Poesias

quinta-feira, 20 de maio de 2021

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 11

Feliz, Elis mais tarde voltou para casa. Ao abrir o portão para entrar na residência, a moça foi abordada por Abelardo.
Elis, ao ser repentinamente inquirida pelo jovem, levou um susto. Abelardo ao perceber isso, desculpou-se. Porém em seguida, perguntando onde ela havia estado, ouviu como resposta:
-- Desde quando eu lhe devo satisfações?
Abelardo ao receber esta resposta, desculpou-se, mas dizendo que estava muito preocupado com ela, comentou que fazia muito tempo que os dois não se viam mais. Alegando que desde o passeio que fizeram no parque, – após o encontro com aquele estranho rapaz – nunca mais os dois se viram, Abelardo cobrou de Elis, um pouco mais de atenção.
A moça então, percebendo que precisava ganhar tempo, comentou que ultimamente estava muito ocupada com seus estudos, por isso, não podia ficar com ele.
Abelardo aborrecido, comentou que quando se quer muito alguma coisa, se arruma tempo.
Elis, sentindo-se pressionada, relatou que assim que pudesse os dois voltariam a conversar. Agora, no entanto, dizendo que precisava se preparar para as provas, Elis relatou que não podia ficar à toa.
Abelardo, notando que não seria nada fácil convencê-la a sair com ele, acreditando que Elis estava realmente preocupada com as provas, despediu-se. No entanto, dizendo que ao termino das avaliações voltaria a encontrá-la, afirmou que era muito paciente e sabia esperar.
A moça ao ouvir isso, ficou deveras preocupada. Contudo, de certo modo, aliviada por ter se livrado ao menos durante algum tempo do cerco de Abelardo, Elis adentrou a casa.
Abelardo por sua vez, se relembrando do passeio que fizera no parque com Elis, começou a ficar desconfiado. Ao se lembrar que Elis só o acompanhara no parque, depois de o fazer prometer que não contaria nada sobre o encontro dela com Lourival aos pais, Abelardo constatou que a moça não estava sendo sincera. Furioso, ao perceber que fora usado, tomado de um ímpeto, pensou em novamente se dirigir à casa da moça e exigir explicações. Depois porém, pensando no assunto, Abelardo chegou a conclusão de que se pressionasse a moça, certamente ela lhe responderia com evasivas. Ademais, prevenida da desconfiança, passaria a ter mais cuidado. Não. Não era uma boa idéia. Pensou ele.
Assim, Abelardo, pensando em outra idéia, chegou a conclusão de que a melhor coisa a fazer era segui-la. Sim, desta forma mais cedo ou mais tarde acabaria descobrindo a verdade.
E assim passou a proceder. Sempre que Elis saía de casa, lá estava Abelardo – quase como uma sombra – a segui-la.
Elis porém, ávida por se encontrar com Lourival, com o passar do tempo, deixando de lado os cuidados que tinha em observar se não era seguida, passou a ficar cada vez mais relapsa. Muito embora ainda olhasse em volta, Elis, sempre que via Lourival, sem preocupar com o que as pessoas iriam pensar, acorria em seu encontro.
Com isso, Abelardo, depois de algum seguindo-a, ao ver a cena, ficou chocado. Ao constatar que o rapaz que saía de braços dados com Elis, era o mesmo moço que ele deixara conversar com ela, Abelardo constatou que havia sido enganado. Furioso, ao ver a cena, pensou logo em contar toda a verdade aos pais da moça. Contudo, controlando seu impulso, continuou a seguir Elis. Tudo com o intuito de saber o que o casal fazia quando estava junto.
Assim, Abelardo descobriu que Elis e Lourival, adoravam caminhar de mãos dadas, bem como conversar. Muito embora os dois não fizessem nada de errado, Abelardo considerou uma falta de respeito o comportamento de Elis. Tanto que ao ver os dois se despedirem com um longo e demorado beijo, Abelardo, num ímpeto de fúria, pôs tudo a perder. Sentindo-se traído, ao ver a cena, foi até eles, e exigindo explicações, perguntou:
-- O que significa isso?
Elis ao ver Abelardo à sua frente, perguntou o que ele estava fazendo ali.
Abelardo, ao ouvir a pergunta da moça, respondeu que não era ele quem deveria responder as perguntas.
Lourival, aborrecido com o atrevimento do rapaz, perguntou:
-- O que é que você tem com isso?
Abelardo ao ouvir a pergunta, respondeu a Lourival que ele não devia se intrometer naquele assunto, já que era ‘persona non grata’.
Lourival ao ouvir isso, respondeu que sim, devia sim se intrometer, já que ele era namorado de Elis.
Abelardo ao ouvir estas palavras, perguntou a Elis se o que Lourival dizia era verdade.
-- É sim, Abelardo. Nós estamos juntos. – respondeu Elis.
