Felipe ao tomar conhecimento disto, comentou que Leila devia estar bastante aborrecida com a imposição.
Osvaldo comentou então que poderiam conversar a sós.
Porém, mesmo à distância, ficaria de olho neles.
O moço agradeceu o voto de confiança.
Com isto, aproximou-se da moça, que não fez questão de cumprimentá-lo.
Felipe aproximou-se dela, e segurou suas mãos. Pediu-lhe para que olhasse para ele.
Leila não fazia questão de atendê-lo.
Permaneceu indiferente olhando para os móveis, a parede da sala. Menos para ele.
Impaciente, Felipe segurou seu rosto.
Leila assustou-se com o gesto brusco.
Nervoso, Felipe comentou que ela estava sendo caprichosa e que não tinha o direito de maltratá-lo daquela maneira.
Leila irritada, exigiu que ela a soltasse.
Felipe porém não a atendeu.
Disse que somente a soltaria quando ela lhe dissesse com todas as letras, que não gostava dele, e que ele poderia sumir de sua vida, pois não se importava.
Leila relutou em repetir aquelas palavras. Argumentou que ele estava pedindo para ser humilhado.
Felipe no entanto, insistiu.
Irene ao ver a cena, tencionou intervir, mas Osvaldo aconselhou-a a não ir até a sala.
Comentou sorridente que algo lhe dizia que eles acabariam por se entender.
Irene comentou que Felipe estava sendo bruto com sua filha.
Osvaldo retrucou que bruto não, apenas enérgico.
Leila então, mirando-o, ao notar que Felipe não desistiria, disse-lhe que não interessada em casamento, ainda mais com ele, depois de tudo o que ele fizera. Comentou que se ele mentira para ela uma vez, quem garante que tal fato não ocorreria outras vezes?
Felipe olhando-a nos olhos, prometeu que não.
Disse-lhe que estava arrependido, e que estava interessado em construir o relacionamento deles em bases sólidas.
Nisto, percebendo a mágoa da moça, Felipe relatou que contou aos pais sobre seu interesse em casar-se e que eles estavam interessados em conhecê-la.
Leila desviou os olhos dele.
Nisto, soltando a moça, Felipe argumentou que ela não respondera suas perguntas.
Leila respondeu que não sabia o que dizer.
Felipe então segurou novamente seu rosto.
Disse que só desistiria dela se tivesse certeza absoluta de que ela não tinha interesse em casar-se com ele. Com isto, insistiu para que ela dissesse que não gostava dele.
Leila afastando suas mãos, disse para que a deixasse em paz.
Nervoso, Felipe aproximou-se dela e falou-lhe que se ela não gostava dele poderia dizer-lhe.
Argumentou que agüentaria sofrer mais uma decepção. Relatou que não seria a primeira vez que passaria por aquilo. Falou apenas, que seria a primeira vez que ouviria um não de alguém de quem tinha muita estima, muito afeto.
Ao ouvir isto, Leila perguntou-lhe por que estava insistindo tanto nisto. Mencionou que com o dinheiro que possuía, poderia ter qualquer mulher que quisesse.
Felipe respondeu-lhe que qualquer mulher, poderia ser realmente isto, uma mulher qualquer. Até mesmo uma interesseira, uma golpista, alguém somente interessada em seu dinheiro.
Leila indagou se fora por isto que ele omitira que era rico.
Nervoso, Felipe respondeu que estava cansado de explicar que tudo fora resultado de uma série de mal entendidos, e que nunca tivera a intenção de enganá-la. Argumentou que nunca lhe passou pela cabeça que ela era uma interesseira.
Sorrindo, o moço comentou que gostou dela desde o início.
Teimoso, Felipe comentou que se ela relutava tanto em dizer-lhe o que estava pedindo era por que não o desgostava, e assim sendo, não havia motivo para não se casar com ele.
Leila, ao ouvir isto, enervou-se.
Argumentou que ele não estava em condições de realizar pré-julgamentos.
Nervosa, gritou que não gostava dele.
Tal fato chocou Felipe, que magoado, pediu para que ela continuasse.
Nisto, Leila respondeu com os olhos cheios de água e quase gaguejando, que não queria se casar com ele, que ele não significava nada para ela.
Em seguida, começou a chorar.
Felipe ao perceber isto, abraçou-a.
Começou a chorar também.
Nervoso, começou a pedir-lhe desculpas. Disse que nunca lhe esconderia nada.
Comentou que se ela queria fazer a tão sonhada faculdade, poderia fazê-la, não se oporia.
Irene, ao presenciar a cena, sorriu cúmplice para o marido.
Curiosa, perguntou-lhe como sabia que eles se entenderiam.
Osvaldo respondeu que não sabia. Apenas tinha uma forte crença de que tudo daria certo.
Dias mais tarde, a família da moça foi convidada para conhecer a casa do moço.
Irene, Osvaldo e Leila usaram suas melhores roupas.
Encantaram-se com a imponência do palacete da família Oliveira.
Ao entrarem na casa, foram recepcionados pelo mordomo, que os convidou para adentrarem a casa e se instalarem na grande sala.
Solícito, o homem perguntou se gostariam de beber algo.
Osvaldo agradeceu, mas respondeu que não.
Perguntou onde estavam os donos da casa.
O mordomo respondeu que logo eles desceriam para conversar com eles.
Com efeito, primeiro apareceu Fábio que cumprimentou a todos.
O homem encantou-se com a beleza da noiva do filho.
Disse a moça que compreendia por que Felipe havia se encantado tanto com ela.
Leila agradeceu o elogio.
A seguir, eis que surge Fátima, que também elogiou a moça, e o bom gosto em se vestir. Recomendou que todos se sentisse à vontade, pois estavam em casa.
Com isto, Fátima ofereceu um licor aos convidados.
Uma criada serviu a todos.
Por último, Felipe se apresentou aos convidados.
Pedindo licença a todos, pediu para sentar-se ao lado de Leila.
Osvaldo e Irene, concordaram.
Brincando, Fábio comentou que ele precisava formalizar o pedido, já que pedira Leila em casamento, de uma forma pouco usual.
Felipe então, segurando a mão direita da moça, sorriu ao perceber que ela sustentava o solitário com o qual a havia presenteado durante o jantar no Rio de Janeiro.
Mais tarde, Felipe reiterou o pedido de casamento aos pais da moça, os quais concordaram com a proposta.
Leila por sua vez, e pela primeira vez, respondeu que sim. Aceitava casar-se com ele.
O aceite foi aplaudido por todos.
Para o jantar, Fátima mandou preparar uma refeição simples.
Irene, ao perceber a simplicidade da ceia, agradeceu a atenção da anfitriã. Disse que de fato, não sabia utilizar aquela enorme quantidade de talheres.
Sorrindo Fátima respondeu que aprender era uma questão de tempo.
Simpática, comentou que não nascera rica, e que ao receber a herança do filho, precisou aprender. Relatou que para isto, foi assessorada por parentes e profissionais.
Irene ficou perplexa. Tanto que perguntou:
- Você já foi pobre como nós?
- Nós já fomos pobres, sim. Hoje temos dinheiro em virtude de uma herança de Felipe. Mas o dinheiro já foi contado em nossas vidas. Já tivemos nossas dificuldades, as quais não foram poucas. Dificuldades de todo o trabalhador brasileiro. A senhora deve saber disso!
Irene, ao tomar conhecimento disto, ficou encantada. Comentou que desde o início percebera que ela não era uma mulher arrogante.
Osvaldo perguntou a Fábio se ele já trabalhara em fábrica.
O homem respondeu que sim.
Ao término do jantar, Felipe pode ficar um pouco a sós com Leila.
Passearam pelo jardim da mansão.
Leila comentou durante o passeio, que os pais dele eram muito simpáticos.
Felipe concordou.
Relatou que eles foram pobres, e que ele só soube o que era ter dinheiro, depois dos dez anos de idade. Daí em diante passou a estudar em internatos, e até no exterior. Precisava ser preparado para administrar a fortuna que herdara. Formou-se em direito, e quando finalmente terminou os estudos, tinha um grupo empresarial para administrar.
Comentou que as empresas foram montadas por seu tio Epaminondas, e que seu pai também tinha seu comércio, seus negócios, independentes da fortuna dele.
Felipe comentou que através de um empréstimo de parte de seu patrimônio, seu pai conseguiu amealhar patrimônio. Foi tão bem sucedido no empreendimento que conseguiu devolver o dinheiro emprestado, e hoje não precisa da ajuda financeira de ninguém para sustentar um bom padrão de vida.
Leila ficou impressionada com o relato.
Felipe mostrou-lhe uma bonita fonte que havia no jardim.
Comentou que se tratava de uma bela mansão onde passara alguns bons momentos de sua vida. Contou que em criança, brincou muito em meio àquelas plantas. Que foi muito feliz ali.
Felipe e Leila, caminharam de mãos dadas.
Quando retornaram a sala, Irene e Osvaldo chamaram a moça.
Comentaram que a visita se alongara e que precisavam voltar para casa.
Osvaldo argumentou que precisaria trabalhar no dia seguinte, e que precisava acordar cedo.
Fátima e Fábio lamentaram a despedida, mas compreendendo o fato, despediram-se da família.
Fábio comentou que precisavam se encontrar mais vezes.
Osvaldo concordou. Mencionou que ocasião para isto, não faltaria.
Felipe despediu-se de todos.
Quanto a Leila, pediu para ficar um pouco a sós.
E assim, afastando-se um pouco de todos, conduziu a moça a entrada da casa e abraçou-a.
Olhando-a nos olhos disse que ficaria com saudades.
Leila riu.
Despediram-se.
Dois meses depois, Felipe e Leila casaram-se.
Epaminondas foi o padrinho do casal, acompanhado de sua esposa.
Colegas de Felipe, amigos das famílias, colegas de trabalho de Leila, todos compareceram ao casamento.
A imprensa fotografou o casal.
A foto do casamento ilustrou a coluna social de um dos jornais da capital.
Leila fez a almejada faculdade.
Tornou-se braço direito do marido, no Grupo Oliveira.
Para desespero de Fábio e Osvaldo que achavam que ela deveria ficar na casa montada para o casal, administrando o lar, e cuidando dos filhos que viriam.
E os filhos vieram.
Dois.
O tempo passou e Felipe continuou trabalhando a frente da empresa.
Todos os anos, no dia onze de agosto, se encontrava com os colegas da faculdade.
Reuniam-se para confraternizarem.
Contavam anedotas. Falavam dos tempos de faculdade, do tempo em que Felipe freqüentou o teatro com bastante freqüência, de seu interesse pela carreira artística.
Todos riam.
Com o tempo, começaram as ausências.
Colegas que faleceram.
Todos lamentavam as ausências.
Os mais chegados se entristeciam.
Mas a vida prosseguia.
O Felipe ainda permaneceu por muitos anos, cuidando da empresa.
Até passar a administração dos negócios para os filhos.
Trabalhou por mais de quarenta anos na empresa.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
quarta-feira, 31 de março de 2021
CARINHOSO - PARTE I - CAPÍTULO XVIII
CARINHOSO - PARTE I - CAPÍTULO XVII
Felipe, estava decidido a se entender com Leila.
Atendeu telefonemas, visitou a tecelagem, participou de uma reunião.
Estava interessado em realizar anúncios de seu comércio nos muros da cidade. Pensou até em utilizar a televisão e o rádio.
Mais tarde, foi até a residência da moça.
Irene estranhou quando a filha se apresentou na sala toda arrumada para se encontrar com o rapaz.
Nas últimas semanas Leila estava mais recolhida, e somente saía com seus colegas.
Em razão disto, Irene chegou a pensar que o casal havia rompido.
