Poesias

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

TEMPOS DE OUTRORA - CAPÍTULO 12

Quando então retornaram a fazenda, tanto Tício quanto José, estavam cheios de novidades para contar.
Encantado, José não se cansou de comentar sobre o talento do jovem pupilo para realizar bons negócios. Afinal, não era qualquer um que conseguia convencer fazendeiros velhacos a vender algumas de suas melhores mercadorias, a um preço tão razoável. 
Isso porque, apesar de ter pago um bom preço pelos animais, os dois também adquiriram alguns bichos, só para fazer constar. Mas, o que lhes interessava, porém, eram os animais de raça. Todavia, para convencer os fazendeiros a realizarem a venda, os dois acabaram comprando os animais que também, não interessavam de imediato. 
Com isso, como José aceitou comprar até mesmo estes animais, os fazendeiros não tiveram outra alternativa, senão fazerem um pequeno abatimento no preço dos bichos.
E assim, no final da transação saíram lucrando. José, analisando comparativamente o que gastou em relação ao que ganhou, o fazendeiro teve um bom lucro. Muito embora, sem uma análise acurada, pudesse se chegar a uma conclusão contrária.
Mas José, que não era tolo, sabia que o jovem se revelara um talento como administrador.
Zeloso, Ticiano chegava a cuidar da fazenda, melhor do que ele próprio. Observador, José notou que agora que a fazenda estava aos cuidados de Ticiano, tudo estava funcionando melhor. Todos os animais estavam sendo bem tratados e bem treinados.
Dessarte, depois que Ticiano e José retornaram da viagem que empreenderam, mais do que depressa, passaram a pôr em prática a idéia que o jovem lhe dera. Os dois passaram a cuidar dos animais com maior esmero.
Durante tardes inteiras, Ticiano treinava os cavalos para que pudessem percorrer longos trechos. Para que todos aqueles que quisessem cavalgar, notassem que se tratam não só, de belos animais, mas também de excelentes conduções. Enfim, Ticiano queria que tudo estivesse perfeito para que pudesse realizar o evento que seu patrão almejava.
Para isso, o rapaz precisava cuidar dos menores detalhes. Como colaboradores, tinha todos os escravos e peões da fazenda para o ajudarem no trabalho.
Quanto a isso, José o advertira inúmeras vezes que ele não precisava mais realizar o serviço braçal igual aos outros. Afinal, já não era mais um simples peão, e muito menos um escravo.
Mas Ticiano afirmava que para ele não era sacrifício. Sempre gostou de seu trabalho. De maneiras que, para ele era uma grande satisfação trabalhar com os animais. Desde que chegou lá, se encantou com o ambiente da fazenda. 
Além do mais, o rapaz estava deveras interessado que o evento fosse um sucesso. Para isso não media esforços. Diversas vezes, Ticiano permaneceu entre os peões e escravos auxiliando-os em suas tarefas. Cuidadoso, o rapaz explicava minuciosamente como os animais deveriam ser tratados.
Ademais, depois de ficar por horas observando e auxiliando os peões e escravos em seu labor, Ticiano cuidava da contabilidade e de outros serviços relacionados a propriedade. Entusiasmado com seu trabalho, Ticiano aproveitava sempre que podia, para conversar com  José a respeito da organização da festa.
Isso porque, se tudo desse certo, Tício consolidaria sua confiança com a família, e principalmente com o patriarca, José. Por esta razão, o rapaz, empenhou-se o máximo na organização do evento. Nada poderia dar errado.
E assim foi. Enquanto se passavam os dias, mais e mais Ticiano se empenhava na organização do evento.
Determinado, o rapaz ajudou os peões e escravos a treinarem os animais, bem como organizou a fazenda para que se realizasse o evento. Afinal não poderia deixar que os convidados ficassem mal instalados. Por isso Ticiano cuidou para que fossem providenciadas mesas, cadeiras, entre outras coisas.
Contudo, no tocante a decoração e arrumação do local, quem cuidou pessoalmente de todos os detalhes, foi Catarina.
Encantada, diante da possibilidade de organizar uma grande celebração, não poupou esforços. Encomendou diversas peças, criou arranjos de flores, e enfeitou as mesas com eles. Também pensando na fome dos convivas, teve o cuidado de elaborar, juntamente com suas escravas, um cardápio, para que assim, quando quisessem, pudessem pedir algo para comer.
Para tanto, foi preciso chamar mais escravas para cuidarem da cozinha. Afinal, seria muita gente para participar do evento, e assim, nada poderia dar errado. E assim foi feito. 
Quando finalmente o evento aconteceu, foi impecável. Os convidados não se cansavam de elogiar a qualidade do evento. Tudo estava impecável. A disposição do espaço, as comidas, as bebidas, a apresentação do evento – que se deu com um belo desfile de cavalos – e a exposição dos animais – bois, vacas e cavalos.
Entusiasmados, muitos dos convidados adquiriram dos animais em leilão.
Enfim, os convivas não tinham do que reclamar. Tudo estava perfeito. E por esta razão, todos saíram satisfeitos.
Além disso, para a alegria de José, o evento foi tão bem comentado, que chegou até a ser nota de um jornal conhecido na Capital.
Neste jornal, em uma discreta nota, comentava-se que fora realizada há alguns dias, a primeira edição de um evento que deveria prosseguir, na região de Vassouras. Conforme a própria nota expunha, todos os convidados não se cansaram de elogiar a qualidade do evento, digno das melhores menções, e comparável, com os grandes eventos da Capital.
O fazendeiro, ao ler a tal nota elogiosa, se encheu de orgulho. Afinal, não é todo dia que uma bela propriedade como aquela, vira notícia em um jornal. Sem contar que, com tanta divulgação, se houvesse um próximo evento, o mesmo estaria muito mais freqüentado do que o primeiro. 
Tal dar-se conta disso, José ficou mais animado. Contente, o fazendeiro descobriu que isso lhe poderia trazer retorno financeiro, e para  que isso o ocorresse, não mediria esforços. Por esta razão, José cogitava a idéia de organizar um novo evento, no próximo ano. Para tanto, precisava se organizar para que pudesse receber mais pessoas. Com relação a isso, sabia que poderia contar com a ajuda de seu administrador.
Aliás foi dele que partiu a idéia de organizar o evento na fazenda.
Quanto a isso aliás, José teve que admitir. Escolhera muito bem o seu braço direito.
Por esta razão, Ticiano, que era um excelente peão, tornou-se um ótimo administrador. 
Durante o tempo em que exerceu esta função, o fazendeiro não teve do que reclamar. 
Responsável e disciplinado, Ticiano era além disso, uma pessoa de confiança.
Mas, como nada dura eternamente, Ticiano, por uma infelicidade, foi afastado do cargo.
Por conta das intrigas de Tereza, acabou sendo mandado embora.
Isso por que, a maldosa garota, enraivecida com o desprezo do jovem, resolveu se vingar. Como sabia que não conseguiria nada com o rapaz, Tereza tramou um plano contra ele. Por semanas, a moça planejou cuidadosamente sua vingança.
Por esta razão, tentaria mais uma vez, entrar em sua casa. 
E assim, entrando furtivamente na casa do rapaz, Tereza foi logo se escondendo embaixo de sua cama. Assim, quando o rapaz entrasse em casa, não a veria, e quando a visse, já seria tarde. 
Maliciosa, a garota queria mais do que tudo, comprometê-lo. De modos que, para isso, não mediria esforços. De forma alguma o deixaria escapar de tão vexatória situação.
Desta forma, da mesma maneira que tentou seduzi-lo durante a festa, tentando arrumar um encontro furtivo, a moça forçou um encontro entre os dois. 
Destarte, para comprometê-lo mais ainda, Tereza esperou que o rapaz tirasse sua camisa. 
Contudo, diferente do que imaginava, Ticiano, logo que chegou em casa, procurou um lampião que tinha num dos cômodos da nova casa em que estava, e foi para seu quarto. Lá abriu o livro que estava junto à cabeceira de sua bem arrumada cama e pôs-se a ler.
Absorvido por tudo o que estava lendo, nem se deu conta de que uma estranha estava escondida debaixo de sua cama. 
Com isso ao constatar então, que o rapaz estava lendo um livro, Tereza continuou quieta, e esperou pacientemente as horas passarem. Atenta a moça ansiava por encrencá-lo, e para isso, faria o que fosse necessário.
E assim, Tereza por horas ficou esperando.
Nisso o rapaz permaneceu por muito tempo, entretido com sua leitura.
Não obstante isto, ao perceber que já era tarde, Ticiano tratou de preparar-se para o banho. Assim, dirigiu-se até a sede e pediu para uma das escravas que enchesse uma imensa tina que havia na casa, com água.
Dessa forma foi feito. 
Entretanto, ao sair da nova casa de Ticiano, a escrava percebeu que havia um lenço caído no chão. Ao aproximar-se, constatou que o mesmo era da Senhorita Tereza. 
Confusa por isso, a escrava tratou de voltar logo para a sede. Apreensiva precisava contar para Dona Catarina, que sua filha estava visitando a casa de Ticiano. Assim, ao adentrar a sede da fazenda, imediatamente, foi ter com a mãe de Tereza.
Como sempre, a esta hora, sua Sinhá, como costumava chamar, estava na cozinha, dando as últimas instruções para as escravas, sobre o trabalho do dia seguinte. Era um hábito de Catarina, pois antes do dia começar, as escravas já estavam devidamente instruídas sobre o que deveriam fazer no dia seguinte.
Com isso, ao chegar, a escrava foi diretamente para a cozinha, onde com toda a certeza, Dona Catarina estaria. Ao vê-la passando as instruções para os escravos, foi logo puxada por um deles, para que ouvisse tudo o que a senhora estava falando.
Depois, devidamente instruídos sobre os afazeres do dia seguinte, todos se recolheram, com exceção da aludida que escrava – que viu o lenço de Tereza jogado em um dos cantos da casa de Ticiano.
Sem graça, a mulher começou dizendo que não era fofoqueira, e que somente estava preocupada em resguardar a moral da família. Assim, não podia admitir, que a dignidade da família fosse conspurcada com uma atitude inconveniente de Tereza.
Confusa, Catarina passou a admoestar a escrava, dizendo-lhe que não deveria ser tão atrevida, já que estava falando de sua filha.
Diante disso, ao ver-se acuada diante da arrogância da dona da casa, só restou-lhe dizer que vira o lenço da moça jogado no chão, num dos cantos da casa de Ticiano. 
Como prova, a escrava apresentou o lenço.
Diante disto Catarina não tinha como argumentar. 
Por isso, mais que depressa, dirigiu-se ao quarto da filha. No entanto, ao contrário do que imaginava, não encontrou sua filha ali. Desconfiada, dirigiu-se, acompanhada da escrava delatora, até a casa do jovem.
E assim, quando o jovem estava se preparando para dormir, ouviu fortes batidas na porta. 
Como estava descomposto para receber quem quer que fosse, Ticiano pediu um momento.
Mas, furiosa que estava, Catarina começou a falar alto, ordenando-lhe que abrisse a porta.
Com isso, em razão do escândalo que ameaçava se formar, a Ticiano não restou outra alternativa senão abrir a porta, para que a dama, pudesse entrar. 
Desta forma, logo que abriu a porta, Ticiano desculpou-se por estar em trajes tão impróprios, posto que estava se preparando para dormir. 
Desabrida, ao ouvir as palavras do mancebo, Catarina disse-lhe que não precisava se justificar. Contudo, deveria proibir a entrada de Tereza naquela casa.
Atônito, Ticiano respondeu:
-- Eu não sei do que a senhora está falando.
No que esta afirmou, já invadindo a casa:
-- Não sabe é? Mas vai saber logo que eu encontrar minha filha. E dependendo do que eu ver, o senhor vai estar bem encrencado, rapazote.
E assim Catarina passou a procurar em todos os cômodos da casa pela filha. Alvoroçada revistou sala, banheiro e o quarto.
Ao revistar o quarto, Catarina encontrou Tereza, semi despida, deitada na cama do rapaz. 
Ao verem a cena, tanto Ticiano quanto Catarina, ficaram surpresos.
Nenhum dos dois esperava por isso, mas para o rapaz foi pior. Como a moça foi encontrada em sua casa, mais precisamente em sua cama, tanto Catarina, como o pai da moça, – depois de saber do ocorrido – chegaram a conclusão de algo mais, teria acontecido ali.
Tereza, então, conseguiu o queria. Finalmente enredou o rapaz. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.  

