso demonstra portanto, o quanto os romanos foram empreendedores e conquistadores. Audaciosos, conquistaram a Europa.
Na Igreja da Sagrada Família, em Barcelona, os viajantes puderam notar a enorme influência de Gaudi, na construção. Já no Mosteiro de Montserrat, erigido em meio a uma montanha de pedras, os turistas puderam se dar conta do engenho e da capacidade humanas em superar obstáculos. Mesmo em meio a um imponente obstáculo natural, o mosteiro era majestoso.
Em Segóvia, visitaram a Catedral e Alcácer de Segóvia. Também visitaram um famoso aqueduto espanhol, e as antigas fortificações romanas em Ávila.
Passeando pelo Rio Turia, os turistas puderam conhecer um pouco mais sobre a cidade de Valência. O Ancoradouro em Maiorca, por sua singeleza, convidava os turistas a fazerem um belo passeio pelas praias da cidade.
Em Sevilha, puderam apreciar as danças típicas da Espanha.
Por fim, em Granada, cidade marcada por forte presença árabe, visitaram o Pátio dos Leões, no Allambra – magnífico palácio mouro, onde doze leões de pedra compõe sua famosa fonte. Diante disso, ao terminarem o passeio pela Espanha, arrumaram suas malas, e rumaram para Portugal.
Ao chegarem em Portugal, na capital, Lisboa, visitaram monumentos históricos, entre eles o mosteiro dos Jerônimos, no Bairro de Belém. Conheceram o Paço e o seu famoso terreiro, um amplo pátio em frente a construção.
Admiraram a Torre do Tombo, onde estão guardados importantes documentos referentes a história de Portugal. Em Lisboa, visitaram ainda, a Costa do Abra, região praiana de Portugal. Ao fundo, em meio a muitas pedras, se podia avistar um pedaço da cidade.
Após conhecerem a capital, passaram por Algarve, onde avistaram suas pitorescas construções, e onde conheceram a Praia do Carvoeiro. Visitaram também a Praia da Rocha, a última, já em Lisboa, que consistia num pequeno pedaço de mar envolto em pedras. No entanto, lá as pedras apareceram em maior quantidade e mais imponentes do que nas outras praias. Tal fato era extremamente curioso para os pais de Helen e Emily.
Diante disso Maria Lúcia, ao ver a curiosidades dos amigos, tratou logo de esclarecê-las. Comentando sobre a história de Portugal, explicou a eles, que Portugal, sempre fora muito acidentado, além de ser um país muito pequeno. Daí o interesse em expandir, conquistar novas terras. Para que assim, pudessem ter mais território. Assim, sanadas as dúvidas, o passeio prosseguiu.
Com isso, os turistas visitaram igrejas, catedrais, e outras construções antigas. Em Faro, conheceram a Catedral de Lagos, e seus belíssimos casarões.
Já em Coimbra, visitaram sua famosa universidade, bem como outros monumentos históricos. Admirados com Portugal, passearam por entre videiras e vindimadores, que trabalhavam colhendo as uvas, para que estas se transformassem numa bebida fascinante – o vinho. Sim, lá também se fazia o cultivo das uvas. No Douro, Mister Winston se sentiu verdadeiramente em casa. Apaixonado por vinhos, adorou conhecer a região vinícola de Portugal. Lá também havia magníficos castelos, o como o de Queluz, e outros.
Em Portugal, havia ainda, construções erguidas em pedras, estátuas, danças típicas, bem como uma farta culinária. E, Assim como os turistas americanos ficaram fascinados com as edificações do país, se encantaram mais ainda com sua gastronomia.
Na região rural do país, os viajantes tiveram ainda, a oportunidade de conhecer os famosos moinhos de vento de Portugal. Estes foram construídos para o fim de moer grãos. E assim, em meio ao verde dos campos e das plantações, uma bela paisagem se descortinou para os visitantes.
Mas enfim, mesmo entre mares, pedras, belas e antigas construções, cidades e muita beleza, era chegada a hora de novamente partirem.
Como Mister Winston ficara fascinado pelo país, fez ele questão de também conhecer as famosas ilhas colonizadas pelos portugueses. Assim, visitaram a Ilha da Madeira, onde apreciaram uma magnífica paisagem. Entrecortada por montanhas, o lugar possuía belas construções.
Passeando pela África, Mister Winston se sentiu um aventureiro, prestes a desbravar os mais recônditos segredos do país. Contudo, a viagem visava só contornar o continente africano, já que o interesse dos turistas, eram somente conhecer as ilhas onde havia presença dos portugueses. Apesar disso, para eles, esta era uma verdadeira aventura. Afinal, estavam refazendo os caminhos dos grandes navegadores.
Dessa forma, conheceram a Ilha da Madeira, dos Açores e as Ilhas de Cabo Verde. Todas elas possuidoras de forte influência Portuguesa.
Assim, a viagem se encerrou por aí.
Apesar de haver muita coisa para ver vista, Mister Willian, Winston e suas respectivas esposas, sabiam que haviam excedido o tempo da viagem. Tinham que retornar. Afinal, Emily, Marilu e Helen, precisavam retornar a escola.
Isso por que, já havia se reiniciado as aulas. Após quase cinco semanas de viagem, já estava mais do que na hora de voltar. E assim o fizeram.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

SONHO DE VALSA - CAPÍTULO 4

E assim, apesar de impressionada no início, ao longo de meses, acabou percebendo que o comportamento das meninas independiam de que lado do globo estivessem. Por isso, homens e mulheres eram iguais, independente do país onde vivessem.
Ao perceber isso, passou a conviver muito melhor com as garotas, que muitas vezes até, elogiavam seu inglês.
Algumas vezes, Marilu chegou a ouvir dos professores, que ela falava melhor do muitos deles.
Estes, diziam assim:
-- You speak english like a english-woman.35
Gentis, comentavam com ela, que esta falava inglês, como uma inglesa.
No entanto, Maria Lúcia não sabia se estes diziam isto para elogiá-la, ou se era realmente verdade.
Mas, diante disso, não podia negar. Ao contrário do que diziam, ao menos ali, os ingleses eram muito simpáticos. Formais, mas simpáticos.
Também eram bem simpáticas, as americanas que foram para Londres estudar.
Acostumadas a brincar com as pessoas, logo que foram apresentadas a Maria Lúcia, por se atrapalharem com a pronúncia do nome, passaram a chamá-la de Marylu.
Assim, sempre que era apresentada para alguém, todos sentiam dificuldades em pronunciar corretamente o seu nome.
Diante disso, quando foi apresentada as colegas americanas ...
-- Hi, I’m Emily, and you?36
-- My names is Lúcia. And yours?37
-- Marya Lucia? 38 – perguntou-lhe Emily.
-- No, I’m Maria Lúcia. – insistiu a garota.39
-- Sorry. How do you spell your name?40 – perguntou Helen.
-- M-A-R-I-A L-Ú-C-I-A.41 – respondeu ela.
Ao perceberem que teriam dificuldades com a pronúncia do nome da moça, resolveram dar-lhe um apelido. Por esta razão, logo após ouvirem a pronúncia do nome, perguntaram:
-- Can we call you for a nick name?42 – perguntou Emily.
-- Yes, of course. But what?43
-- Marylu, ok?44 – perguntou Helen.
-- Do you like this nick name?45 – insistiu Emily.
-- I dont know. It’s very strange.46
-- I think this a good nick name.47 – respondeu Emily.
-- I guess so.48 – concordou Helen.
