Poesias

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

SONHO DE VALSA - CAPÍTULO 14

Paulo ao ver a filha dormindo, contudo, não ficou nem um pouco convencido de que as coisas estavam tranqüilas. Intrigado com o barulho que ouvira, pensou em acordar Laura para saber o que estava acontecendo. 
Rose, vendo que a filha dormia, pediu ao marido que não a acordasse. No dia seguinte, os dois, conversando calmamente com as garotas, descobririam o que havia se passado.
Paulo concordou.
E assim no dia seguinte, durante o café da manhã, o casal, preocupado perguntou a Marilu se ela havia brigado com a irmã.
A moça, pensando um pouco, respondeu da seguinte forma:
-- Não eu que eu saiba. Nós brigamos Laura?
Laura, ao ouvir a resposta da moça, pensando um pouco, falou:
-- Não. 
Mas Rose e Paulo, não ficaram nem um pouco convencidos com as respostas dadas. Por isso mesmo, ao comentarem sobre os berros de Laura, insistiram em perguntar por que então ela estava berrando.
A moça, pensando um pouco no que iria dizer, e tentando ganhar tempo, perguntou:
-- Eu berrei?
-- Sim. – respondeu Paulo. – Berrou sim.
-- Bom... se eu berrei, provavelmente devo tê-lo feito dormindo. – respondeu Laura.
-- Sei. – respondeu Paulo, nem um pouco convencido com a resposta dada. 
Contudo, como não havia mais nada a ser feito, a conversa se encerrou.
Nisso, com o passar dos dias, Marilu se encontrou novamente com Maurício. O rapaz, levando-a para passear, foi até o Parque do Ibirapuera. Os dois, enquanto caminhavam em meio a natureza, conversaram. 
Mais uma vez o tema inicial da conversa foi a viagem de Marilu pela Europa. Contudo, esse não foi o único tema das conversas que tiveram. 
Isso por que Maurício, curioso para saber como estava sendo seu retorno para o Brasil, encontrou uma boa maneira de saber um pouco mais sobre ela. 
Marilu contou então que estava se adaptando aos poucos. Contudo, viver com a família para ela, era algo inigualável.
Maurício ao ouvir as palavras da moça, sorriu.
Com isso, aproveitando o calor da tarde, os dois aproveitaram para tomar um sorvete.
Mais tarde, depois de conversarem um pouco mais sobre suas vidas, o moço perguntou a Maria Lúcia se ela tinha namorado.
Desconcertada com a pergunta, Marilu perguntou ao rapaz, o por quê de tanta curiosidade. 
Maurício, respondeu que era uma simples curiosidade.
Marilu, sem entender nada, olhava para ele.
O rapaz então, perguntou:
-- E o que tem demais nessa pergunta? Eu só quero saber. Para que você saiba, eu não tenho namorada.
-- Não?
-- Não. E você?
-- Não. – respondeu ela.
-- Que ótimo! – respondeu Maurício.
-- Ótimo por que?
-- Por que? Por que só assim eu vou poder te pedir em namoro. 
-- Pedir em namoro? – perguntou a moça surpresa.
-- Sim. Você quer me namorar?
Marilu, sem jeito respondeu que não sabia o que dizer.
Maurício, insatisfeito, perguntou:
-- Como não sabe?
-- Não sei. – respondeu a moça.
Maurício, nem um pouco satisfeito com a resposta, insistiu para que a moça lhe respondesse.
Marilu, ainda sem saber o que dizer, pediu ao rapaz que lhe concedesse alguns dias para pensar.
Sem ter outra alternativa, Maurício acabou concordando.
Nisso, ao final de alguns dias, Marilu, depois de muito pensar no assunto, acabou concordando. Afinal de contas, se Maurício era uma boa pessoa, não havia problema nenhum em que os dois ficassem juntos. 
Assim, quando os dois novamente se encontraram, a moça, enchendo-se de coragem, respondeu que aceitava namorá-lo.
Feliz, o rapaz, abraçou-a calorosamente. Animado, Maurício começou a fazer planos para os dois. Dizendo que a moça tinha que conhecer seus pais, prometeu fazer com ela grandes passeios. Eufórico, chegou a dizer que também precisava conhecer os pais dela.
Marilu, ao ouvir as palavras do rapaz sorriu.
Com isso, os dois começaram a sair mais, juntos. Animados, iam juntos ao cinema, passeavam por parques. 
Maurício, dizendo a moça que precisavam voltar a Praça da República, comentou que foi lá que os dois se conheceram. 
Marilu, ao ouvir o rapaz, assentiu com a cabeça.
Sim, precisavam voltar lá. E voltaram. Quando os dois chegaram até a praça, Maurício, pedindo para que a moça sentasse no banco que ela havia se sentado tempos atrás, começou a descrever a roupa que ela estava usando no dia.
Marilu, impressionada com a precisão de detalhes, perguntou a ele se o mesmo se lembrava da roupa que ela usara na primeira vez que os dois foram ao cinema.
Sorrindo Maurício respondeu que ela usava um tailler muito bonito.
A moça, impressionada, comentou que ele estava certo.
Maurício ao vê-la tão feliz, perguntou se ele não merecia um prêmio por ser tão atencioso.
Curiosa, Marilu perguntou o prêmio que ele gostaria de ganhar.
O rapaz respondeu simplesmente:
-- Um beijo!
Marilu, surpresa com o pedido, comentou:
-- Que coisa! Um beijo!
Maurício, percebendo o constrangimento, disse que ela não precisava fazê-lo ali, em público. Isso por que, a moral da época não permitia esse tipo de comportamento.
Por isso mesmo o rapaz, segurando a mão da moça, conduziu-a pelo passeio. Caminhando entre árvores, apreciaram a beleza da praça, ouviram o canto dos pássaros e conversaram sobre o pedido.
Mas para que o beijo acontecesse, seriam necessários muitos outros passeios.
E assim, um dia, depois de assistirem um belo filme, os dois, caminhando pelas ruas da cidade, ao chegarem em um local onde poucas pessoas circulavam, aproveitando a oportunidade, beijaram-se pela primeira vez.
O beijo singelo, revelou-se para os dois, a coisa mais fascinante do mundo. 
A moça, que nunca havia beijado ninguém, ficou deslumbrada. A simples lembrança do beijo a fazia sorrir.
Já Maurício, cada vez mais apaixonado, ao se lembrar do beijo, mais saudades sentia de Marilu. Receoso porém, sentia que já estava mais do que na hora de se apresentar a família da moça.
Marilu, também pensava assim.
Por isso, mesmo quando os dois se encontraram novamente, a moça fez questão de deixar claro que queria apresentá-lo a sua família. Contudo, não queria pressioná-lo. Em razão disso a moça deu liberdade para que ele escolhesse a data do encontro.
E Maurício, escolheu.
Nisso, Laura, depois de ficar algum tempo afastada de Maria Lúcia, voltou a ameaçá-la com chantagem. Dizendo que a mesma não havia cumprido com sua promessa, ameaçou contar aos pais, sobre seus encontros com Maurício.
Maria Lúcia, aborrecida com a irmã, respondeu que ela podia fazer o que bem entendesse com aquela informação, já que nos próximos dias Maurício iria se apresentar a família para oficializar o namoro.
Laura, surpresa com a novidade, perguntou a irmã:
-- Vocês estão namorando?
Marilu sorriu. 
Embora não tivesse respondido claramente a pergunta da irmã, o sorriso já dizia tudo. Os dois estavam juntos.
Laura, atônita com a novidade, titubeou por um instante, mas depois, pensando na situação, disse:
-- Pois bem. Muito inteligente de sua parte. Mas o que você não sabe é que eu vi vocês dois juntos em circunstâncias muito estranhas.
-- Ah Laura, por favor, onde você pensa que vai conseguir chegar com essa história?
-- Muito mais longe do que você imagina. Ou você pensa que eu vou engolir essa história? Você pensa que eu sou idiota? Eu vi vocês dois juntos. Muito antes dessa história de namoro. Pensa que eu não sei que você pediu para que ele não a trouxesse até em casa? 
Marilu, irritada com a petulância da irmã, respondeu que ela não tinha nada com isso. 
Laura então, percebendo que havia irritado a irmã, não contente com isso, resolveu dizer ainda:
-- E não é só isso. Saiba você, que eu posso destruir esse namoro antes mesmo de começar... Eu posso dizer que ele não é tão boa pessoa como tudo mundo pensa... Já pensou Marilu, se todo mundo achar que ele é um transviado?
Marilu, ao ouvir as palavras de Laura, respondeu dizendo que aquilo era uma mentira. Uma afirmação falaciosa.
Laura retrucou dizendo que, independente de que o que dissesse fosse mentira, ainda assim, seus pais ficariam preocupados. O que certamente tornaria Maurício suspeito.
Marilu ao perceber que Laura queria prejudicá-la desafiou-a:
-- Você não teria coragem de fazer isso.
-- A não? Pois então me aguarde. – respondeu Laura decidida.
Marilu apreensiva, por um instante ficou sem ação. 
Laura percebendo isso, provocou a irmã:
-- E então? Onde está toda aquela determinação?
Marilu, titubeante perguntou:
-- E o que você pensa ganhar com isso? Ou será que é pelo simples prazer de me prejudicar?
Laura ao ouvir as perguntas da irmã, lançou-lhe um sorriso maldoso. Não bastasse isso, ainda respondeu:
-- Não sei dizer ao certo. Talvez seja realmente uma vingancinha sim, por que não? Mas também é uma resposta ao pouco caso que fez dos meus avisos... Mas quer saber de uma coisa? Bem feito pra você. Agora você vai saber que eu não estava brincando... É... vai ser divertido.
Marilu irritada, respondeu:
-- Você não vai fazer isso.
-- Vou sim. – retrucou Laura.
Marilu, por sua vez, ao ouvir a resposta da irmã, disse:
-- Ah! Mas não vai mesmo. 
Furiosa, Marilu segurou Laura pela blusa e puxando sua roupa, respondia a todo momento:
-- Não vai não.
Laura, por sua vez, vendo que a irmã não estava de brincadeira, pediu reiteradas vezes para que a mesma a soltasse.
Marilu porém, cansada da chantagem da irmã, decidiu que resolveria a questão imediatamente. Assim, ao ver que as duas estavam sozinhas em casa, Marilu resolveu acertar as contas com a moça. 
Furibunda, Marilu esbofeteou a irmã. 
Decepcionada com Laura, Marilu, que sempre fora calma e compreensiva com esta, diante dos últimos acontecimentos, perdeu toda sua paciência. Por isso mesmo, decidida a resolver a questão, Marilu não pensou duas vezes. Aplicou um corretivo na irmã.
Enquanto batia em Laura, Marilu ía dizendo que cada um daqueles tapas era a paga que ela tinha por tudo de errado que fizera na vida.
Laura, cansada de apanhar, pedia a irmã a todo momento para que ela parasse de agredi-la.
Mas Marilu não parava. 
E assim Marilu só parou de bater em Laura, quando, cansada, mandou que ela saísse de sua frente. 
Laura, levantou-se e chorando, tencionou dizer algo a Marilu.
A moça, percebendo isso, não a deixou falar. Avisando-a disse que não queria que a briga fosse contada aos pais. Dizendo que não ficaria nem um pouco satisfeita se o seu nome fosse envolvido na história, Marilu recomendou-lhe que dissesse que fora agredida na rua. Além disso, se ela contasse algo que desabonasse Maurício, Marilu ameaçou aplicar-lhe uma surra ainda maior. Avisando que ela apanharia tanto que não conseguiria se mexer, Marilu deixou bem claro que não aceitaria nenhum tipo de chantagem. 
Depois de ouvir todas as advertências da irmã, só restou a Laura ir para seu quarto. Humilhada, não tinha nem como retrucar Marilu.
E assim, Laura se recolheu em seu quarto. Envergonhada com a situação, a moça não desceu para jantar e fingindo dormir, não falou com a mãe.
Rose estranhou deveras o comportamento da filha, mas Paulo, dizendo que Laura sempre fora assim, acabou convencendo a esposa a deixá-la sozinha.
Nisso Marilu tomando coragem decidiu contar a mãe que estava namorando.
Rose surpresa quis logo saber com quem.
Marilu respondeu.
Rose apreensiva, disse logo que queria conhecer o rapaz.
Marilu, dizendo que pretendia levar o rapaz para que a família o conhecesse, pediu a mãe que a ajudasse a conversar com Paulo sobre o assunto.
Foi então que Rose se deu conta de que maior obstáculo a essa aproximação era seu marido. Todavia a mulher, percebendo a alegria nos olhos da filha, prometeu que faria de tudo para convencer o cabeça-dura do Paulo de que deveria conhecer o rapaz.
Contudo, como se pode imaginar, não foi nada fácil para Rose desempenhar esta tarefa a contento. Todavia, paciente, a mulher procurou explicar ao marido, que se o rapaz fazia questão de ser apresentado a família, era por que estava muito bem intencionado em relação a Marilu. Além disso, perguntando ao marido se ele não achava que sua filha merecia ser feliz, Rose começou a convencer o marido. 
Paulo concordou. Sim Marilu merecia ser muito feliz. 
Foi assim que aos poucos, Rose conseguiu convencer o marido a aceitar o namoro da filha. Dizendo que Marilu não era uma desmiolada, comentou que a filha possuía inúmeros predicados. Predicados que encantariam não só um, mas vários rapazes.
Paulo ao ouvir isso, também concordou com a esposa. Sim Marilu era encantadora.
Assim, depois de algum tempo, o homem concordou em marcar um almoço para conversar com o rapaz.
Conforme combinado, o rapaz, visivelmente nervoso, apresentou-se a família. Dizendo que estava muito interessado em conhecer a família de Marilu, comentou simpático, que todos eram exatamente como a moça descrevera para ele.
Curiosa, Rose perguntou ao rapaz como Marilu os descrevera.
Maurício então, contou que a moça sempre se referia a eles com muito carinho.
Laura, que ouvia a tudo calada, parecia contrariada. Porém, como não queria atrair para si a ira da irmã, a moça preferiu quedar-se silente. Durante o jantar o não proferiu nenhuma palavra.
Já recuperada da briga que tivera com a irmã, a moça nem sequer dirigia a palavra a ela.
Com relação a alguns arranhões que apareceram em seu rosto, Laura disse que caiu andando de bicicleta.
Rose e Paulo, desconfiados da explicação, tentaram por diversas vezes descobrir o que estava acontecendo, mas a certa altura, cansados de ouvirem as evasivas de Laura, resolveram deixar o assunto de lado.
E assim, a briga entre ela e Marilu nunca foi descoberta pelos dois.
Com isso, Marilu, satisfeita ao ver que seus pais aprovaram o namoro dela com Maurício, passou a sistematicamente ignorar Laura. 
Por isso, toda vez que a moça lhe fazia uma provocação, Marilu fazia de conta que nada ouvira.
Certa vez Rose, quando viu a cena, repreendeu severamente Laura. 
Irritada, a moça subiu pela escada reclamando. Dizendo que eles sempre defendiam Maria Lúcia, comentou ressentida que sua presença na casa não significava nada.
Porém, as imprecações de Laura ficavam nisso. Nunca mais a moça ousou importunar Marilu. Mesmo assim, seu temperamento não mudou.
E apesar de Marilu estar namorando, Laura mantinha seu temperamento irascível. 
Mas Rose e Paulo, acostumados com o gênio da filha, já não se surpreendiam com suas atitudes intempestivas.
Enfim, tudo estava quase como sempre fora.
Mas uma nova mudança aconteceria na vida da família.
Muito embora a São Paulo da época fosse uma cidade pacata, ainda assim, alguns crimes, vez por outra aconteciam. Esses crimes dada a brutalidade e a raridade com que ocorriam, causavam perplexidade em toda a população. Incrédula, a população mal podia acreditar que algum ser humano pudesse praticar tantas maldades.
Não era a banalidade que hoje se percebe nas páginas de jornais.
Mas uma coisa não se pode negar. Apesar de tais crimes não serem comuns na época, a violência sempre esteve presente na história de todas as civilizações. Inegável.
Foi exatamente nesse contexto, que se deu o seqüestro de Marilu. 
A moça, depois de sair do cinema juntamente com Maurício, resolveu fazer um passeio por um dos parques da cidade. 
Lá, caminhando por entre árvores, mata nativa, flores e muita beleza, Marilu, afastando-se de Maurício, acabou sendo levada por dois estranhos.
 Distraída, a moça não percebeu quando dois homens se aproximaram, e utilizando-se do elemento surpresa, a seguraram. Marilu, ao sentir uma mão pousando sobre seu ombro, bem que tentou se desvencilhar dela. Em vão. Enquanto ela se debatia com um deles, o outro avançou sobre ela e colocando um lenço sobre seu rosto, conseguiu fazer com que a mesma desmaiasse.
Maurício, ao notar que Marilu não estava por perto, passou a procurá-la. Preocupado com seu sumiço, o rapaz esquadrinhou cada canto do parque à sua procura. 
Tudo em vão. Marilu, sumira como que por encanto.
Desesperado, ao perceber que a moça havia desaparecido, Maurício não sabia o que fazer. Nervoso, mesmo assim tentou pensar em que medida tomaria. No auge do desespero, o rapaz pensou em chamar a polícia. 
Assim o fez. Caminhando em direção a delegacia da região o rapaz se lembrou que precisava contar aos pais da moça que ela havia desaparecido. Contudo, como faria isso? Não tinha coragem. Temeroso de que o culpassem, achou melhor ir primeiro a delegacia para depois contar a Rose e Paulo, o que havia acontecido.
Nervoso, ao chegar a delegacia, o rapaz pediu ao escrivão, para falar com o delegado. Dizendo que sua namorada fora sequestrada,  comentou que tinha pressa em falar com o delegado.
O homem, ao saber da gravidade da situação, chamou imediatamente o delegado. 
Maurício então, ao ver-se diante do delegado, começou a relatar o que havia ocorrido. Dizendo que ele e sua namorada, passeavam tranqüilamente no parque quando tudo aconteceu, relatou que em dado momento, Marilu desapareceu. Conforme o tempo foi passando e ele foi percebendo que a moça não voltava, resolveu ir atrás dela. Procurando-a em todos os lugares, ele vasculhou cada recanto do parque. Sem êxito, no entanto.
O delegado no cumprimento de sua função, visando esclarecer a situação, fez inúmeras perguntas ao rapaz. 
