Poesias

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Para se Viver um Grande Amor - Capítulo 6

Com efeito, no que tange a Letícia, a descoberta de que seu noivo sofrera um acidente, também foi traumática.
Isto por que, feliz que estava ao chegar da festa, onde dançara, comera, bebera e conversara, sendo após levada para casa pelo noivo, estava nas nuvens...
Mas mesmo empolgada e com muito esforço, tratou de ir dormir.
Para tanto, tirou o vestido e colocou uma camisola.
Deitou-se na cama, e então, dormiu com os anjos.
Durante o período em dormia, sonhou com a festa, com os beijos de Flávio, e com uma praia paradisíaca.
Esta parte do sonho, lhe pareceu incompreensível.

O que não esperava, era ser despertada ainda de madrugada pela ligação de uma Olívia desesperada, que solicitava sua presença no hospital.
Assustada, depois de ser abruptamente despertada por Karina, e informada que Olívia estava aflita no telefone, Letícia ao atendê-la, perguntou o que estava acontecendo.
Surpresa, foi informada que Flávio havia sofrido um acidente.
Aflita, a moça pediu mais informações, mas Olívia respondeu que não podia dizer mais nada.
Com dificuldade, Olívia lhe passou o endereço do hospital.
Karina preocupada, perguntou a filha o que estava acontecendo.
Letícia aturdida, respondeu que não sabia direito. Desorientada, conseguiu apenas dizer que Flávio havia sofrido um acidente e que ela, precisava se dirigir a um hospital.
A mulher vendo o estado da filha, prontificou-se a acompanhá-la no hospital.
Vendo que a moça estava perdida, aconselhou-a tomar um banho.
Karina por sua vez, comentou que também iria se arrumar.
Letícia então tomou um banho apressado, e vestiu-se.
Karina que já aguardava, chamou um táxi.

Letícia então entregou-lhe o papel com o endereço do hospital.
Assim não fosse, a moça não teria conseguido chegar ao hospital.
A moça chorou o percurso inteiro até o local.
Karina, percebendo o estado de Letícia, encostou a cabeça da filha no ombro.

Gilberto por sua vez, ao perceber o jeito como Olívia havia dado a notícia para Letícia, censurou a mulher.
Olívia chorando, respondeu que não conseguiria dizer mais nada ao telefone.
Gilberto retrucou, porém. Dizendo que ela deveria ter dito que Flávio sofrera um acidente, mas que estava sendo devidamente cuidado pelos médicos.
Contudo, dizendo que o que estava feito, estava feito, resolveu deixar aquilo de lado.
Nisto, ao chegar ao hospital, Letícia tomou conhecimento da dura notícia.
Ao ver toda família do rapaz, Letícia ficou tensa.
Karina também parecia apreensiva.
Olívia então aproximou-se das duas, e comentou que Flávio fora operado e que estava na UTI. Conversando sobre a gravidade do acidente, não escondeu nada nem de Letícia, nem de Karina.
A cada palavra que ouvia sobre o estado do rapaz, a moça chorava.
Karina, ao perceber isto, dizia:
- Não chora! Coragem! Vai acabar tudo bem!
Olívia triste com a notícia, não conseguia dizer palavras de encorajamento.
Cecília e Gilberto, percebendo sua tristeza, abraçaram-na.
Foi então que Olívia comentou quase chorando:
- Com esta corrente de positividade, eu acho difícil o Flávio não se recuperar.
Transtornada, Letícia só ficava pensando na situação de Flávio. Em quanto o rapaz devia estar sofrendo. Acreditava que mesmo inconsciente o rapaz tinha conhecimento do que acontecia a sua volta.
Neste momento estava sendo amparada por sua mãe, Karina.
A mãe, que ficou o tempo todo ao lado da filha, só fazia consolá-la.
Tentando confortá-la, dizia a todo momento, que tudo iria ficar bem, que Flávio era um homem forte. Que iria se recuperar. Abraçava a moça e passava de leve a mão por sobre a cabeça de Letícia.
Mas estava chocada.
E Letícia só fazia chorar.
A moça não podia acreditar que a pessoa com quem acabara de compartilhar momentos felizes, ao dançarem juntos em uma festa, estava entre a vida e a morte.
- Não, não, é possível! – dizia entre lágrimas.
Olívia então aproximou-se da moça, e abraçando-a, começaram a chorar juntas.
Tanto ela quanto a mãe do rapaz, padeceram ao saber que Flávio estava muito mal.
Choraram copiosamente.
Letícia, permaneceu por horas, com a cabeça no colo de sua mãe.
Karina, começou então, a cantar para ela, uma canção de Luis Guedes e Tomas Roth:

“Tenho uns olhos de criança
Nos cabelos raios de luar
O mistério da sereias
Me levou pro fundo do mar

Tenho um toque de princesa
Na cabeça brinca um sonho azul
Na magia das estrelas
Ilumina o céu de norte a sul

Você é chuva de vento
Rodamoinho, carrossel
Viaja em meu pensamento
Feito uma pipa de papel jornal
Pois a cigana, bola de cristal ...”

Letícia se emocionou ao ouvir a música. A canção fazia com que ela se transportasse para seu tempo de infância. Por um instante esqueceu do drama que estava vivendo.
Recordou-se de seu tempo de criança, de suas brincadeiras de roda, de pular amarelinha, de brincar de boneca. Quando poderia imaginar, que passaria por tanto sofrimento?
Agora, só sabia chorar...

Nisto, durante semanas, em virtude da gravidade do acidente, o rapaz permaneceu em coma.
Doutor Sílvio comentou que o coma era uma forma do rapaz poupar energias, e que acreditava que ele se recuperaria, em que pese não poder dar certeza de nada.
A família de Flávio ficou feliz pela primeira vez, em ouvir as palavras do médico.
Letícia, por sua vez, conhecedora da situação do moço, sempre que podia, visitava Flávio no hospital, e chorando, contava sobre o tempo em que foram amigos, em que namoraram, e do quanto foi feliz ao lado dele.

Lembrou-se do dia em que fizeram pequenique juntos no Parque do Ibirapuera.
Lá, caminharam em volta do lago, apreciaram a beleza das árvores, se depararam com pessoas correndo, caminhando.
À certa altura, arrumando um cantinho para descansar, estenderam uma toalha na grama, e tirando comes e bebes de uma cesta, Flávio começou a preparar uma espécie de ceia. Havia sucos, pães, frios.
O casal comeu. Pão com frios, suco.
Contemplaram um horizonte estranhamente límpido da cidade de São Paulo.
Letícia usava um vestido florido e levemente rodado, Flávio, estava trajado de camisa pólo e calça jeans.
Flávio, aproveitando a oportunidade de ficar a sós com Letícia, recostou sua cabeça no colo da moça. Comentou que eles precisavam fazer mais passeios como aquele. Sem pressa, sem correria. Só curtindo o momento.
Letícia passou as mãos nos cabelos de Flávio.
Depois de um certo tempo, foi Letícia quem se refestelou, esticando-se gostosamente na toalha estendida na grama.
Ficou com a cabeça apoiada no colo de Flávio. Naquela posição ficou a admirar a beleza do parque, com suas muitas árvores, o céu, as nuvens. Como uma criança, ficou alguns minutos analisando com o que elas se pareciam.
Flávio brincou com ela dizendo que alguém havia voltado a ser criança.
Letícia parece não ter gostado muito da brincadeira.
O rapaz, percebendo isto, comentou que estava brincando. Afinal de contas não fora sua intenção chateá-la.
Diante disto, Flávio pegou um livro de poesias, e começou a declamar uma delas para Letícia:

“Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada...”

Ou então: “Presença bela, angélica figura,
Em quem, quanto o céu tinha, nos tem dado;
Gesto alegre, de rosas semeado,
Entre as quais se está rindo a formosura ...”

Letícia se interessou por aquelas palavras.
- Camões!
Dizendo isto, retirou o livro das mãos de Flávio, e procurando aleatoriamente uma poesia para ler, encontrou esta:

“Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste ...”

A certa altura Flávio comentou que estava ficando tarde.
Letícia e Flávio começaram a recolher os copos, as jarras, e todos os utensílios que guarneceram o repasto. Guardaram também, o que sobrou de comida.
Antes que conseguissem chegar no estacionamento, desabou uma forte chuva.
Quando finalmente entraram no carro. Estavam ensopados.
Ao se verem molhados, começaram a rir.
E assim, em meio a forte chuva, de dentro do carro, avistaram o Obelisco. Passaram por shoppings.
Ao deixar Letícia em casa, Flávio ofereceu seu casaco, para que a moça colocasse sobre a cabeça e entrasse correndo em sua casa.
Com isto, a moça saiu apressadamente do carro, e tratou logo de abrir o portão de sua casa.
Ao adentrar o quintal, saiu correndo até chegar a porta da casa.
Foi então que a porta abriu-se.
Karina, ao vê-la toda molhada, questionou:
- Deus do céu! Onde é que vocês estavam? Olha só como você está! Toda molhada!
Foi então que Flávio saiu do carro.
Karina, ao perceber que o moço estava todo molhado, sugeriu que ele entrasse para se enxugar.
Flávio respondeu que não era necessário, já que havia passado ali apenas para deixar Letícia em casa.
Karina porém insistiu. Comentou que precisava para se enxugar antes de voltar para casa.
- Não, não, não! – respondeu Flávio.
Karina porém, não se fez de rogada, pegou um guarda-chuva e foi até o portão.
Abriu-o e exigiu que Flávio entrasse.
Diante do gesto de Karina, o rapaz não teve alternativa. Adentrou o quintal e entrou na casa.
Karina ofereceu-lhe uma toalha.
Flávio tentou de forma desajeitada, se enxugar.
Karina perguntou-lhe se estava com fome.
O rapaz então comentou que precisava voltar para casa. Dizendo que estava molhado e que precisa trocar de roupa, insistiu que precisava voltar para casa. Argumentou que já havia incomodado demais.
Karina respondeu que não era incomodo, mas concordou que o rapaz devia vestir uma roupa seca. Olhando pela janela, comentou que a chuva havia diminuído.
Flávio despediu-se de Letícia, que ainda estava molhada, e de Karina. Antes de sair, recomendou que a moça trocasse de roupa.
O moço por sua vez, ao chegar em casa, tratou logo de tirar sua roupa molhada.
Tratou de trocar a roupa molhada por roupas secas.
Depois ligou para Letícia para dizer que já havia chegado em casa.
Comentou que na região onde morava, a chuva ainda estava forte, mas que fora possível chegar em casa com tranqüilidade.
A moça respondeu que havia tomado um banho e vestido uma roupa seca. Comentou que estava tudo bem.
Flávio comentou que adorou o passeio, e o pequeno recital.
Letícia perguntou se o livro ficara molhado.
O moço respondeu que não, mas que a cesta ficou encharcada e que ele iria deixar na cozinha enxugando.
Nisto, depois de desejar que a moça dormisse com os anjos, Flávio despediu-se.
E assim, Letícia desligou o telefone.