Chegou a conversar com a filha sobre o assunto, mas Leila a todo o momento desconversava.
Leila despediu-se dos pais.
Irene recomendou-lhe então, que não voltasse tarde. Relatou que ela estava muito estranha.
Leila respondeu que estava tudo bem.
Irene pediu para que tivesse cuidado. Argumentou que a reputação de uma moça era tudo.
Com isto, pediu para que o marido a acompanhasse até a porta.
Felipe saiu do carro.
Dirigiu-se até a entrada da casa, cumprimentou o homem, e pedindo licença, conduziu Leila até o carro, fechando a porta do veículo para ela.
Felipe dirigiu até o aeroporto.
Leila, ao perceber isto, perguntou-lhe para onde estava indo.
Sorrindo, o moço respondeu que a estava levando para jantar em um dos melhores restaurantes que ele conhecia.
A moça indagou do por quê da escolha.
Felipe respondeu-lhe que quando ela pusesse os pés no restaurante, entenderia.
Nisto, o casal adentrou o aeroporto.
Felipe, munido de duas passagens, recomendou-lhe que o seguisse.
Com isto, o casal voou para o Rio de Janeiro.
Não sem alguns protestos e questionamentos de Leila, que não estava compreendendo o que estava acontecendo.
A moça respondeu que não iria viajar com ele, que não tinha bagagem, e que tudo aquilo era muito estranho.
Felipe segurando suas mãos, dizia-lhe a todo o momento para que não preocupasse. Respondeu que não a estava seqüestrando.
Assustada, Leila perguntou-lhe se não poderiam conversar em São Paulo.
Felipe disse-lhe que precisava lhe mostrar um lugar que considerava muito especial. Visando acalmá-la, disse-lhe que poderia contatar seus pais, quando lá chegasse.
Com isto, rumaram em direção a cidade maravilhosa.
Quando chegaram na cidade, Felipe e Leila saíram de táxi do aeroporto.
Seguiram pelas ruas da cidade.
Avistaram algumas praias, e alguns cartões postais da cidade.
Leila ficou encantada com a beleza da cidade.
Ao perceber o deslumbramento da moça, Felipe comentou que a cidade a noite era esplendorosa, mas que o melhor da cidade era observá-la de dia.
Quando chegaram no restaurante, Leila ficou impressionada com a imponência da construção.
Felipe respondeu-lhe que muita gente ilustre já havia freqüentado o lugar.
Leila pode observar fotografias de alguns artistas no local.
Assim, que adentraram o restaurante, foram recepcionados por um garçom que os conduziu a uma mesa centralizada do lugar.
Acomodados, Felipe perguntou a Leila se gostaria de telefonar para os pais.
A moça respondeu que mais tarde ligaria.
Comentou que se dissesse que estava em um restaurante no Rio de Janeiro, ninguém acreditaria. Ressalvou que nem ela mesma estava acreditando no que estava acontecendo.
Nisto, Felipe abriu sua maleta e sacou um presente.
Quando Leila viu o pacote, percebeu que se tratava do perfume que o moço havia comprado naquela tarde.
Felipe respondeu-lhe que aquele perfume era para ela.
Leila por sua vez, fez menção de recusar.
No que Felipe retrucou dizendo que não aceitaria nenhuma recusa.
Argumentou que não estava querendo comprá-la. Só estava sendo ser gentil com uma pessoa especial para ele.
Aproveitando o ensejo, comentou que quando fingira ser um simples motorista particular, não o fizera com a intenção deliberada de enganá-la.
Repetiu que ficou temeroso em contar a verdade, e ela pensar que ele estava brincando. Comentou que desde que a vira pela primeira vez, notou que ela era uma pessoa especial, e não queria correr o risco de ficar sem sua presença.
Por fim, comentou que ela não era uma pessoa fácil, e que seria muito difícil fazê-la se convencer de que era um empresário.
Ao ouvir estas palavras Leila respondeu:
- Ah, que bom! Agora a culpa por sua covardia é minha!
Felipe entendeu o ponto de vista da moça.
Disse-lhe que ela não era culpada de seus gestos impensados.
Indagou porém, que de fato seria difícil de acreditar que a pessoa que está ao seu lado é abonada. Em seguida, comentou que já foi enganado por uma moça, que fingira ser uma doce criatura, mas que só estava interessada em seu dinheiro. Quase as lágrimas, comentou que fora sim um covarde, e que teve medo de que ela pudesse ser uma interesseira.
Magoada, Leila respondeu:
- Poxa vida! Que bom conceito você tem das mulheres!
Nisto, o moço segurou novamente as mãos da moça. Pediu-lhe desculpas.
Olhando-a nos olhos, assegurou que estava disposto a desfazer o equívoco. Disse que se ela aceitasse ficar com ele, começariam um relacionamento em um novo patamar.
Nisto, o moço sacou um novo presente de sua maleta.
Tratava-se de uma caixa menor, toda forrada.
Presente o qual o moço aproximou de Leila e pediu-lhe para que abrisse.
A moça meio sem jeito, abriu a caixinha.
Dentro havia um anel com um exuberante brilhante.
Animado, Felipe respondeu-lhe que passara parte do dia do escolhendo o mimo em seu escritório. Comentou que chamou o joalheiro pessoalmente em seu escritório para poder fazer a escolha do melhor presente para ela.
Leila olhava para a jóia reluzente.
Em dado momento, fechou a caixa e empurrou o presente em direção a Felipe.
Ao notar o gesto, o moço ficou deveras desapontado.
Leila respondeu-lhe que não poderia ficar com o presente.
Felipe por sua vez, arrastou a caixinha novamente em direção a moça.
Leila continuava relutando.
O moço então, segurou a caixa, abriu-a, e segurando a mão direita da jovem, colocou o anel em seu dedo.
- Lindo! Não? - falou o moço.
Leila continuava insistindo em não aceitar o presente.
Felipe, ao ouvir novamente a moça dizer-lhe que não poderia aceitar o presente, disse:
- Espere um pouco. Eu ainda não acabei de dizer o que tinha para falar. - começou o moço - Eu sei que não estamos nos entendendo, mas eu quero que saiba que te estimo muito, e que se estou tentando fazer com que entenda meus motivos, não é por que queira posar de bom moço... Estou nervoso... O que eu quero dizer é ... você aceitaria se casar comigo?
Leila ao se ver com um anel de brilhantes no dedo e uma proposta de casamento, ficou sem palavras.
Nervoso, Felipe instou-a a dizer algo. Comentou que precisava de uma resposta.
Leila respondeu que não sabia o que dizer.
Felipe insistiu para que dissesse sim ou não, para que não perdurasse aquele silêncio constrangedor.
Tentando provocá-la, comentou que ele havia deixado sua covardia de lado.
Leila respondeu-lhe que não estava sendo covarde.
Felipe brincando, sugeriu jantarem.
Depois da refeição ela poderia apresentar sua resposta.
Ao ouvir falar em jantar, Leila comentou que já devia ser muito tarde.
Com isto, pediu ao moço que a levasse de volta para casa.
Felipe porém, se recusou. Argumentou que não sairia dali enquanto não degustasse um lauto jantar. Recomendou a moça que fizesse o mesmo.
Nervosa, Leila comentou que seus pais deviam estar preocupados com sua demora.
Felipe, num gesto cavalheiresco, comentou que ele a levaria de volta para casa, e que ao lá chegar, conversaria com seus pais, e explicaria o que acontecera. Ressaltou que não iria lhe causar problemas.
Apreensiva, Leila respondeu-lhe que já estava encrencada.
Nisto, cearam.
Felipe escolheu os pratos.
Nervosa, Leila comentou que não sabia quais talheres deveriam ser utilizados.
Felipe explicou-lhe.
Beberam vinho.
Ao término da refeição, Felipe cobrou-lhe uma resposta.
Leila respondeu-lhe que não poderia se casar com ele.
- Por que não? – indagou o moço.
Leila explicou-lhe que ele não confiara nela e que confiança é a base de toda e qualquer relação.
Felipe respondeu que sim, confiava nela, ou não lhe contaria tudo o que se passava em seu coração.
Nervoso, pediu-lhe que segurasse suas mãos.
Contou-lhe que entenderia se ela não quisesse se casar com ele, mas que para isto, teria que usar argumentos mais fortes.
Irritada, Leila respondeu que não se sentia preparada para se casar.
Felipe, olhando-a nos olhos, disse que entendia sua confusão.
Nisto, aproximou-se da moça, e falou-lhe que aquele gesto dissiparia toda a confusão.
Felipe pediu a jovem para que se levantasse.
Leila mecanicamente, atendeu ao pedido.
Com isto, Felipe segurou-a nos braços e beijou-a.
Ao término do beijo, Leila olhou nos olhos de Felipe e perguntou um tanto sem jeito:
- Por que você fez isso?
- Por que tive vontade. – respondeu de pronto o moço.
Leila por sua vez, vendo que ainda estava nos braços de Felipe, procurou se desvencilhar dele.
O moço, percebendo a inquietude da jovem, soltou-a.
Leila por sua vez, pediu para irem embora.
Nisto a dupla seguiu de táxi até o aeroporto, e de avião, retornou para São Paulo.
Leila, exausta, dormiu durante o vôo e Felipe carregou-a nos braços até o carro, o qual estava estacionado no aeroporto.
Lá, acomodou a moça no banco da frente.
Nisto, o rapaz guiou o veículo até a casa de Leila.
Ao lá chegar, o moço acordou a jovem. Disse-lhe que ela estava em casa.
Sonolenta, Leila foi conduzida por Felipe até a porta da casa.
Irene recebeu a filha.
Irritada, perguntou:
- Isto, são horas?
Felipe procurou se desculpar. Argumentou que ao lado de Leila as horas não passam, voam.
Nisto a mulher recomendou que ambos entrassem na residência.
Felipe explicou que havia levado a moça para jantar em um restaurante no Rio de Janeiro.
Os pais de Leila não acreditaram muito na história.
Felipe então explicou que trabalhava no Grupo Oliveira, ocasião em que apresentou um cartão da empresa. Disse que estava disposto a se casar com Leila, mas que a moça estava um tanto quanto relutante em aceitar a proposta.
Osvaldo respondeu que naquelas circunstâncias, não cabia relutância.
Leila sonolenta, respondeu que não queria casar.
Osvaldo retrucou, dizendo que ela estava sim, em idade de se casar.
Leila ao ouvir estas palavras, ficou aborrecida.
O homem então, disse-lhe que Felipe havia feito uma proposta correta e que ela não tinha motivos para recusar. Afinal de contas, se não possuía interesse em casar-se com o rapaz, porque acompanhá-lo em um jantar, ainda mais em um lugar tão distante?
Leila não teve como argumentar.
Felipe explicou aos pais da moça, que Leila só descobriu que ele tinha posses recentemente, devido um equívoco. Comentou que não fizera um papel bonito ao não lhe contar a verdade.
Osvaldo e Irene, ao ouvirem as palavras do moço, perceberam que a filha não contara tudo o que estava acontecendo.
Surpresa, Irene disse-lhe que ele não fora correto com sua filha.
Leila tentava ouvir a tudo, fazendo um grande esforço para se manter acordada.
A certa altura, já acomodada no sofá, adormeceu.
Quando Irene percebeu e fez menção de acordá-la, Felipe pediu para que não o fizesse. Argumentou que a viagem fora longa e que ela precisava dormir um pouco para poder trabalhar naquele dia, que estava apenas começando.
Ao ouvir isto, Osvaldo perguntou se era realmente necessário que ela continuasse trabalhando.
Felipe respondeu-lhe que se a proibisse de continuar trabalhando, Leila iria se rebelar.