TEMPOS DE OUTRORA - CAPÍTULO 11

A despeito disso, passemos a tratativa. 
Foi assim. Ticiano, juntamente com os fazendeiros, foram fazer uma pequena incursão pela cidade. 
Gentis, os homens se ofereceram para buscá-lo no hotel em que estava hospedado.
Ticiano agradeceu a oferta. 
No caminho, os homens conversaram sobre amenidades. Animados, comentaram sobre o local onde iriam. Um luxuoso restaurante da cidade.
Ao lá chegarem, foram logo convidados para se sentarem num dos melhores lugares do restaurante. E assim, enquanto bebiam, passaram a conversar sobre seus negócios, seus animais e suas fazendas.
Donos de belíssimas propriedades nas proximidades da Capital, não se cansavam de enumerar as belezas que possuíam. Donos de belos palacetes na cidade, não costumavam se hospedar em hotéis. 
Isso por que, a cidade do Rio de Janeiro, era uma espécie de lar para eles. Fora suas fazendas, ali era o lugar em que passavam a maior parte do tempo. 
Alguns deles inclusive, pensavam em investir em indústrias. 
No entanto, não obstante isso, quando os demais fazendeiros – que não consideravam tal atividade, um bom negócio –, ouviram isso, não puderam se conter. Admirados, questionavam os amigos. Incrédulos, achavam que investir na atividade industrial, era muito arriscado. Convencidos de que tal prática resultaria em perda de dinheiro. Não se cansaram de dizer:
-- Isso é uma temeridade.
Mas os interessados nesse ramo, retrucaram:
-- Não seremos loucos de investir todo o nosso patrimônio nisso. Mas queremos investir em indústrias. Podemos começar, plantando os insumos necessários para que possamos abastecer uma tecelagem.
-- Ora, caros amigos. Não seremos loucos. Sabemos o que estamos fazendo. O que não podemos, é apostar tudo na pecuária. Precisamos também da agricultura. – emendou outro dos cavalheiros que estavam à mesa.
-- Então vocês querem seguir os passos do Visconde de Mauá. O progresso do país, em primeiro lugar. – respondeu um dos detratores da idéia. 
-- Ora, deixem de ironias. Indústrias também dão dinheiro. – respondeu um dos defensores da industrialização.
-- Está certo. Não se fala mais nisso. Meus caros visionários, o futuro a Deus pertence. E seja o que Ele quiser. – retrucou um dos fazendeiros céticos quanto a essa questão.
E assim, encerrou-se a discussão. 
Contudo, restavam questões a serem discutidas. Como a venda dos animais por exemplo. 
No tocante a isso, Ticiano já tinha uma proposta, e antes mesmo da ceia chegar, os homens já haviam chegado a um acordo quanto a venda. 
Para a surpresa até mesmo do rapaz, não demorou para que muitos dos que ali estavam, concordassem com a sua proposta.
E realmente, era uma proposta tentadora. 
Ticiano se oferecera para comprar alguns dos animais que os fazendeiros queriam vender, mas que não interessavam a José. Contudo, para comprá-los, os fazendeiros teriam que vender alguns dos belos animais que expuseram em eventos nos ele quais esteve presente. Devido a nobreza dessas raças, lhe interessava deveras a aquisição dos mesmos.
E assim, dada a natureza da oferta, e o preço que ofereceram, os fazendeiros não tiveram dúvidas. Acabaram por concordar em vender boa parte dos animais que estiveram em exposição em vários eventos dos quais participaram.
 O que para o jovem, foi uma ótima oportunidade de mostrar que ele sabia como ninguém, convencer alguém, a fazer alguma coisa.
Com isso, um dos fazendeiros presente à mesa respondeu:
-- Depois de uma boa rodada de negociações, nada melhor do que cearmos, agora.
No que, todos, satisfeitos com a transação, concordaram. 
Em seguida, todos se serviram e provaram das deliciosas iguarias do restaurante. 
Enquanto cearam, os fazendeiros aproveitavam para comentar sobre os mais variados assuntos.
Enfim, depois da tensão dos negócios, o jantar terminou informalmente. 
Curiosamente, todos eles conversavam como velhos amigos. 
Até mesmo o jovem e calado Ticiano, conversou um pouco com eles. Brevemente comentou que estava ali representando um também fazendeiro de nome José Vieira. Isso porque, por ser jovem, todos se espantaram com a possibilidade de que o mesmo pudesse ser proprietário de terras. Assim, para que pudesse negociar com os mesmos, precisou contar que era somente, um administrador. 
Ademais, Ticiano comentou também, que José, era um ilustre e respeitado fazendeiro da região interiorana da província.
Interessados, os integrantes da mesa logo quiseram saber, qual a razão do mesmo não estar ali presente.
Ticiano explicou-lhes então, que o mesmo estava ocupado no momento, e infelizmente, não pudera participar da negociação. Por disso, ele tinha carta branca para negociar. Estava autorizado portanto, a realizar qualquer transação, mesmo sem a presença de José.
Por fim, a ceia transcorreu as mil maravilhas.
No dia seguinte, José, ao saber da tratativa pelo próprio Ticiano, constatou satisfeito, que a negociação ocorreu maravilhosamente bem. 
Demasiadamente feliz, não poupou elogios ao mancebo: 
-- Tício, vosmecê realmente sabe trabalhar. Realmente, eu fiz bem em te escolher como meu administrador. Meus parabéns Tício.
De tão feliz, José nem se deu conta que chamava o rapaz por um apelido. 
Neste momento em diante, José nunca mais deixou de chamá-lo assim. Ticiano, era para ele como um filho. Diferente de Tiago, o rapaz era muito esforçado, dedicado. Mesmo sem professores, sempre que podia, aproveitava o tempo livre para estudar.
Admiravelmente, além de determinação, o rapaz era bastante instruído. O que era curioso, já que, para todos os efeitos, o rapaz tinha origem humilde.
Mas, mesmo assim, José depositava muita confiança no jovem mancebo.
Como já dito anteriormente, Ticiano nunca lhe dera motivos para que desconfiasse de seu caráter. Era um homem bom. 
E além disso, começava a lhe dar lucros.
Como a negociação fora proveitosa, na hora de retornarem para a fazenda, Tício e José tiveram que organizar um comboio para transportar os animais que haviam adquirido durante a estada na cidade do Rio de Janeiro.
Assim, em tendo sido a viagem profícua, os dois voltaram para casa, abarrotados de aquisições. Realmente, não tinham do que reclamar.
Percorreram as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, realizando negócios. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.   

