O tempo foi passando e Flávio continuava em estado vegetativo, deitado em uma cama. Não abria os olhos, não se movimentava. Não esboçava qualquer reação que denunciasse que ainda estava ali. Parecia que apenas seu corpo estava ali, nada mais. A alma, parecia ter se separado do corpo há muito tempo.
Letícia, ao observar Flávio, sempre inerte, ficava a pensar se ele realmente estava ali. Se após o acidente, alguma coisa não o tinha feito se separar do corpo.
Pensava se a alma dele ainda estaria ali, e como ele poderia permanecer naquela condição por tantos meses, anos. Ficava a pensar onde de fato ele estaria.
Inúmeras vezes sonhou que ele vinha lhe dizer para que não ficasse triste, que ele iria voltar.
Depois de um certo tempo, começou a pensar que isto não passava de uma esperança tola.
Desesperançada, em dado momento chegou a conclusão de que Flávio nunca mais iria se recuperar.
Karina, percebendo a persistência no quadro de Flávio, começou a conversar com Letícia sobre a possibilidade do rapaz não se recuperar.
Letícia porém, recusava-se a dar início a qualquer conversa neste sentido.
Todavia, quase dois anos após o acidente, percebendo que Flávio não dava sinais de melhora, a moça começou a não acreditar mais que o rapaz se recuperaria.
Otávio, que de vez em quando ainda visitava o rapaz, passou a ficar mais próximo de Letícia.
Solícito, sempre se oferecia para levá-la até o condomínio onde Flávio morava, para visitá-lo.
Olívia, que não era boba nem nada, percebeu que cedo ou tarde isto poderia acontecer.
Letícia, jovem e cheia de vida, não ficaria a vida inteira esperando a recuperação de Flávio.
Ao constatar isto, encheu-se de tristeza.
Mesmo assim, não comentou nada sobre suas impressões com Letícia, ou com quem quer que fosse.
E assim, foi questão de tempo para que a moça passasse a namorar Otávio.
Quem não aceitou bem a situação foi Cecília.
Isto porque, quando a moça soube disto, ficou indignada. Dizendo que Letícia era noiva de Flávio, considerou o fato uma traição ao irmão.
Dizia:
- Como ela pode fazer isto a ele?
Olívia, tentando a amenizar a situação, comentou que ninguém tinha culpa do que estava acontecendo e que Letícia tinha todo o direito de retomar sua vida.
Com muita dor no coração, Olívia respondeu que eram pequenas as chances de recuperação de Flávio, e que ele poderia nunca mais se levantar daquela cama.
Desesperada, comentou que não sabia mais o que fazer para despertá-lo.
Cecília e Gilberto a consolaram.
A moça porém, comentou que Letícia havia desistido muito facilmente de Flávio.
Dizendo que ela deveria primeiramente se certificar de que realmente não havia esperança de recuperação para o moço, argumentou também que ela não deveria namorar Otávio – colega de trabalho de Flávio.
Olívia respondeu que quem seria o pretenso namorado da moça pouco importava.
Mas Cecília estava irredutível. Estava furiosa com a moça.
Tanto que nas vezes em que se encontrou com Letícia, não fez questão nenhuma de ser simpática com ela.
Agressiva, chegou até a dizer que ela era uma traidora.
Olívia ao presenciar a cena, mandou a filha se calar. Dizendo que ela estava se excedendo, argumentou que Letícia era livre para seguir sua vida da forma que achasse melhor.
Cecília ao ouvir tais palavras ficou furiosa. Virou as costas e deixou as duas sozinhas.
Constrangida, Olívia comentou que agora a filha se achava no papel de defensora de Flávio. Chegou até a se desculpar.
Letícia comentou então que compreendia a posição de Cecília, e que lamentava muito que sua história com Flávio tivesse terminado de forma tão triste. Respondeu que lamentava muito que Cecília estivesse brigada com ela, por que ela não tinha raiva da moça.
Olívia abraçou Letícia.
Cecília por sua vez, estava magoada com Letícia.
Inúmeras vezes comentou com Alessandro que o que ela estava fazendo com Flávio não estava certo. Dizendo que ela poderia namorar qualquer pessoa, comentou que era um absurdo Letícia namorar o ex-patrão de seu irmão.
Revoltada, chegou inúmeras vezes a dizer que ela era uma oportunista. Comentou que ela estava abandonando o navio na primeira ameaça de naufrágio.
Alessandro por sua vez, comentou que ela estava sendo muito cruel com Letícia. Dizendo que a maior parte do sofrimento pelo estado vegetativo do rapaz estava sendo suportado por Olívia e Letícia, comentou que ela não devia julgá-la daquela forma.
Cecília ficou revoltada:
- Está dizendo que eu não estou sofrendo com o que está acontecendo?
Alessandro tentou por panos quentes na situação.
Dizendo que não era nada disso, comentou apenas que ela tinha a oportunidade de seguir sua vida e ficar ao lado de quem ela amava.
Cecília comentou que ele estava sendo chato.
O homem continuou dizendo que a vida de Letícia fora interrompida por aquele acidente e desde então, ela não teve mais nenhum momento de alegria.
Cecília calou-se então.
Embora tenha ficado inicialmente revoltada com as palavras de Alessandro, acabou aceitando o ponto de vista do moço.
Alessandro de fato, não deixava de ter um pouco de razão.
A moça porém não deu o braço a torcer.
Sempre que se encontrava com Letícia, Cecília não fazia questão nenhuma de ser simpática com a moça.
Certa vez, disse a Letícia que ela estava abandonando Flávio no momento mais difícil da vida dele. Comentou que era muito fácil gostar de alguém quando esta pessoa estava vendendo saúde.
Letícia por sua vez, nunca retrucou as palavras de Cecília. Disse apenas uma vez que lamentava que ela pensasse dessa forma, sendo incapaz de se colocar em seu lugar e sem ter noção de seu sofrimento. Disse ainda que não tinha raiva de Cecília.
Retirou-se.
As poucas vezes em que se encontraram, foi no caminho para o trabalho. As moças encontraram-se duas ou três vezes no metrô.
Letícia ficava deveras triste com estes encontros.
Chegava arrasada em seu trabalho.
Letícia por sua vez, não fora leviana.
Isto ocorreu somente após muita insistência de Otávio, o qual a todo momento lhe dizia, que se um quase dois anos o rapaz não recobrou a consciência, mais e mais difícil seria recobrá-la mais tarde. Dizendo que cada minuto que se passava diminuíam as chances de Flávio se recuperar, Otávio argumentou que ela não poderia ficar a vida inteira esperando uma possibilidade de recuperação.
Dizendo que a considerava uma pessoa incrível, o moço comentou que entendeu por que Flávio a havia escolhido. Argumentou que qualquer homem que se casasse com ela, seria um homem de sorte.
Letícia que há quase dois anos parecia não viver, ficou surpresa com o comentário.
Quem não gostava nada disso era Karina.
Certa vez, ao se encontrar com Olívia na casa de Flávio, quando fora visitá-lo, Karina comentou que não gostava do jeito como este rapaz, Otávio, se comportava.
Olívia não compreendeu.
Karina então, dizendo que o sujeito estava se aproveitando da situação, comentou que não achava certo o que ele estava fazendo. Que ele não tinha o direito de se aproveitar do desespero de sua filha, para tirar a esperança derradeira de que Flávio poderia se recuperar.
Olívia, que já desconfiava do interesse de Otávio na bela moça, comentou que não entendeu bem sobre o que Karina estava falando, mas que já havia percebido que havia algo além de boa vontade da parte dele.
Karina ficou constrangida. Desculpando-se por haver falado demais, prometeu que conversaria com sua filha pedindo para que o rapaz a deixasse em paz.
Olívia porém, ao perceber a intenção de Karina, respondeu que ela não deveria fazer isto. Dizendo que somente quem poderia decidir sobre isto era Letícia, sugeriu que não ela interferisse na decisão da moça.
Karina no entanto, estava inconformada.
- Mas ela tem o direito de prosseguir com a vida dela, com quem ela achar melhor. – respondeu Olívia.
