Poesias

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

VEM DANÇAR COMIGO? - CAPÍTULO 6

Laura, ao ouvir a proposta do rapaz, não gostou nada disso.
Ao ouvir a proposta, a moça ficou tão ofendida que ameaçou voltar para sua morada, caso ele não parasse com aquela conversa, que para ela não fazia o menor sentido.
Rafael, então percebendo que não seria nada fácil convencê-la, desculpou-se e prometeu que não tocaria mais no assunto. Porém, conforme o tempo foi passando, e a moça esquecendo do incidente, novamente o rapaz, voltou a convidá-la para ficarem a sós.
Laura, desconversando, sempre dizia que ainda não era a hora.
Mas Rafael continuava insistindo.
Hábil, o rapaz fazia questão de sempre se fazer presente na vida de Laura. Assim, para diminuir a desconfiança de Benê, com relação a sua pessoa, Rafael pediu a namorada para que convidasse mais a amiga para sair junto com eles.
Ao ouvir a sugestão do namorado, Laura estranhou sua atitude. Afinal de contas, para quem até pouco atrás não queria conhecer os amigos dela, o rapaz estava agora muito interessado em sua vida. E Laura, atônita, não conseguia entender nada.
Rafael, então percebendo a desconfiança da namorada, explicou que no começo não queria ser apresentado a ninguém, por que não sabia se o namoro iria progredir. Assim, não criava expectativas com relação a ninguém. Mas agora, que tudo estava dando certo, que os dois estavam bem e já namoravam há algum tempo, já era mais do que hora dele ser apresentado aos amigos da moça.
Além disso, durante suas incursões pela noite, Rafael já tivera a oportunidade de conhecer Eugênia e Renata, ao menos de vista. Agora precisava conhecer a família e a melhor amiga da moça.
Laura então comentou que já havia apresentado Benedita a ele.
Rafael ao ouvir as palavras da namorada, continuou insistindo que eles deviam sair mais em grupo, para que pudessem se conhecerem um pouco melhor. Ademais, diante das circunstâncias, já era tempo dele ser apresentado a Angela.
Laura, ao ouvir o nome da irmã, passou a ficar nervosa. Isso por que, não estava preparada para apresentar ninguém a irmã. Até por que, Angela, sempre exigente, com seu jeito intolerante, tornava praticamente impossível apresentar qualquer pessoa de suas relações. Isso tudo, em razão da última briga que tiveram, na qual Angela deixou bem claro que não estava gostando nem um pouco do comportamento da irmã.
Dessa forma, se ela não estava gostando da atitude da irmã, dificilmente gostaria de sua companhia, no caso Rafael.
Nisso o rapaz, mesmo ao ouvir as palavras desalentadoras da namorada, continuou a insistir. Queria por que queria ser apresentado a pessoa maravilhosa que cuidou de sua Laura quando seus pais faltaram. Isso por que, de acordo com suas palavras, a despeito de tudo o que Laura falava, uma pessoa que teve o desprendimento de cuidar de uma irmã órfã, não deve ser tão ruim assim. Se fosse, teria deixado ela vivendo num orfanato, até completar a maioridade.
Laura, ao ouvir as palavras de Rafael, concordou em termos com ele. Contudo, como Angela não era uma pessoa fácil de se lidar, ela pediu a ele, que a deixassem preparar o terreno. Sim, por que se os apresentasse agora, ela provavelmente seria rude com ele.
Rafael, ao ouvir isso, cheio de confiança, comentou que ninguém, depois de trocar algumas palavras com ele, deixava de gostar dele.
Realmente, Rafael era muito hábil com as palavras.
Todavia, Laura sabia que com Angela, somente palavras doces não bastariam. Quando ela não gostava de alguém, não adiantava esse alguém adulá-la que ainda assim, a antipatia permanecia.
Dito e feito.
Quando Laura aventou a possibilidade de apresentar seu namorado a irmã, Angela, desafiou-a. Isso por que, desconfiando que o rapaz não era boa coisa, indagou a razão da irmã só estar apresentando-o agora.
Laura, um pouco desconcertada, comentou que ainda não havia chegado o momento oportuno para que esse encontro acontecesse.
Angela então desdenhou:
-- Momento oportuno. Momento oportuno. Era só o que me faltava. Isso é só uma desculpa que você arrumou.
Laura, ao ouvir isso, ficou irritada com a irmã. Contudo, como não estava interessada em arrumar uma briga, resolveu deixar de lado a provocação. Determinada a promover um encontro entre os dois, Laura estava empenhada em que Angela tivesse uma boa impressão do moço.
Assim, tentando possibilitar o encontro, Laura não se cansava de elogiar o namorado na frente da irmã. Dizendo que desde que o namoro começou a ficar sério, ele passara a ficar mais cuidadoso com ela, acreditava que assim convenceria a irmã de que Rafael era uma boa pessoa.
Angela só ouvia. Sem fazer qualquer comentário, deixava Laura falar à vontade.
Com isso a moça continuava dizendo que sempre que podia, o rapaz ia buscá-la em seu trabalho. Cuidadoso, sempre acompanhava-a em suas saídas com as amigas. Animada, chegou a dizer, que desde que passara a andar com ele, não tivera mais problemas com suas amigas. Isso por que, como as mesmas estavam namorando, estando ela na mesma situação, uma não atrapalhava a outra.
Angela, ao ouvir a explicação de Laura, ficou revoltada. Contudo, não quis falar nada. Até por que seria falar e arrumar uma briga séria com a irmã, que queria a todo custo, impingir a presença de Rafael, a ela.
Contudo, cansada de ouvir tantos elogios com relação ao rapaz, Angela, certa vez, resolveu depois de um longo dia, se deitar um pouco.
Laura, ao notar a atitude de desdém da irmã, ficou profundamente desapontada. Chateada, chegou até a comentar com Rafael que não seria nada fácil apresentá-lo a sua irmã. Angela estava determinada a não conhecê-lo.
O rapaz, ao ouvir as palavras da moça, tomado de uma certa curiosidade, perguntou a ela se Angela havia dito claramente que não queria conhecê-lo.
A moça, respondeu que não.
Rafael então, percebendo isso, comentou com ela, que enquanto Angela não dissesse claramente que não queria conhecê-lo, não havia motivo para que ela desanimasse. Até por que, conhecer Angela era apenas uma questão de tempo. De uma maneira ou de outra, os dois acabariam se conhecendo. Além disso, prometendo que não a envergonharia nem por um minuto diante da irmã, Rafael disse a Laura, que se empenharia em causar uma boa impressão.
Enquanto isso, Benê, convidada pela amiga para acompanhá-los, resolveu chamar um amigo para lhe fazer companhia. Isso por que não queria servir de vela e atrapalhar o namoro dos dois. Desta forma, a moça passou a conhecer Rafael melhor.
Contudo, por mais que o rapaz parecesse ser uma boa pessoa, Benedita não conseguia se convencer disso. Acreditando que tudo aquilo era puro teatro, não conseguia deixar de desconfiar de sua atitude.
Isso por que, no começo do namoro, Rafael não queria que nenhum dos amigos de Laura o conhecesse. Agora, da noite para o dia, estava ele tentando fazer de todas as formas possíveis, a política da boa vizinhança. Intrigada, Benedita se perguntava constantemente, qual seria a razão para tudo isso. Contudo, por mais que ficasse a pensar, não conseguia chegar a uma resposta clara.
Porém, desconfiada do que poderia ser, sempre que ficava a sós com a amiga e ela tocava no assunto, Benê encontrava uma forma de dar um toque para a amiga. Desconfiada de que tudo não passava de um golpe, ela aconselhou Laura a ficar muito esperta com o rapaz.
Laura, contudo, não ouvia as palavras da amiga. Dizendo que ela estava parecendo sua irmã Angela, argumentava que suas desconfianças não tinham razão de ser. Rafael era uma ótima pessoa.
Benê ao ver-se sendo comparada com Angela, não gostou nem um pouco disso. Contudo a despeito disso, continuou a dizer a amiga, para que ela tomasse cuidado com ele. Mas, ao perceber com o passar do tempo, que Laura fazia ouvidos de mercador, a tudo o que ela dizia, Benê, cansou-se.
Certa vez, dizendo que estava cansada de alertá-la, Benedita falou a amiga, que nunca mais discutiriam sobre isso. No entanto, quando ela se desse mal com o rapaz, não ia querer nem saber. Benedita, irritada com a amiga, comentou que se alguma coisa desse errado com relação a esse namoro, que ela fosse chorar no ombro de outra coitada, que ela não estava ali para amparar gente desmiolada.
A moça, ao ouvir as duras palavras de Benedita, aborrecida com a amiga, prometeu também, que nunca mais a incomodaria com seus problemas.
E foi assim, que uma grande amizade, ficou por muito tempo estremecida.
Sem falar com a amiga, Laura ficou sem o apoio de sua conselheira, de sua confidente. Enfim, de sua grande amiga. Chateada, Laura chegou a comentar com tristeza a Rafael, que havia rompido relações com sua melhor amiga.
O rapaz, percebendo a tristeza da moça, comentou:
-- Não se preocupe. Cedo ou tarde vocês acabaram fazendo as pazes. Até por que, uma amizade tão grande quanto a de vocês duas, não pode acabar assim, de uma hora para outra. Não se preocupe. Toda a vez que duas pessoas brigam, ficam chateadas, mas acabam voltando as boas. Não tem erro. Pode acreditar!
Laura, agradeceu o conselho. E apesar de chateada por ter brigado com Benedita, a moça ficou feliz de saber que poderia contar com uma pessoa tão legal quanto ele.
Quanto a isso Laura acreditava que era a pessoa mais afortunada do mundo por ter ao seu lado uma pessoa tão legal quanto Rafael.
Prestativo como nunca fora antes, o rapaz dava a impressão de que era realmente a pessoa certa para ela. Por isso mesmo, sempre que alguém o criticava, ela ficava aborrecida. Afinal de contas, como uma pessoa tão gentil e legal com ela podia estar fingindo, ou estar sendo mal intencionada? Por acaso ela não merecia que alguém gostasse dela?
Essa desconfiança de Angela e Benê deixava-na profundamente desapontada.
E assim, convencida de que Rafael era uma boa pessoa, Laura acabou dando um grande passo. Um passo que mudaria sua vida completamente.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.  

