Poesias

quarta-feira, 1 de julho de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 56

CAPÍTULO 56

Em seguida, os pescadores passaram a contar a ‘Lenda da Sapucaia-Roca’.
Primeiramente, os pescadores tiveram o cuidado de explicar que Sapucaia-Roca é uma pequena povoação à margem do Rio Madeira.
Pouco abaixo do lugar em que acha assentada, referem os índios que existiu outrora uma outra povoação, muito maior do que esta, e que um dia desapareceu da superfície da terra, sepultando-se nas profundidades do rio.
É que os Muras, que então a habitavam, levavam a vida desordenada e má, e nas festas, que em honra de Tupana celebravam, entregavam-se a danças tão lascivas e cantavam cantigas tão impuras, que faziam chorar de dor aos angaturamas, que eram os espíritos protetores, que por eles velavam.
Por vezes os velhos e inspirados pajés, sabedores dos segredos de Tupana, haviam advertido de que tremendo castigo os ameaçava, se não rompessem com a prática de tão criminosas abominações.
Mas cegos e surdos, os Muras não os viam, nem os ouviam.
E pois um dia, em meio das festas e das danças e quando mais quente fervia a orgia, tremeu de súbito a terra e na voragem das águas, que se erguiam, desapareceu a povoação.
As altas barrancas que ainda hoje ali se vêem, atestam a profundidade do abismo em que foi arrojada a povoação e os réprobos...
Depois, muitos anos depois, foi que começou a surgir a atual povoação, que ainda não pôde atingir ao grau de esplendor da que fora submergida.
Foram de novo habitá-la os Muras.
Mas em breve, por entre a escuridão da noite começaram a ouvir, transidos de medo, como o cantar sonoro de galos, que incessante se erguia do fundo das águas.
Consultando os pajés, que perscrutavam os segredos do destino, declaram estes que aquele cantar de galos, ouvido em horas mortas da noite, provinha daqueles mesmos angaturamas, que deploraram outrora a misérrima sorte da povoação submergida e que, sempre protetores dos filhos dos Muras, serviam-se do canto despertador dos galos da Sapucaia-Roca submergida, para recordarem o tremendo castigo por que passaram seus maiores e desviarem a nova geração do perigo de sorte igual. É este o fato que deu origem ao nome da povoação: Sapucaia-Roca.54

54 Lendas Brasileiras / Câmara Cascudo. - Rio de Janeiro: Ediouro, 2000.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 55

CAPÍTULO 55 

Depois de contar a referida lenda, passaram a contar a ‘Lenda da Vitória-Régia’.
A história começa assim:
A índia Moroti atirou sua pulseira ao rio para mostrar às amigas que sua grande paixão, o guerreiro Pitá, a traria de volta como prova de amor.
O guerreiro caiu no capricho da moça, mergulhou e não voltou.
Meio arrependida, meio desesperada, a índia mergulhou atrás do guerreiro amado.
Adeus romance.
No dia seguinte, a tristeza viu brotar uma flor gigante.
Sua parte central, branca, foi associada a Moroti.
As pétalas avermelhadas, ao redor, seriam o bravo Pitá.
Assim, atesta a lenda, a maior flor do mundo surgiu de uma história de amor.
Séculos depois, o inglês Richard Schomburgk, que não era sapo nem príncipe, mas um botânico esperto, aproveitou a beleza e o gigantismo daquela flor, para fazer média com sua rainha.
Nem Moroti nem Pitá.
A maior flor do mundo, que vive em águas amazônicas, ficou conhecida internacionalmente por vitória-régia, em homenagem à rainha da Inglaterra.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 54

CAPÍTULO 54 

Ao falar da ‘Onça-Maneta’, começaram:
É um animal fabuloso, caracterizado pelo rastro.
Trata-se de uma onça que perdeu uma das patas dianteiras.
Mesmo assim, é um animal de espantosa ferocidade, força incrível e mais ágil, mais afoita, mais esfomeada que outra qualquer de sua espécie.
Aparece inopinadamente, atacando sempre rebanhos, caçadores, viajantes, num arranco desesperado e brutal, como se não comesse há muitos meses.
Naturalmente a origem foi uma onça, que, ferida numa pata ou tendo-a decepada em luta, conseguiu fugir dos caçadores e da matilha de cães e, por algum tempo, ferida e doida de raiva, guerreara fazenda e roceiros, numa despedida heróica.53

53 Veiga Miranda citou-a em São Paulo (Mau-Olhado, 132, São Paulo, 1925). Maior Registro em “Folclore Nacional”, 18-19, sep. de Revista do Arquivo Municipal, CXIX, São Paulo, 1948.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 53