Karina porém, retrucou:
- Mas não com alguém que só está tirando proveito da situação. Quem me garante que ele já não estava de olho nela antes do que aconteceu com Flávio?
Ao dizer isto, percebendo que havia se excedido, pediu desculpas.
Olívia ficou visivelmente incomodada com a pergunta.
Porém, percebendo que não poderia permanecer em silêncio, comentou que não era justo julgar o rapaz. Afinal de contas, ninguém pediu para que aquela tragédia se abatesse sobre eles, e virasse a vida de todos de ponta cabeça. Dizendo que Letícia suportara por muito tempo a situação, comentou que muitas outras mulheres teriam desistido muito antes, e que muitas não sacrificariam o pouco tempo livre permanecendo ao lado de uma cama, esperando que um milagre acontecesse. Ressaltou que admirava muito a dedicação de Letícia. Porém, entendia a situação da moça.
Linda, jovem, cheia de vida, não seria razoável esperar que ela esperasse por anos a fio, a recuperação de Flávio. Argumentando que nem a própria Karina aceitaria isto, comentou que não havia nenhuma traição.
Karina por sua vez, argumentou que jamais consideraria o fato de sua filha arrumar um novo namorado, uma traição. Comentou apenas que achava estranho o fato de Otávio ficar cercando sua filha, havendo tantas outras mulheres livres no mundo. Salientou que ele era colega de Flávio, e que não era justo o que ele estava fazendo com Letícia.
Por esta razão, Letícia se desentendeu com a mãe.
Certo dia, ao ouvir pela enésima vez o que sua mãe pensava de Otávio, argumentava que ele só estava tentando ajudá-la.
Razão pela qual respondeu a mãe que iria namorar Otávio, independente do que ela pensava a respeito do rapaz. Respondeu então que lamentava ter que brigar com sua própria mãe para tentar ser feliz, depois de tamanha tragédia.
Com o olhos cheios de lágrimas, Letícia comentou que não agüentava mais sofrer, e que só estava tentando ser feliz. Respondeu que se a relação não desse certo, ela poderia perfeitamente terminar o namoro com o rapaz. Argumentou que não estava se casando com o moço.
Disse isto e retirou-se da sala, caminhou para seu quarto e se trancou em seu mundo particular. Seu quarto era o lugar onde extravasar todos os seus desesperos, toda sua tristeza, toda sua mágoa. Lá não precisava esconder sua tristeza. Em seu mundo podia desabar que ninguém iria censurá-la. Não seria alvo de críticas por parte de ninguém.
Foi neste quarto em que muitas vezes chorou e sofreu por Flávio.
Foi neste ambiente em que sonhou muitas vezes com o rapaz lhe dizendo para que não desistisse dele, que ele iria voltar.
Sonhava com ele caminhando, saudável. Algumas vezes feliz, outras vezes atormentado. Parecia transpassado de sofrimento.
Em um sonho o rapaz aparecia chorando. Parecia vê-la.
No sonho, ele se aproximava de Letícia e dizia que ela estava desistindo dele e que isto estava deixando-o muito triste.
A moça tentou entender o que estava acontecendo. Perguntou a Flávio por que ele estava chorando. O moço porém não respondeu a pergunta. Apenas deixou-a sozinha.
Depois deste sonho Letícia ficou meses sem sonhar com o moço.
Com isto, mesmo com a oposição de Karina, Otávio continuou a acompanhar Letícia em suas visitas a Flávio.
Já fazia algum tempo para que o rapaz comentou abertamente que estava interessado nela.
Desta forma, tornar-se sua namorada, foi apenas uma questão de tempo.
Letícia por sua vez, argumentou que antes de começarem a namorar, precisava conversar com Olívia e expor os fatos.
Antes do aceite porém, Otávio se deparou com algum constrangimento e relutância por parte de Letícia em aceitar a proposta.
Porém foi persistente. Todos os dias ia buscar a moça na saída de seu trabalho. Gentil, sempre abria a porta do carro para ela.
Jovelina e Mercedes, ao verem o rapaz se desdobrando para chamar a atenção de Letícia, comentaram assanhadas que um clima de romance pairava no ar.
Mercedes insinuou alguém estava gostando muito de alguém.
Letícia ficou sem graça.
Com efeito, no aniversário da moça, Otávio mandou entregar rosas vermelhas com um cartão para Letícia.
Quando o buquê foi entregue, toda a repartição tomou conhecimento do fato.
Sem jeito, Letícia recebeu as flores, e agradeceu o entregador.
Assediada pelas colegas de trabalho, retirou-se do recinto e foi ler o bilhete em um lugar neutro.
Somente quando se certificou que estava sozinha abriu o envelope e leu uma mensagem que dizia que aquele era um dia especial para o moço, porque havia surgido no mundo um ser humano muito especial, que apareceu em sua vida por caminhos tortuosos. Completou escrevendo que ela era um anjo de luz, e que a cada dia era mais feliz ao seu lado.
No final do expediente, o moço foi novamente buscá-la em seu trabalho.
Otávio também fez questão de se apresentar para Karina.
Sempre que levava a então namorada para passear, com idas ao cinema, ao teatro, shows, o moço fazia questão de buscar e levar a moça para a casa.
Algumas vezes entrou e conversou com Karina.
Trocou algumas palavras com a mãe de Letícia.
Certa vez deixou escapar que não queria apenas namorar Letícia mas que tinha planos maiores, até com possibilidade de se casar.
Karina por sua vez, sempre deixou claro que não estava satisfeita com o namoro.
Certa vez comentou que achava estranho o rapaz namorar justamente a namorada de seu colega. Chegou até a perguntar se ele não era amigo de Flávio.
Letícia, percebendo a saia-justa, resolveu comentar sobre seu dia de trabalho. Comentou que estava desenvolvendo um projeto sobre consumo sustentável.
Otávio comentou que as coisas também iam muito bem em seu escritório. Começou que estava pegando novas causas.
Por fim, percebendo que não era bem-vindo despediu-se educadamente de Karina.
Voltando a proposta de Otávio...
Otávio concordou com o pedido de Letícia. Estava disposto a tudo.
Ressalvou porém, que mesmo que Olívia e sua família pusessem obstáculos no relacionamento dos dois, que não estava disposto a desistir.
Letícia foi então conversar com Olívia.
Em mais uma visita a Flávio, Letícia conversou com o rapaz.
Pediu licença e conversando como se o rapaz escutasse o que dizia, afirmou que muito embora gostasse muito dele, não poderia ficar esperando indefinidamente que ele se recuperasse. Angustiada, revelou que não agüentava mais vê-lo naquele estado, e que não podia mais continuar vivendo daquela maneira. Com lágrimas nos olhos, disse que desde o dia em que ele sofrera o acidente, nunca mais teve alegria na vida. Que tudo o que fazia agora, era esperar, esperar e esperar.
Dizendo que o amava, desculpou-se por não ser forte o bastante para agüentar tudo o que estava passando, com resignação e com mais esperança. Desculpou-se por estar pensando em retomar sua vida ao lado de outra pessoa. Alegando que ele era uma pessoa legal, comentou que Otávio lhe pedira em namoro.
Flávio permaneceu imóvel.
Letícia, fazendo um último apelo, pediu:
- Flávio! Pelo amor de Deus! Se você está aí, faça algum sinal. Eu vou entender. Reaja, antes que seja tarde.
Aflita a moça começou a sacudi-lo.
- Por favor, Flávio! Me responda! Eu preciso de uma resposta. – implorava.
Quando Olívia adentrou o quarto do moça, Letícia soluçava.
Preocupada ao ver a moça sentada ao chão, do lado da cama do rapaz, perguntou o que estava acontecendo.
Letícia respondeu que não esperava mais nada.
Com os olhos marejados, comentou que precisava conversar com ela.
Olívia percebeu que o que tanto temia já estava por acontecer.
Letícia então comentou que Otávio a pedira em namoro e que estava decidida a aceitar.
Olívia, abalada, pediu para que a moça não falasse sobre isto na frente de Flávio.