TEMPOS DE OUTRORA - CAPÍTULO 10

E juntos, seguiram para a Capital da Província. Ao lá chegarem, ficaram hospedados em dos luxuosos hotéis que existiam na região. Tratados como reis, José e Ticiano, logo foram verificar os eventos que estavam acontecendo na cidade. 
Assim, entre passeios e diversão, os dois foram se informando sobre os principais eventos que estavam por acontecer. De posse dessas informações, Tício e José passaram então a freqüentar esses eventos. Ticiano então, teve uma idéia.
Animado Ticiano comentou com José, se quem sabe, o segredo não fosse ele também organizar eventos como aqueles da região. Assim José poderia atrair investidores da Capital, para o interior da Província, para a localidade onde viviam.
Interessado, José quis saber mais sobre as idéias de Ticiano. E assim, os dois ficaram conversando. Enquanto José adquiria novos animais para sua fazenda, Ticiano lhe expunha suas idéias sobre como criar um evento desses na localidade em que viviam.
Observador, Ticiano perguntou ao fazendeiro, se este também não tinha interesse em vender alguns animais. 
No que José respondeu:
-- No momento, não estou interessado em me desfazer dos meus animais. Ainda mais agora, que estou pensando seriamente em comprar sua idéia e realizar um evento desses em minha fazenda. Diante disso, acho melhor não me desfazer dos animais.
-- Então, o senhor pretende colocar em prática a idéia? – perguntou encantado.
-- E por que não? É uma ótima idéia.
Realmente, a idéia era muito boa.
Mas, no entanto, enquanto estivessem por lá, o que interessava a José, era somente seu trabalho. 
Como bom fazendeiro que era, logo adquiriu bons animais para sua fazenda. Ambicioso, intencionava ampliar seus negócios. Para isso no entanto, precisava aumentar sua criação de animais, comprar mais terras, e ter alguém de confiança, para ajudá-lo a administrar tudo isso.
Ademais, com a idéia de Ticiano, José passou a pensar também, em criar um evento de grande porte na região, para que pudesse tornar o lugar conhecido e ali mesmo se realizassem bons negócios.
Assim, cada vez mais, José ficava satisfeito com a escolha. Ticiano era o homem certo para ajudá-lo a pôr em prática os seus projetos. Por essa razão, tencionava investir no jovem.
Por isto, durante a estada na cidade, os dois foram visitar museus, teatros. Conheceram o Teatro Municipal, visitaram algumas lojas. Aliás, no tocante as lojas, José, ao avistá-las, tratou logo de entrar em várias delas. Precisava comprar alguns presentes para a esposa e os filhos.
Gentil, apesar das inúmeras roupas que mandara fazer para Ticiano, comprou-lhe ainda uma bela capa, para o rapaz.
No que o mesmo, agradecido, respondeu-lhe que não precisava se incomodar.
Mas ele, satisfeito que estava com o desempenho do rapaz, que demonstrava ser um bom administrador, não se fez de rogado, e comprou-lhe logo um belo presente.
Encantado com a cidade, Ticiano pediu licença ao patrão, para que pudesse visitar o Jardim Botânico.
Ao ouvir isso, o fazendeiro ficou admirado. Então Ticiano conhecia a cidade?
O rapaz então, ao perceber o olhar curioso do patrão, tratou logo de explicar.
A despeito da desconfiança do patrão, não era nada daquilo do que ele estava pensando.
Ticiano somente queria conhecer um dos lugares famosos da Capital. Afinal, desde que era criança, já ouvira falar do famoso Jardim Botânico. Em muito dos livros que lera inclusive, havia inúmeros comentários sobre a tão famosa cidade.
José, então, ao ouvir isso, tranqüilizou-se. Gentil, até ofereceu-se para acompanhar o jovem.
Contudo, Tício recusou educadamente a companhia. Disse que preferia ir sozinho, se o fazendeiro não se incomodasse. Pois somente queria visitar alguns lugares.
Calmamente Ticiano disse-lhe que queria apenas conhecer os detalhes dos pontos turísticos da cidade. Além do mais, queria dar uma boa caminhada. 
Dessarte, também queria ficar um pouco sozinho. Gostava dessa solidão. 
E, apesar de não ter contado ao patrão, queria matar as saudades de um tempo que já passou.  
E assim o fez. Passeou pelas ruas da cidade, reviu lojas, construções, casas. Lindos lugares. De charrete, chegou ao Jardim Botânico. 
Ao adentrar o imponente lugar, veio a lembrança, cenas de um tempo antigo, de coisas acontecidas, não se sabe com quem.
O rapaz então, passou a lembrar-se do jardim, das crianças brincando felizes, no amplo quintal que eram as terras do lugar. Veio-lhe a imagem de uma carruagem se aproximando, um homem descendo.
Lembrou-se da mulher se recusando a atender o estranho homem. 
Lembrou-se dos sonhos, dos momentos em que torturado, só queria deixar de sonhar com isso. Mas, seu esforço era inútil.
Triste, sentou-se em um canto, e taciturno, lembrou-se que já estivera ali. Foi então que veio a memória uma imagem curiosa. Uma jovem mulher, a segurar um ramalhete de flores, e ao seu lado, um homem que parecia ser o seu marido. Estavam felizes. De longe se percebia que estavam rindo.
Foi então que, incontido, Ticiano se pôs a chorar. 
Mesmo sem entender direito por que, o rapaz sentia uma necessidade quase desesperada de chorar. Contudo, não poderia fazê-lo diante de José, pois o fazendeiro estranharia.
Daí a necessidade imensa e urgente de ficar sozinho. Precisava por em ordem seus pensamentos. Precisava também encontrar um jeito de voltar para a fazenda, o mais depressa possível. Queria fugir daquelas imagens. 
Mas sabia também, que só poderia retornar, quando José resolvesse todos os seus problemas. Assim, por mais que quisesse, não poderia sair da cidade, enquanto o fazendeiro, não participasse de todos os eventos que o interessavam.
Com isso, Ticiano não poderia chamar a atenção. Não queria que José lhe fizesse perguntas embaraçosas. 
Em razão disso, permaneceu silente durante os dias que se passaram. Não comentou com ninguém sobre o que sucedera no parque. Simplesmente disse ao fazendeiro, que o lugar era realmente tão lindo quanto lhe contaram. Uma beleza.
Mas, José observador que era, percebeu que algo estranho acontecera.
O rapaz parecia mais taciturno do que antes. Estranhamente, desde o dia da visita no parque, o moço ficara esquisito. Isso porque, apesar de Ticiano não ser muito de conversas, nos últimos tempos, estava realmente muito calado.
Muito calado e tristonho, nem parecia o mesmo rapaz interessado em conhecer melhor o mundo dos eventos com animais. 
Muitas vezes, embora se esforçasse para demonstrar interesse, em alguns momentos, se distanciava de tudo o cercava, e ficava com o olhar parado. Distraído, Ticiano estava com os pensamentos em outro lugar.
Diante disso, José, preocupado, perguntou ao jovem:
-- O te preocupa Ticiano? Algum problema?
-- Não. – respondeu lacônico.
-- Mas então, se não é um problema, o que te deixou tão casmurro?
-- Nada.
-- Alguma coisa te aborreceu?
-- Não. Nada. Só estou com um pouco de dor de cabeça. – disse desculpando-se.
-- Realmente, esta dor de cabeça deve ser muito forte. Há dias que vosmecê quase não fala. Mal repara no que acontece a sua volta.
-- Me desculpe Seu José. Não havia me dado conta de estava tão desconcentrado. Mas prometo que a partir de hoje isso não vai mais se repetir.
-- Ticiano, você não tem que me pedir desculpas. Mas estou deveras preocupado com vosmecê. Não pareces nada bem.
-- Não Seu José. Não se preocupe, vou melhorar.
-- Espero que sim. Se não tiver melhoras, procure um médico.
-- Assim o farei, se isto for necessário. – disse e então se afastou.
E assim, muito embora não tivesse convencido de que se tratava apenas de uma dor de cabeça, José não tocou mais no assunto. Ocupado que estava com seus negócios, precisava visitar alguns eventos. De formas que, certo dia não chegou nem a ver o rapaz. 
Isso por que, conforme o combinado, enquanto ele resolvia assuntos particulares, Ticiano tentaria negociar a compra de mais alguns animais. 
Com isso José, passara a testar a habilidade do empregado em realizar bons negócios.
Mais tarde, José soube por conhecidos, que o jovem passara a tarde inteira com alguns fazendeiros, fechando o negócio. Ademais, interessado, Ticiano ofereceu-se para acompanhá-los em suas incursões noite afora. 
Ao ouvir notícia tão alvissareira, José ficou satisfeito. Sim, o jovem Tício estava correspondendo suas expectativas.
Curiosamente, desde que o vira pela primeira vez, sujo, maltratado, e depois, ao conversar com ele, José sempre tivera a sensação de que o rapaz era diferente dos demais. Foi então que o fazendeiro se lembrou, da desconfiança que sentira, quando conversou com o rapaz. Parecia que ele tinha bem mais a dizer do que realmente falou.
Mas, ao ver-se novamente intrigado com o misterioso mancebo, José tratou de dissipar suas dúvidas. Afinal nesses dois anos o rapaz não lhe dera trabalho. Aliás, ao contrário, desde que pôs os pés na fazenda, Tício nunca deu motivos para que José lhe chamasse a atenção. Sempre foi um bom empregado. 
José, não tinha queixas portanto, a seu respeito. Mas curioso, gostaria de saber mais sobre sua vida.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.  

