Poesias

sexta-feira, 10 de julho de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 60

CAPÍTULO 60 

Após, ainda animado com a possibilidade de contar suas lendas aos turistas, os pescadores passaram a contar mais sobre a ‘A Lenda da Vitória-régia’:
Ela é considerada a rainha das flores aquáticas.
Nós a encontramos na Amazônia, em Mato Grosso e também nas Guianas.
É cultivada nos jardins botânicos de muitos países, por ser considerada uma planta realmente preciosa.
As folhas maiores podem suportar perto de quarenta quilos de peso!
A flor, branca, se abre ao cair da tarde, perfuma o ar e dura apenas duas noites.
Estava fazendo uma noite muito quente.
O luar era tão claro, que se enxergava quase como se fosse de dia.
Perto da lagoa havia uma importante tribo de índios, que hoje não existe mais.
Entre os índios, havia um velho chefe, muito procurado pelas crianças, que gostavam de ouvir suas histórias.
Como a noite estava quente e o luar muito lindo, o velho cacique havia-se sentado bem perto da lagoa, para descansar e gozar daquela beleza.
Logo que as crianças descobriram que ele estava ali, foram sentar-se perto dele.
Pediram que lhes contasse uma história.
O cacique, porém, estava tão distraído admirando a vitória-régia, que nem percebera a chegada das crianças.
Custou para que ele saísse daquela contemplação.
Por fim, sorriu para elas.
-- O que o senhor estava vendo com tanta atenção? - perguntou uma.
-- Aquela estrela! Aquela bonita estrela. – respondeu o cacique, apontando para a vitória régia.
As crianças ficaram admiradas e trocaram um olhar significativo.
A vitória-régia era uma estrela?
Pobre cacique!
Ele percebeu o espanto das crianças, e lhes disse:
-- Não tenham medo! Não fiquei doido, não. Não acreditam que a vitória-régia seja uma estrela?
Então ouçam:
Faz muitos e muitos anos.
Nem sei quantos.
Em nossa tribo, vivia uma índia, muito moça e muito bonita, a quem haviam contado que a lua era um guerreiro forte e poderoso.
A moça apaixonou-se por esse guerreiro e não quis casar-se com nenhum dos índios da tribo.
Não fazia outra coisa a não ser esperar que a lua surgisse.
Aí, então, punha os olhos no céu e não via mais nada.
Só o poderoso guerreiro.
Muitas vezes, ela saía correndo pela floresta, os braços erguidos, procurando agarrar a lua.
Todos da tribo tinham pena da índia, pena de vê-la dominada por um sonho tão louco.
E o tempo foi passando...
Contudo, o sonho não deixava a pobre moça em paz.
Queria ir para o céu.
Queria transformar-se numa estrela, numa estrela tão bonita, que fosse admirada pela lua.
Mas a lua continuava distante e indiferente, desprezando o desejo da moça.
Quando não havia luar, a jovem permanecia aborrecida em sua oca, sem falar com ninguém.
Eram inúteis os esforços dos amigos e parentes para que ela ficasse com as outras moças.
Continuava recolhida, silenciosa, até a lua aparecer novamente.
Uma noite em que o luar estava mais bonito do que nunca, transformando em prata a paisagem da floresta, a moça repetiu sua tentativa.
Chegando à beira da lagoa, viu a lua refletida no meio das águas tranqüilas e acreditou que ela havia descido do céu para se banhar ali.
Finalmente, ia conhecer o famoso e poderoso guerreiro.
Sem hesitar, a moça atirou-se às águas profundas e nadou em direção à imagem da lua.
Quando percebeu que havia sido ilusão, tentou voltar, mas as forças lhe faltaram e morreu afogada.
A lua, que era, um guerreiro forte e poderoso, uma espécie de deus, viu o que havia acontecido e ficou compadecida.
Sentiu remorso por não ter transformado a formosa índia em uma estrela do céu.
Agora era tarde.
A moça ia pertencer, para sempre, às águas profundas da lagoa.
Porém, já que não era possível torná-la uma estrela do céu, como ela tanto desejara, podia transformá-la numa estrela das águas.
Uma flor que seria a rainha das flores aquáticas.
E, assim, a formosa índia foi transformada na vitória-régia.
À noite, essa maravilhosa flor que abre, permitindo que a lua a ilumine e revele sua impressionante beleza.59