Maurício, mesmo atordoado com que sucedera, não se furtou a responder nenhuma delas. E assim, ao término da lavratura da ocorrência, o rapaz, ansioso, perguntou ao delegado se eles iriam procurá-la.
O homem respondeu:
-- Mas é claro que sim. Este é o meu dever!
Maurício, depois de ouvir as palavras do delegado, ficou mais calmo.
Contudo o mais complicado, ainda precisava ser feito. O rapaz então, novamente, procurando encontrar coragem, resolveu se encontrar com a família da moça.
Ao chegar na casa da namorada, o rapaz, pedindo a um dos empregados para entrar, contou que precisava falar com os pais de Marilu. Depois que os dois começaram a namorar, Maurício ao tomar conhecimento da forma como todos a chamavam, passou a também chamá-la por seu apelido. 
O empregado então, ao ouvir o pedido do rapaz, abriu o portão e pedindo para que ele entrasse lhe deu passagem. 
Maurício foi até a entrada da casa. Lá, uma empregada o atendeu e recomendou que ele ficasse na sala. Oferecendo café e suco, perguntou se o mesmo queria beber alguma coisa.
Nervoso, Maurício recusou a oferta. Aflito, comentou com a empregada que precisava falar o quanto antes com os pais da namorada.
A empregada, percebendo o ar aflito do rapaz, falou que chamaria Rose imediatamente.
Maurício esperou. Ansioso, os minutos que antecederam a entrada da mãe da namorada na sala, pareceram-lhe uma verdadeira eternidade.
Rose ao entrar na sala, fez questão de cumprimentá-lo. Porém, ao ver o semblante do rapaz, a mulher foi logo lhe perguntando:
-- Mas o que foi que aconteceu?
Maurício, procurando escolher as palavras, respondeu titubeante, quase gaguejando que Marilu havia desaparecido.
Dona Rose, ao ouvir isso, ficou desesperada.
-- Desaparecido? Como desaparecido? Ela não estava com você?
-- Estava. – respondeu o rapaz nervoso. – Estava sim. Mas de repente, Marilu, querendo conhecer melhor o lugar, se distanciou de mim. Quando me dei conta disso, resolvi esperar um pouco para que ela voltasse, já que ela sabia onde eu estava. Contudo, ao perceber que ela não voltava, eu resolvi procurá-la pelo parque. Procurei-a em todos os lugares. Quando eu percebi que ela não estava lá, fui até a delegacia relatar o que havia acontecido.
-- E o que o delegado disse? – perguntou Rose aflita.
-- Ele respondeu que tomaria as providências necessárias.
-- E você tem certeza de que ela não está perdida, procurando-o? – perguntou a mulher recusando-se a acreditar no que estava acontecendo.
-- Tenho. Eu procurei ela em todos os lugares. Não havia como ela ter saído do parque sozinha.
-- E eu posso falar com este delegado? – perguntou ela, visivelmente nervosa.
-- Mas é claro que pode. Se a senhora quiser, eu a acompanho até lá.
Ao ouvir o gentil oferecimento do rapaz, Rose agradeceu. Mas temendo que Paulo ao saber do ocorrido, passasse a acusá-lo do acontecido, achou por bem, declinar do oferecimento.
Maurício, compreendendo o por quê da recusa, explicou-lhe onde ficava a delegacia, e pediu a ela que tentasse se manter calma, pois tudo acabaria bem.
Rose, agradeceu novamente a gentileza e prometendo ficar calma levou-o até o portão. Lá o rapaz se despediu e prometendo ligar mais tarde, disse que aguardaria notícias.
Rose então, pegou o carro e dirigindo até a delegacia, conversou com o delegado.
Ao tomar conhecimento de detalhes do ocorrido, comentou com o delegado que Maurício foi muito prestativo e esperto ao ir primeiramente a delegacia, para depois conversar com ela. Isso por que, quanto antes a polícia ficasse sabendo do ocorrido, mais depressa o caso poderia ser solucionado.
O delegado concordou. 
Rose então, pedindo licença ao delegado, comentou que precisava avisar o marido sobre o que estava acontecendo. 
Primeiramente, ligou para casa. Mas, ao ouvir da empregada que o marido não havia voltado, resolveu ligar para seu escritório. 
Quando Paulo ficou sabendo do ocorrido, o homem ficou possesso. Sabendo que a moça estava com Maurício, Paulo furibundo, comentou com a mulher que ele tinha responsabilidade no que estava acontecendo.
Rose, tentando acalmar o marido comentou que o rapaz havia tomado todas as providências para que Maria Lúcia fosse achada o quanto antes. Além disso, dizendo que estava na delegacia, pediu a ele que a encontrasse lá.
Paulo, irritado, desligou o telefone e pedindo para um de seus funcionários fechar o escritório, foi, o mais rápido que pôde, ao encontro da esposa.
Lá delegacia, o homem também conversou com o delegado e tomando conhecimento dos detalhes que envolveram o desaparecimento da filha, comentou que sua filha nunca teve esses rompantes. Dizendo que a mesma nunca lhe dera trabalho, comentou que provavelmente a levaram a força para fora do parque. 
O delegado então, dizendo que Rose, também elogiou o comportamento da filha, pediu a ele que se acalmasse um pouco. 
Paulo resolveu se sentar.
Quando um dos policiais retornou, o delegado foi logo pedindo informações. Porém, para sua decepção a moça não fora encontrada.
De posse de sua descrição física, o delegado, visando facilitar a busca, pediu aos pais de Marilu que providenciassem uma foto.
Rose então, diante do pedido do delegado, lembrando-se que sempre levava fotos das filhas consigo, escolheu uma de suas melhores fotos, e entregou-a ao delegado.
O homem ao segurar a foto nas mãos, comentou que assim as coisas ficariam mais fáceis.
E assim as buscas prosseguiram.
Rose e Paulo, determinados a encontrar a filha, elaboraram cartazes com a foto da moça. Angustiados com a falta de notícias, os mesmos pregaram em cada poste que encontraram, a foto da filha. Esperançosos acreditavam que assim conseguiriam encontrá-la.
Maurício preocupado, ligou algumas vezes para a família. Outras vezes, angustiado com o silêncio, foi até a delegacia. Porém tudo continuava com antes. A única coisa que havia mudado é que Paulo não estava mais bravo com ele.
Convencido pela esposa que o rapaz não tivera culpa do ocorrido, Paulo deixou isso de lado e passou a se concentrar na busca por Maria Lúcia.
E assim, após alguns dias, finalmente um homem, sem se identificar, ligando para a família, comentou que sabia onde Marilu estava.
Rose ao ouvir as palavras do estranho, foi logo perguntando onde ela estava.
O estranho respondeu:
-- Por enquanto eu não posso dizer. O que eu posso revelar é que ela está bem.
Rose não compreendeu. Aturdida a mulher perguntou:
-- Mas o que você quer?
O estranho respondeu então o quanto gostaria que ela pagasse em cruzeiros. 
Rose desesperada, só fazia perguntar:
-- Por que vocês estão fazendo isso? Me diz, por que você está fazendo isso?
O estranho respondeu então onde e quando ela devia deixar o dinheiro. Em seguida desligou o telefone. 
Desesperada Rose, continuou no telefone. 
Paulo ao ver a mulher segurando o aparelho, pediu para que ela desligasse. Dizendo que precisava deixar o telefone livre para entrar em contato com os possíveis responsáveis pelo sumiço de sua filha, pediu a mulher para desligar o telefone.
Rose, sem saber o que fazer, respondeu que um estranho havia ligado para ela. 
Paulo logo perguntou quem era.
A mulher então, voltando a si, desligou o telefone. Procurando explicar o que havia se passado, contou ao marido que um estranho ligara, e dissera a ela que se quisessem ver Marilu bem, deviam deixar dinheiro em algum lugar. 
Paulo ao ouvir isso, ficou furioso. Dizendo que isso era inadmissível, comentou que faria o que pediram, mas que avisaria a polícia sobre a ligação.
Rose, ao ouvir isso, pediu ao marido que não avisasse a polícia.
Paulo ao ouvir as palavras da esposa, comentou que entendida sua preocupação. Mas, dizendo que não podia omitir essa informação, prometeu a mulher que nada de mal aconteceria a filha em virtude disso.
Rose porém, continuava a insistir para que o marido não contasse nada sobre a ligação a polícia.
Paulo contudo, insistiu em dizer que precisava falar.
Determinado foi logo a delegacia. O delegado, ao saber da novidade, recomendou que Paulo fizesse o que o bandido mandou. Enquanto isso ele e seus policiais, preparando-se para o flagrante, cercariam a rua e pegariam o meliante.
Paulo, percebendo a gana do delegado em prender o bandido, pediu insistentemente para que este tivesse cuidado, já que era a vida de sua filha que estava em jogo. 
O delegado prometeu que não se precipitaria.
Para Paulo, ouvir estas palavras, foi extremamente reconfortante.
Cauteloso, o homem seguiu todas as recomendações do delegado. Rose também.
Como seria ela quem levaria o dinheiro, a mulher tomou todo o cuidado para que o bandido não percebesse que ela estava acompanhada. 
Acompanhada por Paulo, Rose desceu do carro e andando boa parte do caminho a pé, finalmente chegou no lugar combinado. Lá deixou a mala e partiu. 
Nisso a polícia que aguardava uma aproximação, esperou calmamente a ação do bandido. 
Quando um dos meliantes foi buscar a mala, imediatamente recebeu voz de prisão.
Na delegacia, ao ser interrogado pelo delegado, o bandido acabou revelando que o outro comparsa o esperava no esconderijo onde estava a moça. 
Pressionado pelo delegado, o homem acabou revelando onde ficava o tal esconderijo.
Assim, foi apenas uma questão de tempo para que o outro meliante fosse preso, e a família que esperava a moça próxima dali, a reencontrasse.
Maurício, que durante todo esse tempo foi informado de tudo o que acontecia, mal podia esperar para ver a moça novamente. 
Depois do encontro emocionado com os pais, Marilu, finalmente recuperada do susto, foi conversar com o rapaz.
Emocionado, Maurício ao vê-la  abraçou-a, e chorando confessou que temia esta cena nunca mais se repetisse.
Marilu ao ouvir isso sorriu.
Depois, contando em detalhes o horror por que passara, revelou que apesar de não ter sido maltratada, sentiu muito medo e achou que não iria conseguir mais voltar para casa. 
Isso por que os dois bandidos que a vigiavam deixaram bem claro que não tinham nada a perder. 
Desesperada, ela passou inúmeros dias amarrada. Sem saber onde estava, tentou fazer de tudo para não se prejudicar. Assim, sempre que os dois lhe dirigiam a palavra, ela lhes respondia. 
Além disso, por vários dias ela não soube o que era uma roupa limpa, um banho. Tanto o era que quando ela foi libertada, usava a mesma a roupa com que fora raptada. 
Maurício ao ouvir as palavras da moça, ficou chocado. Feliz porém por tê-la de volta comentou:
-- Que bom que você voltou!
Laura por sua vez, sem saber direito o que estava acontecendo, posto que fora poupada por seus pais, ao vê-la entrar em casa, com a mesma roupa de dias atrás, perguntou espantada:
-- Mas o que foi que aconteceu?
Rose, que não queria conversar, comentou que depois falaria com ela.
E assim foi. 
Ao levar Marilu até seu quarto, Rose pediu que a moça tirasse suas roupas. Roupas essas que ela levaria imediatamente para lavar. 
A moça então, do banheiro, entregou a roupas para a mãe. A seguir banhou-se e escolhendo uma roupa limpa, deitou-se e dormiu. Exausta dormiu por várias horas.
Enquanto isso Rose, zelosa que era, preparou uma bandeja cheia de comida e deixou numa cômoda. Assim quando a moça acordasse encontraria tudo ao seu alcance.
Depois conversando com Laura, Rose revelou que Marilu fora seqüestrada e que por isso não fora para a escola todos esses dias.
Laura, percebendo que havia se excedido, ficou um pouco sem jeito ao saber da notícia. Isso por que, ao saber que a irmã faltaria alguns dias na escola, ficou irada e perguntou aos pais por que só ela tinha esses privilégios. Não satisfeita com isso, ao entrar no quarto bateu a porta.
Porém, sem perder a pose, Laura, fazendo-se de ofendida, perguntou a mãe por que ela não havia contado tudo a ela.
Rose explicou então que não achou que ela tivesse maturidade suficiente para ter conhecimento do que estava se passando.
Laura, ao ouvir o comentário da mãe, ficou chateada. Dizendo que aquilo era muito sério, respondeu que ela não tinha o direito de lhe esconder o que estava acontecendo. 
Rose concordou. Dizendo que ela e Paulo erraram ao não lhe contar o que estava acontecendo, ressaltou que não sabiam qual seria sua reação e assim, acharam por bem omitirem-se. 
Laura retrucou. Dizendo que não era tão egoísta como pensavam, revelou em que dado momento percebeu que havia algo estranho. Até por que Maria Lúcia não costumava faltar. Notando que moça estava há muito tempo ausente, chegou a conclusão de que os dois estavam escondendo alguma coisa dela. Isso segundo suas próprias palavras, deixou-a profundamente magoada.
Porém, cansada de brigar, Laura perguntou como estava Maria Lúcia.
Rose respondeu que ela estava dormindo.
Laura pedindo permissão a mãe, perguntou se podia ir até o quarto da irmã.
A mulher dizendo que ela ainda dormia, pediu que ela falasse com Marilu quando a mesma saísse do quarto. Comentando que Maria Lúcia estava abalada, recomendou a Laura que esperasse um pouco para falar com ela.
Laura concordou.
Nisso, com o passar dos dias, ao ver Marilu passeando pela casa, Laura, percebendo-a bem disposta, comentou que precisava conversar com ela. 
Marilu porém, dizendo que primeiro precisava se encontrar com Maurício, pediu para que a irmã deixasse a conversa para depois.
Decepcionada, Laura prometeu que esperar. 
E assim, Marilu, ansiosa por ver Maurício, vestiu um belo vestido florido e pedindo para Rose levá-la até o local do encontro, foi até lá.
Assim, os dois se encontraram, e conversaram sobre os últimos acontecimentos.
Preocupada, Rose pediu para que Maurício não a deixasse sozinha nem por um segundo. O rapaz educado, prometeu que nunca mais a deixaria sozinha.
Assim, enquanto os dois avistavam um lindo jardim, Maurício nem por um segundo desgrudou sua mão da mão de Marilu, que depois de muitos dias presa, finalmente podia saborear o gosto da liberdade. Empolgada, a moça caminhou um longo tempo com o rapaz.
Maurício ficou exausto.
A certa altura, pedindo para que a moça se sentasse um pouco, foi colher algumas flores e oferecendo-as a Marilu, abraçou-a novamente. 
Feliz, prometeu que nunca mais se separariam.
Depois do passeio, Marilu ao voltar para casa, percebeu que Laura a aguardava. Surpresa com isso, Maria Lúcia foi logo perguntando:
-- Laura! Mas o que é que você quer tanto falar comigo?
Laura, enchendo-se de coragem, contou a irmã, que a esperou por bastante tempo. Dizendo que precisava contar que ficara muito preocupada com ela, revelou, que apesar de não saber exatamente o que estava acontecendo, sentiu que havia algo errado. 
Marilu sorriu.
Laura prosseguiu. Dizendo ainda, que apesar das brigas, gostava muito dela, sabia que nunca ela deixaria de ir a escola, a menos que algo muito grave acontecesse.
Marilu sorriu mais uma vez.
Chorando, Laura falou ainda se Marilu a desculpava.
Sem entender o que a irmã queria dizer com aquilo, a moça perguntou:
-- Desculpar o que?
-- Desculpar meu jeito. Desculpar... aquilo que eu tentei fazer. Eu sei que mereci a reprimenda que eu levei. Me desculpa?
Marilu respondeu então, que não tinha nada que desculpar. Laura todavia, dizendo que estava em falta com ela, insistiu para que a mesma dissesse que a desculpava.
Maria Lúcia sem alternativas, acabou concordando. E assim, acabou dizendo que a desculpava por tudo. 
Laura ao ouvir o perdão agradeceu a irmã e prometeu que tentaria mudar seu comportamento. 
Contudo, não foi tão fácil assim. Mesmo prometendo que tentaria mudar, a moça discutiu muitas vezes com os pais e com a irmã. No entanto uma coisa mudou. Nunca mais a moça alegou que Marilu tinha privilégios em relação a ela.
Mais calma, eram mais raras as brigas.
Rose e Paulo, entendendo que esse comportamento era normal da idade, pararam de censurá-la por ser tão rebelde.
Esse proceder mudou sensivelmente a vida em família.
Depois disso, Laura nunca mais tentou desafiar os pais, ou se encontrou com seus amigos transviados. Curiosa porém, sempre que podia perguntava por eles. Ao saber que dois deles morreram em um desastre automobilístico decorrente de um racha, Laura nunca mais quis saber de se encontrar com o pessoal com quem meses atrás conversava.
Impressionada com a morte de dois conhecidos, Laura nunca mais cogitou a idéia de fazer parte do grupo.
Marilu e Maurício e por sua vez, continuaram namorando. 
Muito apaixonados, certa vez ouviram de seus respectivos pais que acabariam se casando.
Porém, os dois eram ainda muito novos para isso. Assim, jovens que eram, os dois aproveitavam para namorar. Dançando juntos em bailes, os dois aproveitavam para estar cada vez mais próximos.
Ao som de músicas de grandes orquestras os dois dançavam. 
Não só eles, mas todos os que participavam desses bailes dançantes. 
Porém, não havia ninguém como eles. E assim, exímios dançarinos como eram, despertavam os mais sinceros elogios. Por conta disso, os dois ganharam o apelido de ‘casal pé-de-valsa’. Feliz, ao serem perguntados como conseguiam dançar tão bem, os dois sempre respondiam que isso se devia ao fato de estarem vivendo um sonho de valsa.
Os demais dançarinos, sempre que ouviam estas palavras, ficavam encantados. 
Nisso, o ‘casal pé-de-valsa’, prosseguia deslizando pelos salões. 
Dançando e encantando a todos com seus passos mágicos. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

