Mais tarde, Ana conversando reservadamente com sua tia Florinda, comentou que iria registrar a criança como se fosse seu filho.
A mulher perguntou se Cláudia tinha conhecimento de seus planos.
Ana disse que sim. Que a moça havia questionado o fato, mas diante das circunstâncias concordou que isto era o melhor a ser feito.
Florinda respondeu que não iria se intrometer.
Mas chegou a perguntar se o melhor não seria deixar a moça assumir a responsabilidade.
Ana retrucou dizendo que o melhor seria a moça cuidar de seu futuro.
Argumentou que ainda tinha idade para ter filhos, e que ninguém iria se chocar com o fato de ter um filho na madureza.
Florinda concordou.
De fato, Ana, do alto de seus quarenta e três anos, poderia perfeitamente ser a mãe da criança.
Animada, Florinda comentou que montar a casa, de acordo com seu gosto, custou muito dinheiro, mas valeu a pena.
Mostrou os banheiros dos quartos de hóspedes, com suas várias camas. A sua suíte, com closet e varanda.
Ana ficou admirada com o capricho da decoração dos ambientes.
Elogiou o bom gosto da anfitriã. Disse que os quartos de hóspedes não ficaram impessoais.
Ana comentou que na casa antiga, cada um de seus filhos tinha um quarto.
Florinda argumentou que todos estavam casados, e que não havia mais necessidade de terem quartos na casa, podendo ficar perfeitamente instalados no quarto de hóspedes.
No andar inferior, a ampla cozinha, com forno, churrasqueira e fogão a lenha, duas mesas de madeira maciça, prateleiras de alvenaria, fogão a gás. Sala de jantar com uma imensa mesa com capacidade para trinta convidados, ampla sala, área de serviço, lavabos, quarto de despejo, e um pequeno ateliê, e escritório. Todos os ambientes avarandados, com vista para o belo verde da chácara.
Árvores circundavam a propriedade. Grandes e frondosas.
Banquinhos de praça, ornamentavam o jardim em frente à casa.
No jardim, havia um pequeno lago, com ponte e um coreto, além de uma pequena fonte que ficava iluminada à noite.
Cláudia ficou encantada.
Dizia que não havia nada disto antes.
A horta estava mais farta e mais cuidada.
Os cães ficavam em um pequeno canil.
O gado tinha coxo para beber água, pasto demarcado, e um abrigo para dormir. Assim como as aves.
Florinda comentou que um veterinário visitava quinzenalmente o lugar.
Ao fundo havia uma capela. Florinda disse que ela foi reconstruída e ampliada.
Próximo dali, havia duas casas construídas para os caseiros que ajudavam a cuidar da propriedade.
Florinda pediu licença as mulheres, e mostrou os imóveis para as convidadas.
Casas com quatro quartos amplos, sendo um deles suíte, dois banheiros sociais, ampla sala de estar, sala de jantar, cozinha com forno e fogão à lenha, fogão a gás, uma grande mesa, e armários de alvenaria. Os utensílios de cozinha ficavam pendurados em uma das cozinhas. Na outra residência tudo era cuidadosamente guardado em gavetas e armários.
A área de serviço, ficava do lado de fora, e as roupas eram estendidas em varais que ficavam no fundo das casas.
Na casa grande, havia uma ampla área para estender as roupas. O ambiente, com portas de correr, era aberto quando necessário.
Ana comentou sorrindo que a tia Florinda pensava em tudo.
Florinda agradeceu a gentileza das funcionárias que permitiram-lhe mostrar as casas e seguiu para o pomar.
Mostrou orgulhosa as árvores.
Mostrou as flores que compunham o jardim, com lírios de diversas cores, maciços de beri, hortências, hibiscos, primaveras coloridas, azaleias, lágrimas de Cristo e corações sangrentos, camarões, dipladênias, hipoméias, gardênias, jasmins, damas-da-noite, ixoras, camélias, ipês, quaresmeiras, lantanas, bromélias, orquídeas, rosas de diversas cores, entre outras espécies.
Mostrou uma estufa que havia construído para cultivar algumas espécies de flores, além de frutas e verduras mais delicadas.
Florinda e Licínio, seu marido, comentaram que diversificaram as culturas e as criações.
Mostraram suas plantações.
Licínio comentou que algumas terras não foram cultivadas, a fim de se preservar a terra, e poder fazer a famigerada rotação de cultura.
Empolgado, o homem explicou, que a terra não podia ser esgotada ou não produziria o que esperavam. Assim, deixavam a terra sem cultivo por algum tempo, e assim, a mesma se recuperava do desgaste a que fora submetida ao ser cultivada. Descansada, depois voltava a ser cultivada, e assim, outra terra passava pelo processo. Livre de culturas, se recuperava, para voltar a ser cultivada.
Animado o homem comentou que as terras eram irrigadas por gotejamento.
Mostrou um poço.
Relatou que na propriedade havia uma nascente e demonstrou preocupação em preservar algumas espécies nativas.
Quanto mais passeavam pela propriedade, mais as mulheres se encantavam.
De fato estava tudo mudado.
Florinda e Licínio haviam se profissionalizado. Comentaram que buscaram assessorias.
Disseram que dois dos filhos eram engenheiros agrônomos.
Mencionou que possuíam netos que abraçaram a mesma profissão.
Cláudia lembrou-se das brincadeiras com os primos, netos de Florinda.
No dia seguinte a moça foi a consulta marcada pela tia, acompanhada de Florinda, sua mãe e Licínio.
Um tanto constrangida e a contragosto.
Ao perceber que todos já sabiam de sua gravidez, a moça caiu em prantos.
Foi Florinda quem abraçou a sobrinha e tratou de consolá-la.
Disse que ela não devia se envergonhar. Pois gerar uma vida, era uma das mais nobres missões que uma mulher poderia desempenhar. Contou que não a censurava pelo ocorrido. Comentou que o rapaz que fizera isto com ela, este sim era um canalha.
Florinda pediu a Ester, que providenciasse um copo de água com açúcar para a moça.
Cláudia bebeu a água.
Florinda aconselhou-a descansar, pois o dia seguinte seria longo.
Cláudia contudo, não conseguiu dormir direito.
Acordou sonolenta.
Estava um pouco abatida.
Ana insistiu com a filha para comesse um pouco.
Na mesa farta da cozinha, havia frutas diversas: mamão, melão, melancia, salada com frutas diversas, morango, queijo feito no sítio, muçarela, mortadela, pão caseiro, geleia de laranja e de morango caseiras, doce de leite caseiro, manteiga, croissant - receita de Ester. Além, de leite fresco, sucos de laranja, limão, e vitaminas feitas de morango e coco, também caseiros, além de pães feitos na propriedade.
Florinda dizia que montar um lauto café da manhã daqueles dava um trabalhão, mas que o esforço compensava quando via todos comendo as iguarias servidas com satisfação.
Ana olhou para a filha e comentou que seria uma desfeita ela não comer nada do que lhe era oferecido.
Cláudia, então se serviu da salada de frutas e de uma vitamina de morango.
Depois, seguiram para a cidade.
No consultório, a moça foi devidamente examinada.
Ana mostrou os exames realizados pela filha em São Paulo.
O médico observou os exames, mas pediu mais exames.
Disse que avaliando o quadro geral, o médico respondeu que tudo parecia estar bem.
Cláudia e Ana agendaram os exames.
Os dias que se seguiram, Cláudia realizou vários exames.
Na chácara a moça aproveitava para passear pelo lugar.
Colhia frutas no pé.
Ajudava a colher frutas e condimentos, temperos no pomar.
Aprendeu a ordenhar as vacas, a recolher os ovos das galinhas.
Adorava observar os pavões, os patos, os gansos e os pintinhos.
Ana perguntava a Florinda se não era perigoso ela ficar tão perto dos animais.
Florinda disse que os gansos eram para garantir a segurança da propriedade, e que Cláudia não deveria ficar muito perto deles, pois eram agressivos.
Ana não gostou nada quando a filha tentou subir numa árvore para colher uma fruta.
Comentou que ela estava abusando da sorte.
A moça também aproveitava para tomar banho de piscina.
Na chácara havia três cavalos e uma cocheira.
Ana proibiu a filha de andar a cavalo.
Fato este que deixou Cláudia contrariada.
Quando chegou o carnaval, Florinda não cabia em si de contente.
Cercada dos três filhos e netos, além de alguns agregados, a casa estava repleta.
Cafés da manhã mais elaborados, com creme de mamão, abacate, torradas, geleias, sucos e vitaminas, além de pães, queijos, manteiga, croissant’s e pães doces, leite. Tudo produzido na chácara.
Nestes dias, até os filhos e maridos ajudavam nas receitas e preparativos.
Flores e arranjos eram feitos para deixar a mesa ainda mais enfeitada.
Os homens ajudavam na lida, em cuidar da horta, na segurança.
A chácara era toda circundada por uma cerca, repleta de primaveras de diversas cores e hibiscos simples e dobrados. Tudo muito lindo.
Pássaros cantavam nas janelas dos quartos.
Damas da noite perfumavam o lar.
Reunidos, a família jogava cartas.
Os rapazes jogavam bola em um gramado.
Florinda havia instalado traves no local, e os moços jogavam bola.
Na piscina, às vezes era instalada uma rede, e se jogava polo.
Florinda mencionava o interesse em montar um salão de jogos em um quarto pavimento a ser construído, além de construído um parquinho para os bisnetos, e um mini campo de golfe.
Ana comentou que ela não parava um instante sequer.
Licínio comentou que era por isto que estavam vivos. Dizia que viver é mover, que a vida é mudança e movimento.
Ana concordou.
Nos dias na chácara, quando não estava no centro da cidade, realizando exames, Cláudia aproveitava para curtir o lugar, passeava pelo sítio chegando a ir até a porteira. Visitava o pomar, o jardim, a horta, as plantações, onde havia um espantalho, o lago, o pasto, o local onde ficavam as criações.
Aproveitava para ler bastante, estudava, mesmo estando longe da faculdade. Lia livros de literatura. Assistia filmes na tevê e com o vídeo cassete.
Florinda elogiava a dedicação da sobrinha, dizia que ela era muito estudiosa.
Mencionou que ela seguia todas as recomendações médicas. Ajudava nas lidas da chácara. Chegou até a auxiliar na cozinha, na arrumação da casa.
Ana também lavou e guardou muita louça, ajudou a pôr a mesa, e até preparou algumas refeições.
Cafés da manhã, almoço, lanches da tarde com vários chás, pães, geleias, torradas, frutas, sucos e vitaminas, além de cereais, jantares. Tudo era muito farto.
A cristaleira na sala de jantar, com suas louças delicadas, que eram utilizadas em ocasiões solenes.
E assim, alguns jantares e almoços eram preparados com todo o requinte.
As pessoas vestiam suas melhores roupas, riam, se divertiam, conversavam, debatiam, falavam bobagens.
Alguns bebiam pouco além da conta.
Florinda, se divertia com estas reuniões.
Até baile de carnaval foi organizado, com concurso de fantasias.
Ana providenciou uma fantasia para a filha. Até mascara tinha. Cabelos presos enfeitados de mini rosas em botão, colhidas do jardim, um tecido amarrado no corpo, imitando os trajes gregos, pulseiras nos braços, acima dos cotovelos. E cinto dourado. Sandálias brancas.
Florinda ao ver a sobrinha neta, comentou que ela estava muito linda.
No baile, havia borboletas, com asas coloridas e saias de tule, sereias, rabo feito de renda, toda estilizada, piratas, malandros cariocas, princesas europeias, Peter Pan, Saci Pererê, Iara com corpo de pássaro. Aliás, havia umas três pessoas fantasiadas de pássaros, e uma de rosa.
No jardim, foram lançados confete e serpentina.
As pessoas dançavam, sambavam.
Quem deu o veredicto, foi Licínio, que apurou os votos.
E a vencedora foi a Iara, com seu corpo de mulher, e suas asas de pássaro, lembrando as mais belas lendas brasileiras.
A moça foi aplaudida por todos.
Ninguém se sentiu prejudicado com a escolha.
Cláudia se divertia com tudo, e se divertindo, se esquecia dos problemas.
Ana ficava feliz em ver a filha novamente animada.
Dizia se sentir aliviada. Comentou que há muito tempo não via a filha tão feliz.
Florinda ficou feliz com o comentário.
A família também aproveitou para curtir a bela piscina, e as crianças se esbaldaram com a piscina infantil, com os animais.
Cláudia brincava de boneca com as meninas, jogava bolinha de gude com os meninos.
Florinda, comentou que a moça levava muito jeito com crianças.
Mais tarde, os filhos, netos e agregados, aproveitaram para se despedir.
Carros e mais carros saíam da chácara.
Até que a casa ficou praticamente vazia de novo.
Florinda sentia um misto de alívio pelo dever cumprido, e saudades por não ver mais aquela confusão, o barulho das vozes, as gritarias, algazarras.
Enfim, deixou a confusão de sentimentos de lado, e tratou de organizar uma força tarefa para limpar a bagunça.
Florinda, Ana, Cláudio, Licínio, Ester, seus filhos, marido e demais caseiros, aproveitaram para fazer uma limpeza completa na casa.
Foram lavadas, muitas louças, roupas de cama, toalhas de banho, de mesa. A prataria foi polida, as panelas ariadas, os ambientes varridos, e limpos com um pano perfumado e úmido, as janelas foram limpas, os móveis também. Roupas lavadas e estendidas.
