Convidando-a para almoçar em um restaurante da cidade, o moço comentou que precisavam conversar reservadamente.
Cecília, concordou.
Com isto, vestiu uma bonita roupa e acompanhou o moço em um almoço.
Conversaram sobre amenidades, como os dias lindos que estavam despontando na cidade, os passeios gostosos na praia, as caminhadas pelas ruas do lugar.
Fabrício sugeriu um prato com frutos do mar para o almoço.
Cecília concordou com a proposta.
Almoçaram.
Fizeram um brinde a nova vida de Cecília.
Fabrício sugeriu o brinde.
Nesta oportunidade, Fabrício comentou então, que não retornaria mais para São Paulo se este fosse o desejo dela.
Ao ouvir isto, Cecília ficou surpresa.
- Como assim? – perguntou.
Fabrício respondeu que como ela já devia ter percebido, já há algum tempo ele estava interessado nela.
Tímida, a moça respondeu que não, não havia percebido.
Fabrício então, segurou as mãos da moça.
Disse que ela tinha por obrigação lhe dar uma resposta. Argumentou que merecia esta resposta.
Sem graça, a moça ficou de pensar.
O moço então, seguindo os conselhos de Jurema, arrumou suas malas e se hospedou em um hotel na cidade.
Cecília, ao perceber isto, pediu ao rapaz para que não deixasse a casa. Comentou que ele tinha mais direito de permanecer no imóvel do que ela.
Fabrício por sua vez, dizendo que havia comprado a casa para a família da moça, insistiu para que ela permanecesse na residência. Disse-lhe que ficaria aborrecido, se ela abandonasse a casa.
Cecília então, concordou em permanecer no imóvel, mas insistiu para que ele ficasse também.
Fabrício respondendo que precisava pensar em tudo o que estava acontecendo, recomendou-lhe que ela fizesse o mesmo.
Nisto, despediu-se da moça e de malas prontas, saiu do imóvel, acompanhado da moça e dos meninos.
Eli e Francisco insistiram para que ele não fosse embora.
Fabrício, conversando com os garotos, explicou-lhe que ele não iria se afastar deles, apenas estava deixando que eles ficassem mais à vontade na casa.
Eli então, insistiu para que ele ficasse. Argumentou que a casa era grande e que cabiam todos ali.
Fabrício riu.
Abaixou-se e segurando os ombros do menino, explicou-lhe que não estava abandonando-os.
Disse que jamais faria isto. Revelou que gostava dele e de Francisco como se fossem filhos deles.
Foi o bastante para Eli e Francisco chorarem.
Eli por sua vez, em meio a soluços e lágrimas, pediu:
- Então se eu sou como um filho pro senhor, porque você não se casa com minha mãe?
Cecília, que não esperava por um gesto tão espontâneo de seu filho mais velho, censurou-o.
Disse-lhe que não deveria falar daquele jeito com o moço. Argumentou que Fabrício era apenas um bom amigo, sem nenhuma obrigação de assumir aquela família.
Fabrício, ao ouvir as palavras de repreensão da jovem, disse-lhe que não precisava brigar com as crianças. Comentou que não se ofendeu com a pergunta de Eli.
Pausadamente, respondeu que para se casar com Cecília, precisava primeiro de seu consentimento, e também regularizar a situação jurídica da moça com Pedro.
Rindo, perguntou se era isto mesmo que ele queria.
Eli respondeu que sim.
Cecília repreendeu-o.
Fabrício, olhando o menino com ternura, pediu a moça para que não brigasse com ele.
E assim, o moço saiu da residência.
Mais tarde, Fabrício telefonou para Cecília, convidando-a para jantar com ele. A sós.
A moça aceitou o convite.
Colocou um vestido preto, rodado, com brilho.
Prendeu os cabelos com um coque.
Ao se apresentar a Jurema e aos filhos tão arrumada, os três elogiaram o talhe e a elegância.
Jurema, ao acompanhar a moça até a porta, disse-lhe baixinho que ela estava muito arrumada para um encontro com um amigo.
Cecília criticou-a. Falou-lhe que estava sendo muito bisbilhoteira.
Jurema riu. Comentou que tudo se aclararia com o tempo.
Nisto, Fabrício buzinou para a moça.
Gentil o moço desceu do carro e conduziu a jovem até o carro.
Jurema acenou para o casal, despedindo-se.
No restaurante, Fabrício e Cecília degustaram uma paella.
De sobremesa, uma mouse.
Fabrício contou então, que precisava voltar para São Paulo, posto que precisava justificar sua ausência no trabalho.
Cecília constrangida, perguntou se a razão para voltar ao Brasil era realmente o trabalho. Indagou se não estava chateado com ela por algum motivo.
Sorrindo, Fabrício respondeu que não. Argumentou que de fato precisava retornar ao Brasil, ou poderia levantar suspeitas de Carlos.
Ao ouvir isto, Cecília ficou apreensiva.
O homem, ao perceber isto, respondeu-lhe que ela não precisava se preocupar com nada.
Disse baixinho que Carlos nunca descobriria onde ela estava.
Sorrindo, pediu para que ela não se sentisse pressionada, e que assim que pudesse, retornaria para ouvir uma resposta da moça. Comentou maroto, que ela deveria pensar em sua pergunta, e responder assim que pudesse.
Cecília não entendeu.
Fabrício brincalhão, respondeu:
- Santo Deus! Eu vou te que te dizer com todas as palavras, para pensar na possibilidade de ficarmos juntos?
Cecília ficou perplexa.
Fabrício, segurando em sua mão, perguntou-lhe se ela não sentia nada por ele.
A moça, constrangida, não sabia o que dizer.
O rapaz, percebendo isto, ficou desapontado.
Cecília tentou então amenizar a situação dizendo que fora pega de surpresa, que não sabia o que pensar.
Fabrício porém, não a deixou falar. Argumentou que não queria piedade.
Cecília respondeu que nunca sentira pena. Disse-lhe que ele não era digno de pena, e sim, de admiração. Argumentou que se havia alguém digno de pena, esse alguém não era ele. Incomodada, a moça revelou que sentia pena de Pedro. Que ele sim era um coitado.
Fabrício ficou surpreso com aquelas palavras.
Cecília então, segurando as mãos do moço, disse-lhe que quando dissera que não sabia o que pensar, que fora pega de surpresa, estava sendo sincera. Relatou que nunca pensara nesta possibilidade.
Fabrício confessou então, que desde que a vira pela primeira vez ao lado de Pedro, percebeu que ela era uma pessoa muito especial, e que se o irmão não lhe desse o devido valor, demonstraria seu interesse por ela.
Cecília ficou surpresa e comovida com o relato.
Fabrício completou dizendo que desde que a vira pela primeira vez, se encantou com ela.
Contudo, em respeito ao irmão, procurou sublimar o que sentia. Por isto, se envolveu com outras mulheres, e conheceu um pouco o mundo de Pedro.
Cecília não gostou de ouvir isto.
Fabrício por sua vez, disse que ela não era responsável por sua suposta degradação.
Não que viver uma fase boêmia, tenha sido algo reprovável. Não para ele.
Nisto, o jovem argumentou que não poderia se casar com alguém por quem não sentia afeto. Mencionou que se assim o fizesse, estaria enganando a si mesmo. Estaria também sendo leviano.
Cecília completou dizendo que se assim o fizesse, estaria incorrendo no mesmo erro de Pedro.
Fabrício, percebendo amargura nas palavras da moça, disse-lhe que Pedro era um tanto imaturo, mas que a amara com sinceridade.
Relatou que até onde sabia, ela e o irmão viveram felizes por alguns anos.
Cecília assentiu com a cabeça.
Fabrício, segurando suas mãos, disse-lhe para que se recordasse dos melhores momentos ao lado de Pedro, mas que não se fechasse para uma nova possibilidade.
Cecília respondeu que não estava disposta a sofrer uma nova decepção.
Fabrício prometeu-lhe que ela não passaria por isto novamente.
A moça prometeu pensar no assunto.
Dois dias depois, o moço de malas prontas, retornou ao Brasil.
Em São Paulo, Fabrício retornou ao escritório.
Dedicou-se a suas atividades rotineiras.
Em conversas no escritório, comentou que vendera todas as suas propriedades no Uruguai, e que para realizar os trâmites necessários, precisou permanecer no país mais tempo do que esperava.
Seu patrão aceitou as desculpas do moço.
Fabrício por sua vez, comprometeu-se a colocar o trabalho em ordem.
Com isto, o moço passou a fazer serão.
Todos os dias chegava tarde em seu quarto de hotel.
Carlos, ao saber que o filho se desfizera de parte dos bens herdados, censurou-o.
Disse que ele não deveria ter vendido os bens, a menos que pretendesse investir em outras propriedades.
Fabrício respondeu que não tinha interesse em possuir bens no país, já que o Uruguai não o atraía.
Carlos sugeriu-lhe adquirir bens na Argentina.
O moço respondeu que iria pensar.
Cecília por sua vez, se entretinha em acompanhar os filhos em seus passeios pela praia.
Mais tarde, a moça decidiu matricular os meninos em um colégio da cidade, pois dentro de alguns meses, se iniciaria um novo ano letivo.
Como não sabia se comunicar em espanhol, pediu para que uma das empregadas a acompanhasse.
Qual não foi a dificuldade para a moça se fazer entender na escola.
Não fosse o auxílio de Esmeralda, e talvez não tivesse conseguido matricular os filhos.
A moça também passeava pelo centro da cidade. Procurava emprego.
Jurema, argumentou que ela também poderia arrumar trabalho, e que poderiam se revezar nos cuidados com Eli e Francisco.
Cecília, ao ouvir isto, perguntou-lhe se ela não pensava em casamento, se não gostaria de construir uma família.
Jurema respondeu que no momento não tinha nenhum pretendente à vista, mas que se aparecesse alguém em sua vida, ela seria a primeira a saber. Comentou que não estava desesperada à espera de alguém que poderia não aparecer. Argumentou que não seria uma solteirona.
Cecília achou graça no jeito descontraído da amiga.
Certa tarde, enquanto Jurema caminhava pelo centro da cidade, Cecília resolveu passar a tarde com os filhos.
As crianças ficaram brincando no jardim em frente a casa.
De vez em quando os meninos perguntavam quando Fabrício retornaria.
Cecília não sabia o que dizer. Respondia que o moço não havia informado data de retorno.
Certa vez, quando a moça folheava uma revista, os garotos pediram para que ela telefonasse para ele.
Cecília respondeu que não poderia fazê-lo.
Insistiu para que os filhos tivessem paciência.
Argumentou que Fabrício voltaria.
Todavia, controlar a impaciência dos meninos era difícil.
Com relação a isto, a moça também sentindo falta do moço.
Fabrício estava demorando para retornar.
Jurema percebendo isto, chegou a comentar em tom provocativo, que Cecília estava sentindo falta de Fabrício.
Aborrecida Cecília comentou que como bom amigo que era, Fabrício era muito querido de todos.
Tempos depois, Fabrício retornou ao Uruguai.
Para surpresa de todos, o moço decidiu se hospedar em um hotel. Argumentou que não ficaria bem se hospedar em casa de duas jovens, já que não era casado com nenhuma delas.
Cecília, sem jeito, concordou.
Embora não concordasse em permanecer na casa comprada por ele, aceitou a opinião do moço.
Com isto, o jovem, que estava de visita, brincou com os meninos.
Perguntou-lhes como eram seus dias, se estavam gostando do Uruguai.
Eli e Francisco disseram que sim.
Fabrício almoçou com os meninos.
Depois ficou conversando com os garotos no jardim.
Contou-lhes que quando criança, brincara em um jardim parecido com aquele.
Ao ouvirem isto, os meninos ficaram interessados em sua história.
Fabrício contou-lhes histórias de sua infância ao lado do irmão, Pedro. Disse que por ser mais velho, Pedro era um exemplo para ele.
Eli e Francisco ouviram o relato com toda a atenção.
Tristes se perguntaram por que Pedro os havia abandonado. Por que havia batido em sua mãe.
Eli disse que odiava o pai.
Fabrício censurou, o menino. Segurando-o pelo ombro, disse em tom calmo, que ele não deveria nutrir ódio por Pedro. Argumentou que Pedro não fizera o que fizera por maldade, e sim por falta de preparo para viver em família.
Nervoso, Eli respondeu que o pai deveria pagar pelo que fez.
Fabrício argumentou que a vida se encarregaria de ensinar-lhe o que faltava aprender.
Disse que Pedro não era feliz, mas que ainda não havia acordado. Argumentou que cedo ou tarde, ele despertaria, e procuraria o perdão deles.
Francisco, tentando imitar o irmão, disse que não o perdoaria não.
Fabrício se assustou ao perceber a mágoa dos meninos.
Em vão, tentou convencê-los de que Pedro os amava. Amava de uma maneira estranha, mas não deixava de ser afeto.
Eli ao ouvir estas palavras, comentou que não acreditava nisto. Disse que a mãe tentou fazer com que se encontrassem com o pai, mas Pedro não estava disposto a vê-los. Perguntou se o pai os amava tanto, por que não os procurava.
Fabrício ficou sem palavras.
Nisto, Eli endereçou-lhe uma pergunta:
- O senhor gosta de mim e do meu irmão?
Fabrício enternecido, respondeu:
- Mas é claro que sim! Como não gostaria? Vocês são duas das pessoas mais importantes em minha vida.
Eli, segurando as mãos do homem, disse:
- Se isto é verdade, por que o senhor não se casa com minha mãe? Aí poderíamos ter uma família de verdade. Seria tão bom!
Fabrício ficou visivelmente emocionado com as palavras.
Quando o moço foi conversar com Cecília, os meninos ficaram em volta deles, como a esperar por uma proposta de casamento.
Jurema, percebendo que os meninos não deixavam o casal conversar à vontade, chamou-os.
Convidou Eli e Francisco para fazerem um bolo, convencendo-os de que se a ajudassem a fazê-lo, poderiam lamber as fôrmas.
Com isto, diante de tão irresistível proposta, os meninos correram para a cozinha.
Eli disputou com o irmão a preferência na confecção do bolo. Argumentou que por ser o mais velho, seria ele o primeiro a experimentar o bolo.
Francisco reagiu dizendo que ele seria o primeiro, por ser o mais novo.
Jurema afastou-se.
Fabrício achou graça na disputa dos meninos.
Cecília respondeu que Eli e Francisco era competitivos, mas se adoravam.
Eram muito unidos. Um sempre defendia o outro.
Fabrício respondeu que se via um pouco nos meninos.
Cecília respondeu que eles sentiam muito a falta de Pedro.
Fabrício, segurando a mão da moça, perguntou-lhe se havia pensado em sua proposta.
A moça, começou a gaguejar.
Fabrício argumentou que ela teve muito tempo para pensar.
Cecília, constatou que precisava responder.
A moça então, pensativa, contou que ficou a pensar na proposta por um longo tempo.
