Poesias

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 58

Foi nessa época que Paulina, pesarosa com a morte do marido Antenor, passou a fazer um balanço de sua vida. 
Corroída pelo remorso, por ter abandonado sua primeira filha, a mulher passou a empreender uma verdadeira peregrinação para encontrá-la. 
Para tanto, contratou um detetive.
Nessa busca, aguardou por meses a descoberta do paradeiro da própria filha. 
Paciente, esperou. 
Não tinha outra alternativa. 
Afinal de contas, se não pôde ver a filha por tantos anos, não seria difícil esperar mais um pouco.
Foi quando, enchendo-se de coragem, revelou aos filhos que tivera um relacionamento amoroso antes de se casar com o pai deles.
Jorge e Cristina – seus filhos –, ao tomarem conhecimento deste fato, ficaram inconformados.
Contudo, o pior seria saber mais tarde, que não bastasse este detalhe, Paulina tivera uma filha, fruto dessa relação.
Jorge ao ouvir a tal história, ficou revoltadíssimo.
Cristina por sua vez, informou que jamais consideraria uma bastarda com sua irmã.
Furiosa, deixou a mãe falando sozinha.
Paulina, no entanto, mesmo diante da resistência dos filhos, insistia na idéia de trazer
a menina para sua casa.
Jorge ao ouvir isso ficou inconformado. Dizendo que a casa também era dele e de Cristina, comentou que ela não tinha o direito de levar uma estranha para morar com eles.
Paulina, porém, insiste na idéia. 
Dizendo que a filha não tinha culpa por toda aquela confusão, tentou de todas as maneiras possíveis, convencer os filhos aceitarem a irmã.
Por isso, sempre que podia, por meio dos meios mais variados expedientes, Paulina tocava no assunto. 
Seja no café da manhã, durante à tarde ou mesmo a noite, Paulina sempre que podia, comentava sobre a filha que só tivera por um instante nos braços.
Jorge e Cristina já não agüentavam mais ouvir sempre a mesma história.
Paulina, porém, não desistia.
Esperava ansiosamente por esse reencontro. 
Nervosa, sempre que pensava nisso, Paulina fantasiava de mil formas este momento. 
Todavia, somente vivendo essa experiência que ela saberia realmente como as coisas se dariam.
Nessa época tinha por companheira somente as dúvidas, as incertezas e a angústia:
‘Como devia estar esta menina? Como devia ser sua vida? Será que era feliz? Será que era bem tratada por sua família adotiva? Como poderei falar com ela?’ 
Eram as perguntas que se fazia.
Sem contar as dificuldades que ela tinha em lidar com Jorge e Cristina, que não aceitavam a idéia da mãe ter uma filha ilegítima.
Com isso, Jorge e Cristina ao notarem que a tal garota nunca aparecia, chegaram a duvidar que Paulina conseguiria encontrar esta tal filha.
Paulina, porém, nunca deixou de acreditar.
Desde que tivera Jorge e Cristina; Paulina, ao poder finalmente, exercitar seu lado materno, finalmente se deu conta do quão era importante esta experiência. 
Experiência que ela abandonara ao não cuidar de sua filha mais velha, em razão das dificuldades financeiras por que vinha passando. 
Contudo, ao analisar a história a fundo, teve que admitir: Foi covarde!
Nisso ao se ver casada com Antenor, feliz com seus dois filhos, pela primeira vez na vida, sentiu-se culpada.
Vendo Jorge e Cristina com suas bóias, brincando na piscina, Paulina deu-se conta pela primeira vez, que sua filha poderia não ter tido a mesma sorte.
Ao ter esse pensamento, uma grande angustia invadiu o seu peito. 
Mas agora era tarde, o que ela poderia fazer? 
Casada, Paulina não poderia contar ao marido que tivera uma filha fora do casamento. 
Se fizesse isso, certamente ele a abandonaria.
Temerosa, era o que Paulina pensava.
Por isso, nunca contou ao esposo o que se passava.
E assim, Antenor viveu na ignorância de que Paulina tivera uma outra filha. 
Feliz com a família que criara, Antenor morreu acreditando que se casara com uma mulher impecável.
Ledo engano. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 57

Todavia, novamente depois de algum tempo, Cléber, voltando para casa, tornou a persegui-la.
Certa vez, Cléber quase conseguiu ficar com Andressa a sós no quartinho dos fundos.
Nessa época, Genival, cansado de receber quase nada pelo papelão que coletava durante o dia nas ruas de São Paulo, desistiu de seu mais recente bico. 
