Ao verificar onde estava, sentiu-se aliviada. Conseguiu!
Agora só lhe restava seguir perguntando na cidade, onde poderia encontrar pouso e comida.
Poderia trabalhar. Até onde sabia, Água Viva, era bem mais desenvolvida que Água Branca. Facilmente se arrumaria na cidade.
Mas precisava se alimentar.
Com os amigos, conseguiu um pouco de dinheiro. Mais o produto do furto que praticara contra sua madrasta, outros bons trocados. Muito embora não fosse muito dinheiro, era o suficiente para ficar uns três dias na cidade.
Logo ficou sabendo disso, ao procurar uma pensão barata para dormir.
No entanto, por ser menor, não a deixaram dormir lá. Não queriam ter problemas com a polícia.
Com isso, ao chegar a cidade, primeiramente, procurou uma lanchonete. Ao encontrar uma, pediu dois salgadinhos e um refrigerante. Comeu e pagou. Ao se dirigir ao caixa, perguntou se não estavam precisando de alguém para trabalhar ali.
Desconfiado o caixa, perguntou-lhe se tinha dinheiro para pagar. Ao ver que era alvo de suspeitas, tratou logo de pagar e saiu apressadamente do local.
Ao sair de lá, foi procurar um lugar para dormir. Foi aí que chegou na aludida pensão. Só que não conseguiu ser aceita lá.
Assim, sem alternativa, caminhou durante toda a noite pela cidade procurando um lugar para dormir.
Conforme as horas iam se passando, começou a ficar cansada. Precisava arrumar um lugar para dormir. Estava cansada. Exausta, acabou se ajeitando numa das praças da cidade. Deitou-se num banco e dormiu.
Dormiu por longas horas, e só não dormiu mais porque ouviu um apito que a fez acordar. Era um guarda. Ao perceber que ele se aproximava dela, tratou de pegar sua mochila e correr. Não queria ser pega. E assim o fez.
Muito rapidamente, saiu da praça e entrou na primeira rua que surgiu na sua frente. Foi se esconder no meio de algumas pessoas, que oportunamente, entravam em um prédio do lugar. Sem ser notada pelo porteiro do prédio, teve acesso ao prédio. Assim, enquanto estas senhoras iam para seus apartamentos. Raíssa, parou em um andar antes.
Escondida na escada, pegou um espelho e penteou o cabelo. Precisava estar com uma aparência boa, para assim não chamar a atenção. Como estava suada, notou que também precisava de um banho. Mas como iria conseguir isso?
Foi então que cogitou a idéia de voltar novamente a uma daquelas pensões e pedir para trabalhar lá. Precisava ter um lugar para dormir.
Assim, depois de se ajeitar um pouco, saiu do prédio e foi em direção as pensões.
Visitou uma por uma novamente. Novamente pediu aos seus respectivos donos para trabalhar no lugar. Precisava de uma fonte de renda. Insinuou que precisava ter também um lugar para dormir. Insistiu que poderia auxiliar na limpeza e com isso pagar a estadia.
Em todos os lugares, a mesma resposta. Não estavam interessados em contratar empregados. Alguns, irritados, chegaram até a adverti-la para que não voltasse mais lá.
Desanimada, passou a tarde procurando emprego. Foi novamente a lanchonete onde esteve no dia anterior. Lá, se ofereceu para trabalhar. Precisava de um emprego.
Novamente, foi rechaçada. Mas não desistiu. Procurou emprego em outros lugares. Chegou a visitar lojas. Poderia ser vendedora.
E assim ficou por toda a tarde procurando trabalho. No entanto, mais uma vez, não logrou êxito. Mais um dia sem trabalho.
Preocupada, foi procurar um lugar para dormir. Passou, por diversos lugares. Até que encontrou um hotel, na periferia da cidade para se hospedar. Lá eles não se incomodaram com o fato de Raíssa ser menor de idade. Deixaram-na se hospedar.
Na recepção, fez sua reserva e lá mesmo deram-lhe a chave para o quarto onde iria dormir. Ao adentrar o quarto, retirou sua mochila das costas e foi até o banheiro. Suada que estava, tratou logo de tomar um banho.
Fez uma limpeza em regra.
Nunca havia pensado nisso. Nunca pensou que um banho pudesse ser tão refrescante. Deveras, se sentiu muito satisfeita com a sensação de limpeza.
E assim, ainda enrolada em uma toalha, deitou-se na cama. Primeiro ficou olhando para o teto. Depois, começou a observar os objetos do quarto.
Apesar da simplicidade do lugar, era tudo muito limpo. E o mais importante, não era caro. Assim, poderia pagar sua estada por alguns dias.
No entanto, precisava arrumar um emprego. Não queria voltar para casa tão cedo. Sabia que se voltasse, a convivência com sua madrasta ficaria ainda mais difícil. Diante de tal quadro, não poderia fracassar. Pois assim, estaria perdida.
Precisava trabalhar.
E assim, os dias se seguiram.