Comentou que se estava difícil convencê-la a casar-se com ele sem impor condições, e que se caso o fizesse, ela não o aceitaria. Argumentou que não precisava entrar em guerra com a moça. Sorrindo disse que tudo se acomodaria com o tempo.
Osvaldo concordou.
Comentou impressionado que ele era muito maduro para a pouca idade que tinha.
Felipe explicou-lhe que vinha se aconselhando com seu tio. Este sim, um homem deveras experiente.
Osvaldo então, mesmo a revelia da filha, concedeu sua mão em casamento.
Ao tomar ciência da concordância dos pais da moça, no tocante ao casamento, Felipe indagou se isto não seria um problema, caso ela resistisse a idéia.
Osvaldo comentou que num primeiro momento ela certamente se oporia, espernearia. Mas que depois, acabaria concordando.
Fazendo uso das palavras de Felipe, argumentou que com o tempo, tudo se ajeitaria, e que alguém que havia promovido um encontro como aquele, não teria grandes dificuldades para tanto.
Irene, num sorriso cúmplice, comentou que conversaria bastante com sua filha.
Felipe respondeu que conversaria com seus pais.
Mencionou que eles tinham conhecimento de que ele tinha interesse em alguém, mas que não detalhou o que estava acontecendo.
Nisto, Osvaldo levou a filha para o quarto.
Ao retornar, Felipe cumprimentou o casal e se despediu.
Feliz, o moço rumou para casa.
Naquele dia, o jovem acordou algumas horas mais tarde e se dirigiu para o trabalho.
Mais tarde, conversou com os pais a respeito de Leila.
Contou sobre o início do relacionamento, da mentira que pregara na moça. Comentou que estava tentando se redimir diante de Leila, mas que o perdão estava difícil de ser alcançado.
Fátima, ao tomar conhecimento da história, censurou o filho. Argumentou que ele não fora correto com a moça.
Ao ouvir isto, Felipe começou a rir. Comentou que a mãe da moça lhe disse as mesmas palavras.
Fátima retrucou dizendo que não sem razão.
Nisto, o moço continuou relatando que tinha o apoio dos pais da moça.
Por fim, Fátima comentou que se a jovem estava tão ofendida, era por que de fato, não estava interessada no dinheiro dele. Relatou que Leila era uma moça de valor.
Confessou que gostaria de conhecê-la.
Sorrindo, Felipe respondeu-lhe que sim, ela era encantadora. Trabalhadora, determinada.
Fábio parabenizou o filho.
Felipe comentou que havia pedido a mão da moça em casamento, e que contava com a cumplicidade dos pais de Leila para convencê-la a casar-se com ele.
Comentou cheio de esperança, que seria apenas uma questão de tempo, para que voltassem a se entender.
Fátima comentou que faria orações para que tudo desse certo.
A seguir, abraçou o filho.
Quando Felipe se dirigiu a casa de Leila, encontrou-a amuada.
Osvaldo e Irene comentaram que ela estava ciente de que haviam concordado com o pedido de casamento, e que não cabia a ela questionar.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
terça-feira, 30 de março de 2021
CARINHOSO - PARTE I - CAPÍTULO XVI
Ao fim das seis horas, pegou o telefone.
Não teve coragem de discar o teclado.
Titubeou por várias vezes. A falta de coragem o fez desistir.
No dia seguinte, a cena se repetiu.
Felipe não teve coragem para telefonar para a moça.
Leila começou a estranhar a ausência de Felipe.
Decidiu se dirigir a casa de Epaminondas.
Nisto, quando Epaminondas soube que a moça estava na ala dos empregados, contatou Felipe.
O moço, ao tomar conhecimento do fato, se encaminhou apressadamente para a casa do tio.
Quando chegou no local, a moça o aguardava.
Leila estava confusa.
Ao ver Felipe usando um terno sofisticado, e o modo como Epaminondas o recebera, se recordou das últimas conversas com ele.
Leila trêmula, começou a balbuciar algumas palavras.
Falou-lhe que ele não era motorista.
Felipe respondeu com os olhos mirando o chão da sala, que não.
Decepcionada, Leila perguntou-lhe por que o havia enganado.
Felipe ainda olhando para o chão, respondeu que não a havia enganado.
Argumentou que tudo não passava de um equívoco. Relatou que tentou lhe contar a verdade, mas que não teve coragem. Disse que temia sua reprovação.
Leila respondeu que não esperava isto da parte dele. Mencionou que contou para ele coisas que poucas pessoas próximas a ela tinham conhecimento.
Disse que ao comentar sobre seu projeto de fazer um curso superior, suscitou muita reprovação em sua família e que por esta razão, comentava o assunto com poucas pessoas. Contou que confiou nele, mas que a recíproca não fora verdadeira.
Felipe tentou se desculpar, mas Leila respondeu-lhe não aceitava suas desculpas.
Nervosa, perguntou qual era o tamanho da mentira.
Felipe ficou paralisado.
Irritada, Leila perguntou-lhe se era casado.
Felipe surpreso respondeu que não.
Tentando organizar as palavras, reiterou que não era casado.
Argumentou que morava na casa dos pais, os quais não sabiam de nada.
Leila entendeu o por quê do moço não apresentá-la a sua família.
Felipe respondeu que não podia apresentá-la antes de contar a verdade a todos.
Mencionou que trabalhava nas Empresas Oliveira.
Epaminondas contou que ele não era o dono das empresas.
Leila perguntou quem era.
Felipe continuava olhando para o chão.
A certa altura, Leila gritou com ele.
Disse para ele olhar para ela.
Chorando, a moça comentou:
- Você deve ter se divertido muito as minhas custas! Divertiu-se enganando uma tonta. Parabéns!
Nisto, empurrou-o e saiu da casa.
Epaminondas tentou retê-la, sem êxito.
Leila se dirigiu para a cozinha e pediu para ir embora.
O homem ofereceu uma carona a moça, que ao ver o motorista da casa, ficou ainda mais aborrecida.
Leila disse que poderia perfeitamente voltar para a casa sozinha.
Nisto, a moça caminhou pelas ruas do bairro.
Epaminondas, ao voltar para a sala, encontrou o sobrinho transtornado.
Felipe estava sentado no sofá, com as mãos no rosto.
Chorava compulsivamente.
Epaminondas ao presenciar a cena, aproximou-se do sobrinho.
Disse-lhe que não devia ter demorado tanto tempo para contar a verdade a moça.
Tentando consolá-lo, argumentou que se Leila realmente gostasse dele, acabaria entendendo o que havia acontecido e o desculpando.
Isto porém, levaria tempo e ele deveria ter muita paciência e aguardar o desfecho daquela história.
Aflito, Felipe tencionou ir ao encontro da moça.
Mencionou que tentaria lhe dizer que tudo não havia passado de um equívoco.
Epaminondas aconselhou-o a aguardar um pouco.
Mencionou que ele estava alterado e que Leila estava muito nervosa.
Muito provavelmente aquela conversa não fluiria e o desentendimento se agravaria.
Desesperado, Felipe perguntou:
- Então tio, o que eu faço?
Epaminondas recomendou que se afastasse um pouco da moça. Que a deixasse se acalmar.
Felipe respondeu que não poderia deixá-la sem uma explicação.
Epaminondas argumentou que a aludida explicação, viria no tempo necessário.
Nisto, o homem abraçou o sobrinho, e recomendou-lhe coragem.
Leila por sua vez, voltou a pé para casa.
No caminho, chorou copiosamente.
A cada passo dado, se recordou dos momentos ao lado de Felipe. A aparente simplicidade do moço.
As lembranças a deixavam mais entristecida.
Com isto, ao chegar em sua casa, trancou-se em seu quarto. Não queria falar com ninguém.
Deitou-se em sua cama, exausta.
Relembrou-se da difícil conversa que tivera com Felipe.
Encostando o rosto no travesseiro, tornou a chorar.
Lacrimosa, chegou a dizer que não devia confiar em ninguém.
Irene, ao notar a entrada brusca da filha em casa, bateu na porta do quarto da moça.
Enquanto batia, chamava-a. Preocupada, indagou o que estava acontecendo.
Leila porém, não respondeu.
Colocou o travesseiro por cima da cabeça.
Chorava.
Irene a certa altura, percebendo que a filha não abriria a porta, disse com voz suave que esperaria ela se acalmar, e que depois conversariam.
Dito isto, afastou-se.
No dia seguinte, Leila acordou.
Dormira com a roupa que vestira no dia anterior.
Num átimo de segundos, levantou-se da cama.
Tomou um banho e vestiu uma roupa limpa.
Saiu de casa sem fazer barulho.
Levantou-se antes que todos da casa despertassem.
Não queria ter que explicar o que havia acontecido.
Precisava ficar sozinha.
Não sentia vontade de conversar, de ouvir ninguém.
Durante o dia, ocupou-se de seu trabalho.
Leila atendeu clientes.
Seus colegas, perceberam uma alteração em sua fisionomia logo que a moça adentrou a loja de perfumes.
Contudo, ao ser indagada sobre este fato, Leila respondeu que não dormira bem, que estava um pouco cansada.
Todos acreditaram na explicação.
Felipe por sua vez, se encaminhou para o escritório da empresa.
Ocupou-se de telefonemas, assinatura de documentos, ditou correspondências para a secretária. Ao final da tarde, participou de uma reunião.
Enquanto se manteve ocupado, o moço tentou não se recordar do que havia ocorrido no dia anterior.
A lembrança contudo, persistia.
Durante o dia, o moço teve ímpetos de ligar para a moça, mas se recordou que ela devia estar estudando àquela hora.
Ademais, depois de tudo o que havia acontecido, dificilmente ela o atenderia, pensou.
Nisto, ao recordar-se dos conselhos de Epaminondas, desistiu. Decidiu esperar um pouco para conversar com a moça.
Certo dia, depois de muita insistência de seus amigos, Felipe saiu para jantar fora.
Leila igualmente convidada por colegas de trabalho, resolveu espairecer um pouco.
A semana fora difícil para ela.
Leila tentou fugir da conversa com Dona Irene, mas não obteve êxito.
A mulher, era persistente.
Aguardou Leila retornar do trabalho para obter explicações.
Queria por que queria saber o que estava acontecendo.
A moça por sua vez, tentou dizer que levara uma bronca do chefe, e que por isto chegara atordoada.
Irene não parecia convencida disto.
Razão pela qual perguntou se realmente era só uma bronca.
Leila assentiu com a cabeça.
Preocupada, Irene perguntou-lhe por que seu chefe a havia advertido.
Leila suspirando, respondeu que havia sugerido a uma cliente adquirir um outro perfume. Argumentou que embora a mesma não tivesse muito interessada na aquisição, insistiu tanto que acabou convencendo a mulher a adquirir o produto.
Disse que muito embora tenha feito uma boa venda, seu patrão interpretou a insistência como inconveniência. Razão pela qual a advertiu. Disse que aquele estabelecimento não tinha por hábito fazer os vendedores empurrarem mercadorias aos clientes. Com isto, recomendou-lhe que tivesse cuidado, posto que aquela conduta não poderia se repetir.
Leila respondeu que não o faria mais.
Irene compreendeu os argumentos da filha, mas argumentou que seu chefe estava apenas orientando-a a não exagerar na insistência, pois com ela, poderia afastar a clientela.
Preocupada, perguntou-lhe se havia o risco de ser demitida.
Leila respondeu desanimada, que não sabia.
Irene então, procurou confortá-la.
Disse que aquilo fora uma bobagem, e que ela estava há anos na loja, sempre atendendo a todos bem. Argumentou que não seria uma pequena bobagem que não a faria ser despedida.
Nisto, a semana transcorreu e Leila permanecia com um olhar de pesar.
Todos perceberam o ar entristecido da moça, que com o passar dos dias, não conseguia esconder sua tristeza.