Isso por que, trabalhando como um escravo, só conseguiria migalhas. 
Com seus golpes, chegou a conclusão de que conseguia mais dinheiro.
Desta forma, Andressa voltou a dormir no quartinho.
Foi assim que Cléber quase conseguiu ficar a sós com Andressa.
Não fosse a intervenção de Lucrécia, que sem querer o viu empurrando a garota para dentro do quarto, e Cléber teria conseguido o que tanto almejava.
Porém ao perceber que era visto por Lucrécia, Cléber saiu rapidamente dali.
Em seguida, Lucrécia sem saber o que fazer, dirigiu-se ao seu quarto.
Cléber seguiu-a.
Quando notou que ela estava sozinha, Cléber tratou logo de adverti-la de que não deveria contar o que viu a ninguém.
Assustada, Lucrécia prometeu que jamais contaria a quem quer que fosse, o que tinha acontecido. 
Dizendo que não vira nada, comentou que não poderia falar do que não viu:
-- Ótimo! – comentou Cléber.
Andressa então, assustada, tratou logo de planejar sua fuga. 
Isso por que, ao perceber que o rapaz voltara ao cortiço, constatou que não seria mais possível, continuar vivendo naquele lugar. 
Ciente, porém de que não seria fácil sumir dali – já que desde que Cléber descobrira que ela vivia no lugar, Andréia vivia controlando seus passos – Andressa começou
a arquitetar um plano.
Sim, viver naquele lugar estava se tornando impossível. 
Isso por que, até esconder suas roupas Andréia escondia, só para que Andressa não pudesse sair de casa. 
E mesmo quando saía, era acompanhada de Lucrécia ou de alguma conhecida que não desgrudava o olho dela. – Assim, desta feita, era praticamente impossível sair dali.
Mas Andressa não se deu por vencida. 
Ao perceber que não seria pela força que conseguiria sumir daquela casa, a garota começou a fingir que aceitava viver naquela situação. 
Aos poucos, mesmo diante da desconfiança de Andréia, Andressa passou lentamente a derrubar suas defesas.
Certa vez, ao perder Lucrécia de vista, Andressa voltou para casa.
Para espanto de Andréia que até brigara com a mulher.
Assim, foi questão de tempo, para que Andressa ganhasse a confiança de quase todos.
Enquanto isso, sempre que podia, Andressa ficava na companhia de Gervásio e Clodoaldo. 
Este simples ato, evitava qualquer aproximação de Cléber. 
Quando não podia contar com a companhia dos amigos, Andressa se trancava no quartinho dos fundos. 
Não abria a porta para ninguém.
Cléber ficava revoltado com isso, mas nada podia fazer.
Certo dia, porém, aproveitando um descuido da moça, Cléber voltou a abordá-la.
Surpreendida novamente pelo rapaz, Andressa se viu numa difícil situação.
Cléber que a essa altura, não se importava que os demais moradores percebessem o assédio, e ao vê-la sozinha à noite, andando pelos corredores do cortiço, passou a segui-la.
Aguardando Andressa voltar ao quarto, Cléber esperou por um longo tempo.
Quando percebeu que Andressa procurava algo, Cléber resolveu aparecer.
Andressa ao vê-lo à sua frente, levou um tremendo susto. 
Contudo, disposta a enfrentá-lo, comentou que ele estava sendo muito inconveniente. 
Dizendo que não tinha medo dele, tentou enfrentá-lo.
Cléber, contudo, não se intimidou com a assertividade inédita de Andressa. 
Pelo contrário, disposto a tudo, disse que ela poderia gritar, espernear, enfim, fazer o que quisesse.
Mas que daquela noite não passava.
Andressa ficou perplexa.
Nesse instante, Cléber segurando a moça pelos braços, começou a arrastá-la.
Desesperada, Andressa começou a pedir para que ele a soltasse.
Cléber, porém, parecia não ouvi-la.
Todavia, como os demais moradores do cortiço ouviram os apelos, foram logo ver o que estava acontecendo.
Qual não foi a surpresa de Clodoaldo, Genival, Andréia e Sérgio, com o comportamento de Cléber?
Quem não se surpreendeu foi Lucrécia, que já o tinha visto assediando a garota.
Andréia, ao ver Cléber arrastando a filha adotiva, ficou perplexa.
Sérgio por sua vez, bêbado que estava, xingou a todos pelo barulho. 