Como alimentação, lanches, salgadinhos, refrigerantes. Uma vez, foi num restaurante de comida por quilo, e comeu comida de verdade. Até porque, não agüentava mais comer tão mal.
Em razão de não conseguir nenhuma colocação, suas reservas financeiras estavam acabando. Precisava de um trabalho.
Foi aí que, ao ver num jornal, uma proposta de emprego, mais do que depressa, foi ao local da entrevista. Chegando lá, constatou que havia fila. Quando viu a fila, quase desistiu. Mas, como não possuía alternativa, resolveu insistir e ficou.
Ao chegar sua vez, foi levada até uma sala e ao ser atendida por um senhor de cerca de quarenta anos este foi logo lhe perguntando:
-- O que a mocinha veio fazer aqui?
-- Arrumar um trabalho.
-- Menina. Você não acha que está muito cedo para começar a trabalhar?
-- Por favor. Eu preciso trabalhar. Meus pais morreram, e eu fiquei sozinha. Se eu não trabalhar, eu vou morrer de fome.
-- Comovente. Mas eu não posso te contratar.
Nisso Raíssa se levantou e, quando já estava saindo da sala, o homem a chamou.
-- Mocinha espere. Quantos anos você tem?
Surpresa com a pergunta disse:
-- Quinze.
-- Estranho. Você não tem o porte físico de uma garota de quinze anos.
-- Mas eu tenho quinze anos.
-- Está certo. Então eu vou te encaminhar para um amigo que está precisando de alguém para fazer uns ‘servicinhos’. Está certo?
-- Certo.
E assim, o homem escreveu num papel o endereço e mandou-a estar no local combinado na hora marcada. Sem atrasos. Ao passar-lhe todas as informações, dispensou-a.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021
A GANGUE DO TERROR - CAPÍTULO 12
A GANGUE DO TERROR - CAPÍTULO 11
Muito embora Raíssa tivesse ganas de pôr em prática seus planos secretos, e visivelmente, estivesse decepcionada com a notícia dada pelo médico, acatou suas recomendações.
Com isso, durante mais alguns meses, passava uma vez por semana no Posto. Nesse ínterim, submeteu-se a um tratamento na mancha da queimadura.
Foi aí que, finalmente pode retornar totalmente a sua vida normal.
Agora, sem ter que ir ao médico toda semana, poderia calmamente planejar sua saída da cidade.
Ademais, como o ano letivo tinha acabado, não tinha que se preocupar mais com a escola. Finalmente estava livre das lorotas contadas na sala de aula pelos professores. Por esta razão, começou a pôr em prática os seus planos de sair da cidade.
Discretamente, passou a reunir suas coisas e colocá-las numa mochila, que, depois de arrumada, foi logo escondida no maleiro do armário de seu quarto. Assim, ainda durante a madrugada do dia apropriado para a fuga, poderia pular a janela do quarto e fugir de casa. No entanto, para que pudesse viabilizar a viagem, pediu dinheiro aos amigos. Disse-lhes que precisava sair da cidade.
Surpresos, logo lhe perguntaram, o porquê de tudo aquilo.
No que ela imediatamente respondeu:
-- Preciso dar um rumo para minha vida. Por favor, vocês precisam me ajudar. Eu não tenho mais ninguém com quem eu possa contar.
-- Mas Raíssa, não podemos pedir dinheiro para nossos pais. Eles ficariam desconfiados. – disse Cláudio.
-- Gente, eu só preciso de dinheiro para comprar uma passagem. Pelo menos isso. Com a hospedagem e a alimentação, eu me viro.
-- Ah, sim? E como é que a suma inteligência vai fazer para comprar comida? E você quiser voltar, como vai fazer? – perguntou Luís.
-- Olha gente, se vocês me derem o dinheiro da passagem, do resto, eu mesma me encarrego. Mas eu preciso pelo menos, chegar até lá. É só o que eu estou pedindo.
-- Mas Raíssa. Para onde é que você vai? – perguntou Léo.
-- Não sei ainda. Mas quando eu tiver boas notícias, eu aviso vocês. Por favor, vocês tem crédito com seus pais. Cada um pode pedir um pouco de dinheiro. Vocês podem dizer que precisam comprar alguma coisa de uso pessoal. Eles não vão notar.
Assim, diante da insistência da amiga, decidiram o seguinte:
-- Está certo Raíssa. Em momentos diferentes nós iremos pedir dinheiro para nossos pais. Um pouco de cada um está bom? – perguntou Cláudio.
-- Está mais do que bom. Obrigada.
Enfim, tudo estava planejado. Assim, quando finalmente estivesse com o dinheiro que precisava, poderia sumir por algum tempo.
Quando então, depois de alguns dias finalmente os amigos lhe trouxeram o dinheiro que conseguiram arranjar com os pais, Raíssa agradeceu-os e despediu-se.
Muito embora, Luís, Cláudio e Léo estivessem curiosos em saber para onde ela iria, Raíssa, dizendo que não podia contar, prometeu que voltaria.
Os três então se despediram dela e voltaram para casa.
E assim, as horas foram se passando, até que finalmente chegou a madrugada.
