Abandonada ainda em criança por sua mãe, fora criada por uma família desajustada, que a todo o momento fazia questão de lhe dizer que ela era apenas uma adotada.
Revoltada, Diá passou a nutrir um profundo sentimento de rancor pela família que a criara. Por esta razão, resolveu fugir de casa.
Porém ao fugir, a menina de quatorze anos, acabou se envolvendo com criminosos.
Fascinada pela idéia de ganhar dinheiro fácil, a garota acabou acreditando nas palavras de um sujeitinho que se aproximou dela.
Este lhe prometendo que vendendo umas mercadorias, ganharia muito dinheiro, acabou convencendo-a.
Porém, o que ele nunca poderia imaginar era que Diá, muito astuta, poderia tentar lhe passar a perna.
Diá, gananciosa, desejando ficar com todo o dinheiro da transação, resolveu que venderia as mercadorias por um alto preço. Porém, ao invés de devolver parte do dinheiro para o aludido homem, Diá resolveu que embolsaria todo o dinheiro da venda.
Foi aí que a garota assinou sua sentença de morte.
Isso por que, bandido não brinca em serviço.
De formas que, o meliante, ao perceber que fora enganado por Diá, tratou logo de acertar as contas com a mesma. Obcecado pela idéia de desforra, o bandido, permaneceu em seu encalço por semanas, até encontrá-la.
Com isso, ao encontrá-la dormindo em um banco de praça, sua caçada finalmente chegou ao final.
Ao saber que ali a garota passava quase todas as noites, seu algoz finalmente encontrou a oportunidade ideal para se vingar da mesma.
Porém, como última tentativa, apareceria para ela, cobrando o dinheiro.
Foi o que fez.
Diá, no entanto, alegou que não tinha dinheiro nenhum. Dizendo ter sido assaltada, comentou que não trazia nenhum centavo consigo.
Ao ouvir isso, o meliante ficou revoltado e disparou seis tiros em sua direção. Diá, morreu na hora.
Diá, ao lembrar-se disso, ficou horrorizada.
Chocada, começou a correr feito uma desesperada pelas ruas da cidade onde vivera, assustando a todos.
Assustando por que os moradores da pequena cidade, não estavam acostumados com tão tresloucados gestos.
Diá parecia enlouquecida correndo pelas ruas da cidade.
Todavia, a certa altura, depois de muito correr, um jovem rapaz, preocupado com ela, perguntou-lhe se ela estava precisando de ajuda.
Diá, porém, ao invés de agradecer a atenção, comentou com o rapaz que se ela precisava ou não de alguma coisa, não era problema dele.
Foi o bastante para o rapaz se afastar.
Aborrecido, o rapaz prometeu para si mesmo que nunca mais se ofereceria para ajudar ninguém.
Nisso, Diá, mais calma, prometeu que se vingaria do homem que a matara.
Parece estranho, mas desde que desencarnara, a moça apagara por completo a lembrança de sua morte. Agora porém, ao retornar para o plano físico, passou a se dar conta de tudo o que acontecera em sua vida. Lembrando-se me detalhes de sua vida, passou a ser atormentada por horríveis lembranças.
No meio de todas elas, veio-lhe a mente a imagem de duas crianças em um berçário. As gêmeas, inadvertidamente foram trocadas pela enfermeira displicente que cuidava dos bebês.
Com isso, uma das mulheres que tivera um bebê que morrera momentos antes do parto, acabou levando a filha de uma outra que tivera gêmeas.
Diá, ao deparar-se com essa lembrança, não conseguia entender o sentido de tudo aquilo.
A garota espantada, se perguntava:
Por que ela tinha a lembrança de algo que não havia acontecido consigo? Por que ela trazia consigo a lembrança de outra pessoa?
Não conseguia entender. Para ela, toda aquela história lhe era muito confusa. Confusa demais para fazer algum sentido.
Nesse instante, Diogo, percebendo a ausência de Diá, ordenou-lhe que retornasse imediatamente ao inferno.
Diá porém, ao ouvir o chamado, fez de tudo para protelar seu retorno para lá. Isso por que, desejosa de se vingar de tudo o que lhe fizeram de mal em vida, queria por que queria, permanecer no lugar em que estava.