Dizendo que precisava dormir, voltou para sua cama.
Contudo, mesmo sendo pego no pulo, Cléber continuava arrastando Andressa.
Andressa, por sua vez, continuava lutando contra Cléber. 
Ao chegar na cozinha, percebendo um objeto sobre a mesa, aproveitando-se de um momento de distração do sujeito,
pegou a travessa e a acertou em sua cabeça.
Andréia ao ver Cléber desmaiado, censurou Andressa. 
Dizendo que não podia ter feito aquilo, tratou logo de colocá-la para fora de casa.
Genival e Clodoaldo, ao verem a mulher arrastando a filha para fora de casa, tentaram impedi-la.
Mas Andréia era inflexível.
Desta forma, nada puderam fazer por Andressa.
E assim, sem alternativas, Andressa saiu da casa de Andréia, voltando a viver na rua.
Cléber, por sua vez, não desistiu. 
Mesmo depois de ter sido ferido por ela, o rapaz continuou procurando-a. 
Após ser medicado, Cléber prometeu a si mesmo que a atitude de
Andressa teria volta. 
Desta forma, certo dia, ao encontrá-la na rua, pedindo esmolas, Cléber resolveu segui-la. 
Obcecado, acompanhou seus passos durante um longo tempo.
A certa altura, Andressa então, se deu conta de que estava sendo seguida. 
Foi quando, percebendo que Cléber acompanhava seus passos, começou a correr desesperada.
Em pânico, atravessou ruas e avenidas sem sequer olhar os carros. 
Sendo que, por várias vezes, quase foi atropelada.
Cléber por sua vez, mesmo percebendo o desespero da moça, não desistiu. 
Continuou a segui-la.
Até que num momento, Andressa, entrando em uma rua estreita, onde ficou sem ter para onde fugir.
Cléber então se aproximou, e, apontando uma arma branca para ela, a ameaçou.
-- Pensou que ia conseguir escapar? Ninguém escapa de mim não, garota. Agora você vai fazer tudo o que eu mandar, não vai?
Andressa, acuada, sem ter o que dizer, ficou muda.
Cléber, ao perceber a reação da garota, começou a se aproximar. 
Segurando seus cabelos, colocou a faca junto a seu pescoço. 
Dizendo que não queria feri-la, aconselhou-a a fazer tudo o que ele pedisse.
Andressa, fria como uma estátua, só pensava em como fazer para se livrar daquela faca. 
Silenciosa, observou atenta todos os gestos de Cléber.
Quando percebeu que o rapaz se distraíra, Andressa então chutou-lhe e saiu em disparada. 
Estava decidida a se livrar dele de qualquer forma.
Cléber, enfurecido, assim que se recuperou, continuou a correr atrás dela.
Foi quando, desesperada, Andressa, pulou um muro.
Cléber, que viu a cena de longe, partiu no encalço da moça.
Novamente acuada, Andressa tentou fugir. 
Contudo, não havia mais para onde correr.
Foi quando num momento de distração, sem ver onde pisava, caiu.
Cléber ao ver Andressa estirada no chão, ficou desesperado. 
Temendo o pior, tratou de sair dali. 
Todavia, mesmo fugindo do local, teve o cuidado de chamar o socorro médico, que atendeu rapidamente Andressa.
E assim, muito embora não tivesse tido nenhuma complicação de ordem física, Andressa, devido o trauma sofrido, perdeu a fala.
Muito embora os médicos dissessem se tratar de um trauma psicológico, Andressa não conseguia mais falar.
Cléber, ao saber por seus informantes que Andressa não conseguia falar, ficou aliviado.
Sim, para tranqüilidade de Cléber, Andressa não teria como denunciá-lo. 
Sem contar que agora as coisas se tornavam mais fáceis para ele, já que Andressa não poderia mais, gritar por socorro. 
Estando muda, as coisas se complicavam para ela. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 56

Porém com o passar do tempo, como Cléber se ausentara da casa, Andressa, chegou a esquecer o incidente. 
Com isso, a moça continuou vivendo com sua mãe.
Com Cléber longe do cortiço, as coisa ficavam um pouco mais fáceis para a garota.
Segundo Andréia, estava Cléber envolvido em uma grande jogada, que se desse certo, daria muito dinheiro.
Contudo a dedicação a este projeto, devia ser integral. 
E assim, Cléber se afastou temporariamente do lugar.
