Poesias

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 28

Pensando em seu pai e sua mãe, recordou-se do dia em que ambos a levaram ao circo, e ela se encantou com os palhaços, os malabaristas e os acrobatas.
O circo, era um desses circos grandes, com um amplo espaço para as arquibancadas.
Havia muita luz e cor no espetáculo.
A tocha humana, na qual um homem e uma mulher, passavam fogo no próprio corpo.
Foi um dia muito feliz.
Mais tarde, Juscelino, explicou a Andressa, que ela não deveria tentar reproduzir o que vira, com seus coleguinhas de escola.
Isso por que, brincar com fogo era muito perigoso.
Dizendo que muitas pessoas se ferem gravemente todos os dias, por mexer com fogo, Juscelino acabou assustando um pouco Andressa.
Percebendo isso, disse:
-- Não precisa ficar assustada. Eu não falei isso para que colocar medo. Eu só estou te alertando. Não mexa com fogo! Não toque em palitos de fósforos. Não se aproxime do
fogão, nem do botijão de gás. É perigoso. Quando precisar usar faca, peça para Andréia, cortar o pão para você. Seja cuidadosa e nada de mal vai te acontecer. Nada de mal.
Como nada de mal poderia lhe acontecer, se já estava acontecendo?
Por conta disso, novamente Andressa, chorou.
Talita, que sempre passava pelos corredores para observar se todos estavam dormindo, ao ouvir um choro de criança, foi ver o que era.
Ao ver Andressa sentada em sua cama, mandou que se deitasse.
No entanto, a menina parecia não ouvir o que lhe falavam.
Ao perceber a distração da garota, Talita, irritada, puxou-a pelo braço e disse:
-- Deite-se agora. Durma. Eu não quero voltar aqui e ver você acordada.
Assustada, Andressa se deitou.
Mas não conseguiu dormir.
Demorou para pegar no sono.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 27

No dia seguinte, ainda abalada com o abandono, Andressa permanecia retraída.
Triste, raramente conversava com alguém.
Só ficava de longe observando as outras crianças brincarem.
Carmem – uma das funcionárias do orfanato –, ao notar o ar de desânimo de Andressa, chamou-a para conversar.
Preocupada com toda aquela tristeza, a mulher fez de tudo para chamar a atenção da menina.
Dizendo que entendia seu pesar, Carmem ofereceu-se para ser sua amiga.
Andressa porém, estava triste demais para aceitar qualquer oferta.
Carmem então, percebendo que não seria fácil entrar no mundo daquela criança, resolveu ficar atenta.
Desta forma, quando viu a menina isolada no refeitório, sem tocar na comida, Carmem se aproximou.
Gentil, perguntou-lhe se não estava com fome.
Lacônica, Andressa respondeu que não.
Carmem, ao ouvir isto, respondeu:
-- Menina! Coma pelo menos um pouquinho! Senão você some.
Andressa não respondeu.
Carmem, notando o desinteresse da menina, ficou preocupada.
Afinal de contas, diante das circunstâncias, não podia obrigar a criança a comer.
Mas o que fazer afinal?
Quando a história da recusa de Andressa em se alimentar caiu nos ouvidos, de uma das funcionárias responsáveis pelo orfanato, aí é que a situação se complicou.
Isso por que, Francisca, ao tomar conhecimento da situação, ficou aborrecida.
Sem ter muito jeito para lidar com crianças, quis logo obrigar a menina a comer.
Mesmo diante dos apelos de Carmem, Francisca se dirigiu até o jardim, e perguntando a uma das funcionárias quem era a menina que não queria comer, descobriu que se tratava de
Andressa.
Rapidamente, mandou a funcionária chamar a menina para uma conversa.
Andressa então, conduzida pela funcionária, caminhou em direção a Francisca.
Irritada a mulher perguntou:
-- Por que a mocinha não quer comer?
Intimidada com Francisca, a menina se assustou.