Preocupada com seu futuro, mencionou que durante a ausência do moço, procurou emprego. Relatou que Jurema também.
Angustiada, comentou que não agüentava mais viver naquela situação. Sempre precisando partir, se esconder de todos, como se estivesse fazendo alguma coisa errada.
Triste, comentou que às vezes se sentia sozinha.
Relatou que às vezes acordava a noite, sobressaltada, com medo de ser descoberta.
Por um certo momento, ficou com o olhar perdido.
Fabrício aproximou-se. Olhou-a nos olhos.
Disse segurando suas mãos, disse-lhe que ela não precisava se sentir assim. Argumentou que ela não precisa sentir mais medo. Completou dizendo que estava segura.
Cecília retorquiu dizendo que não estava certa disto.
Fabrício perguntou se ela ainda nutria a esperança de voltar a se entender com Pedro.
A moça ficou surpresa com a pergunta.
Todavia, nem por isto deixou de demonstrar que não tinha a menor intenção de voltar a viver com Pedro. Comentou que não gostava do temperamento instável do moço, e que se tivesse descoberto isto a tempo, não teria se casado com ele.
Relatou ainda, que não gostaria que Eli e Francisco ouvissem o que pensava a respeito do pai.
Completou dizendo que seus filhos foram as únicas coisas bonitas que Pedro deixou como legado do casamento.
Fabrício sorriu. Comentou que diante disto, não havia óbice em ficarem juntos.
Cecília respondeu-lhe que não era livre.
Ao ouvir isto, Fabrício comentou que se ela estivesse disposta a ficar a seu lado, poderiam obter o divórcio.
Cecília respondeu que no Brasil não havia divórcio.
Fabrício argumentou que alguns países da América Latina, o divórcio era possível, e que um segundo casamento também.
Os olhos de Cecília encheram-se de esperança.
O moço, percebendo isto, disse-lhe a deixaria pensar mais um pouco.
Tentando seduzi-la, comentou que poderiam se casar sim, e que ao lado dela e dos meninos, poderiam ser uma família. Argumentou que já tinha os meninos em conta de filhos.
Cecília ao ouvir estas palavras, argumentou que ele poderia estar confundindo as coisas.
Fabrício, olhando-a nos olhos, disse-lhe que não havia confusão alguma. Afirmou que seu sentimento era antigo, e que em respeito a Pedro, decidira não interferir.
A moça indagou-lhe por que ninguém lhe dissera nada sobre a vida pregressa de Pedro.
O rapaz respondeu que Pedro parecia sincero em seu propósito de mudar. Disse que ela havia promovido uma grande mudança no moço, que passou a se ocupar com o trabalho, coisa que raramente fazia, o que gerava descontentamento em Carlos.
Fabrício respondeu-lhe que não se sentiu no direito de atrapalhar o projeto de vida do irmão.
Respondeu com convicção que Pedro a amou de verdade.
Fabrício falou que Pedro nunca fora tão atencioso e dedicado a uma mulher, como ele fora com ela.
Por fim, dizendo que aquela conversa o estava incomodando um pouco, disse que ele e sua família nunca tiveram a intenção de enganá-la.
Cecília ficou pensativa.
Por um instante, lembrou-se que seu irmão Eduardo nunca simpatizou com Pedro.
Fabrício percebendo a distração da moça, perguntou-lhe o que estava pensando.
Cecília respondeu que pensara em sua família, como estavam. Mencionou que Eduardo nunca gostou de Pedro, que sempre lhe fora hostil. Disse que ele percebera antes de todos, que o casamento fracassaria.
Ao recordar-se das conversas que tivera com o irmão, pôs-se a chorar.
Fabrício aproximou-se da moça e a consolou.
Cecília respondeu entre lágrimas, que Eduardo sempre achou que o moço não prestava.
Fabrício tentou argumentar dizendo que eles tiveram momentos felizes. Disse que Pedro, amou-a de verdade. Comentou que o moço abandonou a vida desregrada ao conhecê-la. O moço passou a trabalhar com afinco. Coisa que nunca fizera antes.
Cecília argumentou que nunca fora advertida do temperamento boêmio do moço.
Fabrício respondeu que ninguém tivera a intenção de ludibriá-la. Mencionou que Pedro parecia sincero em seu propósito em ser feliz ao lado dela. E que por esta razão, a família não julgou conveniente comentar sobre o passado boêmio do moço.
Cecília respondeu que não queria mais sofrer.
Fabrício aproximando-se mais, disse-lhe que ela não precisava sofrer.
Abraçando-a, argumentou que ao seu lado, ela seria muito amada, assim como seus filhos, que ficariam amparados em uma nova família.
Contou que casada novamente, Carlos não poderia mais ameaçá-la, que não poderia mais tirar-lhe a guarda dos meninos. Mencionou que ela não estava mais só. E que em querendo, poderia retornar ao Brasil.
Cecília, ao ouvir estas palavras, retrucou assustada, que não queria retornar ao país.
Com isto, tornou a chorar.
Fabrício por sua vez, tentando acalmá-la, disse que não faria nada que ela não quisesse. Argumentou que tudo seria feito a seu gosto.
Galante, respondeu-lhe que deixasse ele mostrar a ela o quanto poderia ser galante.
Neste momento, a moça parou de chorar.
Fabrício ofertou-lhe um lenço.
Comentou que estava cansado de falar de Pedro. Argumentou que gostaria de falar dele, e do quanto vinha guardando aquele sentimento.
Enchendo-se de coragem, o moço convidou-a para jantar. Disse-lhe que tinha uma proposta irrecusável a fazer.
Cecília encheu-se de curiosidade. Insistiu para que ele contasse o que estava pensando.
Fabrício, com ar de mistério, respondeu que no momento certo, ela saberia o que iria propor.
A moça enxugou o rosto.
Eli e Francisco, irromperam pela sala, gritando e chamando Cecília e Fabrício para comerem um pedaço de bolo.
Jurema, tentando conter os meninos, pediu desculpa ao casal.
Argumentou que foi impossível segurá-los por mais tempo na cozinha.
Fabrício respondeu que não havia problema.
Com isto, o bolo foi servido.
Cecília serviu Fabrício.
Jurema, ao observar a cena sorriu para o moço.
Francisco aproximou-se de Fabrício e perguntou-lhe se iria ficar.
Cecília ficou constrangida.
Razão pela qual, pediu para o menino ficar ao seu lado.
O rapaz, achando graça, comentou que não seria possível, mas que no dia seguinte, passaria a manhã com eles.
Eli e Francisco comemoraram.
Com isto, Fabrício retornou ao hotel em que estava hospedado.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Poesias
quinta-feira, 18 de março de 2021
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 20
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 19
Ao chegarem na capital Montevideu, o homem adquiriu um carro.
Veículo que utilizou para seguir viagem para o litoral do país.
Nisto, quando Fabrício parou o carro, pediu para que Cecília descesse primeiro.
A moça atendeu ao pedido.
Fabrício então conduziu-a até a entrada da casa.
Disse-lhe que aquela seria a sua casa, o seu lar.
Segurando-lhe as mãos, prometeu que nunca mais seria importunada por sua família, e que Carlos jamais a localizaria naquele lugar.
Cecília ficou atônita. Aturdida, não sabia direito o que pensar.
Nisto, o rapaz disse-lhe que aquela era sua casa.
Cecília chorando, abraçou-o. Disse entre lágrimas, nunca tivera um presente tão bonito. Sua liberdade.
Fabrício timidamente, abraçou-a também.
Quando a moça se acalmou, Fabrício chamou Jurema e as crianças para entrarem na casa.
Com isto, pegou as malas e colocou-as na sala.
Um dos criados, ao ver o moço se ocupando da bagagem, auxíliou-lhe.
Eram várias malas.
Em seguida, Fabrício convidou a todos para um passeio pela casa.
Mostrou-lhe a sala de visitas, o escritório, a cozinha.
Para surpresa de Cecília, lá havia duas empregadas, além do rapaz o qual auxiliou com as malas.
Nisto Fabrício mostrou-lhes a parte superior da casa. Quatro quartos.
Cecília ao ver o luxo do imóvel, perguntou a Fabrício se não havia o risco de Carlos localizá-los ali, haja vista que se recebera o imóvel de herança, e assim, seria muito fácil concluir que ela estaria no Uruguai.
Fabrício respondeu-lhe então, que seu pai não fazia a menor idéia seus planos.
Argumentou que fazia tempos, rompera com Carlos e trabalhava em outro escritório.
Ressaltou que tal possibilidade era remota.
Ainda assim, Cecília ficou aflita.
Ao perceber isto, Fabrício sorriu dizendo-lhe que não precisava se preocupar.
Cecília procurou disfarçar sua apreensão.
Com isto, ela e Jurema, com o auxílio das empregadas, desfizeram as malas e organizaram tudo.
A pedido de Fabrício, as criadas prepararam um almoço para Cecília, ele, Jurema e as crianças.
Por fim o moço passou a tarde se ocupando de entreter os meninos.
Brincaram no jardim.
No jantar, o rapaz prometeu que no dia seguinte, levaria a todos para um passeio pela cidade.
E assim o fez.
Aconselhando a todos a vestirem roupas de banhos, o grupo saiu de carro e passeou pelas ruas da cidade, até chegarem a praia.
Eli e Francisco, ao verem o mar, ficaram encantados.
Conversando entre eles, comentaram que parecia Santos.
Fabrício ao ouvir os meninos conversando, percebeu que eles já conheciam o mar.
Cecília respondeu então, que de vez em quando Pedro os levava para passarem alguns dias na praia.
- Entendo. – respondeu o moço.
Nisto, os meninos foram brincar de pular as ondas, devidamente acompanhados de Cecília, que os observava de longe.
Jurema então, aproximou-se de Fabrício e disse-lhe:
- Eu sei que você está interessado em Cecília! Mas tenha calma. Com jeitinho tudo se acerta. Ela já está começando a se esquecer de Pedro.
Fabrício, ao ouvir isto, tentou desconversar dizendo que não estava entendendo o que ela estava querendo dizer com aquelas palavras, mas Jurema emendou dizendo que não precisava se justificar.
Nisto Cecília entrou no mar e brincou com os filhos.
Mais tarde Jurema se ocupou dos meninos e Fabrício e Cecília entraram juntos no mar.
Fabrício jogava água em Cecília.
A certa altura, Cecília começou a jogar água em Fabrício.
Ao saírem da água, o grupo comeu um lanche que trouxe em uma cesta.
A manhã transcorreu agradabilíssima.
Ao retornarem a casa, o grupo tomou banho e depois almoçou.
Caminharam pelas ruas da cidade.
Eli e Francisco perguntaram a Fabrício se ele ficaria com Cecília.
O moço, ao ouvir a pergunta, ficou um pouco sem jeito, mas tentando disfarçar, perguntou aos meninos, se eles gostariam de sua permanência.
Francisco respondeu que sim.
Eli, titubeante, também respondeu afirmativamente. Disse que gostaria que sua mãe não ficasse tão sozinha.
Jurema, ao perceber o tom da conversa, chamou os meninos para perto dela. Comentou que eles estavam importunando o tio.
Eli e Francisco tentaram replicar, mas Jurema intimou-os a ficarem perto dela.
Cecília, que observava uma vitrine, distraída que estava, não percebeu os rumores.
Fabrício por sua vez, aproveitou para se aproximar.
Ao notar os olhares atentos de Cecília para um bonito vestido, o moço perguntou quase a sussurrar, se ela havia gostado da roupa.
Cecília, que estava absorta, assustou-se com a abordagem.
Fabrício, ao perceber isto, pediu-lhe desculpas.
Cecília então, disse-lhe que estava observando as roupas. Comentou que tudo era muito bonito sim.
O moço sorriu.
Mais tarde, a família voltou para casa.
Nisto, os meninos ficaram assistindo televisão.
Contudo, estranharam o idioma.
Fabrício explicou-lhes que ali, o idioma falado era o espanhol, próximo do português, e que eles o aprenderiam com muita facilidade.
Durante o jantar, uma das empregadas perguntou a Cecília:
- Desea algo más?
- No, gracias. – respondeu Cecília, titubeante.
Certo dia, quando uma das empregadas perguntou-lhe se poderia servir a refeição “en el comedor”. Cecília não compreendeu a expressão.
Fabrício ao perceber que a moça não entendera o que a empregada dissera, explicou-lhe que ela estava lhe perguntando se poderia servir a refeição na sala de jantar.
Cecília respondeu que sim. A refeição poderia ser servida.
No dia seguinte, Fabrício levou Cecília até o Banco.
Francisco e Eli seguiram para a praia, devidamente acompanhados por Jurema.
As crianças brincaram de fazer castelos de areia.
Entraram no mar. Comeram.
No Banco, Fabrício explicou a moça que abrira uma conta em seu nome.
Cecília ao ouvir isto, tentou argumentar, mas Fabrício explicou-lhe que era necessário, e que não aceitaria recusa. Contou que o dinheiro depositado na conta era dela, e que poderia dispor dele, como bem entendesse.
Fabrício comentou que em poucos dias, partiria e precisava deixá-la em uma situação confortável.
Nisto o moço acompanhou-a em sua conversa com o gerente do Banco.
Fabrício foi o mediador da conversa.
Por fim, ao saírem do Banco, Cecília agradeceu a ajuda que ele vinha concedendo desde que ela se separara de Pedro.
Fabrício respondeu-lhe dizendo que não lhe custava nada.
Com isto, dias depois, aconselhado por Jurema, Fabrício resolveu conversar a sós com Cecília.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 18
Quando Cecília chegou de seu trabalho, ficou admirada com a presença de Jurema.
Abraçaram-se.
Jurema contou-lhe então, que o apartamento em que ela morara com Pedro fora alugado.
Ao ouvir isto, Cecília ficou perplexa.
Isto por que o apartamento estava no nome dela e de Pedro.
Ao pensar nisto, chegou a conclusão de que somente com a autorização de Pedro, o imóvel poderia ser alugado.
Com isto, o quarteto jantou.
No dia seguinte, Jurema passou a tarde cuidando dos meninos, verificando seus cadernos.
Recomendou-lhes que fizessem os deveres de casa.
Mais tarde, os meninos brincaram com carrinhos de madeira, um peão, e uma bola de capotão.
Cecília, antes de sair para o trabalho, recomendou para que não voltassem sozinhos da escola.
Disse-lhes que Jurema iria buscá-los no final da aula.
Com efeito, ao término das aulas, lá estava Jurema.
E assim, os meninos fizeram o caminho de volta para casa, brincando e conversando com a mulher.
Ao avistarem uma vitrine repleta de doces, os meninos pediram a Jurema para comer um doce de abobora.
Jurema, ao se ver diante do olhar pidonho dos meninos, capitulou.
Comprou dois doces, mas recomendou que não se acostumassem, pois não poderia comprar doces todos os dias.
Eli e Francisco, ao se verem com os doces na mão, agradeceram.