Nessa época, as únicas coisas que incomodavam Andressa, eram a implicância de Andréia com seu trabalho, e com o pouco dinheiro que trazia para casa, bem como as brigas
dela com Sérgio. 
No mais, dava para ir levando.
O pior, contudo, eram as brigas.
Sim por que, toda vez, que Sérgio chegava bêbado em casa, era briga na certa.
Isso por que Andréia não suportava sua bebedeira, e para complicar, seu gênio difícil não a ajudava muito. 
Em razão de sempre enfrentá-lo, quase sempre Andréia levava a pior.
Eram raras às vezes em que ela não aparecia de olho roxo depois de uma discussão.
Para Genival, Clodoaldo, Lucrécia e Andressa, passar a noite inteira ouvindo gritaria, barulho de objetos sendo lançados ao chão, choro e pancadas, era insuportável.
Até mesmo Lucrécia que não gostava de Andréia, achava tudo aquilo um absurdo.
Uma vez chegou até a aconselhá-la a mudar a fechadura da porta e não deixar Sérgio entrar.
Pra quê?
Foi só falar isso para que Andréia se enchesse de fúria.
Em razão disso, as duas raramente se falavam.
Mesmo assim, Lucrécia tinha pena da mulher.
Quem não importava com isso era Cléber, que achava a coisa mais natural do mundo, homem bater em mulher.
Certa vez, comentou na frente de Andressa, que mulher tem que aceitar tudo o que venha do marido, até mesmo as surras.
A garota, que já não gostava dele nem um pouco, passou a evitar sua presença.
Todavia, isso era difícil.
Cléber vivia cercando-a. 
Para ajudar, quase ninguém percebia as investidas do rapaz. 
Mas agora, as coisas estavam calmas.
Andressa estava vivendo uma fase relativamente tranqüila de sua vida. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 55

Foi o que fez.
Cléber no entanto, não se intimidou nem um pouco com a atitude de Clodoaldo. 
Muito pelo contrário. 
Acostumado a enfrentar todo o tipo de obstáculo, o rapaz advertiu-o de que estava pisando em terreno minado. 
Por esta razão, todo cuidado era pouco.
Clodoaldo ao ouvir tais palavras, ficou revoltado. 
Dizendo que não tinha medo de ameaças, prometeu fazer de tudo para defender Andressa.
Cléber ao ouvir tais palavras, advertiu-o de que se atrapalhasse o seu caminho, iria se arrepender. 
Dizendo que era capaz de fazer qualquer coisa, comentou que transformaria sua vida num inferno se ele atravessasse o seu caminho.
Com isso, Clodoaldo se conteve um pouco. 
Isso por que, pobre, sem família, apesar de ter muito pouco a perder, não queria abrir mão de sua segurança vivendo numa casa – que
mesmo estando em precárias condições, era bem melhor do que viver na rua. 
Por conta disso se calou.
Contudo, sempre que podia, embora de maneira discreta, tentava defender Andressa.
Isso por que, em razão de morar debaixo do mesmo teto que Andressa, Cléber passou a ser cada vez mais incisivo em sua abordagem.
Certa vez, aproveitando-se do fato que a garota dormia na sala – em razão do quartinho dos fundos estar sendo usado para depósito das quinquilharias de Genival, que era
catador de papel nas horas vagas –, Cléber tentou agarrá-la ali mesmo, a pouco metros de onde seu pai e sua madrasta dormiam.
Assustada com o atrevimento de Cléber, Andressa ameaçou gritar, mas o rapaz alertou-a dizendo que se gritasse, ela se arrependeria amargamente. 
Andressa ao ouvir isso, retrucou. 
Dizendo que pouco se importava com suas ameaças,
respondeu que poderia até ser expulsa daquela casa, mas que ele jamais encostaria um dedo que fosse, nela.
Cléber ao constatar que não seria fácil intimidar Andressa, recuou. 
Percebendo que não podia agir contra a moça dentro de casa, ameaçou-a:
-- Tá certo! Tá bem. Mas não pense que você vai conseguir fugir de mim para sempre, que isso não vai acontecer. Quando você menos esperar, eu dou o bote. – disse se afastando
dela.
Andressa ao ouvir isso, ficou apavorada. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 54

Contudo com o passar do tempo, ao descobrir que Cléber era enteado de sua mãe, Andressa, percebeu que não foi uma boa idéia voltar para casa.
Isso por que, para sua surpresa, eis que um belo dia, Cléber surgiu na porta do cortiço.
Foi Andréia quem o recebeu. 