VEM DANÇAR COMIGO? - CAPÍTULO 5

 Nisso, uma nova semana começou, e com ela, mais trabalho. Foi durante o expediente que Laura comentou com Benê sobre a briga e a reconciliação com sua irmã. 
Benê que até então só discordara de Angela, pela primeira vez concordou com ela. Ao conhecer o teor da última desavença das duas, Benê, apesar de considerar extremada a atitude de Angela, concordou com sua preocupação, pois Laura realmente estava agindo muito estranhamente nos últimos tempos. 
Segundo Benedita, Laura estava se comportando muito mal. Em suas palavras, se Laura morava com Angela, ao menos alguma satisfação ela devia dar a irmã. 
Além disso, Eugênia e Renata não eram boas companhias. Isso por que, como só pensavam em namorar, cedo ou tarde acabariam envolvendo Laura em alguma confusão. 
Laura, depois de ouvir a amiga, respondeu:
-- Olha Benê, eu até entendo que você não goste das duas, mas daí dizer que as duas não são boas companhias, já vai uma diferença muito grande.  
-- Laura, preste atenção! Eu não disse isso para te deixar mal com as duas. Eu não disse que Eugênia e Renata são más pessoas. Eu só estou dizendo, que elas são muito destrambelhadas. Repito, eu se fosse você tomaria cuidado com as duas, isso por que elas ainda vão acabar te envolvendo em alguma confusão. Fique atenta. 
Laura contudo, não dava crédito às palavras da amiga. Como achava Benê muito exagerada, não podia acreditar que tudo o que ela dizia, poderia se tornar verdade. 
Infelizmente, acabaria se tornando. Acabaria se tornando por que, com suas freqüentes saídas, Eugênia e Renata acabaram por arrumar namorados. Como saíam sempre sozinhas, os pretensos namorados acharam que não havia nada demais em ficarem até tarde da noite juntos com as moças.
Laura, contudo, não gostou nem um pouco disso. Temendo que aquele arranjo não acabasse bem, a moça alertou as amigas para o fato de que sair, altas horas da noite, em companhia de estranhos, não era uma boa idéia. 
Renata e Eugênia no entanto, acreditando que Laura estava exagerando, nem ligavam para as suas recomendações. Não bastasse isso, por conta da preocupação –  segundo elas –, excessiva de Laura, ambas começaram a dizer que a moça estava parecendo com sua irmã, Angela.
Laura, ao ouvir a brincadeira das colegas, não gostou nem um pouco. Aborrecida, foi embora deixando as duas sozinhas.
Assim ao chegar em casa, deparou com Angela, que surpresa, chegou até a comentar:
-- Laura! A essa hora em casa. Meus parabéns! Parece que está criando juízo nesta sua cabecinha.
Nisso, Laura, aborrecida, tratou de entrar em seu quarto. Trancou a porta, e se jogou na cama. 
Angela, vendo a atitude da irmã, ficou bastante preocupada. Por esta razão, ao ver que Laura não saía do quarto, começou a bater na porta do seu quarto. 
Suavemente, como raras vezes fazia, Angela perguntou a irmã se ela estava precisando de alguma coisa. No entanto, por mais que perguntasse, não ouvia nenhuma resposta. Suspeitando que a moça estivesse dormindo, acabou se despreocupando. Até por que, era melhor ver Laura recolhida em seu quarto, do que em companhia de pessoas estranhas e de má conduta. 
Todavia, não seria por muito tempo que as três amigas permaneceriam brigadas. Isso por que, Eugênia e Renata, percebendo que haviam se excedido, ao verem a colega chegando para trabalhar na loja, dias depois, trataram logo de conversar com ela e lhe pedir desculpas pelo ocorrido. 
Laura contudo, estava muito reticente para aceitar de imediato as desculpas das colegas. 
Renata e Eugênia, notando a atitude arredia de Laura, continuaram insistindo para que ela as desculpasse. Isso por que, segundo elas, as duas se aborreceram com Laura por que não gostaram de seus comentários a respeito de seus respectivos namorados. 
Porém, ao caírem em si, constataram que ela não havia dito aquilo por mal, fora apenas por cuidado. Com isso, constatando a intenção dela, Renata e Eugênia chegaram a conclusão de que lhe deviam desculpas. E era exatamente por isso, que estavam agora conversando com ela. Tentando se desculpar pela atitude intempestiva que tiveram, estavam agora pedindo desculpas. 
Laura, então, percebendo que não conseguiria se livrar das duas, acabou aceitando as desculpas. Entrementes, ao contrário do que vinha fazendo, não seria sempre que as três sairiam juntas. Isso por que, já que as duas tinham namorado, não fazia sentido nenhum nela, ser a vela do grupo. 
Renata e Eugênia divergiram da opinião da colega, mas, respeitando seu ponto de vista, não se opuseram. Assim, as três só sairiam juntas de vez em quando.
Nesse momento, Benê, chegando na loja, percebendo que as três estavam conversando, começou a arrumar sozinha a loja. Cumprimentando as três, começou a trabalhar logo que entrou na loja. Depois, percebendo que Laura também começara a trabalhar, resolveu se aproximar da moça, para saber o que estava acontecendo. 