59 (Esta é uma das versões da lenda da vitória-régia) Texto extraído do livro Histórias e Lendas do Brasil (adaptado do texto original de Gonçalves Ribeiro). - São Paulo: APEL Editora, sem/data.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

sábado, 4 de julho de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 59

CAPÍTULO 59

Com isso, ao terminar a narrativa, Túlio prosseguiu contando a ‘Lenda de Cobra Norato’.
Começou dizendo:
No paraná do Cachoeiri, entre o Amazonas e o Trombetas, nasceram Honorato e sua irmã Maria, Maria Caninana.
A mãe sentiu-se grávida quando se banhava no Rio Claro.
Os filhos eram gêmeos e vieram ao mundo na forma de duas serpentes escuras.
A tapuia batizou-os com os nomes cristãos de Honorato e Maria.
E sacudiu-os nas águas do Paraná porque não podiam viver em terra.
Criaram-se livremente, revirando ao sol os dorsos negros, mergulhando nas marolas e bufando de alegria selvagem.
O povo chamava-os: Cobra Norato e Maria Caninana.
Cobra Norato era forte e bom.
Nunca fez mal a ninguém.
Vez por outra vinha visitar a tapuia velha, no tejupar do Cachoeiri.
Nadava para a margem esperando a noite.
Quando apareciam as estrelas e a aracuã deixava de cantar, Honorato saía d’água, arrastando o corpo enorme pela areia que rangia.
Vinha coleando, subindo, até a barranca.
Sacudia-se todo, brilhando as escamas na luz das estrelas.
E deixava o couro monstruoso da cobra, erguendo-se um rapaz bonito todo de branco.
Ia cear e dormir no tejupar materno.
O corpo da cobra ficava estirado junto do Paraná.
Pela madrugada, antes do último cantar do galo, Honorato descia a barranca, metia-se dentro da cobra que estava imóvel.
Sacudia-se.
E a cobra, viva e feia, remergulhava nas águas do Paraná.
Voltava a ser a Cobra Norato.
A cobra, salvou muita gente de morrer afogada.
Direitou montarias e venceu peixes grandes e ferozes.
Por causa dele a piraíba do Rio Trombetas abandonou a região, depois de uma luta de três dias e três noites.
Já Maria Caninana era violenta e má.
Alagava as embarcações, matava os náufragos, atacava os mariscadores que pescavam, feria os peixes pequenos.
Nunca procurou a velha tapuia que morava no tejupar do Cachoeiri.
No porto da Cidade de Óbidos, no Pará, vivia uma serpente encantadora, dormindo, escondida na terra, com a cabeça debaixo do altar da Senhora Sant’Ana, na igreja que é da mãe de Nossa Senhora.
A cauda está no fundo do rio.
Se a serpente acordar, a Igreja cairá.
Maria Caninana então, mordeu a serpente para ver a Igreja cair.
A serpente não acordou, mas se mexeu.
A terra rachou, desde o mercado até a Matriz de Óbidos.
Aborrecido com a atitude da irmã, Cobra Norato matou Maria Caninana porque ela era violenta e má.
E ficou sozinho, nadando nos igarapés, nos rios, no silêncio dos paranás.
Quando havia putirão de farinha, dabucuri de frutas nas povoações plantadas à beira-rio, Cobra Norato desencantava, na hora em que os aracuãs deixam de cantar, e subia, todo de branco, para dançar e ver as moças, conversar com os rapazes, agradar os velhos.
Todo mundo ficava contente.
Depois, ouviam o rumor da cobra mergulhando.
Era madrugada e Cobra Norato ia cumprir seu destino.
Uma vez por ano Cobra Norato convidava um amigo para desencantá-lo.
Amigo ou amiga.
Podia ir na beira do Paraná, encontrar a cobra dormindo como morta, boca aberta, dentes finos, riscando de prata o escuro da noite: sacudir na boca aberta três pingos de leite de mulher e dar uma cutilada com ferro virgem na cabeça da cobra, estirada no areião.
A cobra fecharia a boca e a ferida daria três gotas de sangue.
E Honorato ficaria só homem, para o resto da vida.
O corpo da cobra seria queimado.
Porém, não fazia mal.
Bastava que alguém tivesse coragem.
Muita gente, com pena de Honorato, foi, com aço virgem e fresquinho leite de mulher, ver a cobra dormindo no barranco.
Era tão grande e tão feia que, mesmo dormindo como morta, assombrava.
A velha tapuia do Cachoeiri, ela mesma foi e teve medo.
Cobra Norato continuou nadando e assobiando nas águas grandes, do Amazonas ao Trombetas, indo e vindo, como um desesperado sem remissão.
Num putirão famoso, Cobra Norato nadou pelo Rio Tocantins, subiu para Cametá.
Deixou o corpo na beira do rio e foi dançar, beber e conversar.
Fez amizade com um soldado e pediu que o desencantasse.
O soldado foi, com o vidrinho de leite e um machado que não cortara pau, aço virgem.
Viu a cobra estirada, dormindo como morta.
Boca aberta.
Sacudiu três pingos de leite entre os dentes.
Desceu o machado, com vontade, no cocuruto da cabeça.
O sangue marejou.
A cobra sacudiu-se e parou.
Honorato deu um suspiro de descanso.
Veio ajudar a queimar a cobra onde vivera tantos anos.
As cinzas voaram.
Honorato ficou homem.
E morreu, anos e anos depois, na Cidade do Cametá, no Pará.
Não há nesse rio e terras do Pará quem ignore a vida da Cobra Norato.
São aventuras e batalhas.
Canoeiros, batendo a jacumã, apontam os cantos, indicando as paragens inesquecidas:
“Ali passava, todo dia, a Cobra Norato...”. 58