SONHO DE VALSA - CAPÍTULO 13

Rose, ao ver as duas irmãs descendo juntas as escadas, ficou admirada. Será que as duas haviam se entendido? Pensou. 
Mas, procurando conter a curiosidade, simplesmente perguntou:
-- Está tudo bem com vocês?
Ao ouvirem a indagação, Maria Lúcia assentiu com a cabeça, depois respondeu:
-- Sim. Está tudo bem.
Até mesmo Paulo, já desacostumado com tanta tranqüilidade dentro de casa, estranhou. 
Mas, para a felicidade de todos, o jantar transcorreu na mais profunda calma.
E as irmãs, apesar de não estarem amicíssimas, ao menos já estavam se falando, e isso já era um grande passo, já que Laura mal podia ouvir falar no nome de Marilu.
Enfim, parecia que desta vez, as coisas finalmente entrariam nos eixos.
Assim, conforme os dias se seguiram, as garotas iam e voltavam da escola. Seus pais, iam e voltavam do trabalho. E a vida seguia seu curso.
Com isso, conforme os dias e as semanas passaram, finalmente, o rapaz que havia pego uma das luvas de Marilu, se apresentou para a moça e devolveu a delicada peça.
Enquanto ela conversava com algumas garotas sobre a viagem que realizara, o rapaz aproximou-se. Dizendo que queria fazer uma devolução, pediu um minuto de sua atenção.
Ao ouvir isso, Marilu concordou e pediu licença para as amigas.
Assim, o rapaz ao perceber que seria atentamente ouvido, disse:
-- Desculpe o incômodo, mas é que eu queria devolver sua luva. Você a deixou cair no pátio, há algum tempo atrás, mas só agora eu descobri quem era a dona da peça. Aqui está. – disse ele mostrando a luva.
-- Obrigada. Foi muito gentil de sua parte procurar pela dona da peça. Agradeço muito. – disse já quase se virando.
Mas, quando fazia o gesto, Marilu foi novamente interrompida pelo rapaz. 
-- Senhorita, me desculpe. Mas qual é o seu nome?
Ao perceber que estava sendo indelicada, respondeu:
-- Me desculpe. Eu me chamo Maria Lúcia. E você?
-- Maurício. 
-- Muito prazer. – respondeu ela.
-- O prazer é todo meu. – respondeu ele, segurando-lhe as mãos.
Marilu, desconcertada com o gesto do rapaz, tentou afastar as mãos. No entanto, não conseguiu. 
Maurício, percebendo que a moça ficara constrangida, delicadamente soltou suas mãos. Desculpou-se e despediu-se.
Marilu então, ao terminar a conversa com o rapaz, voltou a falar sobre seu passeio na Europa, e de como foi proveitoso o ano que passou na Inglaterra estudando.
Mas, suas amigas, curiosas com a conversa dela com o rapaz, começaram a lhe fazer perguntas. Queriam saber o assunto da conversa, e por que ele havia lhe dado uma luva.
Ao perceber a curiosidade das amigas, Marilu tratou de se afastar das meninas. Alegando que a conversa não teve nada de interessante, foi logo para a classe.
Não queria se expor. E assim o fez. 
Maurício, que estudava em outra classe, após a conversa que teve com Marilu, foi acompanhar as aulas. Na sala de aula, procurando disfarçar seu alvoroço, pegou um livro e começou a lê-lo. E assim enquanto a aula não começava, ele lia. Isso por que, a simples visão da moça já lhe causava comoção.
Sem saber o que fazer para se aproximar dela, Maurício aproveitou-se das circunstâncias e, usando a desculpa de devolver uma luva, foi atrás da jovem.
Sim, isso por que, durante semanas apegou-se àquela luva, na frágil esperança de conseguir se aproximar de Marilu. Durante semanas, sonhou abraçado àquela luva, com ela, objeto de sua adoração. 
Por dias a fio ficou imaginando como seria o encontro dos dois. Romântico, imaginava mil coisas. 
Imaginava-a de echarpe, com seus lindos cabelos esvoaçando ao sabor dos ventos, sorrindo para ele. Passeando por entre monumentos franceses, imaginou-a distante, pensando quem sabe na vida. Ele, por sua vez, ficava de longe, admirando-a. Enfim, sonhava muito com o encontro.
No entanto, ao contrário do que imaginou, o encontro não foi em meio a paisagens românticas. Mas, a despeito disso, apesar de seu nervosismo, conseguiu ao menos um primeiro contato com a moça.
Contudo, ao perceber que não possuía mais desculpas para se aproximar de Marilu, Maurício ficou desolado. Como faria agora para falar com a moça?
Essa preocupação e a decepção por ter estragado tudo, ocupou-lhe mente por semanas. O que fazer para se aproximar novamente?
Tristonho, não sabia o que fazer. 
Mas esta tristeza não durou muito. Isso por que, ao final de algum de tempo, Maurício finalmente tomou coragem e se aproximou.
Suzana e Cora, por sua vez, interessadas em saber o que estava acontecendo, após o término das aulas, tencionando conversar com o rapaz, foram até ele. Sequiosas de conhecerem em detalhes a história da luva, as moças ficaram bastante tempo esperando o rapaz aparecer. Contudo, passavam pessoas e nada de Maurício aparecer. Desapontadas, as duas comentavam entre si:
-- É! Não foi desta vez! – afirmou Suzana.
-- Quem sabe na próxima. – disse Cora.
Sem ter mais nada a fazer, as duas foram para suas casas.
Marilu também voltou para sua casa. Lá almoçou e foi para seu quarto. 
Laura, que também estava em casa, aproveitando a presença de Marilu, foi bisbilhotar a moça. Verificando que Maria Lúcia se entretinha com os estudos, Laura aproveitou para tentar sair sorrateiramente de casa.
Porém, como ainda não havia sido liberada do castigo, Laura assim que alcançou o portão da casa, foi vista por um dos empregados que ao vê-la tão próxima da rua, mandou a mesma entrar novamente.
Laura, atrevida como sempre, bem que tentou retrucar e desobedecer a ordem. O empregado contudo, avisou, que se não o obedecesse iria imediatamente avisar sua mãe. Além disso disse que se ela saísse, teria que acertar suas contas com Rose.
Laura, percebendo que não tinha como sair, entrou furiosa em casa. Furibunda, pensava consigo mesma: ‘Isso não vai ficar assim.’
Tomada por um profundo sentimento de raiva, a moça pôs-se a pensar nos mais mirabolantes meios para sair de casa. Pensou em sair pela janela, pela porta, pelos fundos da casa. Enfim, pensou em diversas maneiras de burlar a vigilância de Rose. No entanto, nada parecia seguro o suficiente. Nesse ínterim, a moça lembrou-se da promessa de Marilu. Esta, disse que a ajudaria a convencer Rose a liberá-la do castigo.
Laura, lembrando-se disso foi até o quarto da irmã, e como quem não quer nada, foi puxando conversa. Perguntando a ela se estava muito ocupada, comentou que queria conversar um pouco.
Maria Lúcia, ao ver o comportamento aparentemente cordato da irmã, ficou surpresa. Isso por que, não era comum Laura ser gentil com as pessoas. Por esta razão, desconfiada dos propósitos da irmã, Marilu perguntou ressabiada:
-- Não. Não estou muito ocupada. Eu só estou adiantando os estudos, para já ter uma noção da matéria que será ministrada na aula que vem. – respondeu ela olhando atentamente para a irmã. – Vai. Pode falar. 
Laura então falou. Perguntando a ela se não gostaria de fazer um passeio, disse que ela poderia escolher o lugar.
Maria Lúcia não entendeu nada. Como nunca foi convidada por sua irmã para fazer nada, a moça ainda não tinha percebido as verdadeiras intenções de Laura. Mas, desconfiada, sabia que por trás de tanta gentileza, havia algum interesse. Ciente disso, perguntou:
-- E eu posso saber a razão de tanto empenho? Por que você está me convidando para um passeio? Você nunca foi disso!
Laura então, aparentando tranqüilidade, respondeu que estando cansada de brigar, estava mais do que interessada em fazer as pazes com ela.
Maria Lúcia entendeu menos ainda. Analisando a atitude da irmã, pôs-se a pensar. Finalmente, passado algum tempo, lembrou-se de haver prometido a mesma que iria tentar ajudá-la a se livrar do castigo. Quando lembrou-se disso, a moça respondeu:
-- Não precisa fazer todo esse teatro. Eu sei perfeitamente o que você quer! Não precisa se preocupar, eu falarei com mamãe.
Laura, fazendo-se de desentendida, comentou que não era nada disso. Dizendo que não tinha nenhuma intenção obscura por trás do convite que fizera a ela, insistiu para que Marilu aceitasse fazer o passeio.
Laura, adotando uma nova estratégia, queria fazer de tudo para convencer a irmã de que estava mudando. Por esta razão, procurou mostrar-se simpática. Primeiramente, convidando a irmã para passear, depois, fazendo-a se convencer de que ela não merecia o castigo imposto por sua mãe.
Assim, muito embora Maria Lúcia não tenha se convencido muito da boa vontade da irmã, aos poucos, Laura, acabou por fazê-la acreditar em seu teatro.
Quando Marilu se convenceu de que a irmã estava tentando mudar, ela foi logo pedir a mãe que liberasse Laura do castigo. Dizendo que a punição se alongara demais, comentou que a irmã estava a tempos, querendo passear pela cidade, em sua companhia.
Rose, quando ouviu a conversa da filha, comentou:
-- Olhe Marilu. Eu sei que você gosta muito de Laura e quer defendê-la a todo custo. Mas o fato é que ela ultrapassou todos os limites. Se eu coloquei de castigo foi por que esta foi a única maneira que eu encontrei de colocar um freio no comportamento desenfreado de sua irmã. Você sabe que sua irmã diversas vezes, saiu escondida à noite, sem minha permissão, para se encontrar, sabe-se lá com quem.
-- Mas mãe! Pelo que sei, faz bastante tempo que ela está de castigo. Quem sabe ela não pensou melhor e resolveu mudar de idéia? Pense bem mãe. Ela não pode ter se cansado de enfrentar vocês e sempre se prejudicar?
Rose então, concordou com a filha. Contudo em razão do comportamento de Laura, a mulher mostrou-se muito reticente liberá-la do castigo.
Marilu, percebendo que não seria nada fácil convencer a mãe a liberar a irmã do castigo, pediu a ela que fizesse um teste. Se Laura se comportasse, ela a liberaria do castigo. Caso contrário, a moça continuaria proibida de sair de casa.
Rose, relutante, acabou concordando em dar uma última chance a Laura. Mas avisando que se ela não respeitasse o acordo voltaria ao castigo, deixou bem claro que não facilitaria as coisas para Laura.
Maria Lúcia comentando que todos mereciam o benefício da dúvida, foi chamar a irmã.
A moça, ao ouvir seu nome, foi perguntar a irmã, se ela havia conseguido convencer Rose a liberá-la do castigo.
Maria Lúcia, dizendo que havia conseguido fazer a mãe amenizar o castigo, recomendou a Laura, que descesse para conversar com Rose.
Laura curiosa e apreensiva desceu as escadas. 
Rose então, chamou-a para uma conversa. Laura se aproximou. 
Sua mãe, dizendo que havia conversado com Marilu, concordou em liberá-la do castigo.
A moça ao ouvir isso, ficou exultante.
Rose, percebendo isso disse:
-- Eu se fosse você, não ficaria tão contente ainda. Eu não disse quais são as minhas condições.
Laura ao ouvir isso, ficou preocupada.
A mulher continuou. Dizendo que ela teria que convencê-la de que merecia este voto de confiança, Rose salientou que estava de olho nela e que seria só ela fazer uma bobagem, que estaria de volta ao castigo.
Laura não gostou nem um pouco de ouvir estas palavras.
Irritada com a atitude da mãe, não pôde esconder seu desapontamento. Contudo, tentando se controlar, a moça subiu as escadas e voltando para seu quarto, não retornou mais para a sala.
Remoendo sua raiva, Laura só conseguia pensar em como faria para convencer Rose de que merecia sua confiança e assim se livrar de seu olhar vigilante. 
Furiosa, a moça prometeu para si mesma que não colocaria tudo a perder. Sabedora de que não adiantava enfrentar os pais, resolveu que agora evitaria entrar em confronto com eles. Isso por que, todas vezes em que discutiu com os dois, foi ela quem acabou se prejudicando.  Assim, precisava mudar sua estratégia.
E assim o fez.
Cora e Suzana, estranhando o novo comportamento da moça, comentaram que ela estava no caminho certo. Sim, por que se ela queria ter um bom relacionamento com as pessoas o primeiro passo era mudar sua atitude. Isso por que ninguém, ninguém gosta de ficar ao lado de uma pessoa desagradável.
Desta forma, as duas moças, notando que Laura estava mais sociável, foram logo elogiar sua atitude.
Laura, procurando não discutir com ninguém, agradeceu o elogio. Simpática, comentou que estava planejando um passeio com a irmã. 
Cora e Suzana, quando ouviram isso, comentaram que era muito bom saber que ela estava se entendendo com Marilu. As moças, dizendo que ela era um amor, salientaram que Laura estava mais do que certa em se entender com a irmã. 
Laura, percebendo que a conversa estava agradando a ambas, tratou logo de as convidar para passeio. Dizendo porém, que precisava antes perguntar a irmã se ela concordava, prometeu que em caso afirmativo, as duas poderiam acompanhá-las no aludido passeio.
Cora e Suzana, ao ouvirem a proposta, agradeceram o convite. Animadas, pediram a Laura, que assim que ela soubesse qual era a posição de Maria Lúcia, que as avisasse.
Laura, determinada a estabelecer uma nova relação com as meninas, prometeu que as avisaria.
Nisso, assim que pôde conversar com a irmã, a moça comentou que convidara Cora e Suzana para o passeio. Marilu ao ouvir as palavras de Laura, comentou que ela fizera muito bem em convidar as duas para o passeio. Dizendo que estava em débito com as duas, elogiou a atitude de Laura.
Laura agradeceu. 
Com isso, foi encontrar as duas e dizer que o passeio já estava acertado.
Cora e Suzana, ao tomarem conhecimento da aquiescência de Maria Lúcia, ficaram muito contentes.
Assim, foi só uma questão de tempo para o passeio. 
Caminhando pelas principais ruas de São Paulo, as quatro moças se divertiram muito. Passeando pela Rua Augusta, visitaram uma das ruas mais chiques da cidade na época. Aproveitando o passeio, as moças fazer uma visitinha a mãe que possuía um salão no local. Além disso, observando vitrines e entrando em lojas, as moças fizeram algumas compras. Depois, famintas que estavam, resolveram parar em um restaurante e almoçar.
Depois, de almoçarem e colocarem as conversas em dia, a moças voltaram a caminhar pelas ruas da cidade.
A certa altura, depois de muito caminhar, Marilu, sentindo-se cansada, pediu para as amigas darem uma pausa. Foi então, que as moças, próximas da Praça da República, resolveram atender o pedido da amiga. Marilu, apreciando a beleza do local, sentou-se e ficou apreciando a natureza que a cercava.
Nisso, Maurício, que por acaso também passava pelo local, ao vê-la sentada, absorta em pensamentos e junto a três garotas, resolveu tomar coragem e se aproximar. 