O rapaz ao notar que os dois estavam saindo juntos há algum tempo, chegou a pensar que nada faria Elis desistir da idéia de ficar ao lado de Lourival. No entanto, tencionando separá-los, Abelardo revelou que contaria tudo o que vira a Bernardo.
Elis ao ouvir a ameaça, chegou a pedir ao rapaz para que não contasse nada a seu pai, mas Abelardo decidido, revelou que não desistiria da idéia.
Por isso mesmo, Abelardo deixou-os sozinhos, e se dirigindo à casa da moça, assim que chegou lá, pediu a Claudete para conversar com Bernardo.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 10

No dia seguinte os dois passearam. Mais tarde, depois de se despedir do moço, Elis, aproveitou para olhar algumas vitrines no centro da cidade. A seguir, verificando se não era seguida, a moça foi até a residência de Lourival.
Quando Elis se deparou com a casa – uma bela e ampla construção toda em azul, que parecia um pequeno palácio –, notou que esta, não ficava nada a dever a sua residência. Espantada com as dimensões do imóvel, assim que entrou na casa, Elis, ao ser atendida por Marta, perguntou se eles possuíam aquele imóvel há muito tempo.
Marta educadamente, respondeu que não. Em seguida, perguntando o por quê da curiosidade, ao saber que Elis era amiga de Lourival, foi logo chamá-lo.
Em questão de minutos finalmente, Lourival descendo às escadas, dirigiu-se a sala.
Ao se deparar com Elis, o rapaz ficou profundamente feliz. Comentando que não esperava vê-la tão cedo, Lourival respondeu que estava em seu quarto, lendo um pouco.
Elis ao constatar que ele e sua família estavam muito bem instalados, comentou que era muito estranho que um simples pescador, tivesse condições de morar numa casa tão boa quanto aquela.
Lourival, ao ouvir o comentário, respondeu que durante um longo tempo, guardou parte do dinheiro que ganhava para comprar uma boa casa. Afirmando que ele também tinha o direito de ter uma boa vida, respondeu que não precisou roubar dinheiro de ninguém para tanto. Alegando que sempre trabalhou, comentou que há muito tempo, não estava mais envolvido com contrabando.
Ao ouvir isso, Elis, respirou aliviada.
Lourival, então, insistindo em dizer que estava disposto a mudar de vida, acabou por convencê-la, de que não se envolveria mais com o bando.
Foi assim que os dois voltaram a se entender.
Com isso, precavidos, Lourival e Elis evitavam se encontrar em lugares muito freqüentados, para que assim, nenhum conhecido de Bernardo, avistasse o casal. Elis, acreditava que em assim procedendo, estaria a salvo da severidade de seu pai.
Ledo engano. Contudo, levaria algum tempo até que essa história caísse nos ouvidos de Bernardo.
Com isso, sempre que podiam os dois se encontravam. Felizes, Elis e Lourival tornaram a ver o belíssimo jardim que os encantara tempos atrás.
Elis, ao observar os lírios que haviam no campo, comentou que uma bonita passagem da Bíblia, contava por meio de uma metáfora, a respeito da excessiva preocupação das pessoas com o dia de amanhã.
Lourival ouvindo atentamente o relato da namorada, perguntou-lhe qual era a relação de tudo isso, com a vida deles.
A moça respondeu que:
-- Olhai os lírios do campo.
O rapaz intrigado, perguntou-a ela o que estava querendo dizer com estas palavras.
Elis explicou então, que nesta passagem da Bíblia, estava escrito que as aves não fiam e nem tecem. Não obstante isso, nunca lhes falta o que comer. Assim, a excessiva preocupação dos homens com o dia de amanhã é desnecessária. Isso por que, em se trabalhando, nunca faltará o que o comer.
Lourival ao ouvir, isso, comentou que era muito bonita esta passagem da Bíblia. Mas dizendo que nem tudo eram flores na vida das pessoas, relatou que nem todos os homens podiam se dar ao luxo de não terem que se preocupar com o dia de amanhã.
Elis ouviu atentamente as palavras do namorado.
O rapaz então, dizendo que já passara necessidade, deixou-a comovida.
Elis, que nunca tivera a mínima idéia do que era passar fome, ao ouvir que ele e seus tios passaram por provações, relatou que agora entendia o apelo sedutor que poderia haver em ganhar dinheiro fácil.
Lourival ao ouvir estas palavras, comentou que nunca mais viu Raul.
A moça ao ouvir isso, sorriu.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 9

Lourival então, percebendo que maldizer o pai da moça não era a melhor solução, respondeu:
-- Está bem! Muito embora o que ele fez não tenha sido correto, nem bonito, ele devia ter seus motivos para assim agir. Afinal, com uma filha tão bonita, o que não deve faltar são pretendentes, cada qual com uma história duvidosa.
Elis ao ouvir as palavras do rapaz, sorriu.
Lourival, então, notando que a moça estava disposta a ouvi-lo, comentou que realmente se envolvera com um bando de contrabandistas, mas que estava disposto a mudar sua vida só para ficar com ela.