SIGNIFICADO:

Significado de Bufando: O mesmo que: arquejando, reclamando.

TEJUPAR
Mucambo (cabana): Mucambo ou mocambo, palhoça ou tejupar são denominações dadas a moradias construídas artesanalmente, muitas vezes de frágil constituição. ... A coberta de colmo usou-se até o século XVIII, de modo que Portugal já nos trazia a tradição do mucambo.

Significado de colear Mover o colo (serpentes). Andar, deslizar, fazendo curvas como a serpente; serpear.

58 Lendas Brasileiras / Câmara Cascudo. - Rio de Janeiro: Ediouro, 2000.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

quarta-feira, 1 de julho de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 58

CAPÍTULO 58

Após narrarem a ‘Lenda do Guaraná’, passaram a contar sobre ‘O Curupira’:
O Curupira, é um ser fantástico que, segundo a crença popular, habita as florestas e é o protetor das plantas e dos animais.
É descrito como tendo a estatura de um menino, pele escura e os pés às avessas, isto é, com os calcanhares para frente.
Suas pegadas enganam os caçadores e seringueiros, que se perdem nas florestas.
O curupira também faz as pessoas se perderem imitando gritos humanos.
Para não serem incomodados, os seringueiros e caçadores, adaptando um costume indígena, fazem oferendas de pinga e fumo.56
O Curupira é considerado por muitos, como uma espécie de gênio da floresta.
Parece-se com um menino de cabelos vermelhos, mas tem o corpo peludo, dentes verdes e os seus pés são virados: o calcanhar para a frente e os dedos para trás.
É ele quem cuida dos animais da floresta.
Dizem que esses ruídos misteriosos que vêm da mata são causados por ele.
Tolera os caçadores que caçam para comer, mas não tem pena dos caçadores maldosos, principalmente dos que matam filhotes.
Quando vê um caçador que mata por prazer, judia tanto dele, mas tanto, que o coitado, se não morre, fica louco para sempre.
Para proteger os animais, ele usa mil artimanhas, procurando iludir o caçador: gritos, assobios, gemidos.
O caçador pensa que é um animal ou uma ave e vai atrás do Curupira.
Quando percebe, está perdido na floresta.
Ao se aproximar uma tempestade, o Curupira corre toda a floresta e vai batendo nos troncos das árvores.
Assim, ele vê se elas estão fortes para agüentar a ventania.
Se percebe que alguma árvore poderá ser derrubada pelo vento, ele avisa a bicharada para não chegar perto dela.
Os índios contavam uma interessante história sobre o Curupira.
Estava o Curupira andando pela floresta, quando encontrou um índio caçador que dormia profundamente.
O Curupira estava com muita fome e cismou em comer o coração do homem.
Assim, fez com que ele acordasse.
O caçador levou um susto, mas como ele era muito controlado, fingiu que não estava com medo.
O Curupira disse-lhe:
-- Quero um pedaço de seu coração!
O Caçador, que era muito esperto, lembrando-se que havia atirado num macaco, entregou ao Curupira um pedaço do coração do macaco.
O Curupira provou, gostou e quis comer tudo.
-- Quero mais! Quero o resto! - pediu ele.
O Caçador entregou-lhe o que havia sobrado, mas, em troca, exigiu um pedaço do coração do Curupira.
-- Fiz sua vontade, não fiz? Agora você deve dar-me em pagamento um pedaço de seu coração. - disse ele.
O Curupira não era muito esperto, acreditou que o Caçador havia arrancado o próprio coração, sem ter sofrido nenhuma dor e sem haver morrido.
-- Está certo, respondeu o Curupira, empreste-me sua faca.
O Caçador entregou-lhe a faca e afastou-se o mais que pôde, temendo levar uma facada.
O Curupira, porém, estava sendo sincero.