TEMPOS DE OUTRORA - CAPÍTULO 9

Quanto a Tereza, enquanto o jovem trabalhou na fazenda, esta não perdeu a oportunidade de se aproximar dele, de vê-lo trabalhar.
Maliciosa, começou a criar incidentes envolvendo o jovem. Alegava que ele vinha conversar com ela, que a procurava na sede, e que constrangida, não sabia mais como dizer-lhe que não estava interessada em seu assédio.
Sobre tais mentiras, perguntou com a mãe, Catarina, sobre o que fazer para se livrar do assédio de Ticiano.
Ao ouvir isso, Dona Catarina ficou chocada. Surpresa, nunca imaginou que o rapaz, fosse capaz de tamanha desconsideração com seu marido. Afinal, ele havia lhe promovido de função. Demonstração inequívoca de confiança. 
Como poderia então, Ticiano, aprontar uma coisa dessas? Pensava ela.
E assim, prevenida contra o jovem, que não havia feito nada de errado, foi ter com o marido. Afinal de contas, não poderia deixar de lado, as preocupações da filha.
José, contudo, ao ouvir tal história, ficou admirado. Isso por que, já havia pedido a todos, que vigiassem sua filha. 
Diante disso, José exigiu da esposa, que passasse a ser mais vigilante.
Abismada, Catarina, ao ver o pouco caso do marido, exigiu que o mesmo tomasse providências a respeito do assunto. 
E assim, José, prevenido sobre o interesse da filha pelo rapaz, pediu a Ticiano que realizasse um trabalho na Capital da Província. 
Surpreso, Ticiano lhe perguntou se outra pessoa não poderia realizar a tarefa, já que havia tanta coisa a se fazer na fazenda.
No que José, ao perceber a reticência de Tício, a aceitar o encargo, perguntou:
-- O que tem na Capital, que tem aflige tanto? Por um acaso, vosmecê é de lá?
-- Não, não sou. É que eu estou me acostumando ainda com o novo trabalho. Assim, gostaria de me inteirar mais sobre os assuntos da fazenda. Com isso, conhecendo melhor o meu trabalho, poderia desempenhar melhor minhas funções. Quem sabe até viajar, e realizar negócios para o senhor.
Diante disso, José, ao perceber que a preocupação do jovem tinha fundamento, deixou suas desconfianças de lado. No entanto, continuou a insistir com Ticiano, para que empreendesse a viagem.
Diante disso, o fazendeiro ao perceber que o jovem ainda não se sentia seguro para realizar o trabalho, comprometeu-se dizendo que iria acompanhá-lo em tal jornada.
Com isso, não restou ao jovem, senão concordar com o oferecimento do patrão, e viajar.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.  