Lembrou-se também, dos dias de verão, em que passou férias com o namorado na praia.
Dos pores-do-sol. Da lua tingida de vermelho, refletindo nas águas.
As múltiplas cores do lusco-fusco. Uma hora laranja, outra, rosa, azulado.
O sol despejando seus últimos raios no horizonte, luxuriante, refletindo-se nas águas.
O ir e vir das vagas, as areias molhadas, formando desenhos ondulados com vários tons. A espuma das ondas se contrapondo as cores do horizonte.
As caminhadas contemplativas, admirando esta dádiva da natureza.
A cidade ao longe, as casinhas pequeninas, as luzes, pálidas.
Um lindo e deslumbrante cenário!
Encantada, Letícia em uma dessas oportunidades, aproveitou para tirar fotos. Em outras, preocupou-se única e exclusivamente em usufruir do momento.
Em casa, aproveitou para contemplar os luzeiros do céu. As lindas estrelas.
No litoral era possível apreciar a beleza da lua, as estrelas.
Animada, Letícia lembrou-se de uma marchinha, e começou a cantar a música “A Lua é dos Namorados”:

“Todos eles estão errados
A lua é dos namorados
Lua que no céu flutua
Lua que nos dá luar

Lua, oh lua
Lua, oh lua
Querem te passar pra trás
Lua, oh lua
Querem te roubar a paz

Lua, oh lua
Não deixa ninguém te pisar
Lua que no céu flutua
Lua que nos dá luar

Lua, oh lua
Não deixa ninguém te pisar ..."
(Composição: Armando Cavalcanti / Klecius Caldas / Brasinha)

Ao ouvir a voz melodiosa de Letícia entoando a música, Flávio perguntou:
- Ah é?
Letícia riu. Comentou que era apenas a letra de uma música.
Foi então que se lembrou de outra marchinha cujo titulo é “Se a Lua Contasse”. Empolgada, começou a cantá-la:

“Se a lua contasse
Tudo o que vê
De mim e de você
Muito teria o que contar

Contaria que nos viu brigando
E viu você chorando
Me pedindo pra voltar

Somente a lua foi testemunha
Daquele beijo sensacional
Nesse momento foi tal o enlevo

Que a própria lua sentiu-se mal
Só as estrelas que cintilavam
Hoje dão conta do que se viu
Contam que a lua foi desmaiando
Caiu nas ondas, boiou... sumiu.
(Autoria: Custódio Mesquita.)”

Flávio então puxou-a pelo braço, e beijou-lhe.
Momento de encantamento, inspiração.
Durante a manhã, quando o sol ainda não havia dado o ar de sua graça, a moça dormiu abraçada ao namorado.
Depois, despertando, Letícia chamou-o para um passeio pela beira do mar.
Flávio resmungou dizendo que ainda era muito cedo.
Letícia respondeu sairia para caminhar com ele ou sem ele.
O homem virou-se para o lado e continuou dormindo.
Letícia então foi tomar um banho.
Lavou a cabeça, ensaboou-se.
Após, enrolada numa toalha, pegou um biquini e vestiu.
Ao voltar para o quarto, Flávio continuava dormindo.
Letícia impaciente, puxou o lençol. Percebendo que ele se encolheu, começou a chacoalhá-lo. Dizendo que ele precisava se levantar, comentou que o dia estava amanhecendo e que estava prometendo uma linda alvorada para o dia que começava.
Mas o homem continuava dormindo.
Letícia, então disse:
- Eu não acredito que você vai perder um espetáculo lindo como este!
Flávio, esticou suas pernas.
Utilizando como último argumento o esplendor do espetáculo, disse:
- Eu não acredito que você vai desperdiçar a oportunidade, rara oportunidade, de apreciar um espetáculo desses, que Deus criou só para nós!
Flávio abriu então os olhos. Aquelas palavras despertaram seu interesse. Pareceu-lhe que Letícia estava querendo dizer que o espetáculo da alvorada, era somente para eles.
Com isto, levantou-se da cama e postou-se de pé.
Letícia se surpreendeu com a velocidade do movimento.
Flávio pediu então que ela esperasse só uns minutinhos para ele tomar um banho rápido.
A moça respondeu que esperaria só dez minutos. Se ele não se arrumasse rapidamente, ela caminharia sozinha.
Flávio tratou logo de ir para o chuveiro.
O moço tomou um banho rápido, e voltando para o quarto, perguntou a Letícia que roupa usar.
Ela sugeriu usar uma bermuda e uma regata.
Flávio concordou. Dirigiu-se novamente ao banheiro para se vestir.
Letícia lembrou-se então, de que faltava algo.
- Ei! Não se esqueceu de nada não?
Flávio ficou olhando para ela.
Letícia respondeu:
- Seu calção de banho.
Pegando uma roupa de banho, entregou o calção para ele.
Após, o casal foi caminhar na beira da praia, acompanhando o ir e vir das ondas, os movimentos do mar.
O sol ainda não havia dado o ar de sua graça, o dia estava frio e escuro. Mas já era possível ver a mata, a montanha verde, os quiosques ao longe, as belas construções.
A areia e água do mar, frias.
Aos poucos o sol começou a mostrar sua majestade.
Encoberto por nuvens, começou a despontar seus primeiros raios. Timidamente.
Aparecia por partes, sempre coberto por nuvens, quase não se deixando ver.
A certa altura, começou a aparecer mais, assim como seus raios de luz surgiram mais intensos. Refletia seu ouro sobre as águas do mar, que por sua vez refletiam este fulgor para o ambiente, que ficou mais claro.
Letícia ficou encantada com a beleza do espetáculo.
Flávio aproveitava para abraçar a moça.
Em dado momento, em contraste com o remanescente de escuridão da madrugada, o rei sol proporcionou um bonito espetáculo para o casal.
Isto porque, surgindo em todo o seu esplendor, formou um halo de luz branca e dourada em volta de si, irradiando esta luz para o ambiente, refletindo-se na água do mar. Parecia uma linda coluna de luz. Lindo espetáculo!
O casal ficou um longo tempo, com água até o tornozelo, contemplando a cena.
Depois continuaram caminhando.
A certa altura, o sol ficou encoberto pelas nuvens.
Com isto, parte da luminosidade perdeu-se.
Mais tarde, o sol tornou a dar o ar de sua graça.
Flávio e Letícia, caminhavam.
Também pararam diversas vezes para contemplar o espetáculo do rei sol.
Ora caminhavam de braços dados, abraçados. Ora viravam crianças e ficavam um jogando água no outro.
Em um desses passeios, os dois começaram a correr na areia.
Tropeçando, Flávio acabou caindo sentado na areia.
Letícia ao ver a cena, primeiramente preocupou-se. Tanto que perguntou se ele havia se machucado.
Como Flávio havia dito que não, ela começou a rir.
O moço, percebendo isto, tratou de puxá-la para perto de si.
Letícia então abaixou-se. Mas sem se dar por vencida, empurrou-o na areia, e encostando seu braço no peito de Flávio, perguntou:
- Você realmente acha que vai levar a melhor? Meu querido, você já perdeu!
Flávio ergue-se um pouco e deu um beijo no rosto de Letícia.
A moça ficou contrariada.
- Não vale! – respondeu.
O moço respondeu então, que não tinha intenção de competir com ela, já que ela o havia vencido no embate mais importante que tiveram. Argumentou que qualquer disputa posterior era perfumaria.
Letícia, sem compreender o que ele dizia, em dado momento perguntou:
- Do que você está falando?
E ficou aguardando uma resposta.
Flávio respondeu com outra pergunta:
- Você não sabe do que eu estou falando?
Letícia balançou a cabeça negativamente.
Flávio respirando fundo, respondeu que estava falando do relacionamento dos dois, de como havia lutado por aqueles momentos que estavam juntos, do quanto demorou para que tudo aquilo acontecesse. Reclamou dizendo que ela havia judiado muito dele.
Letícia contrariada, argumentou que nunca maltratou ninguém.
Flávio respondeu então, que às vezes, mesmo sem termos a intenção, podemos magoar alguém. E que a indefinição, a incerteza de saber se o objeto de sua afeição, se a garota que admirava, iria ou não corresponder a este sentimento, o fizera sofrer por um longo tempo.
Ao ouvir tais palavras, Letícia argumentou que nunca soubera disto.
Flávio respondeu:
- Nunca soubeste por que todas ás vezes em que tentei falar abertamente sobre isto, aconteceu alguma coisa para atrapalhar.
Letícia respondeu nunca tivera a intenção de magoar quem quer que fosse.
Flávio abraçou-a.
Letícia então, aproveitando-se de um momento de distração de Flávio, empurrou-o na areia.
O moço fez menção de reclamar do gesto brusco de Letícia, mas ela não lhe deu tempo para esboçar qualquer palavra.
Deitando seu corpo ao lado do lado, beijou-o.
Flávio abraçou Letícia.
A tarde, aproveitavam cochilar na rede.
Às vezes ficavam abraçados, juntos na mesma rede.
Aproveitavam para ler.
Juntos liam poesias.
 
Flávio recitava Camões:
 
“O cisne, quando sente ser chegada
A hora que põe termo a sua vida,
Música com voz alta e mui subida
Levanta pela praia inabitada.

Deseja ter a vida prolongada,
Chorando do viver a despedida
Com grande saudade da partida,
Celebra o triste fim desta jornada.

Assim, senhora minha, quando via
O triste fim que davam meus amores,
Estando posto já no extremo fio,
Com mais suave canto e harmonia

Decantei pelos vossos desfavores
La vuestra falsa Fe, y el amor mio.”

Letícia adorava as declamações de Flávio. Às vezes aproveitava para ler algo também.

Pegou o obra “Rubáiyát”, de “Omar Khayyám”, e começou a ler uma poesia que tratava dos homens, considerados simples joguetes nas mãos do destino. Declamou:

“Somos joguetes
Nas mãos do Destino.
Simples brinquedos,
À nossa custa
Diverte-se o Universo.

Joguetes
Que vivem redemoinhando
Ao sabor dos ventos.