Elis ao ouvir isso, comentou desapontada:
-- Eu já devia imaginar! Meu pai não mentiria para mim. Você é um bandido. Por que mentiu pra mim? Por que me fez acreditar que você era uma pessoa honesta? Foi divertido brincar assim comigo?
Lourival constatando que Elis se decepcionara com ele, comentou que nunca tivera a intenção de brincar com ela, muito menos enganá-la. Dizendo que só não comentara sobre sua família por que tinha medo de ser rejeitado, atraiu para si a raiva da moça, que irritada comentou:
-- O que você pensa que eu sou?
Lourival ao ouvir a pergunta, respondeu que nunca fizera mal juízo dela, mas como sabia que o meio em que ela vivia não aceitava conviver com outras classes sociais, achou por bem omitir sua origem.
Elis então, respondeu que ainda assim, nada justificava o fato dele ter se tornado um bandido.
Lourival ao notar que a moça continuava reticente quanto a seu comportamento, revelou que sim, andara por caminhos errados, mas que agora estava disposto a se modificar.
Elis, desconfiada, respondeu:
-- Ah, sim? Pois eu não acredito!
Lourival então, disposto a convencê-la de que estava dizendo a verdade, comentou que não vivia mais em sua vila. Estando na cidade, agora poderia arrumar um emprego melhor e certamente, proporcionar-lhe uma vida de conforto.
Elis ao ouvir estas palavras, perguntou-lhe onde estava morando.
Lourival informou a moça sobre seu endereço.
Curiosa, Elis perguntou há quanto tempo ele vivia no centro da cidade.
Atencioso, Lourival respondeu que há pouco tempo. Além disso, comentando que estava procurando trabalho, respondeu que já havia feito algumas entrevistas de emprego, e estava aguardando resposta.
Elis ao ouvir isso, respondeu:
-- Que bom! Tomara que dê tudo certo para você.
Lourival curioso, perguntou então:
-- E nós? Como ficamos?
Elis ao ouvir isso, respondeu que precisava voltar para casa.
Lourival, insatisfeito com a resposta, segurando a moça pelo braço, reiterou a pergunta.
Foi então que Elis respondeu que precisava pensar. Alegando que Abelardo a esperava, respondeu que não seria nada bom deixar que seu pai desconfiasse dessa aproximação.
Lourival concordou.
Elis, então, respondeu que dali alguns dias iria visitá-lo.
O rapaz afirmou que esperaria ansiosamente pela visita.
Nisso, Elis foi ao encontro de Abelardo, que impaciente, já estava voltando para a rua onde a deixara a sós com Lourival.
Indócil, Abelardo comentou que ela se demorou em sua conversa.
Hábil, Elis comentou que não fora nada fácil convencer Lourival de que eles não podiam mais se falar.
Abelardo ao ouvir isso, ficou deveras satisfeito.
Nisso, a moça aproveitando o ensejo, pediu ao rapaz para que não comentasse nada com Bernardo a respeito do encontro casual que eles tiveram com Lourival. Elis, dizendo que não queria aborrecer seu pai, prometeu que no dia seguinte, passearia com ele.
Foi assim, que ela conseguiu comprar o silêncio de Abelardo.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 8

Nisso, Elis, profundamente decepcionada com Lourival, acostumada a ouvir os conselhos de seus pais, passou a desprezá-lo. Dizendo que não conseguia entender por que ele era assim, prometeu aos pais, que nunca mais se encontraria com ele.
Bernardo e Claudete ao ouvirem a promessa, ficaram deveras satisfeitos. Isso por que, acreditando que seria apenas uma questão de tempo para que ela esquecesse o rapaz, passaram com o tempo, a sugerir a ela que arrumasse outro pretendente.
Elis, contudo, não estava nem um pouco interessada em arrumar outro namorado. Decepcionada com Lourival, a moça ainda assim, não havia se esquecido do rapaz. Desta maneira, precisava de mais algum tempo para se desfazer de sua lembrança e retomar sua vida.
Bernardo porém, não pensava desta forma. Acreditando que somente quando a filha encontrasse um bom partido se esqueceria de Lourival, simpatizando com o filho de um comerciante da região, sugeriu-lhe que um dia desses aparecesse em sua casa para visitar a ele e sua família. Tencionando arrumar um pretendente para sua filha, Bernardo então, começou a preparar o ambiente.
Foi assim que em poucos dias, Elis foi apresentada a Abelardo.
O rapaz ao ver Elis, se encantou com a beleza da moça. No entanto, o mesmo não se pode dizer dela. Muito embora Abelardo não fosse desprovido de atrativos, a moça ainda estava muito ligada a Lourival para se interessar por qualquer outro rapaz.
Todavia, mesmo diante do desinteresse de Elis por Abelardo, Bernardo fazia questão de que sua filha o fizesse companhia. Dizendo que seria indelicado de sua parte deixar o rapaz sozinho com ele e Claudete, Bernardo pressionou a filha, a aceitar a presença de Abelardo.