Porém, a todo o momento, quando era indagada por este fato, a jovem respondia que estava tudo bem.
Desta forma, tentando fazer com se distraísse, seus colegas a chamaram para acompanhá-los em um restaurante. Poderiam jantar juntos.
Leila relutou um pouco em aceitar o convite.
Mas, diante da insistência dos amigos, acabou saindo para jantar.
Qual não foi a surpresa da moça, quando ao chegar no restaurante e se deparar com Felipe, reunido com amigos, conversando?
Ao se deparar com a cena, Leila insistiu para que fossem a outro lugar.
Mercedes por sua vez, não concordou.
Disse que gostava muito do lugar e que não havia motivos para sair dali.
Leila por sua vez, pediu licença aos amigos e se encaminhou para o toilete.
Felipe, ao vê-la, pediu licença aos amigos e se encaminhou a mesa onde se sentaram os amigos da moça.
Ao perceber seu afastamento, acorreu em sua direção.
Ao alcançá-la, segurou seu braço. Disse que precisavam conversar.
Leila por sua vez, tentou se desvencilhar do moço.
Felipe respondeu-lhe que iria lhe explicar o que havia acontecido, não importasse o quanto ela esperneasse.
A moça, sem alternativa, concordou em ouvi-lo.
Pediu-lhe para que soltasse seu braço.
Felipe atendeu.
Nisto, caminharam juntos para fora do restaurante.
Mercedes ao ver Felipe segurando o braço da colega, comentou que conhecia o rapaz de algum lugar.
Preocupados, dois colegas da moça, e um amigo de Felipe, se encaminharam para fora do restaurante.
Ao ver Felipe ao lado de Leila, perguntaram se estava tudo bem.
Felipe tomou a iniciativa de dizer que eles precisavam conversar.
Os colegas da moça, ao ouvirem as palavras do rapaz, perguntaram a Leila se estava tudo bem.
- Sim, está tudo bem! Obrigada. – respondeu a moça.
Com isto, se afastaram.
Felipe, enchendo-se de coragem, começou a dizer que não havia contado toda a verdade, por haver percebido que ela não acreditaria em suas palavras.
Leila permanecia indiferente.
Felipe por sua vez, continuava tentando se explicar.
Dizia que não tivera a intenção deliberada de enganá-la, mas que as circunstâncias propiciaram a confusão.
Ao ouvir isto, Leila respondeu que ele teve tempo mais do que suficiente para desfazer o engano. Coisa que ele não o fizera.
Felipe desculpou-se. Argumentou que deveria ter contado tudo desde o início, mesmo correndo o risco de que ela não acreditasse.
Olhando-a nos olhos, disse que muito embora tenha mentido, nunca tivera a intenção de iludi-la, e que estava muito arrependido.
Leila perguntou-lhe por que tinha tanto interesse em se explicar.
Felipe respondeu que ela era uma pequena muito especial. Diferente de todas as garotas que ele conhecia. Comentou que ela era muito importante para ele.
Ao ouvir isto, a moça ficou intrigada.
Felipe então, aproximou-se da jovem.
Leila tentou se afastar.
O moço pediu para que ela não o evitasse.
Com os olhos suplicantes, o moço segurou suas mãos. Pediu-lhe desculpas. Disse que fora fraco, mas que aquela atitude leviana, não se repetiria mais.
Com os olhos cheios d’água, disse que todos os dias se recordava dos momentos que passaram juntos. Argumentou tudo era muito especial para ser desperdiçado.
Pediu a moça para que o desculpasse.
Fitou Leila.
A jovem ficou sem palavras.
O moço insistiu.
Pediu-lhe para que dissesse alguma coisa.
Leila gaguejando, respondeu que não sabia o que dizer.
Felipe, decepcionado, respondeu que entendia. Alegou que não poderia esperar que ela o desculpasse imediatamente.
Leila respondeu que precisava ir.
Felipe respondeu que compreendia.
Soltou suas mãos.
Nervosa, a moça saiu apressadamente.
Felipe ficou decepcionado.
Leila, aflita, comentou com os colegas, que não estava sentindo se bem, e que precisaria voltar para casa.
Seus colegas, percebendo a angustia da jovem, resolveram pagar a conta e sair do restaurante.
Antunes pediu para cancelar o pedido.
Nisto, saíram todos juntos.
Com efeito, os colegas e amigos de Felipe, passaram a estranhar a ausência do moço.
Tanto que passaram a procurá-lo.
Quando Felipe adentrou novamente o restaurante, encontrou a mesa onde Leila se reunira com os amigos, vazia.
Chateado, pediu desculpas aos amigos.
Disse que não estava em condições de comemoração, que precisava ficar só.
Seus amigos tentaram convencê-lo a ficar.
Felipe porém, argumentou que não queria estragar a noite de ninguém.
Com isto, desculpou-se novamente e afastou-se.
E assim, em que pese os protestos dos amigos, o moço saiu do restaurante.
Seguiu de carro até a sede da empresa.
Adentrou o escritório onde trabalhava.
Sentou-se em sua cadeira. Recostou-se.
Ficou pensando.
Leila por sua vez, decidiu voltar para casa.
Chateada, pediu desculpas aos colegas.
Argumentando que não estava muito animada para confraternizar, pediu para ficar só.
Antunes e seus colegas tentaram demovê-la da idéia, mas Leila estava irredutível.
Argumentou que não gostaria de estragar a noite de ninguém, e que já havia causado bastantes transtornos.
Com isto, só restou a todos concordarem,
Antunes conduziu a moça até sua casa.
Leila agradeceu a carona.
Despediu-se do colega.
Antunes por sua vez, seguiu dali para o restaurante onde iria se encontrar com os amigos.
No dia seguinte, Felipe, tomado de uma resolução, se encaminhou para o estabelecimento onde a moça trabalhava.
Ao adentrar o local, fingiu ser um freguês em busca de um perfume.
Leila ao vê-lo, ficou deveras aborrecida.
Tanto que chegou a pedir a uma colega que o atendesse.
Como todas as moças estivessem ocupadas, restou a ela, a árdua tarefa.
E assim, respirando fundo, se encaminhou até o corredor onde o rapaz estava e perguntou-lhe se desejava algo.
Felipe respondeu-lhe sorrindo, que desejava uma fragrância marcante, mas ao mesmo tempo suave, em que fosse possível por meio de aromas, eternizar um sentimento.
Leila não compreendeu as palavras do rapaz. Tanto que pediu-lhe para se explicar.
Argumentou que não era tão ilustrada para compreender com tanta clareza, uma metáfora tão elaborada.
Felipe então, desfazendo o sorriso do rosto, respondeu que ela não precisava dizer aquilo. Respondeu que só estava tentando ser agradável.
Leila perguntou-lhe se gostaria de adquirir um perfume.
Felipe respondeu que sim. Comentou que quando adquiriu perfumes naquela loja, sua sorte mudou. Completou dizendo que gostaria de fazer as pazes com sua sorte.
Leila então, passou a fazer-lhe algumas sugestões.
Felipe por sua vez, respondeu que o perfume era um presente para alguém muito especial.
Ao ouvir isto, Leila ficou irritada.
Perguntou a ele, o que estava querendo com toda aquela conversa.
Felipe respondeu que só gostaria de conversar. Afirmou que não sairia dali enquanto ela não o ouvisse.
Leila retrucou dizendo que estava em seu local de trabalho.
Felipe ressalvou que entendia perfeitamente, que não poderiam conversar sobre um assunto tão pessoal ali.
Razão pela qual agendou um encontro ainda aquela noite. Disse que iria buscá-la na porta de casa, e que se ela não aparecesse, bateria a noite inteira na porta da casa.
Leila por sua vez, respondeu que concordava em se encontrar com ele.
Argumentou porém, que aquela seria a última vez em que se veriam.
Ao ouvir isto, Felipe respondeu:
- Isto é o que veremos.
Leila voltou-lhe as costas.
Ao vê-la se afastando, Felipe chamou-a.
Perguntou-lhe se não estava se esquecendo de nada.
Nisto, mostrou-lhe um vidro de perfume.
Enquanto pagava o perfume, Felipe disse que a propósito daquela compra, a primeira vez que pisara os pés naquela loja, adquirira perfumes para sua mãe. Comentou que ela adorou as fragrâncias.
Leila ouviu as palavras.
A seguir, o rapaz saiu da loja com um pequeno embrulho.
Dirigiu feliz até seu escritório.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
CARINHOSO - PARTE I - CAPÍTULO XV
O homem então, comentou que a moça certamente não era uma interesseira, e que não havia motivos para tantas reservas. Argumentando que se ela gostava dele de verdade entenderia o que ocorrera, relatou que talvez num primeiro momento, ela ficasse decepcionada, mas que depois, acabaria compreendendo seus motivos.
Felipe não parecia convencido disto.
Mencionou que a moça tinha interesse em freqüentar uma faculdade.
Epaminondas achou interessante.
Felipe então, pediu auxílio ao parente.
Insistiu para que ele o ajudasse a encobrir a mentira por algum tempo.
Perguntou-lhe aflito se não poderia fingir ser seu motorista.
Epaminondas considerou toda a idéia um completo absurdo.
Felipe insistindo, comentou que ele poderia fazer ás vezes de empresário do Grupo Oliveira.
O homem continuou resistindo a idéia.
Felipe argumentou então, que ele não precisaria aparecer na empresa se não quisesse. Apenas precisava combinar com os empregados da casa e com sua família, a história.
Para todos os efeitos, Felipe era o motorista particular dele.
Epaminondas, ao ouvir toda a conversa, bem que tentou se recusar em ajudá-lo na idéia, mas acabou sendo convencido, por olhares suplicantes, e muitos por favor.
Mesmo contrariado, acabou concordando em auxiliar o rapaz.
Para isto no entanto, impôs algumas condições.
Epaminondas respondeu que a farsa não poderia durar muito tempo.
Felipe concordou. Argumentou que a mentirinha duraria menos tempo, do que ele imaginava.
Ocorre que inicialmente uma história mentirosa, a situação ganhou proporções maiores.
Para convencer a moça de que era motorista particular, Felipe passou a usar o uniforme do motorista de Epaminondas, e a dirigir para o tio.
Isto por que, certo dia, ao passar em frente ao imóvel do abastado parente de Felipe, Leila resolveu pedir licença e entrar.
Lá descobriu que Felipe não se encontrava, e que havia outro motorista na casa.
Leila chegou a pensar que o moço estava desempregado.
Uma das empregadas da casa, ciente da combinação de Felipe com o patrão, comentou que Felipe estava de licença, e que a pessoa que atendia como motorista particular, estava ocupando a função provisoriamente.
Leila ficou um tanto quanto desconfiada, mas como a empregada fora convincente, a moça acabou se convencendo da história.
Quem achava a história da farsa incrivelmente engraçada, eram os filhos de Epaminondas.
Ao conhecerem Leila, ficaram encantados com a beleza da moça.
Casados e com filhos, comentaram que entendiam por que o jovem primo havia se interessado pela moça.
Felipe por sua vez, conseguiu sustentar a história por algum tempo.
Conhecidos da moça, chegaram a ver Felipe lavando o carro da família.
Neste ínterim, a jovem apresentara o moço aos pais, a vizinhança, aos colegas de trabalho.
Leila por sua vez, conhecia todos os empregados de Epaminondas.
Contudo, não havia sido apresentada aos pais do moço.
Tal fato a deixava deveras incomodada.
Certo dia, ao andar pelas ruas de São Paulo, avistou alguém com o perfil de Felipe, muito bem vestido, e dirigindo um belo carro.
Ao mexer em seus pertences, Leila recordou-se do cartão que o moço lhe apresentou. Lembrou-se de ter sido informada ao ligar para o referido número, que a secretaria se referiria ao moço como senhor Felipe.