E assim, se seguiram os dias, com o trabalho de Cecília no escritório, para onde ia, sempre impecavelmente vestida. Pegava um ônibus e se dirigia ao trabalho.
Os meninos iam a escola, participavam das aulas, onde tinham noções de matemática, alguns fatos históricos.
Francisco e Eli faziam desenhos, e às vezes faziam lembrancinhas alusivas a alguma data comemorativa.
No dia das mães fizeram um cartão, onde foram colocadas mensagens de felicitações sobre o dia.
Quando Cecília recebeu os presentes, ficou felicíssima.
Agradeceu o carinho e o capricho.
Comentou que a escola estava de parabéns por estimular com que as crianças aprendessem trabalhos artesanais.
Jurema preparou um almoço especial. Providenciou até flores para a data.
Emocionada, Cecília agradeceu o carinho de todos. Relatou que aquele era um dia muito especial para ela.
Almoçaram carne, salada.
Desta forma, Cecília e os meninos brincaram enquanto Jurema lavava a louça e limpava a cozinha.
Mais tarde, o quarteto foi ao cinema.
Foram assistir a mais um filme da Disney.
Jurema se ocupava dos meninos, levava e buscava os meninos na escola.
Enquanto os meninos se ocupavam dos estudos, na escola e em casa, fazendo os deveres escolares, Jurema aproveitava para lavar e passar roupa. Limpava a sala de estar, de jantar, o banheiro, os quartos, a cozinha, a área de serviço. Preparava as refeições.
Para Eli e Francisco, Jurema era uma cozinheira quase tão boa quanto sua mãe.
A mulher ficava satisfeita quando ouvia o elogio.
Cecília a esta altura, estava organizando os arquivos do escritório.
Por conta do aumento no volume de trabalho, voltava sempre a noite para a casa.
Em razão disto, os meninos começaram a reclamar da ausência da mãe. Diziam-lhe que estava trabalhando muito.
Cecília então explicava que era uma situação transitória, e que depois de organizar os arquivos voltaria a normalidade.
Eli e Francisco porém, reclamavam. Diziam que ela iria se esquecer deles.
Cecília ao ouvir isto, respondeu que jamais se esqueceria deles, e que trabalhava tanto, para proporcionar-lhes uma vida confortável.
Nesta época, houve dois passamentos na família de Pedro.
Primeiramente a morte de Francelino, que já vinha enfrentando problemas de saúde.
Meses mais tarde, Ângela faleceu.
Angélica ficou arrasada.
Carlos consolou-a.
Dizendo que sabia pelo que estava passando, relembrou que passara por situação semelhante quando seus pais faleceram.
Nisto o casal se abraçou.
Nos velórios de ambos, compareceu a família de Cecília. Eduardo e sua esposa Roseli, Márcia, Eleanor e Irineu.
A família da moça desejou condolências.
Preocupado com a tristeza da esposa, Carlos nem se lembrou de perguntar aos pais de Cecília onde a moça estava.
Tal fato foi observado por Eleanor e Irineu, ao retornarem para casa.
Márcia já era uma bonita moça, freqüentando o curso normal.
Eleanor, em conversa com Angélica, disse-lhe que a jovem estava se preparando para ser normalista.
Angélica parabenizou a mulher.
Fabrício, ao saber do ocorrido, compareceu no velório dos avós.
Comentou pesaroso com sua mãe, que lamentava a perda. Considerava-os pessoas muito especiais.
Pedro, ao tomar conhecimento do falecimento dos avós, apareceu na mansão dos pais.
Interessado no patrimônio deixado pelos avós, perguntou diretamente a Carlos, se os avós não haviam deixado alguma herança para ele.
Carlos, ao ouvir as palavra do rapaz, perguntou-lhe onde estava que não compareceu nem no enterro deles. Ressaltou que ele não vira o enterro do avô e tampouco da avó, o qual ocorrera recentemente.
Seu pai perguntou-lhe onde andava, por que abandonara a família, por que desistira da esposa e dos filhos. Argumentou que não o reconhecia mais, que aquele não era o filho que havia criado.
Irritado, Pedro disse que não estava interessado em volteios, e sim na situação jurídica do patrimônio dos avós.
Irritado, Carlos respondeu que o testamento ainda não fora aberto e que somente após a abertura do mesmo, saberia quais eram as disposições testamentárias.
Argumentou que o filho, sendo bacharel em direito, deveria saber destas formalidades.
Nisto Pedro perguntou se Diva e Odair não haviam deixado nenhum patrimônio, nada para ele.
Carlos aborrecido respondeu que o testamento de seus avós paternos já haviam sido lidos há muito tempo, e que ele estava cansado de saber que Diva e Odair, haviam deixado a herança para o filho e esposa.
Pedro nervoso, argumentou que também fazia parte da família.
Carlos com desdém, comentou que o curioso era que somente naquele momento ele se lembrava disto.
Disse que estava decepcionado com ele.
- Comigo! Ora vejam! Comigo! Que me casei, constitui família, deixei herdeiros ... e Fabrício, que não se casou, que vive em noitadas. Ele é motivo de orgulho? – comentou Pedro com rancor.
Carlos respondeu que muito embora ele tenha se casado com Cecília, abandonou a esposa e os filhos. Argumentou que depois da briga, nunca mais vira os meninos. Tampouco demonstrou interesse em vê-los.
Pedro retrucou dizendo que os meninos estavam bem. Mencionou que Cecília sempre fora melhor mãe do que ele fora pai.
Carlos concordou. Disse também que ele não era um bom pai, pois não soubera criar seu filho mais velho. Amargurado, respondeu que Pedro só lhe dava desgosto.
Revoltado, o homem retrucou dizendo que se o filho que só trazia desgosto a ele, iria sumir.
Pedro mencionou que eles só voltariam a se encontrar no momento da leitura do testamento.
Com efeito, no momento da leitura do testamento, feito em casa de Angélica e de Carlos, descobriu-se que o casal deixara alguns bens para Fabrício.
O moço, que havia comparecido a leitura do testamento a pedido da mãe, ficou surpreso.
Pedro, que também esperava ser mencionado ao menos como legatário, ficou desapontado, ao ver que os avós não lhe legaram nada. Nem as jóias de Ângela foram deixadas para ele.
Para Angélica, ficou a maior parte do patrimônio.
Nos dias seguintes foram tomadas as providências burocráticas para a transferência da titularidade dos bens deixados para Fabrício para seu nome, e também, para os bens deixados para Angélica.
O moço, ao se ver dono de casas no Rio de Janeiro e no Uruguai, ficou a pensar no que faria com tais bens.
Angélica recomendou-lhe alugar, ou até mesmo vender algumas propriedades, e investir o dinheiro em outros bens. Sugeriu-lhe até ações.
Fabrício ficou surpreso com a sugestão.
Brincando, disse a mãe estava se saindo uma mulher de negócios.
Rindo, Angélica comentou que embora não pudesse trabalhar, Carlos sempre a colocava a par de tudo o que acontecia em sua empresa, assim com seu pai fizera com sua mãe, Ângela, que embora não trabalhasse fora, sempre soube do andamento dos negócios da família.
Fabrício comentou que um dia, no que dia em que as mulheres tomassem as rédeas do mundo, a vida seria completamente transformada.
Angélica comentou que este era o curso natural das coisas.
Mais tarde, depois de umas visitas aos pais, o moço, usando da desculpa de que faria uma viagem a trabalho, despediu-se do casal.
Comentou que talvez precisasse ficar alguns meses fora.
Angélica perguntou-lhe então, se a viagem era realmente necessária.
Fabrício respondeu que sim.
Nisto, o homem arrumou suas malas.
Viajou para algumas cidades do interior do estado, até se deparar com a cidadezinha onde Cecília estava morando.
De fato, Fabrício estava a trabalho. Porém, aproveitando o ensejo, aproveitou para visitar a cidade onde a moça estava morando.
Quando Jurema se deparou com o moço batendo em sua porta, evitou atendê-lo.
Acreditava que evitando o homem, Fabrício acabaria desistindo, e voltaria para São Paulo.
O moço contudo, era persistente.
Durante três dias, bateu na porta de Jurema.
Certo dia, perguntou a um vizinho se não havia ninguém em casa, sendo informado que havia uma mulher e duas crianças na casa.
Quando Eli e Francisco souberam que se tratava de Fabrício, pediram para que Jurema o deixasse entrar.
Jurema porém, exigiu que os meninos se calassem e ficassem em seu quarto.
Eli e Francisco, mesmo contrariados, obedeceram a ordem.
Nisto, Fabrício, que não se dera por vencido, ficou espreitando a casa.
Certa vez, ao ver Cecília se dirigindo para a casa, caminhou discretamente em sua direção, surpreendendo-a, no momento em que abria o portão da casa.
A moça então, olhou-o assustada.
Fabrício, dizendo que não queria prejudicá-la, pediu para abrir a porta para ela.
Trêmula a moça deixou-o entrar.
Ao entrar na residência, o moço cumprimentou as crianças e perguntou a Jurema se ela estava bem.
A mulher surpresa, respondeu que sim.
Jurema pediu então aos meninos, para que deixasse a mãe a sós com o tio.
Eli e Francisco tentaram retrucar, mas ao perceberem o olhar severo de Jurema, trataram de se dirigir ao quarto.
Jurema argumentou que se fosse possível, mais tarde poderiam conversar com o moço.
Os meninos reclamaram, mas tiveram que acatar as ordens da mulher.
Jurema era uma segunda mãe para eles, e tinha autoridade sobre os mesmos.
Tanto que Eli e Francisco não ousaram desobedecer as ordens.
Nisto Cecília e Fabrício ficaram conversando.
O moço, percebendo o nervosismo da jovem, comentou que não estava ali para atrapalhar sua vida e tampouco iria contar a seu pai, onde ela estava.
Segurando as mãos da moça, contou que conhecia sua luta, que sabia que as coisas não andavam nada fáceis para ela, e entendia o fato de haver sumido de São Paulo. Relatou que descobriu que Carlos a ameaçara alegando que tiraria a guarda dos meninos.
Fabrício questionou apenas o fato dela não haver-lhe contado os fatos, e por que não lhe pedira ajuda. Por que não contara que iria sumir da cidade?
Cecília começou a chorar.
Preocupado, Fabrício pediu para que ela se acalmasse.
Como a moça não parasse de chorar, Fabrício pediu licença para ir a cozinha e ficou procurando onde ficavam os copos, o bebedouro com água, e o açúcar.
Desajeitado, preparou uma água com açúcar para a moça.
Cecília, com as mãos trêmulas, segurou o copo, e após alguma insistência de Fabrício, sorveu o líquido.
Fabrício então, insistindo para que se acalmasse, disse-lhe que ela não deveria temê-lo.
Cecília foi se acalmando.
Fabrício percebendo que a moça ia se tranqüilizando aos poucos, disse-lhe que Carlos não sabia que onde ela estava. Prometeu-lhe que iria ajudá-la.
Cecília, tentando coordenar as palavras, perguntou-lhe como havia descoberto sua localização.
Fabrício explicou-lhe que contratara os serviços de um detetive particular.
Dizendo querer se precaver contra as ameaças de Carlos, decidiu se antecipar e tratou logo de contratar os serviços de um profissional. Contou que conversava semanalmente com o detetive para se inteirar dos progressos.
Quando finalmente descobriu que havia se instalado em uma cidade do interior do estado, aproveitou uma viagem de negócios, e se dirigiu a cidade onde estava.
Cecília ao ouvir o relato, tornou a ficar nervosa.
Aflita, disse que Carlos já sabia onde estava, e que precisava arrumar suas coisas e sair o quanto antes dali.
Fabrício, percebendo a exaltação da moça, insistiu em dizer-lhe que não havia perigo.
Comentou que Carlos pensara em partir em seu encalço mas que ele, combinado com Eleanor, Irineu e seus irmãos, conseguiram convencer o homem de que ela poderia estar em casa de parentes, em outra região do país.
Cecília parecia não compreender as palavras do jovem.
Fabrício então, agachou-se e explicou em detalhes a moça, o plano que engendrara, auxiliado pelos parentes da moça.
A jovem parecia não acreditar no que estava ouvindo.
Quando Fabrício frisou que até Irineu participara do plano, a moça sorriu.
Tornou a chorar.
Fabrício aflito, perguntou:
- Oh meu Deus! Pra que chorar?
Cecília explicou que não estava chorando de tristeza. Argumentou que estava feliz por seu pai ajudá-la.
Fabrício abraçou-lhe.
Mais calma, Cecília falou a Fabrício que não poderia permanecer na cidade.
Fabrício, dizendo que seria questão de tempo para Carlos encontrá-los, relatou que os auxiliaria desta vez.
Argumentou que havia recebido uma herança dos avós, e que após as providências de praxe, se tornara proprietário de alguns imóveis, os quais pretendia vender.
Comentou que possuía alguns bens no exterior.
Pensando nisto, o homem chegou a conclusão de que a melhor solução, seria que ela e os filhos fossem para o exterior.
Cecília ficou surpresa com a idéia.
Fabrício então, tentando convencê-la, argumentou que estando no Brasil, seria mais fácil para Carlos encontrá-los. Relatou que vivendo no exterior, ficariam longe da perseguição do homem. Alegou que poderiam viver em paz.
Mais tarde, depois de fazer os meninos dormirem, não sem antes conversar muito com os garotos, Jurema retornou a sala.
Ao ouvir a proposta do rapaz, a mulher sugeriu a Cecília que aquela era uma boa proposta, e que ela não estava em condições de recusar.
Cecília tentou argumentar.
Jurema respondeu-lhe então, que seria questão de tempo Carlos localizá-los. Argumentou que se Fabrício descobrira seu paradeiro, não seria difícil para Carlos fazer o mesmo.
Fabrício concordou.
Disse que o pai era muito determinado, para o bem, ou para o mal.
Brincando, disse que sua mãe sabia muito bem disto.
Jurema perguntou-lhe o que ele estava querendo dizer com aquelas palavras.
O moço respondeu que um dia, quando tudo estivesse mais calmo, explicaria melhor a frase.
Nisto, perguntou como estavam as crianças.
Cecília respondeu que estavam bem.
Fabrício, ao obter a concordância da moça, se comprometeu com os preparativos.
Recomendou que a moça prosseguisse com sua rotina.
Disse-lhe para que não se preocupasse.
E assim, Cecília continuou indo para seu trabalho.
Fabrício por sua vez, retornou a São Paulo.
Com efeito, antes de voltar a cidade, visitou os meninos e conversou com eles.
Para Eli e Francisco, conforme combinado com Cecília, disse-lhes que estava de visita, e que dali há alguns dias, voltaria para São Paulo.
Atencioso, o moço levou alguns doces para os meninos.
Eli e Francisco adoraram.
E assim, o moço brincou com os meninos por horas.
Em São Paulo, Fabrício retornou ao escritório.
Para vender alguns imóveis no Uruguai e no Rio de Janeiro, pediu afastamento do escritório onde trabalhava.