Enfim, a hora certa para fugir. Assim ninguém a veria saindo de casa. E assim tencionava fazer.
Contudo, deu uma passada pela sala para ver se tudo estava bem. Foi aí que percebeu a bolsa da madrasta, aberta e jogada no sofá. Aproveitando a oportunidade, não se fez de rogada, verificando que na bolsa havia alguns trocados, tratou logo de pegá-los. Depois, entrou rapidamente no quarto, pegou suas coisas e pulou a janela.
Correu pelo pequeno jardim, e, mais que depressa, alcançou a rua. Depois de alguns segundos, só se via seu vulto ao longe.
Correu, correu.
Durante vinte minutos, correu em desabalada carreira até chegar na Praça da Matriz. Cansada, resolveu descansar por mais alguns minutos. Depois, de descansar um pouco, continuou a correr. Entre passos apressados e correria, gastou aproximadamente quarenta minutos. Tempo suficiente para chegar quase no final da cidade de Água Branca. A partir daí, cansada que estava, começou a andar.
E assim, continuou andando para longe da cidade. Durante vinte minutos, caminhou na beira da estrada, ao lado de caminhões e alguns carros. Cansada, resolveu descansar mais um pouco. Para isso, afastou-se da estrada, escondendo-se no meio de um matagal ali próximo. Como sentia muito sono, acabou adormecendo.
Quando acordou, imediatamente olhou para o relógio. Assustada, deu-se conta de já estava amanhecendo. Alvoroçada, saiu de onde estava, e voltou para a estrada.
Dado o horário, tratou de voltar a correr.
Correu, correu, correu tanto que suas pernas começaram a doer.
Em razão disso, passou a seguir caminhando. E andando foi, até chegar a um restaurante a beira da estrada.
Lá, resolveu dar uma parada. Imediatamente, se dirigiu ao banheiro. Ao ver-se no espelho, abriu a torneira e molhou o rosto. Jogou água nas costas, em volta do pescoço, e debaixo dos braços. Precisava se refrescar. E ficou durante cerca de quinze minutos, jogando água no corpo.
Depois, sentou-se num dos bancos que havia ali e ficou um certo tempo descansando. Ao olhar novamente no relógio, pode ver que já era quase nove horas. Precisava se apressar. Sua madrasta, notando sua falta, poderia estar procurando-a.
Assustada e apreensiva, se levantou repentinamente, e dirigiu-se apressadamente para fora do estabelecimento. Ao chegar na estrada continuou a andar apressadamente.
Obstinada, caminhou durante quase duas horas, apesar de suas pernas estarem doloridas. Assim, quando sentia que estava no seu limite, retirava-se da estrada e descansava um pouco. Finalmente, por volta de três horas da tarde, já estava na entrada da cidade de Água Viva.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
A GANGUE DO TERROR - CAPÍTULO 10
Raíssa, precisou ficar quase um mês de molho por conta do acidente.
Como já estava há quase quatro semanas em casa, sem poder sair, já estava impaciente.
Tanto tempo dentro de casa. Logo ela que sempre fora tão saídeira. Nunca foi de ficar muito tempo em casa. Se não por seu temperamento irriquieto, para evitar as rusgas com a madrasta. Durante as aulas, só ficava em casa durante o almoço, e mesmo assim, era só o tempo de esquentar a comida, comer, colocar tudo de volta nos seus lugares, lavar a louça que sujou e voltar para a rua. Mais tarde, só voltava para casa para jantar e dormir.
Por essa razão, seus amigos raramente a iam visitar em casa, pois sabiam que Raíssa raramente ficava lá. Só em caso de emergência a procuravam ali.
Até mesmo porque, sua madrasta tinha muitos maus bofes, posto que sempre os tratava rispidamente.
Mas agora, a situação era diferente.
Apesar da madrasta, precisavam visitar a amiga. Afinal, era uma questão de consideração. Mesmo que só a visitassem de vez em quando.
E assim, foram novamente visitar a amiga, estavam totalmente preparados para enfrentar a fera, caso Dona Eulália estivesse em casa.
Assim, caminharam silenciosos pelas ruas do bairro pobre, até chegar na rua onde Raíssa morava. Tencionavam fazer uma curta visita.
Ao adentrarem a casa, logo puderam perceber, que ela progredia a cada dia. Da última vez que a visitaram, ainda estava sentada no sofá da sala, sem poder andar. Durante o período em que esteve se recuperando, passou o tempo todo ouvindo rádio, assistindo televisão, remoendo suas brigas com a madrasta.
Afinal de contas, sentia muito rancor dela.
Aliás, enquanto esteve impossibilitada de sair pela cidade, ficou pensando que, quando melhorasse iria mudar sua vida. Já não agüentava aturar as agressões verbais de sua madrasta. Queria ir embora daquela cidade. Estava infeliz vivendo daquela forma. Desejava encontrar seu pai.
Assim, quando os amigos foram visitá-la, foi ela própria quem abriu a porta e os convidou para entrar. Apesar de já poder andar, caminhava um pouco devagar e mancando um pouco. O médico lhe advertira de que talvez tivesse que fazer fisioterapia.