TEMPOS DE OUTRORA - CAPÍTULO 8

Com isso como bom cumpridor de seus deveres, Ticiano chegou a sede da fazenda, prontamente, às sete horas da manhã. 
Ao adentrar a propriedade o rapaz foi saudado pelo fazendeiro e agora amigo, José.
Ao vê-lo em pé, ao lado da porta, o fazendeiro tratou logo de convidá-lo para tomar café com ele.
Ao sentar-se, Ticiano percebeu que Tereza se aproximava da mesa. Com isso, mais que depressa o rapaz se levantou e ajeitou uma das cadeiras da mesa para que ela pudesse se sentar. No que a moça agradeceu e se sentou.
José, ao ver a cena, estranhou a atitude da filha. Mas não a advertiu, dado que precisava conversar  com Tício. E assim, passou a tratar dos assuntos da fazenda. 
Enquanto José e sua filha se deliciavam com os quitutes, comendo ambos, regaladamente, Ticiano, timidamente comia as porções de um bolo de fubá. 
José, estranhou o pouco apetite do rapaz. Muito embora fosse ainda muito cedo, sabia que trabalhadores como ele se alimentavam muito bem. Por isso insistiu para que ele comesse um pouco mais. E assim, colocou um pedaço de torta no prato do rapaz, mais um pouco de café em sua xícara, e pediu para que as escravas providenciassem mais frutas. E assim, continuaram o café.
Com isso ao terminarem o café da manhã, a conversa continuou. Ticiano e José, passaram a tarde toda conversando sobre a fazenda. O fazendeiro queria inteirá-lo de tudo. 
Por isso José passou a explicar detalhadamente os seus planos. Desta forma o fazendeiro falou da criação de animais, de seus cuidados, e do preparo para competições.
No tocante a isso, Tício afirmou que já estava mais do que acostumado com o trabalho. Desde que lá chegara, era só o que fazia.
Quanto a isso, José concordou. 
Contudo o fazendeiro também precisava inteirá-lo da contabilidade. Dos gastos com produtos com animais, dos salários dos peões, enfim de tudo o que dizia respeito ao bom andamento da fazenda. Cuidadoso, não se furtou nos menores detalhes. Chegou até a mostrar os livros com os lançamentos contábeis. 
Por essa razão, Ticiano precisava apresentar-se condignamente. Para exercer uma função com tantas responsabilidades, precisava se trajar à altura do encargo.
Assim, ao longo de três semanas, os trajes ficaram prontos. 
Magníficos trajes. Vestido com eles, Ticiano pareceria um rei. Com seu porte elegante e boas maneiras, nem de longe daria a impressão de um rude peão.
Para tanto, o jovem precisava experimentar as roupas. 
E assim foi feito. Para isso José indicou-lhe o quarto dos hóspedes, para que lá o rapaz se vestisse. Assim que estivesse pronto, Ticiano deveria apresentar-se na sala. 
Diante disso, Ticiano tratou de colocar umas das roupas que lhe deram. Uma calça marrom, camisa branca, e uma capa escura. 
Ticiano ao vestir-se com as roupas feitas pela serviçal, mais parecia um nobre. 
Mas, desacostumado que estava com as roupas, ficou um pouco constrangido em usá-las. Portanto, tratou de tirar a roupa nova e em seu lugar, colocar a sua velha roupa surrada. Alegando de que não era necessário o incômodo, Ticiano quis devolvê-las ao patrão. 
No que este, recusou-se veementemente a aceitá-las. Bravo, respondeu que não teria o fazer com as roupas, já que estas eram um presente seu para ele.  José afirmou ainda, que, se houvesse recusa em aceitá-las, se sentiria deveras ofendido. E ainda, ao vê-lo com seus trajes simplórios, José imediatamente mandou-o se desfazer deles e passar a usar as roupas que havia ganho.
Foi quando Ticiano novamente retornou ao quarto de hóspede e se vestiu. 
Apresentando-se para o patrão com os novos trajes, este falou:
-- Finalmente. Roupas dignas e elegantes. 
Nisso, Tereza apareceu na sala e disse:
-- Realmente meu pai, nem parece um rude peão. Se assemelha a um perfeito cavalheiro.
Tício, ao ouvir isso, ficou espantado. Não esperava encontrá-la naquele momento. 
Em razão disso, não disse uma só palavra.
No entanto, não obstante o silêncio que se fez na sala, José aproximou-se da filha e lhe segredou algo no ouvido.
Com isso, depois que o mais novo administrador da fazenda se retirou, o fazendeiro foi ter com a filha. Preocupado com o inesperado interesse da moça pelo rapaz, imediatamente a advertiu:
-- Tereza, escute bem. Eu não quero ver você de conversinhas com Ticiano. Ele é meu empregado. Não um amigo seu. E eu exijo que vosmecê o respeite.
-- Mas, meu pai. Quem foi que disse que eu o estava desrespeitando?
-- Tereza, não me provoque. Eu sei muito bem que você está aprontando alguma coisa. Mas eu lhe aviso. Não faça nada com que vá se arrepender. Por que se você aprontar alguma coisa, eu não vou ser condescendente com vosmecê, mesmo sendo minha filha. Ouvistes?
Sem ter argumentos, Tereza concordou:
-- Sim, meu pai. Eu ouvi. Não se preocupe.
Ao ouvir estas palavras, o fazendeiro se tranqüilizou. Ao menos por enquanto, sua filha não iria fazer nada para prejudicar o rapaz. Mas atento, alertou a esposa, para que tomasse conta da filha, assim como as escravas.
Assim, se tornaria inviável, qualquer tipo de aproximação dela com o rapaz.
Contudo, a despeito dos cuidados que passou a ter em vigiar a filha, isso não impediu que diversas vezes, Tereza, tentando aproximar-se do mancebo, se insinuasse para ele.
Provocadora, Tereza chegou a interpelar-lhe diversas vezes, procurando saber o que este sentia em relação a ela.
Insistente, sempre que se livrava da vigilância dos pais, a moça aproveitava para ver o rapaz.
Durante a festa que seu pai organizou, na qual foram convidados diversos fazendeiros da região, Tereza não perdeu a oportunidade, e encontrando o rapaz, passou a novamente se insinuar para ele. 
Como o rapaz não lhe dava confiança, Tereza passou a interpelar-lhe cada vez mais agressivamente. Rude, ainda na festa, não perdeu a oportunidade e passou a provocá-lo.
Disse-lhe para que se retirasse da festa. Devia se retirar dado o fato de que não era da família, e sim um simples empregado. 
No que José, ao perceber a atitude da filha, imediatamente a repreendeu e mandou que se recolhesse. Jamais admitiria que mesmo um filho seu, ofendesse algum empregado.
Além do mais, o fazendeiro gostava muito do rapaz, e conhecendo Tereza como conhecia, sabia que era mais uma de suas provocações. Daí a admoestação. 
Contudo, Ticiano, constrangido com a cena, mais do depressa, pediu para se retirar da festa. Não queria permanecer ali.
