Poesias

quinta-feira, 18 de março de 2021

A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 26

Mais tarde, a mulher ajeitou o quarto de seu filho mais novo para Josie dormir.
A moça por sua vez, tentou argumentar dizendo que poderia pegar um ônibus na rodoviária e seguir para o hotel.
Mas Olavo e Vilma a proibiram de sair da propriedade.
Com isto, a mulher providenciou uma camisola para a moça.
Sem alternativa, Josie acabou concordando em pernoitar na propriedade.
Despediu-se de todos, colocou a camisola, a qual lhe assentou muito bem, e dormiu.
Dormiu um sono tranqüilo.
Olavo, ansioso, ficou rondando o quarto em que a moça dormia.
Olhando em volta, colocou a mão na maçaneta da porta do quarto, sendo surpreendido por Vilma, que o pegou no flagra.
Ao perceber a intenção do filho, passou-lhe uma admoestação:
- Meu filho! Com todo este tamanho e ainda se comportando como se fosse uma criança! Querendo invadir o quarto da moça! Acha isto bonito?
Olavo ficou deveras constrangido.
Vilma percebendo isto, emendou:
- Ora meu filho, não fique assim! A guria não vai fugir. Ela é um pouco arisca, mas já foi possível perceber que ela não lhe é indiferente. Se o fosse não teria voltado aqui. Acalme-te, que o que tiver que ser será. E eu tenho certeza de que vocês serão muito felizes. Eu não tenho dúvida.
Olavo não sabia o que dizer.
Por fim, Vilma disse:
- Vem meu filho, vamos dormir.
Contrariado, Olavo concordou em voltar ao quarto.
Vilma por sua vez, permaneceu durante algum tempo no corredor.
Depois de meia-hora, dirigiu-se ao quarto do filho para verificar se o mesmo estava dormindo.
Ao certificar-se disto, escondeu-se no corredor.
Durante algum ficou espreitando.
Ao perceber que Olavo não tentaria novamente entrar no quarto da moça, dirigiu-se ao quarto onde a mesma dormia.
Entrou vagarosamente, e ficou observando o sono da moça.
Depois de algum tempo, retornou ao seu quarto, e ao lado de seu marido, dormiu.
Mais tarde, Olavo levantou-se.
Vestiu-se, penteou os cabelos. Perfumou-se.
Ansioso, caminhou pelo corredor, quando ouviu barulhos na cozinha.
Era Vilma preparando o café da manhã.
Na mesa foram postas uvas, bule com café, jarras com suco de uva e de laranja, iogurtes de morango e de coco, croissant’s, pães doces, pão caseiro, queijo, morango e chantily.
Otaviano e Olavo ficaram impressionados com o capricho.
Vilma argumentou que para as visitas, era necessário um desjejum mais caprichado.
Otaviano brincou dizendo que assim ficava com ciúme.
Ansioso, Olavo perguntou por Josie.
Vilma comentou que a moça ainda não havia saído do quarto.
Olavo argumentou se não era melhor ver o que estava acontecendo.
Preocupado, chegou a perguntar se ela não poderia estar passando mal.
Ao ouvirem tais palavras, Otaviano e Vilma começaram a rir.
Nervoso, Olavo indagou o porquê das risadas.
Vilma calmamente respondeu:
- Meu querido! Aquiete-se! Daqui a pouco a moça sairá do quarto.
Com efeito, Josie ao despertar, tratou de vestir a roupa com que fora até a vinícola.
Nisto seguiu para a copa.
Ao chegar na copa, a moça encantou-se com a mesa caprichada preparada por Vilma.
Chegou até a exclamar:
- Que lindo!
- Que bom que você gostou! – respondeu Vilma.
Olavo tratou logo de desejar-lhe bom dia.
Em seguida convidou-a para sentar-se a mesa.
Puxou uma das cadeiras indicando que se sentasse.
Josie agradeceu.
Gentil, Olavo serviu os morangos, pães, suco de uva, café.
Josie não conseguiu comer toda a comida que lhe foi oferecida.
Em seguida, Olavo e a moça caminharam pelo caminho de pedras.
Josie não se cansava de admirar da beleza das camélias.
O moço, percebendo o encantamento dela pela flor, resolveu colher uma das flores ofertando-a de presente para ela.
A moça agradeceu o presente.
Olavo comentou que outras propriedades também possuem a flor, em seus caminhos de pedra.
Mais tarde, o casal retornou para Gramado.
Ao verem o carro de Olavo se distanciando pelo caminho, Otaviano comentou que o filho estava perdido.
Vilma emendou dizendo que isto certamente resultaria em casamento.
Otaviano disse ainda, que nunca vira o filho tão interessado em uma mulher.
Vilma comentou que ele ainda não havia encontrado a pessoa certa. Não tivera a sorte dela, que em seu primeiro namoro, encontrou o companheiro da vida inteira.
Otaviano sorriu emocionado para a esposa.
Ao chegarem em Gramado, Olavo deixou a moça em seu hotel. Disse-lhe que ali ela poderia se arrumar à vontade e que mais tarde, sairiam para almoçar.
Nisto, Olavo despediu-se de Josie, com um beijo no rosto.
A moça, ao entrar no quarto, tratou de escolher uma roupa.
Escolheu um vestido de manga comprida, meia-calça preta e uma bota sem salto.
Tratou logo de tomar um belo banho. Lavou a cabeça.
Olavo por sua vez, também banhou-se.
Escolheu uma calça social e camisa.
Ao buscar Josie na recepção do hotel, elogiou a elegância da moça.
Josie usava a fragrância ofertada de presente por Olavo.
O moço também estava perfumado.
Segurando as mãos da moça, Olavo convidou Josie para um passeio pela cidade.
Durante o almoço, a jovem comentou que no dia seguinte, partiria para Porto Alegre.
Ao ouvir isto, Olavo prometeu levá-la de carro para a cidade. Atencioso, perguntou-lhe quando gostaria de partir.
Josie sem jeito, respondeu que não era necessário.
O moço contudo, insistiu.
Dizendo que não aceitaria um não como resposta, comentou que tinha negócios a tratar na cidade, e que assim, estaria unindo o útil ao agradável.
Ao ouvir tais palavras, Josie caiu na risada.
Olavo, galanteador, comentou que dissera isto, por que estava adorando a companhia da moça. Brincalhão, perguntou se ela também não estava gostando da companhia.
Um pouco sem graça, Josie respondeu que sim.
No dia seguinte, de malas prontas, com todos os apontamentos feits sobre os passeios realizados até então, Josie seguiu com Olavo para Porte Alegre.
Na cidade, a jovem se surpreendeu com seus prédios imponentes, a mendicância, a imensidade de pessoas.
Josie comentou com Olavo, a cidade lhe lembrava São Paulo.
Ocorre que, antes de passearem pela cidade, o casal se hospedou em um hotel do lugar.
Mais tarde saíram para caminhar.
Passearem pelo Mercado Municipal.
Lá o homem mostrou-lhe a erva com que era preparado o chimarrão.
Josie achou curioso, o cheiro forte da erva.
Olavo, comentou então, que ao adquirir uma cuia de chimarrão a mesma deve ser curtida, antes que se possa apreciar a bebida. Contou que o hábito de tomar chimarrão faz parte da cultura sulista.
Enquanto caminhavam pelo centro da cidade, Josie avistou alguns homens de bombacha.
A moça se surpreendeu quando viu uma moça usando a vestimenta.
Olavo comentou então, que o traje típico gaúcho, com bombacha, lenço, chapéu, bota, era originariamente masculino, mas que foi feita uma leitura do traje para as mulheres. Argumentou que em sendo bem feita, uma mulher pode ficar muito bem vestida de bombacha.
Curiosa, Josie perguntou ao moço, se ele costumava vestir a famosa indumentária.
Olavo comentou cheio de orgulho, que somente em ocasiões especiais usava a vestimenta. Animado, confidenciou que chegou a fazer parte de um CTG.
- Que interessante! - comentou Josie.
Percebendo o interesse da moça, Olavo perguntou-lhe se ela não gostaria de conhecer um Centro de Tradições Gaúchas.
Josie respondeu que sim.
Nisto, caminhando de mãos dadas, o moço continuou a mostrar-lhe o centro da cidade.
Josie visitou o Centro Cultural Mário Quintana, viu os inúmeros prédios militares instalados na Rua dos Andradas, bem como o Museu Militar. Ao fundo, as construções portuárias.
De carro, ao entrar na cidade, a moça avistou enormes barcos no porto, assim como o Rio Guaíba.
Ainda entrando na localidade, a jovem avistou o Palácio Piratini.
Mais tarde, o casal passeou pela Avenida Borges de Medeiros, atravessou um viaduto, conheceu o Shopping Praia de Belas, o Parque Marinha do Brasil. Também caminharam próximos ao Rio Guaíba, até as proximidades do Estádio Beira-Rio.
No shopping, o casal almoçou.
Durante o passeio, Josie tirou inúmeras fotos, e na praça de alimentação do shopping, resolveu escrever alguns apontamentos sobre o passeio realizado.
Depois de alguns instantes de descanso, Olavo perguntou-lhe se estava gostando do passeio.
Josie respondeu que sim.
Mais tarde, o casal retornou ao hotel onde estavam hospedados.
Olavo, chegou a sugerir se não poderia ir até o quarto da moça para conversar.
Josie achou graça. Respondeu que não. Comentou que precisava descansar.
O moço respondeu que era uma pena.
Nisto cada um seguiu para seu quarto.
No final da tarde, o casal foi apreciar o pôr do sol do Rio Guaíba.
Olavo se sentou nas proximidades do rio. Gentil, sugeriu que Josie sentasse próximo dele.
Foi questão de tempo para que se aconchegasse em seus braços.
O jovem comentou então, que aquele era um cartão postal da cidade, e que eles estavam apreciando um espetáculo sem igual.
Nisto, o casal ficou a apreciar o despedir do sol, contemplando o que era possível de seus tons amarelos, até que a noite tomou conta de tudo. Como era período de lua cheia, o casal conseguiu contemplá-la em toda sua inteireza.
O evento, deixou-os encantados.
Finalmente, quando a noite tomou conta do passeio, o casal decidiu procurar um restaurante.
Resolveram comer um lanche feito em um imenso pão, com muito ovo.
Josie comentou então, que os gaúchos adoram ovo. Brincando disse que eles pareciam portugueses.
Olavo respondeu que havia muitos descendentes de italianos no estado, e que os italianos adoram ovo.
A moça comeu um sanduíche com calabresa.
Olavo comeu um lanche de carne.
Depois da pequena ceia, o casal caminhou de mãos dadas pelas ruas da cidade.
Avistaram algumas das belezas do lugar.
Josie achou uma beleza o Mercado Municipal todo iluminado.
O centro da cidade, sem todas as barracas do comércio ambulante, tinha outro aspecto.
Quando retornaram ao hotel, o casal estava exausto.
Antes de irem para seus respectivos quartos, o casal se abraçou.
Olavo, se deixando levar pelo momento, deu um beijo no rosto de Josie, que ficou encabulada.
O moço se afastou. Desejou-lhe boa noite.
No dia seguinte, o casal continuou a passear pela cidade.
Durante o passeio, o jovem combinou que visitariam um Centro de Tradições Gaúchas.
Nisto, ao saírem juntos para jantarem, o moço se paramentou todo.
Vestiu uma bombacha, camisa, colocou o lenço vermelho, calçou botas, colocou chapéu.
Josie, ao vê-lo todo composto como um típico gaúcho, ficou encantada.
- Que beleza! – exclamou.
O moço retribuiu o elogio com um sorriso.
Segurando-a pela cintura, disse que iria ensiná-la a dançar um vanerão, o fandango, chimarrita e o chamamé.
Tentou ensinar-lhe alguns passos.
Josie tentou argumentar que era péssima dançarina, e que seria muito difícil aprender qualquer ritmo musical.
O casal ficou ensaiando uns passos no corredor.
Cômico era ver os hóspedes passando e olhando espantados pelo casal.
Josie pediu para Olavo parar a valsa.
O moço corrigiu, dizendo que não era valsa e sim um chamamé.
Nisto a jovem segurou o moço pelo braço. Disse-lhe que precisavam ir.
- Sim senhorita! – respondeu o moço, meio atônito.
Com isto, o rapaz apresentou a moça as tradições gaúchas.
Contou sobre a vestimenta das prendas – as moças que são conduzidas pelos cavalheiros. Todas com roupas de época.
Josie ficou encantada com a beleza dos trajes, as danças, as músicas.
Olavo comentou que todos tinham que usar vestimentas adequadas as tradições. Ressalvou que o vestuário seguia regras especificas. Não era qualquer pilcha ou vestido que poderia ser utilizado nas apresentações do CTG (Centro de Tradições Gaúchas).