- Muito tarde. – respondeu a moça.
- Por que? – perguntou a mãe.
- Por que eu já conversei com Flávio... Mas ele parece que não se importou muito! – disse quase chorando.
Olívia ficou pasma.
Letícia continuou:
- Desculpe por não ter agüentado esta situação. Desculpe-me por eu ser tão fraca.
Olívia respondeu que já desconfiava do interesse de Otávio.
Letícia surpreendeu-se.
Comentando que nem ela sabia das intenções dele, como Olívia poderia saber?
A mulher então comentou que estas coisas percebem-se de longe.
Letícia não compreendeu.
Olívia porém, dizendo que já esperava por aquilo, comentou que ela não devia se sentir uma vilã, como alguém que estava traindo seu filho. Comentando que aquela era uma situação limite, respondeu que não tinha o direito de pedir a Letícia, que ficasse a vida inteira esperando a recuperação de Flávio.
Triste, apenas lamentou que uma história tão bonita como a dos dois, terminasse daquela maneira.
Foi então que a mulher abraçou Letícia, dizendo:
- Adeus minha ex-nora.
Letícia começou a chorar.
Olívia também.
A mulher pediu para que ela fosse feliz e que ao se lembrar de Flávio, se lembrasse com alegria, e não com tristeza.
Depois de um longo tempo se despedindo, Letícia disse que queria continuar visitando o moço.
Olívia não se opôs.
Otávio num primeiro momento também não se opôs.
Porém, conforme o tempo passava, percebendo que a moça dedicava ainda muito tempo nos cuidados com Flávio, Otávio começou a implicar com as freqüentes visitas.
Com isto, com o passar do tempo, as visitas passaram a ter mais intervalos. Inicialmente as visitas se davam até cinco vezes por semana. Depois diminuíram para duas ou três vezes por semana.
Após algum tempo, passaram a ser semanais.
Mesmo assim, Otávio continuava implicando com as visitas.
Dizendo a Letícia que sua vida havia mudado, argumentou que nunca a deixaria sozinha.
Neste momento porém, a moça comentou que não podia abandonar o rapaz. Dizendo que seguiria sua vida, comentou que não podia apagar o que passou, e que a implicância dele tornava tudo muito mais difícil para ela. Inclusive se acostumar ao fato de que os dois estavam juntos.
Otávio por sua vez - a despeito do ciúme que sentia de Flávio -, fazia de tudo para agradar Letícia.
No início do namoro, comprou um lindo vestido de festa para ela e a convidou para a festa de casamento de seus pais.
A moça por sua vez, relutou em aceitar o convite, mas depois de uma certa insistência de Otávio, acabou concordando.
E assim, usando um belo longo vermelho, com um racho lateral e abertura nas costas, acompanhou o rapaz na festa de casamento dos pais de Otávio.
Festa requintada onde foi apresentada a Olivier e Dominique – pais de Otávio. O casal comemorava quarenta anos de casados.
Trataram muito bem Letícia.
Conversando com a moça, tomaram conhecimento de que ela era funcionária pública e estava obtendo destaque em seu trabalho.
No ápice da festa, o casal dançou uma valsa.
Depois da valsa, todos ocuparam a pista e dançaram ritmos variados.
Na ceia foram servidos frutos do mar, ostras, lagosta, champagne, vinho.
O salão amplo e muito bem decorado, estava repleto de flores brancas, amarelas e na cor champagne.
Dominique usava um vestido na cor champagne. Feliz, chegou a comentar com os convidados que organizar uma festa de celebração de seus anos de casada, era um sonho antigo. Comentou que fazia cerca de 3 anos que vinha pedindo uma festa de comemoração de seus anos de casada.
Olivier aproveitou para falar de seus projetos na área de construção civil, e que lamentava que Otávio não seguira seus passos.
O moço argumentava que seu escritório de advocacia estava indo muito bem.
E assim a festa prosseguiu por toda a madrugada.
Desta forma Letícia e Otávio começaram a namorar.
Otávio se desdobrava em atenções com Letícia e em gentilezas com Karina.
Certa vez, ao ser convidado para almoçar na casa da moça, Otávio levou uma orquídea para Karina.
Esforçando-se para ser simpático com a mãe de Letícia, comentou que o trabalho no escritório estava indo de vento em popa, e que talvez fosse preciso contratar novos funcionários.
Karina por sua vez, embora não maltratasse o moço, também não fazia esforço para ser simpática.
No almoço falou pouco. Estava contrariada com a visita.
Quando Letícia comentou que havia convidado o moço para almoço, Karina questionou o oferecimento. Dizendo que não sabia preparar comidas sofisticadas, comentou que não estava preparada para receber ninguém.
Letícia então lhe disse que ela poderia preparar uma comidinha simples, um arroz com feijão, um frango frito, uma salada e umas batatas assadas bem macias e coradas.
Karina, sem alternativa, acabou concordando em atender o pedido da filha.
Preparou então uma comida simples, mas caprichada.
Tão caprichada que o próprio Otávio elogiou a comida. Respondeu que só conhecia uma pessoa que cozinhava assim tão bem.
Karina agradeceu o elogio.
Otávio comentou então que embora sua mãe não fosse uma dona de casa tradicional, de vez em quando ela mostrava seus dotes culinários na cozinha, e o fazia com maestria. Gentil, comentou que este era um dom muito raro – saber dosar temperos e elaborar uma deliciosa química.
Saboreou a deliciosa comida, bebeu cerveja.
Por último, Karina ofereceu de sobremesa um delicioso pudim de leite condensado.
Letícia cortou um pedaço de pudim. Enquanto oferecia uma fatia da iguaria para Otávio, comentou que aquele era um dos segredos de sua mãe. Era feito de pão dormido e leite.
Otávio saboreou e elogiou a sobremesa também.
Depois do almoço, conversou um pouco com Letícia enquanto Karina retirou-se da sala com a desculpa de que ia lavar a louça.
Otávio conversou com a moça sobre seus projetos, e deixou escapar que estava pensando em se casar.
Letícia ficou um pouco desconfortável com a idéia.
Dizendo que eles estavam começando a namorar, comentou que era muito cedo para se falar em casamento.
Otávio comentou por sua vez, que ela deveria pensar no assunto. Nisto seguiu a conversa. Falaram sobre um filme que Otávio estava interessado em ver.
Logo após, Otávio despediu-se da moça e de Karina.
Dizendo que o almoço estava delicioso, comentou que gostaria de visitar mais vezes a casa de sua namorada.
Karina respondeu secamente que não havia problemas.
Otávio pegou então seu carro, e partiu.
Karina ao ver o carro sumir, perguntou a Letícia sobre o que ela estava fazendo com sua vida. Aflita, perguntou se ela estava certa do que ela estava fazendo.
Letícia respondeu que estava apenas namorando.
Karina não ficou bem convencida disto. Tanto que comentou que tinha medo de que ela se arrependesse do que estava fazendo.
Ao entrar em casa, Letícia brigou com a mãe. Raivosa, perguntou:
- E o que você quer que eu faça? Que eu desista de viver? Que fique esperando eternamente? Eu tentei acreditar! Eu tentei! O que você quer de mim? Afinal, foi você mesma quem disse que ele poderia não se recuperar.
Disse isto e foi para seu quarto.
Deitou-se em sua cama e chorou.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Poesias
quinta-feira, 29 de julho de 2021
Para se Viver um Grande Amor - Capítulo 12
Flávio deixou Letícia em casa.
Na volta para sua casa, ocorreu o acidente que o vitimou.
Fato este que mudou a vida de todos...
Conforme o tempo passava, Olívia ao ver que o filho permanecia inerte na cama, chegou a desanimar.
Tanto tempo e nenhuma melhora.
Percebendo que o tempo estava passando e Flávio não esboçava nenhum melhora, Cecília e Alessandro, decidiram não esperar mais para formalizar a união.
Decididos a esperar a recuperação de Flávio para se casarem no civil e no religioso, combinaram, após adiarem os planos de casamento, que iriam morar juntos.
