Poesias

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 54

Contudo com o passar do tempo, ao descobrir que Cléber era enteado de sua mãe, Andressa, percebeu que não foi uma boa idéia voltar para casa.
Isso por que, para sua surpresa, eis que um belo dia, Cléber surgiu na porta do cortiço.
Foi Andréia quem o recebeu. 
Por ser filho de Sérgio, tratava o rapaz, com toda a deferência.
Cléber então perguntou, se seu pai havia chegado. 
Quando ouviu a resposta negativa, pediu e licença e entrou na casa.
Foi quando Andréia perguntou se ele queria alguma coisa.
Cléber respondeu então:
-- Não. Já comi na rua. Vou para o quarto.
Antes, porém, passou pela sala. 
Foi lá que encontrou Andressa, que surpresa, tentou inutilmente se esconder.
Cléber, surpreso com isso, fingiu não conhecê-la. 
Por essa razão, perguntou à madrasta de quem se tratava:
-- É minha filha Andressa. – respondeu Andréia secamente.
Espantado, o rapaz perguntou:
-- Sua filha? Eu não sabia.
Andréia, constrangida, explicou em breve palavras, o que aconteceu para que se separassem.
Percebendo que Andréia não estava preocupada com Andressa, Cléber sentiu o caminho livre para suas investidas. 
Ao ficar sozinho no quarto, começou a pensar:
‘Finalmente!’
Andressa, ao saber que Cléber era enteado de Andréia, ficou transtornada. 
Nervosa, a primeira idéia que lhe veio à cabeça foi sumir dali. 
Aflita, ao perceber que sua roupa estava seca, retirou-a do varal e começou a preparar sua trouxa.
Foi quando Andréia entrou no quartinho e a surpreendeu. 
Ao vê-la arrumando sua trouxa, perguntou:
-- Está pensando em ir embora?
Andressa constrangida, desconversou.
A mulher, porém, que não era nem um pouco boba, desconfiou. 
Ao notar o nervosismo da garota, convenceu-se de que ela realmente tencionava sair dali. 
Foi o bastante para deixá-la satisfeita.
Por esta razão quando saiu do quarto, dirigiu-se a sala. 
Feliz, pensou: 
‘Enfim, livre! Mal posso acreditar.’
Não seria assim, no entanto, que as coisas aconteceriam.
Isso por que no jantar, Cléber, ao notar o nervosismo de Andressa, pressentiu que a moça tentaria fugir. 
Por essa razão, foi ter uma conversa com Andréia. 
Inventando uma mentira, disse que certa vez, fora roubado por aquela garota.
Andréia ao ouvir tais palavras, ficou furiosa. 
Dizendo que faria Andressa devolver tudo o que lhe fora roubado, ressaltou que a proibirá de sair dali.
Cléber, ao perceber que estava certo, comentou com Andréia que ela não deveria deixar a garota sumir.
Foi quando Andréia prometeu que trancaria bem as portas. 
Além disso, avisaria, Clodoaldo, Genival, Sérgio e Lucrécia, de que havia um homem suspeito rondando o lugar.
Temerosos com essa possibilidade, passariam a ter mais cuidado com suas respectivas chaves. 
Desta forma, com as portas devidamente trancadas, Andressa não teria como fugir.
Cléber ao ouvir tais palavras, ficou satisfeito.
Nisso, Andressa, tentando sair do lugar, dirigiu-se até a sala. 
Ao perceber que a porta estava trancada, começou a procurar a chave pelos cômodos da casa. 
Passou pela cozinha, vasculhou a sala, a área de serviço.
Nesse ínterim, Cléber, saindo de seu quarto, foi ao encontro da moça, que distraída, não percebeu a aproximação.
Somente quando resolveu se virar foi que percebeu a presença do rapaz. 
Andressa, tomada de espanto, comentou que voltaria a seu quarto.
Foi quando Cléber, a segurou pelo braço.
Andressa então, ameaçou gritar.
O rapaz, percebendo a intenção da moça, tampou sua boca. 
Dizendo que se ela gritasse ninguém a defenderia, comentou que ela seria expulsa dali.
A moça então, começou a se debater.
Irritado Cléber a arrastou.
Desesperada, Andressa lutou com todas as suas forças para que Cléber não conseguisse levá-la até o quarto.
Nesse momento, Andressa, ao bater numa mesinha, derrubou um vaso.
Foi o suficiente para despertar Clodoaldo. 
Preocupado com a história que Andréia inventara sobre o homem suspeito, tratou logo de verificar o que estava acontecendo. 
Quando Cléber ouviu o barulho de passos, imediatamente soltou Andressa.
Assustado, escondeu-se na cozinha.
Clodoaldo, ao ver Andressa descomposta, perguntou logo o que aconteceu.
Sem jeito, a garota respondeu que apenas se assustara com um barulho estranho. 
Em seguida pegando sua trouxa, perguntou a Clodoaldo se ele não poderia abrir-lhe a porta.
Desconfiado, Clodoaldo respondeu que aquela não era hora de se expor. 
Foi então que viu a trouxa de Andressa. 
Curioso, perguntou-lhe se ela tencionava ir embora.
Nervosa, Andressa respondeu que sim.
Foi quando Clodoaldo, ouviu um barulho estranho na cozinha.
Andressa então, ficou ainda mais nervosa.
Clodoaldo passou então, a pressioná-la para que contasse o que estava acontecendo.
A garota, porém, só respondia com evasivas. 
A certa altura, cansada, pediu a Clodoaldo que a acompanhasse até seu quarto.
Ao notar seu estado de nervos, Clodoaldo concordou em levá-la até os fundos.
Retornando ao quarto, Clodoaldo notou que Cléber não estava ali. 
Foi quando percebeu o que estava acontecendo. 
Irritado, prometeu a si mesmo que no dia seguinte conversaria com o rapaz. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 53

Ao acordar, Andréia logo chamou Andressa para auxiliá-la no serviço doméstico.
Andréia então, ensinou tudo o que sabia a Andressa, que inicialmente, revelou não ter muita habilidade com os trabalhos domésticos. 
Impaciente, a mulher advertiu-a dizendo que ela teria que aprender a fazer tudo direito, ou ela não poderia ficar ali.
Andressa aflita, se empenhou em aprender. 
Todavia, nada no começo é muito fácil.
Desta forma, a garota passou a se acostumar com as reclamações de Andréia, que nunca estava satisfeita com seu trabalho.
Andréia, incomodada com a presença da garota, fazia de tudo para que Andressa desistisse de voltar a viver com ela.
