Entre 1708 e 1709, ocorreu a Guerra dos Emboabas, entre mineradores paulistas e
comerciantes portugueses e brasileiros de outras regiões, chamados de Emboabas (do tupi
buaba, aves com penas até penas até os pés, em referência aos forasteiros).
Os paulistas,
descobridores de ouro em Minas Gerais, alegavam ter preferência sobre a extração.
Para
garantir à mineração, os portugueses atacaram Sabará sob o comando de Manuel Nunes
Viana e conseguiram a rendição dos paulistas.
Em 1709, o chefe emboaba Bento do Amaral
Coutinho desrespeitou o acordo de rendição e matou dezenas de paulistas no local, e ficou
conhecido como Capitão da Traição.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Poesias
sábado, 7 de março de 2020
Os Bandeirantes
Em 1695, as primeiras descobertas de ouro na região próxima da cidade de Sabará
(Minas Gerais) foram tradicionalmente associadas ao bandeirante Borba Gato.
Formadas por brancos pobres, mamelucos, agregados e familiares em torno de um líder, as bandeiras buscavam minas de ouro e pedras preciosas e capturavam índios recolhidos em missões jesuítas. Partindo de São Vicente ou São Paulo, atingiam o Sul, Centro-Oeste e a região das Minas Gerais. Com isso, contribuíram para a expansão territorial do Brasil.
Outro tipo de incursão que também ajudou a desbravar o interior, foram as entradas, missões que saíam do Nordeste em direção à Amazônia e ao Centro-Oeste para mapear o território e combater índios hostis.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Formadas por brancos pobres, mamelucos, agregados e familiares em torno de um líder, as bandeiras buscavam minas de ouro e pedras preciosas e capturavam índios recolhidos em missões jesuítas. Partindo de São Vicente ou São Paulo, atingiam o Sul, Centro-Oeste e a região das Minas Gerais. Com isso, contribuíram para a expansão territorial do Brasil.
Outro tipo de incursão que também ajudou a desbravar o interior, foram as entradas, missões que saíam do Nordeste em direção à Amazônia e ao Centro-Oeste para mapear o território e combater índios hostis.
Luciana Celestino dos Santos
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Quilombo de Palmares
Nos idos de 1694, após resitir aos contantes ataques – entre os anos de 1687 a 1694
–, o Quilombo de Palmares foi destruído em fevereiro por tropas do bandeirante paulista
Domingos Jorge Velho.
Palmares foi o mais importante ajuntamento de quilombos do período colonial e durou quase um século.
Sua população teria alcançado um número estimado entre 6 mil e 20 mil pessoas, distribuídas numa área de 150 quilômetros de comprimento e 50 quilômetros de largura, localizada entre Pernambuco e Alagoas.
Seu último líder, Zumbi, sobreviveu à destruíção do quilombo, mas morreu no ano seguinte.
Por conta de seu valor, tornou-se o principal símbolo da resistência negra à escravidão.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Palmares foi o mais importante ajuntamento de quilombos do período colonial e durou quase um século.
Sua população teria alcançado um número estimado entre 6 mil e 20 mil pessoas, distribuídas numa área de 150 quilômetros de comprimento e 50 quilômetros de largura, localizada entre Pernambuco e Alagoas.
Seu último líder, Zumbi, sobreviveu à destruíção do quilombo, mas morreu no ano seguinte.
Por conta de seu valor, tornou-se o principal símbolo da resistência negra à escravidão.
Luciana Celestino dos Santos
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Revolta dos Beckman
À seguir, em 1684, proprietários rurais, liderados pelos irmãos Manuel e Tomás
Beckman, revoltaram-se contra a Companhia de Comércio do Maranhão, que não cumpriu
com seu objetivo de fornecer escravos, utensílios e equipamentos.
Também eram contrários às posições dos jesuítas, que impediam a escravização indígena.
Em razão disso, promoveram a“Revolta dos Beckman”.
A metrópole ao tomar conhecimento do levante, interveio.
Manuel Beckman foi executado junto com Jorge Sampaio, outro participante da revolta, e os demais líderes foram condenados à prisão perpétua.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Também eram contrários às posições dos jesuítas, que impediam a escravização indígena.
Em razão disso, promoveram a“Revolta dos Beckman”.
A metrópole ao tomar conhecimento do levante, interveio.
Manuel Beckman foi executado junto com Jorge Sampaio, outro participante da revolta, e os demais líderes foram condenados à prisão perpétua.
Luciana Celestino dos Santos
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Companhia de Comércio do Maranhão
No ano de 1654, em troca do apoio recebido na guerra contra a Espanha, Portugal
promoveu a abertura de mercado aos ingleses.
No Brasil ficaram excluídos apenas os produtos sob monopólio da Coroa: pau-brasil, bacalhau, farinha de trigo, vinho e azeite.
Em 1682, Portugal fundou a Companhia de Comércio do Maranhão, que estimulou a agricultura de cana-de-açúcar e de algodão por meio de fornecimento de crédito, transporte e escravos.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
No Brasil ficaram excluídos apenas os produtos sob monopólio da Coroa: pau-brasil, bacalhau, farinha de trigo, vinho e azeite.
Em 1682, Portugal fundou a Companhia de Comércio do Maranhão, que estimulou a agricultura de cana-de-açúcar e de algodão por meio de fornecimento de crédito, transporte e escravos.
Luciana Celestino dos Santos
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Insurreição Pernambucana
Em 1645 após volta de Maurício de Nassau à Holanda, os proprietários de terras de
Pernambuco passaram a ter mais dificuldade de conseguir crédito na Companhia Holandesa
das Índias Ocidentais.