Conversando com Alessandro, Cecília comentou que já estava comprando coisas para sua casa. Comentou que estava guardando parte do dinheiro que havia conseguido com seu estágio, para montar seu enxoval.
Como Olívia estava focada em Flávio, a mesma não havia se dado conta das inúmeras vezes que Cecília saiu para fazer compras. Ás vezes, ia as compras acompanhada de sua amiga inseparável, Júlia.
Alessandro comentou que já havia algum tempo que estava pesquisando imóveis, ou para alugar ou para comprar mesmo.
Disse que também estava fazendo uma poupança com vistas a aquisição de um imóvel.
Preocupado com a reação dos pais da moça, Alessandro perguntou-lhe se ela estava realmente certa do que estava fazendo.
Diante da seriedade da situação, insistiu em perguntar se ela estava pronta para se preparar para viver uma nova vida e enfrentar a reação de seus pais.
Cecília comentou que não se importava com a cara feia de seus pais. Dizendo que lamentava muito por Flávio, mas respondeu que estava cansada de chorar.
A certa altura chegou a dizer que este passo poderia ser estímulo para Flávio se recuperar.
Com isto, assim que teve uma oportunidade, Cecília contou aos pais que estava pensando em morar junto com Alessandro.
Olívia perguntou se não era muito cedo para eles darem um passo tão importante. Comentou que antes de morar junto, eles precisariam adquirir um imóvel e mobiliá-lo, torná-lo habitável.
Cecília comentou então que já estava preparando o enxoval, e que Alessandro já estava procurando um imóvel ou para alugar ou para comprar.
A moça comentou que já havia se formado há um ano, e que já havia prestado o exame de proficiência da Ordem, encontrando-se apta para advogar. Comentou que no momento estava trabalhando no escritório de Flora e Euclides, e sempre que podia, aproveitava para guardar um pouco de dinheiro. Disse que queria muito ajudar Alessandro.
Gilberto, que sonhava em conduzir a filha até a igreja, ficou inconformado.
Dizia que isto era o fim do mundo.
Olívia, porém, entendendo a situação, aceitou o fato com mais facilidade.
Cecília respondeu que ainda tinha esperança de que Flávio se recuperasse. Porém, argumentando que o tempo estava passando, disse que não poderia permanecer por mais tempo naquela situação indefinida com Alessandro.
Comentou que ele também estava impaciente.
Olívia concordou. Dizendo que não podia pedir para ela ficar esperando por mais tempo, perguntou se ela não preferia se casar no civil.
Cecília comentou então que só se casaria no civil quando Flávio pudesse ser seu padrinho de casamento.
Olívia ficou visivelmente emocionada com as palavras da filha.
Nisto foi organizada uma pequena festa para participar a todos o fato.
Olívia preparou um almoço caprichado para os amigos da filha e de Alessandro, bem como para os parentes e conhecidos do casal.
Animada, preparou uma carne de porco assada, com batatas, arroz à grega, salada, refrigerante e cerveja.
Gilberto continuava criticando a decisão da filha.
Cecília por sua vez argumentava que estava decidida.
Certo dia sentou-se ao lado de seu pai e disse que não poderia permanecer mais tempo naquela situação indefinida. Isto por que, antes de Flávio se acidentar, já estava planejando casar-se com Alessandro.
Argumentou que por conta do acidente, teve que adiar seus planos.
Gilberto percebeu que não adiantava se opor.
Cecília notou então, que embora seu pai não questionasse mais sua decisão, não estava aceitando sua posição.
Nisto Olívia foi realizando os preparativos para o almoço de noivado de sua filha. Escolheu uma bela toalha de renda para ornar a mesa da sala de jantar, sua melhor louça, e pediu para a empregada Lurdes deixar os talheres e copos brilhando.
Animada, comprou um vaso e lindas flores para enfeitar o bufê da sala de jantar.
Olívia pediu para Gilberto colocar uma bela roupa social.
Quanto a Cecília e Alessandro, pediu para eles vestirem roupas bonitas.
Quando finalmente chegou a data tão esperada, Cecília vestiu um bonito vestido branco estampado com flores, modelo tomara-que-caia, comprimento médio e saia levemente rodada.
Estava bastante nervosa.
Alessandro vestiu uma calça social e uma camisa pólo.
Ao ver a filha tão bonita, Olívia elogiou a beleza de Cecília.
Gilberto respondeu que ela era sua princesa.
Quando Alessandro finalmente chegou a casa, também teve sua elegância elogiada.
O moço que é bastante brincalhão, chegou a ficar um pouco sem graça.
Todos os amigos do casal participaram do almoço. Alguns parentes também.
Participaram do almoço Cibele e Emival – pais de Alessandro.
Todos os convidados levaram presentes ao casal.
Toalhas de mesa, jogos de cama, travesseiros, roupa de cama, louças, talheres, cafeteira, batedeira, etc.
Como tinham certa pressa em morar juntos, o apartamento estava quase todo desguarnecido.
Olívia chegou a estranhar a pressa de Cecília e Alessandro de morarem juntos.
O fato porém é que Alessandro depois de muito procurar, acabou encontrando um apartamento.
Ansioso, assim que fechou a venda do imóvel conversou com Cecília dizendo que eles já poderiam juntar os trapinhos e morar juntos.
Gilberto ficou furioso com a novidade. Por um momento, chegou a acreditar que a empolgação do casal não passava de jogo de palha, mas ao tomar conhecimento da aquisição de Alessandro, ficou inconformado.
Não fosse a intervenção de Olívia e os planos de Cecília poderiam ter ido por água abaixo.
Isto por que furioso, Gilberto proibiu Cecília de falar com Alessandro. Ameaçou até prendê-la dentro de casa.
Cecília porém enfrentou seu pai. Dizendo que iria morar com Alessandro independente da vontade dele, conseguiu deixar Gilberto furibundo.
Não fosse Olívia pôr panos quentes, e lá teria ido Cecília morar com o moço, brigada com seu pai.
No almoço estavam Clotilde, Amélia, Amarildo, Sandro, Cléber, Júlia, Antero, Jairo, Lúcio, Alice e Lara.
Até Letícia e sua mãe participaram da comemoração.
Só se lamentou a ausência de Flávio.
Letícia por sua vez, desalentada com a situação de Flávio, só foi a comemoração por insistência de sua mãe.
Ao receber o convite, comentou com sua mãe que não sentia disposição em participar de comemorações.
Ao ouvir tais palavras, Karina questionou o comportamento da filha. Dizendo que ela tinha que ir, comentou que Cecília e Alessandro ficariam sentidos se ela não comparecesse na comemoração.
Diante de tais argumentos, Letícia acabou concordando em dar uma passada na festa.
A própria Karina compareceu ao evento para dar um apoio moral a filha, que ultimamente não tinha ânimo para nada.
Até trabalhar estava difícil.
Mas Karina dizia para a filha que ela não podia desistir.
E assim, a moça compareceu a festa.
Levou até uma peça para o enxoval de Cecília. Uma toalha rendada, para enfeitar a mesa da sala de jantar do apartamento da moça.
Ao ver o presente, Cecília ficou encantada.
- Que lindo! – pela medida da toalha, percebeu que ela ficaria bem, posta em sua mesa.
A moça agradeceu.
Karina respondeu que Letícia escolhera o presente.
Percebendo a tristeza da moça, Cecília abraçou-a e disse em seu ouvido:
- Não fique assim! Tenha fé, ele vai melhorar. Eu acredito nisto.
Letícia ficou tocada com as palavras. Ao olhar nos olhos de Cecília, percebeu que a moça tinha os olhos cheios d’água.
Olívia, percebendo a situação, comentou que logo logo, Cecília estaria vivendo uma nova vida ao lado de Alessandro. Tentando amenizar a situação, argumentou que assim que Flávio se recuperasse, ele e Letícia, confirmariam a união, com padrinhos de casamento.
Letícia, visivelmente emocionada, foi até a garagem.
Karina desculpou-se e foi atrás da filha.