Elis então, sem ter alternativas, muitas vezes ficou tardes inteiras a pagear o rapaz.
Contudo, muito embora o tempo passasse, nada a fazia esquecer de Lourival.
Certa vez, ao passear pelo centro da cidade com Abelardo, Elis acabou avistando Lourival.
O rapaz, cheio de si, demorou para perceber a moça. No entanto, assim que a viu caminhando com Abelardo, enciumado, foi logo tomar satisfações.
Elis ao ver Lourival diante de si, mal pôde acreditar. Feliz por vê-lo mais uma vez, ainda assim, rechaçou-o.
Lourival, percebendo o ar de desdém de Elis, ainda assim, exigiu explicações para o fato dela estar acompanhada de um rapaz.
Elis ao ouvir a pergunta de Lourival, respondeu que não lhe devia satisfações.
Abelardo ao ouvir isso, ficou felicíssimo. De tão satisfeito chegou a interferir na conversa. Perguntando a moça se ela não gostaria de voltar para casa, sugeriu-lhe encerrar a conversa o quanto antes.
Elis ao ouvir isso, respondeu que antes, precisava dizer umas palavras a Lourival. Assim, delicadamente, pediu para que Abelardo se afastasse por alguns minutos.
Abelardo ao ouvir o pedido de Elis, não gostou nem um pouco. Tanto que chegou a insistir para ficar.
A moça, percebendo isso, comentou que se ele a deixasse a sós por alguns minutos com Lourival, poderia levá-la para um novo passeio no dia seguinte.
Abelardo ao ouvir isso, mesmo desapontado com o pedido de Elis, concordou. Assim, caminhando por entre ruas, deixou-a sozinha com Lourival.
Lourival então, aborrecido com a cena que acabara de ver, perguntou:
-- Quer dizer então, que bastou eu virar as costas para você arrumar um novo namorado?
Elis, aborrecida com a pergunta, comentou irritada:
-- E o que você tem com isso? Por acaso não foi você o primeiro a faltar com a confiança? Seu mentiroso! Você disse que tinha uma vida estabelecida, só que na verdade é um criminoso. Um criminoso e um mentiroso!
Lourival, furioso comentou:
-- Mentiroso por que? Por acaso ser um pescador me faz menos digno que um comerciante? Por que um pescador não pode ter uma vida estabelecida? Por que é pobre? É isso?
Elis, desconcertada com as palavras de Lourival , disse:
-- Não, não é isso. Eu não quis desfazer da sua pessoa. Me desculpe.
-- É. Eu sei que não. Você nunca faria isso. Isso é coisa de seu pai. Foi ele que te envenenou contra mim. Disse que eu estava envolvido com contrabando, que eu sou um bandido, e nem um pouco digno de sua confiança.
Elis, demudada, perguntou:
-- E não é verdade? Se meu pai contratou até um detetive para te investigar!
Lourival ao ouvir isso, comentou:
-- Quer dizer que foi essa a desculpa que ele usou para te dizer tudo isso?
-- Não foi desculpa. – respondeu Elis, aborrecida.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 7

Lourival, ao perceber o desencanto nos olhos da moça, tentou inutilmente explicar-lhe a situação, mas ela, logo saiu da sala e adentrando seu quarto, sumiu de suas vistas.
Bernardo então, constatando que conseguira o que almejara, pediu para a esposa sair da sala.
Lourival por sua vez, humilhado com a situação, novamente fez menção de sair da casa. Bernardo, percebendo isso, exigiu que ele esperasse mais um pouco. Dizendo que não havia terminado seu assunto, ao perceber que Claudete já havia saído da sala, segurou o rapaz pelo braço.
Lourival, ao se ver compelido a permanecer diante de Bernardo, comentou irritado, que ele já havia conseguido o que queria, e portanto não havia mais nada a ser dito.
Bernardo no entanto, insistiu. Alegando que ainda tinha uma última coisa a dizer, respondeu:
-- Como o senhor já deve ter percebido, eu não quero vê-lo rondando minha filha. Ou seja, para ser mais claro: eu não criei Elis para vê-la se envolver com um aproveitador. Filha minha não se mistura com gentalha.
Lourival ao ouvir estas palavras, tratou logo de sair da residência. Antes porém, comentou:
-- Está certo! Eu não vou mais importunar nem o senhor nem sua família. Só quero que saiba de uma coisa: muito embora eu não seja o modelo de genro que o senhor quer – endinheirado –, eu não sou nenhum traste inútil, como o senhor pensa. Eu tenho dinheiro o suficiente para comprar toda essa pose de esnobe que o senhor tem... Tem mais uma coisa... eu não sou um golpista, eu gosto de sua filha, muito embora, para gente como o senhor, o dinheiro seja o mais importante.