Andresa, porém, não desistiu.
Por conta disso, Andréia passou a aprontar com a garota.
Quando Andressa lavava uma roupa, Andréia sempre que podia, dava um jeito de sujar novamente a roupa para obrigá-la a repetir o trabalho.
Muitas vezes, percebendo a armação, Andressa questionava. 
Contudo, como precisava de proteção, acabava aceitando refazer o serviço. 
E assim, Andressa fica o dia inteiro trabalhando.
Por seguidas vezes já teve que passar várias vezes à mesma roupa, e limpar a casa várias vezes na semana. 
Quando lavava a louça, era raro quando não tem que lavar duas ou três vezes as mesmas peças.
É, viver ao lado de Andréia não era fácil. 
Clodoaldo e Genival, sempre que viam as dificuldades de Andressa, tentavam convencê-la a não partir. 
Isso por que, ciente de que havia um rapaz que a cercava, temiam que acontecesse algo de mal a ela.
Sim, a essa altura, estavam amigos.
Além disso, assustados com as ameaças de Gervásio, os moradores do cortiço passaram a se unir. 
Temerosos de serem despejados, passaram a discutir formas de ganhar o dinheiro que precisavam para continuar vivendo no local.
Andressa, ao ser inquirida por Andréia, prometeu fazer sua parte.
Foi então que voltou a pedir esmolas. 
No entanto, por já ser crescida, era raro alguém lhe dar algo. 
Assim, o dinheiro que conseguia era irrisório.
Andréia, que exigia que ela lhe entregasse todo o dinheiro que ganhava, ao ver pela primeira vez tão módica quantia, ficou revoltada. 
Tanto que falou poucas e boas para Andressa, que ouviu a tudo calada.
Quem ficava revoltado com isso era Genival, que odiava a forma como Andréia tratava a filha.
Andressa por sua vez, fingia não se importar. 
Acostumada a conviver com pessoas difíceis, para ela, aquele era apenas mais um obstáculo em sua já complicada vida. 
Para ela, não importava.
E assim, ia levando a vida. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 52

Com isso as coisas se acalmavam durante algum tempo.
Contudo, como já era de se esperar, Cléber voltou a agir.
Perseguindo Andressa, Cléber comentava que ela não tinha como escapar dele. 
Sim por que, segundo ele, certamente em algum momento, acabaria conseguindo o que queria.
Andressa, porém, lutava contra essa possibilidade. 
Por isso, sempre que via-o por perto, rondando, fugia.
Com isso, quem também não gostava nada dessa aproximação era Mateus que fez um escândalo ao saber disso. 
Dizendo que não havia razão nenhuma para o sujeito ficar cercando-a, chegou a insinuar que ela poderia ter dado alguma esperança para ele.
Andressa ao ouvir isso, ficou furiosa. 
Dizendo que não costumava fazer joguinhos, comentou que se ele não confiava nela, devia procurar outra pessoa.
Ao escutar tais palavras, Mateus aflito, pediu desculpas. 
Dizendo que falara sem pensar, pediu para que ela nunca mais repetisse tais palavras.
Andressa prometeu então, que aquele rapaz jamais seria alvo de seu interesse.
Mateus sorriu ao perceber a aversão de sua namorada por Cléber.
Cléber, porém, não estava interessado em angariar simpatia. 
Por isso mesmo, continuava a cercar Andressa. 
Com a ajuda de seus amigos, era fácil encontrá-la.
Desesperada, Andressa não sabia mais o que fazer.
Foi quando, andando por ruas ermas da cidade, Andressa certa vez, conseguiu distinguir em meio à escuridão, o vulto de uma mulher. 
Curiosa, aproximou-se para saber de quem se trata. 
Foi quando para seu espanto, descobriu tratar-se de sua mãe, Andréia. 
Perplexa com a descoberta, Andressa pensou em se aproximar. 
Queria saber por que fora abandonada num orfanato. 
Todavia, o medo de ser rechaçada a fez recuar.
E assim, foi evitado o encontro.
Contudo, em virtude das investidas de Cléber, que a cercava de todas as maneiras possíveis... E pior: tentara violentá-la, quando a levou para um barraco, Andressa, vendo-se
sem alternativas, resolveu pedir ajuda a mãe.
Mateus, ao saber da resolução da namorada, não ficou nada satisfeito. 
Mas, diante da situação apresentada, nem ele nem ninguém poderia ajudá-la. 
Assim, só restava pedir ajuda a mãe. 
Desta forma, mesmo contrariado, o rapaz acabou por se convencer de que esta era a única alternativa possível.
Clau e Robson, ao saberem que ele finalmente concordara com a decisão de Andressa, ficaram revoltados.
Robson, que havia perdido Tina, não se conformava com a idéia. 
Dizendo que jamais deixaria Tina partir, comentou que quando a encontrasse, faria ela em pedaços.
Mateus respondeu:
-- Por isso mesmo Tina fugiu. Como ela poderia continuar vivendo desta forma?
Foi o bastante para que Robson investisse contra ele e os dois brigassem.
Clau tentou apartá-los, mas foi empurrado.
Depois disso, Robson e Mateus nunca mais se acertaram.
Nisso, Andressa foi até o cortiço onde sua mãe vivia.
Ao bater na porta, Andréia atendeu:
-- Mãe? – perguntou Andressa.
Andréia, surpresa, perguntou:
-- Andressa?
A garota assentiu meneando a cabeça.
Perplexa, Andréia perguntou o que ela estava fazendo ali.
Andressa então explicou que vivia na rua e que precisava de abrigo.
Foi quando Andréia perguntou o que ela havia aprontado:
-- Nada. – respondeu.
-- Sei. Na cadeia está cheio de gente que não fez nada. – retrucou Andréia.
Impaciente, Andressa perguntou:
-- E aí? Vai me ajudar ou vai virar as costas pra mim outra vez?
Andréia, irritada com a empáfia de Andressa, comentou que ia pensar.
Andressa retrucou:
-- Pois se vai pensar, pense logo que eu não tenho tempo a perder.
Andréia, percebendo que precisava agir rapidamente, acabou concordando em deixá-la entrar. 
Contudo, ao perceber a situação lastimável de Andressa, comentou que ela precisava tomar um banho e trocar de roupa.
Imediatamente Andréia levou a filha ao banheiro. 
Antes que a moça abrisse o chuveiro, Andréia advertiu-a dizendo que a água era controlada. 
Em seguida, fechou a porta.
Andressa, desacostumada com o chuveiro, se atrapalhou toda. 