Diogo, no entanto, não ficou nem um pouco satisfeito com isso. Sentindo-se afrontado, ordenou mais uma vez que ela voltasse para o inferno.
Diá, mesmo aborrecida, foi obrigada a acatar a ordem.
Assim, teve que retornar ao inferno e lá, dar detalhadas explicações sobre o seu proceder.
Além disso, como resposta a desobediência às suas ordens, Diogo ordenou a seus asceclas que a confinassem em um dos piores lugares do inferno.
Ao ser enviada para a aludida região, Diá passou péssimos momentos.
Isso por que, em meio as almas penadas, e torturadas que lá viviam, Diá, passou a ser alvo fácil de suas maldades.
Torturada dia e noite, prometeu para si mesma e para Diogo que nunca mais o desobedeceria. De tão desesperada, chegou a pedir diversas vezes que o honorável carrasco das profundezas a libertasse de tamanho suplício.
Diá, no entanto, só seria libertada quando Diogo assim entendesse necessário.
E assim, Diá permaneceu um longo período padecendo.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
quinta-feira, 29 de abril de 2021
O BEM E O MAL - CAPÍTULO 28
O BEM E O MAL - CAPÍTULO 27
Lúcia ao ver o inferno, mesmo de longe, protegida pelo céu que a cercava, descobriu que tudo ali era soturno e triste.
Era ali que vivia Diá, uma criatura pérfida e cruel que lembrava e muito a própria Lúcia.
Porém, não seria dessa vez que Lúcia tomaria conhecimento dela.
Contudo, apesar de não conhecer Diá, Lúcia, acabou conhecendo, mesmo que de longe, Diogo – uma pavorosa criatura que habitava o inferno. Superior de Diá, era a ele que ela se reportava sempre que tinha que prestar contas de algo.
Filha da aludida criatura diabólica, Diá, era muito perversa.
A odiosa Diá, adorava impingir sofrimento aos seres que ao desencarnarem – em razão das muitas atrocidades que cometeram –, não tiveram o privilégio de ir para o céu. Os miseráveis, pagando pelas maldades que cometeram em vida, estavam condenados ao eterno choro e ranger de dentes.
Além disso, ainda tinham que suportar todo o sofrimento que era impingido por Diá, que hora sim e outra também, vinha lhes atormentar com impropérios e com as mais terríveis maldades.
A perversa criatura tinha como passatempo predileto, envenenar a alma de todos os miseráveis que habitavam aquele lugar.
Certa vez, Diá, ansiosa por rever a terra em que vivera e sofrera por muitos anos, desobedecendo as ordens de seu pai, Diogo, foi visitar sua cidade. Lá em meio aos mortais, revisitou a dor e o sofrimento que sempre cercou sua vida.
Isso por que, desde que passara a habitar o inferno, Diá deu-se conta do quanto a vida fora madrasta para com ela.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
O BEM E O MAL - CAPÍTULO 26
Enquanto isso, no céu ... as coisas pareciam diferentes.
Isso por que, quando Lúcia chegou ao céu, uma horda de anjos acompanharam sua alma até um tranqüilo lugar do paraíso.
Tudo isso em razão do estado de sua alma, que de tão afetada pelos últimos acontecimentos, jazia inconsciente.
A alma de Lúcia parecia ainda não ter tomado conhecimento de que não fazia mais parte do plano físico.
Assim, enquanto sua mãe permanecera inconsolável, lamentando desesperadamente seu desaparecimento, Lúcia estava inconsciente, adormecida em solo sagrado.
Lúcia, dormia. Dormia, dormia ... Estava tão tranqüila que até parecia um anjo.
Sua mãe carnal, se pudesse vê-la, talvez ficasse feliz. Isso por que, Lúcia, apesar de inconsciente, parecia bem.
Mas Solange não podia mais ver a filha. Por esta razão, não teve como controlar seu desespero.
Porém, a despeito de toda dor e agonia, Lúcia dormia.
E dormiu por semanas, por meses, até acordar assustada.
Ao se deparar com tão estranho lugar, demorou para se dar conta de que havia morrido. Para ela, aquilo tudo era apenas uma brincadeira de mal gosto. Contudo, com o passar do tempo, passou a se lembrar cada vez mais do que havia se passado com ela.