Não se trata de metáfora,
Nem há exagero no que eu digo:
Esta é a realidade.

No passado,
Ingenuamente brincávamos
No tablado da vida.

Seremos hoje,
Uns após outros,
Carregados
No féretro do não-ser.”

Algumas vezes, passavam horas lendo poesias.
Um dia adormeceram na rede.
Dormiram abraçados e mal viram a noite chegar.

Certa vez a noite aproveitavam para apreciar o lusco-fusco vespertino. Também aproveitavam para contemplar as estrelas.
Lindo céu escuro, repleto de estrelas. Brilhantes, traziam luminosidade ao firmamento.
Rico contraste com a cidade mal iluminada.
Fizeram isto, juntos várias vezes, ela e Flávio.
Ficavam um bom tempo em atitude contemplativa em silêncio. Para não perturbarem as estrelas.

De dia, mergulharam muitas vezes nas águas do mar.
Coletaram algumas conchas.
Bronzearam-se. O casal moreno, ficou dourado.
Juntos aproveitaram para cozinharem juntos.
Nada de especial, apenas pratos triviais, já que nenhum dos dois era hábil na cozinha.
Nisto, quando Letícia contou para sua mãe que pretendia viajar para o litoral, comentou que precisava aprender a fazer alguma coisa na cozinha, já que as pessoas que viajariam com ela, também era não eram boas de cozinha.
Karina ensinou-lhe então algumas coisas.
Mais tarde, quando soube que a filha havia mentido para ela, ficou aborrecida.
Letícia precisou conversar muito com sua mãe, para que ela a desculpasse.
Argumentava que ela não entenderia o fato dela precisar viajar com Flávio. Dizia que não sabia como explicar que iria viajar com o moço.
Karina porém com o tempo, acabou desculpando-a. Dizendo que também havia aprontado das suas quando era mais nova, perguntou indiscreta:
- Pelo menos, valeu a pena?
Letícia, sem jeito, respondeu que sim. Depois curiosa, perguntou a mãe, o que ela havia aprontado.
Karina desconversou.

Nisto a moça voltou seus olhos para Flávio, o qual jazia inerte sobre a cama.
Ao dizer que queria continuar aquela história, seus olhos se encheram de lágrimas, e ela não conseguiu dizer mais nada.
Flávio permanecia inerte, sem esboçar reação alguma.
Ao voltar para casa, Letícia ficou pensando em suas lembranças.
Pensando nelas, Letícia acreditou que se lesse aquelas poesias para Flávio, poderia auxiliá-lo.
Por isto, prometeu que no dia seguinte levaria um livro de poesias para ler para Flávio.
E assim o fez. Ao chegar em casa, tratou logo de escolher uma obra para ler para o moço.

No dia seguinte, pegou o metrô para ir ao trabalho. Condução lotada. Precisou se esgueirar para conseguir um lugarzinho para ficar no corredor.
Trabalhou o dia inteiro. Continuava elaborando pesquisas. Com efeito, participou de uma palestra em uma escola sobre educação ambiental. Orientou os estudantes a repassarem as informações para sua comunidade, para que todos pudessem colaborar com uma mudança em seus modos de vida. Tudo visando o desenvolvimento sustentável.
Comentou que os interesses econômicos teriam que se casar com os interesses ambientais, senão seriam os seres humanos quem pereceriam. Argumentando que o mundo sofrerá revezes pela má atitude dos homens, comentou que mesmo assim, a natureza se recupera. Mas a humanidade perecerá.
Falou sobre o aquecimento global. Sobre as teorias de que o mesmo seria resultado das ações humanas, da intervenção excessiva do homem na natureza. Também comentou que havia teorias de que este seria um processo sem qualquer relação com a intervenção humana.
Terminada a apresentação, retornou a repartição realizando rotinas internas.
Mais tarde, passou em sua casa, jantou rapidamente, e depois foi ao encontro de Flávio.
Levava consigo um livro de poesias.

Ao chegar no hospital, antes de entrar no quarto de Flávio, perguntou a Olívia se ela se importava se ela lesse algumas poesias para o moço. Dizendo que eles costumavam ler poesias juntos, comentou que talvez isto ajudasse neste processo de recuperação.
Olívia autorizou-a. Disse que isto certamente auxiliaria na recuperação de seu filho.
Letícia então abriu o livro, e escolheu aleatoriamente uma poesia. Começou a ler em voz alta:

“Aninha e suas pedras
Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.

E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.

Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.
Cora Coralina (Outubro, 1981) “ 1

Olívia ao ouvir o poema, só conseguia dizer:
- Que coisa mais linda! – e aproximando-se de Flávio, emendou – Meu Flávio, que sensibilidade! Está ouvindo? Que privilégio poder ouvir uma coisa sublime assim!
Encantada, Olívia estava deslumbrada.
- Continue, minha querida! – respondeu para Letícia.
A moça começou então, a ler outra poesia:

“MEUS OITO ANOS - Casimiro de Abreu

Oh que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais

Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
A sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais.

Como são belos os dias
Do despontar da existência
Respira a alma inocência,
Como perfume a flor;

O mar é lago sereno,
O céu um manto azulado,
O mundo um sonho dourado,
A vida um hino de amor!

Que auroras, que sol, que vida
Que noites de melodia,
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar

O céu bordado de estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh dias de minha infância,
Oh meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã

Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delicias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha, irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Pés descalços, braços nus,
Correndo pelas campinas

A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas
Brincava beira do mar!

Rezava as Ave Marias,
Achava o céu sempre lindo
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Oh que saudades que tenho
Da aurora da minha vida
Da, minha infância querida
Que os anos não trazem mais

Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
A sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!”

Ao término do pequeno recital, Olívia aplaudiu.
Flávio contudo, não dava sinal de vida.
Letícia se entristeceu com a inércia do rapaz.
Olívia por sua vez, só dirigia palavras de ânimo para a moça. Dizendo que Flávio não despertaria num passe de mágica, argumentou que ela deveria ter paciência que ele iria se recuperar.
A moça concordou.
Mesmo assim, Letícia estava decepcionada.
Na volta para a casa, ficou pensando se todo aquele esforço valia mesmo a pena.
Desconsolada, apoiou sua cabeça na janela do metrô. Estava muito triste.
Quando voltou para casa, adentrou o imóvel, sem dizer palavra alguma para sua mãe, entrou em seu quarto, deitou-se na cama e começou a chorar.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Para se Viver um Grande Amor - Capítulo 5

Com isto, conforme os dias passavam, Flávio continuava inconsciente, deitado em uma cama de hospital. Imóvel.
Os médicos disseram que o rapaz se encontrava inconsciente em virtude do acidente ocorrido, e que este estado poderia durar dias, meses ou anos.
Doutor Sílvio, tentando ser realista, comentou que aquele estado poderia ser ou não permanente.
Disse que pelos exames, aparentemente não ocorreram grandes danos cerebrais, mas que para saber a extensão dos mesmos, somente quando e se, o rapaz despertasse.
Olívia, sua mãe, ficou inconformada. Como poderia um rapaz tão jovem, permanecer inconsciente por anos, talvez nunca mais despertando?
Recusou-se em acreditar em tal prognóstico.
Acreditando na recuperação de Flávio, Olívia, assim que pode entrar no quarto e permanecer com o filho, começou a contar-lhe as histórias de sua infância, as traquinagens com sua irmã Cecília.
Começou contando que juntos com os vizinhos da rua onde viviam, brincavam de esconde-esconde.
Que Flávio sempre favorecia Cecília nas brincadeiras, por que ela era menor.
Contou que um dia, por acidente, a menina pegou um ursinho de pelúcia e arremessou contra a lâmpada da sala.
Quando Olívia viu os cacos de vidro espalhados pela sala, chamou os dois para uma conversa.
Intimando-os, perguntou quem havia feito o estrago.
Como ninguém se manifestou, ambos ficaram de castigo trancados no quarto.
Nesta época, dividiam o mesmo quarto.
Olívia, relembrou de cada detalhe daquela reminiscência. Depois, observando o corpo inerte de Flávio, ficou desalentada.
Conversando com o moço, Olívia perguntou:
- Você se lembra de quando reformamos a casa e construímos uma suíte para nós, e ampliamos os quartos já existentes para vocês dois ficarem confortavelmente instalados?
Lembrou-se que por conta da reforma, todos passaram a dormir na sala e a cozinha acabou virando sala de estar.
Emocionada, Olívia recordou-se que Flávio adorava ouvir músicas antigas e passava horas em frente a televisão.
Contou que o garoto gostava de assistir o programa “Balão Mágico”. Adorava a trupe que apresentava o programa. Curtia o programa do quarteto “Os Trapalhões”.
Cecília por sua vez, adorava acompanhar o irmão em suas tardes assistindo tevê.
Só que dispersa, passados cinco minutos em frente da televisão, a menina começava a brincar com suas bonecas, a fazer barulho...
Flávio então, pedia silêncio.

Amoroso com Cecília, lembrou que quando a menina precisou extrair um dente, Flávio disse que ela não devia ter medo de perder um dente, por que a fada do dente, lhe daria um dinheirinho em retribuição ao dente arrancado.
A menina então, parou de teimar. Isto por que, não queria extrair o dente de jeito nenhum.
E assim quando a menina chegou em Olívia dizendo para ir no dentista, a mesma ficou surpresa.
- Que milagre é esse? – perguntou.
Cecília respondeu então, que deixando o médico tirar o dente mole, a fada do dente lhe daria um dinheirinho.
Olívia então percebeu que Flávio havia conversado com ela, e contado a história da fada do dente.
A mulher, empenhada na recuperação de Flávio, não parava de contar detalhes de sua vida, de sua infância.
Em diversas visitas ao moço, Gilberto, Cecília, Karina, Letícia, Carlos, Vicente, Otávio, Francisco, Cleide, Bruno, Leandro, Antero, Jairo, Lúcio, Alice, Lara, Clotilde, Amélia, Amarildo, observaram que Olívia sempre conversava com Flávio.
Alessandro, e até os amigos de roda de samba de samba dele e Cecília - Júlia, Cléber e Sandro, visitaram o moço. E todos notaram que Olívia conversava com o paciente.
Atenciosos, todos passaram a adotar o mesmo procedimento. Passaram a conversar com Flávio como se ele ouvisse tudo. Como se estivesse consciente.
Seus colegas de escritório comentavam com estavam indo as coisas no trabalho. Comentavam que os processos propostos por ele estavam sendo devidamente acompanhados, e que os clientes estavam sendo assistidos.
Vicente elogiou o trabalho de Flávio. Comentou que ele era muito organizado, e que era muito fácil entender as anotações que havia feito sobre os processos.
Carlos chegou a dizer que ele precisava se recuperar logo por que o escritório não era o mesmo sem ele.
Flávio porém não dava sinal de vida.
Olívia, conversando a sós com Gilberto, ás vezes se perguntava se ele realmente ouvia o que eles diziam, e se ouvia, onde ele estaria.
Gilberto não sabia o que dizer. Comentou apenas que partilhava com ela a esperança de ver o filho recuperado.
Desconsolados, se abraçaram.

