Poesias

quinta-feira, 6 de maio de 2021

O DESTINO DESFOLHOU - CAPÍTULO 1

Em uma cidade pouco conhecida, muitos crimes vinham sendo cometidos ultimamente.
Crimes os mais variados possíveis. Desde pequenos golpes, furto e roubos, até assassinatos. É, a situação era estarrecedora.
Mas a despeito disso, os policiais desta cidade não se deixaram intimidar. Valorosos, procuravam desvendar os crimes, muito embora estivessem em desvantagem, dado que os bandidos, detentores de um aparato mais moderno para suas práticas criminosas, facilmente conseguiam despistar a policia.
Sim, o crime organizado invadira a cidade, pegando as pessoas de surpresa.
Mesmo a policia, empenhada em encontrar os bandidos, não sabia o que fazer para tentar diminuir os índices alarmantes de criminalidade.
Não sabiam lidar com essa força criminosa que enveredava para todos os lados, inclusive na política.
Pior, por mais que fizessem, nada era suficiente.
A própria população estava insatisfeita com a atuação dos policiais.
Isso por que, últimos meses, a policia, em decorrência de sua falta de preparo para lidar com esse tipo de criminoso, acabou agindo equivocadamente. Os policiais, na tentativa de conterem um assalto, acabaram efetuando disparos que podem ter atingido uma das vítimas.
Muito embora, este tenha sido um fato isolado, o mesmo contribuiu e muito, para diminuir a credibilidade da polícia.
Por conta disso, o delegado da cidade cogitou até a possibilidade de afastar os policiais envolvidos no incidente, tamanha era a pressão popular para que se fizesse alguma coisa.
Foi por esta razão que as vidas de Fabrício e Alessandro, viraram de cabeça para baixo.
Isso por que, ao trocarem tiros com os bandidos, acabaram colocando em risco a vida das pessoas que passavam pelo local naquele momento. Não bastasse isso, um dos disparos acabou por atingir uma das vítimas dos bandidos. Contudo, não dava para se saber ao certo, quem tinha sido o autor dos disparos.
Contudo, apesar do delegado Otaviano, acreditar que nenhum de seus policiais havia efetuado os aludidos disparos, precisava ainda assim, tomar uma atitude. Por isso, antes de qualquer coisa, chamou os dois policiais para uma conversa.
Ao entrarem na sala, Otaviano foi logo pedindo para que se sentassem.
Os policiais então se sentaram e o delegado foi logo dizendo:
-- Eu tenho certeza absoluta de que não foram os senhores os autores dos disparos. Todavia, eu não posso simplesmente ignorar o clamor da população de nossa cidade, que está muito interessada em que se resolva esse crime. Por isso eu estou sugerindo aos senhores, que pelo menos por enquanto, se afastem de suas atividades costumeiras. Em outras palavras, eu estou pedindo para que ambos peçam uma licença.
-- Uma licença? Pra quê? – perguntou Fabrício, surpreso.
-- Doutor, eu não posso deixar de trabalhar. – comentou Alessandro.
O delegado, percebendo a apreensão de ambos, comentou:
-- Meus caros policiais. Eu não estou pedindo para os senhores se afastarem. Só estou pedindo para que fiquem alguns dias de licença, até as coisas se acalmarem e nos começarmos a apurar os fatos. Como eu já disse antes, tenho certeza absoluta de que os senhores não estão envolvidos neste lamentável incidente. Porém, sabendo da indignação dos populares, eu não posso deixá-los expostos. Não agora.
Ao ouvirem as palavras do delegado, os dois policiais ficaram indignados com sua atitude. Afinal, se ele acreditava tão sinceramente na inocência de ambos, por que pedir para que se afastassem de suas atividades policiais? Afinal de contas, se não tinham nada a temer, também não tinham motivos para se esconder.
Diante disso, os policiais responderam:
-- Doutor, agradecemos a preocupação, mas não podemos aceitar. Isso por que, a nossa ausência fatalmente seria entendida como culpa, e nós não somos culpados. Nós estavamos lá. Nós só atiramos nos assaltantes. Não ferimos nenhuma vítima.
O delegado então respondeu:
-- Tenho certeza disso. Apesar de nossos parcos recursos, eu tenho absoluta convicção de que os meus policiais são bem treinados e estão mais do que prontos para lidar com esse tipo de situação. Contudo, eu não posso deixar de investigar e apurar o que realmente aconteceu. Provando que foram os próprios assaltantes que atiraram na vítima, ou não, estaremos cumprindo nosso papel de policiais.
-- Sabemos disso doutor. Mas preferimos continuar trabalhando. – respondeu Alessandro.
Fabrício assentiu com a cabeça, concordando.
E assim, saíram da sala e retomaram seu trabalho.
Apesar da pressão para que ambos se afastassem, os dois policiais estavam desapontados com o delegado. Isso por que, não esperavam que o mesmo lhe propusesse um período de licença.
Porém, conhecendo o delegado, sabiam que se o mesmo havia lhes pedido para que assim procedesse, era por que a situação era realmente delicada.
Contudo, os dois tinham absoluta certeza de que não haviam feito nada de errado.
No dia do assalto, os policiais, não só eles, mas os outros que os acompanhavam, só efetuaram disparos depois que os assaltantes começaram a atirar.
Cientes de que haviam vítimas em poder dos bandidos, os policiais sabiam que só deveriam atirar em último caso. Mas foi só chegarem em frente a agência bancária, para que os bandidos começassem a atirar. Em resposta, só restou a polícia revidar os tiros.
Foi desta forma que adentraram a agência e renderam os bandidos.
No entanto, ao entrarem na agência, qual não foi a surpresa dos policiais ao perceberem que uma das vítimas havia sido baleada. Provavelmente um dos bandidos atirou no rapaz durante a confusão.
Confusão por que, no momento da troca de tiros, algumas das vítimas começaram a correr pela agência, na vã tentativa de se protegerem.
Por conta disso, todos os policiais que participaram da operação, foram seriamente repreendidos pelo delegado. Este, ao saber da confusão, fez questão de comentar que não eles deviam ter atirado, sabendo que havia civis dentro da agência.
Um dos policiais no entanto, ao ouvir as imprecações do delegado, fez questão de comentar:
-- Mas doutor, os bandidos começaram a atirar. Se não revidassemos, facilmente os mesmos se evadiriam da agência, levando algum refém.
Doutor Otaviano, ao ouvir as palavras do policial, ainda preocupado com a repercussão que o caso teria, comentou que ainda assim, o mais importante foi deixado de lado, isto é, as vidas humanas, as pessoas que estavam dentro e fora da agência e que poderiam ter sido baleadas, mortas.
Dito e feito. Não demorou nem duas horas, para que o caso fosse parar na televisão e nos jornais da cidade.
Durante a noite na cidade, não se falava em outra coisa que não fosse na inépcia dos policiais que atiraram e balearam uma das vítimas do assalto.
A imprensa era implacável.
Dia e noite nos noticiários locais, era certo que alguma notícia relativa ao estado de saúde do rapaz, seria veiculada. E assim, durante dias a fio, se comentava que o estado de saúde do rapaz era grave.
Tal situação só serviu para complicar ainda mais a situação dos policiais.
Principalmente a situação de Fabrício e Alessandro, que coordenaram a operação e deram ordem de responder aos tiros.
A situação de ambos, era muito delicada. E a cada dia que passava, mais e mais se agravava a situação dos policiais.
Por conta da notícia veiculada nos telejornais, os policiais eram freqüentemente hostilizados pela população local. Tratados como bandidos, certa vez, ao passearem com a família pela cidade, os populares ao verem os dois policiais em companhia de seus familiares, passaram a lhes atirar objetos.
A família de ambos ficou apavorada.
Isso por que, quando se está sozinho, mesmo diante da maior ira, não há problema. Contudo, uma horda de populares enfurecidos, é algo extremamente perigoso. Juntas, as pessoas se sentem mais fortes e mais dispostas a cometerem atrocidades.
E nisso, um deles de tão irado, chegou a atirar uma pedra, que feriu Fabrício no rosto.
Alice, sua esposa, ao perceber que o marido havia sido ferido, tratou logo de levá-lo até o Pronto Socorro da cidade. Lá seu ferimento foi limpado e fechado por meio de pontos.
Com isso, enquanto Fabrício era atendido no pronto socorro, Alice tentava acalmar o filho de oito anos, que ficou tremendamente assustado ao perceber a reação das pessoas com relação a seu pai. Não bastasse estar sendo hostilizado na escola, o garoto tinha que presenciar agressões feitas a seu pai em plena luz do dia.
Chorando, Leonardo não conseguia entender como as pessoas podiam ser tão ruins umas com as outras. E por mais que Alice explicasse, para ele não havia explicações satisfatórias para o que estava acontecendo. Tanto que por mais que se falasse, nada fazia o menino se acalmar.
Leonardo só se acalmou quando viu o pai, e este conversou um pouco com ele.
Sim, o caso estava ganhando repercussão. Repercussão em nível nacional, diga-se de passagem.
Foi por conta de um noticiário exibido em todo o país, que Joana, uma jornalista interessada em furos de reportagem, decidiu-se por viajar até o local dos fatos, para tentar descobrir algo novo sobre o tal tiroteio, bem como investigar uma denuncia de corrupção, feita há algum tempo e que não havia dado em nada.
A segunda notícia, assim como a notícia do tiroteio, foi veiculada em cadeia nacional, e curiosamente, atraiu o interesse da jornalista. No entanto, em razão de compromissos profissionais, a mesma não pôde ir até a cidade para investigar os fatos.
Contudo, agora era diferente. Como jornalista free lancer, a Joana poderia ir para onde quisesse e trabalhar na matéria que lhe interessasse. Por isso, estava decidida a até mesmo, morar no local, se isso fosse necessário.
Por ser formada em jornalismo, poderia facilmente se infiltrar na imprensa local e trabalhar como jornalista na cidade.
Assim, só lhe faltava arrumar as malas e seguir viagem.
E assim fez.
Na estrada, avistou fazendas e muita vegetação.
Ao chegar na cidade, chegou a se surpreender com a infra-estrutura do lugar. O lugar, apesar de pouco conhecido, era bem servido em matéria de hotéis, restaurantes, casas, delegacia, farmácia, prefeitura, escritórios, um pronto socorro, algum comércio, uma agência bancária e uma imobiliária. Na cidade havia até um jornal próprio.
Realmente, era de se impressionar.
Joana achou por bem, no entanto, ficar num hotel.
Como não queria chamar a atenção, achou por bem, se passar por turista. Pelo menos por enquanto, não era conveniente que soubessem que ela era jornalista.
E assim discretamente, depois de chegar na cidade, passou a visitar os seus lugares pitorescos. Por isso mesmo, acabou se passando por turista.
Todavia, conforme se passavam os dias, a moça passou a sentir necessidade de se apresentar aos figurões da cidade. Porém, como faria isso? Não conhecia ninguém no lugar e assim, qualquer aproximação ficava ainda mais difícil.
Isso no entanto, não a desanimava. Acostumada a lidar com situações pouco favoráveis, Joana estava mais do que preparada para tanto. Por isso mesmo, visando conhecer um pouco da rotina do prefeito da cidade, Joana começou a perguntar aos moradores do lugar, quando ele costumava se apresentar publicamente, se havia alguma obra para ser inaugurada, se ele tinha seguranças, etc.