Conforme os dias se seguiam, conseguiu até se lembrar de como havia morrido. No entanto, relembrar sua morte, lhe era extremamente doloroso.
Lúcia não conseguia entender por que existia tanta maldade no mundo. Não por que simplesmente tivesse sido mais uma de suas vítimas, mas também por que, este ato havia feito muita gente sofrer.
Por isso mesmo, ao lembrar-se da mãe, pediu imediatamente para saber como ela estava passando.
E assim foi-lhe mostrado.
Solange a esta altura, estava de volta ao trabalho, cuidando dos pacientes do hospital.
Lúcia ao ver a mãe trabalhando, ficou aliviada.
-- Pelo menos ela está bem. – comentou.
Foi nesse momento que um dos seres celestiais que a acompanhavam, confidenciou-lhe que antes de Solange retomar sua vida, passou muitos meses acamada e desconsolada. Para ela, viver não fazia mais sentido. Tanto que por meses seus vizinhos fizeram questão de cuidar de sua casa e de sua vida, até que reunisse forças para prosseguir sozinha.
Assim se nota que este trabalho demorou mais do que esperado.
Todavia, um certo dia, Solange decidiu retomar sua vida. Decidida a não mais ficar parada, pediu de volta o emprego no hospital. Também, aguardando uma solução para seu caso, por semanas procurou trabalho. Mas seu ar abatido e envelhecido, depunham contra ela, que mesmo qualificada, era preterida nas contratações.
E assim os dias foram se seguindo. Dias de angústia e preocupação que culminaram em seu retorno ao emprego.
Lúcia, então, que até o momento ouvira tudo calada, admirou-se.
-- Quer dizer então, que fiquei desacordada por meses?
O mensageiro assentiu com a cabeça.
Ao ver o espanto de Lúcia, o mensageiro então lhe contou-lhe o processo pelo qual iria passar.
Lúcia então, passou a ouvir atentamente suas palavras.
No entanto, o mensageiro lhe avisou que não poderia lhe contar tudo num só momento.
Por enquanto ela só saberia dos propósitos mais imediatos de Deus, com relação a ela.
Depois, ao evoluir e se aperfeiçoar como espírito celeste, poderia conhecer mais sobre os planos do Criador.
E assim, Lúcia foi se aperfeiçoando.
Conforme aprendia mais e mais sobre o Criador e seus planos para a humanidade, mais Lúcia tomava consciência de sua missão.
Zelosa, aguardava paciente as ordens para que começasse a agir.
Muito embora soubesse que ainda tinha uma missão a cumprir, a mesma não sabia exatamente o que era. Ansiosa, tinha que aprender a controlar sua impaciência. Porém, a despeito dos anjos e demais criaturas celestiais nada lhe revelarem a respeito de sua missão, a moça sabia que tinha algo a fazer.
Foi nesse período que ela, ao conhecer como funcionavam as coisas na mansão do Altíssimo, descobriu que além daquele mundo calmo e tranqüilo, – porém cheio de etapas de evolução – havia um outro lugar, sombrio e tenebroso que abrigava as almas desgarradas.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
O BEM E O MAL - CAPÍTULO 25
Mas, para seu desespero, o telefone não tocava.
Com isso, Solange ficava cada vez mais inquieta. Isso por que, trabalhar era uma das únicas formas que tinha para esquecer sua dor.
Solange estava ainda muito abatida dado os últimos acontecimentos. Por isso, precisava se ocupar de alguma coisa. Precisava fazer alguma coisa.
Em razão disso, enquanto não vinha a resposta da direção, com relação a sua situação no hospital, Solange passou a então, a procurar trabalho.
Contudo, sempre que se apresentava nas entrevistas, era preterida. Isso por que, em razão de sua idade e de seu aspecto cansado, as pessoas não se encorajavam a contratá-la.
E assim, conforme os dias foram se passando, Solange foi ficando cada vez mais desanimada.
Cínthia e Raquel, ao perceberem o desalento da amiga, fizeram de tudo para que esta se animasse.
Afinal, em razão dos últimos acontecimentos, era muito natural que Solange se sentisse desanimada. Por isso estavam empenhadas em elevar o moral da amiga. Não queriam que Solange desanimasse. E assim o fizeram.