Enterrou a faca no próprio peito e tombou, sem vida.
O Caçador não esperou mais, disparou pela floresta com tal velocidade que deixaria para trás os bichos mais velozes...
Quando chegou à aldeia, estava com a língua de fora e prometeu a si mesmo não voltar nunca mais à floresta.
Pensou:
"Desta escapei. Noutra é que não caio"
Durante um ano, o índio não quis saber de entrar na mata.
Quando lhe perguntavam por que não saía mais da aldeia, ele se desculpava, dizendo estar doente.
Mas o Caçador tinha uma filha que era muito vaidosa.
Como haveria uma festa dentro de poucos dias, ela pediu ao pai um colar diferente de todos os que ela já tinha visto.
O índio, pai dedicado, começou a pensar num modo de satisfazer o desejo da filha.
Lembrou-se, então, dos dentes verdes do Curupira.
Daria um bonito colar, sem dúvida.
Por isso, partiu para a floresta e procurou o lugar onde o gênio havia morrido.
Depois de algumas voltas, deu com o esqueleto meio encoberto pelo mato.
Os dentes verdes brilhavam ao sol, parecendo esmeraldas.
Conseguindo vencer o receio, apanhou o crânio do Curupira e começou a bater com ele no tronco de uma árvore, para que se despedaçasse e soltasse os dentes.
Imaginem a sua surpresa quando, de repente, viu o Curupira voltar à vida!
Ali estava ele, exatamente como antes, parecendo que nada havia acontecido!
Por sorte, o Curupira acreditou que o Caçador o ressuscitara de propósito e ficou todo contente:
-- Muito obrigado! Você devolveu-me a vida e não sei como agradecer-lhe!
O índio então, percebendo que estava salvo, respondeu que o Curupira não tinha nada que agradecer, mas ele insistia em demonstrar sua gratidão.
Pensou um pouco e disse:
-- Tome este arco e esta flecha. São mágicos. Basta que você olhe para a ave ou animal que deseja caçar e atire. A flecha não errará o alvo. Nunca mais lhe faltará caça. Mas, agora, ouça bem: jamais aponte para uma ave ou animal que esteja em bando, pois você seria atacado e despedaçado pelos companheiros dele. Entendeu?
O índio disse que sim e desde aquele momento não mais lhe faltou caça.
Era só atirar a flecha e zás!
O bicho caía. Tornou-se o maior caçador de sua tribo.
Por onde passava, era olhado com respeito e admiração.
Um dia, ele estava caçando com outros companheiros que não tinham mais palavras para elogiá-lo.
O índio sentiu-se tão importante que, ao ver um bando de pássaros que se aproximava, esqueceu-se da recomendação do Curupira e atirou...
Matou somente um pássaro e, como o Curupira avisara, foi atacado pelo bando enlouquecido pela perda do companheiro.
De seus amigos, não ficou um: dispararam pela floresta, deixando-o entregue à própria sorte.
O pobre índio foi estraçalhado pelos pássaros.
A cabeça estava num lugar, um braço no outro, uma perna aqui, outra longe...
O Curupira ficou com pena dele.
Arranjou cera e acendeu um fogo para derretê-la.
Depois recolheu os pedaços do Caçador e colou-os com a cera.
O índio voltou à vida, levantou-se e disse:
-- Muito obrigado! Não sei como agradecer-lhe!
-- Não tem o que agradecer. – respondeu o Curupira – Mas preste atenção. Esta foi a primeira e ú1tima vez que pude salvá-lo! Não beba, nem coma nada que esteja quente! Se o fizer, a cera se derreterá e você também!
E assim, durante muito tempo, o índio levou uma vida normal.
Ninguém sabia do acontecido.
Um dia, porém, sua mulher lhe serviu uma comida quente e apetitosa, tão apetitosa que o índio nem se lembrou que a cera poderia derreter-se.
Engoliu a comida e pronto!
Não só a cera se derreteu, mas também o próprio índio.57