Por ser filho de Sérgio, tratava o rapaz, com toda a deferência.
Cléber então perguntou, se seu pai havia chegado. 
Quando ouviu a resposta negativa, pediu e licença e entrou na casa.
Foi quando Andréia perguntou se ele queria alguma coisa.
Cléber respondeu então:
-- Não. Já comi na rua. Vou para o quarto.
Antes, porém, passou pela sala. 
Foi lá que encontrou Andressa, que surpresa, tentou inutilmente se esconder.
Cléber, surpreso com isso, fingiu não conhecê-la. 
Por essa razão, perguntou à madrasta de quem se tratava:
-- É minha filha Andressa. – respondeu Andréia secamente.
Espantado, o rapaz perguntou:
-- Sua filha? Eu não sabia.
Andréia, constrangida, explicou em breve palavras, o que aconteceu para que se separassem.
Percebendo que Andréia não estava preocupada com Andressa, Cléber sentiu o caminho livre para suas investidas. 
Ao ficar sozinho no quarto, começou a pensar:
‘Finalmente!’
Andressa, ao saber que Cléber era enteado de Andréia, ficou transtornada. 
Nervosa, a primeira idéia que lhe veio à cabeça foi sumir dali. 
Aflita, ao perceber que sua roupa estava seca, retirou-a do varal e começou a preparar sua trouxa.
Foi quando Andréia entrou no quartinho e a surpreendeu. 
Ao vê-la arrumando sua trouxa, perguntou:
-- Está pensando em ir embora?
Andressa constrangida, desconversou.
A mulher, porém, que não era nem um pouco boba, desconfiou. 
Ao notar o nervosismo da garota, convenceu-se de que ela realmente tencionava sair dali. 
Foi o bastante para deixá-la satisfeita.
Por esta razão quando saiu do quarto, dirigiu-se a sala. 
Feliz, pensou: 
‘Enfim, livre! Mal posso acreditar.’
Não seria assim, no entanto, que as coisas aconteceriam.
Isso por que no jantar, Cléber, ao notar o nervosismo de Andressa, pressentiu que a moça tentaria fugir. 
Por essa razão, foi ter uma conversa com Andréia. 
Inventando uma mentira, disse que certa vez, fora roubado por aquela garota.
Andréia ao ouvir tais palavras, ficou furiosa. 
Dizendo que faria Andressa devolver tudo o que lhe fora roubado, ressaltou que a proibirá de sair dali.
Cléber, ao perceber que estava certo, comentou com Andréia que ela não deveria deixar a garota sumir.
Foi quando Andréia prometeu que trancaria bem as portas. 
Além disso, avisaria, Clodoaldo, Genival, Sérgio e Lucrécia, de que havia um homem suspeito rondando o lugar.
Temerosos com essa possibilidade, passariam a ter mais cuidado com suas respectivas chaves. 
Desta forma, com as portas devidamente trancadas, Andressa não teria como fugir.
Cléber ao ouvir tais palavras, ficou satisfeito.
Nisso, Andressa, tentando sair do lugar, dirigiu-se até a sala. 
Ao perceber que a porta estava trancada, começou a procurar a chave pelos cômodos da casa. 
Passou pela cozinha, vasculhou a sala, a área de serviço.
Nesse ínterim, Cléber, saindo de seu quarto, foi ao encontro da moça, que distraída, não percebeu a aproximação.
Somente quando resolveu se virar foi que percebeu a presença do rapaz. 
Andressa, tomada de espanto, comentou que voltaria a seu quarto.
Foi quando Cléber, a segurou pelo braço.
Andressa então, ameaçou gritar.
O rapaz, percebendo a intenção da moça, tampou sua boca. 
Dizendo que se ela gritasse ninguém a defenderia, comentou que ela seria expulsa dali.
A moça então, começou a se debater.
Irritado Cléber a arrastou.
Desesperada, Andressa lutou com todas as suas forças para que Cléber não conseguisse levá-la até o quarto.
Nesse momento, Andressa, ao bater numa mesinha, derrubou um vaso.
Foi o suficiente para despertar Clodoaldo. 
Preocupado com a história que Andréia inventara sobre o homem suspeito, tratou logo de verificar o que estava acontecendo. 
Quando Cléber ouviu o barulho de passos, imediatamente soltou Andressa.
Assustado, escondeu-se na cozinha.
Clodoaldo, ao ver Andressa descomposta, perguntou logo o que aconteceu.
Sem jeito, a garota respondeu que apenas se assustara com um barulho estranho. 