Curiosa, resolveu realizar uma ligação para o referido número.
Foi novamente atendida pela secretaria que lhe confirmou o fato de que Felipe era o motorista da empresa.
Leila então perguntou o nome do dono da empresa.
No que a secretaria, já devidamente instruída por Felipe, respondeu que era o senhor Epaminondas.
Leila por sua vez, agradeceu e desligou o telefone.
Contudo, em que pese a confirmação das informações, algo não soava bem.
Afinal de contas, se Felipe era apenas um motorista, como poderia ter um cartão da empresa e com o telefone da presidência?
Ao questionar isto com uma colega, ela acreditou que esta regalia se devia ao fato do moço prestar serviços ao dono da empresa.
Leila não ficou muito convencida disto.
Considerava estranho o fato.
Com isto, ao comentar o que vira com Felipe, o mesmo ficou apreensivo.
A moça percebeu.
Felipe por sua vez, tentando disfarçar o constrangimento, argumentou que se tivesse posses, não precisaria trabalhar de motorista para uma família. Alegou que ela se confundira vendo alguém parecido com ele.
Leila resolveu então mudar de assunto.
Saíram para dar uma volta.
Caminharam pelas ruas do centro da cidade.
Ruas amplas, muita área verde. Uma São Paulo de sonhos.
Juntos, foram ao cinema.
Assistiram ao um filme de Rita Hayworth.
Na saída do local, um conhecido de Felipe o reconheceu.
Animado, aproximou-se e perguntou-lhe do trabalho:
- Felipe! Há quanto tempo! Continua trabalhando como homem de negócios? Como vão as empresas?
O moço tentou se afastar do conhecido, sem êxito.
Leila ouvira as palavras do colega de Felipe.
Felipe cumprimentou então o rapaz, e argumentou que sua vida ia caminhando.
Pedindo licença a Leila, puxou o colega para um canto do estabelecimento e insistiu para que ele dissesse que o havia confundido com outra pessoa.
Olívio não entendeu nada.
Felipe pediu-lhe desculpas. Disse que a moça que o acompanhava, nem sequer sonhava que ele pudesse ser dono de uma empresa.
O moço ao ouvir isto, pediu desculpas. Argumentou porém, que por sua reação, Leila não acreditaria na história de engano. Mencionou que estava evidente que se conheciam.
Tentando ajudar, sugeriu dizer que havia um colega em comum, o qual havia prosperado, e que o havia convidado para ser seu sócio. Com isto, entrara com o trabalho, mas no momento de receber os dividendos, fora passado para trás. Daí a necessidade de continuar a trabalhar com motorista.
Felipe respondeu que sua sugestão era mais apropriada.
Com isto, o moço apresentou o colega.
Leila, visivelmente desconfiada, perguntou de onde eles se conheciam.
Felipe então contou-lhe a história que havia combinado com o colega.
A moça continuava desconfiada.
Felipe então, mencionou que havia feito um curso superior, mas que estava tendo trabalho para atuar na área.
Razão pela qual trabalhava como motorista particular.
Ao ouvir a história do moço, Leila sentiu um pouco de pena.
Argumentou que não sabia que ele havia se formado. Relatou que pouco conhecia de sua vida.
Felipe respondeu que se sentia envergonhado por não conseguir emprego em sua área de formação.
Mencionou que havia se formado em direito.
Ao ouvir isto, Leila perguntou se poderia informar seu nome para algum colega.
Relatou que tentaria ajudá-lo a encontrar trabalho.
Felipe agradeceu.
Por fim, o colega se afastou. Pediu desculpas pelo incômodo.
Nisto, caminhando pela capital paulistana, Leila comentou que pouco sabia dele.
Felipe respondeu um tanto sem jeito, que não tinha muito para contar, e que ela sabia o que era necessário.
Em dado momento ele pediu para que ela sempre fosse esforçada e que tentasse entender que ninguém era perfeito.
Leila ficou intrigada.
Ao tentar perguntar-lhe o que queria dizer com aquelas palavras, Felipe a interrompeu dizendo que precisavam voltar para casa, ou ficaria muito tarde.
Leila tentou fazer uma pergunta, mas o moço interrompeu-a dizendo que somente responderia perguntas no dia seguinte.
Ao ver a noite a se espraiar pela cidade, respondeu que apostava que chegariam em casa rapidamente.
Leila perguntou-lhe como poderia ter tanta certeza.
Felipe respondeu brincando que possuía poderes mágicos, e que faria surgir um ônibus na próxima esquina.
Nisto, chamou a moça para fazer uma pequena corrida.
Com efeito, ao lá chegarem, se depararam com um ônibus.
Leila respondeu que ele era impossível.
Desta forma, o casal chegou rapidamente em casa.
No dia seguinte, a pedido de Felipe, Epaminondas passou pelas empresas.
O moço precisava manter a farsa.
Razão pela qual passou parte da manhã em seu escritório e logo após, se encaminhou para a casa de Epaminondas.
Lá se ocupou em lavar o carro da família.
Nisto, quando Leila o viu, se convenceu de que ele realmente trabalhava ali.
Mesmo assim, perguntou-lhe por que ficara tão estranho.
Felipe respondeu que só estava preocupado com o futuro.
Mencionou que ela, sendo tão esforçada, vendo um fracassado ao seu lado, poderia perfeitamente se cansar dele e preferir alguém em uma condição social melhor.
Foi o suficiente para a moça se aborrecer e dizer-lhe que não estava interessada em homens endinheirados. Argumentou que sua dificuldade em arrumar trabalho na área era momentânea.
Felipe desculpou-se então com a moça.
Leila, esboçando um sorriso, respondeu-lhe que estava desculpado.
Se abraçaram.
Leila ao sair da mansão, ficou pensando qual seria a melhor forma para ajudar o moço.
Conversando na loja em que trabalhava, dias depois, descobriu que alguns colegas conheciam escritórios de advocacia, e que poderiam indicá-lo para trabalhar na área.
Um deles por sua vez, estranhou a dificuldade do rapaz.
Mencionou que o rapaz parecia esforçado, pelos relatos da moça, não justificando-se a dificuldade em arrumar trabalho.
Semanas depois, o moço recebeu uma proposta de emprego.
Quando soube o nome do empregador, Felipe ficou desesperado.
Isto por que, o moço fora seu colega de trabalho, e caso se apresentasse em seu escritório, sua farsa seria descoberta.
Preocupado, pediu um conselho ao tio, que recomendou-lhe contar toda a verdade a Leila.
Felipe respondeu que ainda não era o momento.
Diante disto, resolveu contatar o tal colega e contar o que estava acontecendo.
O moço achou graça quando Felipe contou que estava metido em uma grande confusão. Relatou que estava namorando uma moça e que ela acreditava que ele era bacharel em direito, mas que estava trabalhando como motorista, por não conseguir trabalho na área jurídica.
Clóvis argumentou que ele estava todo enrolado, e que a mentira não se sustentaria por muito tempo.
Felipe respondeu que não pretendia manter a mentira por muito tempo, mas não poderia revelar a verdade naquele momento. Argumentou que ela não entenderia.
Clóvis respondeu que ele estava encrencado. Contudo, tentando auxiliar o amigo, prometeu atendê-lo. Comentou que para todos os efeitos ele se encaminhava para uma entrevista. No entanto, ante as circunstancias, seria ridículo contratá-lo.
Felipe concordou e agradeceu o auxílio.
E assim, conforme o combinado, na data agendada, compareceu para a falsa entrevista.
Durante cerca de meia hora, ele e Clóvis ficaram conversando sobre os tempos da faculdade, a época em que passou a freqüentar os teatros.
Felipe contou-lhe que estava gostando de uma garota muito especial e que precisava desfazer a confusão em que havia se envolvido.
Clóvis aconselhou-a a não demorar para contar a verdade, posto que se ela descobrisse a verdade sozinha, seria muito pior.
Felipe respondeu que não demoraria.
Nisto, retornou para a empresa.
No final da tarde, ao se encontrar com Leila, a moça perguntou-lhe como havia se saído na entrevista.
Felipe respondeu-lhe que estava aguardando uma resposta para os próximos dias, mas sentia que havia se saído muito bem.
Com isto, perguntou a moça, o que ela faria caso descobrisse que poderia ganhar muito dinheiro.
Leila ficou intrigada.
Felipe insistiu. Perguntou-lhe o que faria caso aparecesse um homem muito rico em sua vida.
Leila respondeu que não estava entendendo.
Felipe indagou se ela não gostaria de viver uma vida confortável, com abundância.
Leila retrucou dizendo que sua vida era muito boa. Alegou que não precisava de muita coisa, não havendo necessidade de arrumar um marido rico.
Silenciou por alguns instantes.
Após, completou dizendo que não fazia questão de um riquinho metido a besta, e que ninguém a compraria com dinheiro.
Ao ouvir estas palavras, Felipe engoliu em seco.
Preocupado, respondeu que nem todos os ricos eram arrogantes e prepotentes. Afinal existem pessoas boas, em quaisquer lugares.
Leila concordou. Mas intrigada, indagou o porquê de todas aquelas perguntas.
Felipe respondeu que era apenas curiosidade.
Leila por sua vez, percebendo a expressão preocupada do moço, perguntou-lhe se estava tudo bem.
Como Felipe insistisse que tudo estava bem, Leila perguntou-lhe se havia algo que gostaria de dizer.
Constrangido, o moço respondeu que não.
Leila insistiu:
- Você tem certeza?
Felipe respondeu gaguejando:
- Não.
- Você está estranho!
Felipe então, percebendo o ar intrigado da moça, respondeu que eram preocupações com a entrevista, com seu emprego, mas que tudo acabaria bem. Argumentou que não queria tocar no assunto.
Leila concordou.
O moço então, convidou-a para um passeio nos arredores.
Leila concordou.
Felipe disse-lhe que gostava muito dela, e que com o tempo ela descobriria coisas a seu respeito, que a fariam se surpreender.
Abraçando-a, pediu desculpas por qualquer coisa.
Leila não sabia o que dizer.
Felipe pediu para que ela o abraçasse.
Mais tarde, o moço a deixou na porta de sua casa.
Ao entrar em casa, a moça ficou a pensar nas palavras ditas pelo rapaz.
Intrigada, perguntava-se o que estaria se passando com ele.
Angustiado Felipe pediu conselhos ao tio-avô.
Perguntou-lhe como fazia para contar a verdade a moça.
Epaminondas aconselhou-o a não prolongar a mentira. Recomendou-lhe que na próxima vez que se vissem, contasse tudo.
Felipe concordou.
Argumentou que não agüentava mais viver aquela vida dupla, e que se sentia sendo desleal com a moça, ao esconder-lhe a verdade.
Chegou a dizer que devia ter desfeito o equivoco desde o começo.
Epaminondas, colocando as mãos em seu ombro, respondeu-lhe que nunca era tarde para tanto.
Com isto, Felipe despediu-se do tio, e encaminhou-se para a empresa.
Passaria o dia trabalhando em seu escritório.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
CARINHOSO - PARTE I - CAPÍTULO XIV
Contudo, para preocupação de Fátima, o rapaz não se fixava em ninguém.
A mulher certa vez, durante o café da manhã, disse ao filho que ele estava em idade de se casar, e que ninguém era feliz sozinho.
Enquanto isto, Felipe mergulhava no trabalho.
Com o tempo, o moço optou pela criação de uma fábrica de roupas.
Felipe tinha tino comercial.
Epaminondas nunca se cansava de elogiar a habilidade do sobrinho-neto para os negócios.
O moço também não perdera o contato com os colegas de faculdade.