Mas José, consciente de que o jovem fora gravemente ofendido, pediu-lhe desculpas e insistiu para que o mesmo permanecesse na festa. Isso porque, gostaria muito de apresentá-lo para seus colegas fazendeiros. Até porque, como passara a ser um administrador, Ticiano precisava ser conhecido pelos outros fazendeiros. Provavelmente em seu novo trabalho, passaria a freqüentar a casa de muitos deles. Daí a necessidade de ser conhecido por todos.
E assim, José não se fez de rogado. Conforme os convivas chegavam a festa, logo iam sendo apresentados ao mancebo. 
Educado, Ticiano não fez feio. Cumprimentou a todos. Cortês, conversou um pouco com todos os presentes.
Enquanto isso, José o observava extremamente satisfeito. Ao vê-lo tão a vontade conversando com os outros fazendeiros da região, começou a ser dar conta de que tinha feito uma ótima escolha ao nomeá-lo seu administrador.
Hábil, Ticiano captou boa parte da atenção dos convidados.
Na hora da ceia, comportou-se muito bem a mesa. Parecia até um nobre.
A despeito da sofisticação das iguarias que eram servidas, não demonstrou nenhum nervosismo ao ter de sentar-se à mesa com outros convidados de renome. Realmente, foi impecável. Parecia ser até, o dono da casa, tamanha intimidade com as regras de etiqueta.
Ademais, conforme conversava com os convivas, Ticiano mostrou-se ainda, uma pessoa ilustrada. Isso por que, enquanto conversava com os convidados, demonstrou ter um grande conhecimento de arte.
Em razão de seu nome ser o mesmo de um renomado pintor italiano, logo que os convivas lhe eram apresentados, estes, imediatamente lhes perguntava se havia alguma relação que ligasse o seu nome ao do pintor.
Foi então que o jovem explicou que sua mãe era uma grande admiradora da obra deste pintor, daí seu nome.
Ao ouvir isso, José ficou intrigado. Como a mãe do jovem poderia ser uma admiradora de grandes artistas, em especial pintores, e ele a viver em tão lastimável estado?
Isso era realmente estranho. 
Cismado com a história, assim que acabou a festa, o fazendeiro mandou chamá-lo, para que fosse até seu escritório.
Embora estranhasse o pedido, Ticiano não se furtou a cumpri-lo. Assim que pôde foi ter com o patrão.
Ao adentrar a sede, assim que passou pela sala, o jovem Tício logo foi chamado pelo fazendeiro.
Foi então que ele entrou em seu escritório e fechou as portas.
José, incontido, foi logo interpelando-o:
-- Caro Ticiano. Que história é essa, de que sua mãe é uma amante das artes? 
Surpreendido, só restou a Ticiano dizer:
-- É que ... Seu José. Ocorre que minha mãe era de origem nobre, e ... muito embora tivesse se casado com um simples artesão, nunca deixou de lado, seu gosto pelas artes. Por isso, sabendo que sua irmã tinha posses, preocupada com meu futuro, antes de morrer, pediu para que ela me criasse.  E ela me criou. Todavia muito embora ela tivesse sido muito boa comigo, seu marido não me suportava. Não bastasse isso, após algum tempo ela também acabou falecendo e sem dinheiro, e amparo já que seu esposo vivia me hostilizando, eu tive que sair por aí, tentando reconstruir minha vida.
O fazendeiro, diante de tal explicação, não outra alternativa senão aceitá-la e dar o assunto por encerrado. Por esta razão, desculpando-se, propôs ao jovem que tomassem uma taça de vinho, para finalmente encerrarem com chave de ouro a festa.
Mas Tício, cansado que estava, recusou gentilmente o oferecimento, e voltou para sua casa. Precisava dormir.
No dia seguinte, ao se levantar e se dirigir a cocheira, foi logo abordado por seus amigos, Caio, Mário, Sérgio e Juvenal. Estes, encantados com a festa, não pouparam palavras para descrevê-la.
Animados comentaram com o amigo que tudo estivera uma beleza. Mesmo estando do lado de fora da casa, onde o mais interessante acontecia, todos puderam regalar-se com as boas comidas que foram servidas. 
Simples, os peões festejaram a seu modo.
Além disso, os quatro homens disseram que a noite estava linda lá fora, um céu estrelado de fazer inveja aos poetas.
Realmente uma beleza, insistiram.
Mas, movidos por uma grande curiosidade, não perderam a oportunidade de esgueirando-se, adentrarem a cozinha da sede, e discretamente olharem o que acontecia no salão da casa-grande.
Encantados, disseram ao amigo que tudo estava muito lindo. A mesa posta, parecia uma pintura de tão bonita. Mas para eles, a mesa apesar de muito bem adornada, não estava tão bonita assim, pois não havia nenhuma refeição depositada sobre ela. O que era estranho para eles, já que mesa é um lugar onde se põe comida. 
Ticiano então, ao perceber que todos estranharam a disposição da mesa, foi logo explicando:
-- Caríssimos, um jantar é feito daquela forma. São os criados que servem os convidados. Além do mais, com a quantidade de comida que foi servida naquele jantar, mesmo que os donos da casa quisessem, não haveria possibilidade de se colocar tudo em cima da mesa, sob pena de os convidados não terem onde cear.
-- É aquela tal de etiqueta. Não é? – perguntou Mário.
No que Ticiano assentiu com a cabeça, concordando.
Contudo, ao saber que os amigos foram espiar a festa da família, Ticiano passou então a repreendê-los. Argumentando que os amigos não deveriam ter feito o que fizeram, disse-lhes que tal ato poderia justificar uma demissão. Portanto não deveriam nem sequer comentar sobre isso.
Os quatro homens, vendo-se sem saída para explicarem isso, procurando desculpar-se, comentaram que o viram dançando com algumas das senhoritas, filhas dos fazendeiros. Disseram ainda, que o viram conversando e depois ceando com os demais convidados.
Diante disso, tendo-se em vista a impecável conduta do mancebo, só lhes restavam os elogios, que vieram rasgados.
-- Ticiano, o senhor estava impecável. – elogiou Sérgio.
-- É verdade. Estava até melhor que o patrão. – ressaltou Mário.
-- Estava parecendo uma daquelas pinturas que estavam na parede. – emendou Caio.
-- Realmente, Ticiano, o senhor estava uma beleza. – continuou Sérgio.
Ao perceber que os quatro não iriam parar com os elogios, Ticiano tratou de dispersá-los dizendo que estavam ali para trabalhar, e não simplesmente, jogar conversa fora.
Foi então que Mário, Caio, Sérgio e Juvenal saíram apressados da cocheira. Atarefados, precisavam cuidar dos animais. Como sempre, tinham muito o que fazer.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria. 