Em razão disso, os latifundiários deram início à propalada insurreição, visavando expulsar os holandeses da região.
Assim iniciou-se a Insurreição Pernambucana.
No começo, Portugal não deu nenhum auxílio, interessado que estava em garantir o apoio da Holanda para enfrentar a Espanha na luta pelo fim da União Ibérica.
Com isso, entre 1648 e 1649, forças militares do Maranhão e do governo geral da Bahia derrotaram os holandeses, na Batalha dos Guararapes.
Mas a insurreição só acabou quandos os holandeses enfraquecidos por uma guerra contra a Inglaterra (1652), se retiraram da região em 1654.
Com isso, a soberania portuguesa sobre a Vila do Recife foi reconhecida pela Holanda no Tratado de Paz de Haia, de 1661.
Para isso Portugal pagou aos holandeses uma grande indenização para que desistissem das terras coloniais.
Em 1649, Portugal criou a Companhia Geral de Comércio do Brasil para auxiliar a resistência pernambucana às invasões holandesas e facilitar a recuperação da agricultura canavieira do Nordeste depois dos conflitos.
Sua principal atribuição era fornecer escravos e garantir o transporte do açúcar para a Europa.
Luciana Celestino dos Santos
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Em razão disso, os latifundiários deram início à propalada insurreição, visavando expulsar os holandeses da região.
Assim iniciou-se a Insurreição Pernambucana.
No começo, Portugal não deu nenhum auxílio, interessado que estava em garantir o apoio da Holanda para enfrentar a Espanha na luta pelo fim da União Ibérica.
Com isso, entre 1648 e 1649, forças militares do Maranhão e do governo geral da Bahia derrotaram os holandeses, na Batalha dos Guararapes.
Mas a insurreição só acabou quandos os holandeses enfraquecidos por uma guerra contra a Inglaterra (1652), se retiraram da região em 1654.
Com isso, a soberania portuguesa sobre a Vila do Recife foi reconhecida pela Holanda no Tratado de Paz de Haia, de 1661.
Para isso Portugal pagou aos holandeses uma grande indenização para que desistissem das terras coloniais.
Em 1649, Portugal criou a Companhia Geral de Comércio do Brasil para auxiliar a resistência pernambucana às invasões holandesas e facilitar a recuperação da agricultura canavieira do Nordeste depois dos conflitos.
Sua principal atribuição era fornecer escravos e garantir o transporte do açúcar para a Europa.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
...E A CHUVA QUE CAÍ - CAPÍTULO 2 - VERSÃO OFICIAL
E assim, apesar do pouco tempo que tiveram para estudar, puderam se aprimorar um
pouco, como pessoas.
Durante o tempo do ensino primário, caminharam por longas horas por um caminho de terra, até chegarem a escola.
Lá aprenderam os princípios básicos de muitos ramos do saber.
Augusto era o mais aplicado dos filhos de Orlando.
Disciplinado e estudioso, era o orgulho da professora, que sempre elogiava seu desempenho em classe, e suas boas notas.
E, apesar de dedicado, possuía a mania de decorar os textos da aula.
Por isso, sempre que a mestra lhe tomava a lição, Augusto sempre a conhecia nos mínimos detalhes.
Mas isso não era bom.
Não o era por que, embora soubesse os textos de cor e salteado, passados alguns dias, nem se lembrava mais do que aprendera.
E era aí que residia sua falha.
No mais, era muito inteligente e disciplinado.
Quando um assunto o interessava, era capaz de ficar horas a fio lendo sobre o mesmo.
Só não pesquisava mais, por que não tinha livros suficientes para tanto.
Mas o seu companheiro de horas livres, o Almanaque, estava sempre por perto.
Por essas e por outras que Augusto era considerado o mais inteligente da família.
No entanto, dadas as parcas condições financeiras da família, o garoto não pôde ir mais longe com os estudos.
Mas não foi somente ele, todos os seus irmãos, pararam de estudar na quarta série do primário.
Muito embora pudessem aprender muito mais, foi o que seus pais puderam lhes oferecer.
O que com toda certeza, mudou ao menos um pouco, a vida de cada um deles.
Isso por que, se quisessem prosseguir com os estudos, deveriam fazer como os filhos dos fazendeiros da região.
Deveriam estudar em um colégio interno.
Mas Orlando não tinha dinheiro para mandar os filhos estudarem na Capital.
Assim, só restou a eles, completarem os estudos primários e ajudarem o pai, no trabalho na lavoura.
Naquela época em que estudar era privilégio de poucos, e até que Augusto, Otávio, Carlota e seus irmãos conseguiram ir bastante longe.
Ao menos sabiam ler, escrever e fazer algumas contas.
Estavam muito melhores que seus pais, que mal sabiam assinar o próprio nome.
E Orlando ficava feliz por isso, pois ao menos seus filhos poderiam se virar.
Pelo menos, serviu como incentivo, para que pudessem avançar nos estudos futuramente.
Isso sem nem ao menos fazerem idéia, de que suas vidas mudariam tanto, em tão pouco tempo.
Porém, não é isso que realmente interessa no momento.
O que interessa é que depois de terminarem o primário, os meninos passaram a trabalhar o dia inteiro na lavoura.
Nisso Orlando que era um pouco folgazão, aproveitava para descansar um pouco.
Sob a desculpa de que estava supervisionando o trabalho dos filhos, freqüentemente aproveitava para cochilar e descansar um pouco.
Trabalhar que era bom, só trabalhava o necessário.