Com isto, Gilberto e Cecília, ao verem o empenho de Olívia, prometeram que também iriam conversar com Flávio. Que lhe contariam histórias de sua vida. Prometeram que continuariam conversando com o rapaz, que não desistiriam.
Cecília comentou que tinha certeza que Flávio iria se recuperar, que isto era apenas uma questão de tempo.
Gilberto e Cecília por sua vez, também prometeram que conversariam com Letícia para que ela também participasse do processo. Em que pese o fato da moça já estar fazendo isto.
Prometeram que iriam reforçar este pedido, ressalvando que isto estimularia Flávio a se recuperar.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Para se Viver um Grande Amor - Capítulo 4

Cecília também se lembrou de momentos de sua infância, de como Flávio sempre a protegia, e de como sempre estava disposto a lhe ensinar alguma coisa.
Ensinou-lhe a brincar com bolinhas de gude.
Era ele quem posicionava as bolinhas na rua em frente a casa em que moravam e ficava ensinando como ela faria para ganhar o maio número possível de bolinhas.
Se irritava quando ela direcionava a bolinha que deveria acertar as demais, para o lado errado.
Dizia:
- Não é assim!
E demonstrava a ela como tinha que ser.

Cecília também brincava de faz-de-conta com Flávio. Gostava muito de um programa de humor que passava na TV nos anos oitentas.
Sempre que podia, passava as tardes imaginando-se ser apresentadora do programa.
Adorava a imitação do casal de jornalistas que apresentava o telejornal da casa onde moravam. Achava hilário.
Flávio adorava a “Tela Morna”, onde sempre era anunciado o filme: “A Coisa”.
Para assustar a irmã, Flávio erguia os braços, e seguia em direção a irmã, dizendo que era “A Coisa”, ou então “O Monstro da Lagoa Negra”.
Cecília então, fingia estar apavorada e começava a gritar e a correr gritando socorro, pois estava sendo atacada pela “Coisa”.
Gilberto, em uma dessas tardes gostosas, encontrando-se em casa, ao ver Cecília correndo em sua direção, perguntou o que estava acontecendo.
Cecília respondeu: - Nada não.
Só estava brincado.
Passando por ele, Flávio, ainda com os braços estendidos, dizia que ela não poderia escapar.
Gilberto, vendo os filhos brincando, caiu na risada.
Entrou em casa e começou a folhear um jornal.
Mais tarde eles passaram a dramatizar a novela “Fogo no Rabo” (paródia da novela “Roda de Fogo”, da rede Globo).
Flávio adorava imitar os miados do gato com fogo no rabo.
Cecília caía na risada.
A certa altura, Olívia chamou-o para jantar. Dizendo que a brincadeira devia estar muito boa, comentou que agora precisavam entrar. Que era hora de jantar.
Flávio reclamou que sempre o interrompiam no melhor da brincadeira.
- Vamos! Vamos! – insistiu Olívia.
Cecília também adorava brincar de boneca.
Quem não gostava da brincadeira era Flávio que dizia isto era brincadeira de menina.
E assim, a menina brincava sozinha com suas bonecas.
Cecília fazia de conta que elas eram suas filhas, brincava que elas estavam na escolinha. Brincava de fazer comidinha para elas, de dar banho e trocar a roupa de suas ‘filhas’.
Com efeito, os irmãos Cecília e Flávio, também brincavam com as crianças da rua.
Brincavam com seus vizinhos Antero, Jairo, Lúcio, Alice e Lara.

Pulavam amarelinha, brincavam de peteca, de jogo da velha (tentando fazer combinação de xis ou de bolinhas, ou pelo menos dificultando a vitória do adversário), de stop (onde elegiam várias categorias de coisas – como fruta, marca de carro, nome de cidade, etc. Depois todos estendiam as mãos depois de contarem a quantidade de dedos expostos. Esta quantidade determinaria a letra a ser escolhida. Exemplo, se ficassem expostos dez dedos, a letra escolhida era ‘Jota’ e tudo a ser colocados nas categorias teria que possuir a letra citada.).
Brincavam de pega-pega, de que em que mão que está (onde tentavam adivinhar em que mão estava o objeto escondido).
Era uma farra só. Brincavam a tarde toda.
No meio da tarde Olívia preparava um lanche para as crianças.
Todos se esbaldavam com os lanches e sucos preparados pela mulher.
Tais lembranças traziam algum alento ao seu coração.

Olívia por sua vez, também se angustiava com a falta de informação.
Ficava andando de um lado para outro. Estava preocupada.
Gilberto também parecia aflito e distante.
Mais tarde, quando a família foi liberada para entrar na UTI, os três ficaram penalizados com o que viram.
Ver o irmão e filho, inconsciente, imóvel, ligado a tubos, foi penoso para todos.
Até Gilberto ficou emocionado.
Independente de sua vontade, as lágrimas caíam de seus olhos.
Olívia vendo a tristeza do marido, comentou que ele ficaria bom.
O sofrimento de Cecília também era grande. Angustiada, não sabia o que fazer com aquele sentimento de impotência. De querer ajudar, mas sem saber o que fazer.
Certo dia, chorando, comentou com seu pai:
- Ele sempre me protegeu e eu agora não posso fazer o mesmo por ele!
Gilberto abraçou a filha.

Luciana Celestino dos Santos
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Para se Viver um Grande Amor - Capítulo 3

Nesse momento, Gilberto despertando de seu torpor, percebeu que sua mulher Olívia, se desmanchava em prantos.
Sem saber o que dizer, simplesmente abraçou-a. Enquanto ouvia a mulher soluçando, pensava em como estaria Flávio, se sobreviveria.
O casal permaneceu no hospital até amanhecer.
Olívia, que não queria sair de perto do filho, somente após muita insistência de Gilberto foi para casa. Aflito, o homem comentou que Cecília estava sozinha em casa, e que ela precisava saber o que havia acontecido.
A mulher porém, argumentava que Flávio não poderia ficar sozinho e que se houvesse alguma novidade gostaria de estar presente.
Gilberto respondeu então que ficaria no hospital e que havendo novidades, ele entraria em contato com ela pelo celular. Dizendo que ela poderia pegar um táxi para voltar para casa, comentou que não deixaria o filho sozinho nem por um minuto, e que ficaria rezando para que ele se recuperasse o quanto antes.
Olívia ficou com os olhos cheios de água. Emocionada, abraçou o marido. Comentou que depois dos filhos ele era a pessoa mais importante de sua vida.
Gilberto retrucou:
- Deixe disto!
Despediram-se e Olívia foi de táxi para casa.

No caminho ficou pensando em como diria a Cecília o que estava acontecendo. Estava vivendo um dos momentos mais difíceis de sua vida.

Nisto, Cecília, que já chegara em casa às seis da manhã, dormia profundamente. Mal poderia imaginar o que estava acontecendo, e que após alguns momentos, sua vida mudaria completamente.
Cecília, que também estava em uma festa, só tomou conhecimento do que ocorrera ao irmão, depois.
Passara a noite e parte da madrugada em uma festa de aniversário. Cléber estava fazendo anos.
Para não fugir a regra, na festa a trilha sonora foram sambas, entre eles enredos de escolas de samba paulistas e cariocas.
Animado o grupo cantou Cartola, “O mundo é um moinho”:

“Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Em pouco tempo não serás mais o que és.

Ouça me bem amor
Preste atenção,
O mundo é um moinho
Vai triturar seus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir suas ilusões a pó

Preste atenção querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça me bem amor
Em pouco herdará só o cinismo
Quando notares estarás a beira do abismo
Abismo que cavaste,
Com teus pés...”

Animados, dispensaram o aparelho de som, cantando a música sem acompanhamento.
Foi uma bonita cena, em que Alessandro, Sandro, Cléber e Júlia, juntamente com Cecília, começaram a cantoria.
Todos os convidados pararam para ouvir.
O quinteto estava animado.

E a cantoria prosseguiu...

“A tristeza é senhora, Desde que o samba é samba é assim
A lágrima clara sobre a pele escura, a noite e a chuva que cai lá fora
Solidão apavora, tudo demorando em ser tão ruim
Mas alguma coisa acontece, no quando agora em mim

Cantando eu mando a tristeza embora
(Repete tudo acima)

O samba ainda vai nascer, o samba ainda não chegou
O samba não vai morrer, veja o dia ainda não raiou
O samba é o pai do prazer, o samba é o filho da dor
O grande poder transformador
(Desde Que O Samba É Samba – Caetano Veloso)”

Era bonito ouvir o grupo cantando.
E seguiu. A turma estava muito animada.
O som alimenta o espírito, comentou um Cléber animado, e já um pouco bêbado.

A cantoria continuou.