Conforme combinaram durante a formatura, todos os anos a turma se reunia em uma cantina, onde bebiam vinho, comiam uma massa e cantavam celebrando a alegria do reencontro.
Conversavam sobre o trabalho que executavam, os projetos, amenidades.
Muitos se reviam em fóruns e repartições públicas.
Felipe porém, sempre atarefado, quase sempre só os revia nos encontros anuais.
Com o tempo, casados, os moços passaram a mostrar fotos da família, dos filhos.
Um dia porém, saudoso dos colegas dos tempos de faculdade, Felipe combinou um encontro com os amigos mais próximos.
Neste encontro, se deparou com Leila, que conversava animadamente com alguns colegas.
Felipe, ao vê-la, cumprimentou-a.
A moça, ao reconhecê-lo, retribuiu o gesto.
Quando passava por uma das mesas, o moço acabou por esbarrar na jovem.
Imediatamente pediu-lhe desculpas.
Leila respondeu que não fora nada.
O rapaz então, tentando começar uma conversa, comentou:
- Dia bom para confraternizar, reunir os amigos, passear.
Leila concordou.
Disse que estava aproveitando o fechamento da loja para se reunir com seus colegas de trabalho e conversar um pouco.
Felipe sorriu, relatou que também estava acompanhado de amigos. Pessoas que não via há bastante tempo.
Leila sorriu.
Comentou que ás vezes faltava tempo para cuidar de tantas obrigações.
Felipe respondeu que estava em falta com seus amigos.
Leila comentou que também estava.
Argumentou que trabalhar e estudar não era nada fácil.
O moço ao ouvir isto, elogiou-a.
Contou que era raro conhecer pessoas que gostavam de estudar. Mencionou que a dificuldade de acesso ao ensino superior, também contribuía para tanto.
Leila, percebendo que o moço articulava bem as palavras, perguntou-lhe se estudava.
Nisto, o moço foi interrompido.
Eram seus colegas que o chamavam para novamente compor a mesa.
Um deles, já um tanto bêbado gritou instando a todos para um brinde.
Felipe, percebendo a exaltação do amigo, pediu desculpas a moça.
Disse que seus amigos o chamavam.
Leila entendeu.
Antes porém de se afastar, o moço lhe deixou um cartão das Empresas Oliveira.
Felipe pediu o seu número de telefone.
Leila respondeu que não tinha telefone.
Ao ouvir isto, o moço ficou um tanto desapontado.
Leila então, recordando-se do número de telefone de sua vizinha, passou-lhe o número.
Disse que poderia ligar.
Felipe agradeceu.
Com isto, a moça despediu-se do jovem gentil, e voltou a sua mesa.
Suas colegas, curiosas, perguntaram o que ela estava conversando com aquele rapaz simpático.
Leila sorrindo, respondeu que era apenas um conhecido.
- Sei! Sei! – disseram as moças, olhando-se cúmplices.
Felipe por outro turno, permaneceu por mais algum tempo no restaurante, ao lado dos amigos.
Leila e seus amigos por sua vez, depois de cerca de quarenta minutos, se retiraram.
Felipe, ao vê-la se levantando acenou para ela, que retribuiu o gesto.
No dia seguinte, em seu gabinete, o moço aproveitou para ligar para a vizinha de Leila.
Já passava das sete horas da noite.
Felipe havia passado o dia inteiro cogitando ligar para a moça. Mas ciente de que a mesma trabalhava, resolveu esperar o término do expediente comercial, para ligar.
Quem o atendeu foi um vizinho.
Felipe ficou um pouco sem graça, mas dizendo que precisava conversar com Leila, perguntou-lhe se não haveria incomodo em chamá-la.
O homem, um pouco aborrecido, respondeu que iria chamá-la.
Cerca de cinco minutos mais tarde, Leila atendeu.
Ao perceber que se tratava de Felipe, a moça sorriu.
Felipe, que não havia se apresentado, respondeu que era o moço que ela havia atendido outro dia, e no dia anterior, conversara com ela num restaurante.
Leila respondeu que se lembrava dele.
Ao ouvir isto, o moço respondeu que ficava aliviado por saber que não fora esquecido.
Em dado momento, percebendo que ainda não havia dito seu nome, respondeu que se chamava Felipe.
Leila então emendou, dizendo que ele trabalhava de motorista para as Empresas Oliveira.
O jovem, ao ouvir as palavras da moça, ficou perplexo.
Tentando desfazer o engano, comentou que sim, trabalhava na empresa, mas não exatamente como motorista.
Leila por sua vez, comentou que não era vergonha alguma trabalhar como motorista.
Felipe balbuciou algumas palavras, mas Leila não compreendeu o que ele queria dizer.
Constatando que a moça não acreditaria se ele dissesse ser o dono das empresas de tecido, resolveu se calar.
Com isto, combinou um encontro com a moça.
O casal então, se encontrou no Parque da Luz.
Caminhando juntos, conversaram sobre o encontro anterior.
Leila comentou que ultimamente, vinha realizando boas vendas.
Felipe por sua vez, comentou que trabalhava muito, mal tinha tempo para ele mesmo.
Curiosa, Leila perguntou se para trabalhar como motorista a dedicação era integral.
O moço, percebendo o engano da moça, e sem ter como desfazer o equívoco, comentou que qualquer trabalho em uma empresa, demanda dedicação, muita dedicação. Argumentou que sua atividade lhe ocupava quase todo o dia. Era um dos primeiros a entrar na empresa, e um dos últimos a sair.
Leila comentou que ele era um profissional muito dedicado.
Felipe respondeu que procurava realizar seu trabalho da melhor maneira.
Leila sorrindo, comentou que seus pais deviam ter muito orgulho dele.
Felipe respondeu que provavelmente sim.
Leila comentou que morava com seus pais, e que estava pensando em continuar os estudos, e em fazer um curso superior.
Felipe ficou surpreso com o interesse da moça.
Argumentou que normalmente as moças pensariam em um curso de datilografia, secretariado, freqüentariam o normal.
Leila respondeu que gostaria de ir um pouco adiante. Comentou que não lhe agradava a idéia de após se casar, viver como dona de casa. Contou que gostava de trabalhar.
Felipe sorriu.
Leila constrangida, perguntou-lhe se havia falado demais.
- Absolutamente! – respondeu o moço. – Mas suas palavras não são convencionais!
Leila respondeu que sua mãe não concordava com seu modo de pensar e que vivia a censurando por dizer estas coisas.
Segundo ela, sua mãe lhe dizia que assim, nunca arrumaria um bom partido, um bom marido.
Para ela uma tolice.
Felipe riu.
Comentou:
- Menina! Você é fogo na roupa!
Ao ouvir isto, Leila ficou um tanto tímida.
Comentou que apenas lutando pelo direito das mulheres de terem a vida que gostariam. De não dependerem dos homens para tudo.
Felipe de certa forma concordou. Disse que ela não estava de todo errada, mas que deveria tomar cuidado no modo como dizia o que pensava, ou correria o risco de ser mal interpretada.
Leila não compreendeu.
Felipe, tentando se fazer entender melhor, comentou que nem todos os homens, ou melhor, nem todas as pessoas, viam liberdade para as mulheres, com bons olhos. Argumentou que muitos aproveitadores poderiam entender algo totalmente diverso e passar a discriminá-la.
Leila não gostou do que ouviu.
Felipe, percebendo isto, pediu para que ela não o interrompesse. Mencionou que precisava concluir seu pensamento, e que depois a ouviria com toda a atenção.
Nisto, continuou a dizer, que ela poderia dizer o que pensava, sem dizer isto de um modo totalmente claro.
Mencionou que ela poderia dizer que gostaria de voltar a estudar, e até fazer um curso superior, se fosse preciso.
Leila ouviu as palavras do moço, com toda a atenção.
Em seguida respondeu que entendia o que ele quis dizer.
Sorrindo, comentou que às vezes se empolgava com seu próprio discurso, e acabava não medindo as palavras.
Felipe, ao ouvir isto, respondeu que com ele não havia problemas, poderia dizer tudo o que quisesse e do jeito que quisesse. Só pediu para que tivesse cuidado, ao dizer certas coisas para estranhos.
Leila, disse então, que ele era quase um estranho.
Felipe, incomodado com as palavras, respondeu:
- Então, deixe que eu me apresente novamente: Chamo-me Felipe, e gosto muito de garotas que sabem conduzir uma boa conversa.
A moça caiu na risada.
- Do que está rindo? – perguntou Felipe.
- De nada! – respondeu a moça. – Só achei engraçado o modo como você se apresentou.
Nisto, o casal continuou caminhando pelo parque, e conversando.
Em dado momento sentaram-se em um banco, e ficaram a observar os passantes.
Observaram os pássaros, as crianças correndo de um lado para outro.
Ao perceber um fotografo no jardim, Felipe pediu para que o homem tirasse uma foto deles.
Era uma câmera grande, de madeira, com tripé, e câmara. Quando a foto era batida, saia uma fumaça preta da máquina.
Quando o fotografo mostrou a foto ao casal, Felipe ofertou-a a moça.
Disse para que ela guardasse de recordação do passeio que fizeram.
Leila segurou a foto respondendo que a conservaria com todo o cuidado.
Por fim, despediram-se.
Antes, Felipe se prontificou a levá-la de volta para casa.
Leila declinou o oferecimento. Disse que voltaria para casa de bonde.
Felipe intrigado, perguntou-lhe quando lhe deixaria levá-la para casa.
Sorrindo, a moça se afastou e respondeu alto, que o faria, assim que fosse possível.
Com isto, a jovem encaminhou-se para fora do parque e caminhou pelas ruas da região da Luz.
Assim que passou num bonde, subiu no mesmo.
Felipe por sua vez, caminhou apressado até a saída do parque. Tentou descobrir para que lado a moça fora. Sem êxito.
Em seu trabalho, o moço se ocupava de muitas atividades. Na tecelagem, nas confecções, observava balancetes contábeis, participava de reuniões, atendia muitos telefonemas, assinava documentos, recebia correspondências. Além disso, auxiliava seu pai em seu comércio.
Tais tarefas ocupavam boa parte de seu tempo.
Ainda assim, o moço não parava de pensar na moça.
Com isto, quando o relógio sinalizou sete horas, Felipe telefonou novamente para a vizinha de Leila. Contudo, para sua decepção, a moça não estava.
De acordo com o vizinho mal humorado, Leila estava estudando.
Felipe por sua vez, agradeceu a informação. Pediu para que deixasse um recado para a moça, dizendo que ele havia procurado por ela.
O homem respondeu então, que assim que a visse, transmitiria o recado.
Felipe agradeceu e pediu desculpas pelo incômodo.
Leila mais tarde, ao tomar conhecimento do recado, tratou de contatar o moço.
Desculpando-se, argumentou que só tomara conhecimento do recado, dias depois do telefonema.
Curiosamente, uma secretaria atendeu o telefonema dizendo que transferiria a ligação para o senhor Felipe.
Leila achou estranho, tanta cerimônia.
Tanto que comentou o fato com o moço, que respondeu na empresa, todos o tratavam por senhor.
Leila perguntou se quem atendera a ligação fora uma secretaria.
O rapaz respondeu que sim.
Leila então, explicou a demora em retornar o contato.
Disse só ter encontrado o vizinho dias depois, vê se pode.
Felipe sorriu ao ouvir a voz da moça.
Leila perguntou se ele estava ocupado.
Felipe respondeu que não.
Neste momento, sua secretaria surgiu em sua sala.
O moço, ao perceber a aproximação, sinalizou que precisava ficar sozinho.
A mulher retirou-se então da sala.
Com isto, o jovem continuou a conversar com Leila.
Disse-lhe que estava aguardando um retorno.
Leila perguntou-lhe então, o que gostaria de lhe falar.