Isso por que, ligou o chuveiro quando ainda estava vestida. 
Resultado, molhou toda a roupa. 
Por sorte, trazia consigo uma outra muda de roupa.
Era tudo o que tinha. 
Seu guarda-roupa se reduzia a duas mudas de roupa. 
Para Andressa era o suficiente. 
Enquanto isso, Andréia, começou a preparar o jantar. 
A certa altura, percebendo que a moça se demorava demais, resolveu bater a porta do banheiro.
-- Ande logo Andressa! Outras pessoas também querem usar o banheiro.
A moça, percebendo que se demorava demais no banho, começou a se apressar.
Nervosa, depois de se lavar, começou a esfregar a roupa molhada na pia. 
De tão suja, a roupa soltava um caldo preto.
Se Andréia pudesse ver a cena, teria um ataque.
Por esta razão, Andressa, respondeu:
-- Estou indo. Só estou dando um jeito na blusa.
Nisso, Andréia voltou para a cozinha.
Sérgio apareceu. 
Surpreendentemente sóbrio, o homem cumprimentou a mulher.
Enquanto isso, Andressa saiu do banheiro. 
Procurando a área de serviço, conheceu
Clodoaldo e Lucrécia. 
Genival, ela só conheceria mais tarde.
Mas voltando ao assunto, Clodoaldo e Lucrécia, percebendo que a moça procurava algo, foram logo lhe perguntando o que estava fazendo ali.
Andressa respondeu então, que sua mãe morava ali.
Os dois moradores, ficaram surpresos.
A garota então percebendo o espanto de ambos, respondeu que sua mãe era a Andréia:
-- Andréia. Curioso, ela nunca nos disse que tinha uma filha. – comentou Lucrécia.
Clodoaldo, ao notar a expressão no rosto de Andressa, cutucou a amiga.
Lucrécia, contrariada, não conseguiu entender a intenção do amigo.
Foi então, que Andressa tentando encurtar a conversa, perguntou onde poderia
pendurar suas roupas.
Clodoaldo prestativo, indicou-lhe o caminho.
Mais tarde Andressa foi apresentada a Genival.
O homem, dizendo que morava ali há muitos anos, revelou que perdeu a conta de quantas pessoas já passaram por ali. 
Isso por que, Gervásio – o dono do cortiço – sempre que o aluguel atrasava, ainda que fosse por um mês, ameaçava despejar os moradores. 
Desta forma, poucos eram os que conseguiam viver por muito tempo no lugar.
Mesmo assim ele, ainda que com dificuldades em arranjar dinheiro, sempre dava um jeito. 
De formas que, sempre que o dinheiro escasseava, ele arrumava mais – fosse fazendo bicos ou pequenos trambiques –, e assim ía ficando.
Curiosa, a certa altura, Andressa perguntou, há quanto tempo Andréia morava no lugar.
Genival, comentou que ela estava ali há pouco mais de um ano.
Andressa então, indagou sobre o passado da mãe.
Genival, percebendo que adentrara em campo obscuro, comentou que não conhecia Andréia o suficiente para saber de seu passado.
A garota, ao ouvir tal resposta, ficou desconfiada.
Nisso, Andréia – meio sem graça –, resolveu apresentar a filha a Sérgio.
Surpreso, o homem questionou:
-- Filha? Você tinha uma filha e nem me contou?
Nervosa, Andréia tentou se explicar. 
Dizendo que foi obrigada a deixar Andressa num orfanato, comentou que nunca mais teve notícias da garota.
Foi então que Sérgio perguntou se teria que sustentar a garota.
Andréia respondeu que Andressa estava ali para ajudar nos serviços domésticos.
Dizendo que não ficaria ali sem trabalhar, comentou que ela pagaria sua estada. 
Além disso, essa era uma situação provisória.
Andressa ao ouvir que sua situação era provisória, ficou desapontada. 
Não fosse a ameaça de Cléber, ela teria saído imediatamente daquele lugar. 
Todavia, Andressa teve que engolir o orgulho e ficar. 
Não tinha alternativa.
Acuada, ao saber do paradeiro da mãe, Andressa, se viu obrigada a voltar a viver com sua mãe adotiva. 
Isso por que, sem ter para onde correr, foi parar na porta da casa de Andréia e pediu ajuda. 
Fez isso no intuito de se proteger das investidas de Cléber.
Com isso, mais tarde, antes de levar Andressa para o quarto onde a garota iria dormir, Andréia, fez inúmeras recomendações e disse que Sérgio não gostava que folgassem com ele.
Afirmando que seu novo marido era um homem severo, Andréia fez questão de deixar bem claro que Andressa não poderia fazer o que bem entendesse.
A garota, que não queria arrumar confusão, concordou com tudo o que a mãe disse.
Após, Andréia a levou para o quartinho dos fundos. 
Era pequeno e bagunçado.
Andressa porém, desacostumada a dormir em um ambiente fechado, não reparou muito na bagunça. 
Assim que deitou tratou de dormir. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 51

No dia seguinte, Andressa ao ver novamente atada, começou a berrar.
Cléber, ao ouvir os gritos, ficou satisfeito. 
Pensou: 
‘Finalmente as coisas estão acontecendo da forma como eu quero.’
Apressado se dirigiu até a porta do quarto onde Andressa estava. 
Abriu a mesma e entrou.
A garota ao vê-lo, assustou-se. 
Percebendo que dera o sinal que o rapaz tanto queria, começou dizendo que não estava se sentindo bem. 
Alegando que seu estômago ainda pesava com a refeição do dia anterior, Andressa respondeu que não estava com fome.
Cléber, porém, parecia não ouvir o que ela estava falando. 
Movido por um único pensamento, aproximou-se de Andressa, e dizendo que ela devia ser boazinha com ele, comentou que não se arrependeria se fizesse o que ele tanto queria.
Andressa, no entanto, tentava se afastar. 
Acuada, ameaçou gritar se ele se atrevesse a tocar num fio de cabelo dela.
Ao ouvir tais palavras, Cléber riu. 
Dizendo que ali ninguém a escutaria, afirmou que ela poderia gritar o quanto quisesse.
Foi quando Andressa comentou que ninguém poderia obrigá-la a fazer o que não queria.
Cléber então segurou seus braços.
Nesse momento, a garota começou a espernear.
Cléber um pouco irritado, falou:
-- Vamos Andressa! Pare com isso!
A moça demonstrou espanto.
-- Ué! Pensou que eu não sabia o seu nome? Pois eu sei. Sei muito mais do que você pensa. Sei que tem um namoradinho chamado Mateus. Vocês já vivem há alguns anos juntos.