-- Sorry, I forgot to said my name. My name is Helen.49 – respondeu a moça, ao perceber que não havia se apresentado.
-- Ok. It’s a pleasure to know yours.50 – respondeu Maria Lúcia.
Por esta razão, ao longo de um árduo ano de estudos, Maria Lúcia foi apelidada de Marylu. E assim, depois de algum tempo, até mesmo os professores passaram a chamá-la pelo apelido.
Para ela, este foi um fato curioso. Em correspondência aos pais, chegou a comentar, que, se ficasse muito tempo por lá, acabaria desaprendendo qual era o seu nome, de tão acostumada que estava com o fato de ser chamada de Marylu.
Nestas mesmas cartas, também comentava, que estava gostando da estada. Entusiasmada com a estadia na Inglaterra, comentou na epístola, que faria uma curta viagem pelo restante da Europa, durante as férias. Tratava-se de uma excursão, promovida pela escola.
Tais notícias, eram alvissareiras para seus pais.
Isso por que, em suas primeiras missivas, Marilu não se cansou de falar que estava triste, morrendo de saudades de casa, e que não via a hora de voltar.
De tão preocupados, Paulo e Rose, utilizando do telefone, realizaram uma chamada internacional para o colégio onde Maria Lúcia estava estudando. Apreensivos, queriam a todo custo conversar com a filha, pois esta, em cartas, não lhes parecia bem.
O diretor do colégio, ao receber a ligação dos pais, prometeu que tentaria localizar a moça e conversaria com ela.
Impaciente porém, Paulo resolveu escrever para a filha. Mas, até a mensagem chegar a filha, sabia que levaria muito tempo para receber uma resposta.
Contudo, após alguns dias, Paulo finalmente recebeu uma ligação da filha. Ao ouvir a voz de Maria Lúcia, ao telefone, foi aos poucos se acalmando.
Percebendo que a filha estava bem, desistiu da idéia de ir até a Inglaterra visitá-la. Isso deve ao fato, de que, além de ter constatado que a moça estava bem, Marilu lhe assegurou que ele não precisava ir até lá.
Para demovê-lo de tal idéia, a moça comentou que fora muito bem recebida por lá, e que todos a tratavam bem. Portanto, não havia motivos para ela desistir da viagem.
Para ela, a única coisa que a incomodava era o vazio que as vezes sentia por não ter nenhum conhecido por perto. Não mentiu, realmente sentia muita saudade de casa, mas não queria desistir.
Ao ouvir isso, Paulo, apesar de preocupado, resolveu não intervir na decisão da filha. Mas, pediu-lhe, que resolvesse desistir da idéia de morar um ano na Inglaterra, deveria comunicá-lo imediatamente disso. Extremamente zeloso com a filha, explicou-lhe que ela não estava obrigada a continuar por lá, se não era isso que queria. Por isso pediu-lhe que, se resolvesse desistir, poderia fazê-lo a qualquer hora e que não haveria problemas.
Mas Maria Lúcia disse-lhe, que não ia desistir.
Ademais, antes de encerrar a conversa, perguntou com estavam as coisas por lá.
Como resposta obteve:
-- O mesmo de sempre. Sua mãe está realmente interessada no salão. Por ela, se fosse necessário trabalhar vinte e quatro horas naquele salão, isso seria feito. Já sua irmã, implicante como sempre, acabou se envolvendo em uma discussão na escola. Mas não se preocupe, daqui a pouco vai estar tudo bem.
E assim, para encerrar a conversar, afirmou que estava bem e que ela não precisava se preocupar com nada. Quanto a mãe e a irmã, se pudessem, mais tarde, ligariam para elas.
E foi dizendo isso que despediu-se e desligou o telefone.
Dessarte, conforme o prometido, depois de alguns dias, Marilu ligou para conversar com a mãe.
Com ela, comentou sobre os progressos na escola, sobre sua saudade de casa, e de seu profundo desejo de continuar sua estada, apesar das dificuldades de adaptação.
Dona Rose, ao ouvir o relato da filha, tranqüilizou-se. Animada, insistiu com a filha, para que não desistisse dos seus planos, por mais difíceis que eles fossem.
Entusiasmada, Rose disse ainda, que tudo na vida, custa muito para ser conquistado, mas que todo o esforço, vale a pena. Diante disso, Marilu não poderia jamais desistir de seus planos.
E assim, a conversa entre as duas, transcorreu normalmente. No entanto, ao tentar conversar com a irmã, Maria Lúcia foi advertida pela mãe, de que a mesma estava emburrada em seu quarto e que não queria falar com ninguém.
Diante disso, Maria Lúcia não insistiu, e continuou conversando mais um pouco com a mãe, depois desligou. Estava tarde.
E assim, ao desligar o telefone Marilu se dirigiu ao dormitório.
Lá, como era de se imaginar, dividia seu espaço com outras garotas. Conforme a faixa etária, as garotas ficavam alojadas um determinado dormitório. Esses lugares, eram grandes quartos, repletos de camas e armários, para que as jovens pudessem guardar seus pertences.
Limpos e bem arrumados, mesmo com tantas garotas os ocupando, pareciam lugares solitários.
Pois bem, foi num desses dormitórios que Maria Lúcia viveu, durante um bom ano de sua vida. Num desses dormitórios, passou noites se dividindo entre a arrumação do cômodo, seus estudos, suas leituras à parte, e suas cartas.
Muitas vezes, suas colegas de quarto, ao verem-na tão atarefada, vinham convidá-la para passear. Educadamente perguntavam:
-- Marylu, shall we go to walk?51
-- Sorry, but I have to write for a letter. I promissed for my family to write for a letter frequentelly.52
-- That’s all right. But I have to go now. Bye, bye.53
Diante disso despediu-se e saiu do quarto.
Quanto a esta última parte, deve ser ressaltado, que Maria Lúcia manteve assídua correspondência com sua família. E, apesar de após alguns meses passar a escrever menos, ao menos uma vez por semana, correspondia-se com seus pais.
Isso por que, nos últimos tempos, passou a ter mais afazeres.
Além disso, conforme já foi mencionado, durante as férias, realizaria uma excursão pela Europa. Assim aproveitaria sua estada para estudar e conhecer outros países. Diante de tal possibilidade, ficou encantada.
Mas para isso, precisar se sair muito bem nas próximas provas. Apesar de ter se saído muito bem nas primeiras avaliações, estava apreensiva. Perfeccionista, achava que poderia melhorar ainda mais as suas notas.
Por isso, durante as semanas que antecederam as provas, dedicou-se o quanto pôde aos estudos. Extremamente preocupada, chegou a virar noites estudando.
Precisava se sair muito bem nas provas.
No entanto, suas amigas, ao verem a obsessão de Maria Lúcia pelos estudos, foram logo lhe falar:
-- Please Marylu. Stop. You’re studying very much. – comentou Helen. – It’s not necessary.54
-- I guess so. You’re very studious.55 – reiterou Emily.
-- Yes I know. You have a reason. But I need to study. It’s very important for me.56
-- We know’s. But we should be study more. You’re very smart.57 – comentou Helen.
E assim, mesmo sabendo que era um boa aluna continuou se dedicando aos estudos. Para Marilu, era muito importante conseguir boas notas. Precisava mostrar aos pais, que era capaz disso. Não queria decepcioná-los, e assim, continuou estudando.
Com isso, após algumas semanas, a prova foi realizada.
Embora estivesse segura de ter realizado uma boa prova, Maria Lúcia precisava saber qual havia sido seu desempenho. Por isso, enquanto as mesmas não foram corrigidas e publicadas, Marilu não se tranqüilizou.
