Poesias

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 3 – REGIÃO SUL CAPÍTULO 15

Ao comentar sobre o Quero-quero, o narrador disse que: 
Quando a Sagrada Família fugia para o Egito, com medo das espadas dos soldados do rei Herodes, muitas vezes precisou se esconder no campo, quando os perseguidores chegavam perto. 
Numa dessas vezes, Nossa Senhora, escondendo o Divino Piá, pediu a todos os bichos que fizessem silêncio, que não cantassem, porque os soldados do rei podiam ouvir e dar fé. 
Assim, todos obedeceram prontamente, mas o Quero-quero, não: queria-porque-queria cantar. 
E dizia: Quero! Quero! Quero! 
E tanto disse que foi amaldiçoado por Nossa Senhora: ficou querendo até hoje.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 3 – REGIÃO SUL CAPÍTULO 14

Sobre a Soledade: 
Há muitos e muitos anos, um grupo de mineiros vagava numa caravana de carretas, entre o Planalto e a Serra do Rio Grande do Sul. 
Muitas famílias completas faziam parte do grupo, e elas queriam fundar uma vila, uma cidade, mas o local de assentamento só poderia ser escolhido por Nossa Senhora, cuja imagem sagrada eles traziam numa carreta, com altar e tudo. 
E assim vagavam de pago em pago, acampavam, armavam o altar, passavam aí alguns dias e, como não recebiam sinal de Nossa Senhora, recarregavam as carretas e iam embora. 
Até que um dia pararam nuns campos lindos, banhados pela luz de Deus, com uma estranha beleza solitária. 
Ao descarregarem as carretas, alguém teria dito: 
"Que soledade!"
 Bueno, acamparam e tal, e depois de alguns dias, recarregaram tudo, prontos para partir de novo. 
Porém, quando chegou a hora da partida, quebrou-se o eixo da carreta que levava a imagem de Nossa Senhora. 
Foi por isso que descarregaram tudo, consertaram o eixo e quando quiseram partir, mais uma vez, surpresa: quebrou-se o eixo, de novo. 
Outra vez descarregaram, consertaram o eixo e se dispuseram a partir. 
Quando se quebrou o eixo pela terceira vez, eles compreenderam que era um aviso: Nossa Senhora tinha escolhido, afinal, a sua querência. 
Então, ali, naquele chão sagrado, eles ergueram ranchos, galpões, estâncias. 
E Nossa Senhora abençoou o esforço, a fé e a dedicação de todos, fazendo prosperar Soledade, a terra escolhida pela própria Mãe de Deus. 

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 3 – REGIÃO SUL CAPÍTULO 13

Comentando sobre o Umbu, os turistas conheceram a seguinte lenda: 
O Umbu é uma árvore grande e folhuda que cresce no pampa. 
Muitas vezes é solitária, erguendo-se única no descampado e atrai os campeiros, os tropeiros, os carreteiros que fazem pouso sob sua proteção. 
O tronco do Umbu é muito grosso, as raízes fora da terra são grandes, mas ninguém usa a madeira da árvore - não serve para nada, mesmo. 
É farelenta, quebradiça, parece feita de uma casca em cima da outra. 
Por quê? 
Pois não vê que quando Deus Nosso Senhor criou o mundo, ao fazer as árvores, perguntava a cada uma delas o que queria na terra? 
A laranjeira, o pessegueiro, a macieira, a pereira e assim por diante, quiseram frutos deliciosos. 
O pau-ferro, o angico, o ipê, o açoita-cavalo, a guajuvira, pediram madeira forte. 
-- E tu, Umbu, queres também frutos doces e madeira forte? 
-- Nada, Senhor. - respondeu o Umbu. - Eu quero apenas folhas largas para as sesteadas dos gaúchos e uma madeira tão fraca que se quebre ao menor esforço. 
-- A sombra, Eu compreendo - disse o Senhor. - Mas porque a madeira fraca? 
-- Porque eu não quero que algum dia façam dos meus braços, a cruz para o martírio de um justo. 
E Deus Nosso Senhor, que teve o filho crucificado, atendeu o pedido do Umbu.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 3 – REGIÃO SUL CAPÍTULO 12