Felipe gaguejou. Disse que gostaria de convidá-la novamente para um passeio. Contudo, desta vez, a buscaria na porta de sua casa.
Leila tentou recusar o oferecimento, mas o rapaz insistiu.
Desta forma, só coube a moça dizer-lhe onde morava.
Com isto, o casal iria ao cinema.
Elegantemente trajados, foram assistir a uma chanchada.
Mais tarde, Felipe conversou com a secretaria.
Recomendou-lhe que sempre que atendesse as ligações de Leila, não lhe dissesse jamais, que ele era o dono da empresa. Mencionou que caso ela lhe perguntasse algo, dissesse que se tratava do motorista.
A secretaria, ao ouvir isto, ficou espantada.
Felipe explicou-lhe que mais tarde explicaria o que estava acontecendo, mas que no momento, era tudo o que podia dizer.
Em outro passeio, o moço passou a pensar em que carro usaria para buscar a moça.
Diante disto, ciente de que a moça pensava que ele era motorista da empresa, pediu a seu pai, que lhe emprestasse um carro antigo.
Fábio estranhou o pedido, mas Felipe disse que não queria chamar a atenção, e que gostaria de dirigir o veículo.
O homem concordou.
Dias depois, o moço foi buscar a moça em um carro antigo.
Quando viu o moço chegando em um carro velho na porta de sua casa, a moça surpreendeu-se. Indagou sobre o proprietário do veículo.
Felipe respondeu que havia pego o veículo emprestado. Afirmou que o carro era de um seu parente.
Nisto, o casal foi novamente até o cinema.
O moço de terno e gravata, Leila em um vestido rodado.
Tempos em que, para se freqüentar os cinemas, era necessário o uso de traje social.
Foram assistir outra chanchada.
A dupla se divertiu com as confusões de Oscarito e Grande Otelo.
Leila comentou que adorava os filmes de Eliana, e de Dercy Gonçalves.
Na saída do cinema, Felipe pagou um saco de pipocas para a moça.
O moço tentou sugerir um jantar, mas Leila, acreditando se tratar de um rapaz pobre, insistiu para que economizassem o dinheiro. Argumentou que poderiam fazer outro passeio.
Mais tarde, o rapaz levou a moça para casa.
Felipe quis se apresentar aos seus pais, mas Leila respondeu que não havia pressa.
O rapaz, estranhando, acabou por concordar.
Quando seus pais lhe perguntaram se havia conhecido alguém, Felipe, tentando desconversar, respondeu que estava aproveitando seus momentos de folga para se distrair um pouco.
Felipe estava adorando a idéia de não precisar dizer que era um homem rico para a moça.
Com o tempo porém, o moço passou a ser alvo de perguntas de Leila.
A jovem tinha curiosidade, queria conhecer os pais do moço.
Felipe estava aflito.
Conversando com Epaminondas, foi aconselhado a contar a verdade para a jovem.
Felipe, aflito, argumentou que se revelasse a ela que era rico, ela provavelmente não acreditaria nele.
Ou pior, se sentiria enganada por um aproveitador.
Epaminondas sorriu.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
CARINHOSO - PARTE I - CAPÍTULO XIII
Fábio argumentou que Felipe poderia não acreditar nas cartas e mostrá-las a moça.
Fátima retrucou dizendo que este seria um risco que precisariam correr.
Com isto, resolveram arriscar.
E assim, utilizando a caligrafia de uma conhecida, Fátima ditou cartas anônimas ao filho.
Quando Felipe recebeu a primeira carta, estranhou o fato de não ter sido mencionado endereço do remetente, apenas o destinatário.
Curioso, pegou o envelope. Abriu a correspondência no quarto.
Ao ler a missiva, descobriu tratar-se de uma correspondência, colocando em dúvida a honestidade e o caráter de Cíntia.
Fato este que o deixou deveras irritado.
Nervoso, rasgou a carta e jogou-a no lixo.
Resmungando, diziam que eram apenas intrigas, não havendo nada de sério naquelas palavras levianas.
Contudo, conforme os dias passavam, o moço continuava a receber cartas anônimas.
A certa altura, fora colocado na correspondência, o endereço do hotel onde aconteciam os encontros.
Felipe ficou nervoso.
Cíntia, percebendo a mudança de comportamento do moço, passou a lhe perguntar se estava tudo bem na empresa.
No que Felipe, tentando desconversar, dizia que sim.
Com isto, o casal saía para dançar em boates.
Cíntia, acompanhada do moço, chegou até a ser fotografada.
Sua imagem ilustrou uma coluna social.
Com efeito, ao ver sua foto estampada em um jornal, a jovem ficou muito satisfeita.
Envaidecida, recortou a matéria e guardou-a em uma pasta.
Certa vez, ao sair com a moça para jantar, no momento em que dançavam, um dos freqüentadores da casa esbarrou nela e derramou vinho em seu vestido.
Cíntia, ao perceber o descuido, gritou:
- O que você fez com meu vestido, sua desastrada?
Como a mulher se desculpou, Cíntia irritou-se.
Disse que ela não deveria dançar segurando taças de vinhos nas mãos e que queria ser indenizada pelo prejuízo.
Como a mulher se recusasse a efetuar o pagamento do estrago, Cíntia puxou-a pelos cabelos.
Felipe, tentando contornar a situação, tentou dizer que elas não precisavam brigar.
O moço ao perceber que Cíntia esbofeteara a moça, ficou chocado.
Cíntia, ao notar que havia se excedido, tentou contornar a situação, mas Felipe naquele momento, começara a ver como a moça era realmente.
Foi o bastante para se encorajar a se dirigir ao hotel mencionado na epístola apócrifa.
Felipe encaminhou-se para o hotel, relutante.
Custava a acreditar que Cíntia pudesse ser tão leviana.
Em dados momentos, pensou em desistir do intento.
Mas reuniu coragem e se encaminhou para o lugar.
Lá, ficou a aguardar a chegada de Cíntia.
Cerca de meia hora após, eis que a moça surge acompanhada de um rapaz.
Felipe ficou perplexo.
A poucos metros de distância, o casal caminhava de mãos dadas.
Pareciam felizes.
Tentando se controlar, o moço esperou o casal subir.
A seguir, perguntou na recepção, se havia quartos vagos.
Subornando o funcionário, perguntou qual o quarto que o casal que acabara de subir.
O rapaz respondeu:
- Trezentos e seis.
Felipe, oferecendo mais dinheiro, perguntou se havia possibilidade de ficar em um quarto próximo.
Atendido, o moço ficou instalado em dos quartos ao lado.
Tentando expiar o que acontecia no quarto ao lado, encaminhou-se para a janela, de onde viu o casal se abraçando.
Atento a cada ruído, a ansiedade aumentava.
A certa altura, chamou o funcionário que levava comida para o quarto do casal e propondo um acordo, pediu para vestir seu uniforme e ficar em seu lugar.
O sujeito, ressabiado, relutou em concordar, mas ao ver uma gorda soma de dinheiro sendo colocada em cima da bandeja, acabou capitulando.
Felipe argumentou que caso perdesse o emprego, o indicaria para um amigo. Relatou que conhecia alguns comerciantes donos de pequenos hotéis e pensões.
Diante disto, o funcionário vestiu as roupas de Felipe e o moço se fez passar por funcionário do hotel.
Trêmulo, se encaminhou para a porta do quarto onde estava o casal. Apertou a campainha.
Quem o atendeu foi o rapaz, o qual recomendou que depositasse a bandeja em cima da mesa.
Cíntia por sua vez, saiu do banheiro perguntando onde havia colocado seu sapato.
Qual não foi sua surpresa ao se deparar com Felipe vestido de garçom.
A moça estava visivelmente descomposta, ajeitando o vestido, penteando os cabelos, e procurando seu sapato.
Cíntia, ao vê-lo, ficou perplexa.
Gaguejando, perguntou-lhe o que fazia ali.
Felipe furioso, argumentou que era ela, quem devia explicar o que estava fazendo ali.
Cíntia respondeu trêmula que havia sujado seu vestido e que estava tentando arrumá-lo.
Felipe não acreditou na conversa.
Irritado, respondeu que não era idiota e que a vira adentrar o hotel acompanhada do rapaz.
Comentou que já havia visto seus modos grosseiros, e que custou a acreditar que era leviana a este ponto. Furioso, disse que jamais se casaria com uma mulher ordinária e que o compromisso entre os dois, estava desfeito.
Cíntia, ao perceber isto, tentou insinuar um falso arrependimento.
Inicialmente argumentou que fora levada pelas circunstâncias, a se envolver com o rapaz, mas que amava a ele, Felipe. Somente a ele.
Contrariado, o moço respondeu que estava enojado.
Antes de retirar-se do quarto, disse que ela não ousasse procurá-lo, ou ele faria questão de desmoralizá-la publicamente. Argumentou que antes de prejudicá-lo, ela seria a maior prejudicada. Falou que não se importava em ser apontado na rua, se fosse para livrar incautos de uma armadilha.
Com efeito, ao sair, bateu a porta do quarto.
Transtornado, o moço entrou em seu carro, e arrancou a toda a velocidade.
Nervoso, dirigiu por horas, até parar em um parque.
Lá, desceu do carro e ficou caminhando.
Enquanto andava, se recordava do encontro no hotel, da prova da infidelidade de Cíntia, da raiva e da mágoa que estava sentindo.
Triste, em dado momento, sentou-se em um banco e começou a chorar.
Fátima e Fábio, ao notarem a ausência do filho, ficaram cheios de preocupação.
Felipe não tinha o hábito de virar as madrugadas longe de casa.
No tocante a isto, o moço somente retornou ao lar, na tarde do dia seguinte.
Abatido, não contou a ninguém onde havia passado a noite.
Comentou apenas, que descobrira toda a verdade sobre Cíntia, e que não tinha interesse em saber daquela vagabunda por perto.
Deixou o uniforme do hotel jogado em um canto do quarto.
Após sentar-se em um parque, adquiriu novas roupas. Percebeu que havia ficado com o uniforme do funcionário.
Dias depois, o traje foi devolvido ao funcionário.
Quanto a Felipe, o moço passou a se dedicar cada vez mais ao trabalho.
Com isto, passou a ficar mais horas no trabalho.
Mais tarde, procurou conversar com Itamar – primeiro noivo de Cíntia, com Olacir.
Viu fotos da jovem com o amante.
Cauteloso, pediu para guardar as mesmas. Respondeu que em caso de necessidade, poderia fazer uso delas.
Fátima e Fábio, pesarosos com o ocorrido, lamentaram o fato de Cíntia não ser a pessoa certa para ele.
Com o tempo, aparentemente recuperado, o moço, passou a sair com outras garotas, mas não possuía nenhuma namorada.
Tal fato vinha preocupando Fátima, que dizia ao filho que nem todas as mulheres eram levianas com os homens.
Felipe por sua vez, afastou-se da convivência com a família.
Dizia freqüentemente que não tinha hora para voltar.
E assim, o moço seguia vivendo sua vida.
Freqüentava as boates da capital.
Em um desses ambientes, avistou uma moça vestida com um bonito vestido amarelo.
Estava acompanhada de outras jovens e de um grupo de rapazes.
Felipe, acompanhado, ficou admirado com a jovem, mas acreditando que ela já possuía namorado e tendo em vista estar acompanhado, decidiu não se aproximar.
Dias depois, procurando um presente para a mãe, o moço entrou em uma loja de perfumes, onde para sua surpresa, se deparou com a jovem que vira na boate.
Encantado com a moça, ficou conversando com ela.
Perguntou-lhe o que ela sugeriria de presente para uma senhora.
A jovem respondeu que um perfume com aroma marcante, mas sem ser muito forte, poderia combinar com ela.