Tamanha a quantidade de roupa, foi preciso utilizar os varais externos.
Varais inteiros de roupas, brancas, coloridas.
Depois de secas, as roupas foram dobradas e passadas.
Tudo cuidadosamente guardado em gavetas perfumadas.
A casa brilhava de limpa, perfumada e organizada.
Florinda ficou satisfeita.
Era a dona da casa, mas não parava de trabalhar.
Levantava bem cedo e só parava no final do dia.
Ana admirava a tia. Dizia que a mulher era uma guerreira, a mente sempre trabalhando.
Na quarta-feira de cinzas, todos foram dormir muito tarde.
Cláudia, colocou uma camisola, puxou o lençol e deitou-se na cama.
Ficou pensando em como estariam as coisas na faculdade.
Mais tarde, Cláudia tomou conhecimento de que Letícia a procurou em busca de notícias preocupada com o seu sumiço.
Ana contou a filha, que as pessoas sentiam sua falta.
Ao saber disto, Cláudia se emocionou.
Resolveu escrever uma carta para a amiga.
Ana recomendou-lhe não contar sobre a gravidez.
Letícia recebeu a carta.
Nela Cláudia justificava sua ausência em razão de estar acompanhando a mãe em um tratamento de saúde.
Relatou que precisaria ficar um longo tempo afastada. Por fim, pediu para a amiga se cuidar, e desejou felicidades a ela e a Sandro.
Ao receber a carta, a moça respondeu a amiga.
Pediu mais informações sobre o estado de saúde de sua mãe, disse sentir saudades. Desejou melhoras a Ana e o seu mais pronto restabelecimento. Comentou que Lucindo perguntou por ela.
Quando a moça recebeu a carta, Ana quis logo saber das novidades.
Cláudia não leu a carta para a mãe, mas comentou que Letícia acreditou na história da doença.
Chateada, a moça comentou que não gostava de mentir.
Aborrecida, Ana advertiu-a:
- Cláudia, não comece!
A moça então se calou.
Com isto, mais consultas se seguiram, exames.
E o doutor elogiando o estado clínico da moça, dizendo que seria uma gravidez tranquila.
E assim foi.
Cláudia auxiliava nos afazeres domésticos.
Lia, estudava, tomava banhos de piscina.
Com o tempo a barriga começou a aparecer.
Ana, Cláudia e Florinda, foram as compras.
Quem dirigiu o carro não foi Licínio que acordara um pouco indisposto.
Mauro, um senhor de cerca de quarenta anos, conduzia o carro.
Procuraram lojas com roupas para grávida e roupas e objetos para compor o enxoval do bebê.
A esta altura, Cláudia já havia realizado sua primeira ultrassonografia, e descoberto que seria um menino.
Pensando no assunto, decidiu que o menino se chamaria Lúcio.
As mulheres ficaram o dia inteiro na rua.
Cláudia experimentou roupas em diversas lojas.
Como fosse uma grávida esbelta ficou um longo tempo usando suas roupas, sem precisar compras roupas novas.
Com isto, a moça adquiriu três calças com elástico, com corte clássico, duas saias, dez batas, quatro vestidos.
Ana empolgada, comprou vários macacões em diversos tamanhos, banheira, carrinho, chocalhos, muitas fraldas de pano, carrinho, babadores, mamadeiras, toalhas, cobertores, berço, alguns brinquedos, calças plásticas, shampoo, sabonetes, pomadas, calças, blusinhas, casaquinhos, toquinhas, meias, sapatinhos de tricô, e de couro.
Cláudia perguntou a mãe se ela não estava exagerando.
Ana disse que estava revivendo o nascimento da filha, nesta nova criança e que gostaria que tudo fosse muito especial.
Almoçaram em um restaurante da cidade.
E ao final da tarde, estavam repletas de sacolas.
Os braços de Ana, Cláudia, Florinda e Mauro foram poucos para tantas compras.
Chegaram exaustas na chácara.
Cláudia passou o resto do dia organizando as compras.
Isto depois de um jantar, com frango assado e batatas, suco de laranja e manjar com calda de ameixa como sobremesa.
Ana separou o que precisava ser lavado.
Recomendou que as roupinhas do bebê fossem lavadas.
Cláudia sugeriu que o menino se chamasse Lúcio.
Ana comentou que Lúcio era um bonito nome.
Ao ver o entusiasmo da mãe, a moça se entristeceu.
Ana ao perceber isto, comentou que ela não estava perdendo um filho, e sim ganhando um irmão. Disse que estava fazendo isto para protegê-la e para que pudesse continuar com seus estudos, sem nenhum prejuízo, garantindo seu futuro.
Argumentou que ela veria a criança todos os dias, e que poderia ajudar na criação de Lúcio. Só não poderia contar que era sua mãe.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Poesias
quarta-feira, 21 de julho de 2021
DELICADO - CAPÍTULO 6
DELICADO - CAPÍTULO 5
No dia seguinte, Cláudia não respondeu ao chamado da mãe para acordar.
Ana tentou entrar no quarto, mas a porta estava trancada.
Preocupada, comentou o fato com o marido.
Jacinto, comentou que ela deve ter voltado muito tarde, e devia estar com muito sono.
Ana concordou em deixar a filha dormir.
E Cláudia só foi levantar-se da cama por volta das duas horas da tarde.
Ana perguntou-lhe da festa e Cláudia respondeu que correu tudo bem.
Ficou intrigada com a resposta. Tanto que indagou:
- A senhorita passa a noite inteira fora, e a única coisa que tem para dizer é que tudo correu bem? Poxa! Achei que a festa tivesse sido animada.
Cláudia estava abatida.
Ana percebeu isto, e questionou a filha:
- Correu tudo bem, mas você não me parece nada bem!
Cláudia respondeu que havia bebido um pouco mais do que devida, e havia se sentido mal. Comentou que saiu da festa e foi para a casa de uma colega da faculdade.
Ana perguntou o nome da colega.
Cláudia argumentou que ela não conhecia.
Ana não ficou muito convencida.
Tanto que mais tarde, foi conversar com Letícia para saber o que havia acontecido.
A moça respondeu que Cláudia saiu repentinamente da festa, e que pensou que ela havia voltado para casa, pois isto fora o que ela dissera que iria fazer.
Quando Ana lhe contou a explicação que a filha lhe dera, Letícia comentou que não sabia de quem Cláudia poderia estar falando.
Cautelosa porém, Letícia evitou falar de Roberto. Achou que não deveria fazê-lo.
Ana, agradeceu a moça. Despediu-se.
Letícia despediu-se, e tentando acalmá-la, disse que a amiga bebeu um pouco demais, e que deve ter ficado constrangida de voltar para casa daquela forma. Por isto, deve ter ido para a casa de uma amiga.
Ao voltar para casa, Cláudia estava trancada em seu quarto.
Não queria falar com ninguém.
Ana insistiu, mas nada da filha abrir a porta.
Ficou preocupada.
Nos dias que se seguiram, a moça não queria saber de comer.
Ficava pouco tempo com os pais.
Faltou alguns dias na faculdade.
Roberto sumiu.
Temeroso de ser descoberto, o moço resolveu trancar sua matrícula na faculdade.
Roberto abandonou seu emprego.
Convenceu a esposa a se mudar do lugar.
Argumentou que sem emprego, precisariam se mudar para um lugar mais simples, sem tantos luxos e despesas.
Foi então que Laura o convenceu a ficar algum tempo na casa dos pais, e assim que encontrasse um novo trabalho, poderiam alugar um novo apartamento.
Roberto estava nervoso.
Laura desconfiou do marido, mas procurando evitar discussões, concordou com a mudança.
E assim, ao longo de duas semanas, o casal se mudou do local.
Cláudia, com o passar dos dias, foi se recuperando do baque.
Embora a filha não comentasse, Ana sabia que algo de muito grave havia acontecido. Isto a deixava bastante preocupada.
Fato este que não passou despercebido de Jacinto, que perguntou-lhe que estava se passando.
Ana porém, tentando pôr panos quentes, dizia que nada havia acontecido.
Jacinto não se convenceu, mas ao perceber que a mulher não lhe diria nada, embora a pressionasse, resolveu deixar o tema de lado. Pensou que com o tempo, descobriria o que estava acontecendo.
Estranhava o jeito da filha.
A tristeza de Cláudia.
Por diversas vezes, chegou a lhe perguntar o que estava acontecendo.
Mas a filha lhe dizia que estava tudo bem.
Contudo não se alimentava, e nem dormia direito. Não tinha disposição, nem vontade de estudar.
Letícia ficou preocupada com o sumiço de Cláudia.
Comentou o fato com sua mãe, Helena, que a aconselhou a visitar a amiga. Disse-lhe que devia retribuir o gesto de amizade.
E assim, Letícia foi visitar Cláudia.
A jovem, ao ouvir o nome da amiga, pediu a mãe que se desculpasse com ela, mas que preferia ficar sozinha.
Ana repreendeu-a e disse que seria uma grande desfeita não receber sua amiga. Comentou que Letícia estava preocupada com suas faltas, e queria apenas vê-la. Disse que a moça iria entrar em seu quarto, e que portanto tratasse de se arrumar um pouco. Ressaltou que não iria aceitar nenhuma desfeita.
Contrariada, Cláudia concordou em receber a amiga.
Letícia ao ver Cláudia abatida, tratou logo de abraçá-la.
Perguntou-lhe o que havia acontecido. Disse que estava preocupada.
Cláudia chorou.
Nervosa, não conseguia dizer uma só palavra.
Ana e Letícia, ao perceberem isto, ficaram preocupadas.
A mulher então, trouxe um copo de água com açúcar para a filha. Pediu para que se acalmasse.
Letícia então, pediu a amiga que bebesse a água.
Cláudia atendeu ao pedido.
Depois de algum tempo, Letícia perguntou-lhe o que estava acontecendo.
Cláudia disse que não estava acontecendo nada.
Embora Ana e Letícia insistissem para que a moça contasse o que estava acontecendo, Cláudia se fechou em copas. Nada disse.
As mulheres se entreolharam preocupadas.
Por fim, convencida pela mãe e pela amiga, Cláudia voltou a frequentar as aulas.
Realizou as provas finais.
Compensou os dias que faltou ao trabalho. E concluiu o contrato temporário.
Estudou para as provas.
Com o tempo, Cláudia acabou confessando para Letícia, que foi para a cama com Roberto, e que não sabia o que fazer.
Confessou que sentia muito mal estar, e que não tinha vontade de comer. Argumentou que alguns cheiros lhe embrulhavam o estômago.
Letícia desconfiou que a amiga estivesse grávida.
Circunstância a qual Cláudia negou veementemente. Disse que havia usado camisinha.
A amiga porém não se convenceu.
Mas como Cláudia não tocou mais no assunto, não insistiu no tema. Sabia que era um assunto complicado para a amiga.
Com isto, as amigas voltaram a fazer os programas que faziam juntas como estudar e ir ao cinema.
Quando Sandro soube que Cláudia não estava bem, não criou problemas. Disse que Letícia devia ficar mais tempo com sua amiga, até a moça ficasse bem. Não fez perguntas indiscretas e respeitou o silêncio de Cláudia.
As jovens fizeram as provas de final de semestre.
Como sempre, Cláudia tirou boas notas.
Letícia também teve um bom desempenho.
Passaram de ano sem problemas.
Finalmente o ano letivo acabou.
Com efeito, em que pese o término do ano letivo, para Cláudia o clima continuava pesado.
Ana continua preocupada com o comportamento da filha.
Lucindo por sua vez foi visitá-la algumas vezes.
Parecia preocupado com a moça.
Cláudia contudo, dizia que estava tudo bem.
Lucindo ao ficar a sós com a moça por um instante em uma de suas visitas, perguntou-lhe se havia encontrado novamente Roberto.
Cláudia respondeu-lhe que não. Dizia que não queria se lembrar do que havia acontecido. Pediu quase chorando, que ele não contasse à sua mãe, sobre o que havia visto.
Lucindo, nervoso e arrependido de tocar no assunto, pediu desculpas a moça.
Disse que nunca mais tocaria no assunto. Pediu-lhe novamente desculpas.
Nisto, abraçou a amiga.
Ana ao ver o rapaz abraçando a filha, perguntou o que estava acontecendo.
Cláudia desconversando, comentou não se sentia bem.
Lucindo então comentou que não pretendia incomodar e que por isto, estava indo embora. Pediu desculpas por qualquer incômodo, e deixou seu telefone.
Disse que Cláudia poderia ligá-lo sempre que precisasse de ajuda.
A moça agradeceu, mas ressaltou que estava tudo bem. Que não havia com o que se preocupar.
Ana por fim, ao conduzi-lo até a sala, agradeceu a visita.
Cláudia voltou a ficar acamada.
Com o tempo, a moça acabou tendo de contar a mãe, que receava estar grávida, e o que aconteceu no dia da famigerada festa.
Afinal seus mal-estares começaram a ficar constantes. E caso estivesse grávida, não conseguiria esconder o fato por muito tempo.
Assim, encheu-se de coragem e foi conversar com a mãe.
Ana ao ouvir os fatos, ficou furiosa com a filha.
Cláudia por sua vez, pensou que iria apanhar, ser expulsa de casa ...enfim...