Sem saber direito o que diria a ela, cumprimentou-a bem como suas amigas.
Maria Lúcia então, perguntou-lhe como ele estava. 
Maurício respondeu: 
-- Estou bem. Melhor agora que eu encontrei pessoas tão gentis.
Cora e Suzana sorriram. 
Maria Lúcia por sua vez, dizendo que ele estava exagerando comentou que ele também era muito educado.
Maurício agradeceu o elogio e dizendo que estava muito contente por tê-la encontrado aquela hora, timidamente comentou que ficou sabendo que ela estudou um ano na Inglaterra.
A moça assentiu com a cabeça.
Maurício, ainda um pouco sem jeito, resolveu perguntar a ela, se havia gostado da viagem. 
Marilu respondeu que adorou conhecer um outro país. Além disso, teve a rara oportunidade de visitar cidades da Europa que ela nem imaginava que um dia iria conhecer. Dizendo-se fascinada por aquele continente Marilu disse que se pudesse, passaria horas e horas falando a respeito de suas incursões pela Europa, bem como sobre sua estada na Inglaterra.
Maurício então, percebendo um certo constrangimento da moça, fez questão de dizer que estava deveras interessado em seu relato.
Maria Lúcia por sua vez, comentando que tinha muito a dizer, respondeu-lhe que poderia lhe contar sobre a viagem qualquer dia desses.
Maurício, ao ouvir a resposta da moça, ficou um pouco desapontado.
Marilu no entanto, percebendo o interesse do rapaz por sua viagem, prometeu a ele, que quando se encontrassem novamente e tivessem a oportunidade para conversarem mais, contaria suas peripécias na Europa. Em seguida, desculpando-se comentou que precisava ir. 
Maurício ao ouvir isso, despediu-se da moça.
Marilu também se despediu.
Nisso as garotas dizendo tchau, também aproveitaram para se despedir. 
Em seguida, as quatro moças pegaram suas sacolas e voltaram para suas casas.
A noite, depois de um extenuante dia de trabalho, Rose foi até o quarto das garotas ver o resultado do esperado passeio das duas. 
A mulher ao ver a profusão de roupas e alguns sapatos, ficou encantada. Realmente tudo era de muito bom gosto. Curiosa, Rose foi logo perguntando as filhas, onde elas haviam comprado peças tão bonitas.
As duas responderam que compraram as roupas em várias lojas da cidade.
Rose então, percebendo que algumas peças foram compradas no Mappin, comentou que assim que tivesse um tempo livre, faria o mesmo que as filhas.
Nisso a família foi jantar. Maria Lúcia e Laura, não se cansavam de falar sobre a tarde agradabilíssima que tiveram. Rose por sua vez, quando foi perguntada pelo marido, sobre como havia sido seu dia de trabalho, comentou que corrido como sempre, mas muito bom. Paulo também falou sobre seu trabalho.
Quem via a família conversando animadamente sobre assuntos os mais variados possíveis, nem sequer podia imaginar que há pouco tempo atrás, nem tudo eram flores na vida desta família.
Realmente, estava tudo calmo. 
Laura, cuidadosa, por algum tempo, deixou seus amigos suspeitos. Cautelosa, não queria por tudo a perder. Por esta razão, resolveu ao menos por algum tempo, fazer o que seus pais queriam.
Assim, seria apenas uma questão de tempo, para voltar a aprontar.
Nisso, Marilu em conversas com as amigas da escola, percebendo a aproximação de Maurício, continuou a falar.
O rapaz, tentando se aproximar, foi logo perguntando se ela podia lhe dar um pouco de sua atenção.
Marilu, ao ouvir o pedido, pediu licença as amigas e foi ter uma breve conversa com ele. Maurício então, dizendo que queria conhecer os detalhes de sua viagem, comentou que precisavam falar a sós.
Marilu ao ouvir isso, ficou espantada. 
Maurício explicando-se, comentou que só queria conversar. Dizendo que ela era muito requisitada em sua escola, pediu a ela que marcasse um dia para conversarem.
Maria Lúcia, relutante, diante dos apelos do rapaz acabou concordando. 
Assim, depois de muita insistência, a moça combinou que se encontrariam. Dali a poucos dias, os dois se encontrariam em um cinema.
O rapaz, satisfeito, agradeceu a moça e retirou-se.
Marilu então, ao voltar a falar com as amigas, percebeu que as mesmas, depois de verem o rapaz se aproximando passaram fazer perguntas a respeito do mesmo. Curiosas, queriam saber seu nome, se era namorado dela, etc.
 A moça ao perceber isso, incomodada com tantas perguntas resolveu ir até a sala de aula. Cansada de tantas perguntas, já havia se aborrecido quando Cora e Suzana, que depois de verem o rapaz se aproximar e conversar com ela, não pararam de inquiri-la a respeito dele.
Marilu era muito gentil, mas não gostava quando as pessoas começavam a fazer perguntas pessoais. Por isso mesmo, sempre que a conversa tomava esse rumo, ela fazia questão de desconversar e procurando fugir do fogo cruzado, ficava sozinha.
Cora e Suzana, percebendo isso, pararam de fazer perguntas. Mas desconfiadas de que Maurício estava interessada na moça, as duas não paravam de especular. 
Laura, como quem não queria nada, não perdia a oportunidade de ouvir as duas falando sobre isso. Curiosa para saber mais detalhes, deixava as duas falarem sobre o assunto. Isso por que, assim que descobrisse um pouco fraco da irmã, sabia que poderia usá-lo em seu favor.
Contudo, não seria nada fácil descobrir o havia entre os dois. 
Toda vez que Laura tentava sondar a irmã a este respeito, ouvia como resposta que não havia nada demais. 
No entanto, depois de muito ser inquirida sobre o assunto, Marilu irritada, respondeu que ninguém tinha nada com isso.
Laura, ao ouvir a resposta da irmã, começou a desconfiar da mesma.
Nisso Maurício, ansioso por poder falar com Maria Lúcia sem a interferência de suas amigas, finalmente pôde realizar seu intento. 
Gentil, o rapaz combinou o encontro a tarde. Vestido com um terno ele aguardou Maria Lúcia que usava um tailler. Na matinê, os dois estavam elegantemente trajados. Como exigência da época, para se entrar nos cinemas as pessoas precisavam usar trajes sociais. Por isso mesmo necessário se fazia pôr-se elegante.
Durante a sessão, os dois se deslumbraram. Hollywood, a fábrica de sonhos americana, sabia como ninguém fazer grandes filmes. Marilu, encantada com a fita, ao sair do cinema, não se cansou de comentar sobre a beleza do filme. 
Maurício, encantado com a moça, deixava-a falar.
Porém a certa altura, a moça, sem ter o que dizer, calou-se.
O rapaz, dizendo então que estava curioso para saber como havia sido sua viagem, pediu para que ela lhe contasse detalhes do passeio.
A moça começou a contar-lhe então, como fora a viagem.
Depois que saíram do cinema, o rapaz, fazendo questão de prolongar o passeio, convidou-a para ir com ele até uma lanchonete. 
Marilu tentou recusar, mas Maurício, dizendo que ficaria muito aborrecido se ela declinasse o convite, acabou convencendo-a a acompanhá-lo.
E assim foi. Lá, pedindo um sanduíche e um milk-shake para cada um, o rapaz sugeriu que ela contasse como fora sua estada no Velho Continente.
Marilu então começou a contar. Dizendo que escolhera a Inglaterra para estudar em razão do fato de saber inglês, comentou que aquela foi a porta de entrada para conhecer muitos outros países. Alegando que conhecera muita coisa na Europa, contou em detalhes tudo o que viu.
Maurício, empolgado com o relato, praticamente só ouvia o que a moça tinha a dizer. Educadamente, nas poucas vezes em que interrompeu a conversa só o fez para elogiar a moça. Dizendo que a Europa era fascinante, comentou que ela fora muito corajosa em fazer todos esses passeios.
Por sua vez, Maria Lúcia agradecia os elogios feitos e continuava a falar sobre a viagem.
Quando o garçom trouxe o lanche, Maurício e agradeceu e convidando-a a comer, deixou que ela fizesse uma pequena pausa em sua narrativa. E assim, os dois se deliciaram com a comida.
Depois, Maria Lúcia continuou a falar sobre o passeio. Maurício atento, parecia sorver suas palavras. E a moça, animada, continuou conversando. Ao final de algum tempo, percebendo que o rapaz nada dizia, ela perguntou:
-- E você, não diz nada?
Maurício respondeu então:
-- Não. Diante de um relato tão fascinante, eu não tenho nada para acrescentar. Quer dizer, exceto quanto a um ponto: Eu estou morrendo de inveja. Maria Lúcia, você viajou praticamente o mundo inteiro. O mais surpreendente é que você bem nova. Geralmente quem tem essas histórias para contar são as pessoas mais velhas. Isso é fascinante. Você sabe viver a vida intensamente.
Marilu sorriu.
Maurício então continuou:
-- Eu sei que fui bastante impertinente em te interpelar daquela maneira. Mas se eu não tivesse feito isso, certamente não teria tido o privilégio de ouvir histórias tão fascinantes.
Marilu, ao ouvir elogio agradeceu. No entanto, uma coisa a intrigava. Se estudavam no mesmo colégio, como ele nunca conseguia se aproximar dela?
Maurício então respondeu:
-- É por que você é muito solicitada. Mesmo assim eu percebi quando a senhorita deixou cair sua luva. E foi assim que comecei a me aproximar.
Marilu entendeu então.
Maurício, comentando então, que não entendia o sistema anterior, no qual moças e rapazes tinham que estudar separados, criticou a este. 
Maria Lúcia, dizendo que não sabia o que dizer a este respeito, já que sempre estudara em colégio de moças, comentou que estava se acostumando com os sistema misto.
Maurício, percebendo que o assunto estava ficando polêmico demais, resolveu contar amenidades. Dizendo que conhecia muito pouco da Europa, comentou com Maria Lúcia que um dia ainda faria uma longa viagem para conhecer todo aquele continente.
A moça ao ouvir as palavras do rapaz, comentou que deveria mesmo fazê-lo. Ver ‘in loco’ tudo era ensinado em sala de aula era bem melhor do que simplesmente ouvir dizer que tudo aquilo existia.
Maurício concordou.
E assim, os dois ficaram longamente conversando.
Desta forma Marilu pôde finalmente perceber que o rapaz era uma ótima pessoa.
A certa altura, Maurício ao perguntar as horas para o garçom, o mesmo lhe respondeu. 
Marilu então, percebendo o adiantado da hora, comentou que precisava voltar para casa.
Maurício, percebendo a aflição da moça, prometeu acompanhá-la. 
Marilu, tentou recusar a oferta, mas o rapaz, dizendo que era muito tarde para ela sair por aí, andando sozinha, fez questão de acompanhá-la até sua casa.
Laura, que vinha bisbilhotando a vida da irmã, ao olhar pela janela, percebeu que um rapaz a acompanhava. Da janela ela viu quando os dois se despediram pouco antes de Marilu se aproximar de casa.
Quando Marilu entrou em casa, Rose a esperava na sala. Dizendo que a filha havia se demorado, perguntou se havia encontrado com alguma de suas amigas da escola.
A moça, surpresa foi logo respondendo que sim. 
Laura porém, sabia que isto não era verdade. Isso por que, se a moça tinha vindo acompanhada por um rapaz era por que tinha passado a tarde inteira com ele. Ao chegar a esta conclusão, Laura percebeu que tinha um trunfo nas mãos. Com ele poderia forçar Maria Lúcia a ajudá-la a sair de casa.  
Dessa forma, Laura, tentando encontrar uma maneira de dizer a irmã o que sabia, ficou a sondá-la por muito tempo. Aguardando a oportunidade certa para dizer o que sabia, esperou Marilu cair em contradição para falar que a havia visto chegar em casa com um rapaz.
Com isso, dias depois... 
Assim que Maria Lúcia acabou de conversar com a mãe –  como sempre fazia –, foi até seu quarto. Para seu espanto, Laura a esperava.
Marilu surpresa com a presença da moça em seu quarto, perguntou logo:
-- O que você está fazendo aí?
-- Nada demais. Só estava esperando você chegar. – respondeu ela, ávida para que Marilu revelasse o nome do estranho com quem estava saindo.
Laura, apesar de curiosa, tentava não demonstrar seu interesse no assunto. Por isso, como quem não queria nada, a moça começou a perguntar a Marilu sobre os passeios que vinha fazendo ultimamente.
Marilu, dizendo que fazia caminhadas com as amigas, comentou que não havia sido nada demais.
Laura porém, não ficou satisfeita. Insinuando que ela parecia estar se divertido muito, insistiu em perguntar com quem ela estava saindo.
Marilu contudo, não respondeu o que Laura gostaria de ouvir.
Contudo, com o passar dos dias, incomodada com as perguntas de Laura, Marilu acabou deixando escapar que ela e Maurício conversaram muito sobre sua viagem.
Laura por sua vez, cansada de fingir que não sabia de nada, revelou a irmã que a viu chegando com um estranho em casa, certo dia. 
Marilu ao ouvir isso tentou se fazer de desentendida, mas não deu certo. 
Laura irritada, respondeu que não agüentava mais tanta dissimulação. Além disso, ameaçou contar a mãe delas o que havia visto.
Marilu ao perceber a intenção da irmã, ficou espantada com sua atitude. Dizendo que não esperava uma atitude dessas dela, deixou bem claro que estava profundamente decepcionada.
Laura porém, não se importou nem um pouco com a atitude da irmã. Comentando que o que ela pensava a seu respeito não lhe interessava nem um pouco, exigiu que Marilu a ajudasse a convencer Rose de que ela podia sair de casa a hora que quisesse. Além disso, Rose não precisava ficar vigiando-a, já que a moça havia se comportado muito bem nos últimos tempos.
Marilu, ao ouvir o pedido de Laura, comentou que não poderia atendê-lo. 
Laura, irritada com o comportamento relutante da irmã, ameaçou novamente contar a Rose o que havia visto.
Maria Lúcia aborrecida, ao ver-se sendo chantageada pela irmã, disse em tom irritado:
-- Não me amole!
Em seguida, arrastou Laura para fora do quarto.
A garota irritada, ao ver-se sendo empurrada, respondeu:
-- Não empurra.
Maria Lúcia no entanto, continuou empurrando-a até tirá-la de seu quarto. Ao deixá-la para fora, fechou a porta e trancou-se.
Laura sentindo-se desrespeitada pela irmã, prometeu que contaria tudo a sua mãe. Gritando na frente da porta do quarto de Marilu, a moça acabou chamando a atenção de  seus pais, que ao ouvirem os berros, foram até o segundo andar da residência para saber o que estava acontecendo.
Laura, ao perceber a aproximação, tratou logo de ir para seu quarto e se esconder. Precavida, deitou-se na cama e fingindo dormir, esperou sua mãe entrar no quarto.  
Rose e Paulo, preocupados, foram primeiramente até o quarto de Marilu. Ao chegarem em frente ao mesmo bateram na porta.
Contudo, Marilu não os atendeu.
Em razão disso, o casal foi até o quarto da filha mais nova.
Para espanto de Rose, Laura estava dormindo.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