Francisca, percebendo que Andressa não tinha coragem de responder sua pergunta, disse:
-- Responda menina. Eu te fiz uma pergunta.
Andressa continuava muda.
Francisca então, ficou mais irritada ainda.
Puxando a menina pelo braço, respondeu:
-- Menina! Você é surda? Quando eu te fizer uma pergunta, responda. - Eu não aceito falta de educação. Insolente!
Andressa, ao ouvir estas palavras, começou a chorar.
Carmem, que observava a cena de longe, ao notar que Francisca se excedia, resolveu intervir.
Aflita, pediu insistente para que Francisca soltasse o braço da menina.
Francisca, ao ouvir os apelos de Carmem, não ficou nada satisfeita.
Dizendo que aquele não era assunto dela, respondeu que faria Andressa entender que ali não ela não podia fazer o que quisesse.
Carmem porém, não se deixou intimidar.
Dizendo que precisava conversar com Andressa, pediu encarecidamente para Francisca, deixa-la a sós com a garota.
Francisca contrariada, retrucou dizendo que não era hora de passar a mão na cabeça de ninguém.
Carmem, por sua vez, insistiu.
Precisava muito conversar com a menina.
Dizendo que se responsabilizaria por tudo o que Andressa fizesse, finalmente conseguiu fazer com que Francisca atendesse seu pedido.
Não sem antes ouvir, o seguinte:
-- Tudo bem! Está certo! Mas ouça bem! Você se responsabilizou por tudo o que esta garota fizer daqui para frente. Então, faça se comportar com se deve, ou você vai sofrer as
conseqüências.
Nisso se afastou do jardim.
Carmem então, se aproximou de Andressa.
Dizendo que ela não precisava ficar com medo, comentou que Francisca só estava um pouco nervosa.
Argumentando que ela não a agredira por mal, tentava consertar a situação.
Mas Andressa estava desconfiada daquelas maneiras.
Carmem, percebendo que não estava sendo convincente o bastante, perguntou-lhe novamente por que não queria comer.
Andressa não respondia.
Ao constatar que não adiantaria fazer perguntas a meninas, estendeu sua mão para Andressa.
Dizendo que gostaria de levá-la para um lugar muito especial, conseguiu finalmente despertar o interesse de Andressa para alguma coisa.
E assim, mesmo ressabiada, a menina segurou a mão da gentil mulher.
E as duas caminharam pelo jardim.
Como se tratava de um terreno grande, as duas caminharam durante algum tempo.
Durante este trajeto, Carmem comentou que aquele era um lugar muito acolhedor.
Andressa parecia não acreditar.
-- Apesar de tudo. De todas as histórias tristes que essas crianças trazem consigo, ainda assim é possível haver espaço para a alegria. Eu sou feliz por trabalhar aqui. Mesmo
convivendo com tantas histórias tristes, eu vejo que as crianças tentam ser felizes a sua maneira, e isso é bom. É sinal de que existe algo por que lutar.
Andressa, não conseguia compreender o que Carmem estava dizendo.
Percebendo que estava confundindo a menina, Carmem se desculpou.
-- Eu não sei onde estou com a cabeça, para falar de um assunto tão sério com uma criança.
Nisso, as duas chegaram a uma gruta.
Carmem, mostrou a Andressa uma bica d’água que existia dentro da gruta.
Curiosa, a menina se aproximou.
Foi quando percebeu que haviam vários objetos espalhados pela gruta.
Carmem, percebendo o interesse da menina em saber o porquê dos objetos espalhados pela gruta, começou a explicar:
-- Esses objetos foram aqui deixados, como forma de agradecer um pedido atendido.
Andressa, ao ouvir tais palavras, timidamente, perguntou:
-- Que pedido?
Carmem, ao ouvir a pergunta, satisfeita, respondeu:
-- São pedidos que as crianças fazem para serem felizes, encontrarem uma nova família ... enfim, qualquer coisa.
-- São sempre atendidas? – perguntou novamente Andressa.