Entretanto, para isso, precisava que alguém a amparasse, levando-a até o posto médico. Prestativo, diante da situação da amiga, Luís se prontificou em levá-la e trazê-la.
Raíssa então, tratou logo de agradecer. Logo avisou:
-- Então, se for possível. Você poderia vir me buscar amanhã, as nove horas?
-- Logo às nove? Amanhã já começam as aulas.
-- É verdade. Eu já tinha me esquecido. Também depois de quase um mês de molho, eu já tinha me esquecido deste detalhe. Como é que eu vou fazer para estar em dois lugares?
-- Com assim, em dois lugares? Você não pode ir para a escola. Mal pode andar. – disse Cláudio, apreensivo.
-- Eu sei disso. Mas se eu não for, minha madrasta vai me infernizar a vida.
-- Nossa! Nem vendo que você ainda não se recuperou totalmente, ela não facilita nem um pouco? – insistiu Cláudio.
-- Nem assim.
-- Então, precisamos arrumar uma maneira de te levar. – afirmou Luís.
-- Poderíamos sair um pouco mais cedo de casa e buscá-la. – sugeriu Leocádio.
Diante de tanta solicitude, só restou a Raíssa, dizer o seguinte:
-- Obrigada, amigos, mas não é necessário. Minha madrasta vai me levar. Ela quer se certificar que eu realmente fui até a escola.
-- Nossa! Mas ela está pegando pesado mesmo. – afirmou Léo.
-- É verdade, Léo. Por essa e por outras que eu quero ficar bem logo. Eu preciso resolver minha vida.
-- O que você quer dizer com isso, Raíssa? – perguntou Luís.
-- Nada. – respondeu.
Muito embora, cogitasse a possibilidade de até, sair da cidade, resolveu não revelar seu intento. Até por que, para isso, tinha que estar em condições.
E por isso, passou todo o mês de agosto indo para a escola, voltando para casa, e da casa para o Posto de Saúde, submetendo-se a fisioterapia.
Lá encontrou Pedro novamente. Simpático, perguntou-lhe como ía.
No que Raíssa respondeu:
-- Como você mesmo pode ver. Eu me machuquei. Mas estou me recuperando. Lentamente, mas estou melhorando.
Pedro, ao perceber que Raíssa mancava, comentou:
-- É. Fiquei sabendo do seu acidente. É um perigo brincar com fogos.
-- Porque? Você acha que foi eu que soltei aqueles fogos na festa?
-- Não. Mas acho que você foi muito imprudente em ficar justamente lá, onde os fogos foram soltos.
-- Eu não tinha percebido.
-- Pois, então. Como eu disse. Você foi imprudente. Mas chega de conversa. Vamos a sala da fisioterapia.
E assim, passava todos os dias, pelo menos uma hora e meia no Posto de Saúde. Como o ferimento envolvia uma queimadura, houve uma demora razoável para que o ferimento fechasse, cicatrizando-se e a pele voltasse a seu aspecto normal. Ademais, em razão da queimadura, passaria a ter uma cicatriz na perna.
Ao saber disso, quis saber como ficaria sua perna.
O médico então lhe explicou, que se formaria uma camada ressecada de pele, que aos poucos, daria lugar a pele normal. No entanto, apesar da recuperação da epiderme, ficaria uma cicatriz, uma mancha razoável, no local da queimadura.
Diante de tal fato, Raíssa tentou descobrir uma forma de minimizar o estrago.
Foi então que o médico lhe disse, que talvez desse para remover uma parte da cicatriz através de um processo médico. Entretanto, para poder falar sobre isso, comentou com a jovem, que primeiro, precisaria ver como sua perna iria ficar, quando sua pele cobrisse o ferimento.
Com isso, dadas as explicações, se acalmou.
E apesar de seu temperamento inquieto, obedeceu a todas as prescrições médicas. Todos dias, foi até o Posto e lá fez a fisioterapia. Aceitou ficar mais algum tempo de repouso em casa, e de lá só saía para ir até a escola e ao Posto, como já foi dito.
Na escola, os professores estranharam seu comportamento. Estava comportada demais. Chegaram a desconfiar de seu silêncio. Afinal, independente de qualquer coisa, estava sempre aprontado.
Mas, surpreendentemente, Raíssa estava quieta. Tal quietude até, facilitou as gozações que faziam a respeito do acidente.
-- É, Raíssa, parece que as coisas não saíram muito bem para você não é?
Entretanto, como sua situação atual era delicada, teve que aturar as gozações durante todo o mês, até que se recuperasse totalmente do acidente e pudesse enfrentar as feras em condições de igualdade.
Discutir com eles agora, só lhe traria desvantagens. No momento, não precisava chamar a atenção de ninguém para si.
Ademais, diante das circunstâncias, só pensava em uma coisa. Queria se recuperar e cuidar de sua vida. Não pensava em outra coisa. Queria ir embora da cidade.