“Eu sou o samba
A voz do morro sou eu mesmo sim senhor
Quero mostrar ao mundo que tenho valor
Eu sou o rei dos terreiros

Eu sou o samba sou natural aqui do Rio de Janeiro
Sou eu quem leva a alegria para milhões
De corações Brasileiros

Mais um samba queremos samba
Quem está pedindo é a voz do povo do país
Viva o samba vamos cantando esta melodia
Pro Brasil feliz.
(A Voz do Morro - Composição: Zé Kéti)”

Festa boa, comemoração que se estendeu até a madrugada.
Regada com muita cerveja, salgadinhos.
A animação era tanta, que Cecília chegou tarde em casa.
Alessandro a levou de carro até sua casa.
A moça estava tão sonolenta, que nem percebeu que não havia ninguém na casa.
Atirou-se de roupa e tudo na cama e dormiu.
Dormiu um sono profundo. Estava embalada pela cantoria. Em sua cabeça ecoavam as canções de antigos carnavais que haviam cantando durante a festa.
Em seus sonhos, ficou a ouvir a seguinte canção :

“Hoje vou colorir toda a cidade
De alma pintada eu vou
Sou da Corte a fantasia
Trago o "novo mundo" de esplendor

A magia da floresta levei
Enfeitando esta festa cheguei
Puro na emoção, simples na paixão
Sonho e poesia em Ruão
Mon amour c'est si beau!
Esse jogo, essa dança (bis)
Tabajer, Tupnambôs

E lá nas margens do Sena
O Brasil a imagem
De nudez e coragem
Índios, marujos, enfim
Misturavam-se assim

Na mais linda paisagem
E a platéia no bis
Com a Imperatriz a delirar
Na França o bom selvagem
Deu o tom de igualdade
Fraternité, liberté

Sou índio, sou forte
Sou filho da sorte, sou natural (bis)
Sou guerreiro
Sou a luz da liberdade, carnaval
(Catarina de Médicis na Corte dos Tupinambôs e Tabajères (1994) - Imperatriz Leopoldinense (RJ) Composição: Márcio André, Alvinho, Aranha e Alexandre da Imperatriz)”

Esta foi uma das canções que a turma cantou durante a festa. A cada canção que cantava os ouvintes pediam para cantarem mais uma.
E assim, Sandro, Cléber e Júlia, prosseguiram a cantoria.
Algumas vezes Alessandro e Cecília prestavam um auxílio luxuoso.
Como disse Cléber parodiando uma música de Luiz Melodia.
Quando o moço disse isto, a platéia logo pediu para que eles cantassem “Juventude Transviada”.
Foi a deixa para que o quinteto começasse a cantar:

“Lava roupa todo dia, que agonia
Na quebrada da soleira, que chovia
Até sonhar de madrugada, uma moça sem mancada
Uma mulher não deve vacilar

Eu entendo a juventude transviada
E o auxílio luxuoso de um pandeiro
Até sonhar de madrugada, uma moça sem mancada
Uma mulher não deve vacilar

Cada cara representa uma mentira
Nascimento, vida e morte, quem diria
Até sonhar de madrugada, uma moça sem mancada
Uma mulher não deve vacilar

Hoje pode transformar, e o que diria a juventude
Um dia você vai chorar, vejo clara as fantasias
Composição: Luiz Melodia”

Resultado. Aplausos.
Embora tenham cantando quase todo o tempo, também conversaram.
Cecília adorou o ambiente. Conheceu outras pessoas ligadas ao samba.
Foi apresentada a alguns compositores de samba.
Entusiasmada, comentou com algumas pessoas que não conseguia compreender como uma coisa tão bonita e alegre poderia ser considerada marginal.
Sérgio comentou que sim, nos primórdios do samba, este gênero foi considerado como menor, como coisa de marginal mesmo. Disse ainda quem estava envolvido neste meio, era perseguido e mal visto.
Cecília comentou então, sorrindo, que ainda bem que as coisas haviam mudado.
O rapaz concordou.
Durante a noite foram feitos comentários sobre vários sambistas, como Clara Nunes, Geraldo Filme, Cartola entre outros.
Cléber comentou que havia muitos sambistas que levaram anos para gravar suas composições.
E em seus sonhos, a festa continuava.
A moça dormia a sono solto.

Olívia, tomada por uma grande angústia, ao perceber que a filha ainda dormia, começou a chamá-la.
Cecília, que dormia um sono pesado, demorou a acordar.
Ao fazê-lo, vendo sua mãe estacada ao lado de sua cama, espantou-se.
Afinal de contas, onde havia sido o incêndio? Chegou a perguntar.
Olívia retrucou dizendo que não era momento para brincadeiras.
Procurando coragem para dizer o que precisava dizer a filha, disse que Flávio não estava bem.
Cecília começou a ficar assustada.
- O que aconteceu com o Flávio, mãe? Está passando mal? – perguntou Cecília, sem imaginar a gravidade do que estava acontecendo.
Olívia começou então a chorar.
Foi quando Cecília percebeu que havia acontecido algo de muito grave.
Aflita, perguntou o que estava acontecendo.
Olívia a muito custo, procurando se acalmar, respondeu a filha, que Flávio havia sofrido um acidente, que havia sido operado, e que ela e Gilberto estavam no hospital, aguardando notícias sobre a recuperação dele.
- Meu Deus! – exclamou Cecília quase chorando. – E é grave a situação?
Olívia, comprimindo os lábios, meneou a cabeça afirmativamente.
Ao ouvir tais palavras, Cecília custou a acreditar.
Percebendo que a situação era séria, começou a chorar.
Olívia comentou então que precisava voltar para o hospital e que Gilberto não havia arredado pé de lá. Que ele precisava descansar.
Cecília desconsolada, pediu para ir também. Queria saber exatamente o que estava acontecendo.
Diante disto, tratou de se arrumar. Tomou um banho rápido.
Olívia também foi tentar se recompor um pouco.
Depois, ambas partiram de táxi para o hospital.
Quando Gilberto viu as duas mulheres chegando, tratou de abraçá-las.
Aflitas, perguntaram se havia alguma novidade sobre Flávio.
Gilberto respondeu que ninguém viera falar com ele. Respondeu que a espera era angustiante, mas que se ninguém viera falar com ele, era por que o rapaz estava respondendo a cirurgia. Disse que desde que chegara ao hospital, não parara de rezar.
Cecília comentou que faria o mesmo.
Ansiosa, perguntou como aquilo poderia ter acontecido ao irmão.
Gilberto respondeu que não sabia detalhes sobre o acidente.
Mais tarde, ao ouvir relatos de pessoas que presenciaram o ocorrido, tomaram ciência de que fora uma carreta que provocara o acidente.

Cecília ficou indignada. Dizendo que por culpa de um irresponsável seu irmão estava hospitalizado, comentou que desejava que o mesmo fosse localizado e punido pelo que havia feito.
Olívia e Gilberto porém, só sabiam pensar em Flávio. Para eles era a maior preocupação.
Cecília angustiada, começou a chorar.
Nisto apareceram policiais no hospital. Estava ali para tentar descobrir maiores detalhes sobre o acidente ocorrido com Flávio.
Fizeram perguntas aos médicos, aos pais de Flávio. Também fizeram perguntas as testemunhas.
Cecília ficou incomodada com a insistência dos policiais.
Tanto que ao ouvir as perguntas dos policiais, comentou que não sabia o que havia ocorrido por que não presenciara o acidente, e que tudo o que sabia foi o que seus pais descobriram por ouvir dizer, o que por sua vez, tinha sido informado pelos médicos.

Doutor Sílvio respondeu as perguntas dos policiais, dizendo que o rapaz havia chegado ao hospital bastante ferido, inconsciente, e em estado grave. Explicou que o moço precisou ser submetido a um procedimento cirúrgico. E que não estava em condições de ser submetido a um interrogatório.

Um dos policiais respondeu:
- Entendo!
Depois, os policiais se retiraram.

Mesmo assim, os pais de Flávio, Doutor Sílvio, e as testemunhas, precisaram comparecer na Delegacia, para prestarem seus depoimentos, para instruir o inquérito policial que fora instaurado para apurar o acidente.

Mas voltando ao hospital...
Cecília então começou a rezar. Precisava se acalmar e pedir proteção ao irmão.
E assim passou a rezar.
Gilberto resolveu acompanhá-la.
Olívia por sua vez, mesmo chorando, se esforçava para acompanhar as orações da moça.

Luciana Celestino dos Santos
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Para se Viver um Grande Amor - Capítulo 2

Desta feita, seguiram-se os dias.
Finalmente o esperado dia do baile.
Música, bebida, boa comida, confraternização.
Tudo transcorrendo às mil maravilhas como Karina dissera.
Por fim o casal retirou-se da festa...

E assim, voltando de uma festa, depois de deixar sua noiva Letícia em casa, Flávio despediu da moça, com um abraço e um beijo.
Karina, dizendo que já estava tarde, pediu a filha que entrasse em casa.
Letícia se espantou com o fato de sua mãe ainda estar acordada, esperando por ela.
A moça então, despediu-se do rapaz dizendo:
- Vá com Deus!
Flávio, concordando com Karina, comentou que precisava voltar para casa. E assim, conduziu seu carro até seu apartamento.
Esta era a intenção, ao menos.

Mas o intento foi interrompido por uma carreta que atravessou seu caminho.
Cortando a rua inesperadamente, o veículo veio com tudo em direção ao carro de Flávio.
Diante disto, para não colidir com o veículo, o homem desviou seu carro, vindo a bater em um poste.
Quando o resgate chegou ao local, encontraram a frente do veículo destruída. Por um momento a equipe de resgate acreditou que o rapaz estava morto.
O dono da carreta por sua vez, escapou ileso. Tanto que fugiu do local do acidente.
Testemunhas disseram que o motorista da carreta estava em alta velocidade.
Flávio foi então retirado do carro, colocado em uma maca e levado de ambulância para um hospital.

Quando Olívia foi informada do acidente, ficou desesperada.
Por pouco não desligou o telefone.
Inicialmente pensou se tratar de um trote. Mas depois, ao ouvir detalhes do ocorrido, como a placa do veículo e nome completo do rapaz, percebeu tristemente que não se tratava de uma brincadeira.
Aflita, perguntou como ele estava.
A atendente então informou que seu estado era grave, e que ela deveria comparecer o quanto antes no hospital.
Olívia tremula, anotou o endereço do hospital e disse que iria imediatamente para lá.
Diante disto apesar de ser madrugada, a mulher, acompanhada de seu marido, dirigiu-se ao hospital.
Gilberto, que dormia profundamente, foi abruptamente despertado com a notícia de que Flávio sofrera um acidente.
Aturdido, demorou para perceber o que Olívia queria lhe dizer.
Isto fez que a mulher ficasse nervosa.
Quando se deu conta da gravidade da situação, exclamou:
- Meu Deus do Céu! Não pode ser! Isto não está acontecendo!
Nisto, os dois se arrumaram apressadamente para seguir para o hospital.
Gilberto pediu a Olívia para que chamasse um táxi. Disse que não estava em condições de dirigir.
A mulher ligou para um ponto de táxi, e pediu um táxi com urgência.

Nisto, ao chegar no hospital, o casal se dirigiu a recepção.
A atendente, fazendo uma busca em seu cadastro disse a Olívia e Gilberto que eles poderiam se dirigir até o corredor, segui-lo até o fim, e virar a direita. Explicou que ali havia uma sala de espera e que eles poderiam aguardar notícias dos médicos ali.
Gilberto perguntou a moça se ela sabia o que estava acontecendo.
A moça respondeu que eles teriam que aguardar o médico.
Olívia segurou um dos braços de Gilberto e conduziu-o até a referida sala.
Foi uma longa espera...