Benê, como amiga que era de Laura, tomou logo conhecimento de que as três brigaram dias atrás. Mas agora, arrependidas vieram se desculpar. No entanto, como a situação se modificara, Laura pediu as amigas que as saídas diminuíssem. Até por que, se as duas tinham namorado, que sentido tinha em ela ir junto? Acabaria atrapalhando o namoro das duas.  
Benê percebendo que a amiga estava mais cuidadosa, tratou logo de elogiar sua atitude. Acreditando que Laura estava tomando a decisão certa, recomendou-lhe que continuasse agindo assim. Dessa forma, dificilmente se envolveria em algum tipo de encrenca.
No entanto, a despeito dela não se encontrar mais com tanta freqüência com suas colegas, a moça, em suas constantes incursões pela noite, acabou também, depois de algum tempo, encontrando um parceiro.
Benê ao saber da novidade, ficou bastante apreensiva. Isso por que, sabendo do que ocorrera com o último namoro da amiga, quis logo saber se o rapaz era boa gente.
Laura comentou então, que seu atual namorado era muito mais gentil que o anterior. 
Benedita entretanto, ao ouvir as palavras empolgadas da amiga, não ficou nem um pouco convencida disso. Tanto que pediu a Laura que apresentasse o pretenso namorado a ela.
Foi aí que Laura comentou que raramente saía com ele a noite, e portanto dificilmente Benê conheceria o rapaz. 
Benedita, então, percebendo que Laura faria o possível para esconder o rapaz, resolveu tomar uma decisão inesperada. Sabendo que a única maneira de conhecer o famigerado namorado era saindo com ela a noite, acabou finalmente aceitando um convite sair. 
Laura, surpresa com isso, mal podia acreditar, que sua amiga finalmente sairia com ela a noite. 
Mas Benê concordou. 
E assim sábado a noite, lá estava Benê, na portaria do prédio onde morava Laura, pronta para sair. A moça, assim que chegou, tratou de pedir ao porteiro, para interfonar para a amiga, avisando que ela já havia chegado. 
Laura, ao ser avisada, tratou de descer. Na portaria, encontrou Benê. A moça estava tão produzida, que nem parecia sua velha amiga de tempos. 
E assim, Laura, surpresa, mal reconheceu a amiga. Benê estava um arraso. 
Tanto que Laura chegou a comentar:
-- Quem diria! Benê você está uma verdadeira diva! 
Benê, respondeu então, que ela estava exagerando. 
Mas Laura insistiu. Como sempre a via usando roupas simples, quase sem maquiagem, mal podia imaginar toda aquela exuberância. Apesar de saber que a amiga era bonita, nunca a tinha visto tão bem assim. 
Benê então, pediu a amiga que se apressasse.
Laura atendeu o pedido da amiga, e lá foram elas.
As duas foram assistir um show. 
Como era de se esperar, Laura encontrou seu namorado por lá. Aproveitando o ensejo, foi logo apresentando, Rafael, para a amiga.
O rapaz, usando uma camisa azul, calça jeans justa, e botinha, estava completamente inserido no modismo do período. 
Benê ao cumprimentar o rapaz, achou-o um tanto quanto pretensioso. Contudo, procurando ser simpática, não fez nenhum comentário a respeito do rapaz, com a moça. Não queria estragar a noite. 
E assim, os três assistiram juntos ao show. Mais tarde, os três saíram para juntos para jantar.
Benedita, ao perceber que o casal estava indo para um restaurante, resolveu se despedir dos dois. Isso por que, percebendo que ambos queriam ficar sozinhos, sentiu que iria atrapalhá-los se acompanhasse o casal no restaurante. Assim, quando surgiu a primeira oportunidade, Benedita tratou de dizer que havia se lembrado de um compromisso, e que por isso, teria que se levantar cedo no dia seguinte. Por esta razão, precisava voltar para casa. Além disso, já havia comido um pouco antes de sair de casa.
Laura contudo, desconfiada de que aquela era apenas uma desculpa para deixá-los a sós, tentou de todas as formas possíveis, convencer a amiga a acompanhá-los. 
Mas Benê estava decidida a ir embora. 
Rafael, percebendo que Benedita estava constrangida, sugeriu a amiga que a deixasse ir, mas que antes, comesse alguma coisa. Depois, se ela tivesse vontade, poderia ir embora. 
Benê, meio sem jeito, acabou concordando, depois que Laura e Rafael disseram que ela, não precisava se preocupar. Afinal de contas, Benedita não estava atrapalhando ninguém. Se eles a convidaram, era por que queriam sua presença. 
Então, lá se foram eles para o restaurante. 
Famintos os três comeram um belo prato de ravioli. Como bebida, refrigerante.
Nisso Benê, depois de cear, sugerindo aos dois que pedissem a conta, comentou que precisava ir. 
Laura, ao perceber a pressa da amiga, comentou que ela não precisava se apressar.
Mas Benê, alegando que tinha um assunto para resolver no dia seguinte, comentou que precisava voltar para casa logo. 
Rafael e Laura que não tinham pressa, combinaram que eles pagariam a refeição dela. 
Benê não queria aceitar, mas o casal insistiu tanto, que ela acabou aceitando.
Com isso, Benedita se despediu, deixando os dois a sós.
Nisso, Rafael e Laura, aproveitaram para ficar mais um pouco no restaurante. E assim os dois saborearam uma boa sobremesa e depois foram embora.
Rafael, como quem não quer nada, sugeriu então a ela, que fossem para um lugar mais íntimo.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.   