Mas, visando sua pronta recuperação, submeteu-se ao tratamento médico. E sob esse regime disciplinar, ficou durante um mês. Até que o médico a liberou da fisioterapia.
Entretanto, precisaria ir até o Posto, uma vez por semana para que o médico fosse analisando a evolução da cicatrização do ferimento e com isso, poder prescrever o melhor tratamento.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
A GANGUE DO TERROR - CAPÍTULO 9
Nessa época, foi que começaram a surgir comentários para uma estranha aparição na cidade.
Muitos afirmavam categoricamente terem visto um homem correr, no meio da escuridão, até adentrar o cemitério e lá sumir.
Curiosos, Cláudio, Léo e Luís, foram investigar a estranha história comentada na cidade. Os três perguntaram para alguns dos antigos moradores da cidade de onde surgiu aquela história. Perguntaram, perguntaram, mas nada de encontrar respostas. Ninguém sabia o porquê daquilo estar acontecendo.
Mesmo assim, muitos insistiram que a estranha figura, de um homem envolto em uma capa, correndo em direção ao cemitério, era verdadeira.
Muitos afirmaram com toda a convicção, terem visto o homem adentrar o cemitério durante a madrugada e de lá não mais sair.
Certa vez, alguns dos moradores correram tentando alcançá-lo. Adentraram o cemitério no encalço do misterioso homem que também começou a correr, em meio a sepulturas. No entanto, no meio de toda a correria, como que por encantamento, a estranha figura desapareceu. Diante de seus olhos, o homem desapareceu.
Alguns dos moradores que tentaram pegá-lo acreditam que realmente se trata de uma aparição. Acreditam que o tal homem rumou para o cemitério no intuito de visitar a sepultura de alguém.
Em razão disso, dada as dimensões da pequena cidade, e da impressão causada pelo ocorrido, depois de alguns dias, toda a população já estava comentando sobre isso.
A cidade ficou em polvorosa.
Todos queriam saber o que era a estranha criatura.
Mas, assim, como havia os curiosos, também havia as pessoas que, temerosas, não queriam nem se aproximar da entrada do cemitério da cidade. Não queriam se deparar com o estranho homem.
Assim, a história, que tanto causava interesse também causava medo.
No entanto, a despeito da história causar os mais variados tipos de reações nas pessoas, os três garotos só queriam saber do seguinte, do que se tratava a misteriosa figura?
Leocádio e Cláudio acreditavam que se tratava de uma brincadeira.
Ao passo que, de acordo com Luís, a história poderia ser verdadeira.
Ao descobrirem que o amigo acreditava na veracidade da história, começaram a rir da situação, tentando convencê-lo de que tudo aquilo não passava de uma grande bobagem.
Ocorre que, independente da posição de cada um deles, todos estavam interessados em descobrir o porque das aparições, onde a história teria começado, e tudo mais que fosse relacionado a história.
Nessa pesquisa, ficaram durante todo o período de férias. Chegaram a consultar a Biblioteca Municipal e seus arquivos, para tentar descobrir algo relacionado com a aparição. Nessa empreitada, também se preocuparam em visitar a amiga convalescente.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
A GANGUE DO TERROR - CAPÍTULO 8
E continuaria dormindo tranqüilamente, não fossem os chacoalhões de Dona Eulália, intimando-a a acordar.
Sua madrasta entrara furiosa em casa, depois de passar a madrugada inteira sabe-se lá onde.
Toda sua ira se devia ao fato de que ao chegar na pequena vila onde morava, foi imediatamente comunicada por suas vizinhas bisbilhoteiras, do que ocorrera durante a madrugada, na quermesse. Suspeitando de que o tumulto se dera em razão de alguma armação de sua enteada, adentrou a casa em que morava, com tanta fúria que até mesmo os vizinhos temeram quanto a integridade física da garota.
E assim foi. Dona Eulália chacoalhou Raíssa, até que ela acordou, e sobressaltada perguntou:
-- O que foi? O que está acontecendo?
-- Ah ... você não sabe? Pois eu vou refrescar sua memória. O que foi que você aprontou ontem à noite?
-- Eu? Aprontei?
-- Não seja cínica, todo mundo te viu na quermesse. Vamos, desembucha logo.
-- Eu já disse que não fiz nada.
-- Sua mentirosa. É claro que você está envolvida até o pescoço nisso. Ê aqueles seus amiguinhos ... estão envolvidos também?
-- Eu não sei do que a senhora está falando.
-- Ah ... sabe sim. E é isso que a senhorita vai me responder agora. – disse Eulália gritando e sacudindo Raíssa – Você vai me contar já o que aconteceu ontem ou você não saí deste quarto por um mês.
No que Raíssa riu.
-- Do que é que você está rindo?
-- Faz-me rir. Como é que eu vou sair daqui com essa perna? – disse mostrando o enorme curativo feito na perna direita.
-- Ah é? Pois você vai ver então uma coisa, sua ingrata.- enquanto falava isso, sacudia a enteada com mais e mais força, até chegar um momento em que começou a esbofeteá-la.
Nisso Raíssa começou a gritar:
-- Pare com isso. Você está me machucando. Pára.