Com isso, ao final de duas semanas, finalmente Solange recebeu uma ligação de retorno do hospital.
Quando atendeu ao telefonema, Solange mal podia acreditar.
Apesar de sua confiança com relação seu retorno ao hospital, a mesma não sabia em que condições esse retorno se daria.
Porém, qual não foi sua surpresa, ao constatar que mesmo depois de meses longe do trabalho, a direção do hospital decidiu reconsiderar e a manteve no emprego.
Isso era ótimo.
Solange ficou tão feliz com a notícia que comentou com as amigas.
Estas, de tão animadas, comunicaram a notícia alvissareira a toda a vizinhança.
Finalmente Solange dava os primeiros sinais de que estava se refazendo da tragédia que pela segunda vez, se abateu sobre sua vida.
Sim por que, passar pelo que ela passou, nenhum deles gostaria de passar.
Para eles, só de pensar nesta possibilidade, já era extremamente penoso. Por isso, entendiam o desalento de Solange.
Contudo, preocupados que estavam com sua situação, não podiam aceitar que a mesma se deixasse abater. Por isso insistiam com a amiga, para que retomasse sua vida, por mais difícil que isso fosse.
E assim, aos trancos e barrancos, Solange deu prosseguimento a sua vida.
Porém, como já seria de se imaginar, nunca mais ela seria a mesma.
Essa dor jamais seria reparada.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
O BEM E O MAL - CAPÍTULO 24
Depois, do enterro, Solange retornou para sua casa, e durante o restante do dia, dormiu.
Dormiu, dormiu, por quase doze horas.
Por isso, preocupados que estavam, os vizinhos se organizaram para, nas próximas semanas, acompanharem-na em suas atividades diárias. Cautelosos, não a deixariam nem um minuto sozinha. Não queriam que ela fizesse uma besteira.
E durante os dias que se seguiram, foi isso que fizeram. Ajudaram-na em tudo que podiam.
Cuidaram de sua casa, tentaram animá-la.
Mas quanto ao desalento que sentia, Solange não conseguia se animar. Gentil, agradecia a todos pelo que estavam fazendo, mas não conseguia superar a dor.
Durante semanas, sentiu-se triste, sem forças, sem vontade de viver.
Pensava:
Pra que me levantar todos os dias, se eu não tenho mais motivos para isso? Pra que continuar, se tudo o que fazia nos últimos quinze anos fora pensando nela? Afinal, que sentido havia em tudo agora?
De onde tiraria forças para continuar sua vida?
Pra que continuar vivendo se Lúcia não estava mais com ela?
Por que tinha que passar por tudo aquilo? Por que ela, por ser mais velha, não tinha morrido primeiro? Por que sua filha tivera que passar por tudo aquilo?
E assim por mais que tentasse entender, Solange não conseguia chegar a nenhuma conclusão. Para ela, não foram justos com sua filha, e por isso, mais e mais se afundou em sua depressão.
Seus amigos e vizinhos, já estavam ficando preocupados.
Tanto que chegaram a aconselhar a Solange, que se consultasse com um psicólogo, para que este a ajudasse a superar os problemas decorrentes da perda da filha.
Mas Solange não queria saber de ajuda.
Com isso, mais e mais seu estado de saúde foi se agravando.
Conforme as semanas foram se passando, mais e mais Solange se afundava em sua depressão.
Seus amigos, ao verem que a situação se agravava, pediam mais e mais a Solange, que buscasse ajuda profissional para tentar superar a dor.
Mas ainda assim, apesar do abatimento moral, Solange não queria saber de médicos, nem de ajuda. Para ela, a vida havia perdido o sentido. Não valia mais a pena viver.
Tanto que certa vez, chegou a dizer para as amigas que se ela morresse, seria uma benção.
Mas as duas, ao ouvirem suas palavras, lhe deram uma severa bronca.
-- Afinal. Onde já se viu? Uma mulher forte e trabalhadora falando uma bobagem dessas? Como é que pode? – perguntou Raquel a amiga.
-- Agora nada mais me importa. – respondeu Solange. – Lúcia morreu.