Assim, mesmo após ter realizado as provas, comentou com as amigas.
-- I’ve studied a lot. I should get a good grade on the test.58
-- Don’t worry. You’re ready. You will to suceed in examination. It’s not to preoccupied.59 – comentou Susie, tentando tranqüilizá-la.
Mas mesmo assim, Maria Lúcia só ficou totalmente tranqüila, quando soube o resultado das provas.
Ansiosa, mal podia esperar pela entrega das notas.
Com isso ...
-- Good examination, Marylu.60
-- Thank you teacher.61
-- Not at all.62
Diante do boletim, ao verificar as notas, Marilu ficou realmente muito contente. Seu esforço valera a pena. Suas notas estavam ótimas.
E assim, sem ter que se preocupar com provas, a moça pôde finalmente se preparar para sair em excursão pela Europa.
Animada Maria Lúcia arrumou suas malas e partiu em viagem.
Mas, antes de partir, tratou de se despedir das amigas.
Lisa, curiosa, quis logo saber quando ela retornaria. Diante disso, perguntou:
-- When you come back?63
-- I’m not sure, some time for three weeks. There’s a plane at nine o’clock. And we going to catch it.64
-- That’s right. See you soon.65 – respondeu Lisa.
-- Camon let’s go Marylu.66 – gritou Helen, com intuito de fazer Marilu se apressar.
-- Ok let’s go.67 – respondeu.
Dali seguiriam direto para o aeroporto. Estavam ávidas por conhecer novos lugares.

Tradução:
Você fala inglês como uma inglesa.
Oi, eu sou Emily, e você?
Meu nome é Maria Lúcia. E o seu?
Marya Lucia?
Não, eu sou Maria Lúcia.
Desculpe. Poderia soletrar o seu nome?
M (em) – A (ei) – R (ar) I – (ai) – A (ei) L (el) – U (you) – C (si) – I (ai) – A (ei).
Podemos lhe dar um apelido?
Sim claro. Mas qual?
Marylu, está certo?
Você gosta desse apelido?
Eu não. É muito estranho.
Eu acho um bom apelido.
Eu concordo.
Desculpe, eu esqueci de dizer o meu nome. Meu nome é Helen.
Está certo. É um prazer conhecer vocês.
Marylu, você gostaria de dar uma caminhada?
Desculpe, mas eu tenho de escrever uma carta. Eu prometi para minha família escrever cartas com uma certa freqüência.
Está tudo bem. Mas eu tenho que ir agora. Tchau, tchau.
Por favor Marilu. Pare. Você está estudando muito. Isto não é necessário.
Eu concordo. Você é muito estudiosa.
Eu sei. Vocês tem razão. Mas eu preciso estudar. Isso é muito importante para mim.
Nós sabemos. Nós precisamos estudar mais. Você é muito inteligente.
Eu estudei bastante. Eu preciso tirar boas notas nas provas.
Não se preocupe. Você está preparada. Você vai ter boas notas em suas provas. Não precisa se preocupar.
Boas notas, Marylu.
Obrigada professor.
De nada.
Quando você volta?
Eu não tenho certeza, talvez em três semanas. Tem um avião às nove horas. E é nesse vôo que vamos.
Está certo. Vejo você em breve.
Vamos Marylu.
Sim vamos.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

SONHO DE VALSA - CAPÍTULO 3

Além disso, com o dinheiro que Dona Rose lhe dera, podia comprar mil quinquilharias, que ainda assim, teria dinheiro de sobra. Sua mãe fora muito generosa com ela.
Antes de partir, preocupada com a situação da filha em um país estrangeiro, Rose tomou o cuidado de converter parte dos lucros do salão, em dólares. E assim, de posse de uma alta soma em dinheiro, Marilu não teria que se preocupar com seus gastos.
Aliás, é bom que se diga, sua mãe Rose, foi bem exagerada ao lhe dar tanto dinheiro. Maria Lúcia nem sabia o que fazer com tudo o que recebera da mãe.
Por isso, achou melhor guardar o dinheiro.
Contudo, conforme os meses se passavam, e conforme surgiam novidades em roupas, Maria Lúcia tratou logo, de comprar algumas peças. No entanto, como sempre fora muito cautelosa, só comprou o que realmente achou que valia a pena.
Isso por que muitos dos lançamentos da moda, era apenas modismos sem importância. Ciente disso, só comprou o que lhe interessava.
Mesmo assim, encantou-se com muita coisa. Também, não havia como não se encantar com a terra dos lordes e das mileides.
Durante sua longa estada no país, Marilu aproveitou também para estudar e para conhecer melhor a Europa.
Aplicada, não ficou restrita apenas aos livros recomendados pela escola onde estudava. Aproveitou também para ler muitos outros livros.
Além disso, sempre que podia, aproveitava para sair e passear na cidade.
No entanto, apesar de depois de alguns meses estar totalmente adaptada a cidade, no começo Maria Lúcia, sofreu um pouco para se adaptar. Nas primeiras semanas de aula, mal conseguia entender o que os mestres falavam. Atordoada com tantas diferenças culturais, sentia-se insegura em meio a tantas garotas inglesas.
Mas, a despeito do que imaginara, desde o começo, sempre fora muito bem tratada por todos. Os professores sempre foram muito atenciosos e as meninas também.
Isso por que, quando passou a freqüentar um dos mais tradicionais colégios ingleses, os professores pediram logo, que todos os alunos se apresentassem.
Diante disso, todos trataram de se apresentarem aos professores.
Quando chegou sua vez, Maria Lúcia, começou dizendo:
-- My name’s Maria Lúcia.1
-- Marya Lucia? How do you spell your name?2 – perguntou um dos professores.
-- M-A-R-I-A L-Ú-C-I-A. 3 – soletrou.
-- Ok, Marylu. To be continued.4 – respondeu o mestre.
-- That’s ok. I’m fourteen years old. Iam a student.5
Ao perceber que Maria Lúcia estava constrangida, dado o fato de que teria que se expor, o professor então lhe perguntou:
-- Where are you from?6
-- I´m from brazilian. I was born in Brazil, São Paulo’s city. The big city.7
Interessado, o professor lhe perguntou então:
-- Do you like to live in São Paulo?8
-- Yes, I like so much. São Paulo it is a beautiful city.9
-- Really?10
-- Yes. São Paulo it’s a marvelous place. I like my hometown.11
-- Ok. And you did you like knew London?12
-- Yes I liked. But I feel much miss of my country and of my relatives.13
Assim, as alunas do colégio, ao descobrirem que estavam estudando com uma brasileira, foram logo puxar conversa.
Por conta disso, encantadas com o fato de terem uma brasileira freqüentando sua escola, trataram logo de se apresentar e lhe desejar boas vindas.
-- I’m Susie. How do you do?14
-- I’m Emily. How do you do?15
-- And I Helen. How do you do?16
-- My name is Maria Lúcia. How do you do?17
E entre apresentações e apertos de mãos, foram todas se apresentando.
Por esta razão, Maria Lúcia passou a ser conhecida na escola.
Sim, a referida apresentação auxiliou-a no contato com as outras alunas do colégio.
Algumas das alunas, simpatizaram com ela. Por isso certa vez, tencionando puxar conversa com a moça, pediram lhe para que contasse sobre as coisas de seu país.