O serviço mais pesado, eram seus filhos que faziam.
Certa vez, tentando criar uma nova forma de plantar café, Augusto sugeriu que cada um fizesse uma parte do trabalho.
Orlando no entanto, achava que era muito melhor todo mundo fazer tudo.
Isso por que, assim agindo, todos conheceriam por completo, o processo de cultivo das mudas de café.
Augusto no entanto, argumentava que se alguém cavasse a terra, o outro plantasse as mudas, em seguida um outro viesse e fechasse o local onde a muda foi plantada, e outro viesse regá-las, o processo seria mais rápido.
Mas Orlando insistia em dizer que não.
Nada seria separado.
E assim, dada a última palavra, só restava aos filhos seguirem suas recomendações.
Mesmo aborrecido, Augusto fez exatamente o que Orlando mandou fazer.
E assim, ao final de alguns dias, finalmente estava encerrado o trabalho.
Foi nesta época que começaram os festejos em homenagem a São Pedro, Santo Antônio e São João – as festas juninas.
Nestas festas, as bandeirolas enfeitavam os campos, e mastros eram erguidos com bandeiras e imagens dos santos.
Além disso, uma profusão de fogos e de comida, coroavam a noite.
Nessa época, algumas famílias, aproveitando-se de suas criações de aves, aproveitavam para abater algumas e vender nas feiras da festa.
Marisa, aproveitando que havia algumas galinhas bem gordas no galinheiro, decidiu abater algumas e prepará-las para a festa.
Assim o fez.
Depois que ficaram prontas, pareciam muito apetitosas.
Tanto que seus filhos pediram insistentes vezes para que ela deixasse uma para que eles comessem.
Mas Marisa respondeu que aquelas aves eram para festa.
Ao ouvirem isso, todos ficaram desapontados.
Enfim, teriam que esperar pela festa.
Se alguma das aves não fosse vendida, aí sim, poderiam saborear a deliciosa iguaria preparada por sua mãe.
Dito e feito.
Durante a festa, apesar do sucesso das aves de Dona Marisa, a mesma fez questão de guardar uma das galinhas para os filhos.
Mas estes, não satisfeitos, depois que cearam junto com os demais convidados da festa e apreciaram uma belíssima queima de fogos, resolveram limpar as mesas, recolhendo as sobras de comida. Queriam levar tudo para casa e comer mais tarde.
Ao ver isso, Marisa ficou enfurecida.
Iria lhes dar uma surra.
Mas os garotos foram mais espertos e se esconderam.
Apesar de saberem que por isso mesmo, apanhariam muito mais, decidiram aproveitar melhor os comes e bebes.
Depois apareceriam, e até apanhariam com gosto, dado o tanto que já haviam se divertido.
E assim foi.
Os garotos levaram uma tremenda surra pelo mal feito.
Não bastasse isso, a bronca foi ainda pior.
Marisa chegou a falar:
-- Onde já se viu? Isso são modos? Nem parecem meus filhos. Parecem mais um bando de selvagens. Nunca passei tanta vergonha na vida.
Ao ouvirem os lamentos da mãe, os garotos se desculparam, mas mesmo assim, por um longo tempo, Marisa ficou brava com eles.
Mesmo assim, não se arrependeram nem um pouco do que fizeram.
E apesar da galinha que Marisa serviu estar ótima, os mesmos não se cansavam de se lembrar do porquinho assado de Adélia, e dos sucos de laranja de Seu Osíres.
A festa estava realmente muito boa.
Tão boa que sempre que vizinhança se encontrava, os mesmos não se cansavam de comentar sobre a comemoração.
E assim, a festa foi assunto por semanas na cidade.
Isso por que, os vizinhos, sempre que se encontravam, de alguma forma acabavam comentando sobre a festa, que realmente, fora magnífica.
Um verdadeiro espetáculo para os olhos.
Contudo, nem só de festas viviam os moradores da cidade.
Haviam também as estranhas figuras que de vez em quando apareciam no lugar, como o homem que dizia que palmilhava todos os recantos de nosso portentoso país.
A fala do homem impressionava.
Dizendo ter conhecido terras mágicas, por mais que lhe oferecessem emprego, nada o demovia da idéia de continuar peregrinando pelas terras do Brasil.
E assim como apareceu, o homem sumiu.
Sumiu, mas depois de alguns anos, voltou a aparecer.
E novamente sumiu.
Certa vez, Marisa, distraidamente, observando um copo com água, previu a morte de um menino.
Espantosamente, o menino morreu, dias depois.
O mesmo aconteceu com uma gestante, que chorando, dias antes do parto, disse que não queria morrer.
Contudo, infelizmente, foi o que acabou acontecendo.
Realmente, o local era cenário de acontecimentos impressionantes.
Todavia, tirando os estranhos acontecimentos do lugar, os sitiantes da região trabalhavam duro para manterem suas pequenas propriedades rurais.
Com isso se nota, que quase tudo o que precisavam, já cultivavam em suas lavouras.
A maioria dos sitiantes da região tinha de um tudo, em suas pequenas glebas.
Alguns plantavam uma variedade enorme de frutas, boa parte deles cultivavam verduras, além do café, tradicional no Brasil da época.
No entanto como se pode perceber, apesar do alvo principal dos fazendeiros e sitiantes ser a cultura do café, os mesmos procuravam não depender só disso.
Todavia, mesmo em plantando quase tudo que precisavam em matéria de alimentação, algumas vezes, precisavam ir até a cidade para comprar em seus armazéns e lojas de tecidos, alguns víveres necessários para suas vidas.