-- Sim, eu sei. E sei também que é muito duro o que vou dizer, mas vendo sua situação, eu não posso mais me omitir... Infelizmente, Lúcia morreu. Morreu. Nunca mais vai voltar. Mas você não. Você continua viva. Eu sei que nada vai poder reparar essa perda, pois Lúcia morreu inesperadamente. E isso foi um duro golpe para você. Mas você precisa continuar minha amiga. Se não for por você, ou por nós, que seja por sua filha. Para que lá de cima, ela lhe possa ver bem, sem que tenha que se preocupar com você. – insistiu Cínthia. – Faça isso por Lúcia, que gostava muito de você.
Solange, ao ouvir as palavras das amigas, ficou emocionada.
Em razão do recente abalo emocional que sofrera, tudo que a fizesse se lembrar da filha a deixava entristecida.
Por isso, ao ouvir que precisava continuar vivendo, mesmo sem Lúcia, sentiu uma profunda amargura.
Tanto que chegou a dizer:
-- Tudo o que eu amo, vai embora, nunca permanece comigo.
Ao ouvir isso, Cínthia e Raquel ficaram desapontadas. Apesar do empenho, a amiga não reagia. E isso para elas era muito triste.
Porém, apesar de leais a Solange, precisavam continuar suas vidas, e assim, assoberbadas com seus afazeres domésticos, passaram a ficar cada vez menos tempo com Solange, que agora, sempre amargurada, não conseguia ser uma boa companhia.
E assim, muito embora suas amigas e seus vizinhos ficassem penalizados com seu sofrimento, não havia mais nada que pudessem fazer.
Isso por que, já haviam tentado de todas as formas possíveis, não abandonar a amiga. Mas, precisavam continuar suas vidas.
Por isso mesmo, ao final de três meses, começaram a passar cada vez menos tempo em sua casa.
E com isso, Solange ficou cada vez mais só.
Porém, um dia, cansada de ficar reclusa em sua casa, e apoiada pelos amigos, resolveu voltar ao trabalho.
Nisso, vestiu seu uniforme de enfermeira e caminhou em direção ao hospital em que trabalhava.
Ao lá chegar, foi recebida por um dos médicos, que espantado, perguntou o que ela fazia ali.
Solange então respondeu que estava ali para trabalhar.
Mas o médico ao vê-la disse, que em razão da longa ausência do serviço o hospital achou por bem contratar uma outra profissional, para trabalhar em seu lugar.
Como fazia vários meses que havia se ausentado do trabalho, a direção do hospital entendeu a situação, como abandono de emprego.
Porém, em respeito a sua situação, o médico disse que todos os direitos trabalhistas que lhe eram devidos, seriam pagos, e que nada daquilo constaria em sua carteira de trabalho.
Contudo, para ela, que precisava sobremaneira do trabalho, ouvir que não tinha mais emprego, era muito difícil.
Foi então que sem qualquer orgulho, insistiu com o médico sobre sua permanência no emprego.
Para ela independente de qualquer formalidade, precisava continuar trabalhando. Desesperada, comentou com o médico que lhe tomaram a coisa mais preciosa que tinha no mundo. Em razão disso, precisava se ocupar de alguma forma. Assim, se não fosse possível continuar trabalhando como enfermeira, poderia ser atendente, recepcionista. Podia fazer qualquer coisa, mas precisava trabalhar.
O médico, ao perceber o empenho de Solange em continuar no emprego, prometeu a ela que levaria o assunto até a direção do hospital, para que a dispensa pudesse ser reconsiderada.
No entanto, diante das circunstâncias, disse que não poderia garantir nada. Mas ao menos tentaria.
Solange então agradeceu e se despediu. Aguardaria nos próximos dias a decisão da direção do hospital.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
O BEM E O MAL - CAPÍTULO 23
Dali seguiu o cortejo.
Diante da repercussão do caso, muitos curiosos acompanharam o trajeto do caixão até o cemitério.
Pelo caminho, muitas pessoas, solidarizando-se com o sofrimento de Dona Solange, lhe gritavam palavras de consolo.
Outros, curiosos, só acompanhavam de longe o cortejo.
O trajeto foi realizado a pé.