-- Eu não vou parar com nada enquanto você não parar de berrar. Sua loca ... Mas eu sei de um jeito de fazer você me contar direitinho essa história. – enquanto dizia isso, apontava para a perna ferida.
-- Você não pode fazer isso. – respondeu Raíssa assustada.
-- Posso sim. Tanto posso, que vou fazê-lo.
No entanto, não obstante Dona Eulália tencionar agravar o estado do ferimento de sua enteada, a mesma, no ímpeto de se defender, berrou a plenos pulmões, que precisava de ajuda, que sua madrasta iria incendiar a casa com as duas dentro.
Ao ouvir os berros da enteada, temendo que os vizinhos ouvissem, Eulália desistiu de seu intento.
Assim, não restou outra alternativa a Eulália senão sair do quarto da enteada, espumando de raiva.
Por conta desse incidente, muitos dos vizinhos foram até a casa das duas para verificar o que estava acontecendo, e também para xeretar.
Não obstante isso, a madrasta de Raíssa tratou a todos muito bem. Espantosamente, chegou até a se desculpar pelo ocorrido.
Mas também só para os vizinhos e para as pessoas que lhe interessavam, é que Dona Eulália, dispensada tão cortês tratamento.
Para a enteada e as pessoas menos queridas, era de uma rispidez e tanto. Haja vista os comentários dos três amigos de Raíssa, sobre o temperamento dela.
A simples visão de Dona Eulália lhes causava arrepios. Tanto é por isso, que evitavam ir a casa de Raíssa, só para não ter o desprazer de encontrar tão desagradável criatura.
Por fim, resolvido o incidente, todos os vizinhos voltaram para suas casas, e continuaram com seus afazeres.
Durante todo o mês de julho, Dona Eulália saía para trabalhar, deixando Raíssa em casa, de molho, em virtude do acidente sofrido.
De vez em quando, apesar de Dona Eulália, seus amigos a iam visitar.
Tudo estava indo muito bem, não fosse o fato de, numa dessas visitas, os três darem de cara com a referida senhora.
O resultado desse encontro, não poderia ser pior. Sua madrasta, com seu modo rude e seco, praticamente expulsou os três de sua casa.
Ela simplesmente perguntou:
-- Já passou do horário de visitas. E além do mais, vocês não tem casa não?
Foi o bastante para afugentá-los por muito tempo. O pior é que, mesmo depois disso, Dona Eulália ainda arrumou motivo para discutir com Raíssa, afirmando que ela era uma desleixada, preguiçosa, encostada, que não servia para nada, que se já tinha idade suficiente para aprontar, devia criar vergonha na cara e trabalhar.
Raíssa, no entanto, não ouviu quieta desta vez. Retrucando todas as acusações, disse que ela era cruel, sem educação, estúpida e desagradável. Afirmou também, que nunca gostou dela, que só morava ali naquele lugar horroroso, por não ter outra opção.
Só que a reação de Raíssa não foi oportuna, porque sua madrasta acabou lhe jogando na cara que seu pai a havia abandonado, e que se não fosse por ela, estaria na sarjeta. O que sinceramente, não ajudou nem um pouco a apaziguar a contenda. Só serviu para deixar Raíssa ainda mais ressentida com a madrasta.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
A GANGUE DO TERROR - CAPÍTULO 7
Vendo Raíssa em tão lastimável estado, trataram de socorrê-la, embora alguns dos presentes suspeitasse de sua participação na confusão acontecida.
Como sua perna precisava ser tratada, levaram-na diretamente para o Pronto Socorro Municipal, para que o médico de plantão olhasse sua perna.
Quando ela ali chegou já era mais de duas e trinta e cinco da manhã.
O médico ao ver o estado de sua perna, pediu para que se deitasse, porque iria examiná-la.
Verificando cuidadosamente a situação da perna, constatou que seria necessária uma completa assepsia do local atingido para que pudesse verificar melhor se haviam estilhaços da bombinha lançada. Se estivessem alojados estilhaços na perna dela, os mesmos seriam retirados um por um cuidadosamente, nos dizeres do médico, e se fosse o caso, seria feito um curativo em sua perna. No caso de a queimadura ter sido muito séria, o doutor recomendou que não se colocasse ataduras no ferimento, para que não ficasse grudando no local fiapos de gaze, visando também uma rápida cicatrização do local.
Enquanto o médico examinava Raíssa, muitos curiosos ficaram ali na sala médica bisbilhotando o exame. Estranhamente, sua madrasta não se encontrava no meio dos curiosos.
Diante do incidente, o médico começou a perguntar:
-- Menina. Como é que você se acidentou?
-- Não sei.- respondeu secamente.
-- Mais alguém se machucou?
-- Não. Mais ninguém. – respondeu o Prefeito, desconsolado com o final abrupto da quermesse.
-- Mas como é que foi acontecer uma coisa dessas? – insistiu o doutor.
-- Vai se saber. – respondeu uma das beatas.
Enquanto o médico ía retirando os estilhaços de sua perna, fazia perguntas:
-- Já tem algum suspeito?