SONHO DE VALSA - CAPÍTULO 12

No entanto, apesar de toda a felicidade que sentia por ter realizado um grande sonho, Marilu, desde que chegara notou que Laura a estava evitando.
Muito embora nunca tivessem tido um bom relacionamento, Maria Lúcia sempre gostou da irmã. Mas Laura, irascível, mal conseguia olhar para ela. Sentia muita raiva de Marilu. 
Isso por que sempre achou que irmã tinha melhores oportunidades que ela.
Embora seus pais, tenham sempre lhe explicado que a viagem de Marilu não era um passeio, Laura nunca quis entender. Sentindo-se deixada de lado, ficou morrendo de raiva da irmã, ao saber que ela ficaria por mais de um ano longe de casa.
Isso por que, segundo ela, era ela quem deveria ter viajado e não Marilu.
Por essas e por outras, Marilu, mesmo sentindo que seria repelida pela irmã, resolveu ir atrás dela e conversar. 
Mas, antes disso, Marilu foi advertida pela mãe, que Laura havia aprontado muito durante o tempo em que ela esteve fora. Ao contrário do que se imaginava, Laura foi vista em meio a uma multidão de jovens marginais – nas palavras de Rose –, assistindo um racha.
Ao ouvir isso, Marilu ficou horrorizada. Afinal Laura sempre fora rebelde, mas chegar ao ponto de colocar a própria vida em risco... Isso realmente era algo que ela nunca imaginaria que sua irmã fosse capaz de fazer.
A despeito disso, Rose comentou com Maria Lúcia, que estava tomando todas as providências necessárias para que esse tipo de comportamento de Laura não se repetisse.
Nesse momento então, teve que contar a filha mais velha, que Laura estava de castigo desde o malfadado acontecimento. Assim, a garota só podia sair de seu quarto para ir a escola e fazer suas refeições. Até segunda ordem, nem mesmo a televisão ela podia assistir.
Por isso mesmo, ao comentar sobre a gravidade da situação com Marilu, Rose aconselhou-a a não procurar a irmã para conversar. Do jeito que a garota estava, segundo  Rose, Marilu estava sujeita mais a ouvir grosserias do que qualquer outra coisa.
Mas, Marilu insistiu com a mãe. Queria por queria conversar com a irmã. Queria entender, por que ela nem ao menos lhe dirigira uma palavra desde que chegou.
Assim, mesmo ante os protestos de sua mãe, Marilu subiu e foi até o quarto da irmã.
Ao entrar, percebeu que a mesma estava deitada sobre a cama, de costas para ela.
Por isso, assim que ouviu o barulho da porta se abrindo, disse:
-- Vá embora. Eu não quero falar com ninguém.
Nisso, Marilu, já entrando no quarto da irmã, respondeu:
-- Mas sou eu.
Laura, ao ouvir a voz da irmã, voltou-se para ela e perguntou:
-- O que é que você veio fazer aqui?
-- Vim só ver como você está. – respondeu com calma.
-- Pois então já viu. Pode voltar. – disse Laura, secamente.
-- O que está acontecendo, heim, Laura?
-- Ah, você não sabe? Curioso! 
-- Por que? Eu deveria saber?
-- Quanto cinismo. Como se você não soubesse o que está acontecendo. Não é mesmo? Aposto que Seu Paulo e Dona Rose já contaram direitinho o que está acontecendo. Não é mesmo?
-- Laura. Por que toda essa agressividade? Que mal eu te fiz?
-- O mal de ter nascido. – respondeu ela, agressivamente.
-- Espere um momento. Eu sou a mais velha. Portanto, quem deveria estar incomodada com sua presença, deveria ser eu e não o contrário. 
-- Eu sei. Você também me odeia. – respondeu Laura, sentida.
-- Não. Eu não te odeio. Nunca te odiei. Nem mesmo quando você me tira do sério e me dá grandes razões para isso. Não eu não te odeio. Muito pelo contrário. Eu te adoro.
-- Se me adora tanto assim. Por que nunca me defende quando papai briga comigo?
-- Por que eu não tenho que me envolver nas brigas de vocês.
-- Ah, sim. Está certo. Principalmente quando ele me compara a você, você não pode dizer a ele que eu não tenho obrigação nenhuma de ser igualzinha a filhinha do coração. Não é?
-- Calma aí. Quer dizer então, que você está magoada comigo por que você e papai brigaram mais uma vez?
-- Mais uma vez. Mais uma vez – repetia Laura, com rancor. – Mais uma vez, nada. Foram várias brigas. E quer saber por que? Por que ele sempre preferiu você. Você é a mais gentil, a mais educada, a mais dedicada, a mais estudiosa, a mais amorosa, a mais querida ... Enfim, você é o sonho de filha de qualquer pai e mãe. Eu por outro lado, sou o extremo oposto de tudo isso. Sou estúpida, mal-educada, grosseira, desagradável, nojenta ... Heim? O que mais eu sou, heim Marilu?
-- Você não é nada disso. Você é uma garota inteligente. Um tanto quanto mimada, mas não é nenhuma estúpida.
-- Ah, sim! Muito obrigada. – respondeu irônica –  Mas, por que será que até os seus elogios parecem bofetadas para mim? Será que é por que eu sei que são falsos?
-- Escute aqui, Laura. Eu nunca fui cínica ou falsa com você. Aliás, muito pelo contrário. Você é que sempre foi injusta comigo. – disse Marilu, já perdendo a paciência.
-- Injusta. Quando é que alguém aqui foi justo comigo?
-- Isso não é verdade Laura. Todo mundo aqui em casa te trata muito bem, até os empregados.
-- É claro. Eu me esqueci. Desculpe. Sempre vai haver uma desculpa para vocês se sentirem menos culpados por fazerem o que fazem comigo. Você está vendo minha situação? Eu estou trancada aqui, por que até mesmo minha mãe resolveu que eu merecia um castigo.
-- E não merecia? – perguntou Marilu.
-- Sinceramente, eu não esperava que você fosse me tratar desse jeito. Até mesmo você, que diz gostar de mim, resolveu me agredir. Se você gostasse tanto assim de mim, não teria me prejudicado tanto.
-- E quando foi que eu te prejudiquei? – perguntou Marilu espantada.
-- Quando por exemplo, você resolve ficar com as melhores coisas, e não deixa espaço para mim. Marilu, você ficou por mais de um ano viajando e se divertindo pela Europa, enquanto eu tive que agüentar todas as comparações e cobranças dos nossos pais, que exigiam tudo o que você dava a eles, de mim. 
-- Se você queria viajar pela Europa, por que não pediu a eles, que viajassem nas férias para lá? Dessa forma, a gente poderia até viajar juntas.
-- E você acha que eu não pedi? Mas como sempre, como era um simples desejo de Laura, foi adiado. Se for você pra você, eles mais do que depressa, dariam um jeito para que você viajasse. Afinal, um sonho de Maria Lúcia, é muito mais importante, do que um sonho meu.
-- E por que você não falou que era um sonho seu? Por que não tentou conversar com nosso pai sobre isso? Mesmo mamãe, se ela soubesse que isso era tão importante pra você, aposto que ela teria conseguido convencê-lo.
-- Como se eu não tivesse tentado.
-- Sim, talvez você tenha tentado. Mas já pensou se fez da maneira certa? Afinal, você sabe muito bem, o quanto foi difícil para mim, convencer papai de que estudar por um ano na Inglaterra era muito importante. 
-- Mas também, com a ajuda de mamãe, não havia como você não conseguir. Realmente, meus parabéns, mais uma vez, uma estratégia perfeita!
-- Sabe Laura, o que parece tudo isso? Parece que tudo não passa de uma competição para se saber quem pode mais. Desde criança, sempre foi assim, eu ganhava uma boneca, você então queria eu lhe desse essa boneca. Aí, por você ser a caçula, eu sempre tinha que ceder. Depois, quando os nossos pais decidiam me dar um presente melhor, aí você queria também. Ou seja, é sempre muito difícil te agradar. Primeiro: você não sabe o que quer. Segundo: você só quer espicaçar os outros. Com toda a sinceridade, eu acho que você nunca quis viajar pela Europa. O que você queria era chamar a atenção dos nossos pais, para que eles fizessem o que você achava que queria. Que era, viajar pela Europa, no meu lugar. Só tem um porém. Você nunca foi muito afeita aos estudos. Por isso eu lhe digo, se você fosse para lá, em menos de uma semana, voltaria correndo para casa. Ora Laura, se você não consegue conviver nem com suas colegas de escola, vai conseguir conviver com estrangeiros, algumas vezes mais cruéis e arrogantes? 
-- Então quer dizer que você sofreu muito na Europa? – perguntou Laura, irônica.
-- Não, por que lá eu tive a sorte de conhecer pessoas maravilhosas. Mas, nem sempre é assim. 
-- E segundo você, eu não conseguiria fazer amigos por lá?
-- Se realmente quisesse, conseguiria. Mas esse não é o ponto. Eu não duvido da sua capacidade de fazer amizades. A questão é: Realmente era isso que você queria, ou era só vontade de chamar a atenção? Tem mais um detalhe, se aqui no Brasil, você sofre com os estudos, lá na Inglaterra, as coisas iriam piorar um pouco. Isso por que, só pra começar, você não fala inglês.
-- Isso não me impede de aprender. E aprender a falar tão bem, que mais pareceria uma inglesa falando. Melhor do que você.
 Ao ouvir isso, Marilu não pode conter o riso.
-- Está rindo de que? Duvida?
-- Não. Eu não duvido. Eu só acho que não é isso que você quer.
-- E segundo o seu entendimento, eu sou uma inútil que não serve pra nada. Não é isso?
-- É claro que não. Você é uma garota incrível. Você é esperta, viva, animada, agitada. O que te falta é um pouco de juízo e menos egoísmo. Não fossem essas duas coisas, você teria todas as qualidades que se esperam das pessoas.
-- De pessoas como você. Não é isso?
-- Mas é claro que não. As pessoas são diferentes. Você não tem que ser igual a mim. 
-- Alvissaras! Eu pensei que para ser uma boa pessoa, eu teria que ser uma cópia sua.
-- Alvissaras. Então você conhece esta palavra?
-- Sim, eu conheço. Ao contrário do que você pensa, eu não sou nenhuma ignorante. E sei muito mais do que isso.
-- Que bom! Isso prova que você é uma pessoa de valor. 
-- De valor. E de que me adianta todo esse valor, se ninguém percebe isso? Eu já não agüento mais tentar agradar as pessoas e não ter o reconhecimento disso.
-- Pois se você continuar assim, logo logo as pessoas irão perceber.
-- Por que as pessoas iriam se importar com uma pessoa sem valor como eu?
Ao ouvir isso, Marilu ficou espantada. Como pode ela se referir a si mesma, de uma maneira tão depreciativa? Por isso, tomando cuidado com as palavras, ela respondeu assim:
-- Nunca mais repita uma coisa dessas. Você é uma garota de muito valor, sim. Eu vou dizer só uma vez, mas eu quero que você nunca mais se esqueça do que eu vou te dizer agora. Você é muito inteligente, o que te mata é a preguiça. Se você se dedicasse mais aquilo que deseja, fatalmente acabaria conseguindo o que quer.
-- Bobagem.
-- Bobagem nada. Eu estou falando a verdade.
-- Mentira. Você só está falando isso para posar de boa samaritana. Pare com isso, eu não gosto que brinquem comigo. – respondeu agressiva.
-- Por que? As pessoas tem brincado com você?
-- Isso não é de sua conta. – disse ela. – Realmente, vai ser sempre assim. Você reunindo todas as qualidades de uma filha dileta, e eu vou ficar sempre com as suas sobras. Até quando você me elogia, tem um senão.
-- Sabe por que? Por que você trata muito mal as pessoas.
-- E as pessoas gostam mais de você ... – disse ela, quase chorando.
-- Laura. Isso não é verdade. Você sabe muito bem, quem é que afasta as pessoas. E eu não entendo por que.
-- Mas eu entendo. Afinal, quem é que vai querer ficar longe de uma pessoa tão maravilhosa quanto você? De tão perfeita que é, parece que um anjo que foi trazido do céu. – comentou Laura, irônica, e emendou. – De tão linda, com esses cabelos bonitos que você tem, que mais parece que saiu de uma revista, você parece uma princesa. E eu, mais pareço uma bruxa. Até nisso você é injusta comigo. Quem mandou você ser tão bonita? Por que você até nisso, tem que ser melhor que eu?
-- E quem disse que você não é bonita? Tem cabelos castanhos. Lindos também. Podem não ser negros e lisos como os meus, mas são bonitos também. Esses cachos são encantadores. São tão lindos que parecem feitos de seda.
-- É ... e para ajudar, você tem os olhos negros, mais misteriosos que eu já vi. – falou Laura, visivelmente aborrecida.
-- Ah, é mesmo? Pois eu te digo que você tem olhos amendoados tão lindos que mais parecem um lago repleto de mel. Aposto, que você fosse um pouquinho menos rude com os garotos, provavelmente algum deles já teria tentado mergulhar nestes lagos.
-- E por que mergulhar num lago de mel, se eles podem ter a noite dentro dos olhos da namorada?
-- Não sei. Talvez por que eles tenham vontade de um pouco de doçura. – respondeu ela rindo.
Laura a perceber o riso, acreditando que Maria Lúcia estava ali para humilhá-la, respondeu:
-- Se pensa que pode vir aqui e rir de mim, está muito enganada ...
Prontamente, Maria Lúcia interrompeu a irmão, dizendo-lhe:
-- Me desculpe a brincadeira. Não foi minha intenção rir de você. Muito pelo contrário, eu realmente acho que você tem muitas qualidades. Além disso, um pouco de picardia, não faz mal a ninguém.
-- Você acha?
-- Acho sim. Vê se pensa um pouco no eu te falei. Afinal, eu não estou aqui para brigar. 
Nisso, Rose bateu na porta perguntando se estava tudo bem.
Ao ouvir como resposta que tudo transcorria bem, aquietou-se e avisou as duas para não se atrasarem, já que em breve, o jantar estaria na mesa.
Com isso, as duas encerraram a conversa. 
Mas não sem antes Laura pedir a irmã, que convencesse a mãe a liberá-la do castigo. Afinal, já estava cansada de ficar tanto tempo trancafiada em seu quarto.
Como resposta, Maria Lúcia prometeu, diante da insistência da irmã, em tentar convencer Rose, a liberá-la do castigo.
Com isso, as duas foram juntas jantar.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