-- Quase sempre. É que para um pedido ser atendido, tem que ser feito com muita fé.
Muita confiança.
E nem sempre é atendido de forma imediata.
Sem entender muito bem o que Carmem dizia, Andressa perguntou para quem devia ser feito o pedido.
A mulher respondeu:
-- A quem você quiser. A seu Anjo da Guarda, ao seu Santo de devoção, diretamente a Deus. Você é quem sabe. Peça do seu jeitinho. Nem é preciso saber uma oração de cor.
Aliás, você sabe rezar?
Envergonhada, Andressa respondeu que não.
Prestativa, Carmem que iria lhe ensinar todas as orações que conhecia.
A seguir, aproveitando que havia conseguido despertar a atenção de Andressa, começou a conversar com ela sobre sua tristeza.
Dizendo entender suas dificuldades em se adaptar àquele ambiente, a mulher comentou que ela não podia se deixar abater.
Andressa ao ouvir tais palavras, emudeceu novamente.
Mas Carmem insiste.
Dizendo que ela precisa se alimentar, conta que as crianças são como plantinhas, e assim, para crescerem fortes, precisam de alimentos.
Curiosa, Andressa pergunta como as plantinhas fazem para comer.
Carmem sorri.
-- Elas se alimentam com o que tem no solo.
-- Mas eu nunca vi uma planta comendo o que tem no chão.
-- É que elas se alimentam através de suas raízes, que estão cravadas no solo. Nós não podemos ver.
Andressa fez sinal de parecer entender.
-- Assim, como você pôde notar, até mesmo as plantas precisavam de alimento. É assim que elas crescem. As crianças também precisam se alimentar. É assim que crescem
fortes e determinadas para enfrentarem a vida. E é por isso que você precisa comer. Senão você vai ficar fraquinha, e vai sumir, sumir, até desaparecer.
-- Eu não tenho fome. – respondeu a menina.
-- Mesmo assim, coma pelo menos um pouquinho. Coma, brinque. Não se ocupe com problemas que não são da sua idade. Deixe que nós nos preocupemos com a vida de vocês.
Tente ser feliz, mesmo vivendo neste lugar. Não deixe que as tristezas lhe tirem o ânimo para fazer o que se tem vontade. Seja feliz, apesar de tudo!
Andressa, ao ouvir estas palavras, começou a chorar.
Lembrou-se de seu pai, e da maneira carinhosa como ele sempre respondia todas as suas dúvidas.
De como ele sempre que podia ia buscá-la na escola.
E mesmo quando estava cheio de trabalho, deixava de lado um pouco suas obrigações, somente para lhe dar um pouco de atenção.
Triste, lembrou-se destes momentos, mas não os revelou a Carmem, que prontamente a abraçou e procurou consolá-la.
Durante o jantar, Andressa ao ver o prato de comida a sua frente, fez um esforço para comer um pouco.
Embora a comida não fosse saborosa, a menina finalmente tocou no prato e comeu um pouco.
Carmem, que a observava à distância, ficou deveras feliz com o esforço da criança.
A noite, quando todas as crianças foram se recolher, mais uma vez Andressa, ficou sentada em sua cama.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 26

Naquele momento, só restava chamar a polícia.
A polícia chegou, recolheu o corpo.
Tempos depois, o homem foi enterrado.
Andréia e Andressa, abaladas com a morte de Juscelino, não conseguiam parar de chorar.
A menina, muito apegada ao pai, foi quem mais sofreu.
Foi um duro golpe.
Um dos piores que teria que suportar.
Sim, por que seu sofrimento só estava começando.
Em razão das dificuldades financeiras enfrentadas, Andréia decide mandar Andressa para o orfanato.
A garota, ao saber que seria abandonada por sua mãe, fica decepcionada.
Contudo, o que uma criança pode fazer?
E assim, mesmo sem saber, a menina volta a viver em um orfanato.
Negligenciada, Andressa sofre com a falta de atenção.