Ao ouvir as palavras do rapaz, Bernardo, considerando-o um grande atrevido, bem que tentou retrucar, mas Lourival rapidamente saiu da casa da família, e ganhando a rua, deixou-o falando sozinho.
Desapontado, o rapaz ficou a caminhar pelas ruas de Fortaleza, sem vontade de voltar para casa. Humilhado, só conseguia pensar em uma coisa: dinheiro. Irritado e chateado com a situação, Lourival percebeu que só havia uma forma de ser aceito pelo arrogante Bernardo. Somente quando tivesse muito dinheiro é que poderia se casar com Elis.
Ao notar que só havia este caminho, o rapaz passou a trabalhar cada vez mais amiúde com Raul. No entanto, por mais que trabalhasse, Lourival nunca conseguia amealhar dinheiro suficiente para realizar seu intento. E assim, mesmo ganhando um bom dinheiro, não era o suficiente para sua ambição.
Seus tios, ao notarem o comportamento irritadiço de Lourival, censuraram sua ganância, mas o moço, dizendo que precisava mudar de vida, retrucou. Alegando que não agüentava mais viver naquela vila de pescadores, Lourival comentou que gostaria de morar numa casa melhor e mais ampla.
Seus tios – Marta e Renato –, ao ouvirem os comentários do rapaz, responderam que se ele gostaria de viver em uma casa melhor, deveria aprender a guardar pelo menos, parte do dinheiro que ganhava.
Lourival, ao ouvir o conselho dos tios, caiu em si. Percebendo que se continuasse a esbanjar o dinheiro que ganhava, nunca conseguiria melhorar sua vida, depois desse dia, nunca mais gastou tudo o que ganhava com bobagens. Assim, foi questão de tempo, para que conseguisse comprar uma bela residência no centro da cidade.
Com isso, as moças da região onde vivia, ao saberem que o rapaz partiria em breve, ficaram desalentadas. Os rapazes da vila porém, felizes, mal viam a hora de Lourival partir e eles finalmente se verem livres de sua presença inconveniente.
Assim, foi.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 6

No dia seguinte, em passeio com Lourival, Elis logo comentou que seu pai e sua mãe já estavam sabendo do namoro dos dois.
Lourival, ao ouvir isso, ficou deveras satisfeito.
Nisso, Elis comentou que ele havia sido convidado para um jantar.
Lourival então, de tão animado, segurou-a pelos braços, e carregando-a disse-lhe:
-- Estou tão feliz, que nesse jantar seria até capaz de pedi-la em casamento.
Elis ao ouvir isso, perguntou:
-- É mesmo? Então por que não pede?
Lourival sentindo-se desafiado, perguntou:
-- E a senhorita, aceitaria meu pedido?
-- Mas é claro que sim. – respondeu ela com um sorriso largo.
Lourival satisfeitíssimo, mal poderia imaginar que o convite era extensivo a seus tios. Contudo, quando tomou conhecimento dessa condição, ficou bastante nervoso.
Surpresa, Elis quis logo saber o por quê de tanta agitação.
Lourival então, tentando ganhar um pouco de tempo, comentou que seus tios, não estavam muito bem de saúde para poderem sair de casa.
Elis, ao ouvir estas palavras, comentou que eles poderiam esperar os dois melhorarem para depois marcar o jantar.
Lourival, ainda nervoso, comentou então, que devido o fato dos dois estarem muito doentes, não seria tão cedo que eles estariam recuperados, para este jantar.
Ao ouvir isso, Elis ficou desolada.
O rapaz, ao notar isso, comentou então:
-- Olhe! Não que eu esteja muito feliz em fazer isso, mas nós podemos muito bem marcar este jantar para os próximos dias, e assim que meus tios estiverem melhor, eu me encarrego de providenciar um jantar para sua família.
Elis ao ouvir isso concordou.
Enquanto isso, Bernardo, sequioso de saber mais detalhes sobre a vida do rapaz, utilizando-se dos serviços de um detetive particular, tratou logo de se prevenir. Temeroso de que Lourival não passasse de um golpista, assim que soube que sua filha o estava namorando, pensou logo em investigá-lo.
Com isso, no dia do jantar, já de posse das informações que precisava, Bernardo, ciente de que o rapaz era um simples caiçara, pensou logo em urdir um plano para afastá-lo de sua filha. Furioso com o atrevimento do rapaz, assim que soube de sua humilde condição, pensou logo em cancelar o jantar.
Contudo, depois de muito pensar, achou por bem continuar a farsa. Assim, até o momento do jantar, poderia desmascará-lo na frente da mulher e da filha.
Sim, Elis era a principal interessada. Assim ela deveria ser a primeira a saber tudo o que cercava a vida de Lourival. Por isso, Bernardo precisava deixar o encontro acontecer.
E assim o fez.
Quando Lourival chegou à sua casa, Bernardo, fingindo cordialidade, fez questão de cumprimentá-lo e deixando-o à vontade, ofereceu-lhe um licor.