Não é mesmo?
Assustada, Andressa indagou:
-- E o que você tem a ver com isso?
-- Nada. Mas de certa forma eu tenho tudo a ver. Oras! Vai me dizer que nunca aconteceu nada entre vocês? Uma garota de rua que não conhece essas coisas? Eu duvido. –
respondeu Cléber tentando cortar a blusa de Andressa.
Assustada a moça começou a gritar.
Irritado com a rebeldia de Andressa,Cléber começou a retalhar a roupa da moça.
A garota começou a chorar.
Nervoso, Cléber começou a dizer:
-- Quer chorar? Pois então chore. Chore que está é a única coisa que você pode fazer. Chore o quanto quiser. Eu não me importo.
Reinaldo, que passava pelo local, ao ouvir o choro de uma moça, quis logo saber do que se tratava. 
Ao se deparar com o barraco onde ele e o amigo levaram Andressa, resolveu bater na porta. 
Do lado de fora, gritava:
-- Está tudo bem aí?
Irritado por ser novamente interrompido por seu comparsa, Cléber trancou Andressa, e foi até a entrada do barraco. 
Ao abrir a porta, foi logo perguntando:
-- O que você quer?
Reinaldo, meio sem jeito, perguntou se estava tudo bem. 
Dizendo que ouvira gritos, ofereceu ajuda.
Cléber recusou a oferta. 
Dizendo que estava tudo bem, comentou que não precisava da ajuda de ninguém para ter uma mulher.
Reinaldo ao ouvir a resposta, comentou:
-- Pense bem!
Furioso, Cléber empurrou Reinaldo. 
Dizendo que ninguém poderia se meter naquela história, afirmou que ele poderia cuidar de Andressa sozinho.
Foi quando Reinaldo se levantou e afirmou que não fosse sua ajuda ele não teria conseguido ficar com a moça:
-- Pois bem! Diga o que quer de uma vez! – respondeu Cléber.
Atrevidamente, Reinaldo respondeu que também queria participar.
Cléber ao ouvir isso, ficou com ódio de Reinaldo. 
Furioso, avançou sobre ele e começou a agredi-lo. 
Dizendo que não costumava dividir mulher com ninguém, tentou de todas as formas possíveis, colocá-lo para correr.
Em vão. 
Apesar de ser mais forte, Reinaldo era esperto e logo conseguiu inverter a situação.
Andressa, que estava amarrada, ao ouvir algo que lembrava uma briga, começou a tentar se desamarrar. 
Desesperada, se debatia tentando se libertar. 
Assustada, temia gritar por socorro e fazer os dois homens entrarem no barraco.
Se isso acontecesse, ela estaria perdida.
Por esta razão, tentou se livrar sozinha das cordas. 
Em um dado momento, de tanto se mexer na cama, acabou caindo. 
Ao se ver no chão, percebeu que Cléber esquecera um canivete embaixo da cama.
Constatando isso, Andressa começou a se contorcer para pegar o canivete.
Lembrando-se do dia da rebelião, a moça percebeu que precisava novamente lutar por sua vida. 
Por essa razão, começou a tentar puxar a arma com o pé. 
Nessa luta, demorou algum tempo. 
Até que finalmente conseguiu trazer o canivete para perto de si.
Trêmula, ao perceber que tinha uma das mãos um pouco mais livre, passou a segurar o canivete, e lentamente começou a corta a corda. 
Quando finalmente se viu livre, correu para a porta.
Mas para sua decepção a porta estava trancada. 
O que fazer?
Aflita, Andressa procurou uma saída. 
Confusa com a situação, pegou o canivete e começou a tentar abrir a porta com ele. 
Tentando usar a ponta da lâmina como chave, tentou de todas as formas possíveis, abrir a porta.
Nesse ínterim, Reinaldo, que já havia conseguido inverter a situação, resolveu adentrar o barraco.
Andressa, percebendo que alguém se aproximava, resolveu esconder a corda cortada, e fingir que dormia. 
Com o canivete escondido, pegaria a pessoa de surpresa.
Reinaldo então, girou a maçaneta. 
Quando percebeu que estava trancada, derrubou a porta. 
Ao ver Andressa deitada, com a blusa em farrapos, resolveu se aproximar. 
Crédulo de que seria fácil forçar a moça, avançou sobre ela.
Nesse momento, Andressa, percebendo que estava em situação de vantagem, resolveu reagir. 
Apontando a arma para o pescoço de Reinaldo, ameaçou-o dizendo que se não a deixasse ir, o mataria.
Reinaldo sem ter outra alternativa, acompanhou-a até chegarem numa rua movimentada.
Rapidamente, Andressa mandou ele correr.
Reinaldo correu.
Ao se ver sozinha em um lugar desconhecido, Andressa resolveu pedir ajuda.
Em vão.
As pessoas, ao verem-na com os cabelos desgrenhados, suja e esfarrapada, fugiram
dela. 
Temerosos, sentiam-na ameaçadora.
Andressa então, vendo-se solitária, começou a caminhar. 
Sem saber direito para onde ir, tentou encontrar os amigos.
Pensando em Robson, Clau, Mateus e Tina, começou a se perguntar onde estariam.
Preocupados com seu sumiço, ou retomando suas vidas?
Nesse momento Andressa se lembrou da conversa que tivera com Tina. 
Pensou: ‘Será que ela já foi morar com o tio?’
Aflita não sabia a quem recorrer. 
Desorientada, caminhou a noite inteira. 
Ao chegar em uma praça, adormeceu. 
Andressa estava novamente sozinha.
Enquando isso, seus amigos, procuravam-na.
Tina, no entanto, já não vivia mais nas ruas. 
Isso por que, cansada de sofrer nas mãos de Robson, e, aproveitando a confusão com o sumiço de Andressa, caiu no mundo. 
Na noite seguinte, acordou, e enquanto todos dormiam, sumiu. 
Ladina, pegou seus poucos pertences e fugiu.
Robson ao se dar conta do sumiço da namorada, ficou furioso. 
Acreditando que ela tivesse sido levada, ficou a procurá-la.
Quanto a Andressa, tanto ele, quanto Clau e Mateus estavam preocupados. 
Supondo que ela tivesse sido levada pelo estranho sujeito que a cercava, os três passam a procurá-la incansáveis.
Robson, porém, tinha uma preocupação a mais.
Por conta disso, Clau e Mateus se ofereceram para ajudá-lo.
Robson agradeceu. 