TEMPOS DE OUTRORA - CAPÍTULO 7

 Ao anoitecer, Ticiano, conforme o esperado, apareceu na sede da fazenda para conversar com José. O rapaz queria entender o porque do gesto do patrão.
Com isso, assim que acabou sua lida, ao terminar de levar os animais para a cocheira, foi para sua casa. Chegando lá, preparou-se para tomar um banho. Para tanto, trouxe água para o quarto e encheu uma grande tina com ela. Antes é claro, tirou sua roupa suada do trabalho e deixou-a no chão. Depois entrou na banheira improvisada e se lavou.  
Vestiu uma roupa limpa e foi ter com o patrão.
Finalmente, por volta das sete horas da noite, chegava o jovem Ticiano à casa do fazendeiro.
Ao entrar na casa, o rapaz desculpou-se pela demora e se dirigiu para a sala. Lá foi imediatamente cumprimentado por José. O fazendeiro, desde que acolhera o mancebo em sua propriedade sempre nutrira uma grande admiração pelo rapaz. Por isso, o interesse em ajudá-lo. 
Por essa razão, resolvera doar algumas de suas roupas para o jovem. Mas, a razão maior para convidá-lo para ir à sua casa, era porque precisava conversar com ele. Tinha planos para o rapaz. Para tanto, precisava da concordância do mesmo, para que pudesse colocar seus planos em prática.
José, ao ver que Ticiano, era extremamente dedicado ao trabalho, esforçado e inteligente, decidiu lhe dar uma oportunidade de crescer profissionalmente. Queria lhe dar uma promoção.
Nisso ao se deparar com a proposta do patrão, Ticiano ficou extremamente surpreso. Não esperava que isso pudesse acontecer. Ser promovido. Mesmo assim, vacilante, perguntou:
-- Mas porque me julgas capaz disso? 
-- Por que já provaste que é um homem de valor. Digno de confiança, e preparado para tal incumbência. 
-- Julgas mesmo, que sou capaz de corresponder a sua expectativa?
-- Asseguro-te que sim. Vosmecê, já me provou isso.
-- E ... qual vão ser minhas atribuições a partir de então?
-- Vosmecê será, a partir de agora, o meu braço direito na administração desta fazenda.
Disse isso, e não aceitou nenhuma discordância. Nem mesmo do jovem mancebo, que parecia um pouco assustado com a novidade. 
Realmente, Ticiano não esperava por isso. O rapaz contava em sair da fazenda dentro de alguns meses. Só precisava arrumar mais algum dinheiro para isso. 
Entretanto, se aceitasse a proposta do patrão, mais rapidamente poderia reunir um bom dinheiro para tanto. Como peão, ganhava muito pouco, e parte do que ganhava, reunia para comprar livros e tecidos. A outra parte, tentava, a duras penas guardar. Afinal de contas, quando saísse da fazenda, precisaria de dinheiro.
No entanto, Ticiano sentia necessidade de sair de lá. Tinha vontade de conhecer outros lugares e partir em busca de algo que era muito especial para si.
Mas, diante da insistência do patrão para aceitasse a oferta, o rapaz não teve outra alternativa a não ser aceitá-la.
Assim, disse:
-- Está bem. Eu aceito.
Esta frase, que deixou o fazendeiro muito satisfeito. José não espera outra coisa.
Ademais, o fazendeiro afirmou que para isso, Ticiano precisaria também se apresentar de uma forma mais elegante. Precisaria de novas roupas. Por isso, estava doando algumas de suas antigas roupas  para ele. 
Para tanto o fazendeiro pediu para que Ticiano as vestisse, para verificar o que precisaria ser ajustado. 
Entretanto, como já sabia que o rapaz não possuía uma grande estatura, tratou de advertir uma de suas serviçais, de que o primeiro ajuste a ser feito seria no tamanho das roupas.
E assim, advertida, a escrava comentou com o patrão, que se o rapaz era mais baixo, provavelmente, também haveria necessidade de se fazer ajuste na largura das roupas, e que isso talvez desse mais trabalho do que fazer novas roupas para o mancebo.
Decepcionado, o patrão perguntou a escrava:
-- Então ... quanto tempo seria necessário para se confeccionar as novas roupas do rapaz?
-- Ah, patrão ... fazer roupa demora um bocado. Mas se eu tivesse todo o tempo livre para isso, eu poderia gastar talvez umas três semanas confeccionando roupas para ele. Para isso, eu precisaria das medidas do mancebo.
-- Está bem. Eu vou chamá-lo.
E assim o fez. 
Para que a criada tivesse privacidade para fazer seu trabalho, José levou Ticiano até a biblioteca, para que lá pudesse ser tiradas as medidas para as roupas.
Apreensivo, Ticiano pediu a escrava para ele próprio tirar suas medidas. Para tanto, perguntou a ela quais as medidas necessárias para que pudesse fazer as roupas. De posse dessas informações, o rapaz começou a se medir, e fazendo isso, passou as informações para ela.
Depois, saiu da biblioteca. 
Ao vê-lo saindo da biblioteca, José convidou-o para cear com sua família. 
No que Ticiano, tentou recusar o convite. Todavia o fazendeiro sinalizou para que o rapaz se sentasse a mesa com sua família. Diante disso, não restou outra alternativa ao jovem, senão ficar e jantar com a família de seu patrão. 
Assim, durante o jantar, enquanto iam sendo servidas as iguarias, José conversava com Ticiano. Logo o avisou de que no dia seguinte não deveria ir trabalhar. Deveria estar às sete horas da manhã, em sua casa. Isso por que, ele precisava lhe passar algumas informações importantes, para que assim o rapaz pudesse executar seu trabalho. 
E assim, Ticiano se comprometeu a estar pontualmente na sede da fazenda.
Surpreendentemente, para a família de José, Ticiano comportou-se maravilhosamente bem a mesa. Pareceria um deles, não fosse a roupa surrada que usava.
Intrigados, todos admiraram seus modos educados à mesa. 
Nesse instante, ao vê-lo comportar-se tão adequadamente durante a ceia, José não teve dúvidas. Estava diante da pessoa mais indicada para cuidar de sua fazenda.
E assim, depois da ceia, Ticiano despediu-se de todos e voltou para sua casa.
Depois de tantas novidades, o rapaz precisava dormir um pouco, pois, apesar de poder acordar um pouco mais tarde no dia seguinte, sua casa ficava afastada da fazenda, o que lhe impunha uma boa caminhada. E um tempo menor para que pudesse dormir.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