Alguns amigos, generosos, se ofereceram para levar o caixão até o cemitério. Sim, Solange não estava sozinha. Neste momento de dor, podia contar com os vizinhos, verdadeiros amigos nos momentos de dificuldade.
Todos se ofereceram para ajudá-la. Prestativos, cuidaram de sua casa, quando não estava em condições de fazê-lo.
Mas enfim, o cortejo caminhou pela cidade.
Durante cerca de quinze minutos, passaram por casas, lojas, uma praça, e diversas pessoas. Até finalmente adentrarem o cemitério. Lá, no entanto, só puderam entrar os amigos e colegas de Solange. Alguns seguranças acompanharam o cortejo e impediram a entrada de curiosos.
Durante o enterro, boa parte dos funcionários do hospital esteve presente. Precisavam ser solidários com uma funcionária dedicada, que havia passado por uma situação tão triste.
Quase todos que puderam, fizeram questão de acompanhar o enterro.
E assim foi.
Adentrando o cemitério, todos seguiram em direção ao túmulo.
Ao lá chegarem, um padre se aproximou, e começou a dizer algumas orações. Não foi uma cerimônia demorada.
Isso por que, somente um dos amigos de Solange é que fez um pequeno discurso. Em seu discurso, disse que a alma de Lúcia ficasse em paz.
E com essa intenção, todos rezaram por Lúcia.
Do lado de fora do cemitério, o mesmo aconteceu.
Muitas pessoas permaneceram próximas a entrada do local e rezaram pela jovem moça brutalmente assassinada. Muitos indignados, aproveitaram para protestar, exigindo que a polícia solucionasse o caso.
Não houve violência.
O que houve, foi uma passeata pacífica pela paz.
Preocupados, os moradores da cidade, não queriam que situações como essa, voltassem a acontecer. Não queriam que isso se tornasse comum, banal. Repudiavam isso.
Mas enfim, muitos rezavam por Lúcia. Desejavam que sua doce alma encontrasse a paz eterna. Que fosse descansar nos braços de Deus.
Quando o caixão ía ser descido, Dona Solange interrompeu a todos.
-- Esperem. Eu preciso vê-la pela última vez.
Os coveiros, condoídos com o pedido da mãe, abriram o caixão e a deixaram dar um último beijo, no rosto da filha. Era seu adeus definitivo.
Nesse momento, quase todos os presentes se emocionaram. Os vizinhos, as amigas próximas, todo mundo sabia que as duas eram muito ligadas. Viviam grudadas. Sabiam que dali por diante seria muito duro para Solange, prosseguir sem a filha.
Após, finalmente, o caixão foi descido.
Os presentes jogaram muitas flores sobre ele. E esta foi a homenagem que fizeram. As flores simbolizando a vivacidade, a vida.
Vida esta, que fora roubada por alguém muito covarde em uma atitude muito estúpida.
Atitude esta, sem justificativa.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
O BEM E O MAL - CAPÍTULO 22
E assim, mesmo no velório da filha, os jornalistas tentaram se aproximar.
No entanto, por se tratar de uma instituição de renome, e dado o fato de o velório estar sendo realizado na capela do hospital, foi recomendado, em razão da repercussão do caso, que fossem contratados seguranças para impedirem a entrada de estranhos no hospital e no velório.
Assim, todos os que queriam adentrar as dependências do hospital por qualquer razão, tinham que se identificar na entrada.
O que, com certeza, colaborou para a entrada de estranhos diminuísse.
No entanto, alguns conseguiram entrar no hospital. Com a desculpa de que estavam indo visitar um parente, alguns deles conseguiram acompanhar o velório. Mesmo alguns jornalistas conseguiram entrar.
No entanto, ainda dentro do hospital, havia um segurança para tomar conta do velório que lá acontecia. Assim, os jornalistas, ao verem o segurança, bateram em retirada.
E assim, de certa maneira, Dona Solange pôde ficar em paz com a filha.
Quando chegou a hora de fechar o caixão e levar o corpo até o cemitério para que fosse enterrado, Dona Solange fez um último apelo. Queria ficar a sós, pela última vez com a filha.
Compreensivos, todos entenderam o pedido da mãe e a deixaram sozinha com a filha.
Somente a advertiram para que não se demorasse.
No que Solange assentiu, balançando levemente a cabeça.