-- Pra confusão que fizeram hoje? – perguntou o Prefeito.
-- É.
-- Necas de pitibiriba.
-- Nada?
-- Ninguém. Mas isso não vai ficar assim. – respondeu o Prefeito.
Enquanto isso, o médico fez uma nova assepsia no local do ferimento e entendeu por bem fazer um curativo com um tecido, para proteger o melhor o local. A seguir, recomendou a Raíssa que ficasse um bom tempo descansando. Por fim, perguntou onde estavam seus pais, e alguém respondeu por ela, que a mesma não possuía família, somente a madrasta que não se encontrava ali no momento.
Atencioso, perguntou se alguém se oferecia para levá-la em casa, posto que naquelas condições, ela não poderia voltar caminhando.
Em razão da situação, o Prefeito se ofereceu para acompanhá-la até sua casa. Primeiramente, pediu que aguardasse no Pronto Socorro, que ele iria pegar seu carro em casa, para retornar e então, levá-la em casa.
Cumpriu o combinado e levou-a até sua casa, numa das áreas pobres da cidade. Deixou-a em casa e retornou.
Como não havia ninguém em casa, tratou de ir pulando até seu quarto, onde se deitou com a roupa que havia ido a quermesse e dormiu.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
A GANGUE DO TERROR - CAPÍTULO 6
Finalmente chegara o grande momento.
O dia da tão comentada quermesse.
A promissora festa que as beatas do Padre Olavo prepararam com tanto cuidado.
Os preparativos da festa agitaram toda a cidade nos dias anteriores.
A praça toda enfeitadas de bandeirinhas coloridas, lampiões feitos de papel colorido. As barraquinhas de madeira sendo armadas. As donas de casa mais ilustres da cidade preparando e testando seus quitutes. O palco do show sendo aos poucos montados, os microfones sendo testados. As crianças, aproveitando um momento de distração para brincar com os microfones.
A cada dia que passava as beatas ficavam mais alvoroçadas. Não viam a hora em que tudo estaria pronto.
E a cidade ficaria repleta de bandeirolas.
Quase que diariamente ligavam para a empresa encarregada do show pirotécnico para saber se tudo estava bem. Contrataram para o grande show da festa um grupo sertanejo ilustre nas cercanias, somente para animar mais ainda a tão desejada festa.
Para a noite ainda estavam reservados grupos de danças folclóricas, a celebração do casamento na roça, e os variados grupos de danças juninas. Para a abertura da festa, a Orquestra Municipal de Água Branca iria tocar o hino da cidade e algumas músicas folclóricas. Depois, haveria um discurso do Prefeito da cidade sobre a realização da quermesse e os investimentos da Prefeitura, no sentido de tornar Água Branca um pólo turístico na região.
Entre os comes e bebes haveria os já tradicionais pratos juninos como: pipoca, pamonha, milho verde cozido, pipoca, paçoca, pé-de-moleque, pastéis, churrasco, quentão, vinho quente, cerveja, refrigerante, bem como salgadinhos, bolos, tortas, e outras iguarias deliciosas. Nas barracas de prendas haveria a já tradicional pescaria, mas também teria jogo de argolas, de pontaria, corrida-do-saco, etc. Quanto a barraca do beijo, bem que tentaram colocar, mas como quem estava organizando a festa eram as mulheres, essa idéia foi posta de lado, para a tristeza dos rapazes da cidade.
Para as beatas, este acontecimento era uma oportunidade de ouro para mostrarem a competência que tinham em organizar eventos em prol da igreja, e acima de tudo, provarem que as festas, nas suas palavras, não precisavam serem pagãs para serem divertidas.
E nesse ponto todos concordaram, pois a cidade precisava de diversão e de um atrativo a mais para os turistas.
Muitas vezes, o próprio Prefeito chegou a dizer:
-- Esta cidade está muito parada. Precisamos trazer turistas para cá. Até a cidade vizinha, Água Viva, já se tornou um pólo industrial e turístico. Muitos moradores daqui acabaram indo morar lá por conta da falta de oportunidade em crescer aqui. Isso é desolador.
E o mesmo permanecia nesse monólogo horas a fio.
Sempre reclamava do marasmo da cidade. Só que nunca se mexeu para mudar isso. Alegando problemas orçamentários, acabava não fazendo nada. Sobre a acusação de desvio de verbas da Câmara, tratava o assunto como se fora uma falácia, questiúncula de somenos importância.
Mas enfim, a festa.
A tarde ía sumindo e a noite aos poucos, tomava o seu lugar.
A essa hora, começavam a aparecer os primeiros convivas.
Logo que chegavam eram saudados pelo ilustre Prefeito e sua mulher, a Primeira Dama da cidade, vindo em seguida Padre Olavo e as beatas completar o quadro de cicerones da noite.
Tudo estava indo muito bem, os convidados aparecendo e a Orquestra Municipal tocando canções folclóricas. Nesse ínterim, houve um discurso do Prefeito dando início oficialmente a quermesse.