Nisto, a moça apresentou fragrâncias para o moço apreciar.
Abriu frascos de perfumes expostos, para que pudesse escolher dentre as fragrâncias.
Felipe apresentou-se. Perguntou o nome da atendente simpática.
A jovem respondeu:
- Leila.
- Belo nome! – emendou o rapaz.
Nisto, o moço perguntou-lhe se gostava do trabalho, se gostava de perfumes.
Por fim, agradeceu a sugestão e comprou dois frascos de perfumes diferentes.
Retirou-se.
Leila mais tarde, respondeu que aquele dia estava fazendo boas vendas.
Comentou que até um motorista de madame foi até a loja comprar perfume para uma senhora.
Felipe mais tarde, presenteou sua mãe com dois perfumes diferentes.
Fátima, que fazia anos, adorou os presentes do filho.
Para agradecer a gentileza, ofereceu-lhe uma mouse de sobremesa.
Fábio por sua vez, ofereceu jóias e flores para a esposa.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
CARINHOSO - PARTE I - CAPÍTULO XII
A moça apresentou-se muito bem vestida.
Manuseou corretamente todos os utensílios postos a mesa, copos para água, vinho, talheres para carne, peixe. As entradas.
Fábio e Fátima, ao perceberem os modos refinados da jovem, perceberam que não se tratava de um tola, e sim de alguém com disposição para impressionar a todos os que a cercavam e com isto, angariar simpatia.
Esbanjava simpatia, rindo dos comentários de Felipe.
Fazendo-se de modesta, comentou que trabalhava para custear suas despesas, mas que quando se casasse, se dedicaria única e exclusivamente a sua nova família.
Fátima, aproveitando o ensejo, perguntou-lhe sobre seus pais.
Cíntia, constrangida, comentou que vivia bem com os mesmos, mas que fazia duas semanas que haviam viajado para a casa de parentes.
Curiosa, a mulher perguntou-lhe quando retornariam. Argumentou que gostaria de conhecê-los.
Foi o bastante para que a moça tirasse o sorriso dos lábios.
Incomodada, perguntou onde ficava o toalete.
Fátima indicou-lhe o caminho.
Em seguida, segredou ao marido que estavam no caminho certo.
Com efeito, quando a moça retornou a mesa, Fátima segurando um sino, chamou a empregada.
Desta forma, foi servida a sobremesa.
Mouse de maracujá.
Mais tarde, foi servido um cálice de vinho.
Continuaram as conversações.
Fátima então, retomando o assunto, insistiu na idéia de convidar os pais da moça para um jantar. Argumentou que se Felipe estava tão feliz em sua presença, e fazia tanta questão em trazê-la para o convívio de sua família, era porque ela era muito importante para ele.
Ao ouvir isto, o rapaz sorriu.
Fábio por sua vez, completando as palavras da esposa, ressaltou que em assim sendo, era necessário que as duas famílias se conhecessem, para que assim fossem estreitados os laços. Seria necessário conhecer seus pais.
Cíntia, um tanto surpresa com a insistência, argumentou que nos últimos tempos, estava bastante complicado encontrá-los com disponibilidade de tempo para jantares.
Fátima relatou que aguardaria uma boa oportunidade.
Felipe prometeu que assim que fosse possível, conversaria com os pais da moça para pedi-la em noivado.
Fingindo entusiasmo, Fátima e Fábio parabenizaram o filho.
Mais tarde, Fábio relatou sua preocupação com o interesse de Felipe na jovem.
Fátima, comentou que Cíntia não conseguiria se casar com o moço, a menos que conseguisse convencer seus pais a compactuarem com a farsa que estava promovendo.
Fábio argumentou que era pouco provável que conseguisse o feito, mas que não era de todo impossível. Ressalvou que uma pessoa que quase conseguiu se casar com um dono de boate, não era burra, e que todo cuidado era pouco.
Fátima concordou.
Preocupada, retornou a casa da vizinha, onde descobriu o nome do dono da boate, e do estabelecimento.
Desta forma, usando da desculpa de que queria sair um pouco com o marido, Fátima dirigiu-se a boate, acompanhada de Fábio.
Utilizando-se da desculpa de que tinham negócios a tratar com Itamar, conseguiram conversar com o homem.
Fátima então, usando de franqueza, comentou que seu filho estava noivo de Cíntia.
Foi o bastante para o homem ficar nervoso e ameaçar se levantar da cadeira.
Fábio, segurando-o pelo braço, tentando acalmá-lo, disse:
- Eu imagino o quanto esta moça deva ter te magoado, mas o senhor teve a chance de se desvencilhar da rede de intrigas urdida por ela. Meu filho também precisa ser alertado do caráter desta moça, ou ficará em sérios apuros.
Itamar ao ouvir estas palavras sentou-se.
Perguntou imediatamente o que eles queriam.
Fábio respondeu que gostariam de saber se Cíntia era realmente uma interesseira ou não.
Itamar comentou que se queriam saber do caráter da moça, deveriam apurar os ouvidos, pois o que tinha para dizer não era nada elogioso.
Itamar respondeu-lhe que Cíntia ficou durante semanas freqüentando a boate.
Ao fazer amizade com o segurança da casa e com os garçons, conseguia entrar no estabelecimento sem pagar.
Com a desculpa de que gostaria de realizar um número na boate, conseguiu se aproximar dele e angariar sua simpatia.
Nisto, ao realizar um ensaio para que pudesse apresentar um número musical, Itamar percebeu que a jovem não tinha nenhum pendor para a vida artística.
Passaram então a sair.
Itamar comentou que com o tempo, passou a lhe oferecer presentes caros.
Jóias, vestidos, sapatos, perfumes.
A certa altura, ficaram noivos.
Entusiasmado, Itamar comentou que realizou o anúncio na boate.
Dançaram.
Com o tempo, Cíntia começou a destratar os funcionários.
Dizendo-se dona do estabelecimento, comentou que precisava por ordem no lugar.
Certa vez, o próprio Itamar presenciou uma cena lamentável.
Cíntia jogou whisky no rosto de um dos garçons. Em seguida gritou, chamando-o de incompetente.
Itamar, ao ver a cena, perguntou o que estava acontecendo.
Cíntia ao perceber a aproximação do noivo, ficou pálida.
Trêmula, comentou que o garçom a desrespeitara.
Disse que o funcionário argumentou que ela não era nada ali. Chegou a mencionar que o mesmo vivia lhe fazendo provocações.
Intrigado, o homem tratou de verificar a informação.
Observando melhor o comportamento da moça, começou a perceber que em sua presença, a mulher se comportava de maneira gentil e delicada, mas ao se ver a sós com seus funcionários, era ríspida e grosseira.
Espiando-a sem que ela percebesse, constatou os modos grosseiros dirigido ao garçom, por não havê-la servido primeiro.
Certa vez, ao visitá-la na pensão em que morava, descobriu que ela se encontrava com outro rapaz.
Isto por que, ouviu a conversa de ambos no portão.
Faziam planos com o dinheiro de Itamar.
Nisto, desmascarada, a moça foi humilhada publicamente.
Desta forma, o noivado foi desfeito.
Fábio, ao ouvir todo o relato do homem, ficou perplexo.
Tanto que chegou a comentar:
- É pior do que eu imaginava!
Itamar, percebendo o ar chocado do homem, autorizou-o a conversar com os funcionários.
Mencionou também o endereço da pensão onde a moça morava.
Fábio, agradecido, comentou que ele havia sido deveras generoso.
Fátima então, conversou com os funcionários e perguntou o que eles achavam da moça.
Quase todos reiteraram as palavras do homem, dizendo que inicialmente gentil e polida, a jovem com o tempo, passou a hostilizá-los e ameaçá-los com demissões.
Mais tarde, o casal foi até o endereço da pensão onde a moça morou.
Lá descobriram que a jovem se mudara e que a dona do estabelecimento não tinha um bom conceito da moça.
Considerava-a regateira e oferecida.
Comentou que quando Cíntia se instalara na pensão era discreta e reservada. Quase não conversava com os moradores. Estava quase sempre ausente.
Contudo, com o tempo, passou a ser vista com um rapaz. Ficavam muito tempo conversando no portão.
Para desespero da dona da pensão, que considerava isto, uma imoralidade.
Com efeito, quando soube que a moça ficara noiva de um figurão, pensou logo que se tratava de uma oportunista.
Por fim, respondeu que o tempo lhe deu razão.
Cíntia era inescrupulosa e interesseira.
Fátima, ao descobrir tais fatos, ficou horrorizada.
Aflita, comentou com Fábio que a situação era pior do que imaginava.
Preocupado, Fábio contratou os serviços de um detetive particular.
Foi questão de semanas para que o homem, lhes apresentasse a informação de que a moça se encontrava esporadicamente com um rapaz.
Nisto, lançou fotos na mesa do escritório de Fábio, que ao vê-las, percebeu que o casal caminhava de mãos dadas. Também sorriam, olhando-se afetuosamente.
Para Fábio, era o suficiente para caracterizar uma traição.
Com isto, o homem agradeceu aos trabalhos realizados pelo profissional, recomendando-lhe que continuasse seguindo a moça.
Esperto, o detetive relatou que conseguiu as fotos, auxiliado por um fotografo de praça.
Fábio pagou pelos serviços prestados.
Mais tarde, conversando com a esposa, indagou se aquelas fotos deveriam ser apresentadas ao moço ou
deveriam aguardar mais um pouco.
Fátima respondeu que ainda não era o momento de apresentar as fotos, ou tecer qualquer comentário sobre a honestidade da moça. Relatou que mesmo diante das fotos, sem uma confrontação cabal de Felipe com os modos de Cíntia, sua falta de caráter nunca ficaria totalmente comprovada.
Completando, Fátima argumentou que precisava restar claro sem nenhuma sombra de dúvida, que a jovem só estava interessada no dinheiro dele.
Fábio destacou que o filho precisava ver com os próprios olhos, o comportamento escandaloso da moça.
Fátima concordou.
Porém, como fariam para que Felipe presenciasse o encontro dos dois, ou visse os modos escandalosos e grosseiros da moça?
Fábio argumentou que o detetive continuava trabalhando para ele, e que assim, poderiam descobrir a rotina da moça, seus horários. Desta forma ficaria fácil desmascará-la.
Felipe por sua vez, continuava a se encontrar com a jovem.
Cintia e ele, freqüentavam o cinema juntos, assistiam a musicais, comédias românticas, filmes de guerra, e cinema nacional.
Para isto, as pessoas usavam suas melhores roupas.
Mulheres com lindas roupas, casacos, vestidos, sapatos de salto, maquiagem, perfume.
Homens de terno e chapéu.
Fábio adorava os filmes dos Estúdios Vera Cruz, em São Bernardo do Campo.
Entusiasmado, dizia que era a Hollywood Brasileira.
Pena que o estúdio funcionou por poucos anos.
Cíntia ouvia a tudo, demonstrando bastante interesse.
A cada dia que passava, o moço falava com mais entusiasmo da moça.
Fátima e Fábio por sua vez, ficavam cada vez mais apreensivos.
Com o tempo, descobriram que a moça se encontrava em um hotel com o rapaz.
Cautelosa, olhava para os lados, antes de entrar com suas saias rodadas, no estabelecimento.
Olacir alugou um quarto próximo no hotel.
Utilizando uma imensa câmera fotográfica, o detetive conseguiu algumas imagens do casal se abraçando, e até se beijando.
Quanto Fábio tomou conhecimento destes encontros, ameaçou contar tudo ao filho. Irritado, dizia que não admitiria que o filho fizesse papel de bobo.
Fátima, ao perceber o destempero do marido aconselhou-o a esperar mais um pouco.
Tal fato causou indignação ao homem.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.