Argumentava que não gostaria de viver as custas do filho, e que quando tivesse o retorno financeiro esperado, devolveria o dinheiro que pegara emprestado, a Felipe.
Era um armazém onde se vendia de tudo: ervas, plantas medicinais, alimentos.
Fábio também possuía um funcionário encarregado de entregar as mercadorias aos clientes.
Entregava o leite diariamente na casa dos fregueses, em garrafas de vidro cheias, as quais eram trocadas por litros vazios.
Fábio trabalhava com bons fornecedores e seus produtos eram de qualidade.
Em pouco tempo angariou uma vasta freguesia.
Com isto, em questão de meses, conseguiu devolver o dinheiro investido no estabelecimento, para o filho.
Epaminondas por sua vez, preocupado com o futuro do garoto, recomendou-lhe que diversificasse suas atividades, e que em sendo possível, aumentasse o patrimônio herdado pelo menino.
Fábio argumentou que o Armazém Oliveira lhe tomava muito tempo, e que não teria tempo, e tampouco habilidade, para se dedicar a outras atividades que não fosse locar os imóveis herdados e cobrar eventuais débitos atrasados.
Epaminondas respondeu que nunca fora rico, mas que aprendera alguma coisa ao trabalhar como contador em uma empresa.
Fábio por sua vez, respondeu que seu trabalho era braçal, e que por isto, não tivera oportunidade de aprender filigranas do mundo dos negócios.
Epaminondas sorriu. Respondeu-lhe que não possuía o conhecimento técnico, mas que tinha tino para os negócios.
Diante disto, investido na qualidade de procurador de Fábio, tutor do garoto, Epaminondas resolveu investir em uma fábrica de tecidos.
Com isto, consultou Fábio, que o autorizou a comprar teares, alugar um galpão e contratar mão de obra qualificada.
Começou como uma atividade modesta, mas com o tempo cresceu.
Com o passar do tempo, a Tecelagem Oliveira passou a exportar tecidos.
Começaram com a fiação de lã e algodão, até chegarem ao fabrico de tecidos finos, como seda.
Felipe acompanhava curioso as atividades dos homens.
Fábio também prosperou em suas atividades.
Em dado momento, passou a produzir alguns de seus produtos.
A certa altura o armazém se transformara em um mercado. Amplo, espaçoso.
Fábio passou a exportar bananas em tramas de taboa.
Era um trabalho artesanal, que embelezava o produto, e assegurava que o mesmo seria transportado com todo o cuidado, chegando com toda a qualidade ao seu destino.
O homem passou a ser referência no ramo de alimentos.
Felipe por sua vez, pode estudar em bons colégios.
Fez faculdade, e para felicidade de seus pais, passou a ter um diploma.
Nesta época, passou a tomar maior contato com o trabalho de Fábio, e de seu tio avô Epaminondas.
Assim, quando o moço pode finalmente assumir os negócios da família, estava preparado.
Felipe, com o tempo, passou a acompanhar Epaminondas nas reuniões da empresa.
Também opinava e apresentava sugestões.
Epaminondas estava satisfeito com a dedicação do moço. Dizia-lhe que logo, logo ele poderia assumir as empresas.
Isto por que, o homem estava cansado.
Em quase dezesseis anos de atividades, já havia multiplicado o patrimônio herdado pelo garoto.
Queria descansar.
No tocante a isto, tanto a família de Felipe quanto a de Epaminondas, moravam em casas suntuosas. Palacetes construídos para deleite e conforto das famílias.
Felipe já conhecia a Europa, falava outros idiomas e possuía um bom nível cultural.
Na faculdade e no colégio lera obras clássicas e os grandes escritores humanistas.
Durante um dado momento, chegou a freqüentar aulas de teatro.
Fábio, ao tomar conhecimento disto, encheu-se de preocupação.
Por um momento chegou a pensar que Felipe abandonaria tudo para se dedicar a profissão de ator.
Preocupação boba, já que o menino investiu na profissão apenas por curiosidade, e por que estava acompanhando seus amigos intelectuais.
Felipe adorava os textos teatrais e a densidade dos gestos. Adorava as coxias, e se admirava com o talento e a dedicação dos atores, que se entregavam ao seu papel.
O moço chegou a fazer pequenas figurações.
Mas depois de um certo tempo, ao precisar acompanhar seu tio na administração das fábricas, o moço não teve mais tempo para freqüentar o teatro.
Com efeito, ao tomar posse do cargo de presidente das empresas, com a idade de vinte e cinco anos, o jovem, passou a se dedicar quase que exclusivamente a atividade de empresário.
O moço chegava a ficar doze horas na empresa.
Dedicado, auxiliava seu pai, na importação de seus produtos.
Com o tempo demonstrou ser um exímio empresário.
Nisto, Epaminondas com o passar dos anos, passou a se afastar das atividades empresariais.
Desta forma, passou a se dedicar mais a família.
Felipe por sua vez, não vivia apenas para o trabalho.
Em seus momentos de lazer, gostava de rever os colegas de faculdade.
Foi nesta época que teve o primeiro relacionamento sério com uma garota.