56 Sociedade e Cultural - Enciclopédia Compacta Brasil - Larousse Cultural - Nova Cultural – 1995.
57 Texto extraído do livro Histórias e Lendas do Brasil (adaptado do texto original de Gonçalves Ribeiro). - São Paulo: APEL Editora, sem/data.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos

É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 57

CAPÍTULO 57

 Em seguida, passaram a contar a ‘Lenda do Guaraná’:
Há muitos anos, vivia na selva um casal de índios que era muito feliz.
Os dois eram jovens, davam-se bem e toda a tribo gostava deles.
Apenas uma coisa faltava, para que fossem completamente felizes: um filho.
Resolveram pedir esta graça a Tupã, que os premiou com um menino forte e sadio.
Toda a tribo ficou contente: agora, nada mais lhes faltava!
O tempo foi passando e a criança ficava cada vez mais forte e bonita.
Era um menino muito vivo, e tinha sempre alguma coisa com o que empregar o tempo.
Se não estava ajudando sua mãe a fazer algum serviço, ia com o pai à caça ou à pesca, embora não gostasse de matar nenhum bicho.
Quando não tinha mesmo nada que fazer, visitava os outros índios, com os quais sempre aprendia alguma coisa, pois era muito inteligente e curioso.
Por ter um coração cheio de bondade, era admirado por todos.
Seus pais eram o casal mais feliz daquela tribo.
Ninguém possuía um filho assim.
Pouco a pouco, o menino foi conhecendo a vida e os segredos da floresta, onde ia sempre acompanhado.
Mas havia uma coisa que o deixava muito intrigado.
Era Jurupari, o espírito do mal.
Tinha ouvido alguns dos mais velhos falarem rapidamente sobre este demônio.
Todas as vezes, porém, que o menino pedia que lhe contassem quem era e o que fazia Jurupari, eles nada diziam.
Achavam que ele era muito novo para estas revelações.
E, assim, este ficou sendo o único segredo que o menino desconhecia.
Tanto correu a boa fama do menino, que chegou aos ouvidos de Jurupari.
E, a partir daquele momento, ele começou a observar cuidadosamente a criança.
Como Jurupari podia ficar invisível, ninguém percebia que ele andava por perto.
Quanto mais o malvado observava o menino, mais raivoso ficava.
Morria de inveja.
Não podia suportar que alguém fosse tão inteligente e bondoso.
Foi embora para a selva, tremendo de ódio e pensando:
"Preciso vingar-me daquele menino. Não pode existir uma pessoa tão perfeita! É um desaforo!"
O tempo foi passando e Jurupari não encontrava um modo de prejudicar o menino.
Uma vez, na mata, quando estava observando a criança, notou que ela era procurada pelas aves e pelos animais e ficava no meio deles, conversando com um, acariciando a cabeça de outro... Jurupari ficou tão furioso, que assustou a todos.
As aves saíram voando, os animais corriam como loucos e o pequeno, sem compreender o que havia acontecido, foi embora muito triste, pensando que os bichos não gostavam mais dele.
Como o menino gostava muito de frutas, procurava sempre ficar perto das árvores, escolhendo e comendo os frutos maduros.
Ao descobrir este seu costume, Jurupari teve uma idéia:
--Vou transformar-me em cobra! Quando menos esperar, será picado e não terá salvação!
Jurupari ficou então, esperando nova oportunidade.
Poucos dias depois, a criança apareceu outra vez.
Os frutos estavam luminosos e o menino correu para a árvore.
O demônio transformou-se numa cobra e foi para perto do menino.
Ele notou a presença da serpente, mas como não tinha medo de cobras, pois conhecia todos os seus costumes, continuou a comer calmamente.
Ignorava que Jurupari podia transformar-se no que desejava.
Ah! se os mais velhos lhe houvessem contado...
Jurupari tomou a cor da árvore e enrolou-se nela.
O menino estava descendo, distraído, quando foi atacado pela serpente.
Quando o encontraram, caído, os olhos virados, as frutas jogadas no chão, foi uma tristeza sem tamanho.
Todos choravam, inconformados.
Seus pais gritavam tão alto que estremeciam as nuvens...
-- Foi picada de cobra, vejam! - mostrou um índio.
-- Não é possível! - exclamou o pai. -- Ele sabia lidar com as serpentes.
Um dos índios mais velhos, que até ali não dissera uma palavra, falou:
-- Foi Jurupari. Era o único segredo da selva que o menino não conhecia.
E ninguém parava de chorar.
De repente, o ruído de um trovão cobriu todos os outros sons.
Os índios ficaram assustados, pois o céu não apresentava nenhuma nuvem.
Somente a mãe do menino compreendeu a mensagem:
-- É a voz de Tupã. Ele quer dar-nos uma compensação. Deseja que plantemos os olhos do meu filho. Diz que deles brotará uma planta milagrosa, cujos frutos nos farão felizes!
Os índios atenderam e enterraram os olhos do menino.
E deles nasceu o guaraná. Guará, na língua dos índios, significa "o que tem vida, gente", e ná, "igual, semelhante".
Assim, traduzido, guaraná quer dizer: bagos iguais a olhos de gente.55