VEM DANÇAR COMIGO? - CAPÍTULO 4

Caminhando na escuridão, a moça teve o maior cuidado para não acordar Angela, que acreditava estar dormindo. Porém, qual não foi sua surpresa ao se deparar com a irmã esperando-a em seu quarto, sentada em uma poltrona. 
Laura, ao acender a luz do quarto e se deparar com a irmã esperando-a, deu um grito. Assustada, não contava com a possibilidade de a irmã estar esperando-a em seu quarto.
Porém, passado o susto, foi logo perguntando:
-- O que você está fazendo aqui? 
Angela calmamente acomodou-se na poltrona. Depois respondeu:
-- Eu estou te esperando há três horas.
-- Para quê? – perguntou Laura curiosa.  
-- Para quê? Pois bem, eu vou refrescar sua memória. Não sei se você se lembra muito bem, mas de qualquer forma, eu me lembro. Não faz muito tempo, você deixou escapar que tinha arrumado um namorado.
-- Sim, mas aquilo foi uma bobagem... – respondeu Laura antes de ser interrompida pela irmã.
-- Não me interrompa. Eu quero concluir meu pensamento. Voltando ao que disse, você me disse que estava namorando. Certo? 
-- Sim, eu disse. Mas eu quero explicar que... – tentou dizer, mas novamente foi interrompida por Angela.
-- Pois bem. Você, ao arrumar um suposto namorado, não me apresentou o rapaz, nem fez questão nenhuma de que eu viesse a conhecê-lo. Agora, novamente em companhia dessas suas amigas, sai todos os sábados a noite. Isso quando não sai também aos domingos, sabe-se lá para quê, volta tarde da noite, e não me dá explicações. Você já se deu conta do quanto seu comportamento é inadequado?
-- Inadequado por quê? – perguntou Laura intrigada.
-- Ah! Você quer saber por quê? Pois então eu vou te explicar. Primeiro. Nenhuma moça de família se comporta da forma lastimável como você vem se comportando ultimamente. Você já se deu conta disso?
Laura ficou irritada. Ao ouvir o comentário da irmã, respondeu:
-- Quer dizer que para você, meu comportamento é inadequado?
-- Sim. E quer saber do que mais? As pessoas já andam comentando sobre você. E o pior, elas têm razão. Você não está se dando o devido respeito. Afinal de contas, onde você pensa que vai chegar, agindo dessa maneira?
-- Eu não estou entendendo o rumo dessa conversa. Afinal de contas, você me esperou para me desancar? – perguntou Laura, visivelmente irritada. 
-- Não minha querida. Eu estou falando isso para o seu bem. Se estou te avisando, é por que eu me importo de verdade com você. Eu gosto de ti, e me irrita profundamente quando ouço as pessoas fazerem comentários maldosos a seu respeito. Eu não quero ver você cair na boca do povo. – respondeu Angela, com voz doce.
Laura todavia, não estava nem um pouco preocupada com os avisos da irmã. Por isso, assim que Angela encerrou a conversa, tratou logo de pedir para que ela saísse de seu quarto. 
Angela atendeu prontamente o pedido.
Nisso, Laura, aborrecida com o entrevero que tivera com a irmã, ao tentar dormir, só conseguia se virar na cama. Sim, o desentendimento fora sério. Para Laura, Angela havia ido longe demais. 
Porém, por mais raiva que tivesse de Angela, a moça não sabia que atitude tomar com relação a irmã. 
Como o apartamento em que viviam era de Angela, Laura não tinha nem como pedir para que ela saísse. Além disso, com seu salário de vendedora, não teria condições de manter um apartamento tão grande. Não bastasse isso, Laura não tinha como bancar uma casa sozinha. 
Todavia, as coisas não podiam continuar como estavam. Afinal de contas ela já era maior de idade e não cabia a Angela tomar conta de sua vida. 
Assim, irritada, Laura passou o restante da noite em claro. Incomodada com as palavras de Angela, a moça só conseguiu dormir quando já era dia claro. Por isso, precavida, ao sentir que o sono estava vindo, trancou a porta do quarto, deixando a chave lá e dormiu.
Fez bem.
Fez bem por que Angela, ao se levantar, foi logo chamar Laura para tomar o café. Se a porta estivesse encostada, fatalmente Angela, entraria no quarto e a obrigaria a se levantar, mesmo que ainda estivesse com sono.
Daí a razão do cuidado que Laura tivera.
Dito e feito. 
Angela, ao perceber que não era atendida, ameaçou entrar no quarto. Porém, ao virar a maçaneta, percebeu que a porta estava trancada. Aborrecida, começou a bater na porta, exigindo que Laura abrisse.
Como a moça dormia pesadamente, nem sequer ouviu o escândalo de Angela.
Enquanto isso, Angela, constatando que não seria atendida, desistiu. Desistiu e foi preparar o próprio café. Irritada com o comportamento de Laura, foi até bom que a moça estivesse dormindo, pois se aparecesse diante dela, fatalmente as duas acabariam brigando. 
Porém, conforme a tarde ía se acabando, Laura, finalmente acordou. Descansada, foi primeiramente, olhar pelo buraco da fechadura, para ver se Angela não estava por perto. Depois de verificar que a irmã aparentemente, não estava por ali, abriu a porta com todo o cuidado. 
Após abrir a porta, foi olhar para o corredor para ver se Angela não a estava espreitando. Atentamente, olhou para os dois lados como se estivesse atravessando uma rua. Tudo tranqüilo. Foi aí então, que com roupas na mão, a moça trancou novamente a porta do quarto e foi até ao banheiro.  
Lá Laura tomou um bom banho, e vestindo uma roupa leve, foi dar uma volta pela cidade. São Paulo nessa época, apesar de suas grandes dimensões, era uma cidade pacífica. Por isso, mesmo com a noite se aproximando, não havia problema nenhum em Laura sair de sua casa, ainda que sozinha, para passear pelas ruas da cidade.
E assim, foi caminhando sozinha que Laura conseguiu pensar melhor em sua vida, e tentou encontrar uma solução para tentar resolver seus problemas. Afinal de contas, não queria passar o resto de sua vida brigando com sua irmã. 
Isso por que, Angela, era a única família que possuía. Era sua única parente próxima, que ainda estava viva. Ademais, mesmo com muitos defeitos, Angela a acolhera. Não bastasse tê-la recebido em sua casa, Angela cuidou dela e terminou de criá-la. Isso por que, quando Laura se viu sozinha no mundo, não tinha mais do que doze anos. 
Assim, mesmo com as maiores implicâncias da irmã, Laura tinha uma grande consideração e gratidão por tudo o que Angela fizera por ela.
Por isso mesmo, nas inúmeras vezes que Benê criticou sua irmã, a moça fez questão de defendê-la. Isso por que, apesar de seu temperamento costumeiramente rude, Angela fizera muito por ela.
Mas Benê a despeito disso, considerava ainda assim, a atitude de Angela, muito exagerada. No entanto, não brigava com a amiga por isto.
Sim, Angela não era má pessoa. Talvez um pouco autoritária e mandona, mas fora generosa com ela no momento em que ela mais precisou.  
E assim pensando, Laura ficou a caminhar por horas. Nessas horas, passou por vários lugares, ouviu música e pessoas conversando ruidosamente. De longe, observou um casal de namorados que encantando com as estrelas, parou para admirar o firmamento.
Mais tarde, depois de muito pensar, a moça voltou para casa.
Ao entrar no apartamento, Laura viu Angela sentada num canto da sala, amuada, triste. Desanimada, a mulher não tinha nem ânimo para discutir com Laura – sua única irmã. 
Tudo por que Angela estava desapontada com o comportamento da irmã. Isso por que, para ela, Laura estava rebelde demais. Tão rebelde que Angela não conseguia entender por quê. Apesar de ser muito mais velha que Laura, Angela, também já  tivera dezoito anos. No entanto, em nenhum momento se comportara como a irmã.
Ao contrário, com menos de vinte anos, casou-se, para, com menos de cinco anos de casada, enviuvar. Sim, Angela ficou viúva muito cedo. Porém, a despeito de sua viuvez, a moça não ficou desamparada. Em razão de seu marido ser muitos anos mais velho que ela, já havia galgado um bom posto em seu trabalho e amealhado um bom patrimônio. Assim, quando faleceu, deixou Angela em boa situação financeira. Tão boa que Angela, mesmo ainda muito jovem, não precisou trabalhar.
E assim, mesmo viúva, logo após o falecimento dos pais, fez questão de levar Laura para sua casa e cuidar dela como se fora uma filha.   
 As duas então, lembrando-se disso, foram tomadas de um profundo sentimento de emoção. Laura então, ao ouvir de sua irmã, que ela só queria seu bem, ficou profundamente enternecida. Emocionada, a moça tratou logo de abraçar a irmã e dizer que lhe era muito grata por tudo que fizera por ela. E prosseguiu, dizendo:
-- E por mais que a gente brigue, se desentenda, nunca se esqueça disso, por que eu sempre vou me lembrar, de tudo o que você fez por mim. 
Angela ao ouvir as palavras da irmã, caiu no choro.
Laura ao ver que Angela chorava, comentou que não dissera aquilo para fazê-la chorar, e sim para tentar se desculpar pela última briga que tiveram.
Angela então, ao ouvir Laura, comentou:
-- Eu não estou chorando de tristeza. Eu estou emocionada. Nunca pensei que eu viveria para ouvir isso. Eu não esperava. Mas é muito bom ouvir que você reconhece o meu esforço. Obrigada minha querida. 
Nisso, Laura abraçou novamente a irmã, e as duas ficaram abraçadas, por um longo espaço de tempo. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.  