O rapaz, ao ouvir o oferecimento aceitou a bebida.
Bernardo então, ao vê-lo sorvendo a bebida com tanto gosto, perguntou-lhe se já havia experimentado, o licor.
Lourival, respondendo que não, comentou que apesar de ser um sabor novo e diferente, era muito bom.
Bernardo então, aguardando o jantar, pediu a filha, para que acompanhasse a mãe até a cozinha, para verificar se tudo estava saindo a contento.
Elis percebendo que seu pai precisava conversar com o rapaz, saiu rapidamente da sala.
Claudete por sua vez, desejando boas-vindas ao rapaz, também se retirou.
Nisso, Bernardo e Lourival ficaram por algum tempo sozinhos.
O homem então, aproveitando a ocasião, conversou com Lourival. Dizendo que não sabia quase nada sobre ele, Bernardo, começou a lhe fazer perguntas.
Lourival, seguro de si, respondeu a todas elas com muita tranqüilidade. Fazendo-se passar por um homem de negócios, o rapaz comentou que estava começando um pequeno comércio.
Bernardo ao ouvir isso, quis logo saber o tipo de comércio.
Lourival explicou então, que estava pensando em montar um mercado.
Bernardo, percebendo isso, começou a fazer perguntas a respeito do assunto para o rapaz.
O moço então, respondeu a todas com o maior cuidado.
Quanto a isso estava tudo indo muito bem.
No entanto, foi só o pai da moça perguntar sobre sua família, que Lourival, se fechou em copas. O rapaz, nervoso com a pergunta, tratou logo de desconversar. Dizendo que seus tios não estavam bem, comentou que ainda muito pequeno, perdera os pais.
Bernardo ao ouvir as palavras do rapaz, fingindo grande curiosidade, perguntou-lhe como os pais haviam morrido.
Lourival, ao ouvir a pergunta, revelou que não estava nem um pouco interessado em rememorar um assunto que lhe era por demais penoso.
O homem ao ouvir isso, desculpou-se. Alegando que havia sido inconveniente, reiterou suas desculpas.
O jovem ao ouvir as desculpas de Bernardo, aceitou-as, e, dizendo que eles deveriam mudar de assunto, começou a falar de Elis. Animado Lourival chegou a dizer a Bernardo que ele e sua mulher deviam ter muito orgulho da filha que tinham, já que Elis, era uma pessoa maravilhosa.
Bernardo ao ouvir isso sorriu. A seguir, dizendo que ele era um rapaz muito inteligente, comentou que Elis era a maior alegria de sua vida.
Lourival ouvia atento tudo o que Bernardo falava.
À certa altura, percebendo a aproximação da filha e da esposa, Bernardo comentou que tinha tanta adoração pela filha, que jamais permitiria que alguém se aproveitasse dela. Dizendo que jamais admitiria oportunistas e aproveitadores em sua família, comentou que sua filha era importante demais, para que a deixasse ser infeliz.
Lourival, desconfiado de que talvez aquelas fossem um recado, fingindo ignorar este fato, concordou com ele.
Nisso, Elis e Claudete, surgindo na sala, chamaram os dois para jantar.
Bernardo e Lourival, seguiram para a sala de jantar.
Ao se sentarem à mesa, logo uma criada serviu-os.
Durante o jantar, os quatro conversaram sobre amenidades.
Após, terminado o jantar, Bernardo constatou que era chegado o momento de revelar tudo o que sabia sobre o rapaz. Com isso, o homem, alegando que tinha algo muito importante para falar, pediu para que o rapaz esperasse um pouco antes de partir.
Lourival concordou com o pedido.
Assim, todos retornaram a sala de estar.
Lá procurando encontrar um bom momento para revelar o que sabia, comentou com a esposa e a filha que Lourival tencionava lançar-se ao comércio.
Curiosa, Claudete quis saber mais detalhes.
Lourival então, mais uma vez explicou os detalhes de sua empreitada.
Elis, era só sorrisos.
E, seguida, Bernardo, começou a fazer comentários sobre a vida do rapaz. Dizendo que ele fora criado pelos tios e que estes não puderam comparecer ao jantar, o homem conseguiu deixar Lourival bastante incomodado.
O moço porém, tentando demonstrar cordialidade, não retrucou.
Nisso, Bernardo continuou. Comentando que certa vez, um conhecido o vira sair de barco na praia do Mucuripe, Bernardo conseguiu deixar Lourival desconcertado.
Isso por que, o rapaz, percebendo que Bernardo sabia algo mais sobre seu passado, ficou logo apreensivo. Contudo, visando encerrar a conversa, Lourival comentou que de vez em quando saía junto com os pescadores, para fazer um passeio de barco pela região. Dizendo que o Ceará é um belo estado, Lourival comentou que o que de mais belo existe por lá, é a natureza pródiga e farta.
Bernardo ao ouvir as palavras de explicação do rapaz, continuou a provocá-lo. Insistindo em seu intento de desmascará-lo, Bernardo começou a dizer, que Lourival era um homem de negócios.