Porém após muita procura, percebendo que Tina havia desaparecido por livre e espontânea vontade, Clau e Mateus, tentaram demovê-lo da idéia de continuar a procurá-la. 
Mas quem disse que conseguiram?
Contudo, num ponto as coisas terminaram bem. 
Isso porque, finalmente Andressa foi encontrada.
Assustada, ao ver Clau, Robson e Mateus, Andressa finalmente se tranqüilizou.
Quem não estava nada feliz era Cléber, que havia perdido a oportunidade de ter uma noite com a garota. 
Furioso por ter tido seus planos atrapalhados por Reinaldo, prometeu se vingar do comparsa.
Este por sua vez, não demonstrou estar assustado.
Nisso a vida de Andressa prosseguiu.
Mateus, incomodado com seu sumiço, perguntava, a todo momento se havia acontecido alguma coisa entre ela e aquele sujeito.
Nervoso, Mateus só se acalmava quando ela dizia que não. 
E ainda assim, a moça tinha que insistir muito em suas palavras para convencê-lo.
Para Andressa, essa desconfiança de Mateus era muito incômoda. 
Por isso, pensou várias vezes em fazer como Tina.
Mateus, porém, sempre que percebia o distanciamento da namorada, pedia desculpas e prometia que se esforçaria mais para confiar nela. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 50

Mas astuto que era, com o tempo, conseguiu encontrá-la.
E assim, o assédio continuou.
Aflita, Andressa não sabia mais o que fazer.
Mesmo se escondendo, Cléber dava um jeito de encontrá-la.
Desesperada, Andressa pediu ajuda a Clau e Robson.
Quando Mateus descobriu que o assédio continuava, ficou furioso. 
Dizendo que iria acabar com a raça do rapaz, conseguiu fazer com que Andressa ficasse assustada.
Isso por que, Andressa começou a perceber que Cléber não devia agir sozinho. 
Assim, se Mateus se metesse com ele, poderia se dar mal. 
Ao notar essa possibilidade, Andressa, começou a pensar em uma outra solução.
Sem saber o que fazer, pediu a ajuda de Tina, que mesmo com anos de rua, não conseguiu lhe dar uma idéia que prestasse.
Clau e Robson por sua vez, sugeriram pegar o sujeito de surpresa e lhe darem uma surra.
Andressa, ao ouvir essa sugestão, proibiu os amigos de agirem desta maneira.
Dizendo que o tal sujeito poderia ser vingativo, aconselhou os amigos a terem cuidado.
Contrariados, Clau, Robson e Mateus, prometeram que não fariam nada, contra o tal sujeito.
Andressa então se acalmou um pouco.
Mesmo assim, Clau, Mateus e Robson, ainda continuavam com a idéia de acertarem as contas com o sujeito. E, preocupados com a amiga, passaram a acompanhá-la.
Quando não podiam acompanhar Andressa, os três garotos pediam para Tina, fazer-lhe companhia.
Com isso, Cléber se afastou.
Irritado, ao perceber que, quatro garotos de rua estavam protegendo Andressa, começou a pensar no que faria para se aproximar dela novamente.
Reinaldo – seu parceiro nas maldades – sugeriu ao amigo:
-- Se você está tão interessado assim nesta garota, por que não aproveita a noite, para pegá-la?
Curioso, Cléber retrucou:
-- Mas como? Se eu a abordar a noite, ela vai gritar e acordar seus amigos. Não vai dar certo.
-- Mas então você não entendeu. Eu não falei para acordá-la, e sim pegá-la. Agora, entendeu?
-- Entendi! – respondeu Cléber com malícia.
Nisso, os dois comparsas começaram a planejar tudo. 
Cautelosos, não queriam que os amigos da garota acordassem, no momento da abordagem. 
Quanto menos problemas tivessem, melhor.
E assim, ficaram a conversar.
Andressa por sua vez, sentia-se tranqüila. 
Crédula de que Cléber havia desistido de persegui-la, prosseguiu com sua vidinha de sempre. 
Às vezes, furtava objetos de valor. 
Outras vezes, aplicava golpes nos passantes.
Cléber, ansioso para colocar seu intento em prática, continuou a espreitá-la. 
Mal podia esperar para executar sua maldade. 
Animado pensava: 
‘Isso tudo vai acabar. Seus dias de tranqüilidade vão acabar.’
Nisso Andressa conversava com sua amiga Tina.
Desanimada, a garota conversava com Andressa. 
Cansada de ser agredida por Robson, Tina comentou que iria embora.
Andressa ficou surpresa.
Tina, percebendo o ar de espanto da amiga, comentou que arrumara um lugar para ficar.
-- Onde? – perguntou Andressa.
-- O lugar onde eu já vivia antes de vir para cá. – respondeu Tina.
-- O orfanato? – espantou-se Andressa.
-- Não. Eu encontrei um parente meu. – disse Tina.
-- Quem? Eu nunca te vi com nenhum conhecido! – respondeu Andressa.
-- É um tio.
-- Um tio? – bradou Andressa.
-- Fique quieta! – pediu Tina – O Robson não sabe disso.
-- Você não vai contar a ele?
-- Não. Não dá. Ele não entenderia. Eu não posso falar pra ele. – comentou Tina.
-- Por quê? – insistiu Andressa.
-- Por que ele me ameaçou. Disse-me que se eu tentasse me livrar dele, me mataria. – respondeu Tina.
-- Nossa! – espantou-se Andressa.
Percebendo a gravidade da situação Andressa prometeu que não comentaria o assunto com Robson, Clau, nem com Mateus.
Tina agradeceu.
E Cléber, continuava observando Andressa.
Á noite, aproveitando que todos dormiam, Cléber e Reinaldo, se aproximaram do local onde Andressa e seus amigos estavam.
Caminhando lentamente, os dois se aproximaram de Andressa.
Cléber cuidadosamente pegou a garota nos braços. 
Auxiliado por Reinaldo, Cléber levou a moça para um barraco.
Qual não foi o espanto de Andressa quando acordou e se viu amarrada, em um lugar estranho. 
Assustada, a garota começou a pedir ajuda.
Foi quando Cléber apareceu:
-- Dormiu bem? – pergunta.
Andressa irritada, respondeu que queria sair.
Cléber, por sua vez, fingiu ignorar o pedido da moça. 
Procurando ser gentil, perguntou-lhe se ela tinha fome.
Andressa não respondeu.
O rapaz então, disse que tinha frutas, pão, leite, chá, bolachas e suco.
A garota irritada retrucou:
-- Você não ouviu o que eu disse? Eu quero sair daqui.