Curiosa, Josie perguntou o que queria dizer ‘pilcha’.
O rapaz, orgulhoso, respondeu que eram todos os elementos que compunham o traje típico gaúcho.
Para demonstrar mais dos costumes da terra, o moço tomou chimarrão.
Ofereceu a bebida para Josie.
A moça relutou em aceitar, mas Olavo insistiu.
Assim, a jovem experimentou a bebida.
Contudo, a julgar pela careta que fez, parece não ter gostado muito do sabor da bebida.
Olavo perguntou:
- Achou a bebida amarga, não é?
Josie um tanto sem jeito, respondeu que sim.
O moço comentou que geralmente na primeira prova, as pessoas não gostavam da bebida, mas que aos poucos, acabavam se acostumando com o sabor e até gostando da bebida. Animado, falou que talvez gostasse mais do tereré, que nada mais era, que um chimarrão servido gelado.
Nisto, foi servido um arroz a carreteiro, e churrasco gaúcho.
Josie comeu algumas das carnes servidas. De sobremesa, provou uma mousse de maracujá.
Durante o jantar, também foi servido um saboroso vinho gaúcho.
Enquanto as pessoas comiam, as apresentações continuavam.
Por fim, Olavo começou a dançar, trazendo Josie pela mão.
Ao perceber que todos olhavam em sua direção, a moça ficou constrangida.
Dizendo que não sabia dançar, tentou se desvencilhar da situação.
Mas não teve jeito.
Quando Olavo começou a dizer que ela estava decepcionando a todos, acabou deixando Josie sem alternativa.
O moço, percebendo o nervosismo da garota, comentou que a dança não tinha segredo, e começou a ensinar-lhe lentamente os passos da dança.
Argumentando que o cavalheiro é quem conduzia a moça, disse que ela não tinha como o que se preocupar.
Nisto, o casal começou a desenhar passos no salão.
Olavo disse-lhe que iriam explorar o salão. Passos para lá, para cá, volteios. Passos largos, longos.
Aos poucos Josie foi se acostumando com a dança.
Com isto, ao término da singela apresentação, foram aplaudidos.
Nisto foi jogada uma rosa, que Olavo pegou, beijou e ofereceu a Josie.
Alguns comensais, empolgados, começaram a dizer: “Beija, beija ...”.
Josie ficou sem graça.
Olavo, percebendo o constrangimento, segurou as mãos da moça, exibiu a palma de ambas, e abraçou a moça.
Depois, se afastando, segurou o rosto da moça e beijou-lhe.
Todos aplaudiram.
Josie aturdida, ficou surpresa com o gesto.
Sem reação, Olavo segurou-a pela mão, conduzindo-a novamente à mesa.
Por fim, o casal retornou ao hotel.
Com efeito, durante o jantar, muitos dos componentes do CTG foram conversar com o casal.
As moças diziam a Josie que ela era uma mulher de sorte.
Os rapazes diziam que fora uma bela dança, e que Josie era muito bonita.
Alguns comentaram que ele havia escolhido bem a namorada.
Olavo comentou que eles ainda não eram namorados.
Um gaúcho mais exaltado, comentou que ele estava muito devagar. Dizendo que o beijo exibido do salão já era um indício de um namoro, argumentou que a partir daquela noite já poderia se considerar um sujeito comprometido.
Olavo sorriu.
No hotel, antes de se despedir da moça, Olavo segurou sua mão, aproximou-se. Beijou-lhe o rosto.
Disse que precisavam conversar.
Josie porém, alegando sono, comentou que amanhã conversariam com mais tranqüilidade.
Nisto, aproximou-se do rapaz.
Pediu para se abaixar um pouco, para que lhe dissesse algo.
Olavo inclinou-se sobre ela.
Josie segurou-lhe o pescoço, e aproximando-se de seu rosto, beijou-lhe.
O moço ficou estático.
Com isto, a jovem deslizou a mão no rosto do rapaz, e respondeu suavemente que já era hora de dormir. Desejou-lhe boa noite.
Olavo ficou sem palavras.
Por fim, ao vê-la fechando a porta atrás de si, disse tchau.
Em seu quarto, Josie abriu seu caderno de anotações.
Lá estava a camélia que lhe fora dada de presente.
Olavo por sua vez, ao se dirigir ao seu quarto, encostou-se na porta. Tocou seus lábios. Ficou relembrando como num filme, a cena do beijo.
Entusiasmado, o moço demorou para pegar no sono. Ficou por longas horas rolando na cama.
Por fim, adormeceu.
Quando acordou, levantou-se triste.
Josie por sua vez, estava muito feliz. Em que pese o aperto no peito pela aproximação do fim da viagem, a moça estava feliz.
Ao despertar, tratou logo de tomar um banho.
Colocou uma blusa verde de manga comprida, um vestido preto de lã de mangas curtas, bota sem salto.
Pelo corredor, caminhou em direção ao quarto do moço.
Bateu na porta.
Olavo atendeu-a.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 25

Era uma missiva muito simpática do guia, relatando os eventos do dia.
Contava sobre a tradição da colheita das uvas, da cantoria, da alegria e dos festejos.
Olavo confidenciou que realizar aquele trabalho lhe trazia uma grande emoção, e que naquela tarde, as coisas haviam se desenrolado de uma forma muito especial.
Na correspondência prometeu que assim que fosse possível, entraria em contato com ela, e que quando visitasse São Paulo, iria descobrir onde ela morava.
Ao ler este trecho da carta, Josie achou graça. Afinal de contas, numa cidade composta de mais de onze milhões de habitantes, como ele conseguiria encontrá-la?
Por fim, Olavo se despedia com um abraço.
Ao terminar de ler a correspondência, a moça guardou o escrito em sua mala.
Cansada, tratou de trocar de roupa.
Tirou sua bota sem salto, a calça jeans, a blusa e o casaco que havia levado para o passeio e não usou.
Vestiu uma camisola e se deitou.
Exausta por conta do passeio, só foi despertar no dia seguinte.
Ao acordar, tratou de tomar um banho.
Vestiu uma calça jeans e uma blusinha de alça. Bota sem salto. Pegou sua bolsa e desceu para tomar o café-da-manhã do hotel.
Pegou mamão, iogurte de coco, queijo branco, risoles, suco de laranja, bolo de coco, e um croissant.
Estava faminta.
Depois disto, saiu para caminhar pela cidade.
Visitou um parque, e um museu com miniatura de palácios, aeroporto, vários trilhos com trenzinhos circulando, um lago com um castelinho isolado, réplicas de igrejas famosas no Brasil, e de outras construções encontradas mundo afora.
Josie ficou encantada com o lugar, e assim, com o passeio pelas vinícolas, e o passeio de trem, tirou muitas fotos.
A moça ficou deveras encantada com o lugar.
Após sair do lugar, procurou um lugar para almoçar.
Ao encontrar um restaurante de comida por quilo comeu arroz, carne, salada. Tomou suco de laranja, e comeu uma deliciosa sobremesa.
Quando retornou ao hotel, qual não foi sua surpresa ao descobrir que Olavo, havia ligado para ela e aguardava seu retorno.
Surpresa Josie acabou efetuando uma ligação de seu celular para o moço.
Curiosa, a moça perguntou-lhe como havia descoberto onde ela estava hospedada.
No que ele respondeu:
- Simples, minha cara! A cidade tem pouco mais de trinta mil habitantes. Procurei por você em todos os hotéis da cidade. Até encontrar uma Maria Josefa, oriunda de São Paulo, e com sua descrição física. Como fizeste o passeio só, acreditei que havia viajado sozinha. Daí para encontrá-la foi mais fácil.
- De fato! Encontrar uma Maria Josefa não deve ter sido tão difícil! Você é bastante insistente. – comentou ela entre risos.
Nisto Olavo respondeu que só era insistente quando o objeto de seu interesse valia a pena. Comentou então, que estava interessado em encontrá-la a tarde em Gramado.
Surpresa, Josie comentou que não daria tempo dele sair de sua cidade para encontrá-la em Gramado. Argumentou que só chegaria no final da tarde.
Olavo respondeu-lhe então:
- Ledo engano! Eu já estou em Gramado.
Ao ouvir isto, Josie ficou espantada:
- Como assim já está em Gramado?
Olavo explicou-lhe então, que assim que o ônibus em que estava partiu, passou a ligar para todos os hotéis e pousadas existentes na cidade. Disse que ficou a noite inteira ligando para os estabelecimentos, e antes mesmo de localizar o hotel em que estava, pegou seu carro e dirigiu até a cidade. Com isto, hospedou-se em um hotel do lugar, e continuou a procurá-la até encontrá-la.
Nisto, fez-se um silêncio de alguns instantes.
Preocupado, Olavo perguntou se ela ainda o estava ouvindo.
No que Josie respondeu que sim.
- E então? – insistiu o rapaz. – Vamos nos encontrar onde?
Josie pensativa. Até que respondeu:
- Podemos nos encontrar na Rua Coberta, em frente ao Palácio dos Festivais.
- Combinado! – respondeu o jovem. – Nos encontraremos por lá, por volta de meia-hora.
Josie concordou.
Com efeito, no horário combinado, a moça apareceu.
Olavo já a estava aguardando.
Logo que a viu, perguntou-lhe como estava, e se tinha fome.
Josie respondeu-lhe que havia acabado de almoçar.
Com isto, Olavo sugeriu-lhe fazer um passeio pela cidade. Convidou-a para passear pelos museus do lugar.
Josie concordou.
Nisto Olavo estendeu o braço direito, sugerindo que ela seguisse a sua frente.
Animado, Olavo comentou que gostava muito de passear pela cidade de Gramado, mas que fazia muito tempo que não visitava aquelas paragens.
Josie comentou que estava adorando conhecer Gramado, que a cidade era encantadora, assim como Canela.
Olavo perguntou-lhe se já havia visitado Canela.
Josie respondeu que sim.
Caminharam.
No Museu dos Perfumes, Josie descobriu que antigamente se utilizavam ervas com o fito de perfumar ambientes. Queimando-as, as mesmas espalhavam uma fumaça aromática. Do latim “per fumun”, de onde originou-se a palavra perfume.
Lá a moça avistou o perfume usado pela amante de Napoleão Bonaparte, fragrâncias envasadas em delicados e estilosos vidros, como o Eaux de Dali, Laguna, entre outros. Na estante envidraçada e repleta de perfumes, o famoso Chanel nº 5, entre outros frascos. Líquidos preciosos de variadas colorações.
Logo a seguir, uma delicada sala, com balcões e produtos a venda. Colônias, brincos perfumados, cosméticos.
Mais a frente, uma sala, com destiladores, frascos imensos de perfumes famosos, e curiosidades sobre o mundo dos perfumes. Como o poder de sedução dos perfumes utilizados por Cleopatra.
Josie ficou intrigada com o fato do famoso perfume Chanel nº 5 ser extraído de uma parte menos nobre de um animal. O qual conservado em álcool adquire um agradável aroma.
Olavo chegou a lhe dizer que da essência do óleo das rosas, foi que Avicena descobriu a famosa Água de Rosas.
Comentou também que quanto maior a quantidade de matérias-primas necessárias na confecção de um perfume, mais caro ele se torna.
Por isto que certos perfumes, como os feitos de fragrância de flores, por precisarem muitas vezes de toneladas de pétalas para serem produzidos, são tão caros. Disse que os perfumes de matéria-prima sintética são mais acessíveis, no que tange seus preços.
Comentou sobre as notas de saída, de coração e de fundo. Contou que as notas de saída são os primeiros aromas que sentimos ao abrirmos o frasco de perfume, as notas de coração são mais encorpadas e são sentidas quando o perfume entra em contato com a pele. Já as notas de fundo, são as últimas a serem percebidas, e são as que permanecem de forma mais duradoura na pele.
Animado, comentou que a classificação dos perfumes, dependem da concentração de elementos químicos existentes nos mesmos. Perfume seria então, um produto com maior concentração de extrato aromático, com menor quantidade de álcool.
A moça por sua vez, adorou as fragrâncias dos produtos vendidos.
Olavo aproveitou a ocasião para presenteá-la com uma colônia.
Josie tentou recusar, mas o moço, dizendo que a recusa o ofenderia, acabou fazendo-a aceitar o presente.
- Obrigada! – foi o que lhe restou dizer.
Nisto, o casal continuou o passeio.
Olavo segurou a sacola.
Enquanto caminhavam, o moço disse que o sul era um estado muito interessante, e que havia muita coisa a ser vista e documentada.
Josie concordou.