Felipe era um rapaz apresentável, mas o fato de ser um empresário, e de aparecer fotografado nos jornais, fazia com que as moças tivessem um interesse especial nele.
O jovem empresário, por sua vez, não percebia isto.
Para ele o fato de uma moça bonita ter aparecido em sua vida, em meio ao seu círculo de amigos, era garantia de que era uma boa pessoa.
Cíntia parecia sê-lo de fato.
Sempre simpática, cumprimentava a todos.
Quando e seus colegas saíam juntos, ela não se importava em ouvi-los falar de negócios.
Parecia até interessada.
Felipe, entusiasmado com Cíntia, costumava levá-la em boates para dançar.
Certa vez, ao passarem diante de uma joalheria, a moça ficou observando uma jóia. Estava deslumbrada.
Felipe, ao perceber o interesse da jovem, perguntou-lhe se havia gostado da peça.
Cíntia, então, respondeu que estava apenas olhando. Argumentou que se tratava de um presente muito caro para ser dado para alguém que se tinha acabado de conhecer.
Dias depois, o moço adentrou a joalheria e comprou o bracelete que Cíntia havia admirado.
Com isto, convidou-a para um jantar.
A moça estava impecável com um vestido rodado verde.
Felipe, então, dizendo-lhe que tinha algo que combinava com o vestido, sacou uma caixinha, a qual abriu.
Lá dentro estava o bracelete.
Cíntia, ao ver o presente, agradeceu. Disse que não precisava.
Ao ouvir isto, Felipe brincando, respondeu que iria devolver a loja.
A moça por sua vez, retrucou dizendo:
- Não, não é necessário! Eu aceito o presente.
Felipe riu.
Em seguida, o casal saiu para jantar.
Dançaram.
Com efeito, Felipe adorava estar em companhia da moça.
Ultimamente porém, o trabalho tomava muito do seu tempo, e raros eram os momentos em que podia passear com Cíntia.
Desta forma, nos poucos momentos em que passaram a ficar juntos, a moça passou a cobrar sua presença. Dizia que estava cansada de ficar sempre esperando por ele.
Fazendo beicinho, disse que a última vez em que saíram juntos, fora quando ele a presenteara com um bracelete, e eles foram jantar, e em seguida, dançaram em uma boate.
Cíntia argumentou que estava sentindo falta de se divertir um pouco.
Felipe então, segurando seu queixo e olhando em seus olhos, confessou que realmente estava em falta com ela, mas que nos últimos tempos, os negócios se avolumavam e ele precisava dar vazão ao seu trabalho, ou perderia muito dinheiro.
Cíntia, ao ouvir isto, pediu-lhe desculpas.
Dizendo que ele era um homem muito ocupado para pensar em mesquinharias, comentou que não tinha o direito de atrapalhá-lo em seus negócios. Falou que tentaria ter mais paciência e que procuraria entender suas necessidades.
Felipe, ao ouvir estas palavras, sorriu e abraçou a moça.
Respondeu-lhe que nunca havia conhecido uma mulher tão compreensiva.
Nesta época, o moço já freqüentava a casa de Cíntia. Havia sido apresentado aos pais da moça.
Quando o jovem apresentou a namorada aos pais, Fábio e Fátima, estranharam o jeito excessivamente risonho da moça.
Fábio, chegou a dizer ao filho que Cíntia era simpática demais. Sempre tentando agradar a todos, mesmo quando as pessoas a ofendiam.
Felipe ao ouvir estas palavras, ficou contrariado. Argumentou que Cíntia tentava apenas conciliar as pessoas, e que ela não estava errada em fazê-lo, pois viver em pé de guerra com o mundo, é insuportável.
O homem, ao tentar retrucar, foi atalhado pelo filho, que lhe disse que Cíntia era a melhor pessoa que conhecia, e que ninguém tinha o direito de criticá-la antes de conhecê-la melhor.
Fátima percebendo que o filho tomara as dores da moça, fez um pequeno gesto para que Fábio parasse de tentar argumentar com o Felipe.
Nisto o moço, saiu aborrecido da sala, deixando os pais sozinhos.
Fátima, ao se ver a sós com o marido, comentou:
- A situação está pior do que eu imaginava!
Cíntia de fato, ao ser criticada por seus modos excessivamente corteses, respondeu que não sentira agredida pelos comentário.
De fato, uma vizinha da família, que estava na mansão, na ocasião em que Felipe apresentou a moça aos pais, comentou que não conhecia ninguém que fosse tão risonho. A mulher chegou a mencionar que a viram gritando com uma garota em uma festa.
Cíntia negou. Argumentou que a confundiram com outra pessoa.
Fátima por sua vez, não gostou do jeito da moça, além de ter ficado cismada com a história.
Nisto, assim que pode, visitou a vizinha para conhecer mais detalhes da história.
Desta forma, Fátima, ao visitar a vizinha, conversou sobre o assunto.
Em conversa com a mulher, descobriu que Cíntia não era exatamente o que aparentava ser.
Contudo, não poderia comprovar ao filho tal fato.
Conversando com o marido, descobriu que precisavam criar uma situação em que a moça precisasse se expor.
Arquitetaram um plano.
Luciana Celestino dos Santos
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