Começaram o colóquio, perguntando-lhe:
-- Where do you live?18
-- I live in São Paulo the biggest city of Brazil. This city is very rich, but is very poor too. This place have a very contrast.19
-- Really?20
-- Yes.21
-- Do you like to stay in London?22
-- Yes. I’m like to stay in here. London is a beautiful place. I visited the Tower of London, the Buckinghan’s Palace, and others acquaintance places.23
Curiosas, as meninas viviam perguntando-lhe coisas sobre o Brasil. Queriam saber como os brasileiros viviam, se as mulheres eram bonitas, se lá haviam florestas tão maravilhosas quanto diziam, etc. Enfim, sua presença na escola, causou uma grande sensação.
Por ser uma das poucas brasileiras no lugar, todos faziam questão de lhe cumprimentar. Principalmente as garotas estrangeiras, todas eram muito simpáticas.
Assim, após primeiras as apresentações, sempre que Marilu se encontrava com alguma conhecida nos corredores do colégio, era logo cumprimentada:
-- Good morning Marylu.24
-- Good morning Susie. How are you?25
-- I’m fine, thank’s. And you?26
-- I’m fell well.27
-- What do you do?28
-- I´m going to class.29
-- Ok. See you later.30
-- Bye, bye.31
Certo dia, ao encontrar-se com Susie, quando do término das aulas, Marilu foi logo abordada por ela, a qual foi logo lhe perguntando:
-- Marylu. Do you like to study in this college? – perguntou Susie.32
-- Yes, I like. This school is a good college. In this place I’m learning much new’s thing’s. Besides this country is a historical place. I like to stay in here. I’m happy to realize my dream.33
-- I´m happy to hear that.34

Tradução:
Meu nome é Maria Lúcia.
Marya Lucia? Como se soletra o seu nome?
(ême) (ei) (ar) (ai) (ei) (el) (you) (si) (ai) (ei). Esta é pronúncia das letras.
Está bem, Marylu. Pode continuar.
Está certo. Eu tenho catorze anos. Eu sou uma estudante.
De onde você é?
Eu sou brasileira. Eu nasci no Brazil, na cidade de São Paulo. Uma grande cidade.
Você gosta de morar em São Paulo?
Eu gosto muito. São Paulo é uma bela cidade.
Sério?
Sim. São Paulo é uma cidade maravilhosa. Eu gosto da cidade em que nasci.
Está certo. E você gostou de conhecer Londres?
Sim eu gostei. Mas eu sinto muita falta do meu país e dos meus parentes.
Eu sou Susie. Muito prazer.
Eu sou Emily. Muito prazer.
E eu sou Helen. Muito prazer.
Meu nome é Maria Lúcia. Muito prazer.
Onde você mora?
Eu moro em São Paulo, uma grande cidade do Brasil. É uma cidade muito rica, mas muito pobre também. Esta cidade é um lugar de contrastes.
Sério?
Sim.
E você está gostando de ficar em Londres?
Sim. Eu estou gostando de estudar aqui. Londres é uma bela cidade. Eu já visitei a Torre de Londres, o Palácio de Buckinghan e outros lugares conhecidos da cidade.
Bom dia Marylu.
Bom dia Susie. Como vai você?
Eu vou bem, obrigada. E você?
Eu vou bem.
O que você está fazendo?
Eu estou estudando para a aula.
Está bem. Vejo você mais tarde.
Tchau, tchau.
Marylu. Você gosta de estudar nesta escola?
Sim, eu gosto. Este é um bom colégio. Aqui eu estou aprendendo muitas coisas. Além disso, este é um lugar histórico. Eu gosto de estar aqui. Estou feliz por estar realizando meu sonho.
Ficou feliz por ouvir isso.
Você fala inglês como uma inglesa.
Oi, eu sou Emily, e você?
Meu nome é Maria Lúcia. E o seu?

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

SONHO DE VALSA - CAPÍTULO 2

Com isso, Rose, ao chegar no salão começou a preparar tudo para o trabalho.
Enquanto isso em casa, Seu Paulo, Maria Lúcia e Laura, se preparavam para mais um dia de afazeres. Enquanto as meninas colocavam o uniforme da escola, Paulo se preparava para mais um dia de trabalho.
Para irem a escola, as meninas tinham que usar um uniforme consistente em uma saia longa, uma camisa branca, sapatos brancos e meias longas. Para enfeitar o cabelo, invariavelmente usavam laços e outros adornos. Mas o uniforme era indispensável.
Nisso quando terminaram de se vestir, desceram as escadas e foram até a sala de jantar, tomar o café.
Ao terminarem o lauto café da manhã, subiram as escadas, escovaram os dentes, pegaram seus pertences, e seguiram cada qual seu caminho. Assim, enquanto as meninas, conduzidas pelo motorista da família, foram para a escola, Paulo, dirigindo seu carro, foi para seu trabalho.
Maria Lúcia e Laura, ao chegarem na escola, foram imediatamente abordadas por amigas em comum.
Como se poderia imaginar, o assunto do dia foi a inauguração do salão da mãe das garotas. Assim, como as meninas puderam ouvir de suas mães, a inauguração foi linda e o salão de Dona Rose seria um provável sucesso.
Envaidecidas, Maria Lúcia e Laura agradeceram os elogios e foram para suas respectivas classes.
E cada uma, em sua respectiva classe, ficou a ouvir as explicações dos professores, sobre o mundo que as cercava.
Enquanto Laura, ansiava para que se acabasse a tortura que era a aula de matemática, Maria Lúcia, ao contrário, se divertia ouvindo as peculiaridades de nossa história.
Interessada que era, sempre foi uma das melhores alunas da escola. Admirada, Maria Lúcia sempre foi exemplo de bom comportamento entre todas as garotas.
Assim, ao longo do ano letivo, enquanto Maria Lúcia se aplicava aos estudos, Laura ao contrário, só se preocupava em sair com as amigas e paquerar os rapazes que conhecia.
Por conta disso, constantemente, Laura chegou a se desentender com o pai. Paulo, conservador, reprovava o comportamento da filha mais nova.
Em razão disso, diversas vezes, impingia-lhe castigos por conta de seu comportamento imoderado.
Mesmo para suas colegas, Laura algumas vezes, ultrapassa os limites. De tão atrevida que era, chegava a incomodar até mesmo, suas colegas mais atiradas.
Mimada, vivia arrumando motivos para discutir com as colegas. Essas brigas poderiam se dar, pelos mais variados motivos, mas era sempre ela quem dava a última palavra.
Por isso, dado seu temperamento complicado, suas colegas de escola foram se afastando dela. Afinal de contas, Laura estava se revelando um ser humano insuportável.
Suas colegas viviam comentando entre si, que Laura estava ficando cada vez mais insuportável a cada dia que passava.
-- A Laura é muito chata.
-- É mesmo. Parece que ela tem o rei na barriga.
E assim, Cora, Susana e todas as suas colegas foram cada vez mais se afastando dela.
Sob a desculpa de que estavam de castigo, ou tinham outros compromissos, passavam cada vez mais a evitar o contato com Laura. Estavam cansadas de sempre ter que concordar com tudo o que ela dizia.
Contudo, a despeito disso, passaram a ter cada vez mais contato com Marilu.
Encantadas com a irmã mais velha de Laura, sempre que podiam, ou mesmo quando precisavam, buscavam sua companhia.
Por ser mais velha, sempre pediam a moça, que lhes explicassem alguma matéria na qual ainda restavam dúvidas. Pediam também conselhos, mas também gostavam de sua companhia.
Assim, de vez em quando, Maria Lúcia, combinava um passeio com as garotas.