SONHO DE VALSA - CAPÍTULO 11

Rose e Paulo, ao lerem o telegrama, ficaram imensamente felizes. Finalmente Marilu ía voltar para casa.
Depois de mais de um ano longe de sua família, finalmente a garota voltaria para casa.
Mas, ao contrário de Rose e Paulo, que estavam felizes com o retorno de Maria Lúcia, Laura, por sua vez, não estava nem um pouco satisfeita com a notícia.
Sentindo-se ameaçada pelo retorno da irmã, Laura passou a mais uma vez, se afastar dos pais. Adotando um comportamento mais agressivo, mais e mais vezes discutia com eles.
Inconformada com o retorno da irmã, Laura passou a cada vez mais, agredir seus pais com palavras duras e um comportamento rebelde.
Isso por que, em razão de suas freqüentes escapadas noturnas, Paulo, certa vez, ao perceber que Laura não estava em seu quarto, saiu para procurá-la. Ao perceber que a garota não estava em nenhum lugar da casa, retornou para seu quarto, trocou-se e partir em seu encalço.
Em meio as ruas de São Paulo, ficou durante toda a madrugada procurando-a. De carro, vasculhou todas as avenidas, as principais ruas da cidade, os lugares mais remotos, e nada. Nada de encontrá-la.
Ao ver que de nada adiantaria procurá-la em meio a uma multidão de praças, ruas e avenidas, Paulo retornou para casa e telefonou para a polícia.
Contudo, enquanto as horas se seguiam intermináveis, Paulo ía ficando cada vez mais angustiado. Tudo por que Laura havia sumido.
Preocupado com a possibilidade da menina ter fugido de casa, Paulo, entrou mais uma vez em seu quarto. Ao entrar, reparou que tudo estava no mesmo lugar. Ao abrir o armário, reparou que ela não levara nenhuma de suas roupas consigo.
Percebendo isso, Paulo tranqüilizou-se. Tudo indicava que era mais uma traquinagem.
Mas, a despeito de tudo isso, Rose ficou muito preocupada.
Como Laura havia sumido de casa e ela não viu? Como pôde ser tão relapsa?
Paulo, ao perceber a intranqüilidade da esposa, procurou acalmá-la. Afinal, que culpa tinha ela, se Laura estava cada vez mais difícil de se lidar? Como ela poderia imaginar que a filha, estava saindo de casa?
Ao ouvir isso, Rose então, perguntou ao marido:
-- Então você acha que Laura já vem fazendo isso há muito tempo?
No que ele respondeu:
-- Eu acredito que sim. Esta não é a primeira vez que ela saí de casa a noite, e na surdina. Eu acho que ela já vem fazendo isso há algum tempo.
Ao conjecturarem sobre isso, passaram a se dar conta que Laura, desde há muito tempo, já vinha dando sinais de que algo estava errado.
Constantemente acordava tarde, e além disso, passava horas trancada em seu quarto.
Estranhamente, sempre se recolhia para seu quarto, depois do jantar, e de lá só saía para almoçar.
Realmente, nos últimos meses, Laura estava muito estranha.
Mas Rose e Paulo, por trabalharem muito, estavam muito ocupados para perceberem o comportamento estranho da filha.
Somente agora, quando a situação ganhou contornos de gravidade, é que os dois se deram conta de que algo ía muito mal com a criação de Laura. Esta, ao contrário de Maria Lúcia, nasceu para dar trabalho, nas palavras de Paulo.
Constantes vezes, ele se referia a filha caçula, comparando-a a Maria Lúcia. Sempre que alguma coisa dava errada, ele dizia para Laura:
-- Por que você não se comporta da mesma forma que sua irmã? Maria Lúcia é tão mais dócil que você. Por que você não aprende com ela, a ser gentil com as pessoas?
Mas é claro que ao ouvir isso, Laura ficava ainda mais irada com seu pai. Por isso, sempre que ouvia esse tipo de comentário, respondia:
-- Ah, é? Pois saiba o senhor, que estou cansada destas comparações. Além disso, por que o senhor, não é um bom pai comigo? Por que o senhor só trata bem a Maria Lúcia? Por que o senhor não gosta de mim? – perguntava, já quase gritando.
Paulo, ao notar a agressividade da filha, logo ía lhe dizendo:
-- Mocinha. Abaixe seu tom de voz. Você não tem o direito de falar assim comigo. Está ouvindo?
-- O senhor é que não tem o direito de exigir de mim, que eu me comporte da mesma maneira que sua filhinha querida. Vá, fique com sua queridinha, e me deixe em paz.
E assim, se encerravam as brigas. Laura era quem, quase sempre, dava a última palavra.
Rose, entrementes, nunca concordou com esse clima de guerra em casa. Ao contrário do marido, que sempre comparava as duas meninas, ela sempre fez questão de salientar que gostava muito de ambas. Além disso, ela sempre criticou o comportamento do marido, no que tocava a mania que ele tinha de compará-las.
Cautelosa no trato com as filhas, Rose sempre alertou o marido, que agir dessa maneira, não ajudava em nada os dois. Só piorava as coisas.
Mas Paulo, teimoso que era, nunca dava ouvidos ao que a esposa dizia. Para ele, era ela que estava equivocada.
E assim, as coisas nunca se resolviam.
Para ela, a causa de tantas brigas e discussões se dava ao fato de que ambos – pai e filha –, eram parecidos demais. Tão parecidos, que nenhum dos dois podia admitir que estava errado.
Mas voltemos, ao sumiço de Laura.
Nervosa, Rose, chegou a culpar o marido pelo desaparecimento da filha. Disse a ele, que as constantes brigas que tinham, estimulava ela a sumir de casa.
Ao ouvir isso, Paulo ficou furioso com a esposa, e só não lhe disse palavras atravessadas, por que, no momento em que ía fazê-lo, foi interrompido pelos policiais. Estes, ao trazerem Laura pelo braço, encerraram qualquer discussão que pudesse ocorrer.
Assim, Paulo e Rose, ao verem a filha sã e salva, esqueceram-se das brigas e foram conversar com a garota.
Os dois então, agradeceram os policiais e os dispensaram.
Em casa, Laura foi diretamente para seu quarto.
Paulo ao perceber isso, subiu as escadas e foi até o quarto da moça. Porém, ao tocar na maçaneta, percebeu que Laura havia se trancado dentro do quarto.
Diante disso, o homem ficou furioso. Ameaçando por a porta abaixo, só não o fez, por que a esposa o impediu.
Ela, procurando acalmá-lo foi logo lhe dizendo que:
-- Paulo. Paulo. Não adianta. Agora não é o melhor momento para isso. Vamos deixar para amanhã. Até por que, mais cedo ou mais tarde, ela vai ter que sair do quarto. Não se preocupe, o que ela fez não vai ficar por isso mesmo. Eu mesma vou cuidar para que isso não se repita mais. Está bem?
Ao notar que o semblante da esposa havia mudado, Paulo, acalmou-se. Afinal, se a própria esposa ficou aborrecida com o comportamento da filha, fatalmente a garota sofreria as conseqüências de seu ato impensado.
Isso era coisa certa.
Por isso, Paulo, ao perceber que ela estava furiosa com a filha, comentou:
-- Rose. Eu nunca imaginei que algum dia, Laura, fosse conseguir te tirar do sério. Eu nem acredito.
-- Pois pode acreditar. – respondeu decidida. – Isso não vai ficar assim.
Nisso, ao entrarem em seu quarto e se prepararem novamente para dormir, Rose, aproximou-se do marido e pediu-lhe desculpas pelo que havia dito a ele.
Mas ele, surpreendido com o comportamento da esposa, respondeu compreensivo:
-- Não tem problema. Eu sei que você estava nervosa.
E pelo menos, momentaneamente, encerrou-se o assunto.
Contudo, no dia seguinte, ao contrário do que fizera nos dias anteriores, Rose não foi trabalhar. Avisando ao encarregado do salão, disse-lhe que só iria para lá, no final da tarde.
Já Paulo, foi para o escritório. A própria Rose pediu-lhe para que o fizesse. Isso por que, queria cuidar pessoalmente da filha.
Assim, Rose esperou calmamente a garota sair do quarto.
Esta, surpreendida com a presença da mãe, tentou fazer de tudo para se esquivar de suas perguntas incisivas. O que de nada adiantou.
Rose, cansada de ser benevolente com a filha, resolveu, que dali por diante, adotaria um comportamento mais severo com Laura. Afinal, a garota havia ultrapassado todos os limites ao abusar da confiança dela.
Por isso, ao ver que a garota só lhe respondia com evasivas, Rose tratou logo de puxá-la pelo braço e lhe advertir que, se fizesse aquilo de novo, ela não pensaria duas vezes em lhe dar uma surra.
Laura, por sua vez, ao ser advertida pela mãe, passou a se fazer de vítima. Chorando, disse que ela não podia fazer isso com ela.
Mas nem a choradeira adiantou. Rose, enfurecida, continuou a apertar o braço da filha, e a levou de volta para o quarto, em meio a empurrões, puxões e tapas.
Lá, ao entrar no quarto da garota, jogou-a no chão e deixou-a.
Ao sair, percebendo que a chave estava na porta disse:
-- Vou confiscar essa chave. – disse isso e pegou a chave para si.
Além disso, ao tomar posse da chave, encostou a porta e trancou-a.
Laura, ao ouvir o barulho da chave, foi correndo até porta, na tentativa vã de impedir que a mãe a trancasse no quarto.
Inutilmente. Rose estava decidida.
De dentro do quarto, Laura gritou, pedindo para que a mãe não a trancasse ali. Mas isso, de nada adiantou.
Rose estava insensível aos apelos da filha.
Por isso, a garota, ao perceber que a mãe não mudaria de idéia, parou de se debater. Desolada, sentou-se num canto do quarto e ficou chorando. Para ela, não havia mais nada para se fazer, senão sentar-se e ficar esperando.
Resoluta, Rose, recomendou as empregadas, que não levassem nada para a garota, e muito menos a deixassem sair do quarto. Por precaução, pediu a um dos empregados da casa, para que, de vez em quando olhassem pela janela, para ver se estava tudo bem. Em caso de qualquer coisa errada, deveriam ligar imediatamente para ela.
Nesse ponto aliás, Rose fez questão de frisar, que de forma alguma seu marido devia ser incomodado. Em caso de qualquer problema com Laura, somente ela deveria ser avisada.
Mas, para sua tranqüilidade, nada de errado aconteceu.
Assim, quando Paulo e ela retornaram de mais um dia de trabalho, tudo havia estado na mais perfeita ordem.
Por ter ficado durante todo o dia trancafiada em seu quarto, quando então foi liberada por Rose, Laura comportou-se como uma dama.
Sem brigas, o jantar foi perfeito.
Contudo, após a refeição, Rose novamente intimou a filha para voltar para o quarto.
Quando Laura tentou questionar as ordens da mãe, esta lhe perguntou:
-- Por acaso estaria você interessada em levar uns bons tabefes?
Ao ouvir isso, Laura ficou silente.
Paulo, admirou-se.
Vendo a obediência da filha, quando Rose retornou para a sala de jantar, perguntou-lhe então:
-- Querida! Nunca te vi tão dura com Laura. O que foi que aconteceu?
Nisso, Rose explicou-lhe, que havia posto Laura de castigo, e que para se garantir, tivera o cuidado de trancar a porta de seu quarto.
Contudo, para ela, isso não resolvia tudo. Rose precisava ainda, de alguém para tomar conta da garota, quando ela mesma não estivesse por perto. Assim, com a aquiescência do marido, incumbiu um de seus empregados com a tarefa de vigiá-la.
Dessa forma, os dois poderiam ficar mais tranqüilos.
Com isso, conforme os dias se passavam, mais certa se tornava, a volta de Marilu para casa.
Isso por que, encerrando-se a viagem, terminava a sua temporada na Europa. Assim, Maria Lúcia precisava retornar para seu país.
Por isso mesmo, em meados de março, Marilu retornou ao Brasil.
No aeroporto, ansiosos, estavam seus pais, aguardando sua chegada.
Para eles, as horas que antecederam sua chegada, foram uma eternidade.
Mas estes, ao vê-la bem, logo se aquietaram. Felizes com sua chegada, mal podiam esperar pelas novidades.
Depois de mais de um ano, morando na Europa, Marilu realmente, tinha muito o que contar para os pais sobre sua viagem, sua adaptação, e por tudo o que passou durante o tempo em que ficou por lá.
Detalhe: nesse aspecto, tanto seu pai quanto sua mãe, faziam questão de que ela contasse tudo. Orgulhosos da filha, queriam que ela não lhes sonegasse nenhum detalhe.
O mesmo se deu na escola.
Quando Marilu chegou, todos pararam para vê-la. Realmente, a moça estava magnífica. Usando algumas das roupas que comprara na Inglaterra, nem parecia a mesma pessoa.
Muito mais bem vestida que a maioria de suas colegas, Marilu chegou até a usar luvas quando foi até a escola.
Contudo, por estar calor, a moça resolveu tirá-las e guardá-las. Mas, distraída que estava com as garotas que vieram lhe cumprimentar, ao guardar as luvas em meio aos seus pertences, acabou deixando uma delas cair.
Ao cair, um dos rapazes, – que nesta época freqüentavam a escola, já que ela passou a ser mista – ao ver a cena, pegou a delicada luva de renda que caíra no chão e guardou.
O rapaz até tentou devolver a luva a garota, mas, diante do assédio de que a moça foi alvo, ficou impossível qualquer aproximação.
Assim o moço deixou para mais tarde entregar a luva a jovem que vira no colégio.
Contudo, a despeito do que imaginava, os dias que se seguiram, não foram nada propícios para isso. Então, mais uma vez, o rapaz teve que aguardar pacientemente a hora adequada.
E durante dias, portanto, ficou de posse da luva que a moça pertencia.
Enquanto ele esperava a hora apropriada para se aproximar e devolver a luva, Maria Lúcia, ainda encantada com a viagem que fizera, não se cansava de comentar sobre sua estada na Inglaterra, as incursões que empreendera pelo país, e as duas viagens pela Europa, que realizara. Enfim, sempre que lhe perguntavam sobre sua viagem, ela sempre tinha alguma coisa nova para contar. Realmente, aqueles quinze meses, foram meses de sonho.
E como havia muito o que ser falado sobre a viagem, Marilu se viu, durante semanas, cercadas pelas amigas e colegas, que tudo queriam saber sobre a viagem que realizara.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