Nos armazéns, sempre que precisavam compravam sacas de farinha, de arroz e de feijão.
Nas lojas de tecidos, os que podiam, compravam tecidos ordinários para confeccionar algumas roupas.
Já os bem nascidos, compravam do bom e do melhor nas melhores vitrines da Capital, e algumas vezes, também da região.
Porém, as personagens desta história nem com isso podiam contar.
De tão pobres, o saco que protegia as compras da família, é que fatalmente viraria pano para que fizessem as roupas, as quais iriam usar durante todo o ano.
É minha gente.
Vida dura como se pode perceber.
Sem recursos para comprarem nem o mais ordinário dos tecidos, tinham menos condições ainda, de calçar as crianças, que descalças, mal sabiam o que era o conforto de um sapato.
Por isso, para eles, visitar a cidade de vez em quando, e apreciar as lojas e lanchonetes que haviam no lugar, já era uma visão do paraíso.
Isso por que, boa parte do tempo, só permaneciam adstritos ali ao sítio.
Quando saíam ou era para o grupo escolar, ou então para a igreja que existia no bairro.
Assim, mudar de ares era sempre bom.
Tão bom que visitar a cidade, mais parecia, conhecer o mundo.
O mundo que para eles, não fossem os livros de história, lhes seria tão pequeno.
Com isso, assim que chegaram em casa, Marisa com a ajuda de Orlando, organizou todas as compras que foram realizadas pela família, e depois tratou de pegar os sacos de estopa que já estavam guardados e começou a costurar.
Primeiro cortou as peças e depois, utilizando de uma pequena máquina de costura, passou a unir as peças e a confeccionar as roupas.
Nesse trabalho ficava por dias a fio debruçada sobre a máquina.
Além disso, preocupada com a possibilidade de seus filhos crescerem e a roupa não caber, tinha o cuidado de fazer roupas grandes, que pudessem ser usadas por muito tempo.
Além disso, como única distração, ouvia um rádio de pilha, que sintonizado na rádio da cidade, lhe possibilitava ouvir lindas canções sertanejas.
O rádio aliás, não era distração somente dela.
Todos não só da família como todos ali da região e também de outros lugares, costumavam ouvir rádio.
E assim de ouvido colado, descobriam o que havia de novo no mundo, na música e sonhavam com histórias lindamente contadas pelos rádio-atores e pelos sonoplastas.
Para quem não tinha acesso aos livros, poder conhecer a história da ‘Dama das Camélias’, ‘O Morro dos Ventos Uivantes’, bem como adaptações de rádio-novelas estrangeiras, era um sonho, além de um riquíssimo exercício de imaginação.
Apesar da existência da famigerada televisão, poucos eram os privilegiados que tinham acesso a ela.
Televisão nesta época, ‘era coisa de gente rica’.
Mas não era só a televisão, não.
Com relação a equipamentos eletrônicos como geladeira, enceradeira, nem mesmo a esses, a população tinha acesso.
Tudo era para a elite.
Assim, além das festas, das danças e dos folguedos, o rádio eram um verdadeiro companheiro dos sitiantes e de suas famílias.
Além disso, naquele tempo, as pessoas procurando se encontrar mais e se falar mais, eram muito amigas.
Dessa forma, sempre que alguém precisava de algo, um dos vizinhos sempre acorria em seu encontro para ajudar.
Com isso, sempre que Orlando tinha um excedente em sua cultura de frutas, tratava logo de dividir com os amigos, para que as frutas não se estragassem, perecendo.
Desperdício, naqueles tempos de dureza e dificuldade, era algo inaceitável.
Por isso, todos procuravam dividir o que tinham, quando o tinham em abundância.
Essa foi uma das lições que Augusto, Otávio e Carlota, guardaram no lugar mais profundo de seus corações.
Que a generosidade não precisa de riqueza para que se mostre aos necessitados.
Como na Bíblia, aprenderam que sempre se pode partilhar o pouco que tem, desde que de coração, e desde que também, não faça falta.
Mas deixemos um pouco de lado a aspereza da vida no campo, para mostrarmos um pouco dos sonhos dessas que um dia foram crianças.
Augusto, apesar de muito afeito aos livros e estudos, sempre se interessou, como aliás todos os garotos de sua idade, pelo futebol.
Nessa época o Brasil, que tinha Pelé entre seus jogadores, fez um bonito trabalho e ganhou a Copa do Mundo.
Isso lavou de verde-amarelo a alma dos brasileiros, que ainda se ressentiam da derrota de oito anos antes, em 1950.
Augusto, apesar de perna de pau, sonhava em um dia, integrar a seleção brasileira e defender a camisa da seleção em um jogo de futebol.
Coisa aliás, muito normal naquele tempo em que todos queriam comemorar a vitória do futebol brasileiro.
E assim, Augusto, Otávio e mais alguns vizinhos, aproveitavam para ficar tardes inteiras brincando em um campinho que havia na vila onde moravam.
Seus pais, sempre que podiam, também aproveitavam para apreciar as partidas.
Algumas vezes, ficavam reunidos por horas.
Nessas reuniões aproveitavam para também, almoçarem juntos e trocarem idéias.
A certa altura, um deles aproveitando-se de um violão, distraidamente levado por um dos sitiantes ou chacareiros do lugar, começavam a tocar e a cantar algumas modas de viola.
Um deles cantava lindamente.
Tanto que boa parte do tempo, era ele mesmo que cantava.
Carlota, de tão empolgada com a música, aproveitava sempre para dançar.
E dançava muito bem.