E assim Fabrício, se desfez de alguns imóveis.
Com o dinheiro ganho, investiu em um imóvel em outra localidade.
O restante do dinheiro foi depositado em uma conta em nome de Cecília.
Carlos por sua vez, cansado das evasivas da família Cordeiro, passou a investigar o paradeiro de Cecília. Decidiu contratar um novo detetive particular.
Cecília estava ansiosa.
A cada dia que Fabrício não dava notícias, ficava mais ansiosa.
Jurema, percebendo isto, dizia para que não preocupasse. Argumentava que o moço estava tomando todas as providências necessárias para a mudança.
Segundo Jurema, esta seria uma mudança definitiva.
Cecília dizia que esperava que sim. Argumentou que ficar o tempo todo se escondendo era muito desgastante.
Dias depois Fabrício enviou-lhe um telegrama informando que as providências estavam tomadas. Orientava que deveria preparar as malas, pois ele voltaria para buscá-la, dentro de poucos dias.
Cecília, ao ler o telegrama, ficou mais tranqüila.
Tratou logo de preparar as malas.
Conversando com Eli e Francisco, Cecília pediu para não contassem a ninguém que iriam partir.
Disse que seria um segredo deles.
Eli e Francisco concordaram.
Cecília, segurando as mãos dos meninos, perguntou-lhes se saberiam guardar o segredo.
Eli e Francisco responderam que sim.
Jurema e Cecília empacotaram objetos.
Conversaram com o locador do imóvel. Cecília informou-lhe que não poderia permanecer no imóvel até o fim do contrato.
O locador informou-lhe que deveria proceder ao pagamento de uma multa.
Cecília respondeu então que não teria condições de fazê-lo em dinheiro.
Diante disto, propôs ao homem, que ficasse com os móveis que guarneciam a casa.
A moça disse que os móveis foram adquiridos há muitos anos, mas eram bons, e estavam em bom estado.
Nisto o locador perguntou-lhe o por quê da mudança.
Cecília surpresa com a pergunta, respondeu que havia recebido uma proposta de emprego em outra cidade. Algo que lhe proporcionaria melhor salário e conforto para os filhos.
Desta forma, o homem não fez mais perguntas.
Concordou com a proposta.
Em seguida, a moça pediu demissão.
Seu patrão ficou surpreso com o pedido, mas Cecília, dizendo que precisava voltar para sua terra natal, argumentou que não poderia permanecer no emprego.
Ao homem, só restou concordar com a demissão.
Comentou que lamentava a demissão de uma de suas melhores funcionárias.
Cecília agradeceu a acolhida. Comentou que desde que se mudara para aquela cidade, só aconteceram coisas boas em sua vida.
Desta forma, despediu-se dos colegas e partiu.
Uma semana depois, a moça assinou o termo de rescisão.
Seu chefe pagou-lhe todas as verbas a que tinha direito.
Alguns dias depois, Fabrício voltou para a cidadezinha.
Cecília ao vê-lo, abraçou-o.
Fabrício, ao ser recebido com tanta cordialidade, ficou emocionado.
O moço perguntou-lhe então se suas malas estavam prontas.
Cecília respondeu que sim.
Fabrício, sorrindo, disse que estava tudo pronto. Comentou que havia comprado um belo imóvel para a moça, e que ela teria uma grande e bela surpresa em sua nova vida.
Cecília, curiosa, perguntou que surpresa seria esta.
Fabrício, fazendo mistério, comentou que ela só descobriria no momento certo.
Disse que Jurema poderia se juntar a eles se tivesse interesse.
Fabrício, perguntou as moças, se estavam bem.
Cecília e Jurema responderam que sim.
Mais tarde, Cecília, Fabrício, Jurema, Eli e Francisco, retornaram para São Paulo.
Lá, Fabrício providenciou passaporte para as mulheres.
E assim, o grupo seguiu para o Uruguai.
Viajaram de avião.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 17
Certo dia, ao voltar do trabalho, Cecília ouviu um comentário maldoso de uma vizinha.
A mulher disse-lhe que ela havia se esquecido muito depressa de seu marido. Argumentou até, que já o havia trocado por outro.
Cecília não gostou do comentário.
Tanto que respondeu que não fazia comércio de seus sentimentos.
Nisto, retrucou dizendo que se ela não tinha o que fazer, deveria aprender a se ocupar de sua vida.
A vizinha fuzilou-a com os olhos.
Eli e Francisco, certo dia, brincando no parquinho, ouviram o mesmo comentário de uma criança.
Irritados, os dois avançaram contra a criança.
Não fosse a intervenção de Jurema – a empregada –, e o menino teria apanhado mais.
Quando a mãe do garoto tomou conhecimento da briga, foi tomar satisfações com Cecília.
Vociferando, disse que não aceitaria que os filhos de uma desclassificada, agredissem seu filho.
Cecília furiosa, respondeu que gente de bem não espalha comentários maldosos. Não se ocupa da vida dos outros.
Foi bastante para a mulher ameaçar agredi-la.
Jurema, ao ver a cena, segurou a mulher e a arrastou para fora do apartamento.
Como a vizinha a xingasse, ela tratou de chamar a mulher de barraqueira.
Nervosa, Cecília comentou com Jurema que não poderia continuar morando ali.
A empregada, pediu para acompanhá-la.
Cecília prometeu pensar no assunto.
Com isto, Fabrício voltou a visitar Cecília e seus filhos.
Temerosa, a moça pediu ao rapaz, para que não os visitasse mais.
Fabrício ficou surpreso com o pedido.
Tanto que insistiu para que a moça dissesse o que estava acontecendo.
Pressionada, Cecília respondeu que estava sendo hostilizada pelos vizinhos, e que isto estava causando problemas para os filhos, que a todo o momento se deparavam com comentários maldosos a respeito dela e de Fabrício.
Ao ouvir isto, o moço perguntou o tipo de comentários que eram feitos.
Constrangida, Cecília respondeu que estavam insinuando que estavam juntos.
Fabrício ficou vermelho.
Irritado, ameaçou ir tomar satisfações com os vizinhos, no que foi impedido por Cecília, que comentou que se ele o fizesse, deixaria a nítida impressão de que sua intenção era ocupar o lugar de Pedro.
Fabrício então, percebendo que esta atitude causaria problemas a ela e a seus filhos, procurou se acalmar.
Desculpou-se.
Porém, insistindo em visitá-los, comentou que se as visitas no apartamento vinham causando transtornos, poderiam se encontrar em lugares públicos.
Argumentou que estando ela em companhia dos meninos e de Jurema, não haveria problemas.
Cecília ficou de pensar no assunto.
Fabrício deixou-lhe um número de telefone.
Por fim, o moço abraçou os sobrinhos.
Brincou um pouco com eles.
Mais tarde, se despediu da moça. Voltou para casa.
Nos últimos tempos, Fabrício abandonara a vida boêmia.
Carlos e Angélica perceberam a mudança.
Elogiaram o filho.
Fabrício por sua vez, continuou dedicado ao trabalho.
De vez em quando, combinava um passeio com Cecília, Eli, Francisco e Jurema.
Iam ao cinema, passeavam em parques, caminhavam pelo centro de São Paulo.
Certo dia, foram vistos por conhecidos de Angélica e Carlos, que relataram o que viram para o casal.
Angélica e Carlos, chamaram a atenção do filho.
Nervoso, Carlos disse-lhe que ele não poderia agir daquela maneira, pois estava envergonhando a família.
Fabrício, achando graça na repreensão, argumentou que eles eram cômicos, pois se Pedro fizera tudo o que fizera e não fora repreendido da forma como deveria, por que ele deveria ser recriminado? Afinal de contas, em seu entender, não estava fazendo nada de errado.
Carlos respondeu-lhe então, que ele estava proibido de continuar visitando Cecília e seus filhos.
Fabrício por sua vez, respondeu que não iria atender a proibição. Falou que não era mais criança, e que era responsável por seus atos.
Argumentou que se Carlos tentasse impedi-lo de ver a moça, sairia de casa. Procuraria outro lugar para morar.
Nisto, virou as costas para pai.
Angélica ao ver o homem enervado, tentou acalmá-lo.
Disse-lhe que Fabrício retornaria a razão.
Contudo, em que pese este fato, Angélica sabia do interesse do filho pela moça.
Preocupada, imaginava que uma aproximação entre os dois, seria apenas uma questão de tempo.
Há tempos Angélica insistia para que o filho encontrasse uma boa moça e se casasse.
Fabrício porém, toda vez que ouvia a recomendação da mãe, desconversava dizendo que a tal moça ainda não havia aparecido. Insistia em dizer que não iria se casar apenas para agradar a família.
E assim, dava um beijo no rosto da mãe e se afastava.
Nisto, quando Angélica soube da briga dos irmãos, ficou ainda mais apreensiva.
Fabrício por sua vez, disse-lhe que não tinha com o que se preocupar. Argumentou que tinha apenas consideração pela moça.
Com isto, sempre que podia, Fabrício ia se encontrar com a moça.
Em dado momento, conforme já mencionado, a moça mudou de apartamento.
Isto por que estava cansada de tantas ofensas e perseguições.
Com efeito, sempre aparecia alguém para apontar-lhe o dedo e fazer insinuações sobre sua honestidade.
Certo dia, depois de ser novamente humilhada por uma vizinha, Cecília chorou no ombro de Fabrício, que a todo o custo tentou consolá-la.
Dizia para a jovem que não se importasse com as palavras maldosas.
Fabrício contava que uma coisa muito boa estava reservada para ela.
Cecília porém, não estava disposta a esperar por um milagre.
Conforme já mencionado, a mulher conversou com os filhos e partiu.
Não se despediu do amigo.
Com efeito, Jurema partiu logo depois. Ficou de resolver a questão do aluguel do imóvel.
Para tanto, Cecília passou-lhe uma procuração.
Quando Fabrício foi visitá-la, para sua surpresa, foi informado pelo porteiro do prédio, que Cecília não morava mais lá.
Ao ouvir as palavras, o homem ficou perplexo.
Como Cecília se mudara e não o comunicara?
Ficou decepcionado.
Porém, ao saber que seu pai foi conversar com a moça, e ameaçando-a, intimou-a a deixar o emprego, ou correria o risco de perder a guarda dos filhos, Fabrício ficou revoltado.
Como ele tivera coragem de fazer esta ameaça? Não bastavam todas as dificuldades pelas quais a moça estava passando?
Fabrício enumerou algumas situações em que a moça passou constrangimento unicamente por que decidiu tomar conta da própria vida e não depender de marido ou de sogro. Disse que a moça não estava cometendo nenhum crime, mas era como se fosse a pior das renegadas.
Carlos, ao ouvir o comentário, respondeu que ele estava assistindo muito filme de faroeste.
Fabrício respondeu que não estava brincando, e que Cecília merecia consideração.
Angélica como sempre, tentou acalmar os ânimos.
Dizia que eles eram pai e filho, e que não deviam se desentender nunca.
Mas não adiantou.
Fabrício estava aborrecido demais com seu pai.
Com isto, arrumou suas coisas e saiu de casa.
Carlos, ao perceber a resolução do filho, disse-lhe que não poderia mais continuar trabalhando na empresa.
Fabrício respondeu que já esperava por aquilo, e passaria no dia seguinte, no Departamento Pessoal, para acertar suas contas.
Angélica, ao ver o filho saindo de casa, insistiu para que ele pensasse melhor. Implorou para que ele não agisse de cabeça quente.
Fabrício contudo, disse que não poderia voltar atrás.
Assim, pegou suas malas, colocou-as dentro de seu carro, e partiu.
Voltando a partida de Cecília...
Antes de partir, a moça lembrou-se da visita inesperada do sogro, e da ameaça do mesmo tirar a guarda de seus filhos.
Nervosa, a moça, que já vinha conversando com os filhos sobre a possibilidade de se mudarem, retomou as conversas.
Isto por que, após as ameaças, precisava tomar uma providência.
Eli, mais velho, concordou com a idéia da mãe.
Cecília dizia-lhe que sob hipótese nenhuma, poderia contar a seus futuros coleguinhas, que ela havia deixado o marido para viver em outra cidade, ou os problemas que vinham enfrentando, continuaria os acompanhando.
Eli, concordou.
Decepcionado com o abandono de Pedro, considerava-o culpado por tudo o que estava vivendo.
Francisco, por sua vez, demorou para entender as razões da mãe. Mas ciente das dificuldades de continuarem em São Paulo, aceitou a idéia da mãe.
Cecília, desalentada, comentou certa vez com Jurema, que lamentava o fato dos filhos ainda tão pequenos, terem que enfrentar as agruras da vida.
Lamentando-se, comentou que se pudesse prever o futuro, jamais teria se casado com Pedro.
Teria escolhido um marido melhor. Alguém que não a abandonasse na primeira dificuldade que se apresentasse diante dele.
Jurema por sua vez, tentando consolá-la, comentou que se Pedro havia aparecido em seu caminho, era para que ela aprendesse a valorizar as coisas boas da vida. Insistia em dizer que aquilo era um ensino, e que fatalmente as dificuldades pelas quais vinha passando, dariam espaço a uma nova oportunidade.
Cecília achou a conversa da mulher, um tanto quanto estranha.
Jurema rindo, disse que sua mãe, sempre lhe dizia que quando todos os caminhos pareciam fechados, acabava encontrando uma nova via, um novo caminho. Mesmo que por estradas tortuosas, sempre encontrava um caminho para seguir, e que muitas vezes encontrou portas fechadas, caras amarradas. Caminhou por lugares lúgubres, por muito tempo, mas um dia chegou em uma estrada iluminada, que lhe afigurou um novo e bonito caminho para percorrer.
Jurema emocionada, disse que este caminho era repleto de flores, e que sua mãe, sorrindo para ela, disse que não havia espinhos.
Sorrindo, comentou que sua mãe lhe dizia que por mais difícil que as coisas fossem, por mais que parecesse que não havia saída, que quando todas as portas pareciam fechadas, sempre haveria uma fresta, um espaço, ainda que pequeno para se atravessar para um bom lugar. Só bastava que nós enxergássemos.
Segurando as mãos de Cecília, disse-lhe que sua mãe era uma pessoa de muita espiritualidade. Simples, mas de uma visão impar. Comentou que ela tivera uma existência difícil, mas mesmo nas maiores dificuldades, não abandonava o sorriso do rosto.
Enigmática, disse que Cecília atravessaria ainda, muitas dificuldades, mas teria um lindo caminho pela frente. Desde que não tivesse medo de enfrentar os obstáculos.
Sorridente, dizia que tudo fazia parte de sua trajetória de vida, e que não havia como fugir de certas circunstâncias.
Em seguida, desejou força a amiga, e prometeu que assim que se desembaraçasse de suas incumbências, iria ao seu encontro.
Cecília, aturdida com as palavras, ficou dias pensando nelas.
Antes de viajar, ao arrumar as malas e seus pertences; e durante a viagem que fez com os filhos.