Dizendo que ela não podia se deixar abater, comentou que ela precisava retomar sua vida.
Letícia respondeu que estava tudo muito difícil. Apoiando-se numa coluna, ficou com o olhar perdido. Pensou que poderia ser ela a desfrutar de alegria semelhante.
A vida estava sendo pesada para aquelas duas famílias.
Mas voltando a festa...
Cecília, embora abalada com a falta de melhoras no quadro de Flávio, decidiu que daria prosseguimento em sua vida.
Por isto comemorou, ainda que de forma simples, sua nova vida com Alessandro.
Preparou um enxoval comprando roupas de cama, de banho, de mesa. Também ganhou peças de presente.
Depois da festa na casa dos pais, onde recebeu inúmeros presentes para a casa, Cecília convidou os amigos e parentes mais chegados para irem a vida casa, e tomarem um champagne.
Feliz, com a ajuda de Olívia, preparou um bolo para os convidados que foram conhecer seu apartamento. Imóvel próprio.
Letícia, que permanecia abalada com o que sucedera a Flávio, declinou o convite. Agradeceu porém, a gentileza, mas respondeu que não poderia ir.
Karina meio sem jeito, comentou que a filha estava cheia de trabalho.
Mas Cecília e Olívia sabiam que Letícia estava, era triste.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Na volta para sua casa, ocorreu o acidente que o vitimou.
Fato este que mudou a vida de todos...
Conforme o tempo passava, Olívia ao ver que o filho permanecia inerte na cama, chegou a desanimar.
Tanto tempo e nenhuma melhora.
Percebendo que o tempo estava passando e Flávio não esboçava nenhum melhora, Cecília e Alessandro, decidiram não esperar mais para formalizar a união.
Decididos a esperar a recuperação de Flávio para se casarem no civil e no religioso, combinaram, após adiarem os planos de casamento, que iriam morar juntos.
Conversando com Alessandro, Cecília comentou que já estava comprando coisas para sua casa. Comentou que estava guardando parte do dinheiro que havia conseguido com seu estágio, para montar seu enxoval.
Como Olívia estava focada em Flávio, a mesma não havia se dado conta das inúmeras vezes que Cecília saiu para fazer compras. Ás vezes, ia as compras acompanhada de sua amiga inseparável, Júlia.
Alessandro comentou que já havia algum tempo que estava pesquisando imóveis, ou para alugar ou para comprar mesmo.
Disse que também estava fazendo uma poupança com vistas a aquisição de um imóvel.
Preocupado com a reação dos pais da moça, Alessandro perguntou-lhe se ela estava realmente certa do que estava fazendo.
Diante da seriedade da situação, insistiu em perguntar se ela estava pronta para se preparar para viver uma nova vida e enfrentar a reação de seus pais.
Cecília comentou que não se importava com a cara feia de seus pais. Dizendo que lamentava muito por Flávio, mas respondeu que estava cansada de chorar.
A certa altura chegou a dizer que este passo poderia ser estímulo para Flávio se recuperar.
Com isto, assim que teve uma oportunidade, Cecília contou aos pais que estava pensando em morar junto com Alessandro.
Olívia perguntou se não era muito cedo para eles darem um passo tão importante. Comentou que antes de morar junto, eles precisariam adquirir um imóvel e mobiliá-lo, torná-lo habitável.
Cecília comentou então que já estava preparando o enxoval, e que Alessandro já estava procurando um imóvel ou para alugar ou para comprar.
A moça comentou que já havia se formado há um ano, e que já havia prestado o exame de proficiência da Ordem, encontrando-se apta para advogar. Comentou que no momento estava trabalhando no escritório de Flora e Euclides, e sempre que podia, aproveitava para guardar um pouco de dinheiro. Disse que queria muito ajudar Alessandro.
Gilberto, que sonhava em conduzir a filha até a igreja, ficou inconformado.
Dizia que isto era o fim do mundo.
Olívia, porém, entendendo a situação, aceitou o fato com mais facilidade.
Cecília respondeu que ainda tinha esperança de que Flávio se recuperasse. Porém, argumentando que o tempo estava passando, disse que não poderia permanecer por mais tempo naquela situação indefinida com Alessandro.
Comentou que ele também estava impaciente.
Olívia concordou. Dizendo que não podia pedir para ela ficar esperando por mais tempo, perguntou se ela não preferia se casar no civil.
Cecília comentou então que só se casaria no civil quando Flávio pudesse ser seu padrinho de casamento.
Olívia ficou visivelmente emocionada com as palavras da filha.
Nisto foi organizada uma pequena festa para participar a todos o fato.
Olívia preparou um almoço caprichado para os amigos da filha e de Alessandro, bem como para os parentes e conhecidos do casal.
Animada, preparou uma carne de porco assada, com batatas, arroz à grega, salada, refrigerante e cerveja.
Gilberto continuava criticando a decisão da filha.
Cecília por sua vez argumentava que estava decidida.
Certo dia sentou-se ao lado de seu pai e disse que não poderia permanecer mais tempo naquela situação indefinida. Isto por que, antes de Flávio se acidentar, já estava planejando casar-se com Alessandro.
Argumentou que por conta do acidente, teve que adiar seus planos.
Gilberto percebeu que não adiantava se opor.
Cecília notou então, que embora seu pai não questionasse mais sua decisão, não estava aceitando sua posição.
Nisto Olívia foi realizando os preparativos para o almoço de noivado de sua filha. Escolheu uma bela toalha de renda para ornar a mesa da sala de jantar, sua melhor louça, e pediu para a empregada Lurdes deixar os talheres e copos brilhando.
Animada, comprou um vaso e lindas flores para enfeitar o bufê da sala de jantar.
Olívia pediu para Gilberto colocar uma bela roupa social.
Quanto a Cecília e Alessandro, pediu para eles vestirem roupas bonitas.
Quando finalmente chegou a data tão esperada, Cecília vestiu um bonito vestido branco estampado com flores, modelo tomara-que-caia, comprimento médio e saia levemente rodada.
Estava bastante nervosa.
Alessandro vestiu uma calça social e uma camisa pólo.
Ao ver a filha tão bonita, Olívia elogiou a beleza de Cecília.
Gilberto respondeu que ela era sua princesa.
Quando Alessandro finalmente chegou a casa, também teve sua elegância elogiada.
O moço que é bastante brincalhão, chegou a ficar um pouco sem graça.
Todos os amigos do casal participaram do almoço. Alguns parentes também.
Participaram do almoço Cibele e Emival – pais de Alessandro.
Todos os convidados levaram presentes ao casal.
Toalhas de mesa, jogos de cama, travesseiros, roupa de cama, louças, talheres, cafeteira, batedeira, etc.
Como tinham certa pressa em morar juntos, o apartamento estava quase todo desguarnecido.
Olívia chegou a estranhar a pressa de Cecília e Alessandro de morarem juntos.
O fato porém é que Alessandro depois de muito procurar, acabou encontrando um apartamento.
Ansioso, assim que fechou a venda do imóvel conversou com Cecília dizendo que eles já poderiam juntar os trapinhos e morar juntos.
Gilberto ficou furioso com a novidade. Por um momento, chegou a acreditar que a empolgação do casal não passava de jogo de palha, mas ao tomar conhecimento da aquisição de Alessandro, ficou inconformado.
Não fosse a intervenção de Olívia e os planos de Cecília poderiam ter ido por água abaixo.
Isto por que furioso, Gilberto proibiu Cecília de falar com Alessandro. Ameaçou até prendê-la dentro de casa.
Cecília porém enfrentou seu pai. Dizendo que iria morar com Alessandro independente da vontade dele, conseguiu deixar Gilberto furibundo.
Não fosse Olívia pôr panos quentes, e lá teria ido Cecília morar com o moço, brigada com seu pai.
No almoço estavam Clotilde, Amélia, Amarildo, Sandro, Cléber, Júlia, Antero, Jairo, Lúcio, Alice e Lara.
Até Letícia e sua mãe participaram da comemoração.
Só se lamentou a ausência de Flávio.