Mas não.
Ana, tentando se recuperar do susto, resolveu colocar as ideias em ordem.
Pensou, que havendo uma suspeita de gravidez, deveria levar sua filha ao médico.
Desta forma, sua mãe, tratou de agendar uma consulta para a filha.
Para surpresa de todos, ao final de algum tempo, a gravidez foi confirmada.
Ana e Cláudia tiveram que contar a novidade para Jacinto.
Pressionada, a moça se recusou a revelar a paternidade da criança. Argumentou que o moço havia fugido e que não faria diferença dizer quem era.
De fato, ao retornar a faculdade, Cláudia descobriu que Roberto havia sumido.
Mais tarde, tomou conhecimento de que o moço havia trancado sua matrícula.
Algumas pessoas diziam que ele havia abandonado seu emprego e passado a morar no interior com sua esposa.
Lucindo chegou a descobrir em conversas, que o moço não havia concluído sua faculdade anterior, e que havia tido problemas ao se envolver com uma aluna menor de idade em outra instituição.
Cláudia ficou perplexa ao ouvir as palavras do amigo.
Nervosa, precisou ser amparada por ele.
Como Cláudia não reunisse condições de permanecer nas dependências da faculdade, Lucindo resolveu levá-la dali.
Chamou um táxi.
Como a moça pediu para não voltar para casa, Lucindo resolveu levá-la até sua casa.
O moço dividia a moradia com um casal de tios.
Quando Cláudia soube do fato, comentou que ele nunca comentara que não vivia com seus pais.
Disse que eles haviam falecido há alguns anos atrás.
Cláudia ficou penalizada.
Disse sentir muito.
Lucindo porém, percebendo que o problema de Cláudia era grave, perguntou-lhe se estava precisando de ajuda.
A moça respondeu que não.
Lucindo disse-lhe que não iria fazer-lhe mais perguntas sobre o dia fatídico, mas precisava saber se ela estava grávida de Roberto.
Surpresa com a pergunta, Cláudia respondeu-lhe que não.
Por fim, mais calma, a moça agradeceu a acolhida e pediu para retornar a casa.
Lucindo, pegou emprestado o carro do tio, e levou a moça para casa.
Confirmada a gravidez, Ana tentou pressionar Letícia para contar com quem Cláudia havia saído, mas a moça respondeu-lhe que somente quem poderia contar o que se sucedeu seria a própria Cláudia, pois ela não tinha como saber quem era.
Ana foi até a casa de Letícia para indagá-la a respeito do fato.
Porém, ao ouvir a resposta da moça, a mulher ficou furiosa.
Saiu da casa da jovem, sem se despedir.
Letícia ficou perplexa com a reação da mulher.
Nisto, o ver Ana sair da residência, Helena, a mãe de Letícia, perguntou a filha o que havia acontecido.
A moça contou que Ana veio perguntar sobre Cláudia, mas ela não sabia nada a respeito.
Indignada a mulher comentou que quem tinha que saber da vida de Cláudia, era Ana, e não sua filha.
Furiosa, comentou:
- Onde já se viu? Mulherzinha desaforada!
Jacinto por seu turno, ao saber do ocorrido, chamou a atenção da esposa.
Disse que ela não tinha o direito de interpelar a moça daquela forma.
Argumentou que a filha é quem deveria dar contas do ocorrido e proibiu a esposa de especular o assunto com terceiros. Afinal de contas, não era ela que não queria que ninguém soubesse do ocorrido?
Sim, Ana exigiu que a filha não contasse para ninguém sobre o ocorrido.
A mulher chegou a perguntar a filha se havia contado sobre a suspeita de gravidez para a amiga.
Cláudia respondeu-lhe que não.
Com tempo, mãe e filha foram a faculdade trancar a matrícula.
Letícia havia se matriculado anteriormente.
Ao encontrar-se com a amiga, Letícia animada, comentou que logo logo estariam concluindo o curso.
Cláudia sorriu.
A moça não contou dos planos da mãe de ficar alguns meses fora da cidade.
Ana mencionou a Jacinto, que elas ficariam alguns meses fora, na casa de uma tia.
A mulher contou o ocorrido para uma parente e pediu guarida.
Jacinto não concordava com aquilo, mas não conseguiu demover a esposa do intento. Dizia que a filha deveria assumir o erro.
Ana dizia que não queria que a filha fosse apontada na rua.
Com isto, mãe e filha arrumaram as malas e rumaram para o interior.
Letícia por sua vez, ficou surpresa ao retornar as aulas e não encontrar a amiga.
Ao conversar com Jacinto, descobriu que a moça havia viajado para o interior com a mãe, para realizar um tratamento de saúde.
Jacinto dizia que Ana andava meio adoentada e Cláudia acompanhou-a.
Letícia achou a história um tanto estranha, mas não questionou.
Apenas pediu notícias.
Jacinto, prometeu lhe dar notícias.
A moça agradeceu.
Ao chegar em casa, comentou que a mãe que a mãe de Cláudia havia adoecido e que precisaria fazer um tratamento no interior. Relatou surpresa, que a amiga a estava acompanhando. Intrigada, comentou que Cláudia não havia lhe falado nada sobre o assunto.
Helena orientou a filha a deixar o assunto de lado.
Letícia não comentou mais o assunto com sua mãe.
Ocupou-se dos estudos, do namoro com Sandro, que passou a frequentar a casa da família.
De vez em quando, após saber o endereço de uma caixa postal. Letícia passou a escrever para Cláudia.
Lucindo também procurou Cláudia.
Como não a encontrou, perguntou a Letícia sobre a moça.
A garota comentou que não sabia o que havia acontecido.
Disse que de vez em quando escrevia para a moça.
Preocupado, o moço pediu para que se fosse possível, o informar sobre qualquer novidade.
Intrigada, a jovem concordou.
Disse que o avisaria de qualquer novidade.
Lucindo agradeceu.
O rapaz dirigiu-se a casa de Jacinto, para obter maiores informações.
Ao lá chegar, foi informado que a moça iria ficar algum tempo no interior com sua mãe. Jacinto relatou que Ana estava doente, e que ele não poderia acompanhá-la por tanto tempo, já que estava trabalhando. O homem também comentou que não gostaria de falar sobre a doença da mulher, e que Cláudia a acompanharia pelo tempo que fosse necessário.
Lucindo agradeceu a informação, e foi embora.
E assim, de vez em quando o moço tomava conhecimento de notícias através de Letícia.
Com efeito, Cláudia e Ana, viajaram de ônibus até uma cidade do interior.
Para chegar a rodoviária, chamaram um táxi. Despediram-se de Jacinto, que desejou-lhes boa viagem.
A moça não parecia nem um pouco satisfeita com as mudanças de rumo em sua vida.
Ao subir no ônibus em que iniciaria a grande mudança de vida, a moça sentou-se ao lado da janela. Ficou observando o movimento do lugar, sem prestar atenção no que ocorria.
Quando Ana revelou seu intento, a moça tentou argumentar.
Disse que não se importava em assumir o filho que estava esperando.
Mas Ana disse que ela própria iria registrar a criança como sua.
A esta altura, Cláudia já havia realizado os primeiros exames.
Ana se preocupava com o fato de que em algumas semanas, já não seria possível esconder a gravidez.
Cláudia se lembrava da preparação para a festa.
De como se sentiu linda com sua roupa, da companhia dos amigos. Os drinks e as bebidas. O confronto com Roberto. Lembrou-se do despertar enrolada em um lençol, completamente nua. Angustiada, tentava compreender o que havia acontecido.
Roberto seria de fato, capaz de se aproveitar de uma situação de fragilidade sua, para satisfazer seus instintos?
Ao mesmo tempo, em que tentava esquecer... Impossível diante de uma gravidez... A moça tentava entender o acontecido.
Às vezes lhe vinha a lembrança de beijos roubados, de sua resistência às investidas do moço. Lembrou-se de sentir tontura.
Algumas lágrimas surgiram em seu rosto.
Cláudia imediatamente levava a mão ao rosto para enxugá-las. Para disfarçar, olhava pela janela, fingindo estar distraída.
Ana finalmente entrou no ônibus.
Olhou para a moça, que insistia em não olhá-la nos olhos.
Ouviu um suspiro.
Foi quando percebeu o choro da filha.
Ana ficou penalizada.
Tencionou passar a mão nos longos cabelos filha.
Não o fez. Achou que iria constrangê-la.
Cláudia apoiou-se no banco para observar o ambiente.
Em dado momento, Ana perguntou se a moça estava com fome. Preocupada, perguntou se ela não estava sentindo mal estar.
Cláudia balançou a cabeça negativamente.
Isto por que a moça chegou a sentir um pouco de mal estar nos últimos dias.
Preocupada, Ana providenciou chazinhos para a filha.
Pedia para a moça descansar.
Desde o sucedido, foi a primeira vez que Ana demonstrou algum carinho com Cláudia.
A mulher chegou a se lamuriar com o marido, ao saber do que sucedera a filha.
Comentou que não havia criado sua única menina, para ficar na boca do povo.
Custava a acreditar que aquela moça tão ajuizada fosse lhe preparar aquela falseta.
Jacinto só pensava em agarrar o rapaz que enganara sua filha, pelos colarinhos, e sacudi-lo.
Ana já dissera que tinha vontade de bater nele, dando-lhe uns bons sopapos.
Envergonhado, Jacinto andava tristonho que só.
Cláudia, não queria saber de sair de casa.
Não conseguia olhar os pais nos olhos.
Durante a viagem de ônibus, Ana lhe deu um remedinho para combater um possível enjoo.
Cláudia com o tempo, deixou o olhar perdido, contemplando a paisagem da estrada e adormeceu.
Ana chegou a acomodar a cabeça da filha em seu ombro.
Triste, acariciava seus cabelos e pensava: “Minha filha. Minha filhinha, por que?”
Havia sonhado muitas coisas para sua filha, muitos futuros e destinos diferentes. Nunca pensou que a vida lhe pregaria uma peça. Triste, pensava que sua filha fora ingênua demais, e que não havia preparado a moça para a vida.
Quando comentou isto com o marido certa vez, o homem admoestou-a dizendo para que parasse de dizer bobagens. Argumentou que ela era uma boa mãe, e que ele também sempre foi um bom pai. Contudo, nem tudo estava sob o controle deles, e que criar uma filha para ser boa, integra e honesta e não era demérito. Errado sim, era o mundo estar de pernas pro ar como estava.
Pensando nisto, a mulher começou a chorar baixinho.
Preocupada, ficou observando a moça, mas Cláudia não acordou.
A jovem dormiu praticamente a viagem inteira.
Só Ana que não conseguia pregar o olho.
A preocupação com o futuro da filha a consumia.
Agora era sua vez de contemplar a paisagem da janela.
Enquanto observava a paisagem que aos poucos ia se modificando, Ana constatou que não só a paisagem geográfica ia se modificando como também a paisagem de sua vida.
Ao longo da viagem o ônibus fez algumas paradas.
Cláudia continuava seu sono.
Quando o ônibus estava chegando próximo a cidade onde iriam descer, Cláudia acordou.
Ana perguntou-lhe se estava com fome.
Cláudia respondeu que não.
Ana insistiu que ela deveria se alimentar, pois estava há horas sem comer.
Cláudia porém, dizia não sentir fome.
Voltou o rosto para a janela. Ficou a observar a paisagem.
Quando chegaram na cidade, Florinda as aguardava.
Seu marido ajudou com as malas.
Levou Ana e Cláudia de carro para sua residência.
As duas mulheres pouco falavam.
Florinda falou que a propriedade estava linda, e que elas iriam gostar da estada.
A casa ficava afastada da área urbana da cidade.
Tratava-se de um sítio.
Cláudia recordou-se dos tempos de infância, em que passou algumas de suas férias, na propriedade.
Adorava tomar banho no lago, ver o bando de patos na lagoa, as galinhas, o galo, os pintinhos.
Nos últimos tempos, tinha até gado.
Ao se aproximar da propriedade, Cláudia ouviu o barulho dos animais.
Florinda comentou que nos últimos anos, adquirira umas cabeças de gado.
Ana perguntou dos cachorros.
Florinda comentou que os animais haviam morrido, mas que havia outros dois cachorros na chácara.
Disse que ainda eram filhotinhos, e que iriam crescer junto com a família.
Ao chegarem em frente a propriedade, Florinda desceu do carro e abriu a porteira. O carro entrou na propriedade. Florinda veio atrás fechando a porteira.
Voltou ao carro.
Seguiram a viagem em meio a palmeiras e outras árvores repletas de flores.
Era uma propriedade grande.
Feliz, Florinda comentou que ao longo dos anos, foram comprando mais terrenos.
Comentou que o pomar estava lindo, com mais de cem árvores frutíferas diferentes.
Possuía uma bela criação, com diversos animais. Agora havia tanques para criação de peixes.
A horta estava linda. Um lindo e exuberante jardim em frente a casa.
O antigo sobrado dera lugar a uma casa com três andares. A garagem ficava no primeiro pavimento. A casa ficava nos pavimentos seguintes.
A piscina fora substituída por um modelo maior, tendo ao lado uma piscina infantil.
Quando se aproximaram da casa, o homem estacionou o carro.
Entraram em um elevador e chegaram a casa.