Parecia uma pluma deslizando na paisagem.
Dançava tanto que acabou por chamar a atenção de todos os presentes.
Tanto que um deles chegou até, a elogiar a beleza da moça.
Ao ouvir isso, Orlando ficou furioso.
Afinal de contas, não havia criado nenhuma de suas filhas, para envolver-se com vagabundos.
Mas Carlota não estava nem um pouco preocupada com isso, e assim, continuou dançando.
Nesse ínterim, todos os que estavam apenas a observar, passaram a igualmente dançar, e assim, quando menos se percebeu, o campo parecia ser somente música.
Foi nesse momento que um dos rapazes se aproximou e se apresentou a ela, que gentilmente, agradeceu o oferecimento para a dança e começou a dançar com ele.
Orlando então ficou mais furioso.
Marisa então, tentando acalmá-lo de alguma forma, conseguiu desviar, ao menos por alguns instantes, sua atenção.
No entanto, ainda assim, Orlando estava furioso com o comportamento da filha.
Tanto que, ao chegar em casa, repreendeu-a seriamente.
Contudo, Carlota, ao invés de ouvir e ficar calada como sempre fazia, dessa vez, resolveu retrucar.
Entrementes, ao contrário do que esperava, Orlando ficou ainda mais furioso.
Tão furioso que acabou lhe dando uma surra pelo episódio, mas não sem antes levá-la até o quarto.
Ali deu-lhe bateu-lhe como nunca havia feito antes.
Seus irmãos, do lado de fora, só ouviam os gritos, e o pedido insistente para que este parasse de lhe bater.
Orlando no entanto, não se comoveu nem um pouco com os pedidos da filha.
Continuou a bater, até que se cansou.
Carlota então, ficou profundamente irritada com o pai.
Magoada, só pensava em fugir.
E foi assim, que numa tarde qualquer, arrumou seus pertences e saiu sorrateiramente de casa, sem que ninguém percebesse.
E sem que dessem por sua falta, caminhou por léguas e léguas, na tentativa de chegar na cidade.
Em vão.
Quando finalmente se aproximava do município, alguns conhecidos de seu pai, a viram no caminho e a intimaram a subir na caminhonete deles.
Carlota, sem alternativa, acabou subindo.
Com isso, os mesmos trataram logo de voltar para a vila e levar a moça para casa.
Quando se aproximaram do sítio da família dela, Carlota pediu aos vizinhos, que não contassem ao seu pai, que havia tentado fugir de casa.
Os vizinhos, porém, estavam receosos.
Como não iriam contar que algo tão grave tinha acontecido?
Afinal, se Carlota havia tentado fugir de casa, é por que lá, as coisas não andavam muito bem.
Mas a moça insistiu.
Sabia que se eles contassem o acontecido, fatalmente, ela iria apanhar de novo.
E foi assim, ao verem o desespero no rosto de Carlota, que acabaram se convencendo.
Mas disseram que mesmo que eles não contassem, Seu Orlando acabaria descobrindo.
E nisso se despediram, deixando Carlota na entrada do sítio.
Depois, seguiram viagem em direção a cidade.
Carlota então, caminhou calmamente.
Não queria levantar suspeitas.
E assim o fez.
Caminhando pé ante pé, a moça conseguiu chegar em casa sem que ninguém a visse carregando uma trouxa de roupa.
Com isso, aproveitou que a janela do quarto estava aberta e jogou suas coisas por ela.
Depois então, saltou, entrando novamente no quarto.
Mais do que depressa, arrumou seus pertences no baú que havia no quarto, e depois, pulando novamente a janela do cômodo, caminhou sorrateiramente pelos arredores da casa.
Caminhando, finalmente deu de encontro com um de seus irmãos que então lhe perguntou onde ela havia estado, já que procurou ela por toda a parte e nada de encontrá-la. Como desculpa, ela disse que resolveu dar uma volta pelos arredores do sítio.
Orlando ao saber disso, ficou aborrecido com a filha, mas desta vez, resolveu deixar para lá.
Afinal, Carlota já havia sido castigada recentemente.
Então não havia razões para outro castigo.
E nisso, o assunto se encerrou por aí.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Durante o tempo do ensino primário, caminharam por longas horas por um caminho de terra, até chegarem a escola.
Lá aprenderam os princípios básicos de muitos ramos do saber.
Augusto era o mais aplicado dos filhos de Orlando.
Disciplinado e estudioso, era o orgulho da professora, que sempre elogiava seu desempenho em classe, e suas boas notas.
E, apesar de dedicado, possuía a mania de decorar os textos da aula.
Por isso, sempre que a mestra lhe tomava a lição, Augusto sempre a conhecia nos mínimos detalhes.
Mas isso não era bom.
Não o era por que, embora soubesse os textos de cor e salteado, passados alguns dias, nem se lembrava mais do que aprendera.
E era aí que residia sua falha.
No mais, era muito inteligente e disciplinado.
Quando um assunto o interessava, era capaz de ficar horas a fio lendo sobre o mesmo.
Só não pesquisava mais, por que não tinha livros suficientes para tanto.
Mas o seu companheiro de horas livres, o Almanaque, estava sempre por perto.
Por essas e por outras que Augusto era considerado o mais inteligente da família.
No entanto, dadas as parcas condições financeiras da família, o garoto não pôde ir mais longe com os estudos.
Mas não foi somente ele, todos os seus irmãos, pararam de estudar na quarta série do primário.
Muito embora pudessem aprender muito mais, foi o que seus pais puderam lhes oferecer.
O que com toda certeza, mudou ao menos um pouco, a vida de cada um deles.