Tudo para saber o momento certo de se aproximar do ilustre representante da cidade. No que foi prontamente atendida.
Todavia, os moradores, percebendo que a mesma fazia muitas perguntas a respeito da rotina do prefeito da cidade, começaram a ficar ressabiados. Afinal de contas, qual o interesse dela com relação ao prefeito? Por acaso ela era jornalista?
Ao notar o receio dos moradores, Joana fez questão de contar que há muito tempo atrás, tinha ouvido falar, na sua cidade, que o prefeito desta localidade havia feito um grande trabalho, embelezando praças e canteiros de avenidas.
Joana contou então, que ao ver as imagens da cidade revitalizada, encantou-se pelo trabalho e ficou deveras interessada em conhecer o lugar. Acostumada com o caos urbano em sua cidade, desejava conhecer o prefeito. Como cidadã gostaria de saber como tudo tinha sido realizado, para quem sabe, sugerir ao prefeito de sua cidade, as mesmas melhorias.
Os moradores do lugar, ao ouvirem as palavras da moça, acreditaram nelas. Por ter vindo de uma cidade maior, acreditavam que sua desenvoltura com as palavras, se devia ao fato da moça ter estudo. Assim, sem mais receios, os mesmos passaram a contar a ela os meios possíveis para se falar com o prefeito.
Agradecida pelas informações, Joana então, passou a procurar insistentemente os assessores do político, para agendar uma entrevista com o mesmo. Entrementes, por mais que tentasse, não conseguia nada.
Um dia, cansada de ser enrolada pelos assessores do político, Joana resolveu tentar outra coisa.
Como em breve haveria um festival na cidade, a moça aproveitaria a ocasião, para tentar se aproximar do prefeito. Em meio a multidão, o mesmo não poderia evitá-la. Querendo ou não, acabaria tendo que conversar com ela.
Assim, quando finalmente a festa aconteceu, Joana fez de tudo para se aproximar do político. Porém, sempre que se aproximava, surgia um segurança para afastá-la. Por conta disso, passou a noite inteira tentando se aproximar, e sendo repelida pelos seguranças.
Apesar disso, a moça não desistia. Teimosa, passaria a noite inteira tentando se aproximar se isso fosse realmente necessário.
No entanto, Joana sabia que esta não seria sua única oportunidade de aproximação. Como essas, haveriam outras, e certamente nas próximas, Joana seria mais bem sucedida.
Assim, só cabia a Joana esperar. Sim, esperar. Porém, para uma pessoa agitada igual ela, não era nada fácil se acostumar com essa perspectiva. Até por que, a moça, dependia deste trabalho para viver. Desta forma, não podia se dar ao luxo de ficar muito tempo sem trabalhar. De formas que, precisava encontrar uma maneira de se encontrar com o prefeito. Sim, e o mais depressa possível.
Todavia, não foi nada fácil provocar um encontro com a maior autoridade do município.
Isso por que, o famigerado político, envolvido em um escândalo, estava deveras receoso. Temeroso, não queria saber de jornalistas.
Ademais, com o tiroteio que se deu em uma agência bancária da cidade, havia mais um motivo para ele se esconder.
Com isso, a jornalista tinha duas matérias sensacionais para cobrir na cidade.
Se tudo desse certo, certamente ela ganharia um prêmio.
Todavia, Joana devia ser bastante cautelosa ao empreender seu trabalho, ou então, acabaria não conseguindo nada.
Determinada, a moça prometeu a si mesma que não se precipitaria, muito embora tivesse muita pressa em realizar seu trabalho.
Mas se controlaria. Até por que, não queria espantar seu primeiro alvo.
Porém, não teria que esperar muito.
Isso por que, poucos dias depois, o prefeito foi inaugurar uma estátua nas cercanias da cidade. Joana ao saber disso, foi imediatamente até o local.
Como era de se imaginar, uma multidão compareceu na inauguração.
Joana percebeu então, que mais uma vez teria um grande desafio pela frente. Porém, como era determinada, não seria agora que ela desistiria de seu intento. Para ela, era tudo ou nada. E foi assim, que a moça, vestindo um provocante vestido verde, tentou chamar a atenção do prefeito.
Sim, Joana faria tudo para conseguir seu furo de reportagem. Até se insinuar para o prefeito, como se fora uma admiradora sua.
Nisso, o prefeito, que não era indiferente ao charme de uma mulher, foi logo perguntando, quem era aquela moça bonita, que não parava de olhar de um lado para o outro.
Como o assessor não sabia quem era, para decepção do prefeito, tratou logo de se informar com alguns moradores sobre quem seria aquela mulher.
Porém, ao contrário do que imaginava, não conseguiu descobrir nada sobre a mulher que não parava de andar de um lado para o outro, nas palavras do prefeito. Todavia o assessor, acabou descobrindo por meio de outro assessor, depois de muito perguntar, que não havia muito tempo, aquela mesma moça, havia tentado entrar em contato com o prefeito. Como não logrou êxito, durante o festival da cidade, tentou a todo momento, driblar a segurança, sem sucesso. Nada dava certo. Agora a moça estava lá.
De tão insistente, o assessor chegou até a comentar com seu colega, que aquela cisma não podia ser boa coisa. Provavelmente ela era jornalista, e estava querendo uma entrevista com o prefeito. Ou pior, alguma espiã.
Ao ouvir isso, o outro assessor, caiu na gargalhada.
Achando tudo muito absurdo, comentou com o amigo que ele estava ficando paranóico.
Nisso, o primeiro tornou a falar com o prefeito, e comentou sobre o que havia descoberto.
O prefeito, ao saber dos fatos, ficou deveras satisfeito. Sim, por que se ela estava a sua procura, ele não teria nenhum problema em se aproximar dela. Seria muito mais fácil do que pensava.
E foi assim, que Joana conseguiu ter seu primeiro encontro com o prefeito. Sob a desculpa de que gostaria de conhecer seu trabalho, a moça foi logo perguntando quando poderia agendar uma entrevista com ele.
Mais, o prefeito não estava nem um pouco interessado em entrevistas.
Assim fez o que pode para deixar a entrevista para depois.
Primeiramente, convidou Joana para um almoço.
Joana que há algum tempo esperava por uma oportunidade para conversar, não perdeu tempo.
E assim, depois da inauguração, lá foram os dois, juntos almoçar.
Durante o almoço, Arthur, contou a moça, sobre o duro trabalho de administrar uma cidade.
Isso por que, quase todos os dias, tinha que participar de algum evento, sem contar seu trabalho diário na prefeitura.
Joana, ao ouvir isso, ficou intrigada. Como ele podia ter tanto trabalho fora da prefeitura, se aquela era uma cidade pequena? Assim, diante dessa dúvida, Joana tratou logo de perguntar:
-- Mas o que é que tem tanto para fazer nessa cidade?
O prefeito então respondeu:
-- Muito mais do que a mocinha imagina. Mas não foi para isso que eu te convidei para almoçar. Eu quero mesmo, é saber um pouco mais sobre você.
-- Sobre mim?
-- Sim, sobre você.
-- Mas eu não tenho nada para falar sobre mim. – respondeu meio sem jeito.
-- Ah! Tem sim. Pra começar, onde foi que a senhorita ouvir falar de mim? Por que até onde eu sei, a senhorita não é daqui, não é mesmo?
-- Realmente não sou. Eu vim de muito longe. E já que o assunto é esse, eu vou contar. Eu fiquei sabendo de seu trabalho, em uma reportagem veiculada em um noticiário muito famoso. Quando vi a propaganda sobre sua administração fiquei bastante curiosa. Isso por que, como uma cidade tão pequena, parece ser tão promissora? E é por isso que eu estou aqui.
-- Então é só esse o seu interesse? Conhecer o meu trabalho?
-- Sim. E por que não? Afinal de contas é um trabalho tão bonito. Oxalá fizessem o mesmo em minha cidade.
-- A propósito. De onde você veio?
-- Eu sou de São Paulo.
-- Ora, ora. São Paulo. A cidade que nunca dorme. Que não para.
-- Exatamente.
Nisso o almoço foi servido. Salmão, arroz à grega e suco de laranja.
Joana ao ver a refeição, elogiou o restaurante.
O almoço estava realmente delicioso.
E assim, enquanto se deliciavam com o almoço, Arthur comentou com ela que ser prefeito, era a realização de um sonho muito antigo, com quem sabe projeções para um cargo mais alto. Vaidoso, ao perceber o interesse de Joana, comentou que desde a infância sonhava em fazer algo de bom por sua cidade.
Joana parecia encantada com o relato do prefeito. Porém, o que ele não sabia, era que ela não estava ali por causa de sua boa administração. O que lhe interessava, era saber que rumo tinha tomado a denúncia de corrupção, que envolvera seu nome, há alguns anos atrás.
Mas, para descobrir algo referente a isso, Joana precisava se tornar amiga de Arthur. Em razão disso, continuou a ouvir a história mirabolante do prefeito, e fingiu interesse em sua vida.
Depois, ambos escolheram uma sobremesa.
Com isso, Arthur comeu um pedaço de torta, e ela uma fatia de pudim de leite.
O prefeito, ao ver a simplicidade do pedido de Joana, perguntou a ela se não preferia escolher outra sobremesa.
Joana então, respondeu que apesar de simples, adorava a sobremesa, e desta forma ficou decidido.
Por fim, ambos pediram um cafezinho que tomaram sossegadamente.
No hora de pagar a conta, Joana se ofereceu para pagar a sua parte.
Arthur, ao ouvir o oferecimento da moça, recusou-se veementemente a aceitar a oferta. Comentando que era um homem à moda antiga, fez questão de pagar a conta sozinho. Além disso, conforme ele mesmo havia dito, fora ele quem convidou-a para o almoço. Desta forma, cabia a ele pagar almoço.
Dessarte, encantado com a moça, Arthur perguntou-lhe, quando poderiam se encontrar novamente.
Desta vez Joana, insistiu em dizer, que primeiro queria entrevistá-lo, depois pensaria em aceitar outros convites.
Arthur, porém, contou-lhe que não estava nem um pouco interessado em conceder entrevistas. Por ser uma pessoa pública, já estava cansado de tantas entrevistas. Assim, preferia conhecê-la melhor.
Joana então concordou. Mais uma vez, aceitaria um convite para sair, com a condição de que logo a seguir, lhe Arthur concederia uma entrevista.
O prefeito, então aceitou a proposta. Diante disso, combinou com a moça, o lugar e o dia do jantar.
Joana, porém, ao ouvir convite, declinou-o gentilmente. Alegando que não queria causar transtornos em sua casa, insistiu em dizer que não aceitaria. Até por que a esposa dele poderia não gostar nem um pouco disso e com razão.
Foi então que o ilustre prefeito comentou que não era casado.
Joana então se espantou.
-- Não é casado? Mas como? Um homem público por via de regra, costuma ser casado.
-- Fui casado, mas o relacionamento não deu certo. – respondeu ele percebendo o espanto da moça. – Assim, não haverá problema nenhum se você aceitar meu convite. Não vão te acusar de ser uma destruidora de lares. – disse ele, rindo.
Joana então, percebendo a brincadeira, comentou que apenas não queria ser inconveniente. Até por que o seu interesse era estritamente profissional.
Com isso, o prefeito insistiu.
Mas Joana apesar dos esclarecimentos, preferiu dar um tempo. Alegando que tinha alguns assuntos para resolver, prometeu que poderiam planejar alguma coisa para o dia seguinte.
Arthur, mesmo um pouco desapontado, acabou concordando.
Assim, ficou acertado que ambos, sairiam novamente para almoçar no dia seguinte, no mesmo restaurante.
Joana concordou.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