Florinda acomodou mãe e filha em um dos quartos de hóspede. Tratava-se de um cômodo imenso, com varanda para observar a beleza da propriedade.
Nos dois pavimentos da casa, havia varandas e redes.
Cláudia começou a gostar do lugar.
As malas foram acomodadas num amplo guarda-roupa de alvenaria.
A moça comentou que tudo estava muito diferente.
Florinda concordou. Disse que antigamente o quarto de hóspedes era mais acanhado. Animada comentou que havia mais três quartos iguais aqueles, reservados somente para os hóspedes que recebia.
Eram quartos amplos, com até quatro camas em cada um, grande escrivaninha e televisão de tubo no quarto.
Curiosa, Ana perguntou se ela recebia muitas visitas.
Florinda comentou que nos feriados prolongados, muita gente se hospedava em sua casa, mas que ao longo do ano, as visitas eram mais escassas.
Ana demonstrou preocupação com o fato de descobrirem a gravidez da filha.
Florinda argumentou que o próximo feriado prolongado seria o carnaval, dali há alguns dias.
Tranquilizou Ana dizendo que ninguém descobriria que ela estava grávida.
Florinda comentou que a sobrinha neta estava muito bem.
Ana concordou dizendo que Cláudia estava bem.
Florinda lhe disse que havia tomado a liberdade de marcar uma consulta com um médico muito bom, para Cláudia.
Ana agradeceu o cuidado. Disse que sua maior preocupação era encontrar um bom médico para acompanhar a gravidez da filha.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
DELICADO - CAPÍTULO 4
Roberto, que observava tudo à distância, aproveitou para enviar um recado para a moça.
Quando um garçom passou pela mesa da garota, deixou um bilhete.
Cláudia, estava entretida vendo os amigos dançando.
Letícia usava um vestido florido, e Sandro, calça social e camisa polo.
O casal estava bem animado, dançando como se não tivesse ninguém por perto.
Muito felizes! Foi o que pensou no momento.
Ao notar o bilhete, Cláudia ficou surpresa.
Pensou: Alguém deve ter deixado cair! Por isto, tratou de ler o bilhete. Mas qual não foi seu espanto, ao perceber que o recado, era para ela.
Dizia: “Que bonita figura surgiu neste salão! Sei que andei meio sumido, mas gostaria muito de revê-la. Encontre-me no jardim, daqui mais ou menos quinze minutos. Carinhosamente, Roberto.”
Estupefata, Cláudia não conseguia compreender o porquê da mensagem. Sabia que o moço era educado, mas nunca achou que Roberto estava interessado nela. Muito pelo contrário. Sempre achou que Roberto arrastava asa para sua amiga Letícia.
Ademais, o moço ora aparecia na faculdade, ora sumia, sem deixar rastro, ou dar alguma satisfação.
Mais velho que a maioria dos estudantes, aparentava ter cerca de vinte e cinco anos ou mais.
Quando o viu na festa, Roberto, conversava com alguns rapazes, mas no grupo havia duas mulheres acompanhando-o.
Ao ler o bilhete, Cláudia pensou em não ir ao encontro. Tinha dúvidas sobre as intenções do moço.
Finalmente, o casal Letícia e Sandro voltaram à mesa.
Resolveram pedir uma bebida.
Sandro sugeriu que Cláudia também tomasse alguma coisa.
Letícia comentou que desde que chegaram, a moça não consumira nada.
A moça concordou então em pedir uma bebida.
Enquanto isto, o rapaz a aguardava no jardim.
Impaciente, Roberto viu se passar meia hora e nada de Cláudia aparecer.
Aborrecido, depois de quarenta minutos, voltou ao salão.
Nervoso pareceu se desentender com as duas mulheres que o acompanhavam.
As mulheres pareciam querer tomar satisfação.
Por fim, as duas se afastaram. Pegaram suas bolsas e foram embora.
Nervoso, o homem começou a beber. Tomou cerveja, vodka.
Seus amigos achavam graça.
A certa altura, Cláudia, foi chamada para dançar.
Lucindo a convidou para uma dança, no que a moça retrucou dizendo que não sabia dançar.
O rapaz respondeu-lhe que também não era um exímio dançarino, mas que eles poderiam inventar alguns passos, e que tudo ficaria bem.
Letícia a incentivou a aceitar o convite.
Cláudia então levantou-se e acompanhada de Lucindo, dirigiu-se ao centro do salão.
Meio sem jeito, acabaram por encontrar uma forma de dançar.
Letícia e Sandro, acharam uma graça os dois dançando.
A moça sugeriu a Sandro convidar o rapaz para sentar-se à mesa.
Nisto, a dupla dançou por cerca de vinte minutos. Sempre que a dança acabava, Lucindo a puxava pelo braço.
Quando o moço a levou de volta a mesa, Sandro brincou com ele:
- Sente-se conosco à mesa, Jonh Travolta.
Lucindo riu. Comentou que não merecia tanto.
Cláudia agradeceu.
Lucindo sorrindo, disse que foi um prazer.
Letícia reforçou o convite.
Lucindo meio sem jeito, comentou que estava com alguns amigos, mas que assim que pudesse voltaria para conversar com eles.
Foi quando Lucindo comentou que o pessoal estava elogiando a elegância de Cláudia.
A moça sorriu.
Lucindo então despediu-se pessoalmente de Cláudia.
Quando o moço se afastou, Letícia comentou que ele estava interessado nela.
Cláudia redarguiu dizendo que foi só uma dança.
Letícia ironizou dizendo que não acreditava muito nisto.
Roberto por sua vez, ao perceber a moça conversando e dançando com Lucindo, enervou-se.
Cerca de uma hora depois, Lucindo sentou-se à mesa onde estava Cláudia.
O moço comentou sobre a festa. Disse que o salão estava muito bonito. Perguntou se Cláudia já havia conseguido um estágio.
Cláudia respondeu que estava trabalhando temporariamente na secretaria da escola.
Lucindo comentou que as coisas estavam começando a melhorar, e que logo logo ela iria conseguir um estágio.
Letícia concordou. Argumentou que a amiga era dedicada e aplicada, e que conseguir um emprego bacana, era apenas questão de tempo.
Cláudia bebia um drink.
À certa altura, pediu licença para ir ao toalete.
Lucindo levantou-se.
Cláudia agradeceu e se dirigiu ao toalete.
A moça entrou no banheiro e aguardou na fila.
Finalmente conseguiu utilizar o banheiro.
Observou-se no espelho, lavou as mãos, retocou o batom.
Quando saiu do banheiro, foi cercada por Roberto.
O moço, comentou que a aguardou no jardim. Perguntou-lhe por que não havia aparecido.
Cláudia respondeu que não estava sozinha e que não poderia acompanhá-lo.
Roberto, comentou que ela estava com um rapazinho.
Cláudia pediu licença.
O homem segurou-a pelo braço.
Disse que precisavam conversar e que a procuraria durante a festa.
Nisto, a moça voltou para a mesa.
Lucindo convidou-a novamente para dançar.
Letícia insistiu para ela acompanhá-lo.
Assim, Cláudia e Lucindo voltaram a dançar.
Letícia e Sandro também voltaram a dançar.
Sandro fez toda uma coreografia.
Letícia caiu na risada.
Roberto, aproveitando que a mesa estava vazia, aproveitou para colocar algo no copo de Cláudia.
Quando a moça retornou, resolveu descartar o copo que estava bebendo.
Pediu outra bebida.
Ao perceber isto, Letícia começou a ficar preocupada.
Chamou a moça para acompanhá-la no toalete.
Depois de usar o banheiro, Letícia perguntou a amiga se ela não estava bebendo demais.
Cláudia respondeu que não.
Retocou o batom.
Letícia recomendou-lhe que tivesse cuidado.
Por fim, voltaram a mesa.
Lucindo foi chamado por alguns amigos.
Sandro explicou então, o sumiço do rapaz.
A certa altura, Lucindo retornou à mesa do grupo e convidou Cláudia e Letícia para acompanhá-lo.
Letícia chamou a amiga para acompanhá-la.
As duas moças foram cumprimentar os colegas de classe.
Conversaram um pouco com os colegas.
Mais uma vez o moço convidou-a para dançar.
Lucindo já havia bebido um pouco, e parecia estar mais à vontade.
Começou a ser aproximar mais e mais da moça.
Cláudia começou a achar inconveniente o comportamento do moço. Razão pela qual pediu licença e se afastou.
Lucindo ficou arrasado.
Tencionou dizer algo, mas não conseguiu. Estava nervoso. A única que conseguiu balbuciar foi um desajeitado pedido de desculpas. Disse que não foi sua intenção ofendê-la.
Cláudia disse que estava tudo bem, mas se afastou.
Sozinho na pista de dança, o moço levou algum tempo para se recompor.
Depois de algum tempo, retornou a mesa e pediu desculpas a moça. Argumentou que não tivera a intenção de ofendê-la.
Cláudia constrangida, respondeu que estava tudo bem, mas que estava cansada, e que não voltaria a dançar.
Lucindo concordou. Pediu desculpas novamente e se afastou.
Letícia tentou entender o que havia acontecido, mas Cláudia pediu licença e dirigiu-se ao banheiro.
Ao sair do toalete, a moça observou o ambiente e saiu apressadamente.
Em dado momento, Cláudia acabou encontrando Roberto.
O homem possuía um aspecto muito sério.
Segurou-a pelo braço, e recomendou-lhe que saíssem do salão. Disse que tinha algo de importante para lhe falar.
Cláudia assustou-se com os modos de Roberto.
Tentou se desvencilhar do moço.
Roberto porém, não soltava seu braço.
Cláudia reclamou dizendo que ele a estava machucando.
Foi quando ele a soltou.
Cláudia então saiu correndo. Não voltou para sua mesa.
Caminhando pelo salão, chegou a ouvir de alguns colegas do moço, que ele era casado, e que as mulheres que o acompanhavam se tratavam da mulher dele e de uma amiga. Maldosos, chegaram a insinuar, que ele deve ter tido um caso com a amiga da mulher. Em tom de fofoca, comentaram que a festa foi animada com um barraco, dele com a esposa e a amiga. Argumentaram que ele havia bebido muito e provavelmente iria aprontar.
Ao ouvir as palavras dos garotos, Cláudia ficou perplexa.
Agora tudo para parecia fazer sentido.
De fato, o homem devia ser casado e devia estar escondendo o fato. Relembrou-se do flerte com a amiga. Achou-o cafajeste. Pois se era casado, por que paquerar sua amiga?
Cláudia ficou profundamente decepcionada.
Saiu do lugar, sorrateiramente.
Tentando se recompor, voltou ao banheiro. Trancou-se em um dos reservados.
Mais tarde saiu de lá.
Aparentando tranquilidade, Cláudia despediu-se dos amigos. Disse que chamaria um táxi para voltar para casa, e que não precisavam se preocupar com ela.
Letícia estranhou o comportamento da amiga, mas não questionou.
Cláudia abraçou a amiga, e despediu-se de Sandro.
Dirigindo-se a um dos garçons, perguntou se poderia chamar um táxi.
O homem lhe apontou onde ficava a cozinha, e disse que de lá poderia fazer uma ligação.
Cláudia agradeceu e se dirigiu ao lugar onde ficava a cozinha do buffet.
Roberto, a seguiu até lá.
Quando a moça pegou o telefone para tentar efetuar uma ligação, o homem colocou o telefone no gancho.
Calmo, Roberto disse que precisavam conversar.
Chorando, disse que estava cansado da vida que vinha levando. Que precisava de uma mudança. Pediu para que ela o ajudasse a sair dali. Comentou que não poderia dirigir.
Cláudia respondeu-lhe constrangida que não sabia dirigir.
Roberto, comentou que não poderia deixar o carro ali.
A moça perguntou-lhe se ele não poderia mesmo dirigir.
Neste momento, Lucindo se dirigiu à mesa onde estava Cláudia e perguntou da moça.
Foi informado por Letícia que a moça, havia ido embora. Cláudia chamou um táxi e foi para casa.
Lucindo ao ouvir isto, ficou um pouco decepcionado. Agradeceu a informação e se despediu de Letícia e Sandro.
O moço estava se despedindo dos colegas, quando viu Cláudia acompanhada de Roberto.
Perplexo com a cena, Lucindo resolveu segui-los.
Roberto se encaminhou para seu carro, mas Cláudia argumentou que ele não poderia dirigir.
O homem se aborreceu mas concordou com ela. Conversaram com os funcionários do buffet.
Roberto deixou o carro por lá. Voltaria para buscá-lo no dia seguinte.
Com isto, chamaram um táxi.
Lucindo ao perceber a movimentação, perguntou o que estava acontecendo.
Descobriu que o moço voltaria de táxi, por que estava bêbado e que Cláudia o estava acompanhando.
Nisto, pediu para chamar um táxi para ele também.
Ao chegar o táxi, Lucindo pediu ao motorista para que seguisse o veículo que ia à frente.
Roberto em dado momento, pediu ao taxista que parasse o veículo. Argumentou que já havia chegado em casa.
Insistiu para que Cláudia o acompanhasse.
A moça relutante, falou que só poderia ficar um pouco, pois precisava voltar para sua casa.
Roberto disse-lhe que chamaria um táxi para levá-la.
Lucindo, ao ver a cena, pediu ao taxista para parar.
Nisto, a dupla adentrou um prédio.