Isso por que, se quisessem prosseguir com os estudos, deveriam fazer como os filhos dos fazendeiros da região.
Deveriam estudar em um colégio interno.
Mas Orlando não tinha dinheiro para mandar os filhos estudarem na Capital.
Assim, só restou a eles, completarem os estudos primários e ajudarem o pai, no trabalho na lavoura.
Naquela época em que estudar era privilégio de poucos, e até que Augusto, Otávio, Carlota e seus irmãos conseguiram ir bastante longe.
Ao menos sabiam ler, escrever e fazer algumas contas.
Estavam muito melhores que seus pais, que mal sabiam assinar o próprio nome.
E Orlando ficava feliz por isso, pois ao menos seus filhos poderiam se virar.
Pelo menos, serviu como incentivo, para que pudessem avançar nos estudos futuramente.
Isso sem nem ao menos fazerem idéia, de que suas vidas mudariam tanto, em tão pouco tempo.
Porém, não é isso que realmente interessa no momento.
O que interessa é que depois de terminarem o primário, os meninos passaram a trabalhar o dia inteiro na lavoura.
Nisso Orlando que era um pouco folgazão, aproveitava para descansar um pouco.
Sob a desculpa de que estava supervisionando o trabalho dos filhos, freqüentemente aproveitava para cochilar e descansar um pouco.
Trabalhar que era bom, só trabalhava o necessário.
O serviço mais pesado, eram seus filhos que faziam.
Certa vez, tentando criar uma nova forma de plantar café, Augusto sugeriu que cada um fizesse uma parte do trabalho.
Orlando no entanto, achava que era muito melhor todo mundo fazer tudo.
Isso por que, assim agindo, todos conheceriam por completo, o processo de cultivo das mudas de café.
Augusto no entanto, argumentava que se alguém cavasse a terra, o outro plantasse as mudas, em seguida um outro viesse e fechasse o local onde a muda foi plantada, e outro viesse regá-las, o processo seria mais rápido.
Mas Orlando insistia em dizer que não.
Nada seria separado.
E assim, dada a última palavra, só restava aos filhos seguirem suas recomendações.
Mesmo aborrecido, Augusto fez exatamente o que Orlando mandou fazer.
E assim, ao final de alguns dias, finalmente estava encerrado o trabalho.
Foi nesta época que começaram os festejos em homenagem a São Pedro, Santo Antônio e São João – as festas juninas.
Nestas festas, as bandeirolas enfeitavam os campos, e mastros eram erguidos com bandeiras e imagens dos santos.
Além disso, uma profusão de fogos e de comida, coroavam a noite.
Nessa época, algumas famílias, aproveitando-se de suas criações de aves, aproveitavam para abater algumas e vender nas feiras da festa.
Marisa, aproveitando que havia algumas galinhas bem gordas no galinheiro, decidiu abater algumas e prepará-las para a festa.
Assim o fez.
Depois que ficaram prontas, pareciam muito apetitosas.
Tanto que seus filhos pediram insistentes vezes para que ela deixasse uma para que eles comessem.
Mas Marisa respondeu que aquelas aves eram para festa.
Ao ouvirem isso, todos ficaram desapontados.
Enfim, teriam que esperar pela festa.
Se alguma das aves não fosse vendida, aí sim, poderiam saborear a deliciosa iguaria preparada por sua mãe.
Dito e feito.
Durante a festa, apesar do sucesso das aves de Dona Marisa, a mesma fez questão de guardar uma das galinhas para os filhos.
Mas estes, não satisfeitos, depois que cearam junto com os demais convidados da festa e apreciaram uma belíssima queima de fogos, resolveram limpar as mesas, recolhendo as sobras de comida. Queriam levar tudo para casa e comer mais tarde.
Ao ver isso, Marisa ficou enfurecida.
Iria lhes dar uma surra.
Mas os garotos foram mais espertos e se esconderam.
Apesar de saberem que por isso mesmo, apanhariam muito mais, decidiram aproveitar melhor os comes e bebes.
Depois apareceriam, e até apanhariam com gosto, dado o tanto que já haviam se divertido.
E assim foi.
Os garotos levaram uma tremenda surra pelo mal feito.
Não bastasse isso, a bronca foi ainda pior.
Marisa chegou a falar:
-- Onde já se viu? Isso são modos? Nem parecem meus filhos. Parecem mais um bando de selvagens. Nunca passei tanta vergonha na vida.
Ao ouvirem os lamentos da mãe, os garotos se desculparam, mas mesmo assim, por um longo tempo, Marisa ficou brava com eles.
Mesmo assim, não se arrependeram nem um pouco do que fizeram.
E apesar da galinha que Marisa serviu estar ótima, os mesmos não se cansavam de se lembrar do porquinho assado de Adélia, e dos sucos de laranja de Seu Osíres.
A festa estava realmente muito boa.
Tão boa que sempre que vizinhança se encontrava, os mesmos não se cansavam de comentar sobre a comemoração.
E assim, a festa foi assunto por semanas na cidade.
Isso por que, os vizinhos, sempre que se encontravam, de alguma forma acabavam comentando sobre a festa, que realmente, fora magnífica.
Um verdadeiro espetáculo para os olhos.
Contudo, nem só de festas viviam os moradores da cidade.
Haviam também as estranhas figuras que de vez em quando apareciam no lugar, como o homem que dizia que palmilhava todos os recantos de nosso portentoso país.
A fala do homem impressionava.
Dizendo ter conhecido terras mágicas, por mais que lhe oferecessem emprego, nada o demovia da idéia de continuar peregrinando pelas terras do Brasil.