55 Guaraná Texto extraído do livro Histórias e Lendas do Brasil (adaptado do texto original de Gonçalves Ribeiro). - São Paulo: APEL Editora, sem/data. Grande Enciclopédia Larousse Cultural -São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda, 1988: (Paulinia cupana) – do tupi wara’ná. Arbusto trepador que tem propriedades excitantes, pelo conteúdo de cafeína e teobromina. 

As sementes maduras do guaraná, depois de torradas e moídas, formam uma massa plásticas macia e homogênea de cor cinzenta, que, depois da defumação para secagem, muda para vermelho-escura, às vezes quase roxa, escurecendo com o tempo, devido à oxidação.
É na fase de massa moldável que se preparam os “pães”, de formas cilíndricas, elípticas ou ovais, que, depois de adquirirem consistência extremamente dura e inalterável, são oferecidos no comércio. O “pão” de guaraná é constituído por massa duríssima e, para ser consumido, precisa ser desbastado com lima de aço ou, como o fazem as populações rurais da Amazônia, limado com o osso hióide (erradamente chamado de língua) do Pirarucu. 
Como refrigerante, o nome guaraná é reservado à bebida não alcoólica, gasosa, que contenha no mínimo 1% de extrato de guaraná (produto resultante do esmagamento da semente de guaraná torrada), mais açúcar, acidulantes (como o ácido cítrico) e substâncias aromáticas. 
Muito difundido no Brasil, o guaraná é também exportado; tem ação refrigerante e tônica, sendo rico em cafeína. 
No folclore, Guaraná de figuras, são enfeites fabricados com sementes de guaraná descartadas como inaproveitáveis para a alimentação, com as quais se faz a massa plástica e que se defuma para endurecer. 
Verdadeiros artistas modelam objetos (bandejas, cálices, canetas), frutas (biribás, ananás, mungubas) e animais (antas, quatis, jacarés, macacos, tatus), que são comercializados como curiosidades ou lembranças de viagem pela Amazônia. 
Os índios Maués preparam uma massa comestível com as sementes desse arbusto.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 56