O DESTINO DESFOLHOU

‘O nosso amor traduzia
Felicidade afeição
Estrema glória que um dia
Tive ao alcance da mão

Mas veio um dia o ciúme
Humilde que era ficou ...
Deixando em tudo o perfume
Da saudade que ficou ...

Os nossos olhos choraram
O nosso idílio morreu
Os nossos lábios murcharam ...

Venho então a chorar
Sofro tanto
E essa valsa não diz ...
Meu amor
De nós dois
Eu não sei qual é o mais infeliz ...’

(Paulo Sérgio – O Destino Desfolhou)

INTRODUÇÃO

Em um lugar não muito longe dali, aconteceram coisas lamentáveis.
Muito embora fosse outrora um lugar calmo e pacífico, em poucas décadas, veio a se transformar em palco de múltiplos e tristes acontecimentos.
Como agora acontecem em inúmeras cidades do país, nesse um dia, pedaço do paraíso, ocorreram as coisas mais nefandas, mais horrendas e mais lamentáveis.
Nessa terra onde antes só havia alegria, agora paira incerteza e dor.
A dor que provocada por outros homens corrompe a terra e banaliza a violência.
Mas a população deste lugar estava cansada disso.
No entanto, muito embora todos estivessem cansados de tantas mortes, corrupção e violência, ao deixar que a situação chegasse a esse ponto, as autoridades do lugar não sabiam como agir.
Não sabiam o que fazer para que a situação mudasse para melhor. Não sabiam o que fazer para acabar com tudo o que destruía as coisas boas. Não sabiam.
Não sabiam ou não queriam saber?
Não sabem ou não querem fazer?
Mas enfim, a despeito da falta de vontade política ou não, era preciso que as coisas mudassem. Era preciso que o problema se transformasse em solução.
Era preciso acabar com a bandalheira que assolava esta triste cidade.

E é por isso que essa história será contada.
Com isso, passemos a ela.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

AMARGAS LEMBRANÇAS - CAPÍTULO 12

Margarida, ao ver a filha de volta, espantou-se.
-- Mas de volta tão cedo! O que foi que aconteceu?
Gabriela porém, nada respondeu. Dizendo que estava cansada daquela paisagem bucólica, comentou que sentiu saudade de casa.
Margarida não podia acreditar.

Todavia, mesmo diante da atitude aparentemente conciliadora de Gabriela, o relacionamento entre elas, continuava complicado.
Certa vez, ao voltar mais cedo para casa, Gabriela ouviu um comentário de sua mãe, dizendo que a atitude mais infeliz que teve na vida, foi pegá-la para criar.
Gabriela ao ouvir o comentário, interpelou sua mãe. Indagando o que ela queria dizer com aquelas palavras, exigiu explicações.
Margarida, surpreendida, tentou inventar desculpas para justificar aquela conversa. Nada porém parecia convencer a moça.
Nervosa, Gabriela começou a gritar com Margarida, que irritada, exigiu que ela calasse a boca. Dizendo que uma filha sua jamais responderia daquela forma para ela, deixou escapar que a moça não era sua filha.
Gabriela ficou transtornada.
Sem saber o que fazer, trancou-se em seu quarto. Pensando nas palavras de Margarida, começou a imaginar qual seria sua origem.
A certa altura, de depois de muita insistência de Margarida, Gabriela abriu a porta de seu quarto.
Margarida por sua vez, que percebendo que não adiantava mais esconder a verdade da moça, revelou que a pegara quando ainda era um bebê recém-nascido, de dentro de uma maternidade, em Minas Gerais.
Nervosa, Margarida comentou que tinha interesse em se casar com Cássio.
No entanto, ao descobrir que teria sérias dificuldades para engravidar, resolveu fingir que estava grávida. Mais tarde pensaria no que fazer.
Como estava encontrando dificuldades em arrumar uma criança, Margarida revelou que pensou em fingir que estava tendo um aborto. Isso tudo depois de se casar com Cássio.
Porém, ao tomar conhecimento de que havia uma mulher grávida na cidade, e que esta não possuía interesse em ficar com a criança, ficou ajustado que o bebê seria entregue a Margarida.
Ocorre que a moça desapareceu poucos dias antes do parto.
Desesperada, Margarida não sabia o que fazer.
Foi quando Lúcia deu entrada na maternidade e deu a luz duas crianças.
Quando Gabriela ouviu o nome de Lúcia, ficou perplexa.
-- Lúcia? Que Lúcia?
Margarida teve então que revelar que a Lúcia de que tanto falava era a filha de Orlando.
Gabriela ficou sem saber o que pensar.
-- Meu Deus! E a outra criança? – perguntou.
Margarida respondeu que não sabia do paradeiro da outra criança. Dizia saber apenas que Lúcia pensava ter tido apenas um filho e que este havia morrido.
Gabriela questionou então:
-- Mas esta criança está realmente morta, ou esta é outra mentira? Responda!
Margarida respondeu que quanto a outra criança, não sabia o que havia acontecido.
Nervosa, Gabriela pensou em arrumar suas malas e partir dali.
Foi o que fez.
Aproveitando que Margarida dormia em outro quarto, Gabriela preparou rapidamente uma mala, e sorrateiramente saiu de casa.
Quando Margarida percebeu que a moça havia sumido, ligou imediatamente para Orlando. Acreditando que Gabriela havia voltado para o hotel do avô, Margarida não se preocupou.
Ocorre que a moça não estava lá.
Desesperada Margarida, deixou escapar que aquele sumiço era sua responsabilidade. Se não houvesse falado demais, nada daquilo teria acontecido.
Orlando percebendo o nervosismo de Margarida, exigiu-lhe explicações.
Margarida então, dizendo que não poderia contar tudo por telefone, respondeu que arrumaria suas malas e se encontraria com ele no hotel.
Orlando percebendo a gravidade da situação, concordou.
Ansioso a aguardou.

Ao chegar no Hotel Aquarela, Margarida apresentou-se na recepção. Dizendo que precisava conversar com Orlando, foi imediatamente conduzida para um dos quartos.
Cerca de uma hora após sua chegada, Orlando ligou para seu quarto informando-a que deveria comparecer em seu escritório, para uma conversa reservada.
Margarida atendeu prontamente o chamado.
Ao chegar no local, aguardou cerca de meia-hora. Após, foi chamada para uma conversa reservada.
Nervosa revelou toda a história que havia contado a Gabriela.
Orlando ao tomar conhecimento do relato de Margarida, revelou que sempre achara muito estranha aquela gravidez.
Orlando então relatou que sempre se intrigara com a semelhança física de Lúcia e Gabriela. Dizendo que Cássio não possuía nenhuma semelhança física com a filha, relatou que começou a observar que a moça também não se parecia nem um pouco com Margarida.
Revelando que com os anos sua desconfiança somente aumentou, relatou a mulher que havia contratado um detetive particular para investigar aquela história.
Margarida ficou sem saber o que pensar.