VEM DANÇAR COMIGO? - CAPÍTULO 3

No dia seguinte, quando comentou com sua amiga Benê sobre a recepção que tivera na noite anterior, Laura conseguiu deixar a amiga bastante ressabiada.
Benê, desconfiada da inesperada generosidade de Angela, fez mais uma vez questão de advertir a amiga, de que aquilo tudo poderia não passar de uma manobra para ganhar sua confiança e assim, manipulá-la.
Laura ao ouvir as palavras da amiga, comentou aborrecida:
-- Benedita, como pode pensar isso? Angela é minha irmã. Ela jamais faria nada para me prejudicar. Você sabe disso.
-- Saber? Eu não sei de nada Laura. A única coisa que eu sei, é que vocês duas nunca se deram bem, e agora, de uma hora para outra, sem quê nem pra quê, você me vem com uma conversa furada dizendo que ela está muito amorosa com você.
-- Ah, Benê! Por que você não pode dar um voto de confiança para ela? Afinal, não é você mesma que diz que todos nós temos direito a uma segunda oportunidade?
-- Sim, eu disse. – respondeu.
-- Além disso, Benê, Angela te convidou para cear em casa.
-- Ceiar? – perguntou surpresa.
Laura então riu. Depois comentou:
-- Não Benê. É cear.
Desconfiada, Benê respondeu:
-- Que seja! Esse papo de ceia não é comigo. Além disso, quem me garante que ela não está me convidando pra envenenar minha comida? Não sei não!
Laura, achando graça na desconfiança da amiga, respondeu:
-- Deixa disso Benê! Por acaso pensa que Angela é uma assassina? Que horror! Ela te convidou para ser gentil. Afinal de contas, ela sabe muito bem que nós somos muito amigas. Não é mesmo?
Benê concordou. Agradecida a amiga, chegou até a lhe dar um abraço.
Porém, por nada deste mundo jantaria com Angela. E assim, por mais que a amiga insistisse, nada a convencia.
Benê não gostava de Angela. Muito embora não a conhecesse pessoalmente, já sabia que ela não era uma boa pessoa. A julgar pela forma como ela tratava a irmã, não devia ser uma pessoa agradável. Por isso, sempre que a amiga vinha com essa conversa, Benê tratava logo de desconversar.
Cansada de ouvir a conversa da amiga a esse respeito, certa vez comentou que não queria mais ouvi-la falando desse convite, ou então se aborreceria com ela.
Não adiantou nada, pois Laura continuava insistindo.
Diante disso, Benê, que já não agüentava mais a insistência da amiga, acabou aceitando o convite. Contrariada, mas aceitou.
Assim, alguns dias depois, lá estava ela na casa de sua amiga e de Angela.
Embora Benê estivesse ressabiada, Angela a recebeu muito bem.
Preocupada em causar uma boa impressão em Benê, Angela deixou de lado certos formalismos.
Contudo, mesmo assim, Benedita, que não estava acostumada com certos pratos, achou muito estranha a forma como Angela serviu o jantar. Isso por que primeiramente, perguntou a ela se queria um aperitivo.
Benê, que não costuma beber, recusou imediatamente. Aborrecida chegou até a comentar que não bebia. Além disso, se tinha ido até lá para comer, por que a demora em servir o jantar?
Laura ao ouvir isso, pediu que a amiga não comentasse isso com Angela, ou ela ficaria muito desapontada.
Com isso, enquanto, Angela se desdobrava na cozinha, Laura fazia sala para sua amiga.
Nisso, quando então o jantar foi servido, Benê perguntou logo onde ficava o banheiro. Queria lavar as mãos. Depois, reuniu-se às irmãs e ceou.
Nessa época, como se pode ver, a paz reinava no lar das irmãs. Todavia, esta calmaria duraria pouco.
Foi só Laura começar a sair aos sábados a noite, que mais uma vez Angela se aborreceu com ela.
Isso por que Angela não conseguia entender tanta necessidade de sair. Por ser mais velha, Angela – que já fora casada –, não conseguia entender a mania da irmã em ficar tanto tempo longe de casa. Certa vez chegou até a comentar:
-- Já não basta a confusão que você arruma todos os dias comigo, ainda tem que ficar saindo todo sábado a noite, pra me afrontar?
-- Eu não estou te afrontando. Só estou tentando encontrar uma maneira de me divertir.
-- E para isso, você tem que sair todo sábado? Não dá para ficar ao menos de vez em quando em casa? É pedir muito?
Mas não adiantava. Laura não dava ouvido às reclamações da irmã. Assim, quando não brigava com Angela, deixava as reclamações dela de lado e mesmo diante de protestos, saía para se encontrar com Eugênia e Renata que já a esperavam do lado de fora do prédio.
Ao sair certa vez, vestida com um vestido justinho, todo colorido, a moça estava pronta para se divertir. Estava tão produzida que até suas amigas comentaram:
-- Deixou cair!
-- Eu vou me divertir. – respondeu Laura toda animada.
-- Então vamos? – perguntou Renata.
-- Vamos. – respondeu Laura.
Nisso as três caminharam em direção a um ponto de táxi. Foi assim que chegaram num badalado show. Ansiosas para assistir o espetáculo, as três foram logo se sentar.
Lá Laura se encantou com a apresentação. Suas amigas, aproveitando que o lugar estava cheio de rapazes, fizeram de tudo para se enturmar e arrumar um paquera. Porém, por mais que tentassem, nada conseguiam.
Decepcionadas, Eugênia e Renata no final da noite, ao conversarem com Laura, comentaram que a maioria dos rapazes que estavam no lugar já estavam acompanhados.
Laura então, percebendo o desânimo das amigas, comentou que era assim mesmo. Nem sempre elas conseguiriam companhia.
E assim, todas elas voltaram para casa. Dividindo as despesas do táxi, cada uma voltou para sua respectiva morada.
Nisso, Laura ao chegar em casa, entrou pé-ante-pé, no apartamento.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