Quando finalmente surgiu um médico para explicar o que estava acontecendo, o casal teve que ouvir o triste prognóstico de que o rapaz poderia não passar daquela noite.
O doutor apresentou-se.
Dizendo se chamar Sílvio, comentou que Flávio estava passando por uma cirurgia muito complicada, a qual estava demorando mais tempo do que eles esperavam, devido os ferimentos sofridos.
Olívia perguntou então se Flávio estava muito machucado.
O médico respondeu que sim.
A mulher começou a chorar.
O médico então, respondeu que faria todo o possível para salvar a vida do moço.
Gilberto agradeceu.
O médico dizendo então que deveria voltar para a sala de cirurgia, pediu licença e retirou-se da sala.
Gilberto abraçou Olívia que se debulhava em lágrimas.
A mulher não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Dizia que aquilo só poderia ser um pesadelo. Um terrível pesadelo.
Não podia acreditar que o rapaz sorridente, agora estava hospitalizando com risco de morte.
Gilberto ficou com os olhos marejados.
Dizendo que eles deveriam rezar, comentou que as orações iriam auxiliar os médicos, guiando suas mãos e fazendo com que eles pudessem fazer o melhor para Flávio.
Dito isto, o casal começou a rezar.
Rezaram “Ave Maria”, “Pai Nosso”. Rezaram muito. Rezaram o “Creio em Deus Pai” e a “Salve Rainha”. Pediram para que as mãos dos médicos fossem bem conduzidas, e Flávio passasse bem por esta cirurgia e se recuperasse.
Mesmo assim, Olívia que já estava desesperada, ao ouvir o prognóstico pessimista do médico, precisou tomar um calmante.
Ao perceber o desespero da mulher, Gilberto pediu o auxílio de uma enfermeira.
A enfermeira chamou um médico, que ali mesmo receitou-lhe um calmante. Percebendo a especificidade da situação, disse a Gilberto que receitaria um calmante leve a Olívia, apenas para que ela ficasse mais calma.
Ao lado do marido, Olívia chorou a noite toda. Mesmo com o calmante, não conseguiu dormir.
Gilberto aturdido, só conseguia dizer que ele iria ficar bom. Abalado não conseguia acreditar no que estava acontecendo.
Contudo, não podia se desesperar. Olívia precisava de seu apoio.
Enquanto isto, em razão da gravidade do acidente, o rapaz permaneceu na mesa de cirurgia.
Passou toda a madrugada em uma mesa de cirurgia.
Segundo os médicos, era uma tentativa de conservá-lo vivo.

Durante a madrugada, o Dr. Sílvio conversou mais uma vez com os pais de Flávio. Explicou que precisaram realizar o procedimento cirúrgico com muito cuidado. Razão pela qual a cirurgia demorou mais do que o esperado. O médico comentou que a equipe foi prestimosa, e isto garantiu a sobrevivência do moço ao procedimento.
Gilberto – que permanecia abraçado a esposa – perguntou como Flávio estava.
O médico respondeu que o moço havia passado pelo procedimento cirúrgico, mas que ele infelizmente não poderia garantir a recuperação de Flávio. Disse seria necessário dar tempo ao tempo.
Nisto, após a cirurgia, o rapaz foi encaminhado para a UTI.
Estava sedado.
Como o rapaz resistiu a cirurgia, Olívia começou a ter esperança.
Os médicos porém, disseram que seria necessário aguardar as próximas horas, os próximos dias.
Doutor Sílvio – que estava acompanhando o caso de perto – explicou que a situação de Flávio era muito complicada, que seu estado era muito delicado, inspirava cuidados, e que a equipe não poderia dar certeza de que ele iria se recuperar.
Gilberto desabou. Estava inconsolável.
Seu filho estava internado, e ele não sabia se o moço estava bem, se ele se recuperaria.
O homem estava passando por toda aquela angústia, tudo para saber se Flávio conseguiria sobreviver, e sem poder dividir o sofrimento com a esposa.
Novamente, Olívia caiu em prantos.
Gilberto também não conseguiu conter uma lágrima que correu de seus olhos.
Embora aparentemente calmo, um turbilhão de pensamentos ocupavam sua mente...

As lembranças de Flávio e de Cecília brincando juntos.
Flávio, mais velho, tentava ensinar Cecília a nadar. Gilberto, é claro, estava por perto.
Cecília soltava gritinhos toda vez que ele ameaçava soltá-la.
Lembrou –se dos filhos brincando em na areia.
Da praia, as ondas indo e vindo e desmanchando o castelo que os três tentavam fazer.
Flávio pegou o baldinho e a pá e começou a montar uma estrutura de areia, que ele tentava fazer com que se parecesse com um castelo de areia.
Cecília, na época bem pequena, tentava ajudar, mas só conseguia fazer a estrutura de areia desmoronar.
Flávio ficava inconformado. A certa altura ralhou com ela. Disse para ela parar de atrapalhar.
Cecília começou a chorar.
Gilberto com toda a calma do mundo, disse ao filho que ele não precisava brigar com Cecília.
Amparando a filha, tentou consolá-la. Disse que ele não tinha dito aquilo por mal, e que ajudaria a construir um castelo.
Flávio percebendo que exagerara, aproximou-se de Cecília e pediu para ela segurar o baldinho com areia e virá-lo para baixo.
Dito isto, a criança acabou derrubando o balde no chão.
Cecília olhou receosa para Flávio. Acreditou que ele ralharia com ela.
Flávio respondeu então:
- Eu devia saber! Isto é muito pesado para você.
Disse isto e encheu novamente o balde.
Após, segurou uma das mãos de Cecília e auxiliou-a a posicionar o balde na areia. Explicou que era daquela forma que eles fariam o castelo.
Cecília riu.
Gilberto aproximou-se e comentou que também gostaria de participar da brincadeira.
E assim, os três ficaram a brincar de construir castelos de areia.

O homem lembrou-se também, do dia da formatura de Flávio, do filho usando beca, o capelo, recebendo o diploma do curso de direito, juntamente com seus colegas de faculdade. Recordou-se que por falta de grana, o rapaz não participou do baile.
Mesmo assim, estava feliz. Orgulhoso, realizou o juramento.
Seus pais acompanharam a cerimônia realizada de portas abertas.
Vários pais fizeram o mesmo.
Foram feitas até fotos do evento.
Gilberto e Olívia fotografaram ao lado de Flávio, o qual posou de beca.
Cecília também acompanhou a cerimônia, mas não quis tirar fotos ao lado do irmão.

Gilberto recordou-se também, do dia em que o filho apresentou Letícia como sua namorada, todo contente.
Foi num churrasco em que estava sendo comemorado seu aniversário.
Gilberto gostou de Letícia. Comentou com o filho, que aquela era uma moça para casar.
Letícia riu do comentário.
Mas Gilberto gostou mesmo do jeito de Letícia. Percebeu que a moça, ao contar suas histórias, era uma pessoa determinada e disciplinada. Sentiu segurança com a moça.
Conversando com Letícia, Gilberto descobriu que a moça estava estudando a bastante tempo para concursos públicos, que ela e Flávio se conheceram quando Letícia trabalhou no escritório de advocacia e contabilidade onde ele trabalhava.
Letícia também contou que sua mãe, viúva, sempre batalhou muito para que ela tivesse uma boa educação, que cursasse uma boa faculdade, que aprendesse a lutar para ter um bom futuro.
Comentou que sua mãe era aposentada e realizava trabalho voluntário, cuidando de bebês.
Gilberto gostou da moça.
Flávio cuidou de apresentar a moça para sua mãe, que também ficou encantada com ela.
Com isto, Letícia após ouvir perguntas sobre sua ocupação dos parentes de Flávio, comentou que estava trabalhando em uma repartição pública, com direito ambiental, depois de passar em um concurso público.

Clotilde ficou encantada. Comentou que Letícia devia ser muito inteligente para conseguir ter passado em um concurso público.
Letícia demonstrando modéstia, comentou que era só se dedicar bastante. Respondeu que qualquer um poderia passar num concurso público.
Olívia por sua vez, também percebeu que se tratava de uma relação séria, já que a moça estava sendo apresentada para a família.
Ao saber de Letícia era funcionária pública, Cecília começou a pedir dicas de como se preparar melhor para passar em um concurso público. Comentou que também estava cursando uma faculdade de direito e que pretendia investir na carreira pública.
Gilberto então, censurou a filha.
Percebendo que Cecília estava ávida por informações, comentou que tudo a seu tempo. Isto por que, a moça estava ali para conhecer a família, e não para realizar uma prestação de serviços. Além do mais, não era hora para se falar de trabalho, e tampouco de estudos.
Cecília então comentou que estava feliz por Flávio haver conhecido Letícia. Chegou até a abraçar a moça.
Disse que elas poderiam ser grandes amigas.
Simpática, apresentou seu namorado Alessandro, seus amigos Sandro, Cléber e Júlia. Comentou que ela e Alessandro se conheceram em uma quadra de escola de samba.
Letícia ficou curiosa. Escola de Samba?
Cecília comentou então que adorava carnaval. Que desde criança acompanhava desfiles de escolas de samba sempre dizendo que um dia estaria desfilando na avenida.
Alessandro entrando na conversa, disse que ficou encantado com o rodopiar de Cecília ao segurar o pavilhão da escola. Comentando que era componente da bateria de uma escola de samba, sentiu um facho de luz iluminando a quadra quando a viu sambando.
Júlia ficou impressionada com o comentário.
Cecília comentou que Alessandro estava exagerando.
Alessandro respondeu negativamente. Afirma que aquilo era a expressão da mais absoluta verdade.
Cecília ficou um pouco sem graça.
E este foi o começo de uma grande amizade. Letícia também simpatizou com Cecília.

Durante o churrasco, a moça foi apresentada para amigos e vizinhos da família de Flávio. Alguns parentes do rapaz também estavam presentes. Clotilde, Amélia e Amarildo, cumprimentaram Letícia.
Clotilde chegou a comentar com Flávio que ele tinha uma namorada muito bonita.
Letícia agradeceu o elogio.
Ao fim do evento, Olívia comentou que gostaria de conhecer a mãe de Letícia.
A moça prometeu que assim que pudesse apresentaria sua mãe a eles.
Interessados em conhecer melhor a moça, os da família, perguntaram sobre sua família, sobre seu trabalho.
Quando Amarildo perguntou sobre o pai de Letícia, a moça respondeu polidamente que o mesmo era falecido.
O homem ficou extremamente constrangido. Visivelmente desconfortável, pediu mil desculpas a Letícia.
A moça respondeu que não havia problemas.