Enquanto isto, Gabriela rumava para Belo Horizonte. Estava disposta a encontrar pistas sobre o paradeiro de seu irmão.
Angustiada, precisava saber se a outra criança estava viva ou não.
Todavia, não sabia onde começar. Sabia apenas que deveria procurar pistas na cidade onde Lúcia fora criada.
Foi lá que começou a procurar.
Perguntando aqui e ali, descobriu onde ficava a maternidade.
Ao chegar no local, descobriu desapontada que os funcionários não poderiam passar qualquer informação a respeito do caso.
Insistente porém, acabou descobrindo por intermédio de alguns moradores que havia um rapaz nascido naquela época, que vivia naquela cidade.
Trabalhava num sitio da região. Dizia-se que não possuía registro de nascimento e que ninguém sabia quem era sua mãe.
Gabriela foi atrás do rapaz.
Quando a moça foi apresentada a ele, ficou penalizada. O rapaz não sabia ao certo quantos anos tinha. Era alfabetizado, mas só possuía o primário. Fora criado livre, ora num canto, ora noutro.
Criança ainda, chegou no lugar, onde recebeu um pouco de assistência dos donos das terras.
O rapaz não se lembrava muito dos anos antes de chegar ao sítio. Apenas que vivera em orfanatos, e que em alguns momentos dormiu na rua.
Lembrava-se que era conhecido como Antonio. E assim passou a ser chamado pelos moradores do sítio.
Gabriela tratou logo de fazer amizade com o rapaz.
Ansiosa, enchia o rapaz de perguntas.
Nervoso Antonio respondia que não sabia de onde tinha vindo.
Gabriela ao perceber que o rapaz não poderia responder suas perguntas, começou a se questionar.
Percebendo que Antonio aparentava ter a mesma idade que ela, começou a observá-lo com mais atenção. Desconfiada, começou a perceber algumas semelhanças de Antonio com Paul.
Receosa, Gabriela procurava se conter. Até por que, poderia ser apenas uma impressão.

Nisso, Orlando, mesmo ciente de que Margarida não fora honesta com sua família, resolveu que não a expulsaria de seu hotel.
Dizendo que ela poderia apresentar mais alguma informação importante, deixou-a ficar.
Ademais, Margarida parecia preocupada com Gabriela. Disposta a encontrar a filha, prometeu que ajudaria em tudo o que fosse necessário.
Desconfiada de que a moça fora encontrar pistas sobre a outra criança que Lúcia tivera, Margarida sugeriu que Orlando a procurasse na cidade onde as crianças nasceram.
Orlando então contatou o detetive que havia contratado anteriormente ,e logo em seguida partiu para Minas.

Assim, foi apenas uma questão de tempo para que se encontrasse com Gabriela.
As coisas porém não correram nada bem.
Revoltada, ao ser descoberta, Gabriela arrumou novamente suas malas e fugiu.
Dirigiu-se até a rodoviária e lá comprou uma passagem para o primeiro lugar que viu.
Com isto, dirigiu-se até o Rio de Janeiro.
Na Cidade Maravilhosa, sem conhecer ninguém, acabou se hospedando num dos hotéis situados nas proximidades da orla marítima.
Foi lá que sem querer acabou esbarrando em figuras perigosas.
Certo dia, andando pela cidade, acabou se perdendo. Não fosse a intervenção de Miguel, e ela certamente teria sido assaltada.
Prestativo e corajoso o rapaz auxiliou-a.
Com isto, os dois acabaram ficando amigos.
Miguel ofereceu-lhe hospedagem. No dia seguinte a ajudaria a voltar para o seu hotel.
Com o passar do tempo, como Gabriela não parecia disposta a voltar para casa, passou a envolver-se com Miguel.
Ficaram juntos por algumas semanas.
Após algum tempo porém, percebendo que precisava descobrir o paradeiro de seu irmão, Gabriela comentou com Miguel que precisava partir.
O rapaz ficou triste, mas percebendo que não poderiam ficar juntos, despediu-se.
Miguel fazia programas para viver.
Gabriela porém, mesmo sabendo disto, se tornou uma grande amiga do rapaz. Dizendo que sempre era tempo de mudar de vida, convidou-o para visitá-la em São Paulo.
Nisto despediu-se do rapaz e voltou para São Paulo.
Ao chegar em casa, surpreendeu-se ao encontrar a mesma vazia.
Após alguns dias, voltou para Minas. Ao chegar no sítio onde Antonio trabalhava, foi informada pelos proprietários que o rapaz fora levado para São Paulo.
Ao ouvir tais palavras, Gabriela concluiu que o rapaz só poderia estar no Hotel Aquarela, na Grande São Paulo.
Diante disto, a moça, no dia seguinte, rumou para lá.
Ao chegar no hotel, percebeu que Margarida se encontrava hospedada no lugar.
Indiferente, Gabriela manteve-se afastada da mulher.
Porém ao ver que Antonio estava lá, ficou extremamente feliz.
Foi então que descobriu que Orlando já vinha a alguns anos, investigando a história de Lúcia. Estava disposto a pôr na cadeia o responsável por aquela maldade praticada contra sua filha. Para tanto, precisava descobrir o paradeiro do bandido, entre outros detalhes da história.
Orlando então confirmou que Antonio era o outro filho que Lúcia tivera.
Paul, filho de Lúcia com Jean, ficou perplexo ao saber da história. Revoltado, prometeu que seu pai seria vingado. Chorando revelou que sentia vontade de matar o responsável por tudo aquilo.
Margarida tratou de consolá-lo.
Orlando ao ver a cena, ficou perplexo.
Gabriela também não entendeu a atitude Margarida.

Nesta época Miguel foi visitar Gabriela em São Paulo.
Ao chegar na cidade, logo foi informado por uma vizinha, que ela estava no Hotel Aquarela na Grande São Paulo. Prestativa a vizinha ofereceu-lhe o endereço.
Nisto, Miguel ligou para o local, informando Gabriela que pretendia visitá-la.
Quando lá chegou e viu a amiga, ficou deveras feliz.
Quem não ficou muito contente com a visita foi Flávio, que tentava se aproximar da moça.
Miguel porém, estava doente e a visita era uma despedida.
Quando Gabriela soube que ele estava condenado, tentou ajudá-lo.
Miguel relatou porém, que preferia permanecer sozinho.
Ao ouvir isto, os olhos de Gabriela encheram-se de lágrimas.
Ao tomar conhecimento do motivo da visita, Flávio tentou consolar Lúcia. Em vão.
A moça, dizendo que devia muito a ele, comentou que não poderia abandoná-lo em um momento de dificuldades como aquele.
Flávio argumentou dizendo que Gabriela conhecera-o vendendo saúde e vitalidade. Para ele, seria muito humilhante que ela o visse definhando pouco a pouco.
Gabriela então compreendeu que deveria atender o pedido do amigo.

Nisto, poucos meses depois, Gabriela soube que Miguel havia morrido.
Penalizada, foi até o Rio de Janeiro, encontrar-se pela última vez com seu amigo.
Flávio a acompanhou.

Enquanto isto, Lúcia continuava desaparecida e sofrendo nas mãos de Hélio.
O tempo passava e Lúcia estava cada vez mais debilitada.
Abatida, não oferecia mais resistência as investidas de Hélio, que parecia cada vez mais feliz com a gravidez de Lúcia.
A certa altura, quase que seus planos foram por água abaixo.
Sem razão aparente Lúcia apresentou um grave mal estar.
Nervoso, Hélio levou a mulher para o hospital. Dizendo que Lúcia estava sofrendo de transtornos mentais, conseguiu convencer a todos que os pedidos de socorro dela, eram fruto de uma mente delirante e perturbada.
De volta para casa...
Hélio se desdobrou em atenções para a mulher. Levava Lúcia para passeios no jardim, mandava preparar comidas saborosas para ela...
Lúcia porém não se importava com nada. Sentia apenas vontade de morrer.

Orlando, exasperado com a falta de notícias de Lúcia, pediu mais empenho da polícia.
Desesperado, pediu auxílio do detetive que havia contratado para investigar o caso de Lúcia.
Auxiliado pelo profissional, Orlando conseguiu descobrir onde Lúcia se encontrava.
Quando a mulher foi localizada, ficou estupefato ao saber que estava grávida.

Debilitada, a mulher foi internada em um hospital.
Poucos dias após, deu a luz um menino.

Hélio por sua vez, ao perceber o perigo, tratou logo de fugir.
Auxiliado por bons contatos, conseguiu escapar da prisão quase certa.
Seus comparsas porém, não tiveram a mesma sorte.

Abalada, Lúcia demorou para se recuperar do evento.
Algum tempo depois, conheceu Nildo.
Encantado com Lúcia, o homem se desdobrava em gentilezas para ela. Sempre que podia, acompanhava a família nos jantares do hotel.
Lúcia ainda abalada, não demonstrava interesse nas investidas do homem.
Margarida percebendo isto, certa vez, aconselhou Lúcia a se dar mais uma chance, se permitindo ser feliz. Comentando que ela não merecia ficar a vida inteira sofrendo por alguém que não prestava, acabou fazendo Lúcia chorar.
Orlando ao notar Lúcia chorando, repreendeu Margarida.
Dizendo que ela não tinha direito de humilhar sua filha, comentou que ela havia ido longe demais. Irritado, exigiu que ela fizesse suas malas e saísse do hotel.
Margarida tentou se explicar, mas Orlando, furibundo, não permitiu que ela abrisse a boca.
Ofendida, a mulher tratou de arrumar suas malas.