Fabrício por sua vez, encerrou seu contrato de trabalho na empresa do pai.
Exigiu o pagamento de todas as verbas trabalhistas a que fazia jus.
Ameaçou exigi-las judicialmente se não fossem corretamente pagas.
Carlos contrariado, pagou os valores.
Angélica, ao tomar conhecimento de que o marido tencionara dificultar o recebimento das verbas rescisórias de Fabrício, censurou o marido.
Argumentou que não conserta algo que começou errado, perpetuando os erros.
Carlos então, retrucou dizendo, que Fabrício fora pago, e que não houve necessidade de nenhuma ação.
Fabrício por sua vez, tentou por todos os meios possíveis descobrir o paradeiro da moça.
Nisto, quando Carlos descobriu que Cecília saíra de São Paulo na companhia de seus netos, ficou furioso.
Ameaçou contratar um detetive para descobrir o paradeiro da moça.
Angélica tentou demover o marido da idéia, sem êxito.
Nisto, quando Fabrício soube da novidade, argumentou que dias após a partida da moça conversou com Jurema, a qual continuou no apartamento em que Cecília morou. Disse que assim que a viu saindo do prédio, perguntou-lhe para onde Cecília havia ido.
Jurema por sua vez, respondeu que não sabia do paradeiro da ex-patroa, e que só continuava no apartamento por que ainda não tivera como sair do lugar. Contou que estava procurando emprego, e que assim que arrumasse alguma coisa para fazer, iria se mudar novamente.
Aparentemente irritada, recomendou que ele e Carlos não incomodassem mais a família. Falou que não entendia o interesse da família Camargo em perseguir Cecília.
Argumentou que a moça não havia lhe informado para onde iria.
Ressaltou que nem o porteiro do prédio sabia de seu novo paradeiro.
Fabrício então, tentando utilizar um último recurso para auxiliar a moça, disse que após muito insistir, Jurema havia deixado escapar, que Cecília poderia ter ido para o Norte.
Carlos ficou surpreso.
Fabrício por sua vez, comentou que Cecília lhe dissera que era uma região com muito ainda a ser feito, e que possuía alguns parentes por lá.
Carlos não pareceu muito convencido.
Fabrício insistiu nisto.
Tanto que chegou a sugerir ao pai, que perguntasse aos pais da moça se aquilo não era verdade.
Angélica ao perceber a estratégia do filho, cumprimentou-o.
Argumentou que não era certo alguém querer tirar os filhos de uma mãe. Disse-lhe que se precisasse de ajuda, poderia contar com seu auxílio.
Fabrício segurou as mãos da mãe e beijou-as como que agradecendo.
Nisto, o moço se despediu da mulher, e desejou um até logo para Carlos.
Aflito, Fabrício tratou logo de avisar Eleanor e Irineu do que estava acontecendo.
Pediu-lhes insistentemente para que confirmasse a história do Norte, mas que não entrassem em detalhes sobre qual seria a localização dos parentes. Orientou-os a dizer que eram parentes distantes, e que não estavam dispostos a perturbá-los por conta de uma cisma à toa.
Por telefone, o moço comentou que Carlos ameaçara tirar a guarda dos filhos de Cecília, e que por esta razão, ela saíra de São Paulo.
Irineu ficou perplexo com a novidade.
O casal já acompanhava a tempos as mudanças na vida de Cecília.
Irineu prometeu confirmar a história.
Com efeito, por diversas vezes, Irineu e Eleanor, foram importunados por Carlos perguntando-lhes para onde a moça havia se mudado.
Irineu então recordou-se de que Fabrício também o procurara fazendo a mesma pergunta.
Ao perceber a aproximação da filha e do moço, tanto ele quanto Eleanor recomendaram a Cecília, para que se afastasse do moço.
Irineu chegou até a pressionar a filha a voltar para Pedro quando soube que o moço havia abandonado o lar.
Dizia-lhe que não ficava bem uma mulher abandonada pelo marido.
Nervoso, chegou a sugerir que a revolta de Pedro poderia bem ter se originado por uma falta de cuidado da parte dela. Chegou a dizer-lhe que sua preocupação em arrumar trabalho, havia feito com que negligenciasse o casamento.
Eleanor por sua vez, ao ouvir tais palavras, censurou o marido.
Comentou que Cecília não tivera culpa do que sucedera e que cedo ou tarde, ela e Pedro se entenderiam.
Todavia, o tempo passou, e o entendimento não chegou.
Fato este que contribuiu enormemente para a exasperação de Irineu.
Por conta disto, Irineu passou a evitar visitar a filha.
Eleanor tentou protestar, mas vivia sob a dependência do marido, e não pode se opor as suas ordens.
Com isto, passou a ver a filha, escondida do marido.
Eleanor aproveitava as ausências de Irineu para visitar a filha.
Com efeito, Irineu vivia lembrando-lhe que Márcia iria se casar, e que para isto, precisava zelar pela reputação da família.
Disse que Cecília estava excluída da família, e que para isto não havia remédio.
Ao ouvir tais palavras, Eleanor caiu em prantos.
Por diversas vezes, tentou convencer o marido de que estava sendo muito duro com a filha, mas o homem estava irredutível.
Agora porém, era diferente.
Fabrício dissera-lhe que Carlos tinha intenção de contratar um detetive para investigar o paradeiro de Cecília.
Com efeito, ao perceber a resistência do homem em acobertar a mentira, disse-lhe que era apenas uma estratégia para fazer com que Carlos tivesse mais dificuldade para encontrá-la.
Argumentou que nesse meio tempo poderia finalmente localizá-la e auxiliá-la a ficar em um lugar longe do alcance de Carlos.
Como Irineu insistisse em saber o porquê de tanto interesse, Fabrício respondeu que se importava com a sorte de Cecília e de seus sobrinhos. Comentou que não concordava com as atitudes de Carlos, e que não morava mais sob o mesmo teto que o pai.
Irineu por sua vez, um tanto aturdido com a novidade, contou os fatos a esposa.
Eleanor acabou convencendo-o a confirmar a mentira.
E assim, quando Carlos foi visitá-los, o casal confirmou a história, assim como Marta.
Mais tarde, após o telefonema de Fabrício, Eleanor ligou para Eduardo e contando-lhe o ocorrido, pediu para que confirmasse a história.
O moço concordou.
Eduardo, que a esta altura, já era pai de uma criança, comentou que seu sentimento nem chegava aos pés do que seria afeto de mãe, mas já sabia o quanto poderia ser doloroso separar um filho de uma mãe.
O rapaz prometeu que Roseli também confirmaria a história.
Com efeito Eduardo, ao contrário do pai, procurou confortar a irmã, ao saber do sucedido com Pedro.
Nervoso, assim que teve uma oportunidade, foi ter uma conversa com o moço.
Ocasião em que lhe disse tudo o que trazia atravessado em sua garganta.
Segurando o moço pelo colarinho da camisa que usava, disse-lhe que desde que o vira, percebeu que se tratava de um desclassificado, um sujeito ordinário, mas que a pedido de Cecília, não lhe deu um pontapé nos fundilhos, e o pôs para correr.
Pedro, ao ouvir os desaforos, tentou retrucar, no que Eduardo continuou dizendo:
- Pedro, você é um verme! Um covarde! Um rebotalho do mundo. Um resumo de tudo o que o mundo tem de mais execrável... Bêbado, mulherengo, vagabundo, vulgar. Mas o pior de tudo, não é o senhor possuir todas estas qualidades. – começou a concluir o rapaz, com ironia – O mais triste de tudo isto, é que você usou uma pessoa doce, uma garota amorosa, adorável, romântica, sonhadora... Uma virgem inocente para imolar em sacrifício de sua falsidade, de sua hipocrisia. Você usou a minha irmã para fingir ter uma coisa que não tens, que não possuís, que não és... E é por isto, que eu não te perdoou. Você é um canalha!
Nisto, Eduardo cuspiu no rosto de Pedro e empurrou-o no chão.
Roseli que o acompanhava no restaurante, ao presenciar a cena, encheu-se de aflição.
Pedro por sua vez, acompanhado de duas mulheres, humilhado, prometeu se vingar.
Vociferando Eduardo disse para não o ameaçasse, ou teria que cumprir a promessa.
Pedro então, foi auxiliado pelas mulheres a se levantar.
Pegando sua carteira, despejou um maço de notas sobre a mesa e saiu do restaurante.
Eduardo, ao retornar a sua mesa, disse a esposa, que aquele restaurante era muito mal freqüentado, e que por esta razão, não deveriam mais voltar ao local.
Com efeito, quando Eduardo soube que Fabrício também lhe dissera poucas e boas, ficou admirado com o amigo.
Tanto que assim que eles se encontraram, Eduardo o parabenizou pelo ato.
Disse-lhe que Cecília havia se casado muito mal, mas que se tivesse se casado com ele, seria muito feliz.
Com isto, conforme já mencionado, mais tarde, foi sua vez de acertar as contas com o moço.
Nisto, Irineu e Eleanor ficaram aborrecidos com ele, mas Eduardo retrucou dizendo que a conduta de Pedro era inaceitável. Não pelo fato de agora viver uma vida boêmia, mas por ter iludido Cecília a acreditar que ele era um homem de bem, coisa que nunca fora.
Nervoso, argumentou que Angélica e Carlos também não haviam sido honestos, pois esconderam isto deles.
Irineu ao ouvir isto, falou que se soubesse que Pedro era um traste, jamais teria concordado com o casamento.
Aborrecido, perguntou ao filho onde o traste de seu genro estava, pois precisava falar-lhe.
Preocupado, Eduardo tentou sonegar a informação, mas Irineu insistiu.
Disse o homem, que não iria agredir Pedro, muito embora o mesmo merecesse.
Com isto, o filho explicou ao pai, onde encontrara o moço.
Irineu dias depois, foi ao seu encontro.
Comentou com Eleanor, que deveria esperar algum tempo, pois o sujeito certamente evitaria o restaurante após o incidente com Eduardo.
Desta forma, esperou algumas semanas para ir procurá-lo no restaurante.
Caminhando pelos arredores, notou Pedro saindo de um escritório.
Depois de cerca de duas horas andando pelos arredores do restaurante, o homem percebeu que o genro fora abordado por dois rapazes.
De longe podia perceber que conversavam animadamente.
Nisto, após uns vinte minutos, o moço dirigiu-se para o restaurante.
Um funcionário veio lhe atender.
Irineu esperou um pouco e adentrou o restaurante.
Preciso, o homem esperou Pedro fazer seu pedido e começar a comer. Não queria que o moço fugisse. Precisava surpreendê-lo.
E assim o fez.
Calmamente, aproximou-se da mesa onde Pedro almoçava sozinho desta vez.
Perguntou-lhe como estava.
Pedro surpreendeu-se com a aproximação.
Perplexo, ficou segurando o garfo com comida, sem saber o que fazer.
Irineu perguntou-lhe se sabia como estavam os filhos.
Pedro continuou mudo.
Irineu disse-lhe então, que Cecília e seus filhos não estavam mais em São Paulo. Censurou o genro por não saber a localização de sua filha. Disse-lhe que estava no Norte, com alguns parentes.
Pedro perguntou-lhe, o que ele queria.
Irineu respondeu-lhe que queria muita coisa. Hombridade, dignidade, caráter.
Contudo, não poderia exigir estas qualidades de qualquer pessoa. Comentou que cada um só poderia oferecer aquilo que trazia dentro de si, e que só as melhores pessoas poderiam oferecer flores.
Irritado, respondeu que alguns canalhas só poderiam oferecer merda.
Pedro ficou chocado.
Irineu por sua vez, prosseguiu. Comentou que havia conhecido pessoas boas em sua vida, pessoas mesquinhas. Algumas até mesmo más. Contudo, nunca havia conhecido alguém tão egoísta quanto Pedro. Disse que em sua vida se deparou com pessoas capazes de tudo para alcançar uma posição de prestígio, mas que nunca vira alguém tão disposto a pisar na própria família para chegar a algum lugar.
Disse que Pedro além de irresponsável e leviano, era burro, pois dispersava a maior riqueza que havia adquirido em sua vida medíocre, por algo que nem sabia direito o que era.
Pedro tentou retrucar, no que Irineu mandou-o calar a boca.
O moço teve que se calar.
E Irineu continuou.
Disse-lhe que hoje ele poderia estar se divertindo muito, levando uma vida leve, despreocupada. Argumentou porém, que não acreditava em felicidades de cinema, aparentemente duradouras, mas frágeis. Comentou que um dia a vida lhe cobraria o que fizera com a esposa e os filhos. Um dia o remorso se apoderaria dele, mas aí seria tarde, por que talvez Cecília e seus filhos não estivessem dispostos a perdoá-lo, e ele teria que suportar sozinho todo o peso da amargura que causara aos seus.
Sorrindo, Irineu respondeu-lhe que o castigo viria a cavalo.
Dito isto, afastou-se.
Irônico, desejou um bom almoço a Pedro.
O jovem, furioso que estava, perdeu a fome. Pediu a conta e pagou o almoço, deixando a refeição pela metade.
Quando Irineu contou a esposa como fora o dialogo com Pedro, a mulher riu bastante.
Admirada, comentou que ele havia agido corretamente, posto que se tivesse agredido o rapaz, perderia a razão.
Irineu irônico, comentou que não tinha o direito de chutar um cachorro já abatido. Disse que Pedro já apanhara do cunhado e do próprio irmão.
Argumentou que nem Carlos concordara com o que ele fizera. Disse que Pedro teria que suportar o pior dos castigos, a solidão.
Eleanor concordou. Comentou que sentia um pouco de pena do moço, pois quando ele caísse em si, provavelmente seria tarde demais, e o remorso o corroeria por dentro.
Irineu respondeu que não sentia nem um pouco de pena.
Eduardo e Roseli, ao saberem da conversa de Irineu com Pedro, parabenizaram-no.
Irineu corrigiu-os dizendo que a conversa estava mais para um monologo que para diálogo. Completou dizendo que falara tudo o que estava preso em sua garganta.
Eduardo, por sua vez, visitou a irmã algumas vezes.
Antes da moça mudar de endereço, visitou-a.
Ao contrário do pai, apoiou a decisão da moça de trabalhar para sustentar a casa.
Eduardo aconselhou-a a não desistir de trabalhar, mesmo que para isto, tivesse que enfrentar hostilidade. Argumentou que se Pedro era um traste, e ela teria que mostrar que era o oposto dele.
Cecília chorou.
Roseli por sua vez, em conversas com Cecília, comentou que Eduardo era uma pessoa rara.
Isto por que, poucas pessoas naquele tempo pensavam daquela forma. Ainda mais os homens.
Eduardo, ao tomar conhecimento das ameaças de Carlos, criticou a posição do homem em querer tomar os filhos dela. Por esta razão, aconselhou-a a mudar-se para uma outra cidade, desaparecer por algum tempo.
Cecília comentou que temia que o sogro conseguisse tirar os garotos de sua presença.