Argumentou que mais tarde precisaria por suas idéias em ordem para escrever uma matéria bem interessante sobre sua viagem.
Em alguns momentos do passeio, a moça pediu ao moço para pararem.
Comentou que precisava fazer algumas fotos.
- Além de jornalista, você fotografa!
Nisto, Olavo perguntou se poderia tirar uma foto dela.
Josie ficou um tanto surpresa com a pergunta.
- Mas por que uma foto minha?
Olavo perguntou que gostaria de ter uma recordação do passeio.
Josie concordou.
Olavo pegou seu celular e tirou uma foto da moça.
Depois, sugeriu que tirassem uma foto juntos.
Nisto o moço posicionou a câmera na direção de ambos e mais uma foto foi tirada.
Com o passar do tempo, Olavo tinha em seu celular várias fotos dele e de Josie juntos.
No final da tarde, o moço deixou a moça na entrada do hotel em que estava hospedada, recomendando-lhe que colocasse uma roupa mais quente, pois em cerca de uma hora, ele voltaria ali para buscá-la.
Sem perguntar se a moça estava com fome, disse que sairiam juntos para jantar.
Josie achou graça. Tentou argumentar que poderia pedir algo para comer no hotel, mas Olavo respondeu que ela estava intimada a jantar com ele.
Desta forma, a moça concordou com o convite. Dizendo que em se tratando de um cavalheiro ele era muito mandão, Josie fez com que Olavo risse.
O moço por sua vez, ao parar de rir, respondeu que não era mandão, apenas sabia o que queria.
E assim despediu-se da moça, cumprimentando-a e dizendo até breve.
Josie adentrou as dependências do hotel.
Achou graça no comportamento de Olavo.
Sozinha no quarto, começou a colocar no papel apontamentos dos passeios realizados. As curiosidades, os detalhes. Cuidadosamente, começou a escrever o esboço de sua matéria.
Detalhista, ficou observando as fotografias tiradas em sua câmera digital.
Precisava escolher quais fotos fariam parte da matéria. Não havia se decidido.
De tão entretida com o trabalho, não percebeu o adiantado da hora.
Nisto, ao notar que faltava meia-hora para as sete horas da noite, tratou de se arrumar. Precisava sair para jantar.
Abriu a janela do quarto para verificar a temperatura exterior.
Surpresa, notou que o ar estava frio.
Razão pela qual colocou um vestido de lã sobre o corpo, vestiu uma meia calça e colocou uma bota de salto.
Por cima do vestido, colocou um casaquinho.
Pensou desta forma, estar bem agasalhada.
Aspergiu um pouco do perfume que Olavo havia lhe comprado.
Quando colocava um par de brincos de contas brancas, recebeu um telefonema de Olavo.
A recepção do hotel, dirigiu a ligação para o ramal de seu quarto.
Josie agradeceu e atendeu o telefonema.
- Alô? – perguntou Olavo. – Está pronta?
Josie respondeu que sim.
- Está certo! Dentro de alguns minutos, vou estar na recepção te esperando. Até daqui a pouco! – respondeu o moço.
Nisto, Josie desligou o telefone.
Terminou de colocar os brincos, colocou o relógio, pegou sua bolsa. Retirou o cartão que acendia as luzes do quarto do terminal. Abriu a porta, e saiu.
Fechou a porta, e seguiu pelo corredor.
Desceu pelo elevador.
Ao se dirigir a portaria do hotel, percebeu que o moço já a aguardava.
Aproximando-se do rapaz, cumprimentou-o com beijos no rosto.
Perguntou se ele havia esperado muito.
- Acabei de chegar. – respondeu.
Nisto, Olavo segurou o braço da moça.
Feliz, comentou que havia percebido que ela estava usando o perfume que ele havia lhe oferecido de presente.
Josie sorriu para ele.
Saíram do hotel.
Olavo abriu a porta do carro para Josie.
Em seguida a moça entrou no veículo e colocou o cinto de segurança.
Olavo por sua vez, entrou do outro lado.
Dirigiu pela cidade.
Comentou que iriam jantar em um restaurante de comida italiana, e que Josie iria experimentar a culinária de seus antepassados.
Olavo disse que a comida italiana tem muito queijo, massa.
Josie ouvia Olavo falar da comida, da macarronada, do talharim, do ravióli, dos molhos.
Animado, o moço comentou que aquela era uma terra abençoada, que produzia as melhores uvas com as quais se podia trabalhar. Comentou que a colheita seria boa, e que por esta razão, certamente os vinhos produzidos seriam muito bons. Disse também que o modo de produção de muitas vinícolas da região era totalmente artesanal, e que os vinhos produzidos nesta safra, sofreriam um processo de maturação, somente sendo postos a venda, futuramente.
Curiosa, Josie perguntou se faziam um estoque de produtos.
- Temos que fazer! A produção de vinhos envolve um processo longo e delicado, se não nos prepararmos para isto, não teríamos o que vender!
Josie comentou por sua vez, que ele devia adorar seu trabalho.
Olavo então disse:
- Eu e minha eterna mania de ficar falando de trabalho. Tem tanta coisa mais interessante para se falar.
No que Josie respondeu:
- Não tem problema! Eu não me importo. Eu também tenho mania de ficar o tempo todo falando de trabalho.
Olavo riu. Argumentou que como passa boa parte de seu tempo se ocupando de cultivo das uvas, do fabrico dos vinhos e de outros produtos seus derivados, acaba concentrando boa parte de suas atenções em seu trabalho. Respondeu porém, que sabia tratar de outros assuntos. Comentou então, que estava adorando rever a cidade, e que não podia ter melhor companhia.
Josie sorriu. Agradeceu a gentileza.
Nisto, Olavo estacionou o carro. Ao ver que Josie retirava o cinto, pediu para que ela esperasse um pouco para sair do carro.
Assim, desceu do veículo parado, dirigiu-se a porta esquerda, e abriu-a para a moça.
Josie agradeceu o gesto, e desceu do carro.
Olavo então, conduziu a moça até a entrada do restaurante, onde foram recepcionados por um funcionário.
Daí, foram conduzidos até uma mesa.
Olavo pediu um vinho tinto suave.
Com o cardápio em mãos, Olavo escolheu um talharim, com cubinhos de filet e molho.
Josie pediu ravióli.
O garçom serviu as taças de ambos.
Olavo sugeriu um brinde a moça, para celebrar o momento.
Brindaram.
Josie comentou durante a conversa que travaram, que dali alguns dias, estaria rumando para Porto Alegre, para conhecer a cidade, seus atrativos e assim, finalizaria seu trabalho.
Olavo perguntou-lhe se ela gostava do que fazia.
Josie respondeu que sim.
Dizendo que desde que se entendia por gente queria ser jornalista, argumentou apenas, que não esperava se tornar uma jornalista de amenidades. Animada, comentou que em seus tempos de criança, e até mesmo na faculdade, imaginava-se trabalhando em um noticioso, em reportagens envolvendo política, assuntos econômicos.
Comentou porém, que quis as circunstâncias, que se tornasse especialista em comportamento, em amenidades.
Disse que antes de trabalhar em uma revista de turismo, escrevia e ainda escreve matérias sobre comportamento.
Curioso, Olavo perguntou que tipo de matéria.
Josie respondeu que fazia matérias pesquisando restaurantes, teatros, eventos culturais. Comentou que a última matéria que havia feito, junto com um fotografo, foi sobre a arte barista. Contou que visitou alguns cafés em São Paulo. Relatou que em alguns se pode ficar a tarde inteira lendo um bom livro. Alguns estavam conjugados com uma livraria.
- Mas você não faz a matéria e fotografa?
- Às vezes, eu também faço a fotografia. Há uns dois anos, eu fiz um curso de fotografia. Como eu sempre me interessei pelo assunto, resolvi me especializar. Com isto, amplio as possibilidades de trabalho.
Interessado no assunto, Olavo sugeriu que a moça visitasse mais uma vez o parreiral – propriedade de sua família – com vistas a realização de fotos no lugar.
Comentou que estava interessado em produzir um site sobre a empresa familiar. Relatou que já fazia alguns anos que pensava nisto, mas acabou deixando a idéia de lado. Argumentou que seu pai não via necessidade nisto, já que a propriedade era bem conhecida e os produtos também, não havendo por que despender dinheiro neste tipo de divulgação.
Olavo comentou então, que os tempos pediam este tipo de investimento, e que estava interessado em realizar fotos para colocá-las em um site. Falou que iria conversar com seu pai, mas que, independente disto, ela poderia fazer as fotos.
Josie indagou:
- Não seria melhor conversar com seu pai antes?
- Não é necessário. Pode fazer as fotos. Você será muito bem paga por elas. Quanto a isto, eu só gostaria de ver antes, algumas fotos que você tirou durante o passeio. É possível, Josie?
A moça concordou.
Nisto, os pratos foram servidos.
Simpático, Olavo disse que seu talharim estava magnífico. Chegou até a perguntar se Josie não gostaria de experimentar.
Educadamente a moça respondeu que não.
Olavo por sua vez, insistiu.
Dizendo que a comida estava deliciosa, argumentou que ela precisava experimentar.
Nisto, pegou um pouco de talharim, enrolou em um garfo e estendeu o alimento na direção do prato de Josie. Enquanto fazia isto, disse o talharim não devia ser cortado, e sim enrolado inteiro.
Sem jeito, a moça experimentou a iguaria.
Olavo perguntou então, se era ou não um belo talharim.
Josie limpou a boca com o guardanapo de tecido. Em seguida, respondeu que sim.
Olavo então, sem pudores, começou a fazer comentários sobre o ravióli que Josie comia. Elogiou o prato, disse que a comida tinha um ótimo aspecto e que parecia ser muito saborosa.
A moça, percebendo que ele queria experimentar a comida, pegou alguns raviólis com seu garfo perguntando se ele queria um pouco.
Fazendo um pouco de charme, o rapaz disse que ela não precisava se incomodar.
Josie respondeu que não havia nenhum problema.
Dito isto, ofereceu a comida para Olavo.
Colocou um pouco da iguaria no prato do moço.
Olavo então não se fez de rogado. Agradeceu e tratou logo de comer os raviólis.
Ao término da refeição, o moço perguntou-lhe se gostaria de uma sobremesa. Josie recusou.
Com isto, Olavo pediu a conta.
O garçom ofereceu um cafezinho que Olavo tratou de aceitar.
Conta paga, Olavo conduziu Josie até seu carro, realizando o mesmo gesto de abrir a porta.
Enquanto dirigia, perguntou a moça, se tinha algum passeio em mente, para fazer no dia seguinte.
Josie respondeu que estava pensando em dar mais uma voltinha pela cidade. Comentou que gostaria de conhecer mais sobre a cultura gaúcha.
Olavo por sua vez, comentou sobre as músicas gaúchas. Mencionou que existem vários tipos de danças e músicas, como vanerão, chamamé, entre outras. Animado, comentou que sempre que pode, procura ouvir músicas de seu estado.
Josie se lamentou dizendo que em São Paulo não existe uma cultura típica como no Sul, ou no Nordeste, regiões que preservam suas tradições. Comentou que como ali estão povos de todos os estados do Brasil e do mundo, a cidade acaba ficando com a cara de todos os lugares, e assim, sem identidade. Contou que admirava quem tinha carinho e cuidado em preservar sua cultura.
Olavo argumentou dizendo que São Paulo era um centro cultural, e que nem todos os lugares conseguem refletir tão bem a cultura de outros povos. Comentou que embora tenha visto lugares feios em São Paulo, a cidade não fica a dever em quase nada a capitais internacionais.
Curiosa, Josie perguntou se Olavo conhecia outros países.
O moço respondeu que conhecia Nova York, Montevidéu e Buenos Aires.
- Que interessante! – respondeu Josie. – Meu sonho é conhecer outros países. Espero um dia poder conhecer a América Latina, a Europa.
Simpático, Olavo respondeu que ela iria conhecer todos estes lugares.
Nisto o rapaz parou em frente ao lago da cidade. Em um mirante ficaram observando as luzes da cidade.
Olavo comentou então, que durante o Natal Luz, é apresentado um bonito espetáculo.
No que Josie disse:
- Não duvido!
Mais tarde, Olavo levou a moça de volta a seu hotel, prometendo um passeio para o dia seguinte.
Josie agradeceu o passeio, no que Olavo respondeu:
- Eu é que tenho que agradecer a linda noite que me proporcionaste! Até amanhã!
Josie entrou no hotel.
Em seguida Olavo rumou para o hotel onde estava hospedado.
Ao chegar na entrada do hotel, deixou a chave do carro na recepção, onde um funcionário do estabelecimento o colocou no estacionamento do lugar. Em seguida o moço pegou a chave do quarto.