Em seguida pegando sua trouxa, perguntou a Clodoaldo se ele não poderia abrir-lhe a porta.
Desconfiado, Clodoaldo respondeu que aquela não era hora de se expor. 
Foi então que viu a trouxa de Andressa. 
Curioso, perguntou-lhe se ela tencionava ir embora.
Nervosa, Andressa respondeu que sim.
Foi quando Clodoaldo, ouviu um barulho estranho na cozinha.
Andressa então, ficou ainda mais nervosa.
Clodoaldo passou então, a pressioná-la para que contasse o que estava acontecendo.
A garota, porém, só respondia com evasivas. 
A certa altura, cansada, pediu a Clodoaldo que a acompanhasse até seu quarto.
Ao notar seu estado de nervos, Clodoaldo concordou em levá-la até os fundos.
Retornando ao quarto, Clodoaldo notou que Cléber não estava ali. 
Foi quando percebeu o que estava acontecendo. 
Irritado, prometeu a si mesmo que no dia seguinte conversaria com o rapaz. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 53

Ao acordar, Andréia logo chamou Andressa para auxiliá-la no serviço doméstico.
Andréia então, ensinou tudo o que sabia a Andressa, que inicialmente, revelou não ter muita habilidade com os trabalhos domésticos. 
Impaciente, a mulher advertiu-a dizendo que ela teria que aprender a fazer tudo direito, ou ela não poderia ficar ali.
Andressa aflita, se empenhou em aprender. 
Todavia, nada no começo é muito fácil.
Desta forma, a garota passou a se acostumar com as reclamações de Andréia, que nunca estava satisfeita com seu trabalho.
Andréia, incomodada com a presença da garota, fazia de tudo para que Andressa desistisse de voltar a viver com ela.
Andresa, porém, não desistiu.
Por conta disso, Andréia passou a aprontar com a garota.
Quando Andressa lavava uma roupa, Andréia sempre que podia, dava um jeito de sujar novamente a roupa para obrigá-la a repetir o trabalho.
Muitas vezes, percebendo a armação, Andressa questionava. 
Contudo, como precisava de proteção, acabava aceitando refazer o serviço. 
E assim, Andressa fica o dia inteiro trabalhando.
Por seguidas vezes já teve que passar várias vezes à mesma roupa, e limpar a casa várias vezes na semana. 
Quando lavava a louça, era raro quando não tem que lavar duas ou três vezes as mesmas peças.
É, viver ao lado de Andréia não era fácil. 
Clodoaldo e Genival, sempre que viam as dificuldades de Andressa, tentavam convencê-la a não partir. 
Isso por que, ciente de que havia um rapaz que a cercava, temiam que acontecesse algo de mal a ela.
Sim, a essa altura, estavam amigos.
Além disso, assustados com as ameaças de Gervásio, os moradores do cortiço passaram a se unir. 
Temerosos de serem despejados, passaram a discutir formas de ganhar o dinheiro que precisavam para continuar vivendo no local.
Andressa, ao ser inquirida por Andréia, prometeu fazer sua parte.
Foi então que voltou a pedir esmolas. 
No entanto, por já ser crescida, era raro alguém lhe dar algo. 
Assim, o dinheiro que conseguia era irrisório.
Andréia, que exigia que ela lhe entregasse todo o dinheiro que ganhava, ao ver pela primeira vez tão módica quantia, ficou revoltada. 
Tanto que falou poucas e boas para Andressa, que ouviu a tudo calada.
Quem ficava revoltado com isso era Genival, que odiava a forma como Andréia tratava a filha.
Andressa por sua vez, fingia não se importar. 
Acostumada a conviver com pessoas difíceis, para ela, aquele era apenas mais um obstáculo em sua já complicada vida. 
Para ela, não importava.
E assim, ia levando a vida. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 52

Com isso as coisas se acalmavam durante algum tempo.
Contudo, como já era de se esperar, Cléber voltou a agir.
Perseguindo Andressa, Cléber comentava que ela não tinha como escapar dele. 
Sim por que, segundo ele, certamente em algum momento, acabaria conseguindo o que queria.
Andressa, porém, lutava contra essa possibilidade. 
Por isso, sempre que via-o por perto, rondando, fugia.
Com isso, quem também não gostava nada dessa aproximação era Mateus que fez um escândalo ao saber disso. 
Dizendo que não havia razão nenhuma para o sujeito ficar cercando-a, chegou a insinuar que ela poderia ter dado alguma esperança para ele.