Roberto, abriu as portas.
Ao adentrar o saguão, acionou o botão do elevador.
Subiram.
Ao chegaram em frente ao apartamento, a moça respondeu que precisava voltar para casa.
O homem então, passou a segurá-la, e colocando-a contra a parede, beijou-a.
Cláudia ficou perplexa.
Quando o homem soltou-a, perguntou-lhe por que fizera isto.
Roberto respondeu-lhe que havia lhe dado vontade.
Chocada a moça respondeu que ele era casado, e que isto não estava certo.
Rindo, o homem perguntou como ela sabia que ele era casado.
Cláudia disse que ouviu na festa.
O homem então, comentou que não era feliz. Respondeu que vivia brigando com a esposa, e que isto não era vida.
A moça respondeu que ele deveria tentar se entender com sua mulher.
Nisto, o homem tornou a investir contra ela.
Beijou-a novamente.
Roberto mencionou que ela não era indiferente a ele, que queria ficar com ele, tanto quanto ele gostaria de ficar com ela. Relatou que iria se separar da esposa.
Cláudia então aproveitou este momento, para empurrá-lo.
Disse que aquilo não estava certo.
Roberto dizia para ela aproveitar o momento.
Continuou a beijá-la.
Cláudia tentou resistir, mas passou a sentir tontura.
Roberto, segurou-a. Disse que não a deixaria cair.
Continuou beijando-a.
Abriu a porta e levou-a para dentro do apartamento.
Cláudia fez menção de sair.
Roberto a reteve.
Disse que não apareceria ninguém e que aquele apartamento era de um amigo. Não morava ali.
Cláudia então observou o ambiente.
Nos porta retratos, não havia fotos dele e da esposa.
Roberto encostou a porta.
Continuou beijando-a.
O homem tirou seu blazer.
Abraçou-a. Tirou-a para dançar. Ofereceu-lhe bebida.
Cláudia respondeu-lhe que havia bebido demais. Comentou que estava se sentindo tonta.
Roberto, segurando-a, passou a dançar uma dança lenta.
O homem passou a dizer-lhe gracinhas no ouvido.
Passou a beijar seu pescoço, acariciou suas costas.
Beijou seu colo.
Cláudia parecia entregue.
Nisto o homem a levou para o quarto, deitou-a na cama, tirou seus sapatos, sua calça.
Roberto, passou a tirar sua camisa, seus sapatos, sua calça.
Deitou ao lado da moça, puxando-a para perto de si.
Beijou-lhe a boca.
Lucindo, diante da demora, pediu ao taxista que o esperasse.
Saiu do carro, e tentou entrar no prédio.
Ao se aproximar da entrada, puxou a porta e percebeu que a mesma não estava trancada.
Resolveu entrar.
Ao adentrar o saguão ficou a pensar em qual andar e para qual apartamento a moça se dirigiu.
Nisto, percebeu que o elevador estava parado no sétimo andar.
Desta forma, resolveu chamar o elevador. Ao entrar, apertou sétimo andar.
Quando a porta se abriu, deparou-se com um longo corredor.
Mais um desafio. Por onde começar?
Na portaria não havia ninguém, as portas dos apartamentos pareciam trancadas.
Lucindo ficou observando tudo com muita atenção.
Até chegar a um apartamento, onde a porta parecia mal trancada.
Resolveu se aproximar. Ao girar a maçaneta, a porta se abriu.
Lucindo entrou no apartamento pé ante pé. Percorreu cômodo por cômodo abrindo portas, sem fazer barulho.
Até chegar ao quarto, onde encontrou alguém dormindo.
Ao se aproximar, notou tratar-se de Cláudia.
A moça estava nua, enrolada em um lençol.
Aparentemente sozinha, não se notava a presença de Roberto.
Lucindo ficou perplexo ao ver a cena.
Não podia acreditar em seus olhos.
Sentou-se em um canto do quarto, e começou a chorar.
Após, aproximou-se do leito, ficou a observar a moça.
Quando Cláudia despertou, notou que Lucindo estava a seu lado.
Assustou-se.
Ao perceber que estava nua, soltou um grito.
Lucindo levantou-se rapidamente.
Cláudia perguntou-lhe o que havia acontecido.
O moço começou a gaguejar.
A jovem, começou a chorar.
Ficava o tempo todo a perguntar:
- O que aconteceu?
Ao fazer menção de levantar-se, sentiu tontura.
Lucindo perguntou se ela havia bebido muito.
Disse que ela havia entrado no prédio com Roberto.
Cláudia disse que só se lembrava da festa. De Letícia advertindo-a para que não bebesse demais. De Roberto, tentando conversar com ela. Disse se lembrar de sair da festa com ele, e que não entendia, o fato de Lucindo se encontrar ali.
O moço, tentando se recompor, disse tê-la seguido, e ao descobrir onde estava, adentrou o apartamento e a viu deitada na cama e enrolada em um lençol.
Disse que ao vê-la deitada, decidiu aguardar que acordasse para tirá-la dali. Não teve coragem de acordá-la.
Aturdida, a moça perguntou se não havia acontecido nada entre eles.
Constrangido, o rapaz respondeu-lhe que não.
Lucindo, disse-lhe que iria sair do quarto, para que pudesse se vestir, e que a levaria para casa.
Chorando, Cláudia vestiu sua roupa.
Saiu do quarto, e pediu para Lucindo tirá-la dali.
Nisto, Cláudia e Lucindo seguiram de táxi.
Chorando, a moça pediu para levá-la até sua casa.
Ainda era madrugada quando a moça chegou em casa.
Despediu-se de Lucindo.
Entrou sem alarde em casa.
Fechou-se em seu quarto.
Lá, deitou-se em sua cama e chorou baixinho.
Decidiu tomar um banho.
Tirou toda roupa.
Colocou uma camisola e dormiu.
Ou pelo menos tentou dormir.
Já que transtornada, não conseguia parar de pensar no que havia sucedido.
Sua cabeça girava.
Ainda no apartamento, chegou a vomitar, sendo amparada por Lucindo.
Em casa, durante a madrugada, precisou correr ao banheiro para novamente vomitar.
Sentia-se muito mal. A cabeça doía. Tudo girava.
Cláudia chorava baixinho. Tentando imaginar o que teria acontecido, embora já soubesse o que era.
Roberto havia se aproveitado do fato de haver bebido um pouco além da conta.
A moça sentia-se estranha.
Contudo, com o passar das horas, o sono acabou surgindo e a moça dormiu.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
sexta-feira, 2 de julho de 2021
DELICADO - CAPÍTULO 3
De manhã foi até a faculdade, onde continuou a ler o livro com Roberto.
Cláudia, ansiosa, pediu para eles encerrarem a leitura mais cedo.
Curioso, o moço perguntou por que.
Cláudia, comentou que precisava chegar mais cedo em casa.
Roberto chegou a lhe oferecer carona. Argumentou que estavam terminando o livro, e que não havia motivos para interromper a leitura.
Cláudia acabou concordando.
Roberto, abriu a porta do carro para ela.
Em seguida entrou, se ajeitou, colocou o cinto. Pediu a moça que também o colocasse. Perguntou onde ela morava.
Cláudia explicou.
No caminho, procurando puxar assunto, perguntou se ela trabalhava.
Cláudia respondeu que ainda não.
Roberto comentou que Letícia havia lhe dito que ela estava procurando trabalho.
A moça confirmou a informação.
O homem perguntou se ela já havia recebido alguma proposta de trabalho.
Cláudia respondeu que ainda estava realizando entrevistas.
Roberto comentou que no começo as coisas eram difíceis, mas que aos poucos, tudo se acertava. Relatou que quando fez sua primeira faculdade, também teve dificuldades para encontrar trabalho na área, mas que no final, com muita persistência, tudo foi entrando nos trilhos.
Cláudia perguntou qual faculdade havia feito.
Roberto respondeu que havia feito administração. Contudo, sua vontade era complementar com um curso na área de humanas. Por isto, se decidiu a fazer faculdade de letras. Argumentou que estava gostando do curso.
Cláudia perguntou então, se ele estava trabalhando.
Roberto rindo, comentou que trabalhava num escritório de contabilidade, já há alguns anos. Argumentou que estava pensando em mudar de emprego, talvez de área.
Percebendo o ar intrigado da moça, comentou que estava interessado em lecionar em universidades. Dizia que o salário de um professor universitário era bastante interessante.
Rindo comentou que o salário que recebia em seu atual emprego não era ruim, mas que se encontrava estagnado, e procurando novas perspectivas.
- Entendo! – respondeu Cláudia.
Ao chegar, a moça agradeceu a carona. Perguntou-lhe se não gostaria de entrar.
Roberto agradeceu, mas respondeu que estava com pressa.
Ana, que varria a calçada, viu a filha chegando de carro.
Brincalhona, perguntou quem era o moço.
Cláudia respondeu que era um colega de faculdade.
Nisto, entrou em casa.
Almoçou, tomou um banho, e procurou uma roupa adequada para usar na entrevista.
Achou que sua calça jeans, mocassim e blusinha verde não causariam uma boa impressão em uma entrevista de emprego.
Ao sair do quarto, toda penteada, perfumada e bem arrumada, sua mãe comentou que ela estava muito linda.
Cláudia sorriu. Disse que estava saindo para sua entrevista de emprego.
Ana desejou-lhe boa sorte.
Nisto a moça pegou uma bolsa e saiu.
Ao chegar no local do evento, informou a secretária da entrevista.
Foi orientada a aguardar.
Sentou-se e começou a folhear as revistas que estavam em uma cesta, para passar o tempo.
Finalmente foi chamada.
Durante a entrevista, comentou que não possuía muita experiência, mas estava gostando muito do curso, se dedicando com afinco aos estudos. Disse que tirava boas notas, que já havia apresentado alguns seminários, onde os professores diziam que ela levava jeito para ministrar aulas.
Cláudia estava um pouco nervosa, mas acreditava que possuía boas chances de conseguir o trabalho.
Por fim, foi orientada que ao término de alguns dias, receberia uma resposta.
Cláudia agradeceu.
Saiu da sala.
Ao voltar para casa, depois de caminhar um pouco no calçadão, encontrou sua mãe, cuidando do jantar.
Curiosa, a mulher perguntou-lhe como havia se saído na entrevista.
Cláudia comentou que mesmo nervosa, acreditava que havia se saído bem.
Ana sorrindo, disse-lhe que se fosse para ser, conseguiria este emprego.
A garota sorriu.
À noite, a garota foi para a faculdade.
Letícia ia direto do trabalho para a faculdade.
Durante o intervalo, Cláudia comentou que no dia seguinte iria bem cedo, entregar o livro na biblioteca.
Lucindo agradeceu.
Letícia por sua vez, chegou atrasada.
Curiosa, perguntou a Cláudia se havia terminado de ler o livro.
A moça respondeu que sim.
Respondeu ainda, que não teve tempo de concluir o resumo, mas que no dia seguinte o faria.
Letícia agradeceu.
Durante o intervalo, Letícia comentou que Roberto não apareceu para conversar.
As amigas conversaram sobre como fora o dia.
Letícia comentou sobre as figuras engraçadas que apareceram no consultório ao longo do dia.
Cláudia ria muito.
Letícia chegou a comentar que ela ria à bandeiras despregadas.
Cláudia achou a expressão divertida. Comentou que ela estava lendo muito.
Letícia aproveitava para comer um sanduíche natural.
Ofereceu à amiga, que educadamente recusou.
Seguiram-se as aulas de literatura e história.
No dia seguinte, Cláudia entregou o livro na faculdade.
Ao lá chegar, se deparou com Lucindo.
O rapaz ao vê-la cumprimentou-a. Agradeceu o aviso e comentou que tentaria retirar o livro.
Cláudia retribuiu o cumprimento.
Nisto, a moça resolveu dar uma volta na faculdade.
Retornou a casa.
Concluiu o resumo do livro.
Por fim, vieram as provas.
Cláudia entregou o resumo do livro a Letícia, explicou-lhe a obra.
Durante as provas, a moça encontrou Lucindo e Roberto.
Lucindo comentou que a história era muito interessante, e que gostaria de ter tido mais tempo para se preparar para as provas. Agradeceu novamente por havê-lo informado sobre a entrega do livro. Também comentou que trabalhar e estudar não era fácil.
Nisto, perguntou se a moça trabalhava.
Cláudia respondeu que ainda não.
De fato, a moça aguardava um telefonema, confirmando a vaga.
Mas para sua decepção, o telefonema não veio. Duas semanas aguardando.
Lucindo perguntou-lhe se estava procurando estágio.
Cláudia respondeu que sim.
O moço respondeu que logo logo surgiria uma oportunidade.
Cláudia concordou.
A moça também conversou com Roberto, que andava sumido.
O moço comentou que teve alguns problemas. Fato que motivou seu sumiço por alguns dias.
Agradeceu pela ajuda nos estudos.
Como a prova iria começar, o moço pediu licença e entrou em sua sala.
Foram duas semanas de provas.
Depois das provas, Letícia também andou sumida por alguns dias.
Por conta de uma gripe forte, a moça permaneceu acamada.
Cláudia a visitou duas vezes, desejando-lhe melhoras.
Conversava com ela, comentou que depois lhe traria a matéria para que pudesse saber do conteúdo das aulas que havia perdido.
Letícia abatida, agradecia.