SONHO DE VALSA - CAPÍTULO 10

E assim, os meses se seguiram.
Conforme a viagem foi se estendendo, o grupo aproveitou para, em uma bela viagem de navio, apreciar a costa do continente europeu. 
Maravilhados com os fiordes, observaram o litoral recortado da costa da Finlândia e da Noruega. Em relação a isso, perceberam que os mesmos, muitas vezes adentram para o interior do continente. 
Trata-se de um tipo de costa submersa, com topografia acidentada, correspondente a antigos vales glaciais, situados no litoral e ocupados pelo mar, em virtude de sua movimentação. Não exigem portanto, uma submersão litorânea, vez que podem ser resultado da erosão glacial, que em cavando leitos de geleiras abaixo do nível do mar, estas, com a retirada do gelo, podem ser invadidas pelas águas do mar. Enfim, esse é um retrato característico da geografia do país.
Por falar nisso, ao desembarcarem em Helsinki, Capital da Finlândia, os turistas viram primeiramente, sua região portuária. A cidade, situada na Península de Vironniemi, era realmente encantadora.  
Em Turku, visitaram a igualmente conhecida região portuária, e em Hango, puderam avistar casas, e a verdadeira dedicação dos finlandeses às suas mais antigas tradições. 
Quando foram visitar o Castelo de Louhisaari, em Villnas, conheceram a história de C. G. Mannerheim, o Marechal da Finlândia. 
Já na Suécia, em lá chegando, os turistas, cuidaram em visitar a Universidade de Uppsala, a mais antiga do país, fundada em 1477. Trata-se de uma magnífica construção.
Em Estocolmo – Capital –, visitaram o Prédio da Câmara Municipal. Além disso, puderam ver a guarda real, em seus típicos trajes, cuidando das principais atrações do lugar. Enquanto se divertiam, aproveitaram para visitar a cidade de Gotemburgo, em Skagerrak e conheceram o principal porto marítimo do país.
De passagem por algumas outras cidades do país, os viajantes puderam avistar o Rio Lyusnan, local onde se realiza a extração da madeira – uma das principais riquezas suecas. Em Mora, puderam apreciar a típica arquitetura da região, com suas inúmeras casas de madeira. Isto por que, trata-se de um típico povoado sueco. 
No povoado de Wengen, puderam mais uma vez, se deslumbrarem com uma vista de tirar o fôlego. Em meio a um vasto campo verde, tendo ao fundo o Pico Nevado Jungfrau, árvores e coníferas fazem companhia as casas da região. 
Realmente, um lindo lugar para se viver. 
Em Lucerna, puderam conhecer suas construções em estilo nórdico.
No Castelo de Chillon, às margens do Lago de Genebra, puderam conhecer o lugar que foi imortalizado por Lord Byron, em um de seus poemas. Trata-se de “O Prisioneiro de Chillon”, onde, em suas estrofes, se conta a vida de François Bonivard, político suíço do século XVI, que esteve preso por vários anos nas masmorras do castelo.
Por fim, no final de seu passeio pelo país, os turistas aproveitaram para passearem de trenó em Saint Moritz, em meio a montanhas cobertas de gelo e muita neve. Sim, era um ótimo lugar para se esquiar, e foi exatamente o que os turistas fizeram. 
Ao chegarem na Noruega, Susie, Emily, Helen, Lisa, Carol, Pamela, Marilu, Mister’s Winston e Willian, logo avistaram uma imensidão de trigais, na região rural do país.
Já em Oslo, sua capital, conheceram o Edifício do Parlamento, assim com suas outras construções e monumentos famosos.
Ademais, o país, famoso por seus fiordes, fizeram os turistas quererem rever os Fiordes de Geiranger, bem como um outro fiorde ao norte. Este último, faz companhia as Montanhas Nevadas.
Assim, estava concluída a viagem. Ao visitarem todo o continente, sentiram-se realizados. Afinal, não é todo o dia que se pode empreender uma viagem como esta.
Maravilhados, todos os que participaram do passeio, sabiam que teriam muito o que contar para os amigos quando retornassem e assim, apesar de felizes com a viagem que realizaram, estava também, morrendo de saudades de suas casas.
Por isso, Emily e Helen, antes de voltarem para o colégio, resolveram fazer uma pequena visita a cidade onde moravam. 
Já Pamela, Susie, Carol e Lisa, decidiram retornar ao colégio e quando estiverem novamente de férias, visitarão suas respectivas famílias.
Quanto a Marilu, ela retornaria para o Brasil, para visitar sua família. 
Certamente, seus pais, assim como ela, estavam morrendo de saudades um do outro.
Mas, antes de voltar, Marilu comunicou aos pais, que estava retornando.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

SONHO DE VALSA - CAPÍTULO 9

Enquanto Marilu empreendia sua viagem pela Europa, Laura cada vez mais rebelde, mal conversava com os pais. Nos últimos tempos, só lhe interessava ficar sozinha ou com umas amigas estranhas que conhecera na escola.
As garotas, por adotarem um comportamento esquisito, eram evitadas pela maioria das garotas do colégio. Por serem novas no colégio, acabaram se aproximando de Laura, no intuito de fazerem novas amizades.
Em razão disso, os pais de Laura, ao descobrirem que a filha andava com estranhas companhias trataram logo de conversar com ela. 
Mas Laura não quis saber de conversa. 
Desabrida, disse aos pais que ela sabia muito bem o que estava fazendo, e que eles não tinham o direito de interferirem em suas amizades.
Mas Paulo e Rose, estavam deveras preocupados com a filha.
Após a discussão que tiveram por causa das férias, desde então Laura vinha adotando um comportamento provocativo com seu pai. Este, ao perceber que somente uma conversa não iria resolver as coisas. Ficou ainda mais apreensivo.
Por isso, nos últimos tempos, passou a cobrar um comportamento melhor de Laura.
A garota por sua vez, retrucava tudo o que seu pai dizia.
Por conta disso, as brigas entre os dois, passaram a ser cada vez mais constantes.
Decepcionada, Laura vivia dizendo aos pais, que fora esquecida por eles. Que eles não se importavam mais com ela. Que foi só Maria Lúcia sair de casa, que todo eles se esqueceram que ainda tinham uma filha. Argumentou ainda, que eles não tinham o direito de tratá-la daquela maneira. 
Por isso aceitou a amizade daquelas garotas. Segundo ela, foram as únicas que não lhes viraram as costas. Isso por que, suas antigas amigas do colégio, não estavam mais falando com ela.
Enquanto Laura falava, Seu Paulo procurou ouvir tudo atentamente. Mas, assim que ela cessou suas reclamações. Foi ele quem foi dizendo:
-- Curioso a senhorita me dizer isso. Por que, até onde eu fiquei sabendo, foi você quem afastou todas as suas amigas. Ainda na época que sua irmã estava naquela escola, variadas vezes, eu ouvi, em conversas delas com Marilu, que você estava impossível.
Mas, ao proferir estas palavras, Paulo acabou criando ainda mais uma confusão. 
Laura então, resolveu se queixar de Marilu:
-- Marilu. Marilu. Sempre ela. Por que ao menos uma vez na vida vocês não lembram que eu existo? Eu já estou cansada de ouvir vocês dois só falando dela. 
Ao terminar de dizer estas palavras, subiu as escadas e foi novamente se trancar no quarto. Lá, mais uma vez, passou horas remoendo sua raiva. Realmente, sentia raiva da irmã. Tudo por que, achava que Marilu era muito mais bem tratada por seus pais, do que ela. 
Sim, Laura sentia-se rejeitada. Constantemente relegada a segundo plano. Era assim que ela se sentia. 
Por isso, nos últimos tempos, passou a sair com aquelas garotas. Constantes vezes, chegou a sair de casa, sorrateiramente pela porta da frente, enquanto seus pais dormiam.
Saía durante a noite, para conversar e aprontar com suas colegas.
Certa vez, em uma de suas maquinações, acabou sendo vista por alguns garotos, filhos de conhecidos de seu pai. 
Ao perceber que foi reconhecida, Laura ficou apavorada. Isso por que, fatalmente, os rapazes iriam contar o que tinham visto.
Por isso, não perdeu tempo. Aconselhando-se com as colegas, resolveu que a melhor estratégia, seria ir até onde eles estavam e conversar com eles. 
Isso por que, se três rapazes, nascidos no seio da fina flor da sociedade, estavam ali, era por que não estavam bem intencionados. Assim, se revelassem a alguém, que tinham visto ela naquele lugar, acabariam se comprometendo também.
Diante disso, Laura foi atrás dos rapazes, certa de que não tinha com que se preocupar. E assim o fez. Educadamente, sentou-se entre os três e comentou que aquele ali não era um bom lugar para se freqüentar.
No que os rapazes concordaram. Atrevidos, chegaram até a comentar :
-- E o que você faz aqui, Laura?
-- Isso realmente não é de interesse de vocês. 
-- Então, o que é de nosso interesse? – retrucou um dos rapazes.
-- O vosso interesse é que ninguém saiba que estiveram aqui. Certo? Assim, eu não conto que vi vocês aqui, e vocês fazem o mesmo por mim. Está bem?
Nisso, um dos rapazes, percebendo que poderia ter alguma vantagem com a garota, foi logo perguntando:
-- E o que eu ganho com isso?
-- Você ganha seu sossego e tranqüilidade com seus pais. Sim, por que ter pai e mãe, pegando no pé, é muito ruim. Você não acha? – respondeu ela, calmamente.
Nisso, o rapaz que havia feito a pergunta, ficou totalmente sem jeito.
Para piorar, seus colegas começaram a rir da situação.
Contudo, diante do quadro apresentado, todos acabaram chegando a um acordo. Ninguém contaria nada, sobre o viram e o que faziam altas horas da noite fora de casa.
Portanto, assunto resolvido.
E assim, depois de algumas bebidas, os três rapazes foram ver um racha que estava acontecendo em uma das ruas da cidade.
Isso por que, a partir dessa época, a juventude passou a adotar um comportamento rebelde. Acostumados a verem os filmes de Hollywood, apaixonaram-se pela figura de James Jean – um grande ídolo da época, e modelo de rebeldia. Por isso, sempre que podiam, os jovens transviados da cidade, aproveitavam para pôr em prática, vários atos de rebeldia.
Isso para eles, era maravilhoso. Tudo por que, fazia com que se sentissem dentro de um filme. Era como se estivessem lado a lado, com o maior ídolo rebelde que já apareceu. Aliás, todos os jovens da época, sonhavam em conhecer o ator. Principalmente as mulheres.
E dessa forma, assim transcorreram as férias de Laura. 
Andando com as garotas moderninhas da escola, desde o final do ano passado, Laura, aprendeu muito com elas, sobre o comportamento dos rebeldes. Por conta disso, passou até a se vestir de forma um pouco diferente.
Isso por que, apesar de agora pertencer a um novo grupo, não poderia chamar a atenção dos seus pais, já que eles estavam atentos ao seu comportamento. Por isso, Laura precisava tomar cuidado. Não podia por tudo a perder.
Em razão disso, depois de algum tempo, andando com as meninas, resolveu adotar um comportamento mais pacífico com relação aos seus pais.
Assim, apesar de ainda se estranharem um pouco, Laura, procurando ocultar suas saídas noturnas, passou a cada vez mais, evitar confrontos com seus pais. Principalmente com Paulo, já que era ele quem mais implicava com suas amigas.
Assim, mesmo estranhando um pouco as atitudes da filha, o casal acabou acreditando que ela realmente estava se acalmando. Além do mais, se ela tinha se tornado agressiva com os pais, por causa do cancelamento da viagem, por que ela também não poderia esquecer tudo isso e deixar de lado as brigas?
Diante disso, satisfeitos com o novo comportamento da filha, os dois passaram a acreditar que ela estava mudando.
Com isso, dada a credulidade dos pais, Laura passou a ter cada vez mais liberdade para sair. 
Sem a vigilância de Paulo, Laura só tinha que tomar cuidado para que não fosse vista pelos vizinhos quando estivesse entrando ou saindo de casa.
Mas isso era só um detalhe. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

SONHO DE VALSA - CAPÍTULO 8

E assim, após as comemorações de encerramento do ano escolar, Marilu, Helen, Emily, Carol, Susie, Pamela, Lisa, logo que saíram da festa, se recolheram em seus dormitórios e se deitaram em suas camas. Queriam estar em condições de viajar. Afinal, precisavam estar bem para conhecer, o que de mais maravilhoso, existia na Europa.
Assim dormiram. No dia seguinte, juntamente com os pais de Helen e Emily, as moças, seguiram de trem até a Escócia. Mas antes, passando por Gales, puderam avistar, à margem do Rio Dovey, uma pequena aldeia, na divisa entre a Inglaterra e a Escócia. 
Assim, conforme o trem passava, os turistas puderam logo conhecer as belas paisagens naturais do país. Além disso, quando finalmente chegaram na Capital, puderam conhecer algumas de suas edificações em pedras. Algumas dessas construções datavam da época da Idade Média. Considerada uma época de obscurantismo para alguns.
Nisso, visitaram estalagens, adegas, entre outros lugares peculiares do país.
Em freqüentes passeios que faziam, conheceram o Lago Cairbawn, ao norte do país. Uma belíssima paisagem escocesa, um rico exemplo da excelência da natureza, nos dizeres de Mister Winston.
No Castelo de Inverness, no Condado de mesmo nome, puderam apreciar a edificação que abrigava os tribunais do Condado, bem como outras repartições públicas. Ainda neste local, puderam observar o Ben Nevis, a maior montanha das Ilhas Britânicas. A maior e mais singela montanha, que Mister Willian já vira, chegou a comentar.  
Visitaram também, fazendas às margens do Lago Tay, no Condado de Perth. Em seguida, foram conhecer uma destilaria de uísque em Glenlivet. Nesse ponto, deve-se ressaltar a importância que tem este produto na Escócia. Símbolo do país, sempre que se viaja para lá, Mister Winston procura visitar tavernas e outros lugares onde se produzem a bebida. Para ele, tais visitas são imperativas, até para que se conheça melhor o país.
No dia seguinte, na Suíça, os turistas puderam apreciar e se encantar com a bela paisagem dos Alpes Suíços. Lá, além da beleza das montanhas cobertas de neve, os viajantes puderam conhecer algumas fazendas do lugar, bem como sua criação de caprinos. Ali em meio a paisagem montanhosa, são criados também bovinos. 
Em Savognin, mais uma bela visão dos Alpes.
Na Cidade de Berna, a Torre da Prisão, é um remanescente das muralhas da Cidade Medieval. A essa altura, se pode observar com maior apuro, os detalhes arquitetônicos, de suas antigas construções. Muito embora não datem da Idade Média, são belíssimos edifícios, palácios, casas. Enfim, a Suíça é um país pródigo em belas construções.
Em Lucerna, destaca-se a Ponte Coberta da Capela, uma pitoresca construção, que evidencia o potencial de turismo do país. Por fim, aos pés do Monte Dolent, puderam mais uma vez apreciar, uma bela paisagem natural. Em meio a uma criação de bovinos, a natureza se revelava profícua.
Nos países baixos, como Holanda e Bélgica, os turistas puderam se maravilhar com a plantação de tulipas e os variados canais que recortam algumas de suas cidades. Canais esses, que além de característicos da paisagem da região, são importantes veículos de comunicação. 
Por serem navegáveis, fizeram dos passeios dos turistas, uma grande diversão. Isso porque, enquanto navegavam, podiam apreciar a beleza da paisagem natural que circundava o local. 
Após, o maravilhoso passeio de barco nos canais, os turistas trataram de conhecer, ainda na região rural da Holanda, famosos moinhos de vento, que caracterizam o país. 
Depois, passaram a visitar as várias cidades do lugar.
Em Haia, se deslumbraram com o esplendoroso Palácio da Paz, em Haia, sede da Corte Internacional de Justiça.
No centro de S’Hertogenbosch, destaca-se a Catedral de São João, um notabilíssimo exemplo de arquitetura gótica, característica da Idade Média.
Na Bélgica, visitaram a região das Ardennes. Além disso, ao visitarem o interior do país, passearam em um canal e embarcadouro. De barco, puderam então apreciar, a beleza da região. 
Já na Alemanha, trataram de conhecer suas principais cidades.
Em Amsterdam, puderam observar inúmeras construções dos séculos dezessete e dezoito, as quais foram construídas para comerciantes abastados.
Além disso, em Partenkirchen, mais uma vez, a natureza se mostrou exuberante. Em meio a vilarejos e povoados, uma imponente cadeia de montanhas se exibia para os que quisessem ver. Extasiados, os turistas mal tinham palavras para expressarem sua admiração, cada vez maior com os prodígios da natureza.
Em Colônia, visitaram a Catedral e Igreja Românica de Gross-Saint Martin.
Na Capital da Baviera, visitaram a Karlsplatz em Munique. Uma grande e imponente vista, para os olhos de Marilu. Como nunca havia viajado para a Alemanha, ela ficou encantada com a paisagem, assim como com a arquitetura local. Além disso, após o Karlstor, uma antiga porta da Cidade, podem-se ver as torres de 96 metros, da Frauenkirche – Igreja de Nossa Senhora – em estilo gótico.
Enquanto estiveram por estas paragens, os turistas visitaram também, a Rua de Rothenburg ob der Tauber, cidade medieval da Baviera. Com suas construções em estilo germânico, as casas desta antiqüíssima cidade, eram realmente muito diferentes de tudo o que Maria Lúcia já vira. Ao descobrir um estilo arquitetônico tão diferente, Marilu ficou deveras encantada com o lugar.
Mas, apesar da pitoresca arquitetura deste local, em meio aos Alpes Bávaros, havia um lindo Castelo, denominado Neuschwanstein, que rivalizava em imponência com a bela natureza dos mesmos. Entrementes, apesar da arquitetura característica da Baviera, este castelo não lembrava em nada, as casas da cidadezinha que eles visitaram anteriormente. Mais imponente, mais parecia um castelo francês.
Em Berchtesgaden, a paisagem bucólica, dá espaço também, para belíssimas construções erigidas em homenagem a natureza local.
Os turistas, quando, estiveram de passeio pelo Rio Reno, em Sankt Goar, puderam em meio a um passeio de balsa, avistar o famoso Rochedo de Lorelei – um verdejante monte – que ressaltava a beleza do lugar. Ademais, ao fundo da paisagem, em frente ao rochedo, a aldeia de Sankt Goarshausen, completava a paisagem.
Em Heidelberg, às margens do Rio Neckar, Em BadenWürttermberg, observaram que ao fundo, estava o Castelo de Heidelberg, meio que escondido em meio a vegetação. Caminhando pela Ponte construída sobre o rio, puderam se maravilhar com a visão abrangente de toda a cidade.
Já em Leer, Porto na Baixa Saxônia, no noroeste da Alemanha, a beleza do rio dá espaço a edificação de uma bela cidade às suas margens.
Na Floresta Negra, o Vale Kinzig, se descortina em meio a uma exuberante vegetação nativa. Lá existem inúmeras criações de gado que passeiam em meio a vegetação do lugar.
O Vale Sieg, Renânia do Norte Vestfália, também é outro ponto rico em beleza natureza e em visão verdejante.
Nas Colinas de Lorchhausen, os turistas puderam apreciar os vinhedos da região. E Mister Winston, maravilhado com a novidade, aproveitou para provar alguns dos vinhos produzido no local. No Rio Reno, a Vista de Coblença, Palatinado Renano, na confluência dos Rios Mosa e Reno, descortina uma esplendorosa paisagem. Em meio a antigas construções, castelos e palácios, a visão do lugar é um deleite.
Em Düsseldorf, os turistas puderam visitar o ancoradouro destinado a barcos turísticos, junto a Ponte Theodor Heuss. 
Em Nuremberg, conheceram o palco de grandes manifestações políticas. 
Já em Duisburgo-Ruhrort, os turistas puderam observar o maior complexo portuário fluvial da Europa. Maravilhados com o desdobramento de canais, puderam constatar que a Alemanha é um grande país. Rico em realizações, é uma magnífica nação.
Na Tchecoslováquia, quando de passagem pelo país, puderam visitar o antigo Hotel Imperial Richmond, em Karlovy-Vary (Carlsbad), na Boêmia. Hoje é uma requintada casa de repouso para militares. 