Eduardo disse que ela deveria ter cuidado com Carlos. Insistiu na idéia de que ela deveria sair de São Paulo. Comentou que poderia ajudá-la a encontrar uma outra cidade para viver.
Jurema concordou com o conselho. Dizia a Cecília que ela deveria mudar de ares.
Eduardo também criticou a posição do pai em não mais visitá-la, apenas mantendo contato por telefone. Dizia que ele estava errado.
Mas ainda assim, aconselhou Cecília a relevar.
Argumentou que dificilmente um pai e uma mãe aceitariam uma separação, tendo em vista o estigma social que isto acarretava.
Eduardo, em conversas com o pai, criticou sua atitude, e disse que Cecília se ressentia disto. Argumentando que a irmã precisava de apoio e não do desprezo da família, acabou por discutir com o pai.
Razão pela qual se afastou um pouco da casa da mãe.
Eleanor aborrecida, comentou que com sua atitude, Irineu iria afastar todos os filhos.
Porém, com o tempo, e a necessidade de proteger Cecília, a família voltou a se aproximar.
Quando Cecília se ausentou definitivamente, Irineu ficou exasperado.
Começou a sentir saudade da filha e dos netos.
Aborrecido, chegou a comentar com a família por que ela não se despedira, antes de partir.
Eleanor ficava penalizada quando Irineu se relembrava das tardes passadas com os netos, as brincadeiras, as conversas.
Relembrava o casamento de Cecília, a separação, o desentendimento. As palavras duras que dirigira a ela.
Certo dia, chorando, perguntou se um dia Cecília iria perdoá-lo pelo que dissera.
Eleanor ao ver a cena, procurou ver o que estava acontecendo.
Irineu por sua vez, tentando disfarçar a emoção, disse que um cisco caíra em seu olho, e que por esta razão, estava lacrimando.
Eleanor fingiu acreditar.
Dias mais tarde, lembrou-se de haver criticado Cecília pelo telefone, sobre o término do casamento. Censurou-a por estar se encontrando com Fabrício.
Eduardo, por sua vez, ao saber da boa convivência que Cecília tinha com Fabrício, chegou a dizer ao pai que seria melhor que ela tivesse se casado com ele do que com Pedro.
Foi o bastante para deixar Irineu irritado.
Eduardo, ao tomar conhecimento das visitas de Fabrício a sua irmã, chegou a dizer-lhe que era com ele que Cecília deveria ter se casado.
Fabrício ao ouvir isto, ficou sem jeito.
Eduardo por sua vez, comentou que Fabrício era muito atencioso com Cecília.
No que o moço respondeu que Cecília era uma boa moça, e que adorava os sobrinhos.
Eduardo contudo, não ficou convencido.
Recordou-se de alguns eventos ocorridos quando Cecília ainda era noiva de Pedro.
Brincando, disse a esposa, que Fabrício poderia estar interessado em Cecília desde quando esta era noiva de Pedro.
Roseli por sua vez, recomendou ao marido, que não dissesse bobagens.
Samuel, o filho do casal, sorria para os dois.
Com Cecília, o tom da conversa, foi recomendando o namoro dos dois.
A moça ao ouvir isto, ficou chocada.
Chegou a comentar que não esperava um comentário daqueles vindo de seu irmão.
Argumentou que muitas pessoas levianamente faziam este tipo de comentário.
Eduardo, tentando se justificar, dizia que não estava querendo ser leviano. Apenas estava tentando fazer com que enxergasse uma nova possibilidade.
Nervosa Cecília insistiu para que não proferisse mais aquelas palavras.
Com efeito, Fabrício, trabalhava em outro local.
Ao sair do trabalho, tentava encontrar pistas do paradeiro da moça.
Certo dia, ao sair do emprego, encontrou Jurema se encaminhando para pegar o bonde.
O jovem, ao ver a mulher, passou a segui-la.
Fabrício entrou no ônibus, e acompanhou-a até uma rua num bairro distante.
Ao descer do ônibus, chamou-a pelo nome.
Jurema, ao virar de costas, percebeu que se tratava de Fabrício.
O homem então, perguntou-lhe novamente se ela de fato não sabia onde Cecília estava.
Jurema tentando se certificar de que Fabrício era de confiança, perguntou qual era seu interesse nisto, e se estava ali, a pedido de Carlos.
Fabrício respondeu que há semanas não conversava com seu pai, e que não morava e tampouco trabalhava mais com Carlos. Comentou então que desde que soubera que o pai ameaçou tirar as crianças de Cecília, rompeu com a família, somente mantendo contato com Angélica.
Jurema disse-lhe então, que não tinha idéia de para onde Cecília fora, mas que se ele era uma pessoa confiável, a resposta chegaria. Prometeu que assim que tivesse uma novidade, contaria para ele.
Fabrício ao ouvir isto, agradeceu e se afastou.
Dias depois, Jurema partiu.
Foi ao encontro de Cecília e dos meninos Eli e Francisco.
Cecília a esta altura, já havia encontrado trabalho como secretária em um escritório de contabilidade.
Para justificar o fato de ter filhos pequenos, dissera que era viúva, posto que o marido estava ausente há mais de três anos. Relatou que o homem havia viajado para o exterior e não mais voltara.
Paranhos, o dono do escritório, perguntou se ela havia tomado as providências cabíveis, no tocante a declaração de ausência do marido.
Cecília respondeu que ainda não.
Paranhos aconselhou-a a regularizar sua situação, posto que juridicamente ainda estava casada.
Solícito, o homem orientou-a a procurar um advogado o quanto antes.
Cecília, um pouco tensa, respondeu que tomaria esta providência assim que fosse possível.
Disse que estava tentando esquecer suas tristezas, e que por isto estava tentando refazer sua vida em outro lugar.
O homem compreendeu.
Cecília começou então, a trabalhar.
Anotava recados, agendava horários, organizava arquivos e pagamentos.
Os meninos freqüentavam uma escola pública da cidade.
Voltavam sozinhos para casa.
Quando Jurema finalmente se desincumbiu de suas tarefas em São Paulo, foi até a outra cidade.
Com isto, ao chegar a casa de Cecília, se deparou com Eli e Francisco, brincando no quintal.
Os meninos, ao verem a mulher, trataram logo de abrir o portão.
Jurema perguntou-lhe se estavam sozinhos.
Eli respondeu que a mãe estava trabalhando em um escritório da cidade e que só voltaria no final da tarde.
Jurema, ao abraçá-los, comentou que não estava ali de visita. Comentou que estava disposta a ajudar a cuidar deles.
Nisto os três adentraram a residência.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 16
Eli e Francisco pediram para ficar com a mãe.
Pedro autorizou.
Nisto os meninos sentaram-se na cama onde Cecília estava acomodada.
Perguntaram se estava doendo, se ela estava bem.
Quando Eli ameaçou cair em cima do braço machucado, Pedro chamou-lhe a atenção.
Disse que tivesse cuidado com o braço imobilizado.
Envergonhado, pediu para ficar a sós com a esposa.
Os meninos se retiraram do quarto.
Ao se ver a sós com a esposa, Pedro disse-lhe que terminaria de fazer as malas e sairia de casa. Argumentou que depois do que ocorrera, não havia mais ambiente para ele ficar.
Cecília chorando, concordou.
Disse que ele deveria se afastar um pouco. Assustada, comentou que não o reconhecia mais. Não parecia mais com o homem com quem casou-se.
Com isto, o homem terminou de fazer as malas e partiu.
Eli e Francisco ao verem o pai segurando uma mala, perguntaram para onde ele ia.
Pedro não respondeu.
Apenas pediu aos filhos para que cuidassem de Cecília.
Em seguida, abraçou os meninos e saiu do apartamento.
No dia seguinte, um funcionário foi até a residência levando um envelope, o qual deixou com Cecília.
A mulher ao abri-lo, deparou-se com uma certa quantidade de cédulas de dinheiro, e um recado de Pedro, que dizia que aquele dinheiro era para cobrir o pagamento das despesas mais urgentes, e que mais tarde, providenciaria mais dinheiro.
Cecília por sua vez, procurou avisar seu chefe, que não poderia ir trabalhar nos próximos dias.
Telefonou-lhe informando que caíra do coletivo e machucara o braço.
Quando se recuperou, a mulher retornou ao trabalho.
Com efeito, todos os dias os meninos perguntavam pelo pai.
Queriam saber o que havia acontecido, por que ele saíra de casa, se não voltaria mais. Por que não os visitava.
Cecília não sabia o que fazer.
Tentando transmitir tranqüilidade aos filhos, dizia que Pedro precisara se ausentar por alguns dias, e que não tinha previsão de quando retornaria.
Eli e Francisco ansiosos, insistiam em perguntar quando ele voltaria.
Pedro por sua vez, retornou a casa dos pais.
Carlos, ao tomar conhecimento de que o filho deixara sua casa e voltara para a residência dos pais, exigiu explicações.
Como Pedro dissesse que teve um desentendimento com a esposa, Carlos ficou furioso.
Argumentou que casamento não era um passatempo, e que não seria na primeira dificuldade, que ele deveria abandonar o navio.
Pedro retrucou dizendo que não fora um simples desentendimento. Argumentou que Cecília o desrespeitou.
Intrigado, Carlos perguntou o que havia acontecido.
O moço tentou desconversar.
Carlos exigiu uma explicação.
Nisto, rapaz disse que Cecília começou a trabalhar fora.
Carlos ficou perplexo.
Angélica também.
Por fim, o homem perguntou por que Cecília faria isto.
Pedro respondeu que ela não o respeitava mais.
Nervoso, retirou-se do escritório do pai, e trancou-se em seu quarto.
Carlos com efeito, tentou tirar satisfações com o filho.
No que foi impedido por Angélica que recomendou deixar o moço sozinho.
Disse que assim ele poderia por suas idéias em ordem.
Com isto, os dias se passaram e Carlos continuava recluso.
Carlos começou a se impacientar.
Angélica e Fabrício procuraram acalmar o homem.
Diziam que aos poucos, ele voltaria a trabalhar, e que também, acabaria se reconciliando com Cecília.
Carlos porém, não parecia convencido.
Comentou temeroso, que Pedro acabaria voltando a viver de forma desregrada.
Fabrício tentou argumentar dizendo que era apenas uma fase.
O homem contudo, não estava convencido disto.
Aflito, dizia que se até Fabrício se tornara um mulherengo, por que Pedro, que sempre o fora, não poderia voltar a vida boêmia?
Ao ouvir o comentário, Fabrício se aborreceu. Disse que não tinha compromisso com ninguém, e que nunca se descuidara de seu trabalho. Razão pela qual ele não deveria se preocupar com sua vida.
Carlos irritou-se.
Angélica percebendo que aquilo acabaria em discussão, resolveu intervir.
Dizendo que todos estavam nervosos, recomendou que cada um fosse para um canto e só voltasse a se falar quando estivessem mais calmos.
Fabrício, ao tomar conhecimento dos fatos, ficou espantado.
Conversando com a mãe, censurou o irmão.
Afinal de contas, como pudera fazer isto, com alguém tão doce quanto Cecília?
Angélica ao ouvir aquelas palavras, censurou o filho. Disse que ele estava proibido de fazer aquele comentário com seu pai, ou mesmo com Pedro.
Dizia que Pedro não agira de forma correta, mas que não cabia a ele julgar o irmão.
Nervosa, a mulher exigiu que ele permanecesse neutro em relação ao assunto.
Fabrício ficou surpreso com a reação de sua mãe.
Chegou a dizer que ao contrário do que ela estava pensando, não iria se aproveitar da situação para se jogar nos braços de Cecília. Argumentou que entendia perfeitamente que fora um desentendimento, e que em breve, estariam reconciliados.
Nisto, retirou-se.
Fabrício procurou permanecer mais tempo na empresa.
Carlos por sua vez, resolveu ter uma conversa séria com Pedro.
Dizendo que ele não poderia permanecer na casa, intimou-o a conversar com Cecília, e também a retomar seu trabalho.
Pedro irritado, respondeu que não queria mais falar com Cecília. Dizia que não estava preocupado com ela.
Carlos, ao ouvir estas palavras, disse que ele tinha dois filhos com a moça, e que eles precisavam de atenção e de cuidados.
Pedro respondeu que daria uma mesada a Cecília, para que ela cuidasse dos meninos.
Irritado, argumentou que trabalhando, ela poderia perfeitamente sustentá-los sozinha.
Carlos retrucou dizendo que Pedro era uma vergonha para ele. Só o fazia passar vergonha.
Pedro, ao ouvir isto, trancou-se novamente no quarto.
Refez suas malas.
No final da tarde, quando Carlos e Fabrício se ocupavam de seu trabalho na empresa, Pedro aproveitou a ausência de Angélica para sair da casa.
Neste período, Irineu, ao tomar conhecimento dos últimos acontecimentos, foi visitar a filha e os netos.
Conversando com Cecília, Eleanor e Irineu descobriram que Pedro a empurrara, machucando seu braço.
Irineu ao saber disto, ameaçou ir tomar satisfações com o rapaz.
Eleanor, temendo uma briga séria, recomendou-lhe que se acalmasse primeiro.
Irineu retrucou dizendo que quem precisava se acalmar era o moço, que deveria voltar para casa e cuidar de seus filhos. Nisto, censurou a filha comentando que ela não deveria ter deixado o moço sair de casa.
Ao ouvir isto, Cecília respondeu que não fora ela quem expulsara Pedro, e sim ele que havia se excluído de sua vida. Argumentou que ultimamente nem nas despesas domésticas o homem vinha auxiliando. Razão pela qual resolveu procurar um trabalho.
Irritado, Irineu respondeu que aquele não era um comportamento de uma moça de família.
Ao ouvir isto, Eleanor censurou o marido. Argumentou que Cecília estava fazendo o possível para que a família se mantivesse unida, e que ele não tinha o direito de censurá-la por isto.
Cecília começou a chorar.
Eleanor então, penalizada, tentou consolá-la.
Disse-lhe que não concordava com as idéias de Irineu e que nunca iria fazer com ela o mesmo que Pedro fizera.
Mais tarde, depois de conversar um pouco com os netos, o casal saiu.
Irineu não mais visitou a filha.
Certo dia, em conversa com o filho, comentou que ele tinha razão em relação a sua desconfiança em relação a Pedro, e que se ele também tivesse percebido isto, jamais teria permitido que Cecília se casasse com ele.
Eduardo comentou que águas passadas não deviam mover moinho, e que o que estava feito, estava feito. Não havia como voltar atrás.
Irineu concordou.
Tempos depois, dirigiu-se a casa de Angélica e Carlos, perguntando sobre o moço.
Todavia, não logrou êxito em sua localização.
Com efeito, foi informado por Angélica que o moço havia sumido e que nem ela e tampouco Carlos, sabiam onde estava.
A mulher demonstrou estar deveras preocupada com o sumiço do filho.
Irineu por sua vez, ficou muito contrariado.