VEM DANÇAR COMIGO? - CAPÍTULO 2

Embora Angela não soubesse, Laura estava no quarto, dormindo o sono dos justos. Assim, não poderia abrir a porta. Como estava dormindo, não escutava mais a barulheira da irmã.
Diante disto, Angela, muito embora estivesse aborrecida, não podia fazer nada. Só lhe restava esperar. E pacientemente esperou. Esperaria o tempo que fosse necessário. Não obstante sua obstinação em enquadrar a irmã, Angela não conseguiu continuar sua conversa. E assim, conforme as horas se passavam, não lhe restou outra alternativa, senão ir dormir. 
Depois, quando Laura acordou, mais do que depressa, se dirigiu ao banheiro. Lá tomou banho, trocou suas roupas e voltou ao quarto.
Como Angela sabia de seus horários, a moça teve o cuidado de se levantar mais cedo e se arrumar logo. Assim, teria uma chance de adiar sua conversa com a irmã. Isso por que, não tinha a menor vontade de enfrentá-la logo cedo. E assim, Laura logo que se aprontou, tratou de sair para o trabalho.
Como era ainda muito cedo, Laura teve a rara oportunidade de encontrar um ônibus vazio. Tão vazio que a moça podia escolher o lugar em que queria sentar.
Quando chegou a loja, a moça reparou que ainda era cedo. Assim, procurou algum estabelecimento que estivesse aberto aquela hora, para que pelo menos, pudesse tomar um café. Isso porque, dada a hora em que saiu de casa, Laura não tomou nem uma xícara de café. Por isso, precisava comer e beber alguma coisa.
Com isso, depois de andar algumas quadras, Laura acabou por encontrar um bar aberto. Pediu um café e uma coxinha, comeu e depois de pagar, saiu do lugar. 
Quando voltou para finalmente entrar na loja e começar a trabalhar, já era quase a hora em que entrava costumeiramente. Assim, ao se aproximar da loja, Laura percebeu que alguém já estava lá. Ao entrar na loja, Laura constatou que Ronaldo, havia chegado mais cedo. Quando o patrão a viu, espantou-se:
-- Mas o que a senhorita está fazendo aqui, a esta hora? Ainda não começou seu horário de trabalho.
-- Sim, eu sei. Mas como já estou aqui, eu já vou começar a organizar as coisas. O senhor não se importa, não é mesmo?
-- Me importar? Absolutamente. Pode começar.
E prontamente arrumou as mercadorias. Como Ronaldo lhe pedira, Laura cuidou também, de arrumar as vitrines. Diante disso, quando suas colegas chegaram, trataram de ajudá-la a organizar melhor as vitrines.
Conforme as datas comemorativas se aproximavam, Ronaldo passava a se preocupar em arranjar as vitrines de acordo com a época. Por isso, o trabalho extra.
Cuidadoso que era, mandou Renata e Eugênia irem até o depósito e pegar os arranjos que lá estavam, para colocarem nas vitrines. Assim, as duas foram mais que depressa até o depósito. Trazendo os enfeites, as duas ajudaram Laura a montar as novas vitrines da loja. Assim, quando a loja foi aberta ao público, tudo já estava devidamente organizado. 
Com isso, mais um dia de trabalho transcorreu para todas as funcionárias.
Laura mais uma vez retornou para casa.
Porém, como não estava nem um pouco interessada em se encontrar com a irmã, pediu a amiga Benê para ir fazer um passeio pela cidade. Mais tarde, depois de passar algum tempo com a amiga, Laura então decidiu-se a voltar para casa.
Quando chegou em casa, Laura encontrou Angela arrumando a mesa para o jantar. Surpresa, a moça chegou até a comentar:
-- Logo você, Angela, cuidando da cozinha?
Angela respondeu, um tanto quanto animada:
-- Minha querida Laura, eu sempre gostei de cozinhar, você bem sabe disso. O que eu não gosto é de ficar o dia inteiro na cozinha. 
-- Que bom! Eu acho ótimo quando você tem esses rompantes. Eu sempre adorei sua comida! – respondeu Laura num tom elogioso.
-- Muito obrigada! Mas se você gosta tanto assim do que eu faço, eu recomendo que vá tomar um banho. Anda, se apresse. 
Laura então tomou outro banho.
De roupa trocada a moça foi logo se sentar à mesa, e se regalou com um saboroso jantar preparado pela irmã. 
A mesa, ricamente posta, estava um verdadeiro primor. 
Por conta disso, Laura não se cansou de elogiar o apuro e esmero da irmã em preparar o jantar.
Angela agradeceu. Além disso, aproveitando a rara oportunidade em que as duas não estavam se desentendendo, sugeriu a Laura que um dia desses, convidasse Benê para jantar com elas. Dizendo que a amiga de sua irmã seria muito bem vinda, fez questão de convidá-la. 
Laura ao ouvir o convite, alegou que primeiro precisava consultar a amiga para saber se lhe interessava. 
Angela então disse:
-- Pois bem, insista com ela. Diga que ela não precisava fazer cerimônia. Amiga de minha irmã é minha amiga... Ah, propósito! Quando convidá-la, só me avise com antecedência. É que eu preciso preparar um saboroso repasto. Está bem?
Laura assentiu com a cabeça.
Nisso Angela, que conhecia o gosto da irmã por sobremesas, foi logo trazendo à mesa, uma de suas preferidas. 
Laura ao ver a sobremesa sendo posta, foi logo exclamando:
-- Bolo de coco e chocolate.  
Angela então perguntou:
-- Sim. Não gostou?
-- Mas é claro que eu gostei. Eu adoro esse bolo. Você sabe disso!
-- Sim, eu sei. Foi por isso que eu passei à tarde toda preparando este bolo todinho pra você... Por que eu sei que você adora. Está vendo como eu te conheço bem? 
Estranhamente, Angela estava muito carinhosa com a irmã. Sutil, agora conversava amigavelmente com Laura. Mais agradável do que de costume, surpreendeu a própria irmã, que esperava encontrá-la furiosa com seu comportamento do dia anterior. Mas não. Qual não foi a surpresa de Laura, ao ver Angela ser tão gentil. Por isso, feliz com a mudança da irmã, Laura nem sequer comentou sobre o incidente do dia anterior.
Feliz, quando foi dormir, a moça dormiu o sonho dos justos.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