Cléber, continuou a fingir que não ouvia. 
Aparentemente prestativo, logo sugeriu:
-- Não gostou do café? Se você quiser, eu compro um bolo. O que você quiser.
Amarrada, Andressa pediu para que ele a soltasse.
Cléber por sua vez, disse que não poderia fazê-lo ou ela tentaria fugir.
A garota ao ouvir estas palavras, ficou irritada.
O rapaz, percebendo então, que precisava colocá-la em uma posição mais confortável, se aproximou da moça. 
Dizendo que iria desamarrá-la, pediu para que ela não fizesse nenhum gesto brusco.
Andressa não respondeu. 
Mas atenta, ao se ver livre das amarras, começou a observar o lugar. 
Por ser um ambiente precário, acreditou que devia estar muito longe do centro da cidade. 
Aflita, pensou: ‘E agora? Como vou fazer para sair daqui?’
Cléber então, se aproximou com uma bandeja repleta de comida.
Andressa, ao ver o café que lhe fora preparado, perguntou por que a levaram até ali.
Dizendo que não tinha dinheiro, comentou que estavam prendendo a pessoa errada.
Cléber respondeu então:
-- Eu não sou um seqüestrador. Não estou esperando um resgate. Eu só quero mostrar a você que eu não sou nenhum bandido. Pode confiar. Você não vai se arrepender.
-- Ah é?! Se você não é nenhum bandido, por que não me deixa sair daqui? Escute, eu não tenho nada contra você. Se me deixar sair desse lugar, eu não vou contar a ninguém
o que você fez. Eu prometo! Agora por favor, me deixe sair daqui! – finalizou Andressa em tom de súplica.
O rapaz, ao ver o desespero nos olhos da moça, sorriu. 
Dizendo que não tinha nada a perder, comentou que finalmente conseguiria o que tanto almejava.
Andressa sentiu um frio percorrer-lhe a espinha.
Cléber, percebendo que assustara a moça, resolveu se afastar. 
Dizendo que não queria incomodá-la, afirmou que só retornaria mais tarde, quando ela tivesse terminado de tomar seu café da manhã. 
Assim, se encaminhou para outro cômodo da casa. 
Antes de deixá-la sozinha, sugeriu:
-- Coma bem! Aproveite! Aposto que em todo esse tempo de rua, você nunca se deparou com um café da manhã tão farto.
Andressa ao ouvir estas palavras, sentiu vontade de jogar a bandeja de comida, na cabeça do rapaz. 
Todavia, faminta que estava, deixou o orgulho de lado e comeu. 
Comeu.
Ao se ver diante de tão farta refeição, se esbaldou. 
Comeu tanto que depois se sentiu mal.
Cléber ao perceber que a garota se excedera, comprou um remédio para tratar de seu mal-estar.
Com isso, quando finalmente Andressa se recuperou, Cléber falou:
-- Tenha mais cuidado! Quando eu disse para comer eu não falei para comer tudo de uma vez. Tenha calma.
Andressa ao ouvir as palavras de Cléber, respondeu que ela passara mal por que a comida devia estar envenenada.
-- Envenenada? Nem pensar! Você é que exagerou. Parece que nunca viu comida na frente.
Andressa calou-se.
Cléber então, comentou que entendia o seu desespero. 
Afirmando que conhecia um pouco de sua história, respondeu que devia ser realmente muito difícil para uma pessoa que passou fome na vida, se deparar com tanta fartura e não se exceder.
Andressa abaixou a cabeça.
Cléber, ao notar que a moça baixara a guarda, resolveu se aproximar. 
Rapidamente, segurou seus cabelos curtos.
Andressa ao perceber o toque, se afastou.
O rapaz, porém, continuou a investir.
A garota passou então, a recuar cada vez mais.
Cléber, que parecia gostar do jogo, se aproximava cada vez mais. 
Aproveitando-se de sua posição de vantagem, agarrou Andressa, que começou a se debater.
Não fosse a chegada de Reinaldo e Cléber teria conseguido atacar a moça.
Aborrecido, Cléber então, deixou Andressa amarrada dentro do quarto e foi atender o amigo.
Reinaldo ao ver o amigo, foi logo perguntando se havia acontecido alguma coisa.
Irritado, Cléber respondeu:
-- Teria, se você não tivesse atrapalhado.
Sem graça, Reinaldo comentou:
-- Desculpe. Foi mal. Eu só pensei que você fosse mais rápido!
Ao ouvir isso, Cléber se irritou. 
Dizendo que certas coisas na vida levam tempo, comentou que já estava quase conseguindo o que tanto desejava. 
A seguir, dizendo que precisava voltar, exigiu que Reinaldo saísse do barraco.
Contrariado, o rapaz saiu.
Nisso, Cléber voltou para o quarto.
Aparentemente Andressa dormia.
Desconfiado, Cléber se aproximou da moça. 
Ao notar que ela não se assustou, convenceu-se de que ela realmente devia estar dormindo.
Irritado, saiu e trancou a porta.  

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 49

E assim, Andressa vai vivendo esta vida miserável.
Passa o tempo.
Certa vez, caminhando pelas ruas da cidade-país, um rapaz passa a observá-la.
Atento, Cléber acompanha Andressa com os olhos.
Distraída, a garota não percebe que está sendo observada. 
Feliz, Andressa começa a pegar flores pelos vãos dos portões das residências. 
Praticando este gesto, Andressa pensa em fazer uma surpresa à amiga Tina.
Cansada de ver Tina sofrendo com as agressões de Robson, Andressa resolve furtar algumas flores para fazer-lhe um agrado. 
Cautelosa, antes de agir, olha para os lados.
Cléber, a observa. 
Disfarçado, evita se aproximar. 
Não quer assustar a garota, que está entretida com seu projeto.
A certa altura, ao ver que já tinha muitas flores, Andressa resolve sair do local. 
Não quer que a vejam com as flores na mão. 
Satisfeita por realizar seu intento, Andressa caminha por ruas, até chegar num lugar. 
Lá pára e amarra as flores com uma corda. 
Pronto, o buquê improvisado está pronto.
Feliz, Andressa mal podia esperar para entregar o presente à amiga.
Cléber, que acompanhava a menina a distância, finalmente resolveu se aproximar.
Como Andressa estava distraída, não percebeu a aproximação.
Cléber, interessado na moça, tratou logo de se apresentar:
-- Prazer! Me chamo Valdo.
Andressa assustou-se.
O rapaz, percebendo que a assustara, desculpou-se. 