Tanto que chegou a reclamar com a esposa.
Dizia que o moço estava se escondendo, mas que isto não evitaria que assim que o encontrasse, lhe dissesse poucas e boas. Argumentou que o sujeito era um desclassificado.
Dias mais tarde, Carlos e Angélica foram a visitar Cecília.
Preocupados, levaram uma soma em dinheiro para a moça, que recusou o oferecimento.
Cecília disse que Pedro lhe mandava uma soma mensal, e que ela também estava trabalhando para manter os filhos.
Triste, comentou que procurou um emprego, por que Pedro se esquecia às vezes de deixar o dinheiro necessário para cobrir as despesas da casa. Disse que não resolveu trabalhar para afrontar alguém, e sim por uma questão financeira.
Carlos, ao ouvir suas palavras, censurou-a. Alegou que ela deveria ter conversado com o marido.
Cecília respondeu que tentou, mas que o marido, atarefado demais, não quis ouvi-la.
O homem enervou-se.
Angélica por sua vez, conversou com os netos. Perguntou se estavam bem.
Eli e Francisco, fizeram muitas perguntas. Queriam saber se o pai estava em sua casa, e quando iria voltar. Os meninos disseram a ela que a mãe não lhes contava o que estava acontecendo.
Angélica usando de diplomacia, disse aos meninos que Pedro estava em sua casa descansando. Argumentou que o filho vinha trabalhando muito e pediu para ficar alguns dias em seu quarto, se refazendo. Tentando consolar os meninos, disse que o pai não havia se esquecido deles. Comentou que Pedro se perguntava como estava os filhos.
Eli por sua vez, deixou escapar que Pedro agredira Cecília.
Contou que no dia que pai deixou a casa, a mãe sofreu uma queda e ficou com o braço quebrado.
Quando Carlos tomou conhecimento do fato, ficou furioso.
Vociferando, disse que além de vagabundo e estróina, o filho era covarde.
Cecília ficou espantada com a reação do sogro.
Nisto, o homem perguntou detalhes do que havia acontecido.
Angélica, tensa, pediu ao marido para que se acalmasse.
Cecília confessou então que Pedro, num acesso de fúria, a levou ao chão.
Em seguida, ao vê-la ferida, chamou um médico, que a tratou.
Angélica, tentando a amenizar a situação, disse que Pedro tentou remediar o mal feito. Argumentou que ele devia estar envergonhado. Por isto se recusava em voltar a casa.
Cecília, ao ouvir o comentário de Angélica, argumentou que não gostaria que Pedro voltasse. Confessou que temia sofrer uma nova agressão.
Argumentou que estava conseguindo um bom dinheiro com seu trabalho, e não precisaria mais depender de Pedro.
Chorando, contou que Pedro vinha adotando um comportamento estranho há bastante tempo, mas que ela, tentando amenizar a situação, procurou não se ocupar disto. Disse que tentou a todo custo fazer Pedro feliz, mas que não havia conseguido.
Angélica, perguntou-lhe se não estava tendo problemas, depois de tomar aquela decisão.
Cecília respondeu que as mulheres, evitavam conversar com ela. Contou que um dia, ouviu um comentário de uma delas, dizendo que ela era uma péssima influência para suas filhas, as quais se encontravam em idade de casar.
Angélica então, tentou convencer a moça a mudar de idéia.
Cecília contudo, parecia resolvida.
Estava magoada demais.
Angélica, propôs então, que os meninos fizessem uma visita a Pedro.
Cecília se opôs.
Argumentou que não era o momento.
Eli e Francisco protestaram.
Cecília por sua vez, prometeu aos filhos, que assim que fosse possível, iriam visitar o pai.
Eli e Francisco pediram insistentemente a mãe, que deixassem o pai voltar a casa.
A mulher por sua vez, disse que não seria possível.
Comentou que a despeito disto, Pedro continuava a ser o pai deles.
Mais tarde, Carlos e Angélica se despediram da moça e dos netos.
Eli e Francisco continuaram a freqüentar a escola.
Cecília continuou o trabalho.
Trabalhava com secretária em um escritório de advocacia.
Em sua carteira de trabalho, tirada quando ainda era solteira, constava aquele primeiro registro de emprego.
Inicialmente as crianças sentiram a separação.
Reclamaram muito da ausência do pai.
Em algumas oportunidades, Cecília foi chamada a escola.
Eli e Francisco, chegaram a brigar com os coleguinhas.
Frequentemente as crianças voltavam chorando para casa.
Cecília, percebendo isto, resolveu que no ano seguinte, matricularia as crianças, em outra escola.
A mulher também sofreu hostilidades.
Algumas vizinhas, ao verem-na passar pelo hall social do prédio, comentavam entre si, que não podiam deixar seus maridos sozinhos, pois haviam muitas mulheres a procura de homens, e os casados lhes pareciam mais interessantes para elas.
Cecília fingia não ouvir.
Algumas vezes chegou a ser inquirida sobre a volta de Pedro.
Cecília respondia que estava tudo bem.
Evitava conversar com as vizinhas. Estava cansada de inventar desculpas para a ausência de Pedro.
Certo dia, ao voltar tarde do trabalho, Cecília percorreu a área social do prédio.
Quando entrou no elevador junto com um vizinho, a mulher foi indagada da seguinte maneira:
- E o seu marido, como vai?
Cecília respondeu que ia bem.
O vizinho, ao ouvir o comentário, argumentou que fazia semanas que não via o homem. Perguntou-lhe se não estava precisando de alguma coisa.
Cecília respondeu que estava tudo bem, e que não estava precisando de nada.
Como o homem insistisse em oferecer seus préstimos, a mulher disse que se precisasse de alguma coisa, informaria todos os vizinhos, e que não havia com o que se preocupar, pois estava tudo bem.
Nisto a porta do elevador se abriu, e Cecília se dirigiu ao seu apartamento. Caminhou pelo corredor, e abrindo a porta, entrou em seu apartamento.
Eli e Francisco estavam ansiosos esperando-a.
Depois da separação, a mulher contratara uma pessoa para cuidar da casa e dos filhos.
Nos fins de semana, levava os meninos para passearem.
O Jardim da Luz, era um lugar onde adoravam passear.
Os meninos se esbaldavam.
Brincavam de carrinho, corriam de um lado para outro.
Quando havia algum filme da Disney em cartaz, levava os meninos para assistir.
Os meninos assistiram desenhos animados como Peter Pan, Alice no País das Maravilhas.
As crianças também gostavam de brincar na pracinha que havia próxima ao prédio em que moravam.
Passavam a tarde inteira brincando no parquinho.
Jurema, depois que os meninos faziam os deveres de casa, aproveitava para levar os meninos para brincar.
Pedro por sua vez, voltou a sua vida boêmia.
Frequentemente era visto ao lado de mulheres, bebendo.
O homem abandonou o trabalho na empresa do pai.
Passou a trabalhar no escritório de um concorrente da família.
Carlos ficou aborrecido ao saber disto.
Cecília por sua vez, continuou trabalhando fora.
Percebendo porém, que era recriminada por isto, haja vista que até seus sogros criticaram sua decisão em continuar trabalhando, a mulher decidiu fazer as malas e se mudar para outro endereço.
Levou consigo, todo o mobiliário que guarnecia a casa.
Sem comunicar a família do marido, Cecília mudou-se com a família para um apartamento em um bairro mais afastado.
Conversando com os filhos, fez os mesmos prometerem que não contariam a ninguém sobre Pedro. A mulher disse aos meninos, que para todos os efeitos, ela era viúva.
Eli e Francisco, mais crescidos, concordaram.
Antes de partir, Cecília tentou promover um encontro entre os meninos e o pai, mas foi informada por Angélica que Pedro havia saído de casa, e que não entrara mais em contato.
A mulher respondeu por telefone, que não tinha idéia de onde o filho estava.
Triste, comentou que Fabrício vira o irmão envolvido com mulheres e bebedeira.
Cecília ficou horrorizada.
Perplexa, deixou escapar que se arrependia de haver se casado com um homem tão leviano.
Perguntou-se como não havia percebido antes, que estava caminhando para um abismo?
Angélica não gostou de ouvir aquelas palavras.
Mas ciente de todo o desgosto que Pedro lhe causara, e de toda a vergonha que vinha causando a sua família, Angélica entendeu a tristeza da moça.
Neste instante, pediu-lhe desculpas. Disse a moça que ela e Carlos estavam em débito com a família Cordeiro, pois não contaram para eles o que Pedro já havia feito.
Cecília respondeu que nos momentos que precederam o casamento, como o namoro e o noivado, ele parecia ser sincero quando dizia que gostava dela.
Angélica ao ouvir estas palavras, respondeu que Pedro não mentira quando dizia que a amava. Comentando que Pedro estava feliz, disse que ele estava muito mudado, nem parecia mais o mesmo homem. Surpresa, contou que não esperava uma atitude destas do filho. Chateada, falou que o filho estava regredindo.
Desta feita, insistiu no pedido de desculpas.
Cecília aceitou-as.
Disse que acreditava nas palavras da sogra.
Nisto, Carlos e Fabrício, ao notarem o sumiço do rapaz, procuraram-no pela cidade.
Adentraram bares, boates.
Mas nenhum sinal do homem.
Certo dia, Fabrício viu o irmão abraçado por duas mulheres, e bebendo muito.
O moço tentou levar Pedro de volta para casa, mas o mesmo resistiu.
Fabrício chamou o irmão para briga.
Os dois chegaram a rolar no chão.
A certa altura, a dupla foi contida.
Fabrício irritado, chamou Pedro de canalha. Disse-lhe que não merecia a esposa que tinha.
Pedro, em expressão desdenhosa, disse ao irmão para que ficasse com ela.
Fabrício ameaçou avançar contra ele.
Se não fosse impedido, teria brigado novamente com o irmão.
Ao ver o moço se afastando, Pedro pediu para que Fabrício o esquecesse.
No que o jovem respondeu:
- Não se preocupe! Para mim, você está morto!
Nisto o rapaz foi arrastado para fora do estabelecimento.
Neste meio tempo, Fabrício aproveitou para visitar Cecília algumas vezes.
Sem a presença dos pais, procurou demonstrar o quanto estava sentido com a atitude intempestiva de Pedro.
Tentando consolá-la, argumentou que nada justificava a atitude do irmão.
Como os pais, ofereceu ajuda a moça, que prontamente recusou-a.
Fabrício então, segurando a mão da jovem, disse-lhe que sempre que precisasse, não importasse a hora do dia ou da noite, poderia contar com ele.
Cecília agradeceu a gentileza.
Eli e Francisco, ficavam felicíssimos com a visita do tio.
Isto por que Fabrício brincava com os meninos.
Nunca aparecia de mãos vazias. Sempre levava uma lembrancinha para os garotos.
As vezes, lia algum livro de história para os meninos.
Cecília gostava da amizade do tio pelos garotos.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 15
Pedro e Cecília por sua vez, passaram a usufruir da vida de casados.
Cecília cuidava da casa, lavava as roupas do casal, passava-as, limpava a cozinha, o banheiro, tirava o pó dos móveis, varria o chão, cozinhava.
No jantar, preparava um arroz, com salada e carne, além de suco.
Estava feliz.
Trabalhava ao som do companheiro inseparável, o rádio.
Uma vez por semana ia a feira comprar frutas e verduras.
Ia ao açougue para comprar carne bovina e de frango, e na peixaria para comprar peixe.
Também ia ao mercado.
Cecília, sempre que precisava de algum dinheiro, pedia ao marido.
Pedro sempre lhe dava mais dinheiro do que pedia.
Gentil, dizia que ela poderia utilizar o que sobrava com seus alfinetes.
Cecília ria.
Falava que com tantas roupas que havia ganho de sua sogra, não precisaria se preocupar com isto tão cedo.
Pedro porém, insistia para que comprasse algo para ela.
Cecília então, guardava parte do dinheiro em um objeto escondido dentro do armário.
De vez em quando comprava um sapato para ela, um perfume, cosméticos.
Nos aniversários do esposo, a mulher comprava um presente para o moço.
Certa vez, comprou para ele um par de abotoaduras de ouro.
Já havia lhe dado de presente gravatas, e prendedor de gravata.
Nos aniversários de casamento presenteava o esposo, mas também recebia presentes. Geralmente jóias.
Em seus aniversários, a jovem recebia de presente lindos vestidos.
Nestas datas comemorativas, Cecília preparava um belo jantar.
Comidas especiais.
Certa vez, após conversar com a sogra, descobriu uma receita de medalhão.
Com todo o cuidado preparou o prato.
Delicada, montou o arroz com uma forma.
De acompanhamento, um bom vinho.
Na mesa, velas encaixadas em um castiçal.
Pedro ao ver as mesas tão delicadamente arrumadas, sempre elogiava o cuidado da esposa na preparação destas comemorações. Dizia que não poderia escolher melhor esposa, sempre atenciosa e cuidadosa. Nunca se esquecendo de nenhum detalhe para fazê-lo feliz.
Invariavelmente se beijavam.
De sobremesa, Cecília preparava um bolo, ou uma torta.
Nos aniversários de casamento, Pedro levava a moça para jantar em algum restaurante da cidade.
Em uma das festas, um grupo de serestas aproximou-se da mesa, e começou a cantar lindas canções espanholas para a moça.
Atencioso, Pedro oferecia-lhe flores.
Jantavam pratos sofisticados, como frutos do mar, carnes, massas.
Certa vez, o moço levou a esposa para comer paella.
Cecília adorou a iguaria.
Nestas datas, o homem costumava levava a mulher para assistir algum filme. Poderia ser uma chanchada, um filme dos estúdios Vera Cruz, ou um filme americano – um filme noir, uma comédia romântica, um drama, um musical, e até filmes históricos.
Animados, ficavam comentando o filme durante o jantar.
Quando Cecília assistiu ao filme de Antony Dexter, sobre a vida de Rodolfo Valentino, Pedro comentou que sua mãe era apaixonada por Rodolfo Valentino. Contou que sua mãe assistia todos os filmes com o latin lover.
Curiosa, a moça perguntou como eram os filmes.
Pedro respondeu que não tinha a menor idéia.
Cecília aproveitou então para perguntar a sogra, em um dos muitos almoços promovidos por ela.
Certa vez, conversando com sua mãe – Eleanor – a mesma comentou que ele fora um ator que causou frisson entre as mulheres, e muito ciúmes entre os homens.
As mulheres comentaram que ele era um exímio dançarino. Bonito, bem arrumado, com o cabelo sempre moldado por uma pomada, fazia filmes em que arrebatava as mulheres, envolvendo-as com seu ar sedutor.
Irineu sempre que ouvia este tipo de comentário, dizia que ele era homossexual.
Carlos dizia que ele era muito afetado.
Angélia e Eleanor protestavam.
Pedro e Eduardo achavam graça na atitude indignada de Angélica e Eleanor.
Com o tempo vieram os filhos. Dois meninos, Eli e Francisco.