Isso por quê, as funcionárias do lugar, não tem tempo nem paciência para cuidar de todas as crianças que habitam o lugar.
Tendo somente a companhia de outras crianças, Andressa foi obrigada a conviver com essas pessoas.
Inicialmente, ao chegar no orfanato, acompanhada de Andréia, a menina foi apresentada a algumas funcionárias do lugar.
Ressabiada, Andressa relutou em aceitar a idéia de que teria que ficar ali.
Andréia no entanto, foi enérgica.
Advertindo a garota de que ela levaria umas boas palmadas se não ficasse quieta, acabou por convencer a menina.
Andressa então, silenciou.
Triste, ficou o dia inteiro calada.
Não almoçou e nem jantou.
A noite, ao ser levada ao dormitório, onde dividiria espaço com outras crianças, Andressa sentou-se em sua cama
e escondida de todos, chorou.
Chorou quase a noite inteira.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 25

Até o dia em que Juscelino, voltando tarde da noite, foi abordado por um homem suspeito.
Surpreendido pela abordagem, Juscelino não se mostra disposto a reagir.
Mesmo assim, o assaltante, temendo a reação de sua vítima, covardemente o atinge com um tiro.
Sem ter tempo de ser socorrido o homem morre na frente de sua casa.
Andréia, que a esta hora dormia, ao escutar o tiro, foi correndo para a sala.
Andressa que também acordara com o barulho do tiro, estava assustada.
Preocupada, Andréia mandou a garota ficar dentro de casa.
Cautelosa foi até o portão da residência.
Foi quando viu o corpo de Juscelino, estirado no chão.
Aterrada, só conseguiu gritar.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 24

E a menina cresce.
Vivendo com a família que acredita ser a sua, Andressa, aos seis anos de idade, passa a freqüentar uma escola que está a poucos quarteirões de sua casa.
Acompanhada de Andréia, a menina passa a ter contato com seus primeiros coleguinhas.
Assustada, a menina resiste a idéia de ir a escola, mas Juscelino, carinhoso, lhe explica que ela precisa ir.
Dizendo que ela está crescendo, comenta que ela precisa conviver com outras crianças.
Pessoas da mesma idade.
Andressa contudo, está temerosa.
É quando Juscelino pega-a no colo e diz:
-- Você está com medo?
-- Sim. – responde ela timidamente.
-- Não tenha. Você vai ver. Daqui a pouco não vai querer outro lugar. Vai ser escola, casa dos amiguinhos. Vai ser uma briga você querer ficar conosco.
Andressa não acreditou.
Juscelino insistiu:
-- Vai sim, você vai ver!
Quando a menina viu seu pai proferir estas palavras, finalmente acreditou no que ele estava dizendo.
Sim por que desde que se entendia por gente, seu pai nunca mentiu para ela.
Criancinha de colo, sempre que ela pegava e ela sentia medo de cair, ele respondia:
-- Não precisa ter medo. Eu não vou te derrubar.
Andréia sempre que via a cena, ficava preocupada.
Temendo que o marido derrubasse a menina, pedia sempre para colocá-la no chão.
Juscelino atendia a esposa.
Andréia, mais sossegada, aproveitava para repreender.
O homem ouvia tudo pacientemente.

Paulina, por sua vez, depois de se casar com Antenor, deu luz a Jorge – em 1981 – e Cristina, no ano seguinte.
Nessa época, a mulher raramente se lembrava da filha que abandonara.
Vivendo uma vida de rainha, Paulina só pensava em cuidar de seus filhos e viver bem com Antenor.
Estava com o futuro assegurado.
Marina e Antônio, casados há alguns meses, passaram então, a se preocupar com a
chegada de um herdeiro.
Foi assim, que com quase um ano de casados, tiveram os gêmeos, Marta e Marcos.
Otávio, que acompanhara a gravidez da filha desde o início, ao saber que sua filha teria gêmeos, ficou exultante.
Isso por que, no seu entender, seria avô por duas vezes.