Dizendo que não queria assustá-la, comentou já vinha observando-a há tempos.
A garota não conseguia compreender. 
Surpresa com a abordagem, Andressa se esquivou. 
Dizendo que precisava ir, comentou que tinha gente esperando-a. 
Atenta, começou a caminhar vagarosamente.
Cléber, percebendo que Andressa tentava se evadir, segurou-a pelo braço.
Assustada, Andressa pediu para soltá-la.
Cléber então, ao notar que a moça se assustara, disse:
-- Não precisa se preocupar, moça. Eu não vou te machucar.
Andressa, contudo, tentava se desvencilhar:
-- Me solte.
Cléber, ao ver a reação de Andressa, comentou que não queria fazer nada de mal:
-- Então, me solte! – respondeu ela.
O rapaz, percebendo que não adiantava retê-la, resolveu soltá-la. 
Nesse momento, respondeu:
-- Não pense que você se livrou de mim. Eu sei onde te encontrar!
Assustada, Andressa passou a caminhar agora, rapidamente.
Caído no chão, estava o buquê de flores, montado por Andressa.
Cléber, percebendo o esquecimento da moça, pegou o buquê. 
Satisfeito, pensou consigo mesmo: ‘Agora eu tenho uma desculpa para encontrá-la.’
Foi então que começou o inferno na vida de Andressa. 
Aflita, a certa altura, a moça continuou a correr. 
Desesperada, esbarrou em Mateus, que logo perguntou o que estava acontecendo.
Aflita, Andressa não conseguiu se explicar.
Mateus, percebendo o quão a namorada estava nervosa, tentou acalmá-la.
Tensa, foi um custo conseguir fazer com que ela dissesse com clareza o que havia ocorrido. 
Nervosa, Andressa, revelou que um garoto havia abordado-a. 
Dizendo que a vinha observando, o rapaz começou a falar não queria fazer-lhe nada de mal. 
Desconfiada, Andressa comentou que ao ouvir aquela conversa estranha, tentou sair dali, em vão. 
Astuto, o moço segurou seu braço.
Mateus, revoltado disse:
-- Que absurdo! Como pode isso! Onde já se viu?
Tina que observava o casal à distância, resolveu se aproximar. 
Quando descobriu o que havia acontecido, comentou perplexa:
-- Mas o que passa pela cabeça de uma pessoa, pra agir dessa maneira? Que coisa de maluco!
Irritado, Mateus perguntou a Andressa, onde ela tinha visto o rapaz.
Um pouco mais calma, a garota explicou onde tinha sido abordada.
Mateus, ao tomar conhecimento do local onde se deu tal acontecimento, comentou:
-- Pois deixe estar! Esse tal sujeitinho vai ter o que merece!
Dito e feito!
Nervosíssimo, Mateus, assim que tem uma oportunidade, passou a procurar o sujeito que assediou sua namorada.
Cléber porém, que não era nem um pouco tolo, ficou algum tempo sem passar por aquele local. 
Contudo, não desistiu da idéia de encontrar a moça novamente.
Tanto que continuou seguindo-a. 
Cauteloso, Cléber evitou que Andressa percebesse que estava sendo seguida.
Andressa porém, intranqüila depois do incidente, olhava para todos os lados.
Nervosa, tinha a sensação de que mil olhos a observavam o tempo inteiro.
Contudo, como tudo na vida é uma questão de momento, Andressa aos poucos, foi se esquecendo do acontecido.
Mateus não. 
Nervoso, continuava a procurar pelo rapaz.
Andressa percebendo isso, começou a pedir a ele, para que desistisse da idéia.
Dizendo que nunca mais fora abordada pelo rapaz, comentou que não havia acontecido nada de mais.
Mateus, porém, não se conformava. 
E assim, teimoso que era, continuou a procurar pelo tal sujeito.
Nisso, Cléber continuou seguindo Andressa.
Percebendo a distração da moça, aproveitou para novamente se aproximar.
Quando Andressa notou a aproximação, assustou-se.
Contudo, como o rapaz estava muito próximo dela, Andressa não teve como fugir.
E assim, Cléber aproveitou para segurá-la pelo braço. 
Dizendo que tinha uma coisa para mostrar a ela, comentou que ela havia deixado as flores caírem no chão.
Calmamente Cléber mostrou-lhe o buquê.
Como se era de imaginar, as flores estavam murchas. 
Foi quando ele teve a idéia de levá-la para comprar algumas flores.
Temerosa, Andressa respondeu que não precisava.
Mas Cléber insistiu. 
Dizendo que fora por sua culpa que ela não pôde usufruir das flores, queria por que queria, comprar flores para ela. 
E assim, continuou segurando-a pelo braço.
Andressa aflita, a todo momento, pedia para que ele a soltasse.
Cléber, porém teimava. 
Dizendo que não iria fazer-lhe nada de mal, praticamente arrastou-a em direção a uma banca de flores. 
Escolhendo um buquê, o rapaz por um instante, soltou o braço da moça.
Foi quando Andressa, vendo-se livre, resolveu vagarosamente se distanciar do rapaz.
Cautelosa, foi pouco a pouco se afastando. 
Quando se viu a uma boa distância, tratou de correr.
Cléber distraído, não percebeu isso. 
Quando foi se dar conta do que havia ocorrido, Andressa já estava longe dali. 
Irritado, pagou as flores e começou a procurá-la. 
Em vão.
Desta vez Andressa tivera sorte.
Mas Cléber não desistiria tão fácil. 
E assim, continuou a segui-la.
Andressa, porém, precavida, tratou logo de chamar Mateus, Tina, Clau e Robson, para dormirem em outro lugar. 
Temendo ser novamente encontrada, passou a agir e a dormir em outros lugares da cidade, longe dos olhos vigilantes daquele rapaz estranho.
Cléber, no entanto, não se deu por vencido. 
Ao perceber que a moça tentava se esconder dele, contatou alguns amigos que se incumbiram da tarefa de descobrir onde ela estava. 
Ciente de que Andressa era uma garota de rua, Cléber sabia que não seria tão difícil encontrá-la.
Mas Andressa também era esperta. 
Assim, conseguiu se esconder.
E assim, Cléber teve trabalho para encontrá-la novamente.  

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 48

Alguns dias depois, reencontra Clau e Robson – que agora namorava Tina –, e conhece Mateus.
Além disso, como seria de imaginar, em decorrência das próprias condições de vida nas ruas, Andressa volta a se drogar e a praticar pequenos furtos.