Muito embora tivesse suas colegas de turma, nunca se descuidou de dar atenção as outras meninas. A propósito, no colégio em que as duas moças estudavam, não havia garotos, pois os mesmos, estudavam em outra escola.
Mas isso é um assunto para mais adiante.
Por enquanto, o que cabe mencionar, é que o sucesso do salão de Rose, proporcionou algumas coisas novas na vida das meninas.
Isso por que, enquanto Dona Rose trabalhava quase doze horas por dia no intuito de se estabelecer definitivamente, os lucros entravam sem cerimônia no caixa do salão. Assim, em menos de seis meses, todos os gastos que havia tido com o salão foram pagos com os dividendos do seu trabalho.
Tal fato, surpreendeu até mesmo ela, pois mesmo sendo muito otimista, coisa que sempre foi, Rose sabia que provavelmente, no primeiro ano de funcionamento do salão, os ganhos que conseguisse alcançar, somente serviriam para pagar os funcionários, manter o salão, e se refazer das despesas. Isso por que, Rose, estava determinada a devolver ao marido, todo o dinheiro que este lhe tinha dado para montar o salão.
No entanto, ao tentar devolver o dinheiro ao marido, este se recusou em aceitar. Alegando que o investimento que fizera no projeto dela era um presente, não aceitou o dinheiro da esposa.
Diante disso, Dona Rose ficou muito aborrecida. Afinal, estava decidida a devolver todo o dinheiro que o marido lhe dera.
Por conta disso, os dois chegaram até a discutir.
Para resolver a questão, Paulo disse então a esposa, que guardasse o dinheiro em um banco.
Rose então, ao ver que o marido jamais aceitaria o dinheiro dela, resolveu depositar o dinheiro em uma conta bancária. Ademais, já que não lhe interessava receber o valor investido, Dona Rose decidiu que realizaria o sonho de sua filha mais velha.
E assim, satisfeita com os lucros obtidos com o salão, Rose, estava decidida a realizar o sonho de Maria Lúcia.
Desde pequena, Maria Lúcia, acalentava o sonho de realizar uma grande viagem pela Europa. No entanto, com o passar dos os anos, o gosto que sempre fora por viagens, passou a ser também por conhecer outras culturas, outros modos de vida. E assim, Maria Lúcia que sempre fora apaixonada por viagens, finalmente poderia fazer a grande viagem de sua vida.
Como sua mãe estava ganhando um bom dinheiro com o salão, esta resolveu lhe presentear com uma bela viagem. Durante um ano, ficaria estudando na Inglaterra.
Dona Rose decidiu-se pela Inglaterra, pelo simples fato de que além de sua filha conhecer o idioma, este é um país fascinante.
E apesar de não ter perguntando nada a filha, esta, ao saber da novidade, ficou muito feliz.
Animada com a notícia, Maria Lúcia não cabia em si de contente.
Laura, contudo, não estava nada feliz com a novidade. Sentindo-se preterida, e não quis saber de conversa.
Ao descobrir que sua mãe preferira investir o lucro do salão, na filha mais velha, sentiu-se preterida. Por conta disso, ao ouvir a notícia da viagem da irmã, saiu correndo da sala e foi se trancar no quarto.
Emburrada, ficou dias sem falar com a irmã.
No que, Maria Lúcia preocupada, ao perceber que Laura estava aborrecida, tratou logo de conversar com ela sobre a viagem.
Disse a irmã, que sempre sonhou com isso.
Mas Laura, enciumada, retrucou:
-- Mas não é justo. Por que você pode ter tudo e eu fico aqui, sempre sem nada. Por acaso você é melhor do que eu?
-- Claro que não. Mas mamãe sabia que eu sempre quis fazer uma viagem dessas. Eu sempre quis estudar em outro país. Você sabe disso.
-- E daí? Por acaso, alguém me perguntou o que eu queria fazer? Muito embora vocês não saibam, eu também gosto de viajar.
-- Mas a questão, é que não se trata de uma simples viagem. Eu vou para a Inglaterra estudar. Você sabe o que isso significa pra mim?
-- Não me interessa o que isto significa para você. – disse irritada – É sempre assim, quando você quer uma coisa, e não importa que eu tenha pedido antes, a irmã mais velha sempre leva a melhor.
Ao perceber a irritação da irmã, Maria Lúcia tentou consolá-la, mas esta, desabrida, foi logo dizendo:
-- Não adianta fingir que está penalizada, por que eu sei que não é verdade. Você está pouco se importando com isso. A única coisa que te importa, é diminuir esta dor que você carrega na consciência. Mas meus parabéns, obrigada por mais uma vez me passar para trás!
Ao ouvir isso, Maria Lúcia bem que tentou remediar a situação, mas o que conseguiu foi somente aumentar a ira da irmã, que irritada, pediu para que ela saísse de seu quarto.
Surpreendida com a reação da irmã, Maria Lúcia não conseguia entender a raiva de Laura.
Afinal, esta nunca lhe contou que gostaria de fazer uma viagem dessas. Muito pelo contrário, Laura, nunca foi das alunas mais aplicadas. Seu sonho de consumo sempre foi com roupas, jóias e sapatos. No máximo uma grande festa e uma bela viagem para passear.
Por isso, não entendia a reação da irmã. Afinal esta sempre soube do desejo de Marilu de conhecer e estudar na Europa.
Realmente, todos na casa, sabiam do sonho de Maria Lúcia de estudar fora. Mas Laura, não ficou nem um pouco contente com a possibilidade de tal sonho se concretizar.
Acostumada a menosprezar os sonhos da irmã, Laura sempre acreditou que seu pai, nunca concordaria com isso. Mas, para sua surpresa, mesmo o duro Senhor Paulo, acabou concordando.
Diante de muita insistência, tanto de Maria Lúcia, quanto de Rose, Paulo acabou capitulando. Concordou, muito embora estivesse preocupado, com a viagem da filha.
Quando Maria Lúcia soube que poderia fazer uma viagem, preocupada com o não consentimento do pai, começou a fazer uma campanha para convencê-lo. Dizendo que era uma boa oportunidade de melhorar seu inglês, conhecer uma nova cultura, gente nova e vivenciar a história de um outro país, insistiu muito, para que este aceitasse sua viagem. Isso por que sabia que, sem sua autorização, nada feito.
Rose, por sua vez, também insistiu com o marido para que aceitasse a viagem. Afinal, este seria um grande diferencial para ela. Aprenderia coisas novas, conheceria gente nova e isso tudo a ajudaria a amadurecer e melhorar como ser humano.
Mas, Paulo estava reticente com a viagem, afinal desde que as meninas nasceram, nunca se desgrudou por um momento delas. As duas sempre estiveram presentes em sua vida. Tal fato deixou-o muito preocupado. Afinal sua filha nunca havia estado antes sozinha. Além disso, Marilu conhecia muito bem o idioma inglês, e para ele, não havia necessidade nenhuma dela se mudar para lá.
Mas Dona Rose não desistia de convencê-lo. Sabia da importância da viagem para a filha. Além disso, já havia prometido a ela, que conseguiria convencê-lo da viagem. Então, não poderia desistir.
Diante disso, passou a sistematicamente comentar com o marido, que um sonho não se joga no lixo. E assim como ela tinha realizado o sonho de trabalhar fora, gostaria de fazer um agrado a Maria Lúcia, afinal esta nunca lhes dera motivos para aborrecimentos, portanto, merecia um presente. E por estar em condições de dar o tal presente, sentia-se na obrigação de concedê-lo.