Pegou o elevador.
Em seu quarto, deitou-se na cama e ficou por algum tempo pensando no passeio que fizera com Josie.
Nisto, recebeu uma ligação em seu celular. Era seu pai.
Otaviano ligou para o filho, preocupado com sua atitude intempestiva, de abandonar a colheita das uvas, para viajar sem motivo aparente para Gramado. Preocupado, perguntou o que estava acontecendo.
O moço respondeu então, que havia encontrado uma moça muito encantadora na excursão, e que não poderia perdê-la de vista, sob o risco de nunca mais tornar a vê-la. Razão pela qual arrumou apressadamente suas malas e viajou durante a noite para Gramado.
Surpreso, Otaviano comentou que Vilma, havia lhe contado a história, entre perplexidade e incredulidade, e que ele mesmo custou a acreditar no que estava ouvindo. Contou que acreditou se tratar de uma molecagem, como as que ele costumava fazer quando era mais novo.
No que Olavo respondeu que ele não precisava se preocupar. Que estava tudo bem, e que dentro em breve ele voltaria para a vinícola, acompanhado da moça. Contou que a havia convencido a tirar mais fotos dos parreirais e que criaria um site, divulgando o lugar, suas atrações e seus produtos.
Otaviano retrucou dizendo que não havia necessidade disto.
Seu filho respondeu que retornando para casa, conversariam sobre o assunto.
Nisto, Otaviano perguntou se estava tudo bem, e ouvindo uma resposta positiva do filho, tranquilizou-se. Em seguida passou o telefone para Vilma.
A mulher, aflita com a atitude do filho, perguntou se estava tudo bem, e pediu para que voltasse para casa, o quanto antes.
Sorrindo, Olavo disse que não tinha com o que se preocupar. Prometeu que daria notícias.
A seguir, despediu-se da mãe e desligou o telefone.
Sentado que estava na cama, tornou a deitar-se.
Voltou a pensar nas cenas da tarde.
No dia seguinte, o rapaz foi buscar a moça na porta do hotel.
Enquanto dirigia, contou-lhe que iriam visitar uma fábrica especializada na produção de óleos e essências, entre elas, produtos medicinais e a tão famosa rosa mosqueta.
Olavo confidenciou a moça que o óleo da delicada flor era utilizada para problemas de pele, dificuldade de cicatrização, formação de quelóides. Comentou que era bom para eliminar manchas, cuidar das estrias. Rosa da vitória, símbolo dos boêmios.
Josie achou graça. Comentou que ele era um ótimo guia, pois além de conhecer do fabrico de vinhos, entendia também de perfumes e de produtos de beleza.
Olavo por sua vez, respondeu que ela iria se surpreender ainda mais com ele.
Nisto, o casal dirigiu-se a fábrica.
Num bonito estabelecimento, Josie se encantou com o cuidado na produção dos óleos.
Percebendo o interesse da moça nos produtos, Olavo comprou um bonito frasco com essência de rosa mosqueta para ela.
Disse-lhe que era para deixar sua pele ainda mais bonita.
Josie agradeceu.
Observando o frasco, notou o quanto era belo.
Com efeito, o produto foi colocado em uma sacola com o logotipo da loja, e o moço efetuou o pagamento do produto no cartão.
Depois do passeio pela fábrica, caminharam um pouco pela cidade. Conheceram algumas malharias.
Almoçaram por lá e depois retornaram a Gramado.
Enquanto dirigia, Olavo perguntou a Josie se estava gostando do passeio.
A moça respondeu que sim.
No dia seguinte, depois de conversar com Josie, o casal dirigiu-se a vinícola.
Lá a moça foi apresentada a Otaviano e Vilma – os pais de Olavo.
O moço estava entusiasmado com o evento.
Fez questão de acompanhá-la em todos os lugares.
E assim, Josie tirou inúmeras fotos.
A moça impressionou-se quando o moço abriu uma garrafa de espumante com um sabre.
Olavo chegou a oferecer-lhe um pouco de champagne, mas Josie ficou preocupada com os cacos de vidro que poderiam estar na taça oferecida com a bebida.
Visando tranqüilizá-la, Olavo sorveu a bebida, para demonstrar-lhe que não havia cacos de vidros misturados com a bebida. Comentou que a pressão do espumante expelia qualquer caco de vidro que pudesse eventualmente cair no copo.
Josie então apreciou o espumante.
Olavo comentou animado, que aquela bebida estava sendo elaborada para talvez, no próximo ano, ser posta à venda.
Josie argumentou que guardaria o segredo.
Devido a insistência de Olavo, a moça permaneceu na propriedade.
Otaviano e Vilma foram muito simpáticos com Josie. Perguntaram se ela não era a turista que estava na excursão realizada na propriedade a poucos dias atrás.
Josie respondeu um pouco constrangida, que sim.
Nisto Vilma perguntou se eles já se conheciam.
Josie respondeu que só veio a conhecer Olavo, durante o passeio nas vinhas.
Otaviano comentou com gracejos, que a paixão devia ter sido fulminante.
Vilma bateu com o cotovelo no braço do marido.
Otaviano, percebendo então a indiscrição, pediu desculpas.
Dizendo que estava brincando, comentou a meia voz com Vilma, que nunca vira Olavo tão empolgado com uma garota.
Olavo também ficou sem jeito com a brincadeira do pai.
Nisto, conduziu a moça para um canto, dizendo que seu pai era muito brincalhão.
Em tom insinuante, comentou que ela era realmente muito interessante.
Josie riu.
Nisto ficou a contemplar o vinhedo, nos fundos da casa.
A moça estava extasiada com a beleza do lugar.
- Lindo, não? – perguntou o moço, oferecendo a Josie um copo com suco de uva.
Josie, pensando se tratar de vinho, agradeceu o oferecimento, mas recusou a bebida.
Olavo então, percebendo o engano, comentou:
- Isto não é vinho. É suco de uva. Pode ficar tranqüila que bebendo este líquido, não ficarás bêbada. Pode experimentar. É delicado e delicioso.
Josie resolveu então, aceitar a bebida.
Sorveu o suco de uva.
- Gostoso, não?
Josie concordou.
- Uma delícia! Muito bom! Você sente realmente o gosto da uva. Nem tem tanto açúcar e corantes e aromatizantes como os sucos industriais. Excelente! Parabéns, pelo trabalho.
Olavo agradeceu.
Mais tarde, Dona Vilma convidou o casal para almoçar.
Simpática, ofereceu a moça um belo macarrão. Comentou que havia preparado bolinhos de carne para acompanhar o prato e uma carne.
Josie aceitou que a mulher montasse seu prato.
Olavo e Otaviano se serviram.
Otaviano, ofereceu a moça, um vinho.
Dizendo que o produto era produzido em sua propriedade, comentou que ela teria uma boa oportunidade para saborear um ótimo produto.
Josie agradeceu o oferecimento.
Enquanto almoçavam, Otaviano perguntou a moça de onde ela era, se estava gostando do passeio.
Gentil e atenciosa, Josie comentou que morava em São Paulo, que era jornalista, e que sim, estava gostando muito do passeio. Contou que todos estavam sendo muito atenciosos com ela, e que com tanto paparico, já estava se sentindo uma princesa.
Otaviano e Vilma ficaram encantados com a educação da moça.
Mais tarde, Otaviano sugeriu a Olavo que mostrasse a Josie todos os recantos da propriedade.
Com isto, o casal passeou novamente de carroça pelas vinhas.
A moça adorou ficar observando os parreirais.
Encantou-se com as construções de pedra, os muros de pedras encaixadas.
Admirou as camélias que enfeitavam os caminhos por onde passavam, a adega, os tonéis de carvalho onde os vinhos eram envelhecidos.
Olavo contou que nos primórdios do processo de fabricação dos vinhos, as garrafas ficavam submetidas as condições climáticas da serra gaúcha, pois o frio auxiliava no processo de fermentação, fazendo com a levedura ficasse na boca da garrafa, sendo assim, eliminada com mais facilidade.
Comentou que da uva também eram produzidos remédios contra a azia, produtos famosos no mercado farmacêutico. O moço comentou também, que muitos dos vinhos produzidos no Brasil, eram produzidos em vinícolas localizadas na região serrana, principalmente na cidade de Bento Gonçalves.
Josie pediu a Olavo para colher algumas uvas.
Olavo atendeu prontamente o pedido.
E assim, enquanto Josie colhia algumas uvas, o moço comentou que para uma camponesa, era uma ótima jornalista.
Josie retrucou dizendo que ele era muito sem graça.
Olavo riu.
Com efeito, quando a tarde estava caindo, o casal retornou para casa.
Otaviano um tanto animado, comentou que o passeio devia ter sido muito bom. Indiscreto, comentou que nunca vira seu filho tão feliz.
Nisto Vilma ofereceu, um pouco de graspa.
Comentou que era um ótimo para ser tomado antes das refeições.
Olavo, ao perceber que Josie aceitara a bebida, pediu para tomasse cuidado, pois a mesma tinha um alto teor alcoólico.
Otaviano perguntou-lhe se havia tomado algo parecido.
Como Josie não entendeu a pergunta, o homem explicou-lhe que se tratava de uma espécie de cachaça da uva, de sabor muito forte. Comentou que era uma bebida que desce tranquilamente pela garganta, mas que ao chegar no peito, causa um forte impacto.
Olavo caiu na risada com a explicações do pai. Argumentou que de acordo com sua explicação, parecia que a pessoa estava bebendo um acidente de transito engarrafado.
Josie caiu na risada.
Sorveu um gole da graspa.
Preocupado, Olavo disse:
- Devagar! Isto é forte!
Josie então, percebendo o adiantado da hora, desculpou-se com Otaviano e Vilma, mas dizendo que precisava voltar para o hotel, comentou que precisava partir, ou então chegaria muito tarde em Gramado.
Quando Vilma ouviu tais palavras, argumentou:
- De jeito nenhum! Está muito tarde para a guria voltar para Gramado. E você meu filho, precisa ficar aqui.
Josie argumentou que não havia trazido roupa para pernoitar na propriedade.
Vilma retorquiu:
- Não seja por isto! Tenho algumas camisolas que usava quando era solteira, ainda guardadas. Como era magrinha quando mais nova, eu acho que devem servir em você guria. Portanto, nada de desculpas, você vai passar esta noite aqui.
Nisto, Josie olhou para Olavo, como que pedindo ajuda para recusar o convite.
Olavo porém, retornou o olhar como que dizendo que para as determinações de sua mãe, não haviam argumentos.
Nisto a mulher serviu o jantar.
Ciente de que a moça era oriunda de São Paulo, Vilma decidiu preparar um tutu de feijão, como arroz, couve, torresmo, entre outros ingredientes.
Emocionada, a moça adorou o agrado. Comentou que fazia tempos que não comia um prato típico de São Paulo. Disse que os mineiros adaptaram o prato, e criaram o tutu à mineira.
Josie então, bebeu suco de laranja com a refeição.
Agradeceu o cuidado.
Mais tarde, conversou um pouco com os pais de Olavo.
Otaviano comentou que tinha outro filho, mais novo que Olavo, estudando em Curitiba. Orgulhoso, confidenciou que o filho estava estudando enologia.
Nisto Vilma comentou que Olavo também era formado na área. Havia se preparado para aprimorar os negócios da família.
O moço aparteou então, dizendo que quem entendia e muito do assunto, eram seus pais, e que ele apenas tinha curiosidade em conhecer a parte teórica do assunto, que já fazia parte de sua vida, desde que se entendia por gente.
Brincando Vilma dizia que desde gurizinho, ele tomava parte dos negócios da vinícola, e que a propriedade fora adquirida a custa de muito trabalho do pai de Otaviano.
E assim a conversa foi seguindo, até que os pais de Olavo perguntaram se ela gostava de seu trabalho, se era interessante ser jornalista.
Josie comentou então, que era jornalista formada, que trabalhava em uma revista de viagens, que costumava fazer matérias sobre comportamento, e que havia feito um curso de fotografia.
Percebendo a curiosidade do casal, Josie mostrou-lhes algumas fotos tiradas no parreiral.
Nisto, Vilma mencionou que gostou muito das fotos tiradas no parreiral, e que não tinha visto a matéria sobre o passeio, mas que a julgar pelas fotografias, com certeza, ela escreveria uma ótima matéria.
Josie agradeceu o elogio. Desprovida de vaidade, comentou que procurava fazer o melhor possível.
Nesta oportunidade, Otaviano perguntou-lhe se Josie era realmente seu nome, ou apelido.
Sorrindo, a moça comentou que se chamava Maria Josefa, mas que ainda criança, a apelidaram de Josie, por ser mais curto, e segundo ela, menos feio.