Letícia por sua vez, desalentada com a situação de Flávio, só foi a comemoração por insistência de sua mãe.
Ao receber o convite, comentou com sua mãe que não sentia disposição em participar de comemorações.
Ao ouvir tais palavras, Karina questionou o comportamento da filha. Dizendo que ela tinha que ir, comentou que Cecília e Alessandro ficariam sentidos se ela não comparecesse na comemoração.
Diante de tais argumentos, Letícia acabou concordando em dar uma passada na festa.
A própria Karina compareceu ao evento para dar um apoio moral a filha, que ultimamente não tinha ânimo para nada.
Até trabalhar estava difícil.
Mas Karina dizia para a filha que ela não podia desistir.
E assim, a moça compareceu a festa.
Levou até uma peça para o enxoval de Cecília. Uma toalha rendada, para enfeitar a mesa da sala de jantar do apartamento da moça.
Ao ver o presente, Cecília ficou encantada.
- Que lindo! – pela medida da toalha, percebeu que ela ficaria bem, posta em sua mesa.
A moça agradeceu.
Karina respondeu que Letícia escolhera o presente.
Percebendo a tristeza da moça, Cecília abraçou-a e disse em seu ouvido:
- Não fique assim! Tenha fé, ele vai melhorar. Eu acredito nisto.
Letícia ficou tocada com as palavras. Ao olhar nos olhos de Cecília, percebeu que a moça tinha os olhos cheios d’água.
Olívia, percebendo a situação, comentou que logo logo, Cecília estaria vivendo uma nova vida ao lado de Alessandro. Tentando amenizar a situação, argumentou que assim que Flávio se recuperasse, ele e Letícia, confirmariam a união, com padrinhos de casamento.
Letícia, visivelmente emocionada, foi até a garagem.
Karina desculpou-se e foi atrás da filha.
Dizendo que ela não podia se deixar abater, comentou que ela precisava retomar sua vida.
Letícia respondeu que estava tudo muito difícil. Apoiando-se numa coluna, ficou com o olhar perdido. Pensou que poderia ser ela a desfrutar de alegria semelhante.
A vida estava sendo pesada para aquelas duas famílias.
Todavia, em que pese este fato, Alessandro, trocou anéis com Cecília. Eram anéis de noivado.
Neste momento solene, o moço prometeu que aquele seria o primeiro passo, e que o passo seguinte seria dado assim que o Flávio se recuperasse. Comentou em alto e bom som que seu cunhado seria seu padrinho de casamento juntamente com Letícia.
Todos se emocionaram e aplaudiram as palavras de Alessandro.
Os convivas se deliciaram com os comes e bebes.
Depois, foi servido um bolo preparado com todo o capricho por Olívia.
A mulher mesmo cuidando de Flávio, se esmerou nos preparativos da comemoração de Cecília.
Mas não se descuidou do filho, visitando-o, rezando por ele, e deixando-o aos cuidados de Jair.
Letícia vivia para o trabalho e para acompanhar Flávio.
Visitava o rapaz quase diariamente.
Olívia havia se mudado para o apartamento do filho. Lá ficou instalado em uma cama hospitalar, sendo sempre mudado de lugar, e cuidado por um enfermeiro.
Este enfermeiro, auxiliava Olívia nos exercícios diários com Flávio, para fazer com não ficasse com os membros e músculos atrofiados.
Toda manhã ela abria as janelas e deixava entrar luz no quarto do rapaz.
Dizia a ele que aquela luz vinha lhe dizer bom dia, para que ele tivesse a oportunidade de ver como a vida era linda.
Comentava as notícias do dia anterior.
No começo, quando seus colegas de trabalho souberam do acidente, os mesmos procuraram visitar e saber se haviam ocorrido melhoras.
Olívia sempre dizia que acreditava que o rapaz iria melhorar.
Quando seus colegas o viram deitado, inconsciente, ficaram desolados.
Alguns deles também foram visitar Letícia. Perguntaram se ela estava precisando de alguma coisa, se poderiam ajudar.
Agradecida, a moça respondeu que era muito bom saber que poderia contar com eles, mas que no momento não havia nada que pudesse ser feito. Apenas esperar.
Olívia continuava a lhe contar histórias, a rememorar sua vida.
Contou do namoro de Cecília e Alessandro, que o casal pretendia morar junto.
Contou dos preparativos, da comemoração, da mudança. Falou do enxoval.
E nada de melhoras.
Neste momento solene, o moço prometeu que aquele seria o primeiro passo, e que o passo seguinte seria dado assim que o Flávio se recuperasse. Comentou em alto e bom som que seu cunhado seria seu padrinho de casamento juntamente com Letícia.
Todos se emocionaram e aplaudiram as palavras de Alessandro.
Os convivas se deliciaram com os comes e bebes.
Depois, foi servido um bolo preparado com todo o capricho por Olívia.
A mulher mesmo cuidando de Flávio, se esmerou nos preparativos da comemoração de Cecília.
Mas não se descuidou do filho, visitando-o, rezando por ele, e deixando-o aos cuidados de Jair.
Letícia vivia para o trabalho e para acompanhar Flávio.
Visitava o rapaz quase diariamente.
Olívia havia se mudado para o apartamento do filho. Lá ficou instalado em uma cama hospitalar, sendo sempre mudado de lugar, e cuidado por um enfermeiro.
Este enfermeiro, auxiliava Olívia nos exercícios diários com Flávio, para fazer com não ficasse com os membros e músculos atrofiados.
Toda manhã ela abria as janelas e deixava entrar luz no quarto do rapaz.
Dizia a ele que aquela luz vinha lhe dizer bom dia, para que ele tivesse a oportunidade de ver como a vida era linda.
Comentava as notícias do dia anterior.
No começo, quando seus colegas de trabalho souberam do acidente, os mesmos procuraram visitar e saber se haviam ocorrido melhoras.
Olívia sempre dizia que acreditava que o rapaz iria melhorar.
Quando seus colegas o viram deitado, inconsciente, ficaram desolados.
Alguns deles também foram visitar Letícia. Perguntaram se ela estava precisando de alguma coisa, se poderiam ajudar.
Agradecida, a moça respondeu que era muito bom saber que poderia contar com eles, mas que no momento não havia nada que pudesse ser feito. Apenas esperar.
Olívia continuava a lhe contar histórias, a rememorar sua vida.
Contou do namoro de Cecília e Alessandro, que o casal pretendia morar junto.
Contou dos preparativos, da comemoração, da mudança. Falou do enxoval.
E nada de melhoras.
Mas voltando a festa...
Cecília, embora abalada com a falta de melhoras no quadro de Flávio, decidiu que daria prosseguimento em sua vida.
Por isto comemorou, ainda que de forma simples, sua nova vida com Alessandro.
Preparou um enxoval comprando roupas de cama, de banho, de mesa. Também ganhou peças de presente.
Depois da festa na casa dos pais, onde recebeu inúmeros presentes para a casa, Cecília convidou os amigos e parentes mais chegados para irem a vida casa, e tomarem um champagne.
Feliz, com a ajuda de Olívia, preparou um bolo para os convidados que foram conhecer seu apartamento. Imóvel próprio.
Letícia, que permanecia abalada com o que sucedera a Flávio, declinou o convite. Agradeceu porém, a gentileza, mas respondeu que não poderia ir.
Karina meio sem jeito, comentou que a filha estava cheia de trabalho.
Mas Cecília e Olívia sabiam que Letícia estava, era triste.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Para se Viver um Grande Amor - Capítulo 11
Certa vez, andando na chuva, Letícia ficou com o vestido branco que usava, todo molhado.
Foi a deixa para que Flávio, assim que a viu no meio da chuva, a segurasse nos braços e começasse a dançar com ela.
Rodopiou como um doido com a moça nos braços.
A moça voltava de mais um dia de trabalho, e no caminho para casa, foi pega de surpresa pela chuva que não se fez anunciar. Tentou correr para debaixo de uma marquise, mas não deu tempo. Ficou ensopada.
Coisas de São Paulo.
E Flávio a aguardava em sua casa.