Elis, ao ouvir isso, concordou. Contudo, desconfiada da atitude provocativa de seu pai, perguntou:
-- Sim, ele é. Mas o que isso tem de mais?
Bernardo, percebendo a curiosidade da filha, comentou que não haveria nada de mais nisso, não fosse o fato, dele estar envolvido com contrabandistas.
Ao proferir estas palavras, o homem conseguiu deixar sua esposa e filha, chocadas.
Lourival percebendo que fora vítima de uma cilada, bem que tentou negar, mas Bernardo, dizendo que tinha como provar o que afirmara, foi até seu escritório, e de volta a sala, segurando um envelope nas mãos, abriu-o e despejou algumas dezenas de fotos em preto e branco sobre a mesinha de centro.
Lourival ao ver as fotos, começou a dizer que tudo aquilo não passava de uma armação.
Bernardo então, interrompendo-o comentou que não adiantava ele negar os fatos. Afinal de contas, a sua própria origem já denunciava que ele enveredaria por este caminho. Tudo com vistas a abandonar sua vida de miséria.
Lourival ao ouvir isso, percebeu finalmente, que não adiantava argumentar. Rendido, fez menção de partir.
Bernardo, segurando-o pelo braço, revelou então, que ele era um pescador.
Elis, aturdida, ao ouvir isso, sem saber o que pensar, perguntou:
-- É verdade o que papai está dizendo? Você é mesmo um pescador?
Gaguejando, o rapaz tentou se explicar, mas Elis, percebendo que seu pai não mentira, atalhou:
-- Não. Não precisa me dizer nada. – respondeu ela, visivelmente decepcionada.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 5

Ao adentrar a sala, seu pai, percebendo que ela sempre chegava acompanhada de um mancebo, mais uma vez quis saber quem era.
Elis, percebendo a curiosidade do pai, mais uma vez, desconversou. Dizendo que o rapaz era apenas um conhecido, alegou que ele a trazia sempre em casa, por que era muito insistente. O rapaz, dizendo que ela não devia sair desacompanhada, fazia questão de lhe pagear.
Bernardo, ao ouvir isso, comentou que era muito pouco comum um desconhecido se interessar em acompanhar alguém, sem nenhum motivo concreto.
Elis ao ouvir isso, respondeu:
-- Mas ele não é um desconhecido. Eu não acabei de falar que ele é conhecido?
Bernardo ao ouvir isso, retificou:
-- Está bem. É um seu conhecido. Muito embora eu não saiba de quem se trata, segundo você, ele é seu conhecido.
-- Sim, é colega meu. – respondeu ela.
Seu pai, ao ouvir isso, comentou:
-- Se ele é seu colega, então ele não é apenas um conhecido.
Elis, ao ouvir isso, logo percebeu que falara demais. Constatando o deslize, tentou consertar a situação:
-- Colega? Eu disse colega? Não é bem um colega, posto que mal nos falamos. Eu disse colega, por que ultimamente é sempre ele que tem me trazido em casa.
Bernardo ao ouvir, perguntou:
-- Curioso! Um colega que ultimamente tem andando muito com você, não é mesmo? Será que ele é apenas um colega?
Elis ao ouvir ao ouvir as indagações de seu pai, sentiu as palavras fugirem.
Seu pai, todavia, insistiu para que a filha, respondesse suas perguntas.
Elis então, perguntou, depois de se acalmar um pouco:
-- Ora papai! Que idéia o senhor faz de mim? Por acaso, o que eu poderia estar fazendo? Por que essas perguntas?
Bernardo percebendo que sua filha tencionava fugir do assunto, novamente perguntou:
-- Mocinha! A senhorita ainda não me respondeu a pergunta que fiz. Acaso tem alguma coisa nessa história, que eu não posso saber? Sim por que, se ele é apenas um colega, por que você faz tanta questão de escondê-lo de nós?
-- Mas pai! Eu não estou escondendo ninguém!
-- Está sim, e você bem o sabe. Agora eu me pergunto... Por que será? Acaso ele é mais um pretendente?
Elis ao ouvir isso, ficou aturdida. Sem saber o que pensar, começou a gaguejar:
-- N... não. Mas é claro que não! Papai, que idéia!
-- Por quê? Acaso o rapaz não é provido de atrativos? Jovem, porte altivo... Aposto que muitas mulheres devem ter se interessado por ele.
Elis, ao ouvir isso, não ficou nem um pouco satisfeita. Porém, procurando disfarçar sua contrariedade, tratou logo de encerrar aquela conversa. Dizendo que o pai estava sendo indiscreto ao comentar sobre a vida de uma pessoa que nem sequer conhecia, Elis alegou, que não cabia a ela, responder aquelas perguntas.
Bernardo então, percebendo que fora indiscreto, desculpou-se e deixou-a ir para seu quarto. Contudo, dizendo que aquela conversa não estava encerrada, tratou logo de avisá-la que mais tarde retomaria o assunto.