E assim como apareceu, o homem sumiu.
Sumiu, mas depois de alguns anos, voltou a aparecer.
E novamente sumiu.
Certa vez, Marisa, distraidamente, observando um copo com água, previu a morte de um menino.
Espantosamente, o menino morreu, dias depois.
O mesmo aconteceu com uma gestante, que chorando, dias antes do parto, disse que não queria morrer.
Contudo, infelizmente, foi o que acabou acontecendo.
Realmente, o local era cenário de acontecimentos impressionantes.
Todavia, tirando os estranhos acontecimentos do lugar, os sitiantes da região trabalhavam duro para manterem suas pequenas propriedades rurais.
Com isso se nota, que quase tudo o que precisavam, já cultivavam em suas lavouras.
A maioria dos sitiantes da região tinha de um tudo, em suas pequenas glebas.
Alguns plantavam uma variedade enorme de frutas, boa parte deles cultivavam verduras, além do café, tradicional no Brasil da época.
No entanto como se pode perceber, apesar do alvo principal dos fazendeiros e sitiantes ser a cultura do café, os mesmos procuravam não depender só disso.
Todavia, mesmo em plantando quase tudo que precisavam em matéria de alimentação, algumas vezes, precisavam ir até a cidade para comprar em seus armazéns e lojas de tecidos, alguns víveres necessários para suas vidas.
Nos armazéns, sempre que precisavam compravam sacas de farinha, de arroz e de feijão.
Nas lojas de tecidos, os que podiam, compravam tecidos ordinários para confeccionar algumas roupas.
Já os bem nascidos, compravam do bom e do melhor nas melhores vitrines da Capital, e algumas vezes, também da região.
Porém, as personagens desta história nem com isso podiam contar.
De tão pobres, o saco que protegia as compras da família, é que fatalmente viraria pano para que fizessem as roupas, as quais iriam usar durante todo o ano.
É minha gente.
Vida dura como se pode perceber.
Sem recursos para comprarem nem o mais ordinário dos tecidos, tinham menos condições ainda, de calçar as crianças, que descalças, mal sabiam o que era o conforto de um sapato.
Por isso, para eles, visitar a cidade de vez em quando, e apreciar as lojas e lanchonetes que haviam no lugar, já era uma visão do paraíso.
Isso por que, boa parte do tempo, só permaneciam adstritos ali ao sítio.
Quando saíam ou era para o grupo escolar, ou então para a igreja que existia no bairro.
Assim, mudar de ares era sempre bom.
Tão bom que visitar a cidade, mais parecia, conhecer o mundo.
O mundo que para eles, não fossem os livros de história, lhes seria tão pequeno.
Com isso, assim que chegaram em casa, Marisa com a ajuda de Orlando, organizou todas as compras que foram realizadas pela família, e depois tratou de pegar os sacos de estopa que já estavam guardados e começou a costurar.
Primeiro cortou as peças e depois, utilizando de uma pequena máquina de costura, passou a unir as peças e a confeccionar as roupas.
Nesse trabalho ficava por dias a fio debruçada sobre a máquina.
Além disso, preocupada com a possibilidade de seus filhos crescerem e a roupa não caber, tinha o cuidado de fazer roupas grandes, que pudessem ser usadas por muito tempo.
Além disso, como única distração, ouvia um rádio de pilha, que sintonizado na rádio da cidade, lhe possibilitava ouvir lindas canções sertanejas.
O rádio aliás, não era distração somente dela.
Todos não só da família como todos ali da região e também de outros lugares, costumavam ouvir rádio.
E assim de ouvido colado, descobriam o que havia de novo no mundo, na música e sonhavam com histórias lindamente contadas pelos rádio-atores e pelos sonoplastas.
Para quem não tinha acesso aos livros, poder conhecer a história da ‘Dama das Camélias’, ‘O Morro dos Ventos Uivantes’, bem como adaptações de rádio-novelas estrangeiras, era um sonho, além de um riquíssimo exercício de imaginação.
Apesar da existência da famigerada televisão, poucos eram os privilegiados que tinham acesso a ela.
Televisão nesta época, ‘era coisa de gente rica’.
Mas não era só a televisão, não.
Com relação a equipamentos eletrônicos como geladeira, enceradeira, nem mesmo a esses, a população tinha acesso.
Tudo era para a elite.
Assim, além das festas, das danças e dos folguedos, o rádio eram um verdadeiro companheiro dos sitiantes e de suas famílias.
Além disso, naquele tempo, as pessoas procurando se encontrar mais e se falar mais, eram muito amigas.
Dessa forma, sempre que alguém precisava de algo, um dos vizinhos sempre acorria em seu encontro para ajudar.
Com isso, sempre que Orlando tinha um excedente em sua cultura de frutas, tratava logo de dividir com os amigos, para que as frutas não se estragassem, perecendo.
Desperdício, naqueles tempos de dureza e dificuldade, era algo inaceitável.
Por isso, todos procuravam dividir o que tinham, quando o tinham em abundância.
Essa foi uma das lições que Augusto, Otávio e Carlota, guardaram no lugar mais profundo de seus corações.
Que a generosidade não precisa de riqueza para que se mostre aos necessitados.
Como na Bíblia, aprenderam que sempre se pode partilhar o pouco que tem, desde que de coração, e desde que também, não faça falta.
Mas deixemos um pouco de lado a aspereza da vida no campo, para mostrarmos um pouco dos sonhos dessas que um dia foram crianças.