VEM DANÇAR COMIGO? - CAPÍTULO 1

Anos sessentas. Nesta década começa a história de Laura, uma jovem moça, moradora da cidade de São Paulo. 
Das seis às sete horas da manhã, utilizando-se de um ônibus que circulava em seu bairro, Laura se dirige para o trabalho. Passa portanto, uma hora dentro de um ônibus cheio, lotado de pessoas, até finalmente chegar na loja em que trabalhava. 
Ao chegar ao trabalho, imediatamente entra na loja e começa a arrumar as mercadorias. Isso por que em uma hora a loja seria aberta para os consumidores. Assim, a moça precisava se apressar para organizar a loja. 
Com isso Laura verificava os estoques, e se havia necessidade de se pedir mais alguma mercadoria. Além disso, organizava as mercadorias em prateleiras no depósito. Laura também olhava o caixa, para ver se havia troco em caso de necessidade. Isso sem contar, na necessidade também de organizar as vitrines da loja, dada as diferentes coleções de produtos a serem vendidos. 
Ou seja, antes da abertura da loja, Laura já estava trabalhando a uma hora.
E assim, depois, de organizar a loja, a mesma era aberta, e começava a correria para se atender aos clientes. Os mais variados tipos deles. Desde gente indecisa, que fazia as vendedoras, inclusive ela, descerem a loja inteira, para no final decidirem que não iriam levar nada, até pessoas grosseiras, que as consideravam subalternas.
 Entretanto, para a sorte das funcionárias da loja, a maioria dos fregueses era educada. E assim, facilitavam o trabalho delas.
Isso por que o trabalho era intenso tendo em vista que a loja estava sempre movimentada. As vendedoras quase não tinham tempo para respirarem. No entanto, o mais complicado de tudo isso, não era o trabalho e sim, aturar a impaciência constante do chefe que as enlouquecia com suas exigências. Este, não admitia que os clientes ficassem esperando serem atendidos.
Para ele, quando alguém chegava na loja, tinha que ser atendido imediatamente.
E mesmo as moças tentando explicar que nem sempre estavam livres para atenderem todos os fregueses imediatamente, ele ainda continuava a reclamar.
Não havia argumentos para escusas, segundo ele. Tudo poderia ser melhorado.
Um dia, Laura sugeriu-lhe que contratasse mais uma funcionária para auxiliá-las no trabalho. Assim, poderiam realizar uma atendimento mais adequado.
No entanto, quando Ronaldo ouviu isso, ficou furioso. Como contratar mais uma funcionária? E o que ele já gastava com a folha de funcionários já contratados?
E assim, diante da resistência do patrão em contratar novos funcionários, não restou outra alternativa a moça, senão se calar.
Ao comentar o incidente com as colegas, as mesmas disseram:
-- Bem feito. Quem mandou você falar isso? Parece que não conhece o patrão que tem.
-- Eu sei, Benê. Falei demais. – concordou Laura.
-- Eu espero que isto te sirva de lição. Não provoque a fera.
-- Está certo, Benê. Este assunto, morre aqui.
-- Gente. Vamos mudar de assunto. O Senhor Rabugento está vindo pra cá. – alertou Eugênia.
-- Vamos mudar de assunto. – concordou Renata.
-- E então, Laura. Como vai o namoro? – perguntou Eugênia.
-- Não vai. Terminei. 
-- Ah, que pena. O rapaz parecia tão simpático. – comentou Renata.
-- Infelizmente, não deu certo.
Nisso Ronaldo se aproximou e tratou de dispersar as mulheres. Disse que não era hora de conversa. Em razão de ser hora do almoço, o patrão dividiu o horário em duas partes. Durante os primeiros quarenta minutos, Laura e Benedita saíam para almoçar, depois iriam Eugênia e Renata.
E assim, as duas amigas foram almoçar. E assim comentaram sobre incidente na loja. Ademais, preocupada, Benê já vinha há muito tempo alertando a amiga sobre o comportamento estranho de Angela. Achava que Laura devia tomar cuidado com ela.
No que a moça sempre retrucava:
-- Mas ela é minha irmã. Se eu não confiar nela, em quem eu vou confiar?
-- Mas você tem que tomar cuidado com ela sim. Ainda mais depois do que ela aprontou semana passada. – argumentou Benê.
-- Bobagem sua. Aquela foi uma discussão sem importância.
-- Quer dizer que, jogar na tua cara toda a ajuda que ela já te deu, por causa de um mal entendido, é bobagem. – ironizou.
-- É sim, a gente sempre brigou  por causa disso.
Com isso, diante da resistência da amiga em dar crédito para suas palavras, Benedita desistiu. Afinal, não queria brigar com Laura. A amizade das duas não merecia acabar por causa de uma divergência de opiniões. E assim, encerrou o assunto.
Assim, as duas terminaram o almoço e trataram de retornar ao trabalho. Em seguida, Eugênia e Renata saíram para almoçar.
Por volta de duas horas da tarde, o movimento da loja aumentou consideravelmente. Por isso, a tarde de trabalho seguiu-se atribulada.
Por fim, por volta das seis horas, Laura retornou do serviço. Cansada que estava foi direto para casa.
Lá, como de costume, Laura encontrou sua irmã lhe esperando na sala. Angela estava sentada no sofá lendo uma revista. 
Nesse instante Laura disse:
-- Boa noite.
Pronto, Angela havia encontrado uma deixa para enchê-la de perguntas.
-- Como foi o seu dia?
-- Corrido como todos os outros. – respondeu Laura secamente.
-- Nada de novo?
-- Não.
-- Então, por que a senhorita só chegando a esta hora em casa?
-- Por que eu estava trabalhando.
-- E como não me avisou que ía demorar?
-- Não deu. A tarde foi uma correria, mal tive tempo de tomar um copo d’água. Não deu para telefonar.
-- A mesma velha desculpa de sempre. E como é que para sair, você encontra tempo e disposição?
-- Por que eu não tenho um chefe chato na minha cola todo sábado a noite.
-- E isso muda tudo. Não é?
-- Muda sim ... Quer saber? Eu não vou ficar aqui, discutindo com você.
-- Escute aqui. Eu te conheço desde que você nasceu. Você me deve respeito e obediência. – argumentou Angela.
-- Eu não te devo nada. Você sabe muito bem disso.
Disse isso e foi para seu quarto. Ao entrar, Laura trancou a porta e se deitou em sua cama. Depois de um dia de trabalho, precisava descansar. O que não impediu sua irmã Angela, de ficar durante quinze minutos batendo em sua porta, exigindo-lhe explicações pela a atitude intempestiva.
Irritada, a mulher dizia que Laura não tinha o direito de destratá-la já que era ela que cuidava das duas. Enraivecida, Angela bateu na porta insistentemente, exigindo que a irmã a abrisse. 
No entanto, depois de muito esmurrar a porta, desistiu. Laura não abriria a porta para ela. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.   