Quem não ficou nem um pouco feliz com a novidade foi Adélia, que preocupada com a situação da filha, só ficava a pensar em como eles fariam para cuidar de duas crianças.
Otávio, ponderado, ao perceber que a preocupação da esposa, tinha razão de ser, procurou tranqüilizá-la.
Dizendo que para tudo se dá um jeito, o homem disse, que fosse preciso, ele empregaria parte de sua aposentadoria para cuidar dos netos.
Adélia ao ouvir isso, censurou-o.
Isso por que o valor que ele recebia de aposentadoria não era nenhuma fortuna.
Mas Otávio, dizendo que poderia economizar, comentou que ainda poderia ajudar sua família, se fosse necessário.
Adélia então calou-se.
A seguir, Cleide e Claudionor, tiveram seus filhos.
Primeiro, viera Luana, que nasceu em 1982, alguns meses depois dos gêmeos Marta e Marcos.
Mais tarde, veio Rodrigo, que nasceu em 1983.
O casal de filhos veio consolidar esta família que já era feliz.
Com os filhos, a felicidade se tornou maior.
Tiago, a essa altura, já morava há dois anos no interior.
Ricardo, sentindo que seu casamento não tinha mais futuro, preparava-se para a separação.
Eleonora que nessa época já estava casada há quase quatro anos, ao constatar que não havia possibilidade de convencer seu marido a viver a vida que tanto queria ter, decide
que não quer continuar nesta situação.
Disposta a se separar, comunicara Ricardo de sua decisão.
Como não havia filhos, a dissolução do casamento seria menos traumática.
Contudo, tal separação não se deu antes haver muitas brigas e desavenças.
Eugênia já não agüentava mais tanta confusão.
Sim por que sempre que o casal aparecia nas festas da família, brigavam.
Eugênia, Cleide, seu marido e seus filhos, mesmo que não quisessem, eram obrigados a presenciar as brigas terríveis do casal, que não poupavam nem um detalhe de sua vida conjugal.
As cenas eram constrangedoras.
Eleonora, dizendo que seu marido não era homem de verdade, abandonara-a.
Sem disposição para o casamento, sem vontade de ter filhos, só a fazia sentir cada vez mais sozinha.
Ricardo retrucava.
Dizendo que ela não era o que ele esperava, insistia na idéia de que ela fora um erro.
A mulher não fazia por menos.
Chamando-o de covarde, em uma das inúmeras discussões que travara com Ricardo, Eleonora jogou bebida no rosto.
Não fosse a intervenção de Eugênia e ele teria batido na esposa.
Eugênia percebeu então, que não adiantava tentar fazer os dois se entenderem.
A separação era iminente, e pior, seria ruidosa.
Foi o que se deu.
Brigando pela casa em que morava com Ricardo, Eleonora ficou com a única propriedade do casal.
Isso por que Ricardo, disposto a se separar a todo custo de Eleonora, prometeu-lhe que daria tudo o que tivesse para se livrar dela.
A mulher, ao ouvir isso, exigiu a casa em que morava.
Ricardo tentou discutir, mas, percebendo que esta atitude resolveria sua vida, concordou.
E assim, a separação se deu.
Quando Eleonora se tornou a única proprietária da residência, tratou logo de vendê-la e se mudar dali.
Decepcionada com Ricardo, a mulher não queria nem ouvir falar em seu nome.
Por conta disso, sumiu no mundo.
Cleide e Eugênia, nunca mais ouviram falar no nome dela.

Nisso, Andressa passa todos os dias a ir a escolinha.
Lá conhece outras crianças.
Aprende novas coisas.
De vez em quando, visitava seus coleguinhas e brincava com eles.
Era pega-pega, esconde-esconde, brincadeiras de roda, etc.
Até aí, tudo ia bem.

Luciana Celestino dos Santos
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QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 23

Com isso, alguns meses depois e lá estavam Cleide e Marina casadas.