Quando Lúcia soube que Orlando expulsara Margarida do hotel, comentou que ela não tivera a intenção de ofendê-la, e sim ajudá-la.
Lúcia então relatou que Margarida a estava aconselhando a tentar ser feliz novamente.
Orlando, então percebendo a injustiça que cometera, mandou chamar Margarida.
Dizendo-se que Lúcia havia lhe explicado o ocorrido, pediu-lhe desculpas. Dizendo que seu gesto fora inesperado, comentou que ela estava tão mudada, que não sabia o que esperar.
Reiterando seu pedido de desculpas, pediu para que ela permanecesse no hotel.
Dizendo que desde a rusga que tivera com Gabriela, nunca havia se relacionando tão bem com uma nora, comentou que estava arrependido pelo gesto impensado.
Margarida por sua vez, ficou de pensar no pedido.
A resposta veio alguns dias depois.
Com efeito, Margarida decidiu permanecer no Hotel Aquarela para trabalhar.
Orlando surpreendeu-se.
Margarida dizendo que estava cansada de viver do dinheiro do marido, comentou que estava com vontade de fazer coisas que nunca havia feito antes. Diante disto se propôs a realizar qualquer trabalho, já que não tinha experiência, tampouco formação acadêmica.
Orlando então comentou que ela sabia cozinhar muito bem, e que por esta razão poderia trabalhar na cozinha do hotel.
Tudo para parecia transcorrer na mais absoluta paz.
Lúcia estava mais receptiva a Nildo.
Feliz, o homem já estava combinando uma festa para oficializar o noivado de ambos.
Quem não ficou muito feliz com a história foi Paul, que questionou a atitude da mãe de se envolver com outro homem tão pouco tempo após a morte de seu pai.
Lúcia conversando com o filho, comentou que nunca se esqueceria de Jean, mas que durante quase um ano vivera um pesadelo com um homem pelo qual sempre sentiu a mais absoluta repulsa.
Dizendo que todo aquele sofrimento lhe fizera muito mal, comentou que não agüentava mais viver com aquele peso. Chorando, disse que precisava dividir com alguém aquele fardo. Precisava de alguém que a fizesse esquecer, nem que fosse por alguns momentos, todo aquele pesadelo que vivera.
Paul, entendeu então que Lúcia tinha o direito de ser feliz.
Nildo sabia de tudo. Conhecia o sofrimento de Lúcia. Estava disposto a cuidar de seu filho.

Hélio porém, não estava preso. Sua liberdade era um empecilho para a felicidade do casal.
Neste meio tempo, seu filho Pedro se envolvera com a mulher de um traficante e fora morto.
Ofélia ficou transtornada.
Tanto que chegou a seguir Lúcia nas ruas de São Paulo. Agressiva ameaçou-a.
Não fosse a intervenção de Nildo, que a pôs para correr, Ofélia agrediria Lúcia, e sabe-se lá o que poderia ter acontecido.

Lúcia ao tomar conhecimento do paradeiro dos filhos que tivera com Hélio, ficou perplexa. Dizendo que só tivera um filho e que este nascera morto, relutou em acreditar na história.
Com tempo todavia, passou a aproximar-se de Gabriela e de Antonio, que agora completava os estudos.

Tudo parecia correr bem.
Porém, certa tarde, quando a família de Lúcia estava se preparando para a oficialização de seu noivado com Nildo, a mulher foi levada por um estranho.
Muito embora a vigilância no hotel fosse intensa, Hélio conseguiu driblar a segurança.
Com o auxílio de um novo comparsa, conseguiu atrair Lúcia.
Sob o pretexto de que uma criança havia se machucado após cair de um dos cavalos, Lúcia, que estava prestes a comemorar seu noivado, foi até o local.
Quando percebeu que não havia nenhuma criança machucada no local, constatou que havia sido enganada.
Contudo, era demasiado tarde. Mas não havia como fugir. Longe da vigilância dos guarda-costas que trabalhavam no hotel, Lúcia não tinha como pedir socorro. Tão longe ninguém a ouviria.
Desesperada, começou a chorar e a pedir para que a deixassem em paz. Numa tentativa desesperada de se livrar daquela situação, tentou correr.
O homem, por sua vez, não precisou fazer muito esforço para alcançá-la.
Arrastada, Lúcia foi levada para um carro onde estava Hélio, que a aguardava.
Ao vê-lo, começou a chorar compulsivamente. Ameaçou gritar.
Ao ouvi-la dizer para que a soltasse, Hélio colocou um lenço com clorofórmio sobre seu nariz, deixando-a desacordada.
Rapidamente, retirou-a do local, e novamente sumiu com Lúcia.

Quando Nildo percebeu que Lúcia estava demorando para aparecer, já era demasiado tarde.
A mulher já estava longe e em poder de Hélio.
Orlando ao perceber que Lúcia havia sido levada do hotel, comentou que Hélio a havia seqüestrado novamente.
Furioso, prometeu a si mesmo que desta vez ele não conseguiria fazer as maldades que já havia feito em ocasiões anteriores.

Hélio por sua vez, planejava algo diferente para Lúcia.
Acompanhando de longe a vida da mulher, ficou furioso ao saber que Lúcia procurava retomar sua vida.
Mais ainda quando soube que os filhos que tivera dele, estavam todos vivos.
Furioso, quando Lúcia despertou, Hélio fez questão de dizer que sabia que Gabriela e Antonio eram seus filhos. Triste comentou que Pedro havia se envolvido com uma traficante e morrido.
Dizendo que não possuía mais nenhum vínculo com Ofélia, comentou que estava oficialmente separado.
Lúcia parecia não ouvir o que Hélio falava.

Mais tarde ficou sabendo que Hélio estava planejando casar-se com ela.
Já havia convencido um padre a ir até o local. Não sem antes ameaçar Lúcia dizendo que se tentasse fugir ou contasse o que estava acontecendo, a qualquer pessoa que estivesse na festa, seria sua família quem sofreria as conseqüências.
A mulher ficou apavorada.
Com isto, no dia agendado para a realização do suposto casamento, Lúcia estava devidamente vestida de noiva.
Hélio não cabia em si de contente. Louco, acreditando em toda aquela farsa, dizia que aquela união era indissolúvel.
O homem não havia comentado que a papelada relativa a separação com Ofélia era falsa.

Enquanto isto, Orlando fazia contatos com detetives particulares e policiais, para descobrir o quanto antes, onde estava Lúcia.
Não queria que Hélio, continuasse a atormentar sua filha.
Nildo também auxiliava.
Ao descobrir o paradeiro de Lúcia, Nildo, Orlando e Flávio, se encarregaram de ir pessoalmente até o local.
Não sem a presença de alguns policiais à paisana.
Ao adentrar a residência, Nildo descobriu que Lúcia estava prestes a se casar com Hélio.
Revoltado, ao verificar que Hélio pretendia prender Lúcia a ele, puxou a mulher pelo braço.
Lúcia se assustou.
Nildo, percebendo isto, colocou a mão em sua boca e pediu para que ela não gritasse.
Quando então Lúcia viu Nildo em sua frente, ficou muito feliz. Logo em seguida, percebendo que Hélio era um homem vingativo, pediu para que ele fosse embora.
Nildo porém, respondeu que não a deixaria nas mãos de um louco.
Chorando, Lúcia comentou que Hélio havia novamente abusado dela.
Ao ouvir isto, Nildo ficou furioso.

Foi quando Hélio surpreendeu-os.
Nildo comentou então, que ele estava cercado, ou saía do local sem reagir, ou os policiais invadiriam a casa para prendê-lo.
Hélio riu.
Irritado, Nildo comentou que ele estava perdido e que levaria Lúcia para longe dali.
O homem ao se sentir ameaçado, investiu contra Nildo.
Lúcia ficou desesperada. Ao perceber que Nildo corria perigo, começou a gritar por socorro.
Foi quando policiais adentraram a casa, que estava cheia de convidados para o casamento.

Nisto, em que recinto isolado da casa, Nildo e Hélio lutavam entre si.
Hélio percebendo que perdia a briga, sacou sua arma e apontou-a para Nildo.
Lúcia entrou em pânico.
Nildo então, percebendo que Hélio se distraíra por um instante com o barulho vindo da casa, tomou a arma de suas mãos.
Furioso, Hélio tentou tomar sua arma de volta, sem sucesso.
Na luta, a arma disparou acidentalmente.
Lúcia assustou-se.
Nervosa, começou a chorar.
Nildo então levantou-se.
Hélio estava com sua camisa branca manchada de sangue.
Ao perceber que fora baleado, colocou a mão no local. Ao notar a gravidade da situação, pediu ajuda.
Lúcia ficou estática.
Arrastando-se com dificuldade, aproximou-se de Lúcia. Disse-lhe que fizera tudo o que fizera por amor, e que não se arrependia de nada. Com grande dificuldade, revelou que só sentia por não haver conseguido fazê-la entender, que o destino deles era ficar juntos.
Nildo ao perceber que Lúcia estava em estado de choque, empurrou Hélio para longe dela.
Chamando-o de covarde, respondeu que ele não faria mais nenhuma maldade com ela.

Hélio então, mesmo sentindo fortes dores, riu.
Comentou que os dois já haviam tido muitos momentos juntos, que possuíam três filhos em comum, e que estes laços não se apagam. Irônico, insinuou que Lúcia poderia estar novamente grávida, já que haviam passado algum tempo juntos.
Ao ouvir isto, Nildo empurrou Hélio. Dizendo que ele era um verme, comentou que somente um ser desprezível como ele seria capaz de constranger uma mulher a tanto.
Hélio respondeu então, que uma mulher deveria se submeter às vontades do marido.
Nildo ficou horrorizado com as palavras de Hélio. Tanto que retrucou:
-- Você é um louco! Um doente!
Em seguida, puxou Lúcia pelo braço. Seu vestido branco estava manchado com sangue.
Estava em choque. Só conseguia chorar.