Quando os meninos nasceram, Eleanor fez questão de preparar em sua casa, um almoço em comemoração a cada um dos nascimentos.
Primeiro, o nascimento de Eli, que foi batizado na igreja do bairro onde a mulher morava.
No almoço foi preparada uma bela carne de porco, com arroz, salada.
Carlos providenciou as bebidas.
Francelino e Angela, compareceram a festa.
Odair e Diva a esta época, convalesciam de uma gripe, e não puderam comparecer.
Carlos lamentou a ausência.
Angélica por sua vez, levou uma roupinha para o neto.
Cecília agradeceu o presente.
Eduardo nesta época já havia se casado com Roseli.
Fabrício e Cecília foram convidados para serem os padrinhos do moço.
Eleanor, ao notar a insistência do filho para que o padrinho fosse Fabrício, comentou que esta escolha poderia causar mal estar.
Eduardo, argumentou que não tinha nada contra Pedro, mas que tinha mais amizade com Fabrício.
De fato, os dois sempre que se encontravam nos almoços da família, conversavam animadamente.
Com isto, quando Eduardo ficou noivo de Roseli, aconselhou o rapaz a arrumar alguém. Dizia que Fabrício era muito sozinho.
No que Fabrício respondia que estava bem. Argumentava que não arrumaria alguém só para dizer que não estava sozinho. Agradeceu a preocupação, mas argumentou que no momento certo, encontraria a mulher ideal.
A dupla conversava sobre trabalho, os projetos que tinham para o futuro.
Angélica e Eleanor ficavam felizes com a amizade.
Fabrício também conversava com Roseli.
A moça trabalhava fora. Dizia que precisava trabalhar para auxiliar nas despesas domésticas.
Com efeito, depois de casada, a moça continuou trabalhando fora. Trabalhava como cabeleireira.
Eduardo, trabalhava em um escritório. Era contabilista.
Para o jovem, Pedro era um homem extravagante.
Fabrício dizia que seu irmão não era má pessoa, e que estava tentando se melhorar.
Dizia que o irmão já aprontou muito, e que depois que conheceu Cecília, passou a adotar um comportamento mais comedido.
Eduardo porém, não estava convencido disto.
Eleanor por diversas vezes, disse que o filho era muito desconfiado e ciumento.
E assim, o moço escolheu Fabrício como seu padrinho.
Cecília, ao tomar conhecimento da escolha do irmão, argumentou o porquê da resistência em escolher Pedro como padrinho.
Eduardo comentou que sua amizade era maior com Fabrício.
Ás vezes a dupla se encontrava em festas, e com isto, a amizade se fortaleceu.
E assim, só coube a família concordar.
Pedro por sua vez, ficou melindrado, mas procurou entender.
Tanto que não criou empecilhos para a esposa ser a madrinha.
Roseli escolheu Angélica e Carlos como padrinhos.
A mulher, ao tomar conhecimento da escolha, ficou emocionada.
Feliz, agradeceu a escolha.
Para organizar a cerimônia de casamento, foi preciso fazer alguns ensaios.
Isto por que os pais dos noivos e os padrinhos precisavam saber em qual lugar do altar, ficariam.
E assim, Fabrício e Cecília tiveram que participar dos ensaios.
Com isto, a dupla caminhou de braços dados até o altar.
Pedro ao ver o ensaio, questionou o fato de Fabrício segurar o braço de Cecília.
Argumentou que aquilo não era necessário.
Eduardo por sua vez, disse que todos os padrinhos caminhariam de braços dados até o altar.
Pedro porém, continuou protestando.
Eleanor, ao tomar conhecimento do fato, perguntou ao filho se não era melhor abrir mão daquela formalidade.
Eduardo respondeu que não. Disse para Pedro que eles eram cunhados e que não havia nada de mais no gesto.
Pedro teve que aceitar.
Nervoso porém, questionou com a mulher o fato.
Cecília por sua vez, dizia que não via problemas em caminhar de braços dados com o irmão de seu marido. Argumentou que não via nada de inapropriado nisto.
Certo dia, a moça tropeçou no tapete, sendo amparada pelo cunhado.
Eduardo, ao ver a cena, acorreu em sua direção. Perguntou-lhe se havia se machucado.
Cecília respondeu que não.
Márcia recebeu a incumbência de ser dama de honra.
Desta forma, também participou dos ensaios.
Pedro, ao tomar conhecimento do incidente, perguntou-lhe se estava tudo bem.
A moça respondeu que sim.
Quando finalmente chegou o momento do casamento, Eduardo estava muito feliz. O rapaz usava um fraque preto.
Roseli por sua vez, foi conduzida por seu pai, ao altar. Durante a cerimônia, chorou emocionada.
Usava um vestido rodado branco, de manga comprida.
Fabrício permaneceu ao lado de Cecília no altar.
Carlos e Angélica também ficaram no altar, ao lado dos pais da moça.
Eleanor e Irineu, estavam radiantes e elegantíssimos.
A mulher usava um vestido longo e Irineu usava um terno cinza.
A cerimônia foi muito bonita.
O sacerdote começou a falar do encontro do casal, da união de propósitos. Comentou que os anjos estavam abençoando a união.
Na saída da igreja foi jogado arroz sobre os noivos.
Durante a festa, Roseli jogou o buquê.
Uma vizinha da moça pegou-o.
A festa foi simples, mas muito animada.
Agora a família participava do almoço em comemoração ao batizado de Eli.
A pedido de Cecília, Eduardo e Roseli se tornaram padrinhos da criança.
Por sua vez, no batizado de Francisco, os padrinhos do menino foram Eleanor e Irineu.
A mulher novamente preparou um almoço.
A certa altura do almoço, Irineu sugeriu um brinde em homenagem a linda família que Pedro e Cecília haviam formado.
Todos os convidados brindaram.
Nesta comemoração, todos lamentaram a ausência dos bisavós paternos do menino.
Diva e Odair, haviam falecido recentemente.
Francelino e Ângela, por sua vez, compareceram ao almoço.
Carlos e Angélica também participaram do evento.
Fabrício levou um presente para o menino.
Márcia, a todo o momento pedia para segurar o menino.
Cecília concordou.
Márcia, que nesta época entrava na adolescência, adorou segurar o menino, que tranqüilo, se aninhou em seus braços.
Eli por sua vez, ficou no gramado do quintal da casa, brincando.
Angélica adorava paparicar os netos.
Tanto que ficou segurando os netos no colo.
Angélica brincou com Eli e depois, ficou paparicando Francisco.
Ao voltarem para casa, Cecília colocou os meninos para dormir.
Eli e Francisco dormiam em berços separados, no mesmo quarto.
Quando a moça voltou para o quarto do casal, já de camisola e exausta, Pedro a abraçou.
Certo dia, o moço sugeriu a contratação de uma babá para cuidar das crianças.
Cecília concordou.
Assim, poderiam cuidar de seus afazeres domésticos com tranqüilidade, enquanto os meninos eram cuidados pela babá.
Contudo, em que pese este fato, Cecília não deixava de cuidar da alimentação das crianças.
Brincava com elas.
Em plena era do surgimento da televisão, as crianças assistiam aos programas infantis.
Eli adorava o indiozinho da Tupi.
Cecília gostava dos programas de auditório, as apresentações musicais.
Finalmente poderia ver seus cantores preferidos pela tevê.
Ficou encantada ao descobrir a fisionomia de Ivon Cury, Angela Maria, entre outros.
Pedro por sua vez, comentou que sua mãe gostou da novidade, mas às vezes achava que estava em um cinema.
- Cinema? – perguntou Cecília, intrigada.
No que Pedro explicou que sua mãe estava acostumada a imaginar as imagens, posto que sua geração crescera com o rádio.
Cecília compreendeu. Argumentou que como somente no cinema, ela via imagens em movimento, então, esquecida da novidade, achava que se encontrava em uma sala de cinema.
A jovem achou graça.
Comentou que sua mãe lhe contara que sua avó, não conhecia cinema e que na primeira vez, que viu aquela imensa tela, com imagens em movimento, viu uma carruagem. Assustada, pensou que a carruagem iria sair da tela e passar pelos corredores, conduzida por um homem que açoitava os cavalos.
Rindo, disse que sua avó saiu correndo da sala. Desistiu de assistir o filme.
Pedro comentou rindo:
- Pobre senhora!
Cecília respondeu que era o sinal dos tempos. Falou que tudo estava mudando muito rapidamente.
Pedro completou que a partir dali, as mudanças ocorreriam de forma ainda mais rápida.
Argumentou que a facilitação da industrialização no Brasil, por Juscelino, o Brasil finalmente se tornaria um país moderno.
Cecília concordou.
A noite, antes de dormir, folheava uma revista. Perguntava ao marido se estava indo tudo bem em seu trabalho.
Quando o homem chegava, Cecília o recebia com um beijo e perguntava como havia sido o seu dia.
Invariavelmente o moço respondia que fora bom, que trabalhara muito.
E assim, prosseguia a rotina do casal.
Certa vez, ao folhear a revista ‘O Cruzeiro’, a moça viu um anúncio de eletrodoméstico. Era uma batedeira.
Animada, resolveu comprá-la.
Quando finalmente aprendeu a manusear o equipamento, bateu a massa de um bolo.
Depois colocou-a em uma forma e assou a massa.
Por fim, mostrou um bonito bolo para o esposo.
Comentou que aquele era o primeiro bolo cuja massa fora batida em sua nova batedeira.
Pedro perguntou se o equipamento era de fato mais prático.
Cecília respondeu que sim. Respondeu que agora não mais bater massas com uma colher, posto que a máquina fazia isto.
Mais tarde, Pedro comprou uma máquina de lavar para ela.
Explicou-lhe como funcionava.
Para tanto, leu o manual.
Cecília, ao se familiarizar com o novo eletrodoméstico, agradeceu o presente do marido.
Disse que a máquina facilitava sua vida.
Pedro brincando, disse que assim, Cecília teria mais tempo para a família e para cuidar do marido.
Nisto, o moço a levou para o quarto.
Foram anos de felicidade.
Com o tempo, Pedro passou a ficar cada vez mais tempo enfurnado no escritório, negligenciando a esposa.
Como Carlos começou a atribuir-lhe mais responsabilidades, o moço passou a fazer serões no escritório.
Resultado: passou a chegar cada vez mais tarde em casa.
Num primeiro momento, Cecília compreendeu a necessidade do marido precisar ficar mais tempo em seu local de trabalho.
Mas depois de um certo tempo, a moça começou a reclamar sua presença.
Dizia que ele não estava acompanhando o crescimento dos filhos, que se sentia muito sozinha a noite.
Pedro beijava-lhe e dizia que aquela situação era transitória, que com o tempo, as coisas mudariam.
Mas as coisas não mudavam.
Com o tempo, Cecília começou a sentir falta do dinheiro semanal que Pedro lhe dava.
Isto por que, sempre que se preparava para conversar com o marido sobre o assunto, o mesmo dizia que estava muito cansado.
Se virava na cama e dormia.
Mais tarde, percebendo que fazia semanas que não entregava o dinheiro das despesas semanais a esposa, Pedro, abriu a carteira, e passou a deixar uma quantia para as despesas do lar.
Com o tempo, porém, a quantia passou a ser insuficiente.
Aflita, Cecília passou a procurar emprego.
Desta forma, todas as manhãs, saía de casa para procurar trabalho.
Nesta época, seus filhos estava mais crescidos, dispensando os cuidados constantes de uma babá.
Eli e Francisco, já freqüentavam a escola.
Ademais, não poderia mais arcar com o salário de uma babá.
Por fim, depois de muito procurar, a moça finalmente encontrou trabalho.
Com isto, quando Pedro percebeu que a esposa estava trabalhando fora, ficou furioso.
Argumentou que ela não precisava trabalhar, que ele poderia perfeitamente sustentar a casa.
Tensa, Cecília comentou que há semanas tentava conversar com ele e não conseguia. Disse que tentou lhe dizer que o dinheiro que lhe dava toda a semana, não era suficiente para cobrir todas as despesas da casa. Argumentou que com os filhos estudando em escolas boas, havia necessidade de comprar uniforme, material escolar, preparar o lanche deles, além das despesas da casa, que aumentaram, e a inflação que também não parava de crescer.
Pedro nervoso, argumentou que ela devia ter-lhe falado.
Disse que como não cuidava da casa, não tinha a menor idéia do preço das coisas, e que tudo estava assim tão caro.
Cecília repetiu que tentou conversar com ele.
No que Pedro retrucou dizendo que ela deveria ter insistido um pouco mais.
Irritado o homem abriu a carteira e retirou algumas cédulas de dinheiro.
Nervoso, a cada nota que tirava da carteira perguntava se não era o suficiente.
Cecília, assustada, nada respondeu.
A certa altura, a moça começou a chorar.
Dizia que nunca o tinha visto tão nervoso.
Pedro respondeu que dava um duro danado para colocar comida dentro de casa e ela não reconhecia o seu esforço.
Magoado, respondeu que ela devia achá-lo um frouxo, um molóide.
Respondeu que somente isto justificaria seu desespero em procurar trabalho.
Chorando, Cecília respondeu que não era nada daquilo.
O homem, irritado, começou a fazer suas malas. Disse que sairia de casa.
A mulher, ao ver o homem arrumando as malas, insistiu para que não partisse. Disse que poderiam conversar.
Tentou argumentar dizendo que procurara emprego por que estava cansada de ser humilhada pelo dono do mercado que dizia que sua conta estava atrasada, que fazia um mês que não pagava as despesas.
Nisto, a mulher tocou as costas do marido.
Disse que tinham sido tão felizes até então, e que não seria uma bobagem como aquela, que estragaria tudo.
Irritado, o homem soltou o braço de Cecília e a empurrou, derrubando a mulher no chão.
Ao cair, a jovem lesionou o braço.
Fato este que a fez soltar um gemido de dor.
Pedro, ao perceber que machucara a esposa, tratou logo de acudi-la.
Seus filhos, assustados, acorreram ao quarto, onde viram a mãe caída ao chão.
Ao verem a mãe machucada, começaram a chorar.
Irritado, o homem pediu para as crianças se afastarem.
Nisto, levantou a esposa e auxiliou-a a sentar-se no sofá.
Por fim, ligou para um médico.
Em cerca de vinte minutos, o homem apareceu.
Pediu para que Pedro deitasse Cecília em sua cama.
O homem deitou a mulher na cama.
Em seguida, pediu aos filhos para que ficassem na sala.
Como os meninos resistissem a idéia, irritou-se, e gritando, exigiu que eles ficassem no aludido cômodo.
Chorando, os meninos se retiraram do quarto.
Cecília olhou para o homem, espantada.
No quarto, o médico imobilizou o braço da mulher, e recomendou-lhe repouso.
Eli e Francisco, ao verem o médico se retirar, perguntaram como a mãe havia se machucado.
Pedro respondeu que ela perdera o equilíbrio.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.