Assustada, toda vez que ouvia o barulho de uma viatura, se escondia.
Cau, Tina e Robson, que nunca haviam ficado tanto tempo enjaulados – conforme diziam –, logo que a viram, perguntaram onde ela havia estado durante todo esse tempo.
Quando Andressa comentou que fora pega, em um furto, Robson comentou que essa parte da história, ele já conhecia.
Andressa então disse:
-- Pois bem. Depois que fui pega, fui parar na FEBEM. E desde então estive lá.
-- Eu não acredito! – comentou Tina – E você não tentou fugir nem uma vez?
-- Eu não tive como. – respondeu Andressa.
-- Como não? Não houve nenhuma rebelião durante todo esse tempo? – perguntou
Robson.
-- Não. A questão não é essa... Eu não sentia necessidade de sair dali. – respondeu ela.
-- Como assim? Necessidade de que? – perguntou Tina.
-- Você gostou de ficar presa? – perguntou Clau, perplexo.
Andressa respondeu:
-- Não. Mas é claro que não. Como eu poderia gostar de ficar trancafiada? Além disso, o clima era hostil, e a convivência, muito difícil. Mas eu gostava dos monitores. Gostava de
aprender. É bom ter um teto, de vez em quando.
-- Estudar? Estudar é coisa pra rico. Não é pra nós não. – respondeu Robson.
-- Sem falar que é uma perda de tempo. – emendou Tina.
Com Mateus, a coisa foi um pouco diferente.
Por ser o mais novo integrante da turma e não conhecer Andressa, resolveu não se intrometer na conversa.
Depois, apresentado por Robson, comentou que já ouvira muitas coisas sobre ela.
Curioso para saber como era a vida dentro de uma instituição como aquelas, Mateus a crivou de perguntas.
Tantas que Andressa ficou atordoada.
Robson, percebendo a ansiedade de Mateus, pediu ao amigo para ir devagar.
Andressa agradeceu. 
Em seguida, tentando se lembrar de todas as perguntas feitas, começou a falar de sua vida lá dentro.
E, muito embora a convivência fosse difícil, Andressa falou com carinho dos monitores e de algumas garotas. 
Segundo ela Renata e Taís, eram muito simpáticas.
Interessado no relato de Andressa, Mateus pediu para que ela falasse mais sobre suas amigas.
Andressa então falou.
Certa vez, ao voltar trazendo uma bolsa, Tina comentou que ela havia engordado.
Andressa respondeu:
-- Comida não era tão ruim.
Tina retruca:
-- É ruim sim. Mas para quem muitas vezes passa até fome, comer aquela gororoba, até que é possível.
Mateus, ao ouvir isso, caiu na risada.
Com isso, os cinco começam a contar o que tinham conseguido pegar.
Com a bolsa, Andressa conseguiu um bom dinheiro.
Tina e Clau, também estavam com sorte.
Já Robson e Mateus, não conseguiram grande coisa.
Por esta razão, os três dividiram com eles, a comida que conseguiram comprar.
E assim, os cinco almoçaram o costumeiro lanche.
Mais tarde, usaram o dinheiro que sobrara, para comprar drogas.
Andressa, Tina, Clau, Robson e Mateus, embarcaram em mais uma viagem. 
Uma tentativa desesperada de fuga da realidade. 
Mais uma entre tantas outras.
É, viver na rua não é fácil. 
Por isso, os cinco jovens passaram a consumir drogas mais pesadas.
Sim, as drogas, cada vez mais pesadas, faziam com que se esquecessem por alguns momentos, de suas vidas de dificuldades.
Contudo, causavam dependência. 
Em decorrência disso, Robson e Clau, passaram a ter um comportamento mais agressivo.
Cada vez mais dependentes do uso de drogas pesadas, os dois garotos não passavam uma noite sem se drogarem. 
Acostumaram-se.
Com o passar do tempo, ficou cada vez mais difícil, vê-los de cara limpa.
Tina, que era a namorada de Robson, não gostou nada da mudança. 
Mas acostumada a aceitar tudo, acabou se conformando.
Isso por que, logo que começou a reclamar do comportamento do namorado, foi logo ameaçada por ele. 
Com isso, temerosa, calou-se.
Quem não concordava com isso era Andressa, que vivia brigando com Robson e Clau.
Mas não adiantava.
Os dois, acreditando que tinham controle sobre as drogas, insistiam na idéia de que não havia com o que se preocupar. 
Seguros, discutiam com Andressa, que teimava em dizer, que estavam errados.
A briga era vã.
Mas, consciente de que também estava correndo o mesmo risco, decidiu por conta própria largar as drogas.
Muito embora tenha sofrido um pouco para tomar essa decisão, Andressa percebeu que não tinha outra alternativa. 
E assim, depois de passar algum tempo, sofrendo com a abstinência, finalmente sentiu-se livre.
Contudo, as coisas não se tornaram mais fáceis para ela por conta disso.
Isso por que, Robson, cada vez mais dependente das drogas, começou a bater em Tina, que agüentava tudo calada, para revolta de Andressa, que tentava abrir os olhos da
amiga.
Tina porém, não ouvia os conselhos de Andressa.
Tentando colocar panos quentes em toda a confusão, a garota vivia a dizer que Robson só estava um pouco nervoso, por isso a agrediu. 
No entanto, quando as coisas se acalmassem, tudo voltaria ao normal.
Mas não era assim, Tina vivia apanhando do rapaz.
No entanto, não havia só problemas na vida dos menores.
Andressa, por exemplo, percebendo que Mateus não sucumbira as drogas, apesar de usá-las com freqüência, passou a se aproximar mais dele.
Mateus por sua vez, percebendo a força de vontade de Andressa, abandonou as drogas.
A garota elogiou a atitude do rapaz.
Cada vez mais próximos, para começarem a namorar, foi um pulo.
E assim, embora no começo, tenha sido um simples namorico, a certa altura, a relação passou a adquirir contornos de uma verdadeira união.
Como Tina e Robson, Andressa e Mateus passaram a viver como um casal.
É, na rua, as coisas acontecem de forma mais rápida. 
Sem convenções.
Sem preconceitos e sem grandes formalidades.
Juntos, passam a praticar pequenos roubos e aplicar pequenos golpes.
Os golpes que Andressa aprendera com Robson, momentos antes da trágica noite que tiveram, onde perderam os amigos Vanderlei e Cleusa.
Abandonados, os dois foram enterrados como indigentes. 
Esquecidos de tudo. 
Até de justiça.
De vez em quando, Andressa visitava o túmulo dos amigos. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.