Quando a polícia adentrou o recinto onde Hélio estava, o homem já estava morto. Passou seus últimos minutos chamando por Lúcia.

Com relação a isto, Nildo não ficou preso. Auxiliado por Orlando, conseguiu um bom advogado e respondeu o processo em liberdade.
Em sua sentença, o juiz o absolveu.
Algum tempo depois, Nildo casou-se com Lúcia.
Gabriela por sua vez, passou a se entender com Flávio.
Antonio e Paul também arranjaram namoradas. Com o tempo, os dois se tornaram grandes amigos.
Margarida continuou trabalhando no hotel, e Orlando prosseguiu sua vida.
Depois destes fatos, Lúcia nunca mais trabalhou com moda. Preferiu auxiliar Orlando na administração de um hotel em Minas. Assim poderia ficar mais próxima de seus pais de criação Etevaldo e Júlia.
Sim, Orlando havia comprado um terreno, e pretendia construir um novo hotel, nos moldes do que já existia em São Paulo.
Gabriela, Antonio e Paul a acompanharam neste projeto.
Margarida concordou que Gabriela que acompanhasse Lúcia. As duas precisavam se conhecer melhor.
Orlando ficou um pouco triste, mas sabendo que Lúcia precisava respirar novos ares, respeitou sua decisão. Respeitou também a decisão de Gabriela, Antonio e Paul, acompanharem Lúcia.
Pediu apenas para que não sumissem, e que de vez em quando aparecessem no hotel.
Nisto, Lúcia, o bebê, Nildo, Gabriela, Antonio e Paul partiram.
As namoradas ficaram.

Mais tarde, Flávio se juntou a Gabriela, deixando o emprego de professor, e auxiliando Lúcia na construção do hotel.

Otávio, casado com Cristina, chegou a visitar o hotel quando o mesmo foi inaugurado.
Gabriela ficou intrigada com a cara de pau do casal.
Após a tentativa frustrada de realizarem um golpe, fugiram do hotel.
Depois, do incidente soube-se que os dois foram presos.

Fim.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

AMARGAS LEMBRANÇAS - CAPÍTULO 11

Gabriela, por sua vez, estava cada vez envolvida com Otávio.
O rapaz, insinuante, fazia de tudo para agradá-la. Aproveitando-se da situação e da carência de Gabriela, Otávio, parecia tentar consolá-la. Aparentando ser seu amigo, ouvia pacientemente os desabafos da moça, sugeria passeios, encontros à sos... 
Flávio porém, sempre que os via juntos, ficava incomodado. Não acreditava na sinceridade daquele sujeito.
Isto porque, Flávio já o havia visto aos abraços com Cristina, em uma situação muito suspeita para quem estava namorando firme a neta do dono de tudo aquilo. Desconfiava da atitude do rapaz. 
O tempo mostrou que ele não estava de todo errado em desconfiar de Otávio. 
Certo dia, após uma comemoração no hotel, Otávio acompanhou Gabriela até a porta de seu quarto. Insistente pediu várias vezes para entrar em seu quarto. Abraçou-a, beijou-a. 
Mas mesmo diante de muita insistência, Gabriela não cedeu. 
Um dia porém, após um jantar, Otávio quase conseguiu convencê-la a deixar entrar em seu quarto. 
Não fosse a intervenção de Flávio e Otávio, conseguiria concretizar seus planos. 
Almejava enredar Gabriela e casar-se com ela, e com isto conseguir a fortuna de Orlando.
Otávio estava combinado com Cristina. 
A moça sugerira até que ele a engravidasse, para atingir mais facilmente seus planos. 
  
Com efeito, Flávio ao presenciar Otávio assediando Gabriela, disse que havia visto Cristina, e comentou que ela gostaria muito de falar-lhe.
Foi o bastante para deixar Gabriela intrigada e assim, a moça mudou de idéia.
Otávio ficou furioso com Flávio.
Insatisfeito, chegou até a ameaçá-lo. 
Flávio contudo, não tinha medo de Otávio. 
Gabriela no entanto, só deixou o relacionamento com Otávio de lado, quando finalmente viu o rapaz com Cristina. Estavam abraçados e sorrindo. A certa altura, quase se beijaram.
Gabriela ao presenciar a cena, ficou mortificada. 
Furiosa saiu em desabalada carreira. 
Flávio, ao perceber o que havia acontecido, foi atrás da moça. 
Em vão tentou consolá-la.
Gabriela porém, não estava interessada em consolo. Enraivecida, só conseguia dizer que não queria mais saber de Otávio. Dizendo que nenhum homem prestava, comentou que faria com os homens o que eles faziam com as mulheres. Que dali por diante, trataria a todos como mercadoria. 
Dali por diante, as coisas só se complicariam.
Ao tomar conhecimento da história de Otávio, Orlando quase o expulsou do hotel. 
Não fosse a intervenção de Flávio, e Otávio teria sido expulso a pontapés. 
Orlando porém, analisando melhor a situação, decidiu chamar o rapaz para uma conversa. 
Em seu escritório, Orlando avisou Otávio, que o mesmo estava sendo convidado a se retirar de seu hotel. 
Atrevido, o rapaz respondeu que não sairia dali. Comentou que não poderia partir sem dar explicações a Gabriela. 
Orlando ao ouvir tais palavras, ficou furioso. Dizendo que sua neta o vira aos beijos e abraços com outra moça,  respondeu que estava cansado de lidar com tipinhos interesseiros.
Otávio tentou retrucar, mas Orlando o interrompeu avisando-lhe que ele tinha até o meio-dia para sair do hotel, sob pena de ser acompanhado por seus seguranças. 
Contrariado, Otávio tentou argumentar que tudo não passara de um engano e que estava sendo vítima de uma arbitrariedade. 
Em vão.
Desta forma, só restou ao rapaz e a Cristina, arrumarem as malas e partirem do hotel. 
Não sem antes de Otávio dizer que se vingaria de Orlando.  
   
Enquanto isto, Gabriela começou a flertar com os hóspedes. 
Quem não gostou nada desta atitude, foi Orlando, que censurou a neta. 
Aborrecida, Gabriela discutiu com seu avô. 
Depois, arrumou suas malas, e dizendo que voltaria para casa, despediu-se secamente de Orlando. Seu único pedido, foi que lhe informassem as novidades a respeito de sua tia Lúcia. 
Após, conduzida por um motorista do hotel, Gabriela chegou a rodoviária. De lá pegou um ônibus e voltou para São Paulo.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.   



AMARGAS LEMBRANÇAS - CAPÍTULO 10

Com isto foi questão de tempo, para Hélio se aproximar de Lúcia.
A certa altura, aproveitando-se do fato de encontrá-la sozinha, sem qualquer funcionário, hóspede ou visitante por perto, Hélio preparou o cenário perfeito para colocar seu plano em prática.
Acompanhado de um capanga, Hélio aproximou-se de Lúcia.
A mulher ao ver-se frente a frente com Hélio, tencionou fugir.
Ao ver que Lúcia pretendia montar o cavalo e sair em disparada, Hélio ameaçou-a com um revólver.
Sem saída, Lúcia tentou argumentar com Hélio. Dizendo que suas vidas haviam tomado rumos diferentes, tentou convencê-lo a se afastar de uma vez por todas.
Hélio retrucava dizendo que eles deviam ficar juntos.
Lúcia dizia porém, que não podia ser. Dizendo que estava casada e muito feliz, comentou que Hélio não poderia levá-la. Agora não estava mais sozinha.
Hélio porém, não se importava. Alegando que possuía dinheiro, comentou que ninguém os encontraria.
Ao proferir estas palavras, o homem pegou Lúcia pelo braço.
Lúcia tentou resistir.
Hélio então, apontou novamente a arma em sua direção.
Neste momento, apareceu Jean, que resolveu fazer um passeio a cavalo.
Ao ver o estranho homem, apontando uma arma para sua mulher, Jean ficou furioso. Disposto a enfrentá-lo, exigiu que Hélio soltasse sua mulher.
Lúcia ao ver que Jean corria perigo, pediu para que ele não reagisse.
Jean porém, não lhe deu ouvidos. Furioso, avançou em direção a Hélio.
Foi então que o capanga que acompanhava Hélio, atirou em Jean, o qual caiu do cavalo.
Lúcia gritou.
Ao ver o marido morto, tentou resistir a investida de Hélio.
Queria em vão, socorrer o marido.
Hélio ao perceber que o tiro poderia chamar atenção de alguém, tratou logo de colocar um lenço com clorofórmio no nariz de Lúcia que mesmo se debatendo, acabou inconsciente.
Nisto Hélio, carregou Lúcia nos braços, sendo auxiliado pelo capanga, que ajudou a colocá-la num carrinho de golfe.
O homem dirigiu o veículo até a saída do Hotel, onde um carro o aguardava.
Lúcia foi colocada dentro do veículo.
Dali, rumaram até uma fazenda. Após, seguiram para a residência que seria o cativeiro de Lúcia.

Com o passar das horas, percebendo o sumiço de Lúcia e Jean, Orlando tencionou procurá-los. Preocupado com a demora da filha e do genro em retornar, Orlando solicitou que alguns funcionários, vasculhassem o hotel em busca do casal.
Em vão.
Os funcionários palmilharam todo o lugar. Foi quando encontraram o corpo inerte de Jean.

Quando Orlando e os netos tomaram conhecimento do ocorrido, ficaram horrorizados.
Paul, o filho, ficou arrasado.
Lúcia porém, continuava desaparecida.
Orlando tratou logo de chamar a polícia.