Quando finalmente se percebeu só, abraçou o corpo da filha. Durante longos minutos chorou sobre o corpo de Lúcia. Chorou, chorou, até que reuniu forças e começou a falar.
-- Por que minha filha? Por que? Por que você, que sempre foi tão boa com todos? Por que não uma pessoa ruim? Há tantas pessoas no mundo que mereciam muito mais que você, estar nesse lugar. Durante longos anos, eu cuidei de você. Cuidei sem esperar nada em troca. Cuidei só desejando que você crescesse e se tornasse uma pessoa bonita de coração, e você foi. Você foi a melhor filha que eu poderia desejar.
Foi então que, depois de alguns minutos em que esteve aparentemente calma, voltou a chorar. Não cabia em si de tanta tristeza. Assim, quando tornou a falar, com a voz embargada, comentou:
-- Eu criei você e o que eu ganhei com isso? Deus me tirou você. Primeiro tirou-me sua irmã, que eu nem sequer, tive a mais remota possibilidade de ter em meus braços. Eu a perdi praticamente no momento em que nasceu. E agora você. Não é justo. Você foi meu melhor presente, minha maior alegria! ... E eu te amo tanto. Tanto, que chega até a doer. Dói tanto, e eu nunca tive a oportunidade de dizer isso para você. Eu precisei perder você para conseguir entender a dimensão do meu amor. Nesses dias tão tristes que eu tenho passado, eu descobri que o meu amor por você, não tem limites. É maior do que eu mesma. É tão pesado, que eu não posso suportar.
Foi nesse momento então, que o desespero se tornou mais forte, e o choro, mais sentido. Sentia que não iria agüentar a ausência da filha, por muito tempo. Sentia que assim como Lúcia, estava morrendo. A cada dia que passava, era um pedaço de sua vida que se perdia. Era um pedaço seu que se separava de seu corpo.
Mas, mesmo assim, ainda com a voz embargada, continuou a dizer:
-- Com você, lá se foi minha última oportunidade de ter uma família. Eu não agüento mais perder. Quando é que eu vou ganhar? Eu não merecia estar passando por isso. Não merecia. Poderia ter acontecido qualquer coisa, menos isso. Eu não podia ter perdido você ... meu anjo. Volta pra casa. Eu ainda preciso tanto de você.
Debalde, desejava que sua filha se levantasse e saísse dali de mãos dadas com ela.
Mas sabia que isso não seriam possível.
Consciente disso, disse então:
--Meu anjo de candura. Infelizmente, acabou, eu não posso mais estar junto de você. Muito embora eu quisesse muito. Com você, se vai um longo e bonito pedaço de minha vida. Eu perdi. Mas eu quero que fique com uma coisa.
Nisso abriu sua bolsa e retirou de dentro, um lindo rosário que possuía desde os tempos de sua mocidade. Tal objeto, foi alvo de desejo de Lúcia durante muito tempo.
Lúcia, sempre desejara o rosário de sua mãe. No entanto, como era uma lembrança afetiva de sua avó, sua mãe nunca lhe dera.
Todavia, agora, Solange desejava entregá-lo para a filha.
E assim o fez.
Entregou-o em mãos, para Lúcia que jazia no caixão.
Para tanto, ajeitou o rosário, por entre as mãos da filha. Mãos estas que estavam sobrepostas, uma em relação a outra.
Assim, depois de realizar o gesto, proferiu suas últimas palavras para a filha.
-- Adeus. Vou sentir saudades ... Espere por mim. Espere por mim, Lúcia, que em breve, eu estarei contigo.
Ao dizer isso, ficou alguns minutos em silêncio, observando a filha, suas vestes, o modo como estava deitada, tudo. Muito embora não quisesse essa, como a última imagem da filha, não conseguia deixar de olhar.
Por último gesto, colocou uma rosa que encontrou entre os arranjos de flores da capela, sobre o peito de Lúcia.
Em seguida, conclamou a todos para que voltassem para a capela e pediu ajuda, para que pudesse descer a tampa do caixão.
Prestativos, muitos se ofereceram para fazê-lo sozinhos, mas Solange, fez questão de também participar.
E assim, auxiliada por um rapaz, abaixou a tampa do caixão.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.