Foi a partir desse momento que surgiram os primeiros fogos a iluminar os céus da cidade.
Todos os presentes olharam deslumbrados para o firmamento e aplaudiram a pseudo iniciativa do Prefeito.
A partir desse momento é que deu início a quermesse realmente.
Os moradores passaram então a consumir os produtos vendidos nas barracas, a participar das competições, e até a beber.
Como a festa era grande, as ruas próximas a igreja foram interditadas, para que houvesse espaço para tudo, até mesmo para a danças típicas. Quanto as danças, cerca de duas horas após o início da festa, já estavam se apresentando os primeiros grupos. Muitos apreciaram as danças.
Ao longe se podiam ouvir comentários elogiando a festa, sua organização, e até mesmo o discurso do Prefeito.
Quando Dona Eulália chegou na quermesse, todos a cumprimentaram. Alguns até chegaram a dizer:
-- Coitada! Tão boa gente e com uma enteada que é uma peste.
-- Eu tenho pena dela.
Para esta noite, Eulália tinha reservado uma bela roupa, estava maquiada.
Não lembrava nem um pouco a mulher maltrapilha que era. Somente quando ía para o trabalho é que se arrumava um pouco.
Mas aquela noite era uma exceção, queria se divertir, ao menos hoje, pensava.
Já Raíssa, quando chegou no local da quermesse, já era quase meia-noite. A festa já estava pegando fogo.
Quase todos os moradores da cidade estavam lá. Os seus amigos de escola estavam todos lá. Esperavam ansiosos.
O plano ía ser posto em ação dentro de uma hora, mas já estavam agitados. Por esta razão se afastaram um pouco de suas famílias e foram curtir um pouco a noite.
Foi nessa oportunidade que encontraram Raíssa. Como Água Branca é uma cidade pequena, muitos dos moradores a reconheceram e assim sendo, começaram a se preocupar. Muitos se perguntavam:
-- O que será que ela vai aprontar?
-- Ai, ai, ai, ai ... o que essa garota quer aqui?
Percebendo que algumas pessoas olhavam para ela, Luís, Cláudio e Léo trataram de pegá-la pelo braço e saíram de fininho do epicentro da festa, para que sua presença não chamasse tanto a atenção e o plano não fosse por água abaixo.
Ao perceberem que a presença de Raíssa incomodava algumas pessoas, combinaram que ela circularia pela festa como uma convidada, se divertiria um pouco, e dentro de uma e hora e meia, deveriam por o plano em prática.
Raíssa, antes de se dirigir para a praça da matriz, tratou de ir até o esconderijo e pegar os fogos. De lá, voltou para casa e se arrumou um pouco para a festa. Escondidos dentro de uma bolsa de sua madrasta, estavam os fogos.
Diante do atraso para a colocação em prática do plano, Raíssa se desentendeu com os três e disse que se eles não queriam participar, que ela faria tudo sozinha.
Quando ela tocou nesse ponto, todos a proibiram veementemente de começar a pôr em prática o plano do grupo. Ameaçaram até a tomar-lhe a bolsa, no que foram repelidos diante do seguinte argumento prático:
-- Ah é? E como é que vocês vão explicar o fato de estarem carregando uma bolsa feminina?
Tendo diante deles tal fato, tiveram de se calar e aceitar que ela permanecesse com a bolsa. Mas insistiram na proibição.
Depois disso se retiraram e deixaram-na sozinha.
No entanto, os três não estavam convencidos de que ela acataria as ordens.
Estando sozinha, Raíssa tratou de freqüentar a quermesse, pois fazia questão de ser vista pelo maior número de pessoas possível. Queria ter um álibi para poder se defender quando os fogos explodissem e a confusão estivesse armada.
Ao chegar a madrugada, mais precisamente as duas e dez da manhã, afastou-se furtivamente da festa, e encontrando um lugar reservado, retirou todos os fogos da bolsa e deixou-os escondidos atrás de um caixote de madeira.
Após, apareceu novamente no meio de todos e assim ficou por cinco minutos, sumindo novamente sem ninguém perceber. Nesse momento pegou os fogos e rumando para um morrinho próximo, começou a lançar e jogar os fogos.
No mesmo instante, se instalou a confusão. Todos os que estavam próximos do morro correram de um lado para o outro apavorados com os buscapés lançados. Por mais que corressem, não conseguiam se desvencilhar deles. Raíssa se divertiu presenciando a cena à uma certa distância.
Em seguida preparou os rojões e começou a lançá-los no meio da multidão. No meio de sua empolgação com a brincadeira, começou a se aproximar um pouco mais da festa, para poder ter mais impacto a explosão. Lançou vários rojões, até que, ao lançar o último, por ter caído próximo dela, ao explodir, lançou estilhaços de pólvora que atingiram sua perna.
Foi nesse momento que se ouviu um grito. E, os moradores, alvoroçados pela confusão, nem se deram conta do mesmo e trataram de sair dali. Dos poucos convivas que permaneceram na festa, todos foram até o local de onde se ouviu o grito e viram Raíssa com sua perna ensangüentada e gemendo de dor.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.