Antero, Jairo, Lúcio, Alice e Lara, amigos de Flávio e Cecília, também foram simpáticos com Letícia.
Perguntaram com o que a moça trabalhava.
E novamente a moça falou sobre seu trabalho com direito ambiental.
Em dado momento, alguns mais curiosos, como Alice e Lúcio, chegaram até a perguntar como os dois haviam se conhecido.
Nesta altura, Flávio começou a contar que os dois se conheceram, quando trabalharam juntos em um escritório de contabilidade e advocacia. Letícia era estagiária, e ele já trabalhava a alguns anos no lugar.
Comentou que convivendo com ela, conhecendo-a a melhor, notou que ela além de bonita, era uma pessoa interessada, esforçada e determinada. Reservada porém.
Disse que só descobriu que ela não estava satisfeita com seu trabalho no escritório, ao vê-la debruçada sobre livros de direito ambiental. Isto por que, o escritório não trabalhava com causas nesta área.
Flávio então perguntou:
- Você gosta deste ramo do direito?
Surpreendida com a pergunta, Letícia tentou esconder os livros que trazia consigo. Em vão.
Flávio insistiu. Dizendo que ela não precisava esconder os livros, comentou apenas que ela não deveria se ocupar deles durante o horário de expediente.
Sem graça Letícia pediu desculpas.
Flávio, percebendo um certa tristeza nas palavras da moça, perguntou o que estava acontecendo.
Letícia respondeu que não estava acontecendo nada.
O moço insistiu mais uma vez. Argumentando que ela estava muito nervosa para quem dizia que não estava acontecendo nada, Flávio consegui descobrir que Letícia não estava satisfeita com trabalho.
Aflita pediu para que ele não contar a ninguém do escritório.
Flávio respondeu:
- Assim você me ofende! É claro que eu não vou contar nada para ninguém!
Ao relembrar-se deste acontecimento, comentou que foi aí que se tornaram se amigos.
Daí para começarem a namorar, Flávio comentou que foi um longo percurso.
Curiosas, Clotilde, Amarildo, Jairo e Lúcio, começaram a perguntar por que.
O moço então respondeu que Letícia vinha se escondendo dele.
Afirmação a qual Letícia contestou. Disse que na época estava prestando muitos concursos, e que nos finais de semana, raramente estava em casa.
Flávio percebendo que havia contrariado a moça, respondeu que estava brincando.
Continuando seu relato, comentou que passou semanas tentando contatá-la por telefone. Até que finalmente começaram a namorar...

Flávio comentou que isto se deu após inúmeros encontros e conversas, onde descobriram gostos em comum e muita afinidade.
O moço então disse que não tinha mais nada a dizer.
Muito embora seus parentes e amigos tivessem insistido, Flávio respondeu que não poderia expor a moça, e que seria indelicado de sua parte fazê-lo.
Clotilde percebendo isto, comentou que ele estava certo, e que certo detalhes da história deles, só dizia respeito a eles mesmos.
Antero, Jairo, Lúcio, Alice, Lara, Amélia, Amarildo e Júlia, ficaram desapontados. Queriam saber mais detalhes da história.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Para se Viver um Grande Amor - Capítulo 1

E assim começa nossa história.
Flávio, estava deveras feliz com o compromisso de noivado firmado com Letícia.
Não se cansava de dizer aos seus amigos e colegas de trabalho que estava noivo de Letícia.
Bruno e Leandro, que já eram casados, comentaram com Flávio que esta seria uma grande mudança em sua vida.
Disseram que em determinados dias se sentiam no melhor dos mundos, e em outros, que tinham vontade de sumir.
Flávio achava graça nas palavras dos amigos. Apaixonado, dizia que com ele seria diferente.
Empolgado com a possibilidade de se tornar sócio no escritório de advocacia e contabilidade, não se cansava de dizer a Letícia que a festa promovida pelo escritório seria um grande momento para ele.
A moça ouvia a tudo com a maior atenção.
Em dado momento, o moço comentou que aproveitaria a oportunidade para apresentar Letícia como sua noiva.
 
Nisto a moça, preparando-se para o grande evento, saiu com sua mãe para comprar um vestido para a festa.
Animadas as duas foram caminhar pelas ruas de São Paulo em busca de um belo vestido.
Caminharam pelas ruas do bairro Bom Retiro. Bateram perna procurando boas roupas de festa.
Observaram vitrines, olharam peças.
Depois de um certo tempo, Letícia acabou comprando um vestido azul, cruzado nas costas.
Karina achou a roupa de muito bom gosto.
Interessada em efetuar mais uma venda, a vendedora da loja ofereceu vestidos para Karina, que gentilmente os recusou.
Entusiasmada com a compra, Letícia sugeriu um passeio pelo Jardim da Luz, seguido de uma visita a Pinacoteca.
Foi uma linda manhã de verde, jaqueiras, muito verde, um bonito jardim, fontes, coretos, gentes caminhando.

Depois visitaram a Pinacoteca, suas pinturas, seus portrait’s de pessoas ilustres da sociedade paulista, naturezas mortas, esculturas de Victor Brecheret – Rodolfo Bernardeli, bustos, entre outras obras de arte.
Visita onde para se conhecer todos os detalhes das exposições, seria necessário algumas horas.
Um belo mergulho na metrópole através da arte.

Nisto, após o passeio, as duas mulheres foram almoçar.
Pediram salmão com batata sauté. Para acompanhar, guaraná.
Ao provarem da comida, elogiaram o tempero.
A moça chegou a comentar que estava tudo uma delícia!
- Realmente muito bom! – concordou Karina.
Enquanto comia, Letícia comentou que estava ansiosa com a festa.
Falou que Flávio havia lhe dito que alugaram um belo salão o qual seria ornado de flores, teria música ao vivo e um belo buffett.
Animada, a moça disse que Flávio não soube comentar sobre os detalhes da festa, e que os homens não são muito atentos a detalhes. Disse porém, que pela animação do moço, que a festa prometia ser linda.
Karina perguntou então, se ela estava preparada para o grande evento.
Letícia respondeu então, que estava nervosa.
Karina aconselhou a filha dizendo que daria tudo certo. Respondeu que ela se divertiria muito com Flávio na festa, e que reencontraria conhecidos.
Letícia concordou.

Enquanto isto Letícia, prosseguia com sua rotina. Todos os dias ia de metrô para o trabalho.
Com efeito, certa vez, ao rumar para o trabalho, ao lá chegar, deparou com Jovelina, que também acabara de chegar.
Animada a moça comentou que estava se preparando para uma confraternização de colegas de trabalho de seu noivo.
Jovelina já sabia que a moça namorava um advogado.
Simpática comentou que Flávio era um jovem advogado bastante promissor.

Mãe de três crianças, comentou que esta fase de início de namoro, de noivado, era uma das melhores fases de uma relação, e que Letícia devia aproveitar muito. Dizendo que não queria desanimá-la, comentou que quando entra em cena o casamento, começam as obrigações e os atritos.
Mercedes ao ouvir as palavras de Jovelina, censurou-a. Dizendo que ela não precisava assustar Letícia, comentou que nem todos os casamentos eram assim e que cabia a ela determinar como seria sua relação com Flávio.
A moça riu. Dizendo que sabia que o casamento não era nenhum conto de fadas, alegou que faria todo o possível para viver bem com Flávio e ter uma ótima relação.
Contudo, dizendo que estava noiva, mas não estava com pressa de casar, contou que no momento não estava pensando nisto. Disse que na família de seu noivo, quem pensava em casar-se era sua futura cunhada, Cecília.
- Diga-lhe que eu desejo de todo o coração, muito boa sorte. – respondeu Jovelina ironicamente.
- Você não presta, Jovelina! – disse Marli, as gargalhadas.
Jovelina respondeu então, que perdia o amigo mas não perdia a piada.
Todas começaram a rir.
Depois, dizendo que deviam fazer jus ao salário que os contribuintes lhes pagavam, Marli disse que já estava na hora de começarem a trabalhar.
E assim fizeram.
Letícia deu prosseguimento as suas pesquisas.

Á tarde ministrou uma palestra em uma escola de ensino fundamental.
Conversou com as crianças sobre educação ambiental.
Começou dizendo que o planeta era muito grande e que tentar resolver os problemas do mundo sozinho seria impossível. Contudo, se todos começassem pelo quintal da própria casa, ou pelo condomínio, poderiam fazer a diferença.
Tentando apresentar propostas, Letícia disse que eles poderiam começar separando os materiais a serem reciclados, dos que não passariam por este processo. Que poderiam demorar menos tempo no banho; que poderiam abrir a torneira apenas quando precisassem; que não deveriam abrir a geladeira a toda hora; deixar acumular uma boa quantidade de roupas para lavar e depois para passar. Com isto economizariam energia.
Também poderiam cuidar para adquirem menos embalagens; que poderiam usar sacolas de pano em vez de sacolas de plástico, quando fossem ao supermercado.
Outra forma de cuidar do ambiente seria somente adquirir aquilo que precisassem. Disse que mesmo quando queremos algo, devemos realmente avaliar se aquilo é realmente importante, ou se é apenas uma compra por impulso. Argumentou que tudo o que fazemos em nosso dia-a-dia gera impacto no ambiente em que vivemos.
Comentou que deveríamos cuidar para produzir menos, adquirindo menos produtos supérfluos, menos embalagens e menos coisas desnecessárias.
Argumentou que na sociedade de consumo em que vivemos, devemos racionalizar os nossos gastos, não se deixando levar pela falsa idéia de que para ser alguém, é preciso ter. Ressaltou que em pese a mensagem negativa frequentemente apresentada na mídia, o ser humano é importante, não por sua capacidade de acumular bens, e sim pelo seu intelecto, pela sua capacidade de se comover com coisas belas, e de ser excepcional quando quer.
Empolgada, Letícia comentou que se sentia muito mais feliz em ouvir uma boa música do que em ter um carro para dirigir.
Um dos alunos perguntou se era errado querer ter um carro.
Letícia riu. Respondeu que não. Explicou que quando disse que uma boa música era muito importante para ela, quis apenas dimensionar o valor de cada coisa. Disse que sim, ter um carro era algo muito bom, trazia conforto e praticidade, mas que não era a coisa mais importante do mundo. Asseverou que o fato de alguém não reunir condições de ter um automóvel, um imóvel de luxo, ou qualquer outra coisa que dê status, não a faz inferior a ninguém, nem pior do qualquer pessoa. Reafirmou seu comentário, dizendo que as pessoas valem pelo seu conteúdo, suas atitudes, e não pelo que tem. Disse que os bens materiais perecem, mas o que a pessoa é, não.
Também disse que uma pessoa que se preocupa com o quintal de sua casa, com sua morada, e com a melhor forma de usufruir dos recursos naturais de forma equilibrada, está se mostrando um ser humano de valor. Comentou que esta era uma sementinha que estava sendo plantada naquelas mentes jovens, e que acreditava que aquelas idéias iriam germinar e se tornariam uma árvore frondosa e cheia de frutos. Razão pela qual conclamou-os a serem propagadores da idéia. Recomendou-lhes que conversassem com seus pais, seus amigos, seus vizinhos, seus parentes, com os demais colegas de escola, que debatessem o assunto.
Conversando com os alunos, os mesmos sugeriram a aquisição de cestos de lixo reciclável – de papel, plástico, metal, orgânico - separados por cores, como aqueles que viam em logradouros públicos. Sugeriram plantar mais árvores.
Uma professora sugeriu ainda, que poderiam economizar energia, desligando a luz sempre que saíssem de um ambiente.
Letícia então sugeriu que esta idéia deveria ser aproveitada em casa e também no colégio.
Mais tarde, conversando com os professores, sugeriu a eles aplicarem a idéia de apagar a luz quando o último funcionário saísse, por exemplo, da sala dos professores.
Comentou que poderiam economizar água abrindo a torneira apenas quando fosse necessário, entre outras medidas.
Para a palestra foi reservado o auditório da escola, para que os alunos tivessem a oportunidade de acompanhar a apresentação.
No dia seguinte a moça compareceu no período da manhã no mesmo colégio para passar as informações aos alunos da manhã.
Nestes eventos, a moça era conduzida por um carro da repartição e um motorista, até o local.
Mercedes e Marli notando o crescimento profissional de Letícia, comentaram que ela estava de parabéns.
- Garota, você vai longe! – comentou Jovelina.