Helena também agradecia as visitas.
Dizia a filha que Cláudia era sempre gentil.
Durante o ano, a Letícia teve seus relacionamentos.
Ricardo foi um de seus namorados. Contudo suas crises de ciúmes fizeram com que a relação não durasse muito tempo.
Isto por que estava sempre controlando a moça, fazendo constantes ligações para sua casa e para o lugar em que trabalhava.
Por conta das confusões do rapaz, Letícia quase perdeu seu emprego.
Conforme a situação foi ficando insustentável, inclusive com uma briga na frente da escola entre o rapaz e um colega de classe, a moça acabou terminando o namoro com ele.
Isto por que Ricardo cismou que ela estava tendo um caso com o colega de classe.
O rapaz só não bateu em Mauro, por que Cláudia ao ver a confusão se armando, tratou de procurar a amiga e contar que Ricardo estava tomando satisfações com Mauro.
Ao saber disto, Letícia proibiu o namorado de encostar um dedo em Mauro. Disse que ela não tinha nada com ele, que eram apenas colegas, e que se ele continuasse criando confusões, ela iria terminar o namoro.
Ricardo aborrecido, se retirou.
Mauro que estava branco, tratou de sair dali.
Algumas pessoas foram conversar com o garoto e perguntaram-lhe se estava precisando de alguma coisa.
Ricardo e Letícia se conheceram em uma festa da faculdade.
O moço mandou um bilhete para a moça através de um garçom.
Com isto, passaram a conversar.
Letícia dançou com ele.
Passaram a namorar.
A noite, o rapaz sempre que podia, ia buscá-la. Ricardo fazia curso de contabilidade.
Cláudia ao ver a amiga com o namorado cumprimentava-os, mas evitava ficar por perto. Brincava dizendo que não queria ficar segurando vela.
De vez em quando depois de muita insistência, a moça aceitava algumas caronas, principalmente quando estava muito tarde.
Mas na maior parte das vezes, Cláudia preferia voltar para casa de ônibus.
Quando o rapaz não estava enciumado, costumava ser gentil e atencioso com Letícia e com Cláudia.
Contudo, quando o monstro do ciúme tomava conta, não havia quem segurasse Ricardo, exceto Letícia, que dizia que ele tinha que se controlar.
Quem não estava gostando nem um pouco do namoro era Helena, que dizia que a filha precisa arrumar uma pessoa centrada e não esses garotos descontrolados que ela costumava arrumar. Dizia para a filha que criasse juízo.
Letícia argumentava dizendo que sabia como controlar a situação, e que se Ricardo não mudasse, terminaria o namoro.
De fato, com o tempo, cansada das cenas de ciúme, e dos transtornos que o rapaz estava lhe criando, Letícia terminou o namoro.
Por conta disto, o rapaz fez uma cena, disse que ela iria se arrepender de terminar com ele, e que iria pedir para voltar.
Letícia olhando-o com tristeza, comentou que isto não iria acontecer, já que ele mesmo havia dado motivos para o término do namoro.
Chateada, a moça comentou que não aguentava mais seus ataques de ciúme.
Ricardo prometeu que iria mudar, como tantas vezes já havia prometido.
Sempre que a situação ficava tensa e Letícia chateada, ele prometia mudar.
E assim durante algum tempo, levava a moça para passear, para dançar, ao cinema, e até a restaurantes e lanchonetes.
Contudo, bastava o tempo passar e esquecido das promessas, voltava a brigar.
Na última briga, quase agrediu um rapaz, não fosse Letícia ameaçá-lo com o término do namoro.
Depois de chegar na casa do rapaz, a moça terminou o relacionamento.
Ricardo caiu em prantos.
Letícia saiu da residência do rapaz e voltou para sua casa.
Andou e chorou pelo caminho todo.
Quando Helena soube do ocorrido, abraçou a filha.
Disse que entendia sua tristeza, mas que ela havia feito o melhor. Argumentou que aquela situação estava ficando insustentável.
Letícia concordou balançando a cabeça.
Sua mãe comentou que com o tempo, ela iria se esquecer do ocorrido, e encontraria uma pessoa legal para namorar.
Letícia chorava copiosamente.
Nisto o tempo foi passando e as coisas foram tomando seu lugar.
Ricardo sumiu.
Mas Eduardo, seu namorado dos tempos do colégio voltou a cercá-la.
Eduardo, por exemplo, durante algum tempo, continuou cercando-a. Até dar-se por vencido.
O rapaz chegou a ficar esperando a moça perto de sua residência.
Pedia-lhe desculpas, dizia que estava arrependido e que queria voltar.
Ao ouvir estas palavras Letícia dizia que o relacionamento deles havia acabado. Não o deixava falar.
Em dado momento, cansada da insistência de Eduardo, Letícia ficou algum tempo conversando com o moço, explicando-lhe que não voltaria para ele. Argumentou que estava começando um relacionamento com outra pessoa. Pediu para que ele prosseguisse sua vida.
Eduardo aborrecido, afastou-se.
Nunca mais a incomodou.
Já Sandro, o terceiro namorado, era o oposto de Eduardo e de Ricardo.
Letícia por sua vez, conheceu Sandro em uma festa promovida pela faculdade.
Acompanhada de um grupo de colegas, a moça foi apresentada a Sandro, que frequentava a faculdade, muito embora não estudasse por lá.
Seus amigos comentaram que ele já a havia observado algumas vezes, considerando-a muito bonita.
Nisto, Sandro apresentou-se, disse que tinha colegas que estudavam na faculdade, e que trabalhavam no mesmo escritório em que ele.
Letícia comentou que trabalhava como recepcionista.
Conversaram sobre seus trabalhos.
Letícia comentou que pretendia se tornar uma pesquisadora, e professora.
Sandro sorriu dizendo que o Brasil precisava de mais professores. Comentou que era muito triste as pessoas não terem oportunidade de estudar, de progredir, e que estava nas mãos deles mudar esta realidade.
Ao ouvir isto, Letícia perguntou se ele estudava.
Sandro comentou que estava concluindo o ensino médio, pois havia abandonado os estudos, por conta da impossibilidade de conciliá-los, com o trabalho que fazia, em regime de turnos.
Comentou que comentou a trabalhar neste regime, ainda na menoridade.
Surpresa, Letícia comentou que era proibido o trabalho noturno para menores de idade.
Sandro redarguiu dizendo que no Brasil havia muitas irregularidades, e que precisando trabalhar, acabou aceitando a situação.
Comentou que não estava muito fácil arrumar trabalho.
Letícia concordou que as coisas estavam difíceis.
Nisto, conversaram sobre filmes.
Letícia descobriu que seus gostos então, eram muito parecidos.
Entre uma bebida e outra, aconteceram alguns beijos, e depois de algum tempo, passaram a namorar.
Feliz, Letícia contou a novidade para Cláudia.
Com tempo, o moço acabou sendo apresentado a amiga.
Sandro ao conhecer Cláudia, foi logo dizendo que Letícia falava sempre dela, comentando que sempre estava por perto quando precisava. Sorrindo, comentou Letícia gostava muito dela. E que era muito estudiosa.
A moça respondeu que Letícia exagerava.
Sandro argumentou que ela era modesta.
Cláudia simpatizou com Sandro.
Felicitou-a saber que a amiga havia encontrado alguém bacana.
Durante muito tempo, Cláudia percebeu que a moça andava jururu, triste com o término do relacionamento com Ricardo. Tentando disfarçar a tristeza, Letícia trabalhava, fazia o possível para estudar, saía com os amigos.
Algumas vezes Eduardo, aparecia, pedindo para voltar, mas Letícia não quis saber. Sempre que ele vinha até ela com este assunto, ela dizia que não iria reatar o namoro.
Por fim, relatou que havia encontrado alguém.
E sem que soubesse, Eduardo chegou a vê-la abraçada a Sandro.
Animada, a moça passou a sair com Sandro.
Vendo Cláudia sozinha, Letícia de vez em quando a convidava para sair com ela.
Cláudia dizia que não queria ficar segurando vela.
Letícia arrumava evento somente para as duas comparecerem.
De vez em quando, por exemplo, as amigas saíam para ir ao cinema.
Cláudia só acompanhava Letícia e Sandro, quando o casal andava em bando.
Contudo, os passeios com a amiga foram rareando.
Cláudia, desempregada, não tinha dinheiro para luxos, então raramente tinha dinheiro para sair com os colegas.
Aproveitava o tempo livre para estudar.
E assim, seguiam as aulas e consequentemente as provas.
Com efeito, a despeito do relatado, após muita insistência da amiga, Cláudia acompanhou-a em uma festa.
Era uma comemoração celebrando a futura formatura dos formandos de 1995.
Cláudia argumentou que ainda não havia arrumado trabalho. Circunstância que a impossibilitava de participar dos eventos da faculdade.
Letícia argumentou que ela poderia fazer alguns bicos, como assistente de algum professor para conseguir dinheiro.
A moça chegou a arrumar um trabalho temporário para Cláudia.
E assim, Cláudia passou a trabalhar na secretaria da escola, organizando a lista de chamada de alunos, organizando papéis, etc. Foi um emprego em que trabalhou por cerca de três meses, até ser dispensada.
Trabalhava meio período.
Foi um período em que teve uma certa dificuldade em conciliar os estudos, mas que no final, tudo se acertou.
Cláudia continuou com suas boas notas, e concluiu o bimestre sem dificuldade.
Então, para comemorar, nada mais justo que participar de uma festa, no entender de Letícia.
E lá se foi ela para a festa, um tanto contrariada.
Para a festa, acompanhada da mãe, a moça comprou uma calça preta social e um blazer. Para complementar, uma blusa frente única creme.
No dia do evento, quando Letícia a viu tão arrumada, elogiou o capricho da amiga.
Ana ao ver a filha pronta, achou-a linda.
Jacinto disse para que se divertisse.
A esta altura, a moça havia encontrado Roberto por algumas vezes na faculdade.
Sempre que se encontravam, o moço dizia que estava muito atarefado. Prometia agendar um encontro como os colegas da faculdade, e que iria convidá-la.
Evento que não veio a ocorrer.
Cláudia chegou a comentar com a amiga, que Roberto parecia se esquivar, e que não conseguia entender o que se passava com ele.
Para Cláudia, Roberto estava interessado em Letícia, e que apenas era educado com ela.
Já para Letícia, ele fazia muitas perguntas sobre Cláudia, dando a entender que possuía um certo interesse na moça.
Certa vez, Sandro chegou a dizer que já havia trabalhado com Roberto.
Ao ver o moço na faculdade, chegou a se surpreender com o fato de estar fazendo uma nova faculdade.
Letícia não compreendeu a reação do namorado.
O rapaz explicou que Roberto não parecia ser muito afeito aos estudos, chegando a pagar para que alguém fizesse seus trabalhos escolares, no tempo que fazia curso de administração. Sandro chegou a comentar que ele não concluiu o curso.
Letícia ficou perplexa.
Chegou a comentar com Cláudia o que Sandro lhe contara.
A moça comentou que Roberto havia dado a entender que havia concluído a faculdade.
Certo dia, ao sair da faculdade, em um dia que Letícia faltara, Cláudia chegou a ver o homem oferecendo carona a uma mulher.
Nervoso, pediu para que ela entrasse no carro, e rapidamente saiu do local.
Parecia estar escondendo algo.
Depois disto, a moça poucas vezes encontrou o moço.
Roberto parecia se esquivar. Pouco aparecia.
Cláudia não sabia se o moço havia continuado o curso, ou se havia saído da faculdade.
Por isso, qual não foi sua surpresa ao ver o moço com uma bebida na mão, levantando o copo em celebração, na festa de formatura.
Letícia e Sandro, que acompanhavam Cláudia, acharam estranha a aparição do rapaz.
Por algum tempo, o casal fez companhia a Cláudia. Depois foram dançar juntos.
A moça ficou sozinha na mesa.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
quinta-feira, 1 de julho de 2021
DELICADO - CAPÍTULO 2
No dia seguinte, Cláudia saíria cedo para distribuir currículos nas agências de emprego. Estava procurando estágio.
Letícia a esta altura já trabalhava.
Era recepcionista em um consultório oftalmológico.
Cláudia admirava a independência da amiga. Dizia que devia ser muito bom ter o próprio dinheiro.
Ana por sua vez, incentivava a filha a procurar trabalho. Costumava dizer os tempos estavam difíceis, e que não era sempre que tinha um dinheirinho para os passeios da filha.
Cláudia dizia sentir falta de ter o seu próprio dinheiro.
Com isto, passou a manhã inteira em peregrinação por agências de emprego.
Ao chegar em casa, comentou que precisava aguardar.
Também pesquisava anúncios nos jornais.
Enquanto isto, frequentava as aulas. Estudava com afinco.
Sempre que podia, estudava com Letícia.
Fazia anotações em sala de aula, e compartilhava com a amiga.
Letícia quase sempre chegava em cima da hora na faculdade.
A amiga, comia lanches e guloseimas da cantina da instituição de ensino.
Um dia, acompanhando Letícia em seu “jantar”, a moça se deparou com um rapaz que aparentava ser um pouco mais velho que os garotos do lugar.
Letícia, ao perceber que a amiga observava o estranho, comentou:
- Gato, heim!
Foi o suficiente para deixar Cláudia sem jeito.