TEMPOS DE OUTRORA - CAPÍTULO 29

Nisso a vida desses jovens prosseguiu.
Letícia mesmo sendo uma boa mãe para Antônio, continuava desafiando Álvaro. 
Isso por que, mesmo grávida, Letícia, continuava cavalgando sem parar. Dizendo que tinha que cuidar da propriedade onde morava, não falhava um dia.
Álvaro porém, não conseguia ficar calmo ao ver a mulher, segundo ele, se arriscando.
Nisso, Antônio, acompanhando a mãe, também aprendeu a andar a cavalo.
Álvaro, percebendo que não conseguiria convencê-la a parar, resolveu, depois de muito brigar, acompanhá-la em suas incursões pela propriedade. 
Enquanto isso, Horácio – detetive contratado por Rogério –, procurava saber por onde andava Júlio. 
Isso por que Letícia ansiava encontrar o amigo que em dos momentos mais difíceis de sua vida, a auxiliou. 
Nisso, quando finalmente o detetive encontrou o paradeiro dele, Letícia, esperançosa de voltar a ver o amigo, descobriu que o mesmo fora morto. Arrasada ao descobrir a verdade, não conseguia deixar de pensar que quem o havia matado fora Otávio. 
No entanto, essa era uma pergunta que nunca seria respondida. 
Isso por que, Otávio, que preferira a solidão a tornar a sofrer novas decepções, acabou vivendo os seus últimos dias sozinho. Mesmo quando seu filho apareceu para buscá-lo, Otávio se recusou a acompanhá-lo. Dizendo que preferia ficar sozinho, comentou que morreria ali.
Para Rafael, ouvir as palavras duras de seu pai, foi extremamente doloroso. Mas ciente da escolha que Otávio fizera, nunca mais voltou a vê-lo.
Com isso, Rogério, que gostava de Letícia, percebendo que nunca teria chances com ela, resolveu se casar com Margarida. A mesma que flertara Letícia, acreditando ser ela Ticiano.
Rafael também se casou com uma moça da Corte e vivendo por lá, se tornou guarda-livros.
Já Letícia, Antônio, Álvaro e Júlio, – o último, era o mais novo membro da família, que recebera este nome em homenagem a um grande amigo da moça –  faziam tudo para serem felizes.
Nisso Antônio que já era moço, começou a namorar uma jovem da região. Desta forma, dentro em breve ele também partiria.
Triste Letícia constatou que toda a sua vida se constituiu em despedidas. Álvaro, percebendo o desalento dela, comentou que apesar de doloridas, as despedidas eram inevitáveis. Além disso, todos um dia se deparavam com isso, até mesmo ele.
Letícia, com os olhos cheios de lágrimas, percebeu então que Álvaro também sofrera perdas. Muito jovem perdeu seus pais, e muito cedo teve que cuidar do patrimônio da família.
Ao ouvir as palavras do esposo, Letícia, percebeu então, que apesar de tudo, era uma pessoa de sorte. Afortunada por ter tido o privilégio de ter amigos com Rogério, ele, Rafael seu irmão, seus dois filhos Júlio e Antonio. Sortuda, por que pôde ter, mesmo que tardiamente uma família. Quantos não passavam a vida inteira sozinhos? Sim, apesar das tristezas, Letícia era uma pessoa de sorte. Amada por quase todos os que a conheciam, ainda que carregasse muitas tristezas em sua vida, ainda assim, possuía motivos para sorrir.
Pensando nisso, Letícia percebeu que era o chegado o tempo de ser feliz.  
Com isso, quando finalmente Antônio partiu, mesmo triste, Letícia não derramou uma lágrima. Feliz por seu filho estar buscando a felicidade, pediu a ele para que fosse eternamente feliz.
Antônio prometeu a mãe que nunca mais seria triste. Contente, pediu para que ela fizesse o mesmo. Letícia prometeu que o faria. 
Nisso, Julinho, que estava crescido, passou a acompanhar os pais em suas cavalgadas diárias. 
Essa era a lembrança mais querida dele. Isso por que, depois que os dois faleceram, era assim que ele gostava de se lembrar dos ambos. 
Com isso, Rafael e sua esposa, Rogério e Margarida, entre outros, ao saberem do passamento dos dois, ficaram pesarosos com a notícia. Por esta razão todos foram dar pêsames aos filhos do casal, Júlio e Antônio.
Júlio nessa época, já tinha quatorze anos, mas era ainda muito jovem para ficar sozinho. Por esta razão, passou a ser cuidado por Antônio. E mesmo tendo Antônio como irmão, nunca o desrespeitou. 
E assim Júlio, depois de viver toda a sua vida com os pais, agora tinha que se acostumar com uma nova família. Triste com a perda dos pais, ainda assim, só conseguia se lembrar dos momentos felizes com eles. 
Com isso Antônio assim como Júlio, adorava se lembrar das cavalgadas. 
Júlio também gostava de se lembrar de quando, mesmo em tempo de muito frio, passeava com eles a cavalo. E apesar do frio, sentia-se aconchegado por ter sempre a presença dos dois por perto.
Agora, não mais.   

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.