Com isso, passou-se a falar do Rio dos Pássaros. 
Ouvia-se lendas inesquecíveis sobre os sete povos e sobre o próprio município. 
Seu mundo interior povoava-se de figuras e dimensões encantadas. 
Dentre elas, destacava sempre uma em especial: a do nascimento do Rio Uruguai, numa das muitas confrontações havidas entre o diabo vermelho dos índios, - o Anhaguapitã, e São Pedro. 
Certo dia o diabo, cansado de caminhar pelas matas, porque, nesse tempo, tudo isto aqui era só mato a perder de vista, o caaguaçu, o mato grande, de água, não existindo nem as lagoas, nem o jacuí, nem o ibicuí; decidiu tirar uma sesta para refazer a as forças e continuar sua caçada de almas malvadas. 
E tratou de se espichar num tapete de guanxumas alta. 
Caiu bem ao pé de uma figueira carregadinha de frutos maduros. 
Nesses tempos, povoava essas matarias que se estendiam longe, a fazer limites com Santa Catarina e as terras do rei da Espanha, uma raça de passarinhos pequenos e cantadores, chamada uru. 
Naquele dia, depois de saborearem também os figuinhos roxos e suculentos, resolveram dar graças a Deus, cantando o que era uma lindeza de se ouvir. 
Eram milhares de milhares, estendidos desde de a linha, serranias e pinheiras das alturas de Lajes, ao norte, ali por onde hoje se levanta Bom Jesus e Vacaria, até aqui por estas bandas rasas, no extremo sudoeste, por onde se alargam os pampas de Santana Velha e da Barra do Quaraí. 
O diabo, que tem um sono de pedra e ninguém consegue acordar quando está dormindo, naquela tarde não pode deixar de ouvir a orquestra dos passarinhos. 
Sua irritação era tamanha, que resolveu dar um sumiço nesses bajuladores do Velhinho lá de cima... Unindo o gesto a palavra, encheu as bochechas vento, ficando com a cara em brasa, de tanto fazer força. 
Depois que tinha botado dentro da boca a maior quantidade de furacão, soprou com tanta fúria quanto podia, virando para o lado de onde lhe parecia provir o som. 
A passarada tratou de se cambiar, atirando-se espaço a fora, num movimento único. 
Depois pensaram que se o diabo não queria que eles cantassem no fofo dos galhos e ramagens, então cantariam no ar mesmo, fora de seu alcance. 
Lá em riba recomeçaram seu gorjeio, ainda mais bonito, mais alegre do que antes. 
Furioso, o diabo resolveu matar todos de uma vez só. 
Ouviu-se uma explosão, era como um tiro de canhão. 
E um horrível fedor de enxofre se propalou, na terra e no ar, deixando a bicharada tonta de cair.
Com aquele canhonaço que se ouviu por milhares de léguas ao redor, o velhinho São Pedro, que também andava cá na terra, desconfiou que aquilo não podia ser coisa boa. 
Nisso o relampejo do sol, sobre as asas dos milhares de passarinhos que começavam a cair do céu a imitar uma chuva transparente, daquelas do tipo casamento da raposa, e alertou o santo de vez. 
Levantando as mãos para o céu, pediu a benção do Espírito Santo – que também era uma ave, pois sempre aparece disfarçado de pombinha branca – numa tentativa de salvar os bichinhos da sanha malvada que os estava exterminado aos milhares. 
Ergueu a mão direita na direção da passarada que caía, e a medida que o poder mágico de seus dedos ia atingindo os uruzinhos, foi acontecendo um milagre. 
As avezinhas que ainda tinham qualquer sopro de vida no corpo, foram se transformando em gota d'água, e as que já tinham morrido, se despencaram do alto para o chão, mudadas em pequenas pedras redondas e chatas, hoje conhecidas pelo nome de chanteiras, e que lembra pelo formato um passarinho de assas abertas. 
O volume de água foi tanto, a prosseguir pelo chão, por vales, matarias e campos, que o limite seco que separava o Rio Grande, de Santa Catarina, e da Argentina, se tornou num rio enorme. 
Foi assim que nasceu o Rio do Uruguai, o Rio Uru-aa-i, rio dos passarinhos, outros chamam de “rio dos pássaros pintados”.