Andressa ao ouvir isso, ficou furiosa. 
Dizendo que não costumava fazer joguinhos, comentou que se ele não confiava nela, devia procurar outra pessoa.
Ao escutar tais palavras, Mateus aflito, pediu desculpas. 
Dizendo que falara sem pensar, pediu para que ela nunca mais repetisse tais palavras.
Andressa prometeu então, que aquele rapaz jamais seria alvo de seu interesse.
Mateus sorriu ao perceber a aversão de sua namorada por Cléber.
Cléber, porém, não estava interessado em angariar simpatia. 
Por isso mesmo, continuava a cercar Andressa. 
Com a ajuda de seus amigos, era fácil encontrá-la.
Desesperada, Andressa não sabia mais o que fazer.
Foi quando, andando por ruas ermas da cidade, Andressa certa vez, conseguiu distinguir em meio à escuridão, o vulto de uma mulher. 
Curiosa, aproximou-se para saber de quem se trata. 
Foi quando para seu espanto, descobriu tratar-se de sua mãe, Andréia. 
Perplexa com a descoberta, Andressa pensou em se aproximar. 
Queria saber por que fora abandonada num orfanato. 
Todavia, o medo de ser rechaçada a fez recuar.
E assim, foi evitado o encontro.
Contudo, em virtude das investidas de Cléber, que a cercava de todas as maneiras possíveis... E pior: tentara violentá-la, quando a levou para um barraco, Andressa, vendo-se
sem alternativas, resolveu pedir ajuda a mãe.
Mateus, ao saber da resolução da namorada, não ficou nada satisfeito. 
Mas, diante da situação apresentada, nem ele nem ninguém poderia ajudá-la. 
Assim, só restava pedir ajuda a mãe. 
Desta forma, mesmo contrariado, o rapaz acabou por se convencer de que esta era a única alternativa possível.
Clau e Robson, ao saberem que ele finalmente concordara com a decisão de Andressa, ficaram revoltados.
Robson, que havia perdido Tina, não se conformava com a idéia. 
Dizendo que jamais deixaria Tina partir, comentou que quando a encontrasse, faria ela em pedaços.
Mateus respondeu:
-- Por isso mesmo Tina fugiu. Como ela poderia continuar vivendo desta forma?
Foi o bastante para que Robson investisse contra ele e os dois brigassem.
Clau tentou apartá-los, mas foi empurrado.
Depois disso, Robson e Mateus nunca mais se acertaram.
Nisso, Andressa foi até o cortiço onde sua mãe vivia.
Ao bater na porta, Andréia atendeu:
-- Mãe? – perguntou Andressa.
Andréia, surpresa, perguntou:
-- Andressa?
A garota assentiu meneando a cabeça.
Perplexa, Andréia perguntou o que ela estava fazendo ali.
Andressa então explicou que vivia na rua e que precisava de abrigo.
Foi quando Andréia perguntou o que ela havia aprontado:
-- Nada. – respondeu.
-- Sei. Na cadeia está cheio de gente que não fez nada. – retrucou Andréia.
Impaciente, Andressa perguntou:
-- E aí? Vai me ajudar ou vai virar as costas pra mim outra vez?
Andréia, irritada com a empáfia de Andressa, comentou que ia pensar.
Andressa retrucou:
-- Pois se vai pensar, pense logo que eu não tenho tempo a perder.
Andréia, percebendo que precisava agir rapidamente, acabou concordando em deixá-la entrar. 
Contudo, ao perceber a situação lastimável de Andressa, comentou que ela precisava tomar um banho e trocar de roupa.
Imediatamente Andréia levou a filha ao banheiro. 
Antes que a moça abrisse o chuveiro, Andréia advertiu-a dizendo que a água era controlada. 
Em seguida, fechou a porta.
Andressa, desacostumada com o chuveiro, se atrapalhou toda. 
Isso por que, ligou o chuveiro quando ainda estava vestida. 
Resultado, molhou toda a roupa. 
Por sorte, trazia consigo uma outra muda de roupa.
Era tudo o que tinha. 
Seu guarda-roupa se reduzia a duas mudas de roupa. 
Para Andressa era o suficiente. 
Enquanto isso, Andréia, começou a preparar o jantar. 
A certa altura, percebendo que a moça se demorava demais, resolveu bater a porta do banheiro.
-- Ande logo Andressa! Outras pessoas também querem usar o banheiro.