Amigas inseparáveis, casaram-se com uma diferença de poucos meses em relação a um casamento e outro.
Nesse ponto, cabe ressaltar que Otávio não ficou nem um pouco feliz.
Ao saber que em pouco tempo, não veria mais sua única filha em casa, o homem ficou extremamente insatisfeito.
-- Com pode? Minha única filha, se casar?
Adélia por sua vez, não enxergava as coisas dessa maneira, por isso, defendendo os interesses da filha, comentou que mesmo sabendo que sentirá falta de Marina, está feliz por
vê-la se casando.
A Otávio, só restou portanto, se conformar com a nova situação.
Mesmo insatisfeito, Adélia acabou por convencê-lo de que ela já estava em idade de se casar.
Cautelosa comentou:
-- Ora homem! Você não quer que sua filha seja feliz? Você realmente acha que ela ficaria a vida inteira atrás de você? E a vida dela? Os filhos não são para nós.
Otávio, ao ouvir as palavras sensatas da esposa, acabou concordando com ela.
Já Eugênia ao saber que sua filha tencionava se casar, ficou exultante.
Como Ricardo já estava casado nessa época, ao saber da notícia, foi logo ironizando:
-- Já vai se enforcar?
Cleide ouviu, mas ignorou o comentário.
Contudo, mesmo casado, Ricardo não respeitava a esposa.
Freqüentemente era visto em bares e ao lado de outras mulheres.
Eleonora ao saber disso, ficou inconformada.
Por essa razão o esperava chegar em casa.
Quando Ricardo adentrava o lar, a mulher imediatamente o criticava.
Dizendo que sua atitude era execrável, insistia na idéia de que ainda era tempo de consertar as coisas.
Sim, mesmo com as traições de Ricardo, Eleonora estava disposta a manter o casamento.
Ricardo porém, não se esforçava nem um pouco no que tange este aspecto.
E assim, sempre que Eleonora começava a discutir, ele dizia que ela estava ficando muito chata.
Por várias vezes ele a deixou falando sozinha.
Sem paciência para ouvir a esposa, Ricardo ignorava.
Eleonora ficava furiosa com isso.
Sim, por que a indiferença dele só fazia com que tivesse mais vontade de criticá-lo.
E assim, o casamento dos dois ia de mal a pior.
Com tantas brigas, até os vizinhos conheciam a situação do casal.
Mesmo assim, Ricardo e Eleonora tentavam manter as aparências.
Quanto ao casamento de Cleide e Marina, ambas as cerimônias foram simples, mas repletas de significado.
Marina e Antônio casaram-se em uma cerimônia ao ar livre, com poucos convidados.
Como toda a noiva que se preze, usava branco.
O vestido, um pouco bufante, fora um desejo de sua mãe, Adélia, que não ficou nem um pouco satisfeita com a simplicidade da cerimônia.
Segundo ela, casamento tinha que ter pompa e circunstância.
Todavia, Marina e Antônio, começando suas vidas profissionais, não estavam em condições financeiras de realizarem grandes casamentos.
E assim, só restou a Adélia, sonhar com o vestido da filha.
E lá foi a mulher pesquisar em revistas de moda, os melhores vestidos, os mais bonitos.
Solicitando a ajuda do marido, que não queria que a filha se casasse, diante da insistência da mulher acabou aceitando pagar o vestido.
E assim, o vestido se tornou o presente de casamento de Marina.
Otávio, ao presenciar o casamento da filha, se emocionou.
Cleide também ficou tocada com a cerimônia.
Quanto a Adélia, que sempre sonhou com este casamento, nem é preciso dizer.
A mulher derramou muitas lágrimas.
Já Cleide casou-se na mesma igreja em que fora batizada, no centro da cidade.
Marina, presente a cerimônia, já casada, felicitou a amiga pelo casamento.
Eugênia, ao ver sua filha no altar, diante de si, constatou que seu trabalho havia terminado.
Feliz por ver Cleide feliz, estava um pouco triste também, por saber que não teria sua filha sempre por perto.