Quando os turistas foram conhecer a Áustria, estes se admiraram com o lugar. Assemelhado em muitos aspectos com a Alemanha, o país, parecia um prolongamento daquela cultura.
Entre passeios por cidades e magníficas construções, tiveram acesso ao que de melhor o país tinha para oferecer.
Durante a viagem puderam conhecer Salsburg. Lá, na antiga zona do país, destaca-se a fortaleza de Hohensalzburg, no Alto de Mönchsberg, uma imponente construção, a qual se assemelhava uma muralha, erigida na cidade. erigida em 1077, ganhou sua forma atual em 1500.
Além disso, permeando toda a natureza, os Alpes, bem como seus lagos – que são verdadeiras preciosidades do país – estes contribuem ainda mais para a beleza da região. 
Ademais, em meio a esta paisagem natural, inúmeras construções rivalizavam em beleza com o lugar. Na Aldeia de Heiligenblut, mais uma vez, os Alpes se fazem presentes. Está, localizada nas proximidades do Monte Grossglockner. 
Mas como se pode observar os Alpes, esta cadeia de montanhas é comum em boa parte da Europa. O que de fato contribuí e muito para que este seja um belo continente.
Ademais, as belas construções, palácios, castelos, museus, também contribuem muito para que a Europa seja um grande continente.
Mas voltemos a viagem.
Adentrando a Capital do Tirol, visitaram a conhecida cidade de Innsbruck, na qual um imponente obelisco identifica o lugar. Além disso, os turistas tiveram o cuidado de visitarem também, a Dinamarca, país em cujo Castelo de Kronborg, em Elsingor ou Elsinore, foi imortalizada a tragédia de Shakespeare ‘Hamelet’. Esse castelo chegou a ser restaurado em 1637. Em frente ao Castelo, um belo rio emoldura o belo cenário.
Ademais, não apenas por isso, mas também por curiosidade, os viajantes foram a visitar Frederikskirke, conhecida como ‘A Igreja de Mármore’, em Copenhague. Ainda em Copenhague, visitaram o Teatro Real de Copenhague, construído em 1874. Diante disso, pode se perceber, que a cidade possuí inúmeros atrativos para os turistas. 
Com isso, passaram eles durante alguns dias, procurando conhecer melhor o país.
Na Hungria, puderam passear às margens do Lago Balaton, uma bonita paisagem natural. Enquanto caminhavam por ali, puderam avistar em uma colina, uma Abadia Beneditina. Todos ficaram encantados. Após o belo passeio, pelo lago, os turistas visitaram a Cidade de Györ. Uma magnífica realização humana, com belíssimas construções, lindas paisagens, vários canais cruzando os principais pontos da cidade, e uma visão de tirar o fôlego.
Na região rural do país, puderam ver trabalhadores, colhendo pimentões, necessários para a fabricação de um condimento, a páprica.
Aproveitando oportunidade, já que estavam na Hungria, foram conhecer a região do Vale do Danúbio. Em Budapeste, puderam então conhecer o famoso Rio Danúbio.
Além disso, enquanto estiveram em visita pela cidade, visitaram a Igreja de São Matias, bem como a Praça da Santíssima Trindade. 
Em Esztergom, nas proximidades do Rio Danúbio, puderam conhecer uma Basílica, além de desfrutar da magnífica visão de uma cidade húngara.
Em sua longa viagem empreendida pela Europa, os turistas tiveram a rara oportunidade de conhecer inúmeros países. 
Assim, visitaram a Romênia, importante país do velho continente, onde teria surgido lendas sobre vampiros.
Em visita ao país, conheceram a Cidade de Cluj-Napoca, uma bela localidade. 
Dado o frio da época, passaram rapidamente pela Estação Balneária de Herculane. Isso por que, por ser um local pródigo em fontes termais, necessário se fazia que o tempo colaborasse para que os turistas pudessem se deleitar com suas águas radioativas e energizantes. Entrementes, apesar de ser um local mais apropriado para ser visitado no verão, os turistas não puderam deixar de admitir, que era uma linda cidade, ampla, bem cuidada, e que, apesar de tudo, valera a pena conhecê-la.
Além disso, ainda tinham muito o que conhecer do país. Em Sinaia por exemplo, puderam apreciar a rica coleção de pinturas do Museu Peles. Esse museu, em estilo normando, era uma atração a parte.
Em Timisoara, famosa cidade produtora de vinhos e porcelanas, puderam se deslumbrar  com as muralhas que emolduravam a cidade.
E assim, transcorreu a viagem. Os turistas, ao verem a Universidade Alexandru Ioan Cuza, em Iasi, constataram que esta, mais parecia um palácio do que uma universidade.
Isso fez Marilu pensar. 
Na Inglaterra, muitas de suas Universidades, são construções medievais que mais parecem palácios. Realmente muito curioso. Isso porque, muitas vezes quando algo é realizado, pode acabar tendo uma outra destinação do que a inicialmente planejada. É, realmente a vida é muito curiosa. 
Ademais, apesar do interesse dos turistas pela terra dos vampiros, estes só foram conhecer a Transilvânia, ao final do passeio pelo país. Ansiosos por conhecer a famosa região, planejaram longas caminhadas.
Assim, quando finalmente ali chegaram, puderam constatar que se trata de uma região rural, muito importante para a agricultura do pais. E, a despeito das lendas surgidas, em nada lembrava a tão assustadora presença de um possível vampiro.
Mas, enfim, apesar disso, a viagem se revelou maravilhosa, para todos os que a empreenderam.
De passagem pela Bulgária, puderam conhecer Plavdiv, e a Universidade de Sofia – uma bela e imponente edificação.
Além disso, conheceram também, a Catedral Monumento de Alexandre Nevski. Em seu subterrâneo, está abrigado um museu de arte búlgara, antiga e medieval. 
Com isso, após três dias de viagem, os turistas pegaram o trem e embarcaram rumo a Iugoslávia.
Assim, como nos outros passeios que fizeram, enquanto o trem percorria enormes distâncias, os turistas podiam se maravilhar com as paisagens rurais, bem como com as imponentes visões naturais a que tinham acesso. Isso por que, ainda no trem, puderam se maravilhar com os Alpes Julianos, situados na região.
Em Belgrado, puderam conhecer um pouco mais sobre a cultura do país.
Na Macedônia, importante região agrícola, puderam conhecer plantações de fumo características do lugar.
Quando de passagem pela Croácia, puderam se maravilhar com um anfiteatro romano – em Pula. Datado de 80 depois de Cristo a arena tinha capacidade para mais de vinte e três mil espectadores. Além disso, era uma visão impressionante em meio a tantas construções históricas. 
Em Split, os turistas puderam passear pela Arcada do Palácio de Diocleciano. De passagem pelo país, conheceram ainda, Rijeka, Ljubljana e Sarajevo. 
Quando de passagem pela Grécia, viajando de trem, mais uma vez, os viajantes puderam se maravilhar com as paisagens do país.
Ao chegarem em Atenas – capital –, mais do que depressa puderam perceber a maravilha que era conhecer um lugar como aquele. Da Acrópole, podiam ter uma visão geral de toda a cidade. Ao longe se podia ver o Monte Licabeto.
Ainda em Atenas, os turistas puderam visitar as ruínas do Templo de Zeus. E mais, além do templo, puderam ver o penhasco da Acrópole, em cuja plataforma se encontram ruínas de alguns dos mais fantásticos edifícios construídos pelo homem. Quanto ao Partenon, este era o símbolo de uma era passada. Magnífico templo dedicado aos deuses, é um dos grandes símbolos do país. 
No entanto, apesar de muitos dos monumentos gregos estarem em ruínas, visitar a Grécia é um acontecimento extraordinário, pensaram eles imaginando como era a vida dos gregos, e como devia ser maravilhoso quando tudo estava intacto.
Em Olímpia, puderam ver as Ruínas do Ginásio, um famoso santuário religioso e sede das primeiras olimpíadas. Lá também existe um Templo dedicado a Zeus. Em estilo dórico, é uma considerada uma das grandes construções em seu estilo.
Estupefato, Mister Winston mal  podia acreditar que estava diante de dezenas de séculos de história. Deslumbrado, cada vez que visitava um lugar sagrado dos gregos, mais e mais se encantava com sua cultura e engenho humanos.
Em inúmeros passeios, puderam descobrir que o país, assim como França, entre outros, também cultivava uvas. Em Corcira, antiga Corfu, vinhas eram cultivadas em meio ao Mar Jônio. Corcira, como era de se imaginar, é uma das inúmeras ilhas que circundam a região. Nesta ilha, inúmeras casas foram erguidas, para que seus moradores pudessem apreciar a bela vista da região. Sobrepostas, se pareciam com antigas construções gregas.
No Monte Parnasso, os turistas puderam conhecer a famosa morada do Deus Apolo.
Em Siphnos, na ilha de mesmo nome, as casas são todas feitas de pedra caiada. Brancas, ao longe, mais parecem pequenas igrejas.
Em Tessália, puderam visitar o Mosteiro de Todos os Santos, ou Barlaam. Construído em cima de um morro, – o qual possuí formações rochosas resultantes da erosão de um mar pré-histórico –, trata-se de um lugar curioso.
No Tolo de Delfos, as ruínas do edifício circular de mármore, remontam as origens do oráculo de mesmo nome. No Cais de Hidra, na ilha de mesmo nome, se encontram inúmeros pescadores em seu trabalho, qual seja, recolher esponjas do Mar Egeu.
Além disso, no Peloponeso, mais uma vez os turistas e principalmente Mister Winston, puderam se maravilhar com a plantação de uvas que dava tom ao lugar.
Quanto ao Templo de Concórdia, em Acragas, atual Agrigento, Sicília, se pode constatar mais uma vez, a grandeza de um povo. Graças a sua cultura, permanecem presentes até hoje.
Em Epidauro, os turistas puderam conhecer um Teatro da localidade, construído em 340 antes de Cristo. Já, no Templo Jônico de Erecteion, verificaram tratar-se de uma construção de grande complexidade. Apesar de estar em ruínas, todos puderam perceber que quando de sua construção, o mesmo devia ser magnífico.
Entrementes, após dez dias de passeio, os turistas tiveram que se despedir da Grécia e seguir viagem rumo a outros países.
E assim o fizeram. 
Rumando para a Polônia, puderam se recordar no caminho, das belas paisagens que lhes fizeram companhia. Assim, extasiados, pararam em Varsóvia, sua capital. Na cidade, conheceram suas construções típicas, palácios, museus e seus principais monumentos.
Lá está o Palácio da Cultura entre outras coisas.
Em seguida, rumaram para outras cidades. 
Conheceram Posnan e o magnífico prédio em que estava instalada a prefeitura da cidade. Já em Gdynia, puderam ver inúmeras embarcações atracadas em seu Porto.
Em Szczecin, um maravilhoso prédio resistiu a Segunda Guerra. Nesse prédio, uma esplendorosa e magnífica escada, convidava os turistas a longa subida em seus degraus.
Com isso, após três dias de jornada, despediram do pitoresco país e seguiram viagem.
Muito rapidamente, passaram pela Lituânia.
Já na Letônia, reservaram alguns dias para realizarem um pequeno passeio. Durante dois dias, passearam pela Capital, Riga. Lá, caminharam pela Praça Central da Cidade, lugar onde puderam vislumbrar a presença de magníficos prédios. Pela Rua Gorki, em Vilnius, puderam conhecer mais dos vários aspectos da cultura européia. Essa rua, com uma enorme praça, convidava a um gostoso passeio pelos arredores.
E assim, prosseguiram viagem.
Quando chegaram na Estônia, pararam em Tallinn, Capital. 
Lá, começaram percorrendo o trecho mais antigo da Cidade, em uma Colina circundada por muralhas, nas quais continham monumentos históricos.
Depois disso, na parte mais baixa, foram conhecer a Cidade Medieval, a qual contrastavam o antigo e o novo.
Com isso, após o passeio por este grande trecho da Europa, Mister Willian, Winston, suas famílias e convidadas, trataram logo de, em viagem de navio, percorrer as longas distâncias que os separavam dos demais países do velho continente.
Conforme a viagem se seguia, faltava conhecerem ainda a Finlândia, a Suécia e a Noruega. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.