Vilma retrucou então, dizendo que era um nome bonito. Pouco comum, forte, mas imponente.
Nome de matriarca, segredou.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 24

Josie, voltava de mais um dia de trabalho.
Mal via a hora de realizar a série de reportagens para a qual foi designada.
Iria visitar cidades turísticas, conhecer lugares aprazíveis.
Tudo por conta de uma revista especializada em turismo.
Iria indicar os lugares mais interessantes para serem visitados, conhecidos.
Suas colegas de trabalho disseram-lhe que havia tirado a sorte grande, pois iria vincular o trabalho a diversão.
Lucineide vivia chamando-a de sortuda.
Com isto, Josie, ficava a contar os dias e as horas para tal evento. Estava deveras animada.
Já havia preparado sua mala com roupas de frio. Estava com tudo pronto.
Passagens compradas.
Só faltava embarcar na aeronave e rumar para o seu destino.
Medeiros, o editor da revista, lhe fez uma série de recomendações.
Mencionou que não estava ali para se divertir, mas para trabalhar.
Contudo, em que pese este fato, havendo uma folguinha, Medeiros comentou que poderia aproveitar para curtir os lugares por onde passasse.
Irônico, chegou a lhe sugerir que tivesse juízo.
Nisto, enquanto o dia tão esperado não chegava, a moça continuava a executar seu trabalho.
Realizava matérias sobre comportamento.
Recentemente realizou uma matéria sobre os cafés da cidade de São Paulo.
Conversou com baristas, e gente especializada em oferecer cafés incrementados a seus clientes.
Admirada presenciou a elaboração da mais famosa bebida do país, das mais diversas formas: com sorvete, com creme, decorado, com canela em pau. Um espetáculo para o paladar e para os olhos.
E assim, a moça dava prosseguimento a sua rotina.
Quando finalmente chegou o dia da viagem, chamou um táxi.
Estava impecavelmente trajada com um sobretudo azul marinho, e um belo vestido de manga comprida por baixo. Usava botas de cano alto de salto. Ao descer do táxi, conduziu sua mala de rodinhas, e colocou sua bolsa marrom sob um dos ombros.
Adentrou as dependências do aeroporto, fez o check in, e depois dirigiu-se a sala de embarque.
Após cerca de quarenta minutos, entrou na aeronave.
Sentada em sua poltrona, pode observar a pista, parte da trajetória percorrida pelo avião para decolar.
Viu as nuvens.
Nas alturas, avistou o relevo, a vegetação, as construções.
Quanto mais o avião alcava vôo, mais as imagens se pareciam com imagens de satélite.
Josie, cada vez que viajava de avião se deleitava com essas imagens.
Munida de uma câmera com um potente zoom, a moça tentou fotografar a geografia da cidade de São Paulo, vista das alturas.
Aceitou o refrigerante oferecido pela comissária de bordo.
Quando o avião aterrissou, tratou logo de descer da aeronave e se dirigir ao salão de desembarque, com vistas ao recolhimento de sua mala.
Em seguida, saiu do aeroporto, utilizando um táxi.
Destino, a rodoviária da cidade.
De lá pegou um ônibus em direção as serras.
Durante a viagem, apreciou a visão de casinhas nas montanhas, de araucárias.
Como estava um pouco frio, a moça aproveitou para dormir um pouco. Recostou-se no banco e adormeceu.
Ao chegar na pequena cidade serrana, pegou a mala que estava guardada no bagageiro do ônibus. Novamente chamou um táxi, seguindo até o hotel.
Ao chegar na recepção do hotel, preencheu uma ficha de atendimento.
Um funcionário do hotel a conduziu até seu quarto, juntamente com sua mala.
Ao adentrar o ambiente, percebeu que era confortável e aquecido.
Nisto, agradeceu o funcionário, que retirou-se.
Em seguida, retirou suas roupas da mala.
Depois, saiu do hotel e tratou logo de procurar um restaurante para almoçar.
Estava faminta.
Comeu avidamente seu filet ao molho madeira, acompanhado de vinho tinto.
Mais tarde saiu para caminhar pela cidade.
Atenta, tirou algumas fotos do passeio público, dos prédios, da prefeitura, das construções em estilo alemão.
Josie, que não conhecia o sul do país, ficou encantada com a cidade.
A noite foi procurar um restaurante para jantar. Estava faminta.
Comeu macarrão e tomou suco de laranja.
A certa altura, começou a fazer anotações sobre as impressões que tivera a respeito da cidade.
Por fim, comeu uma sobremesa e pagou a conta.
No dia seguinte, a moça continuou suas incursões pela cidade. Visitou lojas, conheceu museus.
Chegou até a fazer algumas compras.
Por fim, contratou os serviços de city tour pela pequena cidade serrana.
Visitou também a cidade vizinha.
Igualmente arborizada, cheia de lojas e restaurantes charmosos.
Na praça principal da cidade, uma imponente igreja de pedra. Magnífica.
Muitas fotografias tiradas com sua câmera profissional.
Conversou com alguns lojistas.
Ficou impressionada com a limpeza dos banheiros públicos, com o fato de não existirem faróis, e com o fato de os carros pararem, quando os pedestres atravessam na faixa.
Josie já estava se sentindo parte das cidades da região.
Com isto, cobriu o evento cinematográfico da cidade onde estava hospedada.
Contratou também, um passeio pela região vinícola.
No trajeto de ônibus, avistou cidades, construções em estilo germânico, muito verde.
Nas regiões rurais, plantações de verduras, casas de pedra, gado.
Antes de passarem pela primeira vinícola, enfrentaram uma estreita estrada de terra.
Ao longo da estrada, avistaram casas de madeira, crianças brincando e acenando.
Ao longe um muro de pedra, realizado com as peças devidamente encaixadas, sem argamassa.
Mais longe estavam os verdejantes parreirais, e as árvores utilizadas nas estruturas dos mesmos, para a sustentação das uvas.
Tudo muito lindo, muito verde.
Por fim, o ônibus de turismo parou em um lugar cheio de construções de pedra.
Em um dos caminhos, cujo calçamento era feito de pedras, como as ruas das cidades serranas por onde Josie passou, lindas camélias vermelhas, com nuances amareladas, ladeavam o caminho.
Encantada, a moça começou a tirar fotos do lugar.
Por fim, ouviu as explicações da vinhateira.
A mulher pacientemente explicou sobre os produtos retirados da uva, do vinho seco.
Do fato de que vinho suave, é um vinho temperado de açúcar.
Descobriu que da uva colhida do pé, é extraído um delicioso suco de uva. Consistente, saboroso, o qual só se diferencia dos melhores vinhos, pelo simples fato de não possuir álcool.
A vinhateira também explicou que dois produtos medicinais são extraídos da uva, os famosos Eno e Sonrisal. Sal de frutas.
Argumentou que um cálice de vinho diário traz muitos benefícios para a saúde.
Mencionou a origem da cachaça de uva, bagaceira, também conhecida como grapa, ou graspa. Com teor alcoólico de 45%.
Na degustação foram oferecidos, vinho tinto seco, vinho branco, suave, uma espécie de conhaque de uva, a famigerada graspa, e o maravilhoso suco de uva.
O local era composto de pequenos barris, entre alguns instrumentos utilizados na destilação da uva. Lugar escuro.
A vinhateira explicou que antigamente, se amassavam as uvas com o pé.
Do lado de fora, o sol, e um imenso parreiral.
Caminhando pela propriedade, a moça se deparou com antigos instrumentos de trabalhos, casinhas de madeira.
Até chegar a loja de produtos da propriedade.
Muitos vinhos, lembranças, cosméticos feitos com uva.
No local é oferecida uma pequena degustação com embutidos como queijos, salames.
O segundo local de visitação, foi uma vinha industrializada.
No entorno, muitos parrerais, verdejantes. Árvores servindo de sustentáculo as vinhas.
Vinícola com um imponente pórtico de entrada.
A frente da construção, alguns jardins. Ao lado, alguns prédios.
Ao entrar em um dos galpões da vinícola, Josie se deparou com imensos barris de madeira, carvalho. Barris de gigantescas dimensões, com vários metros de altura.
Na parte inferior dos barris, uma pequena abertura por onde os homens passavam para fazer a limpeza interna dos barris.
De acordo com o expositor, processo longo e demorado.
Daí a substituição dos imensos barris de madeira, por imensos barris de inox, que também possuem vários metros de altura.
Conforme explicações, tal estrutura não altera a composição química dos vinhos, possuindo barris imensos com capacidade de milhões de metros cúbicos.
Tudo para a confecção dos melhores vinhos e produtos da vinícola.
O expositor, apresentou alguns dos produtos apresentados na vinícola.
Mostrou uma sala com vários pequenos barris de madeira.
Contou sobre os elementos que podem compor um bom vinho, como frutas cítricas, brancas, vermelhas, entre outros elementos.
Comentou que durante a degustação, os visitantes poderiam apreciar um bom vinho, sentir seu aroma e visualizar os elementos constantes em sua fórmulas. Argumentou que um pouco de atenção, é possível perceber alguns dos elementos que entram na composição do vinho.
Mostrou a cave e o modo como os produtos vinícos são fabricados.
O modo como as garrafas são acondicionadas. Sempre deitadas.
O expositor explicou o processo de envelhecimento dos vinhos.
Argumentou que os bons vinhos são envelhecidos, e que a qualidade de um bom produto viníco, também depende da qualidade das uvas e da realização de uma boa colheita.
Falou sobre a formação de uma levedura, a qual fermenta e vai parar na boca da garrafa, sendo posteriormente retirada.
O expositor mostrou alguns dos vinhos produzidos na região. Algumas garrafas imensas.
Enquanto isto, os turistas, entre eles Josie, caminharam pela cave.
No caminho até o local da degustação, se depararam com caixas para o acondicionamento de garrafas de vinho.
Na degustação, mesas ricamente decoradas, seis taças justapostas.
Nas taças foram colocadas várias modalidades de vinho.
O primeiro vinho degustado, foi um vinho branco, de sabor ácido, e que segundo o expositor, deveria ser servido acompanhado de peixe, ou carne branca.
Nisto, pediu para todos inclinarem a taça, e a balançarem levemente, a fim de sentirem o buquê, o aroma do vinho.
O expositor perguntou aos visitantes, se estavam sentindo o aroma o gosto das frutas cítricas de polpa branca.
Em seguida, foi degustado um vinho tinto, de sabor mais suave.
Quanto a este vinho, o expositor explicou que se trata de um vinho mais delicado, que acompanha bem carnes mais suculentas, vermelhas.
Novamente perguntou se os visitantes notavam a presença de frutas vermelhas.
Novos vinhos foram servidos. Vinhos tintos, de sabor mais ácido.
Por último, foi servido um espumante suave.
Durante a degustação dos vinhos tintos mais secos, foi servido um queijo.
Finalizando a exposição, foi dito que todos os produtos ali produzidos, atendem os mais rigorosos pré-requisitos, no que tange a qualidade.
Nisto o expositor se retirou, e os visitantes se dirigiram a loja onde os produtos vinícos eram vendidos. Vinhos, cosméticos feitos à base de uva.
Em seguida, os visitantes foram conduzidos a um restaurante, onde almoçaram.
Comeram carnes, arroz, sobremesas.
Mais tarde realizaram um passeio de trem, embalado por muitas canções italianas, dramatizações.
Uma belíssima paisagem verdejante, construções de pedra, em estilo alemão.
Paradas em antigas estações de trem.
Degustação de vinhos produzidos em vinícolas de região, espumantes, suco de uva.
Durante a degustação, foi dito que somente os vinhos que atendem os pré-requisitos dos produtos produzidos na região da França, possuem o nome de Champagne, e podem ser classificados com este nome.
Fora isto, são meros espumantes, não se tratando de champagne propriamente ditos.
Durante o trajeto de ônibus, foi explicada a existência de uma grande vinícola, a qual é produtora de conhecidos vinhos vendidos em quaisquer supermercados de São Paulo. Produtos bem conhecidos.
Mais tarde os turistas foram levados para outra vinícola da região, onde foi possibilitado para quem tivesse interesse, colher um cacho de uva.
O vinhateiro, filho do dono da vinícola, conduziu os visitantes ao parreiral.
Josie se interessou na colheita.
Com isto o jovem explicou que antigamente a vindima – colheita da uva – era feita por grupos de pessoas. Colhiam uva por uva no parreiral.
Cantavam suas cantigas.
Nisto, o rapaz explicou que os italianos que rumaram para aquelas paragens, vieram em busca do sonho de prosperar em terras estrangeiras. De fazer a América, e que o Brasil fora conhecido como a terra das oportunidades.