CAPÍTULO 53 

Com isso, animados, os pescadores prosseguiram em suas narrativas.
Lisongeados com o interesse dos turistas em conhecer suas lendas, os moradores da pequena Vila de Itamaracá, faziam questão de lhes contar tudo o que sabiam sobre o lugar.
E assim prosseguiram contando a lenda do ‘Anhangá’.
De acordo com Túlio, Anhangá, significa espectro, fantasma, duende, visagem.
Há Miranhanga, Tatu-anhanga, Suaçu-anhanga, Tapira-anhanga, isto é, visagem de gente, de tatu, de veado e de boi.
Em qualquer caso e qualquer que seja, visto, ouvido ou pressentido, o anhanga traz para aquele que o vê, ouve ou pressente, certo prenúncio de desgraça, e os lugares que se conhecem como freqüentados por ele são mal-assombrados.
Há também Pirarucu-anhanga, Iurará-anhanga, etc., isto é, duendes de pirarucu e tartaruga, que são o desespero dos pescadores, como os de caça o são do caçador. 52
Segundo o pescador, há muito tempo atrás, os antigos índios que habitavam a região temiam o Anhangá, por considerá-lo um mal espírito.
Isso por que, de acordo com antigas lendas, alguns índios, ao desobedecerem as ordens de Tupã, atraíram para si o mal espírito, que passou a persegui-los pelo resto de suas vidas.
De acordo com alguns pescadores, ainda se podia ver os índios percorrendo as matas, atormentados, tentando debalde, se livrarem da presença do Anhangá que tanto os aterrorizava.
Felipe ao ouvir a narrativa, comentou com os pescadores que a esta narrativa era conhecida deles, por que nos livros de história, se falava muito nos índios.
Os pescadores, ao ouvirem o comentário do viajante, ficaram impressionados.
Isso por que, o folclore da região ultrapassou fronteiras.
Tal fato os deixou profundamente envaidecidos.
-- Quer dizer então que estamos famosos? – perguntou um dos pescadores.
-- Sim. – respondeu Felipe.
Assim envaidecidos, continuaram a contar histórias.

52 (Stradelli, Vocabulário). Outras definições poderão ser encontradas no Dicionário do Folclore Brasileiro de Câmara Cascudo. 
É um dos mitos mais antigos do Brasil colonial, registrados pelos cronistas da época. 
Os padres Manuel da Nóbrega, José de Anchieta, Fernão Cardim, disseram-no um ente malfazejo. Jean de Lery chamou-o aygnhan. Hans Staden, 1557, diz que os indígenas “não gostam de sair das cabanas sem luz, tanto medo tem do diabo, a quem chamam ingange, o qual freqüentemente lhes aparece.” 

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.


COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 52

CAPÍTULO 52

Com isso, o pescador passou a contar a lenda do ‘Gunucô’.
Segundo ele Gunucê, é a divindade das florestas, e quer dizer fantasma.
Só aparece ou se manifesta uma vez por ano, salvo invocação para consulta prévia.
Em suas manifestações, num bamburral, aumentando e diminuindo de tamanho, ele só aparece aos homens que o recebe com trajos especiais.
Dá consultas, prevê os males e ordena observação de preceitos contra o que está para acontecer.
É santo pertencente à tribo dos tapas, e o nagô dá-lhe o nome de Ourixá-ô-cô. 51
Nas palavras de alguns dos pescadores, esta entidade era conhecida de Túlio, mas este, aborrecido com o comentário, mandou que o pescador se calasse.

51 Manuel Querino, Costumes Africanos no Brasil, 49).

DICIONÁRIO:
bamburral - substantivo masculinoBRASILEIRISMO•BRASIL 1. m.q. BAMBUAL.
2. ANGIOSPERMAS
subarbusto ( Hyptis umbrosa ) da fam. das labiadas, de folhas elípticas, ovadas ou cordiformes, flores roxas em espigas e fruto capsular pequeno [Ocorre no Brasil (N.E. ao S.E.), e as folhas têm vários usos medicinais.].