Além disso, Rose afirmava:
-- Não seria nem um pouco justo você proibir sua filha de viajar.
E assim, mesmo contrariado, diante de tanta insistência, Paulo acabou concordando com a viagem.
Isso não poupou Rose de levar uma severa bronca do marido.
Por conta de sua atitude intempestiva, ela quase acabou criando um sério problema em casa. Afinal, se desejava dar uma viagem a filha, ele deveria ser o primeiro a saber.
Em razão disso, Rose prometeu ao marido, que nunca mais agiria daquela forma. Sabia que por conta disso, quase criou um sério problema para ele, pois se ele não concordasse com a viagem, Maria Lúcia ficaria eternamente magoada com ele.
E isso ele não admitiria, afinal a primogênita era seu xodó. Por conta disso, se viu compelido a aceitar a viagem.
Por isso, estava chateado com a esposa.
Mas, para a sorte dela, a bronca não durou muito tempo.
Ao se arrefecer sua raiva, Paulo passou a se preocupar com os detalhes da viagem.
Assim, mesmo faltando muitos meses ainda para a referida viagem se realizar, o zeloso pai de Maria Lúcia, começou a lhe fazer mil recomendações. Intranqüilo, parecia estar muito afobado com a viagem da moça. Perguntava sobre as passagens, onde Marilu ía estudar, quanto tempo exatamente ela iria ficar, se já estava tudo acertado, etc. Por conta disso, chegou a infernizar a esposa.
Certa vez, cansada de tantas perguntas, ela lhe deu todos os telefones e notas fiscais, e disse ainda:
-- Já que você não confia nem um pouco em mim, certifique-se então, de que fiz tudo corretamente.
Realmente, Paulo estava nervoso.
Acostumado a ter sempre suas filhas por perto, não conseguia se imaginar longe da filha, por tanto tempo.
No entanto, mesmo pesaroso, teve que concordar, ou então, não teria mais sossego em casa.
Como ele mesmo dizia:
-- Eu sou um molenga mesmo. Sempre fazendo as vontades de vocês.
E assim, entre sorrisos e abraços, aceitou a aludida viagem.
No final do ano letivo, Maria Lúcia, finalmente viajaria para a Inglaterra. Por lá ficaria durante um ano.
De tão animada, Maria Lúcia passou a contar os dias para o ano acabar. Não via a hora de embarcar para a Inglaterra e estudar num dos tradicionais colégios de lá. Estava ansiosa pela mudança de ares. Mal cabia em si de contente.
Feliz que estava, só conseguia fala nisso. Mesmo na escola, entre amigas, este era freqüentemente, o assunto em pauta.
Enquanto isso, sua mãe Dona Rose, trabalhava duro em seu salão de beleza. Aliás, foi graças ao sucesso do salão e ao empenho de sua mãe, que Maria Lúcia finalmente poderia realizar seu sonho.
De tão agradecida a mãe, Maria Lúcia diversas vezes, se ofereceu para ajudá-la em seu salão. Mas esta recusava. Recusava por que Maria Lúcia devia se preocupar exclusivamente com os estudos.
Quanto ao seu trabalho, ninguém precisava se preocupar porque ela estava tomando conta de tudo. E foi justamente por meio do salão de cabeleireiros, que a viagem de Maria Lúcia foi financiada.
Mas estou me estendendo.
Enfim, ao final do ano letivo, Maria Lúcia finalmente embarcou para sua sonhada viagem.
De malas prontas há quase duas semanas antes do término do ano letivo, Maria Lúcia foi levada de carro pelos pais, até o aeroporto. Em lá chegando, despediu-se da família e embarcou sozinha, para realizar seu sonho.
Estava indo para a Inglaterra, conhecer o país de reis e rainhas. Lugar histórico e que sempre habitou seu imaginário.
Desde pequena imaginava-se em lindos castelos, vivendo com uma princesa, em algum lugar da Europa. Desde cedo seus pais lhe ensinaram que o continente europeu foi em muitos aspectos, o berço de muitas civilizações. Lugar civilizado, onde algumas das maiores cabeças pensantes do mundo surgiram.
Além disso, acostumada ainda criança, a ouvir histórias de princesas encerradas em seus palácios magníficos, sempre se interessou em saber onde ficavam tais lugares.
Foi assim que então, ao ouvir as primeiras histórias de sua vida, que acabou por descobrir que boa parte dessas histórias surgiram na Europa. Muitas delas aliás, muito antes deste continente estar constituído em países.
Boa parte dessas histórias, surgiram ainda durante a Idade Média, quando a Europa, estava dividida em feudos.
No entanto, não obstante tudo isso, boa parte das paisagens inspiradoras dessas histórias ainda existiam e eram preservadas. Daí o interesse prematuro de Maria Lúcia, por essas paisagens. Sabendo que os tais castelos eram visitados por muitos turistas, acalentou o desejo de conhecê-los. E a despeito de já ter visitado alguns países da Europa, sentia vontade de viver algum tempo por lá.
Queria sentir a atmosfera do lugar, viver naqueles ambientes, conhecer as pessoas. Enfim, queria conhecer mais sobre uma maneira de viver, diferente da sua.
Por isso, embarcou em um sonho e decidiu que um dia, passaria algum tempo conhecendo algum país da Europa.
Devido a facilidade do idioma, já que falava inglês, sua mãe achou por bem, que a filha ficasse na Inglaterra. Dessa forma, a adaptação seria mais fácil.
E assim, ao chegar ao país, Marilu foi logo recebida por uma representante da escola.
No entanto, como ainda não era chegado o momento do início do ano escolar, Maria Lúcia pôde aproveitar, e conhecer um pouco a cidade onde iria morar por um ano praticamente.
Foi assim que visitou monumentos históricos, conheceu museus e palácios. Entusiasmada, Maria Lúcia chegou até bem próximo da guarda da rainha.
Conheceu a Rua Great Windmill, no Soho, este lugar, datado de fins do século XVII é bastante conhecido por seus famosos restaurantes. Já em Berkeley Square, criada no começo do século XVIII, Marilu pôde conhecer parte dos jardins da famosa Casa Berkeley. Os plátanos – árvores símbolo da região –, foram plantados em 1789, aproximadamente.
Às margens do Rio Tâmisa, podia se ver ao fundo a Catedral de São Paulo. Paisagem que Marilu apreciou avidamente.
Ao avistarem a Catedral de São Paulo, Marilu admirou-se da beleza do monumento. Mas foi ao ver a cúpula do prédio, que a garota ficou realmente encantada. Projetada por Sir Christopher Wren, esta catedral foi por muito tempo, um símbolo absoluto do lugar.
Em Trafalgar Square, Marilu pôde apreciar a Coluna de Nelson. Erigida em 1843, é uma cópia da que existe em Mars Ultor, em Roma. A praça tem esse nome em memória da batalha que a esquadra inglesa, sob o comando de Nelson, travou contra as esquadras espanhola e francesa. Ao fundo á direita, se podia avistar a torre da Igreja de São Martim do Campo.
Ao ver os Tribunais, na confluência do Strand e da Fleet Street, entre a City e Westminster, a moça pôde conhecer os edifícios em estilo gótico vitoriano, construídos entre 1874 e 1882. Conheceu também o Parlamento e a Queen’s Anne Gate Street, um lugar tranqüilo e elegante em Westminster, com casas no estilo da Rainha Ana, construídas por volta de 1704. Lá pôde ver a Estátua de Oliver Cromwel.