TEMPOS DE OUTRORA - CAPÍTULO 6

Nisso, ao cair da tarde, como faziam normalmente, todos se recolheram para suas casas. Quando a luz do sol acabasse, já estariam dormindo.
Nesse dia, no entanto, nem tudo saiu como de costume. Tereza, a filha mais nova do fazendeiro, entrou furtivamente no quarto de Ticiano. Mais do que depressa, ao vê-lo se aproximar da casa, tratou de se esconder debaixo da cama.
Durante alguns minutos, Tereza teve que aguardar sua chegada. Finalmente, quando Ticiano adentrou o quarto, a moça pensou em sair debaixo da cama e fazer-lhe uma surpresa, mas desistiu. Pensando que seria melhor ficar ali embaixo da cama por mais algum tempo, esperou para ver o que acontecia.
Com isso, logo que chegou em casa, Ticiano retirou suas botas, e despejou parte da água que havia num jarro na pequena bacia de louça, para que assim, lavasse o rosto.
Tencionou tirar a roupa que usou no trabalho e então se recolher. Mas, cansado que estava, ao se sentar na cama, quase que imediatamente foi deslizando no colchão e deitado, acabou caindo no sono.
Foi quando então, Tereza saiu debaixo da cama do jovem e ficou admirando-lhe e velando seu sono. Quando Ticiano acordou e se deparou com aquela jovem à sua frente, assustou-se.
Espantado, perguntou:
-- O que a senhorita está fazendo aqui? 
-- Nada. Só vim te dizer boa noite.
-- Se não se importa. Não poderia ter dito isso lá fora?
-- E qual o problema em entrar no seu quarto?
-- O problema é que você é uma menina. Além do mais, é filha do meu patrão. 
-- Se eu não fosse a filha do patrão não haveria problema. É isso?
-- Não, não é isso. Só que eu não quero mais você aqui dentro. Por favor saia.
-- E quem me leva em casa?
-- Qual o problema?
-- Por favor, me leva.
-- Está bem, eu te levo até a entrada.
Nisso, Tereza saiu da casa e ficou do lado de fora, esperando Ticiano sair. Ao que este então lavou o rosto, se ajeitou um pouco e levou Tereza até a entrada da sede. 
Lá ela insistiu para que ele esperasse um pouco. 
Isso por que, Tereza tencionava contar ao pai que estivera perdida por toda a noite, e que de manhã ao sair de sua casa, Ticiano lhe encontrara. 
Ticiano, no entanto desconfiado, ao ouvir o pedido da moça, pediu licença e voltou para casa. Ela que procurasse sozinha, uma explicação para seu sumiço. 
Só que Tereza teimosa, queria muito que o rapaz se interessasse por ela, e para isso, seria capaz de fazer qualquer coisa. Até mesmo prejudicá-lo se fosse preciso.
Por essa razão, durante o dia, enquanto os peões trabalhavam duramente, cuidando dos animais da fazenda, Tereza ficava rondando a cocheira, esperando Ticiano voltar com os cavalos. Queria por queria participar-lhe uma novidade. Desejava ser a primeira a contar que seu pai havia doado a ele, algumas peças de roupa. 
Isso porque, José esperava que ele, usando uma das peças, participasse da festa juntamente com a família Vieira.
Por essa razão Tereza ficou esperando quase até o cair da tarde para que Ticiano aparecesse e assim, pudesse contar a novidade. 
Quando então, o jovem finalmente surgiu, com sua roupa de montaria, Tereza ficou encantada. Para ela parecia a imagem de um príncipe. Nunca o vira antes com uma roupa de montaria, e por esta razão, quando o viu entrar vestido com estes trajes, achou-o verdadeiramente, encantador. 
Não que Ticiano fosse um rapaz feio, mas com sua constante implicância com o rapaz, Tereza não havia reparado na beleza do mancebo. Ultimamente, no entanto, parecia estar interessada demais no moço. O que com certeza causou estranheza em todos os seus familiares, já acostumados com sua hostilidade declarada em relação ao rapaz. 
Isso por que, Tereza sempre fizera tudo para provocá-lo, humilhá-lo. Um dia com suas amigas, insinuou que ele possuía um porte muito elegante. Altivo como os cavalos criados por seu pai, o moço possuía nobre raça, somente comparada aos puros sangue. 
Nisso diante da caçoada, todos riram estrondosamente. Em especial, os rapazes.
Além disso, diversas vezes, Tereza tentou fazê-lo seu criado. Para isso tentou dominá-lo, impondo serviços domésticos. 
Entretanto, apesar de ser a filha do dono do lugar, Ticiano, nunca se deixara humilhar por ela. Jamais aceitaria isso. 
Ademais, José, conhecedor do temperamento da filha, ao vê-la tentar humilhá-lo, sempre a rechaçava. Por ser um homem justo, nunca aceitou o comportamento da filha em relação ao rapaz. Reiteradas vezes disse a filha que aquele era um rapaz de fibra e de valor, e Tereza, mesmo sendo sua filha, jamais poderia maltratá-lo.
Em razão disso, tanto Tereza, quanto sua mãe Catarina, por muitas vezes, chegaram a desconfiar de que havia uma estranha relação entre os dois. Cismada Catarina, cogitou a possibilidade de que talvez Ticiano fosse filho de seu marido.
No que, José, certa vez, ao ouvir tal absurdo, começou a rir abertamente.
Catarina, ficou então indignada. Mas diante das explicações do marido, e dada as circunstâncias em que o rapaz apareceu, a mulher acabou por se convencer de que Ticiano não poderia mesmo ser filho de seu marido. 
Entretanto, mesmo diante de tais explicações, Catarina continuou cismada com a atenção que o rapaz despertava em seu marido, com o estranho aparecimento do rapaz, com o seu verniz de cultura. Simplesmente, não parecia um peão.
Mas enfim, voltando a cocheira. Quando a jovem encontrou o moço, depois de um certo tempo de silêncio, contou o fazia ali. Tereza disse a ele que seu pai havia se desfeito de algumas roupas antigas com as quais o estava presenteando.
Ticiano surpreso com o gesto, perguntou:
-- Mas porque para mim?
-- Porque papai disse, que não havia pessoa mais indicada. 
Disse e isso, e ao se preparar para sair da cocheira, completou:
-- Hoje à noite estaremos o esperando para buscar as suas roupas.
Ao terminar de dizer isto, saiu. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.