Contudo, conforme explicou, não foi bem isto, o que ocorreu.
Isto porque, os italianos foram utilizados como mão de obra barata no lugar dos negros libertados da escravidão, e muitos não conseguiram realizar seu sonho de prosperar.
Animado, o moço explicou que ali no sul, havia a preocupação em ocupar as terras, com medo da invasão estrangeira, principalmente espanhola. Por conta disto, foram oferecidas terras aos primeiros italianos que por ali chegaram.
Com isto, os italianos que chegaram, primeiramente trataram de plantar, de produzir o alimento necessário a sobrevivência. Depois se ocuparam de construir casas para morarem.
Com isto, passaram a morar dentro de árvores. Abriam o tronco e faziam das árvores suas moradas provisórias.
O guia por sua vez, comentou que alguns italianos chegaram a morar por alguns anos no tronco das árvores.
Mostrou posteriormente algumas casas de pedras, muro de pedras.
Josie realizou então a colheita, como nos primeiros tempos. Colheu a uva de um cacho, munida de uma tesoura.
Lúcio, o guia, comentou que ali o modo de colheita das uvas, é todo artesanal.
Gentil, o moço auxiliou-a no corte do cacho de uva.
Para chegar ao local, foram conduzidos em um carrinho, o qual percorreu estradas de terra, caminhos tortuosos.
Josie achou divertido o sacolejar do passeio.
Os turistas também puderam apreciar, o modo artesanal de se esmagar as uvas, tirando os sapatos.
Não sem antes, realizar uma assepsia nos pés.
Depois era só pisar as uvas em um barril de madeira.
Neste momento, surgiram moços vestidos de calças compridas e camisas xadrez, e moças de vestido comprido. Cantavam e dançavam canções italianas.
O guia comentou sobre a graspa, a cachaça da uva, da qualidade das uvas. Do quanto os fatores climáticos influenciam a qualidade das uvas, e por conseguinte, dos vinhos. Comentou que em época de chuvas ou de sol muito intenso, a qualidade das uvas é inferior. Mencionou também que existem diversas espécies de uvas e que cada uma delas tem um finalidade distinta.
Divertido, disse que muitos italianos costumam tomar a graspa misturada com o café. Uma gotinha da bebida no café, mas que outros preferem uma gotinha de café na graspa.
No momento da degustação, sugeriu que os copos fossem trocados, de acordo com as bebidas que eram servidas. Argumentou que o sabor de uma bebida interfere na outra.
Assim, sugeriu que a bebida fosse sorvida em um generoso gole.
Por fim, Josie acomodou-se em um canto da propriedade e ficou contemplando a paisagem.
Um imenso mar de parreirais a se perder de vista.
Nisto, o guia se aproximou para puxar conversa. Perguntou de onde ela vinha.
Josie respondeu:
- São Paulo.
- Que interessante! Conheço São Paulo! Já estive lá a trabalho. É uma cidade enorme. Assusta um pouco a gente. – comentou Olavo.
- São Paulo é grande sim. Mas só assusta no começo. Depois que a gente conhece, depois que a gente descobre seus encantos, tudo fica mais fácil.
- Concordo! Mas foi difícil descobrir seus encantos. Apanhei um bocado. Mas... não dá para negar, apesar do que dizem, é um lugar muito bonito. São Paulo tem lugares incríveis para se visitar: monumentos, teatros, museus. – prosseguiu Olavo.
Nisto, percebendo que a ainda não sabia o nome da moça, perguntou-lhe:
- E a guria, como se chama?
Sorrindo, Josie respondeu:
- Me chamo Maria Josefa. Mas pode me chamar de Josie. É como eu prefiro.
- Maria Josefa. Nome forte!
- Nome feio, você quer dizer! – comentou Josie.
- Não necessariamente. É nome de mulher forte. De gente determinada.
Josie achou graça. Comentou:
- Isto pode ser. Por que tudo o que eu quero eu consigo. Ainda que eu tenha que ir a luta.
- Uma mulher que não foge à luta. Bravo.
Olavo, então, resolveu perguntar com o que Josie trabalhava.
A moça respondeu-lhe então, que era jornalista, e que aquela viagem fazia parte de seu trabalho. Mencionou que aqueles passeios seriam matéria de uma revista de turismo, na qual trabalhava.
- Que interessante! Eu Olavo, trabalho como guia na vinícola de minha família. Um trabalho que envolve turismo, e você lidando diretamente com turismo. Deve conhecer o Brasil inteiro!
- De certa maneira, sim. Conheço Brasília, Goiás, Rio de Janeiro, São Paulo – é claro, Minas Gerais, Santa Catarina, e agora estou conhecendo um pouco do Rio Grande do Sul. – respondeu a moça, de forma simpática.
- Tu estás gostando? – perguntou o guia.
- Sim. É uma região muito bonita.
- Concordo. Não é por estar em sua presença, mas o sul é lindo.
Mais tarde os turistas foram convidados a degustarem os produtos caseiros produzidos na vinícola, como queijos e alguns salames. Com isto, novamente foram servidos vinhos.
Josie comprou algumas garrafas, bem como alguns cosméticos feitos com diversas qualidades de uvas da vinícola.
Ao término do passeio, Olavo chamou-a em um canto.
Pediu-lhe para que assim que tivesse uma oportunidade, tornasse a visitá-los, voltando ao Sul, pois seria um prazer recepcioná-la.
Josie, impressionada com a gentileza, agradeceu.
Nisto o moço perguntou-lhe onde estava hospedada.
Espantada com a pergunta, Josie respondeu que estava em um hotel localizado em outra cidade, não muito próxima da região vinícola.
Curioso, Olavo pediu para que ela lhe dissesse onde estava hospedada.
Sem jeito, Josie disse que estava hospedada em um hotel da cidade de Gramado, por apenas alguns dias. Acabou deixando escapar que ficaria alguns dias na capital do estado também.
Nisto o guia retrucou:
- Você não vai mesmo me dizer onde está hospedada, não é? Tudo bem, não tem problema, eu descubro. Não precisa se preocupar!
Josie achou graça.
Nisto o guia lhe entregou uma carta, e pediu para que somente a lesse quando chegasse no hotel em que estava hospedada.
A moça mais uma vez agradeceu a hospitalidade e se afastou.
Neste momento, um dos visitantes que a acompanhava, pediu para que se dirigisse até o ônibus pois o mesmo partiria em alguns minutos.
Olavo por sua vez, disse tchau a ambos.
Discretamente, ficou de longe, a olhar a partida do mesmo.
Nisto, Josie se acomodou em um dos bancos, e durante algum tempo, ficou observando a paisagem.
Por fim, acabou adormecendo.
Somente foi despertar quando o ônibus já estava chegando na cidade, que nesta época do ano, estava quente e convidativa.
Ao chegar ao hotel, a moça, entrando em seu quarto, pegou a carta que havia guardado em sua bolsa marrom e passou a lê-la.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 23

Durante a estada no país portenho, o casal passeou por lugares históricos, praças, monumentos, freqüentou bons restaurantes, dançou.
Cecília sempre impecavelmente trajada, assim como o moço.
Ao retornarem ao Uruguai, levaram as lembranças de uma bonita viagem.
Em seus passeios, compraram algumas lembranças para os garotos, que ficaram encantados com os presentes. Também comentaram detalhes da viagem para os meninos: os passeios que fizeram, os monumentos que visitaram.
Nesta época, Francisco contava com sete anos, Eli tinha nove.
Fabrício por sua vez, retornou uma última vez ao Brasil.
Ao retornar ao escritório onde trabalhava, pediu demissão, para espanto de seu chefe que tentou a todo o custo, demovê-lo da idéia.
Em vão, posto que Fabrício argumentou que havia recebido uma proposta de emprego no México, onde ganharia três vezes mais.
Seu chefe, sem ter como cobrir a proposta, aceitou o pedido de demissão do moço.
Fabrício aproveitou também, para visitar os pais.
Comunicou-lhes que passariam um longo tempo sem vê-los, tendo em vista que se mudaria para o México, mas que assim que pudesse, entraria em contato com eles, nem que fosse através de carta.
Carlos, surpreso com a novidade, perguntou-lhe em qual empresa mexicana trabalharia.
Fabrício respondeu-lhe que não lhe diria o nome da empresa e tampouco da cidade para onde iria. Comentou que era segredo, e que somente poderia contar quando estivesse instalado no lugar.
Carlos não se convenceu dos argumentos do moço e iria insistir em suas perguntas, não fosse a intervenção de Angélica que lhe pediu para que parasse de inquirir Fabrício.
Angélica respondeu que o moço quase não os visitava e que ficar insistindo naquela conversa, só faria com que ele se afastasse mais. Afinal de contas, se ele não queria dizer para onde ia, era porque tinha os seus motivos.
Fabrício sorriu para a mãe.
Com isto, desembaraçado de seus compromissos, o moço rumou para o Uruguai, de onde não se afastou mais.
Ao chegar na mansão, comentou que ele não tinha mais vínculos com o Brasil.
Informou que havia pedido demissão.
Cecília perguntou-lhe o que faria no Uruguai.
O moço respondeu-lhe trabalharia nas mesmas atividades em que trabalhou no Brasil.
Apenas com a diferença de que seria seu próprio chefe.
Com isto, começou a dar início a um escritório de advocacia, cuja fama chegou ao Brasil.
Fabrício se tornou um doutrinador, citado até por juristas no Brasil.
Desta forma, aumentou se patrimônio, atuando em causas de vulto.
A propósito...
A família aumentou, com a chegada de uma filha, de nome Carolina.
Cerca de três anos mais tarde, Fabrício enviou uma carta aos pais, explicando-lhes o seu sumiço, bem como lhe participando a informação de que havia se casado com Cecília e tiveram uma filha.
Pedro, ao tomar conhecimento disto, ficou perplexo. Como ela conseguiu se separar dele sem o seu conhecimento?
Anos mais tarde, Pedro descobriu o documento enviado para ele anos atrás, em meio aos seus pertences.
Sua namorada na época recebeu a correspondência, a qual deixou em meio a suas coisas, mas ele não se interessou em abri-la.
Estava tão envolvido em bebedeiras que não se preocupou com o assunto.
Carlos por sua vez, ao tomar conhecimento das segundas núpcias de Cecília, censurou-a chamando a moça de oportunista e aproveitadora.
Angélica fuzilou-o com os olhos.
Por este motivo, o casal ficou semanas sem se falar.
Até que se entenderam.
Não sem protestos de Angélica que dizia que ele afastou Fabrício dela.
Anos mais tarde ela comentou que ele não poderia continuar sendo tão duro. Disse-lhe que eles morreriam e não haveria quem cuidasse dos seus funerais.
Carlos criticando-a, disse-lhe que não precisava exagerar.
Angélica retrucou dizendo que não estava exagerando. Argumentou que o tempo passava depressa, e mais cedo ou mais tarde eles iriam embora.
Triste respondeu que não gostaria de morrer sem ver o filho, nem que fosse só mais uma vez.
Tempos mais tarde, Irineu, mais compassivo, visitou a filha, ao lado de sua esposa.
Eleanor chorou ao ver a filha feliz, ao lado de seu novo marido.
Paparicou o quanto pode os netos, e principalmente, a neta.
Eduardo e Roseli, com o filho Samuel, também visitaram o casal.
O garoto nesta época já tinha quase quatro anos.
Márcia, casada com Vinícius, já tinha um filho de nome Antonio.
Fabrício só se ressentia da ausência dos pais, mas Cecília temerosa, se recusava a voltar ao Brasil.
Ainda temia que Carlos pudesse lhe tirar a guarda dos filhos.
Argumentava que se tratava de um homem poderoso.
E assim, nunca retornou ao Brasil.
Muitos anos depois, Angélica visitou o filho.
Foi a última vez que viu Fabrício.
Meses depois, faleceu.
Quando Fabrício soube do ocorrido, ficou desolado.
Carlos sentiu muito a perda.
Ainda assim, providenciou a abertura do testamento da esposa e comunicou ao filho, por meio de um advogado.
Cecília havia deixado metade do patrimônio que recebera dos pais para ele, e a outra metade para Pedro.
Fabrício, ao tomar conhecimento do falecimento da mãe, voou para o Brasil, mas não conseguiu acompanhar o funeral.
A ele restou o consolo de visitar o túmulo de Angélica e depositar algumas flores.
Também encomendou uma lápide, onde mandou inscrever que ela fora uma mulher venturosa por haver encontrado um homem amoroso, e que ele fora abençoado por ser seu filho.
Fabrício tentou conversar com o pai, mas Carlos se recusou a recebê-lo.