Elis, concordou.
Ao entrar em seu quarto, amplo e ricamente decorado, a moça, percebendo que não tardaria o momento em que contaria a verdade, passou a pensar de que forma contaria aos pais, que estava namorando. Angustiada, passou a pensar na melhor forma de contar a verdade.
Ensaiando um discurso, Elis passou horas e horas em seu quarto.
Durante o jantar, Bernardo então, relatando que precisava retomar um assunto com a filha, comentou que mais tarde eles conversariam.
Claudete, percebendo o ar de gravidade do marido, quis logo saber sobre o que os dois conversariam.
Bernardo ao notar a curiosidade da esposa, comentou que não era nada de mais. Dizendo que apenas, ficara intrigado com um fato, Bernardo respondeu, que não cabia a ela ficar preocupada.
Claudete então, percebendo que nenhum dos dois contaria o que estava se passando, resolveu deixar o assunto de lado.
E assim continuaram a ceia.
Mais tarde, depois do jantar, Bernardo, ansioso por retomar a conversa, mandou Elis, ir para o escritório – que ele possuía na residência.
Claudete, percebendo que o assunto era particular, resolveu ir até a sala, retomar seus bordados.
Nisso, Bernardo, entrando logo em seguida no escritório, fechou a porta e impaciente, disparou a seguinte pergunta:
-- Agora você vai me responder aquela pergunta que te fiz hoje à tarde, não é mesmo?
Elis, ao ouvir mais uma vez o questionamento do pai, bem que tentou desconversar, mas Bernardo, cansado de ouvir evasivas, foi logo dizendo que não aceitaria desculpas. Afirmando que estava cansado de ouvir afirmações vagas, Bernardo comentou que não sairia dali, enquanto ela não lhe contasse toda a verdade.
A moça ao ouvir isso, ficou bastante apreensiva. Tão apreensiva, que seu pai, preocupado, perguntou:
-- Se você está tão nervosa assim, é por que aquele rapaz é muito mais do que um simples conhecido, não é?
Elis, ao perceber que seu pai já desconfiava desta proximidade, perguntou:
-- E o que tem de mais nisso? Acaso eu estou proibida de namorar?
Bernardo ao ouvir estas palavras, tomado de espanto, sentou-se num dos sofás que havia no escritório. Surpreso, muito embora desconfiasse de que havia algo de estranho, jamais poderia imaginar que sua prevenção se tornaria realidade.
Elis, percebendo o ar estupefato de seu pai, perguntou surpresa:
-- Mas não era o senhor mesmo que estava desconfiado?
Bernardo ao ouvir a pergunta da filha, deveras preocupado, foi logo crivando-a de perguntas. Sequioso de saber tudo o que se relacionava ao rapaz, descobriu que ele se chamava Lourival, que fora criado por seus tios, e que seus pais morreram quando ele era ainda muito pequeno.
Bernardo ao ouvir isso, constatou que de posse dessas informações, já poderia descobrir qual era a origem do rapaz. Isso por que, desconfiado de que as boas roupas do rapaz e sua postura altiva, fossem mera aparência, Bernardo quis logo se precaver. Afinal de contas, não havia criado sua filha, para que ela se envolvesse com algum aproveitador.
Elis, que até então, não conhecia a família de Lourival, ao perceber a excessiva curiosidade do pai em conhecer detalhes sobre a vida do moço, comentou que ele possuía uma boa condição social. Dizendo que era ele quem bancava todos os passeios que faziam, Elis alegou, que ele estava sempre muito elegante. Extremamente educado, parecia um nobre, segundo ela.
Bernardo porém, nem assim se convenceu de que o rapaz poderia ser um bom partido. Desconfiado de tantas boas maneiras, comentou que nunca vira o rapaz antes.
Elis, tentando contornar a situação, respondeu, que havia muitos comerciantes na cidade que ele não conhecia.
Ao ouvir isso, Bernardo concordou.
Elis então, mais calma, parou de tentar convencer o pai de que seu namorado era uma boa pessoa.
Bernardo então, comentou que estava tudo bem.
A moça ao ouvir isso ficou surpresa.
Seu pai então, percebendo seu espanto, comentou que se o namoro dos dois era tão certo assim, não havia nada de mais nela convidar o moço e sua família para jantarem um dia desses com eles.
Elis ao ouvir isso, perguntou:
-- Pai! O senhor tem certeza disso?
No que Bernardo respondeu:
-- Mas é claro que eu tenho. Pode convidar o rapaz sem medo. Outra coisa... não se esqueça de que o convite é extensivo à família.
Elis ao ouvir isso, ficou exultante.
Bernardo então, desejando ficar um instante sozinho, pediu a filha para que saísse do escritório, para que pudesse trabalhar um pouco.
Satisfeita, a moça saiu prontamente do escritório.

Luciana Celestino dos Santos
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