DICIONÁRIO:

caaguaçu
substantivo masculino
ANGIOSPERMAS
erva ( Eriocaulon sellowianum ) da fam. das eriocauláceas, com roseta basal de folhas lanceoladas e capítulos globosos, com flores esbranquiçadas, sobre longos pedúnculos arqueados, nativa do Brasil (GO, MG, SP, PR) e cultivada como ornamental; caá-açu, caaçu.

Jacuí é uma palavra indígena que define uma ave, o mesmo que aracuã. O nome científico do jacuí é: Ortalis Canicollis Pantanalensis.

"Ibicuí" é um termo de origem tupi que significa "água do pó da terra", através da junção dos termos yby ("terra"), ku'i ("pó") e 'y ("água").

Guanxumas
Significado de Guanxumas    
[Botânica] Plural de guanxuma, que é uma planta da família da Malvaceae e do gênero Sidastrum. A guanxuma é usada como chá, que dizem que alivia tosses e febres.

chanteira s. f.
(1) Canteira piçarrosa donde se tiram os chantos ou chantas.
(2) Cada uma das peças de madeira entre as que gira o eixo do carro. Treitoira.
(3) Mouta de centeio, favas, etc.
[de chanto + -eira]

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 3 – REGIÃO SUL CAPÍTULO 11

Ao falar sobre a Lagoa Vermelha, o narrador contou que: 
A primeira tentativa dos padres jesuítas, que resultou na fundação de Dezoito Povos Missioneiros no Rio Grande do Sul, deu em nada. 
Os bandeirantes de Piratininga, que haviam arrasado as reduções do Guairá caçando e escravizando índios, para a escravidão das lavouras de cana-de-açúcar de São Paulo e Rio de Janeiro, quando souberam que os padres tinham vindo mais para o sul e erguido suas aldeias no Tape, vieram aqui fazer o que sabiam fazer. 
Assim e aos poucos, os padres tiveram que refluir para o oeste, fazendo agora na volta o mesmo caminho que tinham feito na vinda. 
E nessa fuga tratavam de levar consigo tudo o que podiam carregar. 
O que não podiam, queimavam ou enterravam. 
Nisso, casas, plantações e até igrejas foram incendiadas, para que nada ficasse ao emboaba agressor. 
Pois diz-que numa dessas, avançava pelo Planalto, no rumo da Serra, uma carreta carregada de ouro e prata, fugindo das Missões.
Ali vinha a alfaia das igrejas, candelabros, castiçais, moedas, ouro em pó, um verdadeiro tesouro, cujo peso, faziam os bois peludearem. 
Com a carreta, alguns índios e padres jesuítas e atrás deles, sedentos de sangue e ouro, os bandeirantes. Ao chegarem às margens de uma lagoa, não puderam mais. 
Desuniram os bois e atiraram a carreta com toda a sua preciosa carga na lagoa, muito profunda. 
Foi então que os padres mataram os índios carreteiros e atiraram os corpos n'água, para que não contassem a ninguém onde estava o tesouro. 
Com o sangue dos mortos, a lagoa ficou vermelha. 
E lá está, até hoje. 
Ao seu redor, cresceu uma bela cidade, que tomou seu nome - Lagoa Vermelha. 
E cada um dos seus moradores que passa na beira das águas coloradas, lembra que ali ninguém se banha, nem pesca, e segundo a tradição, a lagoa não tem fundo. 
E nas secas mais fortes e nas chuvaradas mais brabas, o nível da lagoa é sempre o mesmo.