Ao retornar ao Uruguai, tentou convencer a esposa a retornar ao Brasil, mas Cecília se recusava.
Os filhos crescidos, já haviam se casado e a moça argumentou que não iria abandoná-los.
A própria Carolina já havia constituído família.
Casou-se aos dezoito anos.
Anos depois deu a luz a uma filha.
Quando a menina nasceu, Carolina e Heitor já estavam instalados no Brasil.
A criança, filha de uruguaios, nasceu no Brasil.
Ainda assim, Cecília permaneceu no Uruguai.
Com o tempo Cecília e Fabrício, acabaram perdendo o contato com o casal.
Isto por que Heitor se envolveu com o movimento estudantil, e precisando se esconder, não pode dizer onde estava.
Como Carolina não retornou ao Uruguai, Cecília morreu sem ter notícias da filha.
A moça não escrevera para a mãe.
Cecília morreu com cerca de setenta anos de idade.
Cecília e Fabrício por sua vez, venderam o imóvel que tinham na cidade praiana e rumaram para a capital.
Como o imóvel tinha comprador certo e o casal precisava de dinheiro rápido, acabaram por se desfazerem do mesmo.
E assim, o contato foi perdido.
Com relação a este fato, por diversas vezes Fabrício tentou localizar a filha, sem êxito.
Angustiado, o casal chegou a pensar que Carolina e Heitor pudessem ter sido presos e estarem sofrendo torturas.
Esta era a maior aflição de Cecília.
Fabrício por sua vez, temia por algo pior.
Porém, percebendo o desespero da mulher, procurava poupá-la de suas conjecturas.
A todo o momento procurava consolá-la. Dizia que devia estar tudo bem.
Fabrício argumentava que notícias ruins chegavam rapidamente. Caso tivesse ocorrido algo com o Carolina e Heitor, saberiam pelos jornais.
Cecília porém respondeu que o Brasil estava vivendo sob a égide da ditadura militar, e que os jornais do país, estavam censurados.
O homem não soube o que dizer.
Fabrício por sua vez, desencantado com a morte da esposa, retirou-se do país.
Deixou seu patrimônio para os filhos e partiu para o Oriente.
Envolvido em atividades de engenharia, resolveu investir nestas atividades no Oriente Médio.
Com efeito, Heitor precisou sair de São Paulo, onde ficou alguns meses em um sítio de um conhecido seu.
Cecília e Fabrício, não chegaram a saber que Carolina havia tido uma filha.
Maria nasceu tempos depois, em um tempo mais calmo.
A moça cresceu. Formou-se em jornalismo.
Anos depois, morando em seu próprio apartamento em São Paulo, longe dos pais, Maria tomou conhecimento do acidente que envolvera Carolina e Heitor, causando a morte de ambos.
Não fosse o apoio dos amigos, e Maria tivesse talvez, desistido de continuar em Sampa.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 22

No café-da-manhã, Cecília recomendou aos filhos que se alimentassem bem.
Em seguida, Jurema acompanhou os meninos ao colégio.
Cecília ficou sozinha em casa.
Fabrício, ao levantar-se, arrumou-se e conduziu seu carro pelas ruas da cidade.
Ao chegar na casa de Cecília, estacionou o carro na rua, abriu o portão que permanecia encostado, e entrou no jardim da casa.
Alcançando a sala da casa, deparou-se com Cecília sentada em um sofá, segurando uma revista nas mãos. Estava distraída.
Tanto, que não percebeu sua presença.
Fabrício aproximou-se vagarosamente.
Quando Cecília notou que Fabrício ocupava a sala, assustou-se.
O moço, pedindo para a moça não fugir dele, pediu para que ela lhe desse uma resposta definitiva. Argumentou que estava cansado de viver em eterna incerteza, no tocante a possibilidade de ficarem juntos.
Cecília gaguejando, respondeu que não sabia o que dizer.
Ao ouvir estas palavras, Fabrício pressionou a moça.
Retorquiu dizendo que não aceitaria evasivas.
Aproximando-se da jovem, agachou-se e novamente segurou suas mãos.
Perguntou-lhe o por quê de não ficarem juntos. Indagou se ela não o achava interessante, digno de atrair o interesse de uma mulher.
No que Cecília retrucou dizendo que não era nada daquilo.
Fabrício insistiu em saber o que os impedia de ficarem juntos.
Cecília ficou sem palavras.
Ao constatar a hesitação da moça, Fabrício perguntou-lhe se ela não gostava nem um pouquinho dele.
A moça constrangida, respondeu que ele era uma pessoa especial.
Nisto, o casal ficou conversando.
Fabrício respondeu-lhe que a cada dia que passava, ficava mais impressionado com a determinação e coragem da moça. Disse que além de bela, era sim, uma pessoa especial.
Cecília respondeu que não tinha nada de excepcional em sua conduta. Argumentou apenas que tivera que cuidar de sua família, já que Pedro os abandonara.
E assim, a moça reafirmou sua decepção com Pedro.
Respondeu desolada, que gostaria muito de se separar dele.
Em um momento de distração do moço, Cecília perguntou:
- E você? Me promete que não vai deixar meus filhos sozinhos? Promete me ajudar a me separar de Pedro?
Fabrício, sem compreender exatamente o que a moça queria dizer com aquelas palavras, prometeu ajudá-la.
Cecília então, olhando nos olhos do moço, depois de ficar algum tempo pensativa, respondeu:
- Então ... está bem! Eu aceito! Concordo em me casar com você.
Fabrício ficou em êxtase.
Por um instante, não acreditou no que seus ouvidos ouviam.
Cecília, percebendo o ar de espanto do moço, perguntou se ele havia entendido o que ela dissera.
Ao voltar a si, perguntou-lhe se poderia abraçá-la.
Cecília concordou.
Fabrício então, abraçou Cecília.
Apoiando sua cabeça no ombro da moça, o homem começou a lacrimar.
Como Fabrício permanecesse abraçado a ela, Cecília perguntou-lhe se estava tudo bem.
O moço, tentando disfarçar o choro, respondeu que sim.
Argumentou que só queria ficar abraçado a ela.
Mais tarde, o casal caminhou pelo jardim.
Quando Jurema retornou a casa, depois de deixar as crianças na escola, a mulher observou o casal de mãos dadas.
Estavam sentados em um banco, onde ficavam observando as árvores e as flores.
Feliz, a mulher percebeu que eles estavam se entendendo.
Pensou consigo mesma, que os conselhos que dera ao rapaz, estavam produzindo resultado.
Nisto quando Eli e Francisco foram informados da novidade, ficaram deveras felizes.
Ansioso, ao se encontrar novamente a sós com Cecília, contou-lhe as providências que teriam que tomar para obter o divórcio.
Pensou em ir a Argentina e providenciar as medidas cabíveis.
Argumentou que ali não chamariam a atenção de ninguém, e que em seguida se casariam.
Com isto, Fabrício perguntou-lhe onde gostaria de se casar.
Cecília respondeu que preferia se casar em outro lugar.
Disse que preferia que os locais não soubessem que estava prestes a se casar.
Fabrício concordou.
E assim, começou um namoro, em que Fabrício estava constantemente em companhia de Eli e Francisco, e que às vezes, conseguia ficar a sós com Cecília.
Geralmente quando saiam juntos para jantar, ou ir ao cinema.
De vez em quando Fabrício aproveitava para passear com ela no jardim.
Certo dia, comentou que sua mãe e seu pai, namoraram muito nos jardins da casa de Ângela e Francelino.
O moço disse brincando, que certas coisas nunca mudavam.
Cecília respondeu que era muito bom que certas coisas não mudassem.
Fabrício beijou-a.
A moça, receosa de que alguém os visse, recomendou-lhe que não fizesse mais isto.
O rapaz respondeu sorrindo que a única pessoa que poderia vê-los do jardim era Jurema.
Com o tempo, o moço começou a presenteá-la com pequenos mimos.
Levava-lhe flores e alguma lembrancinha para os meninos.
Eli e Francisco ficavam encantados com os presentes que ganhavam.
Alertados por Cecília, sempre agradeciam os presentes recebidos.
Eli e Francisco passavam tardes inteiras brincando com os presentes de Fabrício.
Carrinhos e caminhões.
No aniversário de Francisco, o moço presenteou o garoto com uma bola e um uniforme da seleção do Brasil.
Eli ao ver os lindos presentes do irmão, respondeu que em seu aniversário, gostaria também, de ganhar um uniforme.
Fabrício atendeu ao pedido.
No aniversário do garoto, providenciou uniforme, bola, e um trenzinho.
Eli ficou encantado.
Emocionado, chorou e comentou que seu pai nunca lhe dera presentes tão bonitos.
Fabrício sorriu para ele.
Cecília ficou comovida.
A moça providenciou uma festa simples para os meninos, com bolo e alguns doces.
Atenciosa, convidou os amiguinhos do colégio.
Foram festas simples, mas animadas.
Com o tempo, o moço passou a comprar-lhe algumas jóias.
Jurema ao ver os brincos e anéis ofertados pelo moço, elogiou o bom gosto do rapaz. Disse-lhe que era uma mulher de sorte.
Cecília sorriu.
Fabrício por sua vez, cauteloso, evitava permanecer muito tempo no país.
Retornava sempre ao Brasil, e trabalhava no escritório executando sua rotina.
De vez em quando visitava Carlos e Angélica.
Conversava sobre seu trabalho, relatando que sua vida prosseguia tranqüila, sem grandes novidades.
Angélica ao vê-lo mais tranqüilo, sugeriu que encontrasse uma moça para se casar.
Fabrício sorrindo, disse que pensaria com carinho, naquela possibilidade.
Em uma das visitas, percebendo um brilho diferente no olhar do moço, perguntou-lhe se havia conhecido alguém.
Fabrício, tentando desconversar, disse que não.
Angélica porém, não se convenceu.
O moço então, disse-lhe que estava travando conhecimento com alguém muito especial, mas que não sabia se o relacionamento prosperaria, razão pela qual preferia esperar que a relação se fortalecesse para depois, dizer a todos que estava namorando.
Ao ouvir estas palavras, Angélica perguntou se era uma boa moça.
Fabrício respondeu que era a melhor de todas.
Quando Carlos soube da novidade, parabenizou o filho.
Disse que só tiveras decepções com Pedro e que agora um de seus filhos estava lhe dando um pouco de alegria. Contou que sentia falta dos netos e que estava fazendo de tudo para encontrá-los. Completou dizendo que nenhuma família deveria ficar dispersa.
E assim, o moço passou a viver. Ora no Uruguai, ao lado de Cecília, ora no Brasil, tentando não levantar suspeitas sobre seus passos.
Ao tomar conhecimento sobre os progressos junto ao processo de separação, o moço, preparando o espírito da jovem, comentou que Pedro tomaria conhecimento disto, e que talvez Carlos e Angélica também ficassem cientes.
Ao ouvir isto, Cecília ficou transtornada.
Argumentou que se Carlos soubesse o que estava fazendo, viria procurá-la e tomar os seus filhos.
Fabrício, então, tentando acalmá-la, disse que por esta razão, resolveu dar entrada no processo na Argentina.
Desta forma, como ela residia em outro país, ganhariam mais tempo, visto que Carlos procuraria por ela na Argentina. Ademais, completou, talvez até o próprio Pedro ignorasse a manifestação da justiça argentina e deixasse de lado a informação.
Fabrício comentou que Pedro passava a maior parte do tempo alcoolizado, e que passara a viver ao lado de uma mulher abastada, que bancava todos os seus excessos.
E assim foi.
A despeito do nervosismo de Cecília que dizia que iria desistir do divórcio e que pretendia sair do Uruguai, Pedro ignorou o documento vindo do exterior.
Ao receber a correspondência, nem chegou a abri-la, deixando-a jogada em um canto.
Fabrício, por sua vez, ao ouvir as palavras de desespero de Cecília, disse-lhe que ela não iria fazer nada daquilo que estava ameaçando fazer.
O moço recomendou-lhe por diversas vezes que se acalmasse.
Discretamente, pediu o auxílio de Jurema.
E assim, depois de conversar com Jurema, Cecília concordou em aguardar o desfecho do processo. Cecília então, aguardou ansiosa, a finalização do processo.
Casaram-se.
A cerimônia ocorreu na Argentina.
Jurema, Eli e Francisco, acompanharam a cerimônia.
Fabrício então, pediu a amigos brasileiros para serem seus padrinhos.
O moço, pedido de Cecília, convidou Eduardo para viajar para a Argentina.
Discreto, comentou com o amigo, que ninguém poderia saber de sua viagem, nem mesmo seus pais.
Ao ouvir isto, Eduardo ficou intrigado, mas prometendo discrição, concordou.