Ricardo acompanhado de Eleonora, também acompanhou o casamento da irmã.
Sóbrio, evitou suas constantes ironias, e desejou sinceramente, que Cleide fosse muito feliz.

Nisso, Andressa, criada por Andréia e Juscelino – seus pais adotivos –, vivia uma infância alegre e feliz, sem nem sequer imaginar sua verdadeira origem.
Andréia, envergonhada por não poder gerar os próprios filhos, vendo-se com uma filhinha nos braços, pediu ao marido para que nunca revele para a menina que ela fora adotada.
Juscelino, encantado com a possibilidade de finalmente vir a ter uma família completa, concorda com a mulher.
Fiel a essa promessa, nunca revelou a Andressa sua verdadeira origem.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 22

Durante meses, Paulina levou uma vida difícil.
Passou fome, necessidade.
Mas por fim, encontrou um emprego em uma loja.
Foi nessa loja que Paulina conseguiu arrumar sua vida.
Esperta como poucas, a moça começa a despertar a atenção de seu patrão, Antenor.
Atenta, procura se esmerar em seu trabalho.
É assim que começa a chamar sua atenção.
Depois, começa a fazer sugestões para incrementar a loja.
Tudo com vistas a impressionar o patrão.
Incomodadas com tanta solicitude, as outras funcionárias começam a reclamar do excesso de presteza de Paulina.
Antenor porém, aprecia a determinação de Paulina e logo a promove de função.
Atenta e aproveitando todas as oportunidades que se apresentam, Paulina começa a mostrar a Antenor, que não está apenas interessada em seu novo trabalho.
E assim, aos poucos, Antenor começa convidando-a para sair, para dançar.
Até um dia finalmente a pede em casamento.
Casando-se, Paulina abandona seu trabalho na loja, e passa a ser responsável, única e exclusivamente pelo lar da família.
A propósito, o casamento foi um espetáculo à parte.
Como se tratava de um homem rico, integrante da alta sociedade da época, o casamento foi notícia em quase todos os jornais.
A festa foi magnífica, com tudo de luxuoso e caro.
Paulina estava finalmente se realizando.
Clóvis, quando viu a notícia do casamento da ex-amante no jornal, comentou:
-- Bem esperta essa Paulina! Esta sabe como agir. Se deu bem!
Nesse período, Marina e Cleide, concluindo os cursos universitários, resolvem participar da formatura.
Assim, é feito.
Depois de anos freqüentando aulas, ouvindo os ensinamentos dos professores, conversando com os colegas de curso, perdendo momentos de diversão para se
dedicarem aos estudos, finalmente as duas amigas terão um momento para celebrar tudo isso.
Otávio – pai de Marina – e Eugênia – mãe de Cleide –, mal cabem em si de tão contentes.
Acompanhando os passos de suas respectivas filhas, ambos não tem do que se queixarem.
Adélia – mãe de Marina – porém, não está nada satisfeita com a escolha da filha.
Muito embora já tenha se passado muito tempo desde que ela decidira se tornar assistente social, sua mãe ainda não aceitou a idéia.
Mas este é apenas um detalhe.
Ricardo, nessa época, já estava casado com sua primeira esposa.
A certa altura, encantado com Eleonora, o rapaz, convencido de que esta era a melhor solução, resolveu se casar às pressas com a moça.
Muito embora não estivesse apaixonado por ela, achava-a atraente e interessante.
Além disso, como não estava iludido com o amor (segundo suas próprias palavras) o casamento tinha tudo para dar certo.
Isso por que Eleonora estava fascinada por ele.
Eugênia ao saber da idéia tresloucada do filho, tentou de todas as maneiras possíveis, demovê-lo da idéia.
Contudo, como fazer uma pessoa teimosa mudar de idéia.
Em dado momento, cansada de tanto dizer conselhos a Ricardo, Eugênia desistiu.