A moça tratou logo de desviar o foco. Dizendo que não sabia do que ela estava falando, perguntou se o sanduba estava bom.
Letícia respondeu com um hum hum, e ofereceu o lanche para a amiga.
Cláudia recusou educadamente. Comentou apenas, que ela comia o lanche com tanto gosto, que ficou curiosa em saber se estava bom.
Depois do intervalo, voltaram para a sala de aula.
Ouviram poesias.
Ao término da aula, voltando para casa, ainda dentro do ônibus, Letícia comentou que antigamente os homens eram mais galantes, escrevendo poesias para suas amadas.
Cláudia sorria.
Foi a deixa para a moça comentar sobre o moreno estonteante que apareceu na hora do intervalo. Dizia que ele era lindo, e que devia ser muito interessante.
Cláudia respondeu que não havia prestado atenção.
Ao ouvir isto, Letícia pareceu não acreditar muito nas palavras da amiga.
Cláudia então prometeu que se ele aparecesse novamente, que ela poderia apontar para ele, para que pudesse olhá-lo.
Com expressão de perplexidade, Letícia comentou:
- Cláudia, você é impossível!
Finalmente, chegaram em casa. Despediram-se.
No dia seguinte, Cláudia dirigiu-se a biblioteca da faculdade.
Comentou com a mãe, que precisava de um livro que havia encontrado por lá.
Tomou um café apressadamente, e saiu de casa rumo a faculdade.
Pegou o ônibus, e desceu próximo a faculdade.
Ao chegar na biblioteca, pegou o livro, sentou-se em uma mesa, e começou a folheá-lo.
Leu algumas páginas.
Enquanto lia, um rapaz adentrou o ambiente. Perguntou a funcionária se estava disponível uma obra sobre literatura inglesa.
No que a mulher respondeu que uma moça havia pego o último exemplar disponível.
O homem ficou um pouco desapontado. Argumentou que era muito importante que conseguisse um exemplar do livro, pois teria uma prova cujo conteúdo era o texto da obra.
A bibliotecária, argumentou que lamentava muito, mas que não podia fazer nada.
Curioso, o homem perguntou quem havia pego a obra.
A funcionária então apontou para Cláudia.
O homem agradeceu. Ficou circulando pela biblioteca, olhava para os livros, como estivesse procurando algo. De vez em quando olhava para Cláudia.
A moça estava bem concentrada em sua leitura.
A certa altura, o moço deixou de rodeios e pedindo licença, perguntou se poderia sentar-se do seu lado.
Cláudia surpresa, respondeu que sim.
Era o mesmo rapaz que havia visto no pátio no dia anterior.
Nisto, o homem falou:
- Desculpe incomodar, mas a verdade é que eu estou muito interessado no livro que você está lendo. Por acaso, você está precisando muito ler este livro?
Cláudia respondeu timidamente que sim. Argumentou que teria uma prova sobre o livro e que não possuía dinheiro para comprá-lo.
Roberto, desapontado, pediu desculpas e fez menção de se levantar.
Porém, pensando melhor, pediu desculpas novamente. Comentou que havia visto ela e sua amiga. Disse que a moça loira que estava a seu lado era muito bonita.
Cláudia concordou e voltou o rosto para o livro.
Roberto então, disse que também precisava do livro. Comento rindo que precisa estudar a obra, pelo mesmo motivo.
Cláudia, percebendo a apreensão do moço, comentou que precisava ler o livro, mas que depois poderia emprestá-lo.
Roberto agradeceu. Perguntou como fariam.
Cláudia respondeu que precisava de uns dias para ler o livro. Argumentou que talvez em uns três ou quatro dias, poderia entregar a obra.
Ao ouvir isto, Roberto comentou que não daria tempo de ler o livro para avaliação.
Nisto, perguntou se estava gostando do texto. Perguntou do que se tratava o livro.
Cláudia explicou-lhe o que havia entendido da obra.
Roberto foi ficando.
Cláudia foi lendo o livro em voz alta.
De vez em quando, Roberto fazia o mesmo.
Quando Cláudia olhou o relógio, comentou que precisava voltar para casa.
Roberto perguntou-lhe então, se não gostaria de uma carona.
Cláudia agradeceu, mas respondeu que não havia necessidade.
O moço comentou então, que de carro, ela voltaria mais rapidamente para casa.
Cláudia novamente agradeceu, mas respondeu que não era necessário.
Roberto não insistiu, agradeceu a ajuda.
Marcaram uma nova leitura para o dia seguinte.
A noite na escola, Roberto, fez questão de cumprimentá-la. Agradeceu a ajuda. Aproveitou também, para cumprimentar Letícia.
A garota, ao ver que Cláudia havia ajudado o moço, comentou:
- Amiga, você é rápida no gatilho!
Cláudia comentou que não havia nada demais, e que ele não tirara o olho de Letícia.
Letícia retrucou dizendo que ela deveria investir nesta relação. Argumentou que não havia como saber para quem ele estava olhando.
Cláudia, riu dizendo que Letícia era uma piada.
Seguiram-se aulas de literatura inglesa, brasileira e portuguesa.
Por fim, voltaram para casa depois de uma longa espera no ponto de ônibus.
Cláudia e Letícia estavam bastante impacientes com a demora.
Enquanto aguardavam no ponto, conversavam sobre as aulas. Estavam gostando bastante do curso.
Cláudia estava ansiosa para trabalhar na área.
Ao contrário da amiga, Cláudia nunca teve grande necessidade de procurar trabalho.
Letícia por seu turno, de vez em quando falava do trabalho.
Comentava que a rotina era corrida, que muitas vezes almoçava correndo, por que era somente ela na recepção. Mas que gostava do que fazia, pois proporcionava seu ganha pão.
De tão atarefada, quando tinha trabalhos para apresentar, ou que estudar, contava com o auxílio da amiga, que resumia os apontamentos em sala de aula, resumia os livros lidos e entregava para Letícia ler.
Quanto ao livro que Cláudia estava lendo, a moça estava realizando um resumo da história para a amiga ler.
Letícia era grata pela ajuda. Por diversas vezes chegou a dizer que se não fosse esta ajuda, não teria como realizar o curso, pois não possuía muito tempo para estudar.
Por esta razão, ao perceber a ansiedade da amiga em arrumar um estágio, comentou que não deveria ter pressa. Argumentou que ela deveria se preocupar em fazer um bom curso, pois dali para frente o que não faltaria era trabalho para ela.
No dia seguinte, Cláudia se encontrava novamente na biblioteca.
Ela e Roberto faziam juntos a leitura do livro de literatura.
À certa altura, empolgado, o moço começou a ler em voz alta. Fato que incomodou os outros frequentadores da biblioteca.
Neste momento, uma funcionária se aproximou e pediu educadamente para que por gentileza falassem mais baixo.
Roberto rindo, se desculpou.
Sugeriu a Cláudia que fossem estudar em outro lugar.
A moça perguntou onde.
- No pátio, em frente ao jardim! – respondeu ele.
Cláudia concordou.
Procurando um banco, sentaram-se em frente ao jardim.
Leram o livro.
Roberto chegou a dramatizar algumas passagens.
Cláudia achava graça.
Rindo, o moço dizia que não basta ler, tem que interpretar.
Nisto, o tempo foi passando.
Por fim, o moço se despediu dela com um beijo no rosto.
Combinaram novas leituras.
Cláudia voltou para casa.
Ana sua mãe, comentou que alguém havia ligado para ela, e pedido para retornar.
Curiosa, a moça perguntou de quem se tratava.
Ana relatou que não sabia, mas que parecia um agendamento para uma entrevista.
Animada, a moça agradeceu e tratou de retornar a ligação.
Com isto, a moça no dia seguinte, deveria comparecer à tarde, para uma entrevista em uma agência de emprego.
E assim, o fez.
Ansiosa, tratou de adiantar o resumo do livro.
Permaneceu a tarde inteira entretida nesta tarefa.
À noite, encontrou Letícia, e demais colegas na faculdade.
No intervalo, encontrou Roberto, que tratou de se aproximar.
O homem conversou com Cláudia e Letícia.
Estava encantado com a beleza da amiga de Cláudia.
Cláudia então comentou que estava fazendo um resumo do livro.
Letícia rindo, comentou que a amiga, era sua fonte de consulta e estudos.
Roberto elogiou a moça, dizendo que ela era muito prestativa.
Cláudia, percebendo os olhares, argumentou que alguém a estava chamando e se afastou.
Roberto então comentou:
- Sua amiga é bastante reservada!
Letícia concordou. Disse ainda, que embora fosse reservada, era uma grande pessoa, mas que para conhecer seu lado prestativo, era preciso quebrar o gelo. Comentou que quem procurava conhecê-la bem, acabava por gostar muito dela.
Roberto, sorriu.
Comentou que ela era bastante educada. Relatou que possuía maneiras até refinadas.
Letícia riu.
Por fim, o moço perguntou no que Letícia trabalhava.
Letícia, falou a respeito de seu emprego. Comentou também, que Cláudia estava procurando trabalho.
Cláudia então, retornou.
Letícia perguntou quem a havia chamado.
Cláudia olhando em volta, comentou que ninguém a havia chamado, apenas havia se confundido. Aproveitou porém, para conversar com alguns colegas.
Roberto então, cumprimentou-a novamente e depois se afastou.
Letícia intrigada, perguntou por que Cláudia se afastou. Argumentou que Roberto não parou de perguntar sobre ela.
A moça pareceu desinteressada.
Disse que estava preocupada, e que depois conversariam mais. Cláudia, despediu-se da amiga, e alegando que o sinal iria bater, decidiu voltar para a sala de aula.
Ao chegar à classe, um rapaz se aproximou.
Resolveu perguntar a ela como fazer para encontrar o livro de literatura inglesa, que seria utilizado na prova.
Cláudia comentou que encontrou o livro na biblioteca, mas que havia pego o último exemplar disponível.
Nisto o moço perguntou-lhe se depois de ler, não poderia emprestá-lo.
Cláudia respondeu que estava acabando de ler a obra, e que dentro de poucos dias devolveria o livro.
Lucindo perguntou-lhe se poderia avisá-lo, pois ele tentaria pegar o livro.
Cláudia respondeu-lhe que sim.
O moço se apresentou, agradeceu e retornou ao seu lugar.
Nisto, o sinal soou, e aos poucos, os alunos foram retornando a sala de aula.
Cláudia parecia bem concentrada.
No retorno ao lar, Cláudia estava calada.
Letícia estranhou, mas a moça usou a desculpa de que estava preocupada.
Despediram-se e Cláudia seguiu sozinha para casa.
Ao chegar em casa, cumprimentou os pais e se recolheu para o quarto.
Vestiu sua camisola, puxou o lençol da cama e tratou de dormir.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
DELICADO - CAPÍTULO 1 – PRIMEIROS TEMPOS
Enquanto se preparava para sair para mais um dia de aula, Cláudia, aproveitava para ouvir um pouco de rádio. Ajeitava os cabelos, colocava uma blusa de manga comprida por cima de uma blusa de alça. Vestia-se e se observava no espelho.
Por fim, pegou um monobloco e alguns livros, colocando-os dentro da mochila. Estava pronta para sair de casa.
Despediu-se dos pais, e dirigiu-se ao ponto de ônibus.
Aguardou cerca de cinco minutos.
Sentou-se e enquanto seguia viagem, aproveitou para ler um pouco. Tempos de provas, muitas provas.
Chegando na faculdade, cumprimentou os amigos e procurou um lugar para ler. Estava se preparando para a prova.
Letícia ao vê-la tão compenetrada, brincou dizendo que assim ela tiraria dez.
Cerca de meia-hora depois, todos os alunos estavam dentro da classe.
Resolvendo as questões da prova.
Cláudia e Letícia cursavam letras.
Amigas desde a infância, adoravam sair juntas.
Letícia, loira, era uma moça bonita, a garota que todos os moços gostariam de namorar.
Cláudia, mais magra, mais discreta, não costumava chamar a atenção dos rapazes.
Com efeito, em que pese este fato, a moça parecia não se importar muito com isto.
Até as garotas chegarem a adolescência, e a diferença de físico se fazer notar mais profundamente.
Foi aí que Cláudia começou a perceber que Letícia passou a ficar mais bonita. Saía para namorar, e por este motivo, passou a ter menos tempo para conviver com a amiga.
Ainda assim, as moças sempre saíam juntas.
Mas sempre que podiam, frequentavam lanchonetes, iam ao cinema.
Letícia adorava falar de suas paqueras, da beleza de alguns rapazes.
Cláudia por sua vez, achava tudo muito interessante.
Até começar a se interessar pelos moços e perceber que a recíproca não era verdadeira.
Decepcionada, se perguntava por que algumas garotas possuem facilidade para arrumar namorado e ela não.
Por algum tempo chegou até a invejar a amiga.
Brigou com a colega de anos, fato este que deixou Letícia muito chateada.
Cláudia argumentava que a amiga não tinha mais tempo para ela, que só pensava em garotos, e que estava cansada de sair com ela e voltar sozinha para casa, por que ela havia arrumado um paquera.
Nas vezes em que saíam juntas, isto ocorreu por diversas vezes.
Cláudia acaba voltando sozinha para casa.
Com isto, a moça deixou de acompanhar a amiga.
Aborrecida, Cláudia dizia não se importar que ela namorasse, mas que considerava uma falta de respeito, sair com ela, e arrumar um paquera e deixá-la sozinha.