Qual não foi sua surpresa, ao aportar no país, e depois de se instalar em um hotel, descobrir que sua irmã estava se casando com seu melhor amigo.
Durante o café da manhã Eduardo e Roseli foram informados da novidade.
Ficaram perplexos.
Contudo, ao verem o sorriso no rosto de Cecília, desfizeram sua primeira impressão de pasmo, e aos poucos se acostumaram com a idéia.
Cecília segurou Samuel no colo.
Disse ao casal que o menino era uma criança encantadora.
Roseli, agradecida com o elogio, concordou.
Cerca de meia hora depois, Jurema, conduzindo Eli e Francisco, desceram ao salão.
Eduardo e Roseli cumprimentaram os sobrinhos, que ficaram animados com a presença deles.
Ao serem apresentados a Samuel, pediram para segurar o menino no colo.
Cecília, proibiu-os de segurarem a criança.
Roseli por sua vez, percebendo o ar de desapontamento dos meninos, permitiu que eles segurassem a criança.
Preocupada, Cecília perguntou se ela estava realmente certa disto.
E assim, Francisco e Eli seguraram a criança.
Acomodando os garotos nas cadeiras, e auxiliando-os a segurarem o bebê, Francisco e Eli puderam ficar alguns minutos com Samuel.
Não sem recomendações de cuidado por parte de Cecília.
Mais tarde, conversando entre eles, os garotos disseram que já eram homenzinhos e Francisco, querendo se gabar, respondeu que havia ficado mais tempo, segurando a criança.
Esta questão acabou virando uma disputa, na qual Cecília interveio, argumentando que os dois seguraram por igual tempo o menino.
Em passeio por Buenos Aires, Eduardo comentou que Márcia havia ficado noiva e se casado com um rapaz.
Cecília ficou surpresa com a novidade.
Fabrício brincando, disse que o tempo não havia passado só para ela.
Cecília respondeu que não havia reparado que sua irmã havia crescido.
Em um passeio noturno, depois de jantarem em um restaurante e provarem o típico churrasco gaúcho, Fabrício e Cecília dançaram um tango.
Eduardo e Roseli, empolgados com a animação do casal, também arriscaram uns passos da dança.
E assim, no dia ajustado, o casal compareceu a um cartório da cidade.
Cecília usava um vestido longo, rodado e florido. Um típico tubinho.
Fabrício por sua vez, usou terno e gravata cinzas.
Eduardo e Roseli foram os padrinhos de Cecília, e Jurema e um amigo de São Paulo, o padrinho de Fabrício.
Célio, o amigo de Fabrício, comprometeu-se a não comentar sobre o casamento dele, com Carlos e Angélica.
Com isto, depois do casal e das testemunhas assinarem os papéis, todos seguiram para um restaurante, onde comemoraram o casamento.
No cartório, foram tiradas algumas fotos. No restaurante também.
Durante a cerimônia, Regina - a esposa de Célio -, e os meninos ficaram cuidando de Samuel.
No dia seguinte, Eduardo, Roseli e Samuel se despediram do casal e dos garotos.
Retornaram para São Paulo.
O amigo Célio e Regina, rumaram para São Paulo alguns dias depois.
Jurema e os garotos voltaram para o Uruguai.
Eli e Francisco protestaram, mas Fabrício, ao conversar com eles, comentou que ele e Cecília precisavam ficar um pouco sozinhos, e que dentro de alguns dias, retornariam ao Uruguai.
Brincando com os garotos, disse-lhes que em poucos anos, estariam passando pela mesma experiência.
Cecília retrucou dizendo que eles não precisavam ter tanta pressa.
Fabrício riu. Falou-lhe que esta era a conseqüência natural da vida.
Nisto a moça despediu-se dos filhos.
Quando o casal se viu finalmente a sós, aproveitou para caminhar de braços dados pelas ruas de Buenos Aires.
Assistiram a apresentações de tango, foram ao cinema, ao teatro.
Cecília começou a prestar mais atenção no modo de falar do povo.
Morando a alguns meses no Uruguai, já havia aprendido um pouco do idioma.
Fabrício já havia percebido o fato, quando Jurema e os meninos o cumprimentaram em espanhol.
Cecília comentou que Eli e Francisco estavam indo bem na escola, e que já entendiam bem o idioma.
Na viagem, Fabrício aproveitou para comprar alguns vestidos e jóias para a moça.
Simpáticas, as atendentes perguntavam-lhe se era recém-casada.
Como Cecília respondesse que sim, as funcionárias se desdobravam em gentilezas para com ela e Fabrício.
Em sua primeira noite a sós com Fabrício, Cecília estava apreensiva.
Fabrício por sua vez, ao vê-la em uma bonita camisola, segurou as duas mãos da moça, e disse-lhe que não precisava mais se preocupar com o futuro. Falou-lhe que estava ali para tudo o que precisasse.
Cecília sorriu para ele.
No dia seguinte, ao despertar, Fabrício ouviu tocar uma canção bossa nova no rádio. Ficou admirado.
Tanto que tratou logo de despertar a então esposa, para ouvir.
Cecília dormia envolta nos lençóis da cama e Fabrício, tentando fazer com que despertasse, começou a sussurrar em seu ouvido.
A moça, ao despertar ouviu um pedido do moço.
Fabrício lhe disse:
- Escute esta música, é do Brasil!
Cecília ouviu “Chega de Saudade”.
Atenta, procurou descobrir detalhes da canção.
Ao fim da execução da música, Cecília respondeu que a canção era muito linda.
Fabrício respondeu que esta era uma novidade no Brasil, assim como o rock’n roll, que estava correndo o mundo.
Brincando, o moço disse-lhe que provavelmente Eli, Francisco e os filhos que tivessem, ouviriam aquele novo ritmo.
Com isto, abraçou a moça.
Perguntou-lhe se havia pensado na possibilidade de ter outro filho.
Cecília ficou pensativa.
O moço pediu a ela que pensasse nisto.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 21

Mais tarde, o moço telefonou para Cecília. Convidou-a para jantar.
A moça curiosa, aceitou o convite.
Fabrício disse-lhe que jantariam em um restaurante sofisticado, posto que a ocasião exigia algo especial.
Ao desligar o telefone, a moça ficou apreensiva.
Com a ajuda de Jurema, escolheu um bonito vestido azul marinho, com pedrarias, todo rodado.
Ao ver a moça com o vestido no corpo, com os cabelos arrumados, perfumada e maquiada, Jurema elogiou-lhe o talhe.
Vendo uma pequena caixinha de jóias, sugeriu-lhe para colocar um par de brinco de brilhantes.
Cecília respondeu que aquele fora um presente de Pedro. Argumentou que o brilho dos brincos não era adequado ao vestido de pedraria.
Nisto, ao ver um brinco de pérolas, retirou-os da caixa. Colocou-os nas orelhas.
Jurema, ao vê-la tão radiosa, disse que ela estava perfeita.
Cecília agradeceu o elogio.
Eli e Francisco, ao verem a mãe tão bonita, elogiaram-na.
Minutos depois, Fabrício surgiu na frente da mansão, em seu carro.
Entrou na residência e conversou um pouco com os meninos.
Por fim, despedindo-se dos garotos, reiterou os planos de um passeio pela manhã.
Ao chegarem no restaurante, Cecília e Fabrício foram recepcionados por um funcionário, que acomodou o casal em uma mesa centralizada.
Com isto, após fazerem seus pedidos, o casal degustou um prato a base de carnes.
Ao término do jantar, o casal apreciou uma apresentação de tango.
Ao fim da apresentação, o dançarino jogou uma flor na mesa de Cecília.
Todos aplaudiram a apresentação.
Fabrício então, percebendo que a moça estava entretida com a flor, perguntou-lhe se havia gostado do presente.
- Presente? – perguntou a moça, visivelmente surpresa.
Fabrício respondeu que aquela flor fora propositalmente jogada para ela.
A moça ficou intrigada.
Fabrício pediu-lhe para que estendesse sua mão.
Cecília atendeu o pedido.
O moço beijou-lhe a mão.
Segurando-a, disse-lhe que nada era por acaso.
Galante, comentou que a espera tornara tudo mais doce. Disse que talvez tivera que esperar por tantos anos por aquele momento, em razão de sua imaturidade. Precisava conhecer a vida para poder saber o valor de uma mulher como Cecília.
Beijando novamente sua mão, o moço comentou que tinha um presente para lhe ofertar.
Nisto, Fabrício retirou uma caixinha de seu bolso.
Em seguida, colocou-a nas mãos da moça.
Pediu para que ela abrisse a caixinha.
Cecília abriu-a.
Ao se deparar com um anel imenso cheio de brilhantes, ficou constrangida.
Tentando escolher as palavras, respondeu que não poderia aceitar o anel. Argumentou que não ficaria bem para ela, em sendo casada, receber um presente de outro homem.
Fabrício, ao ouvir isto, disse-lhe que com apenas uma palavra, ela poderia modificar sua condição.
Cecília ficou observando-o.
O rapaz então, falou-lhe que em querendo, ela poderia desfazer os laços de casamento com Pedro, e assim, se casar com outra pessoa, a qual gostava muito dela.
Ao notar a hesitação da moça, Fabrício perguntou-lhe por que não tentar. Argumentou que ela não tinha nada a perder, e que se a união não fosse feliz, poderiam se separar.
Cecília, ao ouvir a palavra separação, alegou que não gostaria nunca mais de passar por aquela situação.
Fabrício então, segurando as mãos que portavam a caixinha, disse-lhe olhando em seus olhos, que não pretendia se separar. Salientou que proferiu as palavras apenas por amor a argumentação, mas que não estava disposto a se separar na primeira dificuldade. Argumentou que queria apenas fazer com que se sentisse segura.
Cecília sorriu.
Fabrício, nervoso que estava, perguntou-lhe:
- O que você está pensando?
Cecília tentou desconversar, mas como Fabrício insistiu, a moça respondeu que ele estava lhe oferecendo muitas vantagens.
Respondeu brincando que quando a esmola era muito grande, o santo desconfiava.
Fabrício não gostou do que ouviu.
Alegou que não estava fazendo a proposta para enganá-la. Argumentou que não era Pedro.
Nervoso, aproximou-se mais da moça.
Cecília, percebendo a aproximação, e notando que todos os observavam, pediu para que ele se afastasse.
Fabrício sugeriu pagar a conta e irem para a mansão.
A moça concordou.
Com isto, o casal saiu do restaurante.
Fabrício guiou pelas ruas da cidade.
Cecília por sua vez, apreciou o brilho das luzes, as lojas, o comércio do lugar.
Em dado momento, o homem mudou o itinerário. Seguiu pela praia.
Cecília notou a mudança, mas Fabrício insistiu que precisavam terminar a conversa iniciada no restaurante.
A moça, só coube concordar.
E assim, ao encontrar um lugar para estacionar o veículo, desceu do carro.
Encaminhando-se em direção a Cecília, abriu a porta do carro para ela.
Fabrício estendeu sua mão para a moça.
Juntos, caminharam um pouco pela praia.
Cecília retirou os sapatos e caminhou pela praia.
Fabrício, tentando se acalmar, começou a dizer que não gostou de ser comparado com Pedro.
Tentando se defender, disse que não estava competindo com o irmão, que nunca se interessara por suas garotas.
Cecília respondeu que entendia.
Fabrício por sua vez, prosseguiu dizendo que não escolheu gostar dela, que para estas coisas não havia comando ou escolha.
Aproximando-se da moça, falou que estava sendo sincero. Emendou dizendo que não era tão galante e encantador como Pedro, mas gostava dela de verdade.
E assim, num gesto inesperado, segurou a moça nos braços e beijou-a.
Ao soltá-la, Cecília foi se afastando aos poucos.
Olhou-o perplexa.
Fabrício tentou se aproximar, mas a moça se afastou.
Cecília pediu para que ele a levasse de volta para casa.
O moço concordou.
A moça, ao adentrar o lar, subiu rapidamente as escadarias da mansão. Trancou-se em seu quarto.
Sentou-se em sua cama.
Seus pensamentos eram confusos.
Lembrava de suas conversas com Fabrício, de seus momentos com Pedro. Recordou-se de cada detalhe dos momentos vividos ora antes.
Aturdida, não sabia o que diria a Fabrício.
O moço por sua vez, ao se deitar na cama do quarto em que estava hospedado, pensava haver posto tudo a perder com seu gesto precipitado.
Cecília, ao deitar-se em sua cama, vestida em uma camisola de renda branca, tentou dormir.
Tentou, por que por mais que fechasse os olhos, não conseguia dormir.
Virava-se e virava na cama.

Luciana Celestino dos Santos
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