Nisto, enquanto a festa não chegava, Flávio seguia todos os dias de carro para o escritório, com vistas a realização de seu trabalho.
Atendia clientes, se dirigia aos Fóruns com vistas ao acompanhamento de processos, participava de audiências, prestava atendimento a potenciais clientes. Serviços pagos.
Também redigia peças processuais, pesquisava jurisprudências.
E ainda conversava com seus colegas de escritório.
Os colegas conversavam sobre os casos esdrúxulos, as lides temerárias que se recusavam a propor, etc. Argumentavam que muito embora a lei diga que todo direito possuí uma ação que o assegura, comentaram que há contendas que não tem razão de ser.
Vicente, Francisco, Bruno e Leandro, compartilhavam deste ponto de vista.
Otávio porém, argumentava que todos tinham direito de se defenderem de lesões, mesmo que aparentemente parecesse que não tinham direito de peticionar.
Flávio contestou. Dizendo que existem litígios sem nexo, comentou que em certos casos cabe ao juiz aplicar a pena por litigância de má-fé.
Otávio todavia, não concordava com a posição de Flávio.

Retomando a rotina de Letícia, saliente-se que todos os dias pegava o metrô e de lá seguia para seu trabalho em uma repartição pública. Depois de ser aprovada em um concurso público, a moça, após tomar posse no cargo, passou a ter status de funcionária pública.
Após ser aprovada, a moça comemorou com a família de Flávio – com Olívia, Gilberto e Cecília, além de Karina – sua mãe. Alessandro – namorado de Cecília, também participou da comemoração e parabenizou Letícia pela conquista.
Com isto, todos foram almoçar em um restaurante.
Reservaram uma mesa.
Nisto, a família de Flávio se deliciou com um farto churrasco, e Karina e Letícia, se fartaram com o serviço de buffett.
Olívia e Gilberto estranharam o fato de ambas não caírem de queixo no churrasco. Comentaram que as duas não sabiam o que estavam perdendo.
Alessandro chegou a sugerir que elas pegassem um pouco de churrasco.
Mas Karina e Letícia responderam por sua vez, que mesmo sem churrasco a comida estava boa.
E assim, serviram-se de arroz, brócolis, cenoura, chuchu, frios – como salame e lombo, queijo branco, frango, milho, ervilha, mini-raviolis. Também comeram torradas e patê.
Comeram bastante.
Por insistência de Alessandro, Karina e Letícia acabaram comendo um pouco de lingüiça.
A comida estava boa. Todos comiam com apetite.
Karina comentou que havia comido tanto, que poderia tranquilamente voltar rolando para casa.

Nos dias que se seguiram, Letícia realizou exames médicos (exigidos pelo edital do concurso) e providenciou a documentação solicitada. Aproveitou para ir ao Poupatempo solicitar um Atestado de Antecedentes Criminais. Tirou fotos 3 por 4, providenciou cópias autenticadas de seu diploma, Certificado de cursos que havia realizado, entre outros documentos.
Mais tarde, compareceu no auditório da instituição para tomar posse de seu cargo.
Karina comentou que aquele era um grande momento para Letícia, e que ela deveria saborear cada minuto dele, para lembrá-lo para sempre.
A moça riu do entusiasmo da mãe.
Após tomar posse do cargo, a moça passou por um treinamento. Palestras sobre direito ambiental, sobre a estrutura da instituição – seus setores, departamentos.
Somente depois de algumas semanas, a moça começou a trabalhar de fato na repartição.
Letícia estava ansiosa para começar a trabalhar.
E assim com o tempo, passou a trabalhar com questões ambientais.
Em seu trabalho, começou realizando pesquisas sobre o assunto em todos os meios de comunicação disponíveis. Participava de cursos, fóruns, palestras e debates sobre o assunto. Enfim, se capacitava para poder transmitir conhecimento para outras pessoas.
Também realizava atividades burocráticas dentro da repartição.
Com o tempo, passou a ministrar cursos em escolas.
Quando ministrou a primeira palestra, Letícia estava deveras nervosa. Diversas vezes pensou que não conseguiria transmitir as informações.
Dificuldades dos primeiros tempos.

Quando começou a trabalhar na repartição, logo a moça conheceu Marli, Mercedes e Jovelina. As três mulheres, logo simpatizaram com ela. Tanto que foram logo explicando-lhe como funcionava o trabalho interno. Orientaram a organizar o arquivo, a coletar material na internet, na imprensa. Comentaram que elas vez ou outra, concediam entrevistas para os meios de comunicação informando sobre os trabalhos de consciência ambiental na repartição, passavam informações para outros setores, realizavam pareceres e consultas.
E aos poucos, Letícia foi se inteirando do trabalho na repartição.
Empolgada, a moça comentava genericamente sobre o trabalho, sobre o que estava aprendendo, sobre o que poderia fazer.
Karina e Flávio eram os maiores entusiastas do novo trabalho da moça. Estavam tão animados quanto Letícia.
Passado algum tempo, Letícia passou a elaborar projetos de gestão ambiental. Para escolas, escritórios, empresas, etc.
Com efeito, conforme dito, Letícia começou a fazer pequenas apresentações em escolas primárias, grupos pré-escolares, devidamente assessorada pelos colegas.
Nisto sempre que sua mãe e os pais de Flávio, e o próprio Flávio a viam, faziam questão de lhe perguntar como estava indo seu trabalho.
Letícia, dizendo poucas palavras, comentou que às vezes apresentava palestras sobre direito ambiental.
Flávio demonstrou-se interessado. Queria saber mais detalhes sobre o trabalho da moça.
Letícia sem jeito, comentou que não tinha mais nada a dizer. Dizia apenas que era um trabalho promissor e que poderia fazer muitas coisas.
Flávio, percebendo isto, parou de fazer perguntas.
A moça estava começando a tomar pé de seu trabalho.
Flávio por sua vez, fazia questão de incentivar a moça. Dizia sempre que seu trabalho tinha importância:
- Ah, tem sim! Seu trabalho é muito interessante!
Com efeito, a moça queria comentar as possibilidades do novo emprego, mas ainda não se sentia segura para comentar detalhes.
Flávio porém, insistia em saber mais detalhes de seu trabalho.
De tanto insistir, Letícia acabou contando que estava estudando a possibilidade de realizar projetos de gestão ambiental, que pudesse ser utilizado em escolas, empresas.
Flávio comentou que ela deveria investir nisto. Disse mais. Comentou ainda que se pudesse, sugeriria a implantação de um projeto no escritório.
Letícia achou graça.
- Não tem nada certo ainda. – respondeu.
- Mas aposto que com o tempo terá. – insistiu Flávio.
Karina também dizia que a filha iria longe.
Comentava que a Letícia estava bem mais feliz em seu novo emprego.
Aplicando a mesma tática de Flávio, aos poucos foi descobrindo em que consistia o trabalho da filha.
Perguntando aqui e ali, acabou descobrindo que a moça se apresentava em escolas, entre outros detalhes de seu trabalho.
Karina por sua vez, trabalhava em uma creche. Trabalho de meio período, onde cuidava de crianças pequenas.
Dizia que era para ocupar seu tempo.
Argumentando com suas vizinhas que seu bebê havia crescido, comentou que agora se realizava cuidando de outros bebês.
Quando Letícia ouvia isto, logo pedia para a mãe parar com a brincadeira.
Ficava muito sem jeito com esta história. Principalmente quando Karina falava isto na frente de conhecidos da moça.
Flávio ao ouvir isto, começou a brincar com a moça.

Dizia:
- Bebê! Bebê! O bebê cresceu!
- Fique quieto! – respondia Letícia impaciente – Isto não tem graça!
Ao perceber que ela ficava irritada com a brincadeira, Flávio vinha com afagos, dizer que só estava brincando.
Letícia afirmava sempre, que não gostava daquele tipo de brincadeira.
Quando Karina via a filha amuada por conta da brincadeira, dizia que ela estava querendo chamar a atenção.
Dito isto, tratava logo de abraçar a moça.
E assim, Letícia acabava vencida.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Para se Viver um Grande Amor

Introdução

Saudade de um tempo que não volta mais.
De um tempo em que as pessoas se preocupavam em viver com mais intensidade, contemplando a beleza da essência das coisas.
Do tempo em que na cama de madrugada, quando ouvia uma canção especial, se transportava no tempo e no espaço.
Sonhava com um tempo passado, remoto.
Imagina mil mundos de sonhos e fantasias...

Hoje, ficar a contemplar a vida pela vidraça, pela janela.
Onde estará?
Sentimos saudades do tempo em que estavas presente.
Dos teus primeiros passos, das palavras que dissestes, até de teus sonhos.

Será que continuas a sonhar?
Disseram que um dia irás despertar deste torpor.
Quando?

Espero que não tardes a despertar.
Ansiamos tua volta...

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.