A garota ficou chateada com Cláudia. Disse que entendia, mas não concordava com a amiga.
Por isto, acabaram se afastando por algum tempo.
Cláudia passou a conviver com outras pessoas. Conheceu outras colegas.
Letícia por sua vez, continuava namorando, e de vez em quando o moço ia buscá-la na escola.
Juntos saíam do local de carro.
A garota estava sempre sorrindo.
Cláudia por sua vez, ora estava conversando com as colegas ou estudando alguma matéria.
Enquanto fazia o colegial, preparou-se com afinco para passar no vestibular.
Com efeito, a briga só terminou quando Letícia terminou um relacionamento.
A moça namorava há cerca de um ano um rapaz.
A garota simplesmente foi trocada por outra.
Descobriu depois de tempos de namoro conturbado, com diversas idas e vindas, que o moço vinha de um relacionamento mal resolvido com outra garota. Todavia, sempre que Eduardo arrumava alguém, a ex voltava a investir no rapaz.
Enfim, Eduardo traiu Letícia com a ex-namorada.
Letícia descobriu a traição de forma acidental.
Enquanto voltava do colégio, tarde da noite, a moça encontrou o rapaz aos beijos e abraços, com uma mulher.
Ao ver a cena, custou a acreditar que se tratava do namorado. Aproximou-se, exigiu explicações.
Eduardo gaguejou, tentou se explicar. Tudo em vão.
Nada justificaria e explicaria de forma coerente o que Letícia havia visto.
Mesmo assim, o moço tentou inventar uma desculpa. Dizia que ela havia se enganado. Que não era nada daquilo, que a moça era apenas uma conhecida.
Sílvia ao ouvir as palavras do rapaz, fez questão de desmenti-lo. Afirmou que eles tinham um relacionamento antigo, e que ele só estava passando um tempo com ela.
Letícia começou a estapear o moço. Aproveitou e xingou a moça de vaca, vadia e galinha. Afirmou que ela era uma puta por não respeitar a ninguém.
Sílvia ria e chamava a moça de louca.
Irritada Letícia respondeu que era louca por não partir a cara dos dois. Chamou-os de salafrários, vagabundos, gente ordinária, escumália.
Sílvia ironizava dizendo que o grau das ofensas se sofisticara.
Foi a deixa para Letícia dizer que ela tinha muito mais nível que os dois juntos.
Por fim, argumentou que os dois se mereciam. Letícia falou que os dois deveriam ficar juntos até o final e não enganar mais ninguém.
Irônica, agradeceu a Sílvia por ter tirado de seu caminho um estrupício.
Virou as costas para os dois e sumiu rua afora.
Quando Eduardo fez menção de ir atrás de Letícia, Sílvia o interpelou e disse que ele estava proibido de ir atrás dela.
O rapaz, dizendo que não podia ver uma moça chorando, enfrentou-a. Tentou conversar com a moça, mas Letícia ofendida, dispensou-o.
Disse que não queria mais saber dele, e que o namoro estava acabado.
Quando Cláudia soube do ocorrido, aconselhada pela mãe, tratou logo de ir conversar com a moça.
Letícia inicialmente relutou em receber a amiga, mas com o tempo, acabou concordando em conversar com Cláudia.
A garota, ao ver a moça em prantos, pediu-lhe desculpas e tratou de consolá-la.
Letícia não parava de chorar.
Cláudia abraçou-a, disse que aquilo iria passar. Achou Eduardo um sacana, mas, aconselhada pela mãe, nada disse.
Dona Ana, recomendou-lhe que não emitisse opinião a respeito de Eduardo. Argumentou que eles poderiam voltar a se entender e Letícia poderia ficar com raiva dela, por haver falado mau de seu namorado.
Letícia concordou e seguiu os conselhos da mãe.
Conversou com a amiga, mas evitou emitir opiniões sobre o moço.
Com efeito, após a última briga, Letícia não voltou às boas com Eduardo, muito embora o moço a tenha cercado algumas vezes, para a fúria de Sílvia.
A mulher chegou a interpelar Letícia exigindo que ela se afastasse de seu namorado.
Ao ouvir a ameaça, a moça riu. Comentou que era interessante ver a situação se inverter. Por fim, relatou que não estava interessada em traidores, e que ela não precisava se preocupar. Não por ele, que era um galinha da pior espécie, mas por ela, que era honesta e, ao contrário de Silvia, não costumava se intrometer na história dos outros.
Sílvia riu.
Letícia recomendou-lhe então, que conversasse com Eduardo, e que lhe explicasse o papel ridículo que estava fazendo.
Virou as costas e foi embora.
Cláudia e Letícia então voltaram as boas.
Decidiram juntas frequentar o curso de letras.
Estudavam juntas.
Letícia continuou a trocar confidências sobre seus paqueras, seus namorados.
Cláudia e Letícia voltando as boas, voltaram a estudar juntas, trocavam informações sobre as matérias e sobre os interesses no vestibular.
Combinaram que fariam juntas o curso de letras.
Quando finalmente passaram no vestibular, foi uma alegria só.
Ana e Helena, as mães de Cláudia e Letícia trataram logo de comemorar.
A vizinhança de ambas, ficou logo sabendo da novidade. Todos parabenizaram as garotas.
Ana enchia a boca para dizer que a filha era muito estudiosa e que o resultado no vestibular comprovava isto.
Já Helena dizia que a filha havia se esforçado muito para conseguir passar.
Juntas foram realizar a matrícula.
Voltando a prova da faculdade...
A avaliação longa, com textos longos e elaborados, exigia bastante concentração.
Aos poucos, os alunos foram entregando as provas.
Mais tarde Cláudia voltou para casa, acompanhada por Letícia.
As amigas comentavam a dificuldade da prova.
Cláudia rindo, dizia que havia gasto todo o seu latim para redigir a redação proposta.
Letícia riu. Argumentou que a prova não era de latim.
Estavam no segundo ano de curso.
Juntas desceram do ônibus.
Despediram-se.
Ao chegar em casa, Letícia cumprimentou a mãe.
Cláudia, ao chegar em sua residência, cumprimentou Ana e Jacinto. Dizia estar com muito sono. Despediu-se dos pais e foi dormir.
Colocou sua mochila em cima de um banco. Tirou sua vestimenta, olhou o relógio.
Já era quase meia-noite.
Olhou-se rapidamente no espelho.
Vestiu uma camisola.
Puxou o lençol, deitou-se em sua cama e dormiu.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
CANTIGAS DE AMIGO – TROVAS LÍRICAS - Capítulo 8
Isabela ficou encantada com a história.
A beleza de história, assim como sua crueza, a haviam tocado profundamente.
Admirada, comentou que não poderia imaginar o quanto uma pessoa poderia impingir de sofrimento a uma outra pessoa.
Triste, comentou que a história a encantara, mas também a incomodara.
Relatou que em dadas passagens, sentia como se aquilo fosse contra ela.
No que Antonio relatou:
- E você não tem a menor idéia do que isto quer dizer?
Atônita, Isabela comentou que se sentia como se fosse a personagem da história.
Relatou que não gostava de Viriato, em que pese sentir pena dele.
Curioso, Antonio perguntou o que ela sentia a respeito de Lourenço.
Isabela comentou que sentia muito carinho por ele. Acreditava que ele merecia o amor de Leonor.
A moça comentou então, que se estivesse no lugar de Leonor não aguentaria tanto sofrimento. Argumentou que morreria de tristeza.
Antonio por sua vez, respondeu que ela era mais forte do que pensava. Dizendo que ela havia passado por situações muito difíceis em sua existência anterior, relatou que sabia de sua história.
Isabela ficou surpresa.
Nisto o homem contou que havia visto uma criança ser deixada na porta de uma casa por um estranho.
Antonio relatou que o homem que havia deixado a criança, estava a cavalo. E assim que percebeu rumores próximos a porta, saiu a galope.
E assim, dois moços se depararam com um cesto, no qual havia uma criança dentro.
O bebê dormia.
Os homens por sua vez, ficaram espantados com a descoberta.
Ao verem um estranho a galope, concluiram que esta era a pessoa que havia deixado a criança na frente da casa. Mas ao cogitarem segui-lo, o homem sumiu como por mágica.
Com isto, os irmãos resolveram criar a criança.
Viviam brigando para saber quem cuidaria da criança. Quem lhe alimentaria, trocaria suas roupas, lhe daria banho.
Intrigados, perguntavam-se como alguém podia ter coragem de abandonar tão bela criança.
Os irmãos educaram a menina.
Nisto a criança cresceu, se tornando uma moça.
Ao ouvir isto, Isabela chorou, reconhecendo que aquela era sua história.
Surpresa, perguntou como ele poderia saber daquilo.
Antonio respondeu que a terapia não dizia respeito apenas a fatos ocorridos em outras vidas, mas também, a coisas não inteiramente resolvidas no presente.
Comentou que em outra encarnação, ela havia sido uma dançarina.
Descreveu sua vida, relatando que todas as noites dançava para os homens, os quais lhe davam algum dinheiro.
Alguns mais ousados, a assediavam com propostas para passar a noite com eles.
No que a moça se recusava. Seu nome era Esmeralda.
Nisto, certa noite surgiu um homem que acompanhou avidamente seus passos, sua dança, seu gestual.
Hipnotizado com sua dança, o homem a seguiu ao sair do salão, e ao vê-la chegando em sua humilde morada, ofereceu-lhe muito dinheiro para passar a noite com ele.
Sérgio – era seu nome.
A moça recusou-se.
Nisto o homem ofereceu jóias.
Nova recusa.
Nervoso por se sentir contrariado, o homem perguntou-lhe o que desejava para atender ao seu pedido.
A moça relatou então que ele deveria encontrar uma boa mulher e se casar com ela.
O homem, ao ouvir as palavras de desdém, não gostou, e segurando a moça pelo braço, exigiu que ela atendesse ao seu pedido.
A moça, percebendo que o rapaz não estava brincando, comentou que ele poderia lhe ajudar a quitar um débito que possuía com os vendedores da região.
Ao ouvir isto, o moço respondeu que já havia lhe oferecido jóias.
No que ela respondeu que não bastava oferecer-lhes dinheiro. Também teria que ser confirmado o pagamento da dívida para que não sofresse novas cobranças.
E assim o moço foi ter com os homens.
Em alguns casos, teve que empregar a força para conseguir a quitação dos débitos.
A seguir, a moça exigiu jóias.
O homem, generoso, deu tudo o que possuía para moça.
A mulher porém, não atendeu aos seus caprichos.
Fato este que o deixou furioso e sequioso de vingança.
A moça, ao se ver com tantas jóias, resolveu fugir da região.
Isto porém, não foi o bastante para que depois de algum tempo, o homem a encontrasse rica e despreocupada.
Esmeralda havia encontrado uma forma de aumentar seu ganho.
Casou com um homem muito rico e poderoso.
Furioso, Sérgio, ao vê-la casada com um homem rico, encolerizou-se e cheio de ciúmes, matou-a a apunhaladas.
O rapaz ao ver a moça desfalecida no chão, encheu-se de tristeza.
Correu em direção ao corpo e chorou sobre ele.
Dias depois, o moço foi encontrado morto, deitado a uma cama, sem nenhum sinal de violência.
Ao término da história, Isabela pôs-se a chorar.
Antonio – o terapeuta –, relatou então, que a história de Leonor não era apenas uma bonita narrativa.
Era algo muito vívido, e nada mais era do que um resgate, por faltas anteriores.
Isabela porém, recusava-se a acreditar.
Dizendo que não havia sentido naquilo, comentou que sua vida ia muito bem e que não havia motivos para acreditar em tamanha bobagem.
No que Antonio retrucou:
- Pois bem. Se não havia motivos para isto, por que procurar a minha ajuda?
Isabela tencionou sair da sala, mas Antonio a reteve.
Dizendo que boa parte de seu sofrimento havia acabado, comentou que muito embora isto fosse uma realidade, a moça ainda iria encontrar o moço, mais uma última vez.
Ao ouvir isto, a moça chorou.
Dizendo que se a convivência com esta pessoa era tão ruim, não podia entender por que era sempre obrigada a encontrá-lo.
Antonio ao perceber seu tormento, comentou que agora o encontro seria mais calmo, e que eles finalmente se entenderiam.
Nisto, a moça saiu da sala.
Aturdida, Isabela ficou caminhando e pensando em tudo o que vira e ouvira nas últimas horas.
Finalmente sentou-se em um banco de praça. Começou a chorar.
Um rapaz que passava pelo lugar, perguntou-lhe se precisava de ajuda.
Isabela respondeu que não.
Nisto, voltou para casa, onde os dois irmãos que a criaram, a aguardavam ansiosos.
Um parente muito distante de ambos, havia chegado.
Era jovem, regulando a mesma idade da moça.
Isabela ficou intrigada ao perceber que eles tinham muito em comum.
Logo ficaram amigos.
Quando descobriu que o novo amigo possuía um caráter enérgico, lembrou-se das palavras de Antonio.
Isabela porém, achando tudo aquilo muito absurdo, deixou o assunto de lado.
Nunca contudo, deixou-se de admirar com aquilo que considerava uma coincidência. E muitas delas ocorreram, depois de conhecer o moço.
Mas este é um outro assunto...
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.