CAPÍTULO 56

Em seguida, os pescadores passaram a contar a ‘Lenda da Sapucaia-Roca’.
Primeiramente, os pescadores tiveram o cuidado de explicar que Sapucaia-Roca é uma pequena povoação à margem do Rio Madeira.
Pouco abaixo do lugar em que acha assentada, referem os índios que existiu outrora uma outra povoação, muito maior do que esta, e que um dia desapareceu da superfície da terra, sepultando-se nas profundidades do rio.
É que os Muras, que então a habitavam, levavam a vida desordenada e má, e nas festas, que em honra de Tupana celebravam, entregavam-se a danças tão lascivas e cantavam cantigas tão impuras, que faziam chorar de dor aos angaturamas, que eram os espíritos protetores, que por eles velavam.
Por vezes os velhos e inspirados pajés, sabedores dos segredos de Tupana, haviam advertido de que tremendo castigo os ameaçava, se não rompessem com a prática de tão criminosas abominações.
Mas cegos e surdos, os Muras não os viam, nem os ouviam.
E pois um dia, em meio das festas e das danças e quando mais quente fervia a orgia, tremeu de súbito a terra e na voragem das águas, que se erguiam, desapareceu a povoação.
As altas barrancas que ainda hoje ali se vêem, atestam a profundidade do abismo em que foi arrojada a povoação e os réprobos...
Depois, muitos anos depois, foi que começou a surgir a atual povoação, que ainda não pôde atingir ao grau de esplendor da que fora submergida.
Foram de novo habitá-la os Muras.
Mas em breve, por entre a escuridão da noite começaram a ouvir, transidos de medo, como o cantar sonoro de galos, que incessante se erguia do fundo das águas.
Consultando os pajés, que perscrutavam os segredos do destino, declaram estes que aquele cantar de galos, ouvido em horas mortas da noite, provinha daqueles mesmos angaturamas, que deploraram outrora a misérrima sorte da povoação submergida e que, sempre protetores dos filhos dos Muras, serviam-se do canto despertador dos galos da Sapucaia-Roca submergida, para recordarem o tremendo castigo por que passaram seus maiores e desviarem a nova geração do perigo de sorte igual. É este o fato que deu origem ao nome da povoação: Sapucaia-Roca.54

54 Lendas Brasileiras / Câmara Cascudo. - Rio de Janeiro: Ediouro, 2000.

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Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 55

CAPÍTULO 55 

Depois de contar a referida lenda, passaram a contar a ‘Lenda da Vitória-Régia’.
A história começa assim:
A índia Moroti atirou sua pulseira ao rio para mostrar às amigas que sua grande paixão, o guerreiro Pitá, a traria de volta como prova de amor.
O guerreiro caiu no capricho da moça, mergulhou e não voltou.
Meio arrependida, meio desesperada, a índia mergulhou atrás do guerreiro amado.
Adeus romance.
No dia seguinte, a tristeza viu brotar uma flor gigante.
Sua parte central, branca, foi associada a Moroti.
As pétalas avermelhadas, ao redor, seriam o bravo Pitá.
Assim, atesta a lenda, a maior flor do mundo surgiu de uma história de amor.
Séculos depois, o inglês Richard Schomburgk, que não era sapo nem príncipe, mas um botânico esperto, aproveitou a beleza e o gigantismo daquela flor, para fazer média com sua rainha.
Nem Moroti nem Pitá.
A maior flor do mundo, que vive em águas amazônicas, ficou conhecida internacionalmente por vitória-régia, em homenagem à rainha da Inglaterra.

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Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 54

CAPÍTULO 54 

Ao falar da ‘Onça-Maneta’, começaram:
É um animal fabuloso, caracterizado pelo rastro.
Trata-se de uma onça que perdeu uma das patas dianteiras.
Mesmo assim, é um animal de espantosa ferocidade, força incrível e mais ágil, mais afoita, mais esfomeada que outra qualquer de sua espécie.
Aparece inopinadamente, atacando sempre rebanhos, caçadores, viajantes, num arranco desesperado e brutal, como se não comesse há muitos meses.
Naturalmente a origem foi uma onça, que, ferida numa pata ou tendo-a decepada em luta, conseguiu fugir dos caçadores e da matilha de cães e, por algum tempo, ferida e doida de raiva, guerreara fazenda e roceiros, numa despedida heróica.53

53 Veiga Miranda citou-a em São Paulo (Mau-Olhado, 132, São Paulo, 1925). Maior Registro em “Folclore Nacional”, 18-19, sep. de Revista do Arquivo Municipal, CXIX, São Paulo, 1948.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.