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Luciana Celestino dos Santos
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terça-feira, 23 de junho de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 51

CAPÍTULO 51 

Assim, ao falarem da ‘Gorjala’, Túlio salientou:
-- É um gigante preto e feio, que habita as serras penhascosas. A sua ferocidade é imensa. E feroz anda com as suas passadas imensas pelas ravinas, escarpas e grotões.
-- Quando encontra um indivíduo qualquer, mete-o debaixo do braço e vai comendo-o às dentadas! – emendou um dos pescadores. – Eu falo isso por que um dos meus companheiros de pescarias já viu esse monstro em ação. Escapou por um triz.
-- Outrora, muita vez, quando um explorador desaparecia nos lugares ínvios, desconhecidos, por ter tombado num despenhadeiro profundo ou por ter sido devorado por índios, os seus companheiros afirmavam que o Polifemo Gorjala o devorara às dentadas... Alguns seringueiros conhecem o Gorjala sob a forma do gigante batalhador, encouraçado de casco de tartaruga, chamado Mapinguari. – respondeu Túlio, encerrando a narrativa. 

DICIONÁRIO:
Ínvio - adjetivo 1. falto de vias, de caminhos. "í. florestas"
2. em que não se pode transitar; intransitável.

Polifemo, na mitologia grega, era um ciclope, filho de Posídon e da ninfa Teosa, vivia uma existência solitária em uma caverna próxima à Sicília (junto ao Etna), cuidando de ovelhas.

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Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 50

CAPÍTULO 50 

No entanto, houve um momento em que o assunto retornou para a lenda do Boto.
Felipe ficara impressionado com a história que lhe contaram.
Curioso, queria saber mais sobre a lenda do Boto.
Foi então que seu Túlio começou a dizer que muitas vezes, ocorreram casos de gravidez suspeita no povoado.
Diversas vezes, as moças alegaram terem sido seduzidas pelo Boto.
Em alguns dos casos, uma das moças estava adormecida quando o Boto adentrou seu quarto, pulando pela janela.
Ao ouvir isso, Felipe perguntou:
-- E o que vocês fizeram, ao saber disso?
-- Procuramos algumas benzedeiras e um pajé, que mora numa aldeia indígena, afastada.
-- E isso resolveu o problema? – perguntou novamente Felipe, curioso.
-- Resolveu. Essa história aconteceu, numa época em que o Boto estava assediando muito, as mulheres jovens da vila. Certa vez, o bicho teve o desplante de ameaçar virar a embarcação em que estavam algumas moças, entre elas, uma mulher grávida. Por isso, tivemos o cuidado de procurar proteção para ver se nos livramos de tal criatura. Realmente, nossos jovens estiveram em grande perigo. Isso por que, nem só as mulheres são alvo do Boto, os homens também. Quando algum rapaz se interessa por uma moça que poderia ser a presa do monstro, ele pode vir a atacar para se vingar do desfeito. 
-- E quanto isso acontece, como os senhores fazem? – perguntou Fábio. 
-- Nós recomendamos ao rapaz que quando sair sozinho, seja para uma pescaria, ou qualquer outra coisa, que leve uma cabeça de alho como proteção. Isso afasta qualquer possibilidade de ataque. 
-- Curioso. Isso me faz lembrar dos vampiros. Tem uma certa semelhança. – comentou Agemiro. 
Ao ouvirem isso, os tapuios se interessaram pela história dos tais vampiros. 
Queriam saber o que havia de semelhante. 
E assim, os turistas tiveram que explicar que os vampiros também são repelidos com alho. 
Daí a semelhança entre as histórias. 
E nisso passaram-se as horas da animada noite. 
Em suas conversas com os moradores da vila, os turistas mencionaram que continuariam viajando por mais alguns meses. 
Comentaram ainda, que Felipe era um mitólogo, ou mitologista. 
Ao ouvirem isso, os moradores ficaram curiosos. 
Do que se tratava? 
Com isso, diante de tantas curiosidades, os turistas tiveram que explicar, que um mitólogo era um estudioso das tradições folclóricas, em especial da cultura popular brasileira. 
Enfim, das crendices do povo daqui. 
Disseram ainda, que Fábio era um botânico. 
Um estudioso da flora, das plantas. 
Agemiro era um biólogo, ou seja, um estudioso da vida, das formas de vida, dos seres vivos, e que por isso, vivia constantemente viajando e pesquisando os bichos. 
Já no que tange a Lúcio e Flávio, os dois eram, respectivamente, historiador e o outro químico.
Contudo, apesar de suas profissões, não estavam a trabalho. 
Mas dedicados que eram, não achariam nada mal descobrir algo que lhes ajudassem em suas respectivas carreiras. 
E assim, aproveitaram a viagem e o passeio, para documentarem tudo o que acontecia. 
E também, aproveitaram, para conquistar a confiança dos moradores do lugarejo, e conseguir que contassem suas histórias. 
Por esta razão, ao perceberem que os forasteiros estavam interessados em suas histórias, passaram a contar outras lendas.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
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