Em seu passeio pelos principais pontos turísticos da cidade, Marilu visitou o Castelo de Windsor. Sobre o Tâmisa, pôde ainda, conhecer a Ponte da Torre de Londes, terminada em 1894. Realmente, este era um símbolo da cidade.
E nas proximidades da cidade, Marilu pôde ver ainda algumas casas com telhados de palha. Caminhando por entre as ruas de Londres, a moça conheceu os edifícios da tradicional Universidade de Oxford. Prédios esses, que datam dos séculos XV, XVI e XVII.
A moça, caminhando por entre as principais ruas londrinas, avistou também a fachada leste do Palácio de Buckingham. Em London Wall, pôde ver vestígios de uma muralha romana original.
Fascinada, Maria Lúcia finalmente se dava conta de que estava realizando um grande sonho. Passeando por aquelas ruas que só conhecia dos filmes que assistia e das fotografias que via, finalmente estava se dando conta de que tudo aquilo que estava vivendo, era de verdade.
Ao perceber que tudo não era um sonho, uma grande felicidade tomou conta dela. Com isso, ao dar-se conta de que nas próximas semanas, estaria em meio a pessoas estranhas, vivendo em um país distante, ficou ligeiramente preocupada. Afinal, como faria para se acostumar com a mudança?
Nervosa, chegou a se perguntar diversas vezes, se tinha feito a escolha certa.
Ao vê-la tão preocupada, sua acompanhante tratou logo de saber o que era. Isso por que, estava lá, para resolver qualquer problema que eventualmente surgisse.
Assim, ao saber o que inquietava a moça, foi logo perguntando:
-- What’s a matter?1
-- Nothing.2 – respondeu laconicamente Maria Lúcia.
-- Nothing. Are you sure? 3– insistiu a senhora.
-- Yes. I dont have problem’s. I feel good. It’s serious.4 – respondeu Maria Lúcia.
-- I know you have. But you’re dont need worry.5
-- Ok, but I’m not worried.6
E conversando com ela, Maria Lúcia acabou se tranqüilizando. Afinal, ninguém ali, estava interessado em lhe prejudicar. Muito pelo contrário, por ser uma instituição de renome, a maior preocupação de todos ali, era para que ela tivesse uma boa estada em Londres.
E assim, despreocupada, Marilu aproveitou muito bem o período de férias. Afinal, antes de começarem as aulas, precisava conhecer a cidade.
Por isso, aproveitou para fazer longas caminhadas por Londres.
De tão interessada na vida cultural da cidade, chegou até a marcar ponto no palácio onde vivia a família real, para então, presenciar a troca da guarda. Para ela, estas manifestações cívicas, eram um retrato do amor que os ingleses devotavam a pátria.
Tal fato, era uma lição para todos os povos no mundo. Afinal, todos os nacionais, devem ter amor pelo país que lhes serviu de berço. Pois ter uma pátria, é o sonho de qualquer cidadão do mundo. Exemplo disso são os judeus, que lutaram longamente para ter um lugar o qual pudessem chamar de casa.
Depois de muitas lutas, finalmente conseguiram construir um país.
Para Maria Lúcia portanto, independente de onde se nasça, ter uma nacionalidade, deve ser motivo de orgulho para todos. Orgulho. Orgulho sim, mas longe de qualquer fanatismo, porém.
O fanatismo é uma doença que empesteia os povos, portanto, deve ser combatido.
Mas o orgulho da pátria não.
Enfim, estou me afastando da narrativa. Isto porque, a intenção de Maria Lúcia, não é, logicamente fazer política. A moça só quer estudar e melhorar seu inglês. Este aliás, um de seus principais objetivos com a viagem.
Para levar algumas lembranças, quando retornasse da viagem, passou a freqüentar as principais feiras de antigüidades da cidade. Indicadas por sua acompanhante, essas feiras eram uma maravilha. No entanto, para que se possa encontrar algo de valor, é necessário que se vasculhe atentamente todas as banquinhas da feira.
Realmente não foi muito fácil encontrar alguma coisa, mas passear por entre aquelas barracas era encantador, afinal, um pedaço de história, permanecia em meio àquele emaranhado de objetos antigos, nos quais se mesclavam preciosidades e quinquilharias.
E assim, nos últimos dias que lhe restavam de férias, Maria Lúcia freqüentou algumas dessas feiras tradicionais na cidade. E mesmo estando a pouco tempo em Londres, acabou fazendo algumas compras. Encantada com alguns objetos antigos, decidiu-se por comprá-los mesmo faltando ainda muito tempo para retornar para seu país.
Por isso, em vasculhando as peças expostas à venda, decidiu-se por comprar um lindo par de castiçais, para sua mãe. Isso por que, ao financiar sua viagem, Maria Lúcia se sentiu no dever de agradecer a mãe por tal gentileza. Assim, este foi o primeiro presente que comprou. O primeiro de muitos presentes que compraria.

Tradução:
Qual o problema?
Nada.
Tem certeza?
Eu sei que você tem um problema. Mas você não precisa se preocupar.
Está certo, mas eu não estava preocupada.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

SONHO DE VALSA - CAPÍTULO 1

São Paulo, 1956. Época dos anos dourados. Momento em que a música popular brasileira, ainda era cantada por grandes vozes. Onde se namorava na praça. Onde poucos podiam se dar ao luxo de ter televisão.
Nessa época, os eletrodomésticos que surgiram, se tornaram uma febre. Vieram os carros. A industrialização no Brasil, ganhava força.
Essa foi uma época de ouro no Brasil.
Onde ainda se podia andar de mãos dadas pela rua, a uma certa hora da noite, sem o temor de ser interrompido por alguém.
Aliás, assaltos, assassinatos e outros tipos e manifestações de violência, era algo raro naqueles tempos. Assim, quando se ouvia falar em algo desse tipo, toda a sociedade se escandalizava. A violência nesses tempos dourados de namorinho de portão, era algo inimaginável.
Ao contrário dos tempos atuais, onde a violência a cada dia, atinge níveis mais brutais, e a qual, infelizmente, tivemos que nos acostumar.
Pois bem, nessa época, vivia em São Paulo, uma família de elevada estirpe. Moravam todos em uma bela casa, num bairro nobre da cidade, com alguns empregados.
Família esta, constituída de um casal e duas filhas.
O pai empresário, trabalhava em um elegante escritório de arquitetura. Era um profissional renomado em sua área. Sua casa, uma linda mansão em estilo neo-clássico, fora totalmente projetada por ele. Na época em que a edificara, estava prestes a se casar com Rose.
E, hoje, passados quase quinze anos, ainda moram no mesmo lugar. Como recompensa por seu trabalho de arquiteto, até hoje, muita gente se admira da edificação. Acham-na linda. Perguntam: ‘Quem a construiu?’, ‘Quem teve a idéia de fazê-la nesse estilo?’. Com isso, sua casa se tornou, o melhor cartão de visitas para seu trabalho.
Sua esposa, Rose, recentemente, abrira um salão de cabeleireiros. Queria ser independente. Depois de anos e anos cuidando das duas meninas, agora poderia ter um tempo só seu. E acima de tudo, poderia gastá-lo como bem entendesse. Assim decidiu que queria trabalhar. Para tanto, precisava primeiro saber, no que poderia trabalhar.
Não sabia fazer roupas, e quase todo o serviço doméstico era feito por empregadas. Foi então que Rose lembrou-se que gostava de maquiagem, de se arrumar, e isso sempre soube fazer muito bem. Muitas vezes, até mesmo para ir a grandes festas, ela mesma se produzia. Nunca precisou de cabeleireiros para se arrumar, ao contrário da maioria de suas amigas.