A moça, percebendo que se demorava demais no banho, começou a se apressar.
Nervosa, depois de se lavar, começou a esfregar a roupa molhada na pia. 
De tão suja, a roupa soltava um caldo preto.
Se Andréia pudesse ver a cena, teria um ataque.
Por esta razão, Andressa, respondeu:
-- Estou indo. Só estou dando um jeito na blusa.
Nisso, Andréia voltou para a cozinha.
Sérgio apareceu. 
Surpreendentemente sóbrio, o homem cumprimentou a mulher.
Enquanto isso, Andressa saiu do banheiro. 
Procurando a área de serviço, conheceu
Clodoaldo e Lucrécia. 
Genival, ela só conheceria mais tarde.
Mas voltando ao assunto, Clodoaldo e Lucrécia, percebendo que a moça procurava algo, foram logo lhe perguntando o que estava fazendo ali.
Andressa respondeu então, que sua mãe morava ali.
Os dois moradores, ficaram surpresos.
A garota então percebendo o espanto de ambos, respondeu que sua mãe era a Andréia:
-- Andréia. Curioso, ela nunca nos disse que tinha uma filha. – comentou Lucrécia.
Clodoaldo, ao notar a expressão no rosto de Andressa, cutucou a amiga.
Lucrécia, contrariada, não conseguiu entender a intenção do amigo.
Foi então, que Andressa tentando encurtar a conversa, perguntou onde poderia
pendurar suas roupas.
Clodoaldo prestativo, indicou-lhe o caminho.
Mais tarde Andressa foi apresentada a Genival.
O homem, dizendo que morava ali há muitos anos, revelou que perdeu a conta de quantas pessoas já passaram por ali. 
Isso por que, Gervásio – o dono do cortiço – sempre que o aluguel atrasava, ainda que fosse por um mês, ameaçava despejar os moradores. 
Desta forma, poucos eram os que conseguiam viver por muito tempo no lugar.
Mesmo assim ele, ainda que com dificuldades em arranjar dinheiro, sempre dava um jeito. 
De formas que, sempre que o dinheiro escasseava, ele arrumava mais – fosse fazendo bicos ou pequenos trambiques –, e assim ía ficando.
Curiosa, a certa altura, Andressa perguntou, há quanto tempo Andréia morava no lugar.
Genival, comentou que ela estava ali há pouco mais de um ano.
Andressa então, indagou sobre o passado da mãe.
Genival, percebendo que adentrara em campo obscuro, comentou que não conhecia Andréia o suficiente para saber de seu passado.
A garota, ao ouvir tal resposta, ficou desconfiada.
Nisso, Andréia – meio sem graça –, resolveu apresentar a filha a Sérgio.
Surpreso, o homem questionou:
-- Filha? Você tinha uma filha e nem me contou?
Nervosa, Andréia tentou se explicar. 
Dizendo que foi obrigada a deixar Andressa num orfanato, comentou que nunca mais teve notícias da garota.
Foi então que Sérgio perguntou se teria que sustentar a garota.
Andréia respondeu que Andressa estava ali para ajudar nos serviços domésticos.
Dizendo que não ficaria ali sem trabalhar, comentou que ela pagaria sua estada. 
Além disso, essa era uma situação provisória.
Andressa ao ouvir que sua situação era provisória, ficou desapontada. 
Não fosse a ameaça de Cléber, ela teria saído imediatamente daquele lugar. 
Todavia, Andressa teve que engolir o orgulho e ficar. 
Não tinha alternativa.
Acuada, ao saber do paradeiro da mãe, Andressa, se viu obrigada a voltar a viver com sua mãe adotiva. 
Isso por que, sem ter para onde correr, foi parar na porta da casa de Andréia e pediu ajuda. 
Fez isso no intuito de se proteger das investidas de Cléber.
Com isso, mais tarde, antes de levar Andressa para o quarto onde a garota iria dormir, Andréia, fez inúmeras recomendações e disse que Sérgio não gostava que folgassem com ele.
Afirmando que seu novo marido era um homem severo, Andréia fez questão de deixar bem claro que Andressa não poderia fazer o que bem entendesse.
A garota, que não queria arrumar confusão, concordou com tudo o que a mãe disse.
Após, Andréia a levou para o quartinho dos fundos. 
Era pequeno e bagunçado.
Andressa porém, desacostumada a dormir em um ambiente fechado, não reparou muito na bagunça. 
Assim que deitou tratou de dormir. 

Luciana Celestino dos Santos 
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