Cansada, comentou:
-- Pois bem! Faça como achar melhor. Só não venha depois chorar no meu ombro, se este casamento não der certo. Eu não quero saber.
Nisso, depois dos três meses de burocracia, finalmente, o casamento se realizou.
Em uma cerimônia realizada no Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais, casaram-se Eleonora e Ricardo.
Não houve festa, nem cerimônia no religioso.
Cético com relação ao amor, Ricardo dizia que o mesmo não passava de mais uma bobagem que os escritores inventaram para as pessoas passarem o tempo.
Eleonora quando ouvia estas palavras amargas, ficava desapontada.
Contudo, crédula de que poderia fazer Ricardo se apaixonar por ela, usava o casamento como último recurso.
Este era seu intento, ser feliz com o marido, e fazer com que ele fosse feliz ao lado dela.
Era por esta razão, que Eugênia relutava em aceitar o casamento.
Seu filho estava brincando com os sentimentos da moça.
Cleide também não concordava com o gesto precipitado de seu irmão.
Contudo, se sua mãe, não conseguira fazê-lo mudar de idéia, o que ela poderia fazer para evitar que Ricardo cometesse esse erro?
Infelizmente nada.
E assim, o casamento se realizou.
E assim, enquanto Cleide e Marina, ansiosas pela formatura, nessa época só conseguiam pensar na festa e no vestido que iriam usar; Ricardo aproveitava sua lua-de-mel.
Adélia por sua vez, apesar de não concordar com a escolha da filha, foi logo sugerindo modelos de vestidos para ela.
Folheando revistas de moda, Marina demorou para se convencer de qual vestido deveria mandar fazer.
No entanto, mesmo com muitas dúvidas, depois de muito pensar, acabou chegando a uma conclusão.
Eugênia fez o mesmo com Cleide.
E as duas, assim como Adélia e Marina, ficaram semanas para escolher que modelo de vestido fariam.
Mas Cleide escolheu bem.
Em pleno final de 1981, a moda era bastante extravagante.
Mesmo assim, apesar dos excessos da moda, comedidas que eram, no dia da formatura, as duas amigas estavam impecáveis.
Ambas trajavam longos, cada um de uma cor, já que não havia restrições no tocante as cores, bastante alegres.
Ainda assim, estavam elegantes.
Antes é claro, participaram da cerimônia de colação de grau, usando a tradicional beca e o chapéu.
Ordeiramente cada um dos alunos subiu ao palco para pegar seu diploma.
Felizes e emocionados, Eugênia e Otávio, ao verem suas filhas com o diploma nas mãos, não conseguiram se conter.
Aplaudiram-nas.
Adélia, censurando a ambos, comentou que eles estavam atrapalhando o andamento da cerimônia.
Debalde.
Isso por que, por duas vezes, os dois aplaudiram as moças.
A primeira vez, foi quando Cleide pegou seu diploma.
Na segunda vez, aplaudiram Marina.
Mesmo com algumas pessoas olhando para o homem e a mulher que aplaudiam no momento errado, Eugênia e Otávio não se intimidaram e continuaram a aplaudir Cleide e
Marina.
Estavam felizes.
Nisso a colação de grau prosseguiu.
Não tinha jeito.
Os dois estavam orgulhosos pelo esforço empreendido pelas duas.
No tocante a isso Adélia não podia fazer nada.
Somente suportar sua vergonha, pelo que considerava uma inconveniência.
No baile de formatura, mais euforia.
Discursos foram proferidos, valsas foram dançadas.
Taças foram erguidas, e muitos brindes foram feitos.
Durante a valsa, Cleide e Marina dançaram com Claudionor e Antônio, respectivamente.
Segundo Otávio, Adélia e Eugênia, os dois casais mais bonitos da festa.
Animada, a comemoração se estendeu por toda a madrugada.
Otávio e Adélia, também aproveitaram para dançar.
Quando a orquestra contratada, tocou músicas conhecidas por eles, o casal começou a dançar.
Eugênia ficou observando-os de longe.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.