Os pais de Flávio, quando viram a cena, caíram na risada.
Letícia gritava e ria pedindo para que ele a colocasse no chão.
E assim, toda vez que o casal se lembrava do dia em que brincaram na chuva, Flávio cantarolava a música “Que Maravilha”.
A moça achava graça.
No dia em que ouviu no rádio a música, lembrou-se imediatamente da tarde na chuva. Estava em sua casa, em seu quarto, ouvindo música e estudando.
E assim a música se tornou mais uma bela melodia a embalar a trilha sonora do casal.
“Lá fora está chovendo,
Mas assim mesmo eu vou correndo
Só pra ver o meu amor
Ela vem toda de branco,
toda molhada e despenteada
Que maravilha, que coisa linda
que é o meu amor
Lá fora está chovendo,
mas assim mesmo eu vou correndo
só pra ver o meu amor
Ela vem toda de branco,
toda molhada e despenteada
Que maravilha, que coisa linda que é o meu amor
Por entre bancários, automóveis, ruas e avenidas
Milhões de buzinas tocando sem cessar
Ela vem toda de branco, muito meiga e muito tímida
Com a chuva molhando o seu corpo, que eu vou abraçar
E a gente no meio da rua, do mundo, no meio da chuva
A girar (que maravilha)
A girar (que maravilha)
A girar (que maravilha) ....
“Que Maravilha”
Com as chuvas rotineiras na cidade de São Paulo, era raro Letícia voltar para sua casa e não chegar ensopada.
Isto quando não levava horas para chegar em casa.
Certa vez a moça levou duas horas e meia para chegar em casa.
Ficou revoltada.
Certo dia Karina perguntou-lhe porque não ligou. Comentou que estava aflita com sua demora.
Relatou que tentou ligar inúmeras vezes para seu celular e só dava caixa postal.
Letícia respondeu que também tentou ligar, dentro do metrô inclusive, mas não obteve êxito.
Comentou que tentou pegar um ônibus, mas todas as conduções que passavam estavam lotadas. Enquanto isto tentava ligar para Karina e não conseguia.
Mais tarde ao ver o noticiário, ambas puderam atestar que houve pontos de alagamento na cidade, e que o serviço de telefonia permaneceu indisponível por várias horas.
Preocupado, depois de várias tentativas por horas a fio, Flávio conseguiu contatar a moça.
Perguntou-lhe se estava tudo bem. Comentou também que estava a horas tentando falar com ela pelo telefone, sem êxito.
Letícia contou então do sufoco que passou no metrô, encontrando plataformas cheias de gente. Disse que tentou ligar de dentro do carro para sua mãe, mas não conseguiu.
Após, tentou pegar um ônibus para casa, já que as chuvas não lhe permitiriam chegar a pé. Mas ao ver os raros ônibus que passavam, lotados, desistiu.
Resultado, chegou em casa encharcada.
Ao chegar em casa, sua mãe providenciou-lhe uma toalha para se enxugar.
A seguir, a moça tomou um banho, e depois, vestiu um short doll.
Comentou que assistiu o noticioso e assim, verificou o caos que se instalou na cidade de São Paulo.
Flávio por sua vez, comentou que também enfrentou transtornos para chegar em casa.
Para fugir das enchentes costumeiras, comentou que precisou fazer um caminho mais longo para chegar em casa.
Letícia por sua vez, disse que era um absurdo as pessoas terem que enfrentar tantos transtornos para chegarem em casa.
Comentou que havia levado duas horas e meia para chegar em casa.
Flávio respondeu que pior eram as pessoas que perdiam sua casa e seus parentes em deslizamentos de encostas, nos alagamentos, nas enchentes.
A moça respondeu que tudo isto era resultado da negligência das autoridades, que deixaram a situação ficar cada vez pior. Isto por que permitem invasões, loteamentos clandestinos em áreas de manancial e em áreas de risco. Depois, quando já existe uma comunidade instalada no local, fica mais difícil a retirada das pessoas dali.
Flávio comentou que o medo da reação dos eleitores também tolhia uma ação mais enérgica por parte da classe política, que tem temor de se indispor com seus famigerados eleitores.
Por fim, finalizaram a conversa com a frase: “Estou morrendo de saudade”, dita por ambos.
E assim, desligaram o telefone.
Karina comentou brincando que ela havia se demorado ao telefone. Disse que a conversa dos dois havia sido quase tão demorada quanto a chuva.
Letícia disse que ela estava sendo boba.
- Boba eu? Quem dera. – respondeu.
Em poucos dias, uma outra chuva forte, dificultou a ida de Letícia ao trabalho.
Por um problema na linha, o metrô levou mais de uma hora para voltar a funcionar novamente.
Com isto, a moça enfrentou espera no lado de fora da estação. No momento em que a estação foi aberta, houve tumulto e Letícia encontrou grande dificuldade para passar pela catraca.
Isto por que todos queriam passar na frente de todos.
Porém, quando a moça finalmente ultrapassou as catracas, encontrou as plataformas livres e o metrô praticamente vazio.
No trabalho Letícia comentou com Jovelina e Mercedes o sufoco que passou para chegar até a repartição.
Isto por que as duas mulheres também haviam passado por dificuldades para chegar ao trabalho.
Comentaram a cidade estava alagada, e que os ônibus estavam lotados.
As mulheres disseram que todos os ônibus que passavam estavam lotados.
Para conseguir entrar em um ônibus e ir para o trabalho, Jovelina comentou que foi um parto.
Mercedes emendou:
- Como se estes ônibus já não andassem apinhados de gente, tem que vir uma chuva para atrapalhar!
- Nem adianta reclamar. – respondeu Marli – São males da cidade grande.
Com isto, depois de tantos transtornos e um pouco de conversa jogada fora, as mulheres começaram a trabalhar.
Por conta das chuvas, as palestras agendadas em algumas escolas da região foram canceladas.
Marli comentou que as crianças não haviam conseguido chegar a nado na escola.
Mercedes, Jovelina e Letícia começaram a rir.
- Aqui desgraça pouca é bobagem! – emendou Jovelina.
Outro dia Letícia passou a tarde ouvindo músicas no rádio.
No rádio tocava a música “Serra do Luar”. Mais uma música a embalar a vida de Flávio e Letícia.
“Amor, vim te buscar em pensamento
Cheguei agora, no vento
Amor não chora de sofrimento
Cheguei agora, no vento
Eu só voltei, pra te contar
Viajei, fui pra Serra do Luar
Eu mergulhei, ah, eu quis vou voar
Agora vem, vem pra terra descansar
Viver, é afinar o instrumento
De dentro para fora, de fora pra dentro
A toda hora, a todo o momento
De dentro pra fora, de fora pra dentro
A toda hora, a todo o momento
De dentro pra fora, de fora pra dentro ...
Composição: Walter Franco”
Esta música acompanhou Letícia em todos os momentos de angústia que viveu ao lado de Flávio. Desde os momentos das briguinhas de casal, até os momentos em que acreditou que havia perdido a batalha para a desesperança – quando o moço permaneceu inconsciente em uma cama.
Ao ouvir esta música, acreditava, ainda que em sonhos, que Flávio estava lhe pedindo para não sofrer por ele, que estava voltando de muito longe para buscá-la. Para que tornassem a viver novamente juntos e felizes, como sempre foi.
Em sonhos, Flávio sempre aparecia vestido de branco, com flores nas mãos, convidando-a para segui-lo em um lugar muito bonito, com muito verde. Ao fundo, uma montanha.
Ele então se aproximava e beija-lhe o rosto, segurando-a pelas mãos.
Ao despertar e lembrar-se da situação em que se encontrava, invariavelmente começava a chorar.
Lembrava-se das primícias, dos primeiros frutos desta relação, dos momentos felizes em que ambos estiveram juntos. Da luta que fora para Flávio, convencê-la de que possuía as melhores intenções e de que desde que a conhecera melhor, passou a ser interessar por ela.
Confessou-lhe que a achava incrível, acima da média.