Os dias que se seguiram foram tormentosos para a família.
Quando Etevaldo e Júlia foram informados do desaparecimento de Lúcia, entraram em pânico.
Imaginaram logo que Hélio poderia estar envolvido no assassinato de Jean e no sumiço de Lúcia.

Nisto, quando Lúcia finalmente despertou, percebeu que estava prisioneira de Hélio.
Desesperada, lembrou-se do marido.
Ao ver-se trancada em um quarto, Lúcia levantou-se, dirigiu-se a porta, a qual tentou abrir.
Percebendo que estava trancada, começou a gritar.
Chorando, pedia para que Hélio a libertasse. Argumentando que não poderia ficar ali, comentou que sua família devia estar preocupada e que seria pior para ele, se ela não fosse libertada.
Angustiada gritou perguntando pelo marido. Ao ver que não seria atendida, começou a bater e chutar a porta. Desesperada, ao perceber que não teria como escapar, chamou Hélio de assassino.
Hélio, que estava por perto, ouviu o desabafo.
Lúcia trancafiada, sentou-se no chão e começou a chorar.

Horas depois, Hélio adentrou o quarto, Lúcia ao vê-lo em sua frente, tentou investir contra ele.
O homem porém, mais forte, segurou seu braço.
Lúcia ao perceber que não conseguiria agredi-lo, exigiu que ele a soltasse.
Hélio porém, segurando-a firme, segurou seu rosto e beijou seus lábios.
Lúcia então mordeu a boca de Hélio, o qual revidou dando-lhe um tapa no rosto.
Nervoso, Hélio gritou com ela.
Dizia:
-- Nunca mais faça isto, ou vai se arrepender!
Em seguida, segurando Lúcia pelo braço, abriu um armário mostrando-lhe várias peças de roupa. Dizia que havia preparado tudo para ela.
Apresentando o quarto Lúcia, comentou que aquele seria o lugar em que ela viveria pelos próximos meses.
Lúcia comentou então:
-- Eu não posso acreditar. Lutei tantos anos para ser feliz! E agora está tudo destruído... Eu não sei o que aconteceu com meu marido. E eu estou aqui ... com um louco... Eu quero ir embora daqui. Me deixe ir embora. Se não eu morro...
Lúcia começou a chorar.
Hélio respondeu que não fora ele quem atirou em Jean. Por esta razão não poderia ser responsabilizado pelo ocorrido. Respondeu ainda que ela estava iniciando uma nova vida e que o ocorrido deveria ser esquecido, e assim toda a sua vida, que segundo ele, ela deveria ser deixada para trás.

Lúcia caiu em profunda tristeza. Não queria saber de comer.
Hélio, nervoso, tentava obrigá-la a se alimentar. Mas Lúcia mesmo diante dos gritos e ameaças do homem, não se importava.

O homem então, mudando sua estratégia, mandou preparar um jantar para ela.
Exigiu que Lúcia então, colocasse um longo azul frente única, que havia comprado para que ela usasse em uma ocasião especial.
Ansioso, obrigou Lúcia a vestir o vestido que havia comprado.
Hélio então preparou um sofisticado jantar, o qual Lúcia não apreciou. Incomodada com toda aquela situação, não se importava com as atenções dispensadas a ela.
Tanto que a certa altura, ameaçou se levantar da mesa.
Hélio a proibiu.
Lúcia porém, cansada de toda aquela situação, levantou-se.
Irritado, Hélio a seguiu.
Assustada, Lúcia tentou se trancar no banheiro do quarto, mas não conseguiu.
Mais rápido, Hélio segurou a porta.
Lúcia tentou então, afastá-lo.
Em vão. Por ser mais forte, o homem segurou-a pelo braço.
Lúcia tentou lutar contras as investidas de Hélio, que a puxava para mais perto de si.
Na luta, rasgou o vestido de Lúcia, que tentou se esconder.
Hélio então, desabotoando sua calça, aproximou-se de Lúcia.
A mulher por sua vez, tentou lutar contra as investidas de Hélio.
O homem porém, conseguiu o que queria.
A certa altura disse:
-- Você está mais linda hoje que a dezoito anos atrás!
A Lúcia só restou chorar.

Nos meses que seguiram, o assédio se intensificou.
Certo dia, ao perceber que seu capanga a observava de longe, Hélio foi questionar Lúcia a este respeito.
A mulher sem nada entender, comentou que não sabia do que ele estava falando.
Nervoso, Hélio começou a sacudi-la, e ela em dado momento, começou a sentir-se mal.
Sem ter tempo de correr para o banheiro, vomitou no chão do quarto.
Diante disto, Hélio soltou o braço de Lúcia e deixou-a correr até o banheiro.
Ao perceber que o mal estar não havia passado, auxiliou-a, mesmo diante de seus protestos.
Depois de algum tempo, Hélio acomodou-a na cama.
Mais calmo, pediu para que ela descansasse.
Lúcia, sem forças, dormiu.
Enquanto isto, Hélio tratou de limpar o quarto.
Quando finalmente soube que Lúcia estava grávida, ficou felicíssimo.

Quem não gostava nada de seu sumiço, era sua família. Orlando, Gabriela e Paul, não tinham sossego.
A todo momento aguardavam notícias de Lúcia.
Para Paul era pior. Além de haver perdido o pai, restava a dúvida em saber se sua mãe estava viva.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

AMARGAS LEMBRANÇAS - CAPÍTULO 9

No dia seguinte, aproveitando a linda manha de sol, Gabriela aproveitou para fazer um passeio à cavalo, pelo lugar. Foi neste passeio que conheceu Otávio, que pareceu-lhe muito simpático.
Dizendo que gostaria que ela lhe apresentasse o hotel, fez de tudo para ganhar sua amizade.
Quem não gostou nem um pouco do sujeito, foi seu avô Orlando.
Flávio também.
Aliás, desde que Flávio conquistara a amizade de seu avô, vivia muito próximo a ele.
Quem não gostava disto era Gabriela que achava ser o rapaz quem influenciava seu avô contra Otávio.
Flávio, sempre que ouvia estes comentários da moça, respondia que Orlando era bem grandinho para se deixar influenciar por alguém. Que o mais provável, seria ele ser influenciado pelo avô da moça do que o contrário.
Tais palavras eram o suficiente para deixar Gabriela irritada.

A irritação da moça só passou quando sua tia Lúcia retornou da França.
Lúcia ao voltar para o Brasil, passou alguns dias em São Paulo, planejando primeiramente visitar seus pais Etevaldo e Júlia e após, passar uma temporada no Hotel Fazenda de Orlando.
Dito e feito. Lúcia passou alguns dias na casa de seus pais de criação, juntamente com seu filho Paul e Jean.
Etevaldo e Júlia ficaram felicíssimos com a visita. Afinal de contas, fazia anos que não viam a filha, o genro e o neto.
Alguns dias depois, sob os protestos de Etevaldo e Júlia, Lúcia partiu.
Iria encontrar-se com Orlando.

Quando a família finalmente chegou ao Hotel Fazenda, Orlando não cabia em si de contente.
Feliz, mandou preparar dois dos melhores quartos do hotel para que a família ficasse bem instalada.
Gabriela que adorava Lúcia, assim que teve oportunidade, perguntou-lhe sobre como era o dia-a-dia da família na França.
Lúcia respondeu-lhe que a cidade era uma festa. De tempos em tempos, Paris se modifica: são novos eventos, novas exposições, etc.
Quanto ao trabalho, continuava trabalhando com moda. Mas em razão da idade, estava trabalhando em outros segmentos da moda.
Jean e Paul aproveitavam estes momentos em que ambas ficavam conversando, para passearem pelos arredores do hotel.
O lugar, como já foi dito antes, é bastante aprazível. Com muitas áreas verdes para serem percorridas, jardins, gramados, etc.
O Hotel Aquarela era um lugar como poucos.

A grande distância dali, estava Hélio, um rico empresário no setor de exportações, em seu trabalho.
Casado com Ofélia tinha um filho de 16 anos, chamado Pedro.

Com efeito, mesmo passados longos anos desde a última vez que vira Lúcia, o homem continuava acompanhando seus passos.
Por haver se tornado uma modelo de sucesso, era constante sua presença em capas de revistas. Também se comentava muito sobre sua vida nas colunas sociais.
Quando Hélio soube que Lúcia arrumara um namorado e como ele se casou, vindo em seguida a ter um filho, ficou furioso.
Sua reação inclusive, provocou ciúmes em sua mulher, a qual não se conformava com a obcessão de seu marido por Lúcia.
Quando a mulher engravidou de seu primeiro filho, Hélio então se descontrolou.
Dizendo que Lúcia não podia fazer isto com ele, prometeu para si mesmo que iria se vingar. Jurando a si mesmo que tornaria a vê-la, prometeu que os dois voltariam a ficar juntos.
Com efeito, o tempo passou e Hélio continuava obcecado por Lúcia.
Colecionava todas as revistas em que ela aparecia (fosse na capa ou em alguma matéria), recortes de jornal.
Quem não gostava nada disso era Ofélia, que ameaçava o tempo inteiro jogar toda aquela porcariada fora.
Hélio por sua vez, sempre que ouvia tais palavras, respondia dizendo:
-- Não se atreva a mexer neste material!
Ofélia porém continuava a insistir em destruir aquela papelada.
Hélio retrucava dizendo, que se ela continuasse insistindo naquela idéia, o que Ofélia veria, seriam papéis queimando de um lado, e ele saindo de outro, para nunca mais voltar.
Ofélia, ao ouvir tais ameaças, desistia da idéia.

Com isto Hélio, continuou alimentando sua obcessão por Lúcia.
Quando soube que a mulher retornara ao Brasil para uma estada com sua família no Hotel Fazenda de seu pai biológico, Hélio se armou de esperança.
Dizia a si mesmo:
-- Este é o momento!
Isto por que, em todas as suas vindas para o Brasil, Lúcia fazia visitas rápidas a seus pais. Visitas as quais, só eram divulgadas quando ela estava de volta a França.
Mas Hélio não desistia de seu intento.
Em dados momentos, chegou até a cogitar viajar até Paris para localizá-la.
Uma vez quase chegou a ir a cidade, mas um sócio, relatando que tinha preferência em viajar para lá, acabou afastando seu projeto de ir até o local.