Pensando nisso, Rose decidiu que esta poderia ser uma boa profissão para ela.
Decidida, resolveu contar ao marido a novidade.
Assim, quando Paulo chegou em casa, depois de um longo dia de trabalho, Rose resolveu lhe contar:
-- Estou decidida a voltar a trabalhar.
-- E desde quando você decidiu isso?
-- Desde que as meninas cresceram e passaram a se cuidar sozinhas.
-- Minha querida. Para que você vai trabalhar? Eu não estou cuidando bem de vocês três? Está faltando alguma coisa?
-- Não é isso. É claro que o senhor está cuidando da família. Além de tudo é um ótimo pai, está sempre presente. É um ótimo marido, e eu sei que vai me entender.
-- Rose, meu bem. Pra que isso?
-- Por que eu quero me sentir realizada.
-- Mas você não precisa trabalhar. Precisa? Além do mais, o que é que você vai fazer? Você não sabe nem pregar um botão em uma camisa.
-- Espere aí, Paulo. Embora eu não seja uma mulher prendada, isso nunca impediu que eu cuidasse bem das minhas filhas, nem que as coisas deixassem de funcionar por conta disso. Além do mais, eu nunca precisei fazer estas coisas.
-- Então, por que trabalhar? Você nunca trabalhou que eu saiba.
-- Trabalhei sim. Você me conheceu trabalhando. Se esqueceu?
-- Aquilo? Você chama aquilo de trabalho? Vender toalhas bordadas da sua tia, esporadicamente é trabalho?
-- Claro que é. Afinal de contas, eu ganhava algum dinheiro com aquelas vendas. Sabia?
-- Para os seus alfinetes.
-- Não interessa, meus pertences eram comprados com o meu dinheiro.
-- Está certo. E em que a senhora pretende trabalhar?
-- Pensei em cuidar de cabelos e maquiagem. Sempre fui boa nisso.
-- Cabelos e maquiagem. E como a senhora pretende fazer isso?
-- Pretendo trabalhar em algum salão renomado.
-- Ah! Então você pretende trabalhar em um salão repleto de homens, para ganhar alguns trocados? Esqueça!
-- Porque?
-- Por que mulher minha não saí por aí trabalhando em espeluncas, se sujeitando a ser assediada por um chefe imoral. Você não vai trabalhar e está acabado!
-- Mas, querido. Não é assim. Eu tenho o direito de cuidar da minha vida.
-- Enquanto a senhora for mãe das minhas filhas, não tem o direito de expor a família ao ridículo. Por favor, Rose. Esqueça isso.
Entretanto, apesar da resistência inicial, seu esposo Paulo, ao final de algum tempo acabou se convencendo e concordou então, em dar-lhe o dinheiro necessário para que ela abrisse um salão.
Para tanto, foi necessária muita conversa da Dona Rose para que o esposo concordasse. Ele resistiu o quanto pôde, mas nada a demovia da idéia de trabalhar fora. Alegava que precisava dar um sentido a sua vida. Insistiu, insistiu. Chegou até a discutir com o marido seguidas vezes durante as refeições. Maria Lúcia e Laura, já não agüentavam mais as brigas dos pais.
Assim, diante da resistência da mulher, Paulo acabou concordando. Não resistiram os seus argumentos, portanto.
Com isso, de posse do dinheiro dado pelo marido para montar o salão, Rose passou a pesquisar, em lojas especializadas, o preço dos produtos de beleza que iria usar em seu salão, os equipamentos que iria precisar para o trabalho, assim como os preços de aluguéis de pontos comerciais. Tinha muita vontade de começar a trabalhar logo. Queria obter sua independência e para isso, precisava começar. Precisava trabalhar.
Sabia que não seria fácil. Mas, mesmo assim, insistiu. Nas últimas semanas, Rose chegou a passar praticamente o dia inteiro andando pela cidade em busca de tudo que precisava para começar o trabalho.
Depois de algum tempo, finalmente encontrou, segundo ela, o lugar ideal para desempenhar seu trabalho. Numa charmosa instalação na Rua Augusta, iria dar início ao seu sonho. O sonho de ter um estabelecimento comercial próprio.
Para cuidar do contrato de locação, pediu algumas orientações para o marido, que apesar de não acreditar muito na idéia da esposa, se prontificou a ajudá-la. Não queria ser o primeiro, a desanimar-lhe, muito embora achasse que aquilo não passava de bobagem. Logo ela desistiria.
No entanto, para sua surpresa, apesar da canseira quase que diária, pois passava boa parte do dia fazendo pesquisas e compras de produtos na rua, Rose parecia bastante animada com a possibilidade de ter um salão, um negócio próprio. Mais surpreso ainda ficou, quando a esposa deu-lhe mostras de que não estava de brincadeira e até tinha um certo tino para os negócios. Antes que o salão começasse a funcionar, preparou uma pequena inauguração. Para tanto, elaborou convites, organizou um coquetel e por fim, mandou publicar uma pequena notinha, em três dos jornais de maior circulação na cidade.
Assim, diante de tamanha estratégia, nada poderia dar errado.
E assim, foi feito.
A festa se seguiu maravilhosa. A fina flor da sociedade paulista esteve presente. Todos compareceram em peso para felicitar a amiga, e dar-lhe as boas vindas na nova empreitada.
Acompanhada de suas duas filhas, Maria Lúcia e Laura – a caçula, Rose enfrentou o desafio e seguiu em frente.
Admirados, os amigos chegaram a perguntar a Paulo, o que havia acontecido para que ele autorizasse a esposa a trabalhar fora. A eles, Paulo disse apenas que capitulou. Quem haveria de, diante de magnífica mulher, não ceder aos seus caprichos?
Satisfeitos com a resposta, os convidados não falaram mais sobre o assunto.
Neste momento, diante do profissionalismo de Rose, não tinham o que falar. Estavam sem comentários. Por não terem o que dizer, simplesmente elogiaram a festa. Estava simplesmente magnífica.
Enfim, a noite de inauguração foi impecável.
Rose ficou feliz com o resultado da divulgação.
Feliz, poderia verificar, no dia seguinte, o resultado de sua divulgação.
E assim, o fez.
No dia seguinte, logo de manhã, Rose pegou logo o jornal. Entre as fotos da coluna social, estava uma matéria sobre a inauguração de seu salão. Feliz, pôde constatar que a festa realmente havia sido um sucesso. Agora só precisava esperar o expediente começar, para poder então a trabalhar.
Ansiosa, Rose nem bem esperou o café da manhã ser colocado a mesa. De tanta ansiedade, desde as cinco da manhã já estava pronta para o trabalho. Assim, entrou cautelosamente nos quartos das meninas, para que pudesse se despedir delas enquanto ainda dormiam. Não queria acordá-las.
Muito embora, dentro de meia hora, as duas tivessem que se levantar, pois tinham aula. E quanto a isso, não haveria desculpas.
Assim, as duas deveriam estar prontas na hora certa para poderem ir a escola. Faltar, só em caso de extrema necessidade. Mas por ser ainda muito cedo, Rose não queria acordá-las antes da hora.
Depois de se despedir das filhas, entrou furtivamente em seu quarto, e despediu-se do marido que também dormia. A seguir, Rose saiu do quarto, desceu cuidadosamente as escadas e de carro, foi para o salão. Queria começar a trabalhar.

Luciana Celestino dos Santos
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