Augusto, apesar de muito afeito aos livros e estudos, sempre se interessou, como aliás todos os garotos de sua idade, pelo futebol.
Nessa época o Brasil, que tinha Pelé entre seus jogadores, fez um bonito trabalho e ganhou a Copa do Mundo.
Isso lavou de verde-amarelo a alma dos brasileiros, que ainda se ressentiam da derrota de oito anos antes, em 1950.
Augusto, apesar de perna de pau, sonhava em um dia, integrar a seleção brasileira e defender a camisa da seleção em um jogo de futebol.
Coisa aliás, muito normal naquele tempo em que todos queriam comemorar a vitória do futebol brasileiro.
E assim, Augusto, Otávio e mais alguns vizinhos, aproveitavam para ficar tardes inteiras brincando em um campinho que havia na vila onde moravam.
Seus pais, sempre que podiam, também aproveitavam para apreciar as partidas.
Algumas vezes, ficavam reunidos por horas.
Nessas reuniões aproveitavam para também, almoçarem juntos e trocarem idéias.
A certa altura, um deles aproveitando-se de um violão, distraidamente levado por um dos sitiantes ou chacareiros do lugar, começavam a tocar e a cantar algumas modas de viola.
Um deles cantava lindamente.
Tanto que boa parte do tempo, era ele mesmo que cantava.
Carlota, de tão empolgada com a música, aproveitava sempre para dançar.
E dançava muito bem.
Parecia uma pluma deslizando na paisagem.
Dançava tanto que acabou por chamar a atenção de todos os presentes.
Tanto que um deles chegou até, a elogiar a beleza da moça.
Ao ouvir isso, Orlando ficou furioso.
Afinal de contas, não havia criado nenhuma de suas filhas, para envolver-se com vagabundos.
Mas Carlota não estava nem um pouco preocupada com isso, e assim, continuou dançando.
Nesse ínterim, todos os que estavam apenas a observar, passaram a igualmente dançar, e assim, quando menos se percebeu, o campo parecia ser somente música.
Foi nesse momento que um dos rapazes se aproximou e se apresentou a ela, que gentilmente, agradeceu o oferecimento para a dança e começou a dançar com ele.
Orlando então ficou mais furioso.
Marisa então, tentando acalmá-lo de alguma forma, conseguiu desviar, ao menos por alguns instantes, sua atenção.
No entanto, ainda assim, Orlando estava furioso com o comportamento da filha.
Tanto que, ao chegar em casa, repreendeu-a seriamente.
Contudo, Carlota, ao invés de ouvir e ficar calada como sempre fazia, dessa vez, resolveu retrucar.
Entrementes, ao contrário do que esperava, Orlando ficou ainda mais furioso.
Tão furioso que acabou lhe dando uma surra pelo episódio, mas não sem antes levá-la até o quarto.
Ali deu-lhe bateu-lhe como nunca havia feito antes.
Seus irmãos, do lado de fora, só ouviam os gritos, e o pedido insistente para que este parasse de lhe bater.
Orlando no entanto, não se comoveu nem um pouco com os pedidos da filha.
Continuou a bater, até que se cansou.
Carlota então, ficou profundamente irritada com o pai.
Magoada, só pensava em fugir.
E foi assim, que numa tarde qualquer, arrumou seus pertences e saiu sorrateiramente de casa, sem que ninguém percebesse.
E sem que dessem por sua falta, caminhou por léguas e léguas, na tentativa de chegar na cidade.
Em vão.
Quando finalmente se aproximava do município, alguns conhecidos de seu pai, a viram no caminho e a intimaram a subir na caminhonete deles.
Carlota, sem alternativa, acabou subindo.
Com isso, os mesmos trataram logo de voltar para a vila e levar a moça para casa.
Quando se aproximaram do sítio da família dela, Carlota pediu aos vizinhos, que não contassem ao seu pai, que havia tentado fugir de casa.
Os vizinhos, porém, estavam receosos.
Como não iriam contar que algo tão grave tinha acontecido?
Afinal, se Carlota havia tentado fugir de casa, é por que lá, as coisas não andavam muito bem.
Mas a moça insistiu.
Sabia que se eles contassem o acontecido, fatalmente, ela iria apanhar de novo.
E foi assim, ao verem o desespero no rosto de Carlota, que acabaram se convencendo.
Mas disseram que mesmo que eles não contassem, Seu Orlando acabaria descobrindo.
E nisso se despediram, deixando Carlota na entrada do sítio.
Depois, seguiram viagem em direção a cidade.
Carlota então, caminhou calmamente.
Não queria levantar suspeitas.
E assim o fez.
Caminhando pé ante pé, a moça conseguiu chegar em casa sem que ninguém a visse carregando uma trouxa de roupa.
Com isso, aproveitou que a janela do quarto estava aberta e jogou suas coisas por ela.
Depois então, saltou, entrando novamente no quarto.
Mais do que depressa, arrumou seus pertences no baú que havia no quarto, e depois, pulando novamente a janela do cômodo, caminhou sorrateiramente pelos arredores da casa.
Caminhando, finalmente deu de encontro com um de seus irmãos que então lhe perguntou onde ela havia estado, já que procurou ela por toda a parte e nada de encontrá-la. Como desculpa, ela disse que resolveu dar uma volta pelos arredores do sítio.
Orlando ao saber disso, ficou aborrecido com a filha, mas desta vez, resolveu deixar para lá.
Afinal, Carlota já havia sido castigada recentemente.
Então não havia razões para outro castigo.
E nisso, o assunto se encerrou por aí.
Luciana Celestino dos Santos
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