Agora porém, era diferente. Lúcia estava por perto.
Diante disto, Hélio começou a realizar contatos.
Estava disposto a colocar seus planos em prática.
Nisto, alguns dias após a chegada de Lúcia, Hélio arrumou suas malas e rumou para o Hotel Aquarela.
Precavido, registrou-se com um nome falso.
Com isto, passou a espiar Lúcia.

Em dado momento, a mulher, percebendo a presença de um estranho a observá-la na piscina, correu em disparada em direção a seu quarto. Assustada, trancou-se.
Não fosse a insistência de seu marido Jean, e ela teria permanecido reclusa em seu quarto.
Assustada, comentou que teve uma sensação muito ruim ao se sentir observada. Chorando, comentou que não queria mais ter aquela sensação.
Jean então consolou-a.
Mais tarde, Lúcia saiu do quarto, foi passear com o marido e com o filho.
Após, arrumou-se e foi jantar com Orlando, Gabriela, Jean e Paul.

Hélio discretamente, os observava à distância.
Estava pronto para colocar seu plano em prática.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

AMARGAS LEMBRANÇAS - CAPÍTULO 8

Gabriela, intrigada com os sonhos que vinha tendo, comentou o novo sonho que tivera com o avô.
Mencionando que parecia estar assistindo um filme, comentou que a história que sonhara tinha começo, meio e fim.
Orlando só ouvia.

Ao término do relato da neta, Orlando comentou que Lúcia também já havia sonhado com com um assassinato.
Gabriela aproveitando o gancho, insistiu para que o avô revelasse o que havia ocorrido com Lúcia.
Orlando, incomodado com a insistência de Gabriela, comentou que aquela era uma história muito triste.
Gabriela comentou que já havia percebido um ar de melancolia nos olhos da tia.
Mas Orlando estava reticente em relatar a neta o acontecido com sua filha, Lúcia.

Gabriela porém, desconfiada, relatou que já ouvira comentários de sua mãe, a respeito do que teria ocorrido a tia.
Orlando, surpreso com as palavras da neta, perguntou a ela, o que Margarida dissera a respeito de Lúcia.
Gabriela então relata que sua mãe comentara com seu pai Cássio, que não se podia esperar nenhuma atitude nobre de Lúcia, tendo em visto o que havia acontecido entre ela e Hélio, de quem tivera um filho.
Orlando ficou chocado.
Como Margarida podia saber do ocorrido? E mais! Como tivera a leviandade de comentar isto com Gabriela?
Gabriela então confessou que Margarida não sabia que ela estava ouvindo.
Orlando, percebendo que não podia mais esconder de Gabriela o que havia acontecido a Lúcia, resolveu contar o ocorrido.

Orlando então revelou que a quase vinte anos, Lúcia fora assediada por este tal Hélio, que a raptou.
Aproveitando-se do fato que Lúcia costumava andar sozinha pelos arredores da cidade onde então morava, o rapaz resolveu segui-la.
Certo dia, aproveitou para se aproximar da moça.
Lúcia, que não queria conversa com Hélio, tentou se afastar. Em vão.
Mais forte, Hélio empurrou Lúcia para um matagal, onde mesmo diante dos gritos desesperados da moça, rasgou sua roupa e deitou sobre ela.
Lúcia tentou se defender do agressor, mas Hélio, percebendo a resistência da moça, a estapeou.
Minutos depois, levantou-se, se recompôs e saiu dali apressado.
Lúcia ficou deitada, chorando.
Minutos depois, desorientada, levantou-se e ficou vagando pela região, até ser encontrada por uma senhora que cuidou dela, até ela se restabelecer do ocorrido.
Esmeralda acolheu Lúcia em sua casa e auxiliou-a. Emprestou uma roupa ela vestir, deu banho, abrigo.
Envergonhada, a moça precisava encontrar coragem para voltar para casa.

Nisto Etevaldo e Júlia ficaram desesperados. Preocupados com o sumiço de Lúcia, procuraram a moça por toda a cidade.
A certa altura, chamaram a polícia.
Mas Lúcia não foi encontrada pela polícia.
Etevaldo e Júlia só voltaram a ter notícias de Lúcia, quando dias depois, a moça retornou para casa.
Abatida, a moça não queria revelar o que havia acontecido.
Seus pais ficaram deveras preocupados. Percebendo que algo de muito grave havia acontecido, tentaram fazer com que Lúcia revelasse o que havia acontecido.
Todavia, sempre que era questionada a respeito, a moça só conseguia chorar.

Com o tempo, Lúcia retornou ao colégio.
Sempre que passava pelo pátio do colégio, era observada por algumas garotas e rapazes.
Hélio, feliz da vida, comentou com alguns colegas que havia conseguido passar uma noite com Lúcia.
Empolgados, alguns garotos a partir daí, começaram a convidar a moça para passear de carro com eles.
Um deles chegou até a comentar que não sabia por que ela recusava tantos convites para passear, já que havia passado a noite com Hélio.
Ao ouvir isto, Lúcia, ficou arrasada.
Retornando do colégio, a moça chegou a pedir aos pais, para mudar de escola.
Etevaldo e Júlia, desconfiados do pedido de Lúcia, começaram a perguntar se alguém no colégio a estava incomodando.
Lúcia respondeu que não.
Mas ambos estavam desconfiados.
Certo dia, resolveram conversar com Cássio e Bruna, amigos de Lúcia, para quem pediram para que contassem o que estava acontecendo.
Preocupados, os dois revelaram que também não sabiam de nada.
Mas desconfiados de que poderia haver o dedo de Hélio em toda aquela história, prometeram que ficariam de olho em Lúcia.

Isto porém não foi o bastante.
A certa altura, depois de um longo tempo sem se aproximar da moça, Hélio aproveitou um momento de distração de Lúcia, para arrastá-la até seu carro e sumir com ela.
Ao perceberem o sumiço da moça, Cássio e Bruna, foram imediatamente ao encontro dos pais dela e relataram que havia mais de quarenta minutos que estavam procurando-a.
Etevaldo e Júlia perceberam que então que só poderia ser alguém do colégio que estava fazendo isto.

Nisto, Hélio carregou Lúcia desacordada para uma cabana. Lá amarrou a moça a uma cama.
Quando despertou, ao observar o lugar em que estava, Lúcia tentou gritar. Em vão.
Estava amordaçada.
Quando Hélio percebeu que Lúcia estava acordada, foi logo lhe dizendo que ela estava em sua nova casa, e que ali eles passariam a viver juntos.
Foi começo de seu martírio.
Freqüentemente era abusada por Hélio, e quanto a isto, nada podia fazer.
Humilhada, Lúcia só pensava em morrer.
Certa vez, aproveitando-se de uma distração de Hélio, a moça aproveitou para pegar uma faca que estava perto de sua cama.
Estava tentando se desamarrar das cordas que a mantinham presa.
Enquanto tentava se desvencilhar das cordas, notou a aproximação de Hélio. Percebendo isto, Lúcia mirou a faca contra o próprio peito.
Não fosse o rapaz tomar a faca de suas mãos, e a moça teria se matado.
Lúcia chorando, disse para que ele a deixasse morrer.
Hélio respondeu que ela não podia morrer.

Com o tempo, o rapaz passou a soltá-la. Deixava Lúcia percorrer a casa.
Abatida, a esta altura, a moça já estava grávida.

Um dia, Hélio deixou Lúcia caminhar pelos arredores desamarrada.
Foi neste dia, que Lúcia conseguiu fugir de Hélio.
Isto por que, a polícia finalmente encontrou-a.
A moça, enfraquecida e debilitada, por pouco não conseguiu escapar de Hélio.
Aproveitando-se do fato de estar livre, correu.
Hélio, ao perceber que Lúcia tentava fugir, começou a gritar.
Em dado momento, a moça caiu ao chão.
O rapaz percebendo isto, correu ao encontro da moça.
Sentindo um forte mal estar, Lúcia foi pega por Hélio.
Percebendo uma movimentação próxima, Hélio tentou fugir com Lúcia. Carregou-a em seus braços.
Contudo, percebendo que não daria tempo para se esconder com Lúcia no matagal, deixou-a sentada num banco e fugiu.
Não sem antes dizer que voltaria para buscá-la.
Quando os policiais encontraram Lúcia, a moça estava sentindo muitas dores.
Foi logo encaminhada para um hospital.
Lá deu a luz prematuramente a um filho, o qual, segundo lhe foi informado, nasceu morto.

Etevaldo e Júlia, ao tomarem conhecimento de que Lúcia estava grávida, perceberam que o primeiro sumiço da moça fora por causa de Hélio.
Em apuros, o rapaz fugiu do estado.
Lúcia, sem condições de continuar freqüentando o mesmo colégio, terminou seus estudos em casa.
Encerrando o colegial, Lúcia poderia sair da cidade.
Deprimida, não agüentava mais encarar os olhares, ora de piedade, ora de reprovação.
Com isto, após terminar os estudos, partiu com seus pais para São Paulo.
Lá foi descoberta por Nelson, enquanto caminhava pelas ruas da cidade.
Foi então que sua vida começou a mudar.

Gabriela ouviu a todo o relato atenta. Agora compreendida o ar de pesar de sua tia, e o quanto seu avô ficava incomodado e indignado com a história.
Dizendo que nunca sentira ódio de ninguém, Orlando comentou que sentia ganas de matar Hélio.
Revoltado comentou que cedo ou tarde o encontraria para acertar suas contas com ele.
Gabriela tremeu quando o avô proferiu estas palavras.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.