DICIONÁRIO:
1. Peludear
Significado de Peludear  
Forcejar; atolar o automóvel no barro, tirar um peludo (provavelmente vem do tatu peludo, bicho que faz a toca bem funda).
No retorno da pescaria, peludeamos duas vezes, por causa da chuvarada.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 3 – REGIÃO SUL CAPÍTULO 10

 A seguir o narrador passou a contar a ‘Lenda do Caverá’.
O Caverá é uma região na fronteira-oeste do Rio Grande do Sul, ouriçada de cerros, que se estende entre Rosário do Sul e Alegrete. 
Na Revolução de 1923, entre os Maragatos (os revolucionários) e os Chimangos (os legalistas) o Caverá foi o santuário do caudilho maragato Honório Lemes, justamente apelidado "O Leão do Caverá". 
Diz a lenda que a região, no passado, era território de uma tribo dos Minuanos, índios bravios dos campos, ao contrário dos Tapes e Guaranis, gente mais do mato. 
Entre esses Minuanos, destacava-se a figura de Camaco, guerreiro forte e altivo, mas vivendo uma paixão não correspondida por Ponaim, a princesinha da tribo, que só amava a própria beleza... 
Os melhores frutos de suas caçadas, os mais valiosos troféus de seus combates, Camaco vinha depositar aos pés de Ponaim, sem conseguir dela qualquer demonstração de amor. 
Um dia, achando que lhe dava uma tarefa impossível, Ponaim disse que só se casaria com Camaco se ele trouxesse a pele do Cervo Berá, para forrar o leito do casamento. 
O Cervo Berá era um bicho encantado, com o pelo brilhante - daí o seu nome. 
O mato era dele: Caa-Berá, Caaverá, Caverá, finalmente. 
Então Camaco resolveu caçar o cervo encantado. 
Montando o seu melhor cavalo, armado com vários pares de boleadeiras, saiu a restrear, dizendo que só voltaria depois de caçar e courear o Cervo Berá. 
Depois de muitas luas, num fim de tarde, ele avistou a caça tão procurada na aba do cerro. 
O cervo estava parado, cabeça erguida, desafiador, brilhando contra a luz do sol morrente. 
Sem medo, Camaco taloneou o cavalo, desprendeu da cintura um par de boleadeiras e fez as pedras zunirem, arrodeando por cima da cabeça. 
Então, no justo momento em que o Cervo Berá deu um salto para a frente quando o guerreiro atirou as Três Marias, houve um grande estouro no cerro, e uma cerração muito forte tapou tudo. 
Durante três dias e três noites, os outros índios campearam Camaco e seu cavalo, mas só acharam uma grande caverna que tinha se rasgado na pedra dura do cerro e por onde, quem sabe, Camaco e seu cavalo, tinham entrado a galope atrás do Cervo Berá para nunca mais voltar. 

DICIONÁRIO:
Significado de Taloneou
Taloneou vem do verbo talonear.
Significado de talonear
[Regionalismo: Rio Grande do Sul] Dar com a tala ou chicote em; chicotear.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 3 – REGIÃO SUL CAPÍTULO 9

Quanto ao Boi Vaquim: 
Trata-se de um ser místico do Rio Grande do Sul.3 
É um boi alado, com asas e guampas de ouro, levantadas como as vacas, portanto meio avacado. 
Mete medo aos campeiros, porque chispa fogo nas pontas das guampas e tem os olhos de diamante. 
É preciso muita coragem para laçá-lo, braço forte, cavalo bom de pata e de rédeas. 
Supõe Contreiras Rodrigues que o mito tivesse vindo do norte, através das tropas de Sorocaba. 

3 Descrito pelo historiador Contreiras Rodrigues.

DICIONÁRIO:
guampa - substantivo feminino BRASILEIRISMO•BRASIL
1. ANATOMIA ZOOLÓGICA
m.q. CORNO ('apêndice ósseo').
2. corno, chifre talhado em forma de copo ou vasilha para líquidos; guampo.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.