Não se importou com a diferença de idade entre eles (que nem era tão grande assim), por que percebeu que a moça apesar de ser mais jovem, era madura o bastante para ele.
Desta forma, depois de muitos encontros, muitas idas ao cinema, ao teatro, finalmente o encontro prometido após o telefonema.
Aquele telefonema em que Letícia comentara que havia passado em um concurso público e que trabalharia com direito ambiental.
Com isto, Letícia telefonou novamente ao rapaz para lembrar-lhe do convite.
Como se fora preciso.
Flávio esperava com ansiedade o novo contato.
Para ele, a demora foi considerável, mas não demonstrou a ansiedade.
Nisto, conversaram um pouco pelo telefone.
Letícia comentou que o trabalho parecia interessante, mas não poderia entrar em detalhes por que ainda estava conhecendo as coisas.
Flávio então relatou que a proposta de sociedade, estava de pé.
A moça parabenizou-o.
E assim, agendaram a data do encontro.
Finalmente Flávio conseguiu convidá-la para jantar.
Nisto, alguns dias depois, lá estava Flávio levando a moça para jantar.
Letícia usava uma saia social acima do joelho, e uma blusa de alça. Flávio trajava uma calça jeans, camisa e blaser.
Ansioso, Flávio perguntou como estava indo em seu novo emprego.
Letícia repetiu a história de que ainda estava conhecendo o trabalho.
O homem insistiu.
- Ah, não é possível que você não tenha nada de novo para contar!
Letícia comentou então que estava gostando do trabalho na repartição. Que estava aprendendo muitas coisas interessantes sobre meio ambiente. Que o trabalho parecia promissor.
Flávio parecia encantado com tudo o que ouvia.
A certa altura, percebendo que o rapaz não dizia palavra alguma, perguntou-lhe como ia o seu trabalho.
Flávio comentou que estava cuidando de algumas causas cíveis, algumas ações civis públicas. Que estava trabalhando muito.
Comentou ainda que apesar estava disposto a dedicar um tempo de sua vida aos relacionamentos pessoais.
Letícia fez sinal de que não estava entendendo o que ele estava falando.
Flávio perguntou então:
- Poxa! Você não percebeu ainda o que estou a tempos tentando te dizer?
Fez então um instante de silencio.
Percebendo que Letícia permanecia surpresa, respondeu ele mesmo:
- Está bem mocinha! Eu desisto! Eu vou falar.
Nisto segurou o copo com refrigerante e sorveu um pouco de seu conteúdo. Estava visivelmente nervoso.
Letícia também parecia tensa. Não sabia o que esperar. Desconfiava apenas, sempre achando que o interesse de Flávio por ela era apenas uma impressão.
Foi então que o moço interrompeu o silêncio.
- Eu estou a tempo tentando te fazer esta pergunta. Quer me namorar?
Ao ouvir as palavras de Flávio, respondeu perplexa:
- Desculpe mas eu não entendi. É alguma brincadeira?
Flávio repetiu então que a tempos tentava lhe pedir em namoro, mas que ela não lhe dava brechas para que ele pudesse dizer o que estava acontecendo. Sempre ocupada em arrumar um emprego melhor.
Letícia comentou que tinha sido pega de surpresa e que não sabia o que dizer.
- Como não? Eu me desmancho todo para dizer estas palavras, e você me diz que não sabe o que dizer? – questionou desapontado.
- Desculpe! – respondeu Letícia, sem jeito.
Percebendo então que havia se excedido, Flávio pediu-lhe desculpas. Dizendo que não tinha o direito de exigir uma resposta imediata, sugeriu que ela pensasse na idéia.
Letícia prometeu que o faria.
Mas foi questão de tempo o início do namoro.
O beijo no show ocorreu semanas depois deste encontro...
Quando foi organizada uma festa de confraternização com os colegas de escritório, Flávio tratou de chamar a moça para acompanhá-lo na festa.
Disse que seria uma comemoração bonita, com seus amigos, colegas. Comentou que a moça iria encontrar seus conhecidos. Insistiu que seria interessante.
Letícia aceitou o convite.
E a festa fora excelente. Muita dança, muitos comes e bebes.
Letícia estava impecavelmente trajada, com um vestido azul de alças finas, cruzado nas costas. Estava com os longos cabelos soltos, maquiada e perfumada.
Flávio vestia um belo terno.
Animado, fora buscar a moça em casa.
Diante disto, ao vê-la toda produzida, respondeu que ela estava linda.
Timidamente Letícia respondeu que ele também não estava mal.
Karina, retrucou dizendo que não, que ele estava lindo também.
Flávio caiu na risada.
Letícia ficou surpresa com o comentário da mãe. Olhou para ela, como se a repreendesse.
Nisto, conduzindo a moça até o carro, o rapaz abriu a porta para ela.
Letícia agradeceu e sentou-se.
Karina recomendou a ambos que se divertissem.
Flávio então, entrou no carro.
Dentro do carro, ambos acenaram para Karina.
Durante o trajeto até a o salão de festas, passaram pelo centro histórico de São Paulo. Viaduto do Chá, tendo ao fundo o Vale do Anhangabaú, o shopping Light, por inúmeros prédios históricos.
Ao chegar no local da festa, o casal adentrou um amplo salão de festas, todo adornado de flores coloridas. Na entrada, dois seguranças perguntaram seus nomes.
Após, foram convidados a entrar no salão.
Quando chegaram no ambiente, havia um grupo de música ao vivo. Tocavam sucessos da MPB, e flash backs. Já havia pessoas dançando no salão.
Outras sentadas nas enormes mesas que ocupavam o salão, aproveitavam para apreciar o conjunto cantando, e também para comer e beber. Aproveitavam também, para conversar com os amigos, os conhecidos. Enfim, jogar conversa fora.
E assim, adentrando o salão, Flávio procurou ocupar uma mesa.
Mas não demorou muito para que seus colegas notassem sua presença e fossem conversar com ele. Percebendo que ele estava acompanhado, foram logo perguntando quem era a moça.
Animado, Flávio apresentou Letícia a todos os seus colegas de trabalho. Respondeu que era sua noiva.
Seus amigos comentaram que sua vida estava mudando bastante.
Um deles também comentou que tinha a intenção de arrumar uma namorada.
Quando um deles perguntou o que o impedia de fazê-lo,. o moço respondeu que nada, apenas precisava que as mulheres parassem de correr dele. Lastimando-se, comentou que ultimamente não estava pegando nem gripe.
Todos riram.
A certa altura, já um pouco bêbado, comentou que era Flávio quem tinha sorte de encontrar uma moça tão bonita. Ressaltando que ele fora muito esperto em ficar noivo de Letícia, comentou que não estava fácil encontrar uma mulher para casar.
Os colegas de trabalho de Flávio, percebendo que Carlos estava se excedendo, pediram desculpas e retiraram o rapaz da mesa.
Os rapazes desculparam-se inclusive com Letícia, que não deu demonstração de estar ofendida com as palavras do rapaz.
Flávio também não pareceu ter se incomodado. Comentou apenas que Carlos não estava simplesmente bêbado, mas que através da bebida encontrou uma válvula de escape para dizer o que o afligia.
E assim, durante a festa, outros conhecidos se aproximaram da mesa onde estavam Flávio e Letícia. Cumprimentaram o casal e descobriram que o rapaz já estava noivo.
Em dado momento, alguns dos colegas de Flávio reconheceram Letícia. Alguns chegaram a perguntar se ela já havia trabalhado com eles. Letícia respondeu que sim.
Com os amigos mais chegados, a conversa foi mais íntima. Tanto que alguns chegaram a comentar que ficaram felizes quando eles começaram a namorar, e que não agüentavam mais ver Flávio tão triste.
Alguns perguntaram inclusive se a relação dos dois não começou quando eles ainda trabalhavam juntos.
Letícia respondeu então que não. Dizendo que eles só começaram a namorar anos depois, foi interrompida por Flávio que comentou:
- Pois é! Tempos depois!
Letícia retrucou dizendo que não demorou tanto tempo assim.
Mas Flávio insistiu em dizer que ela é uma garota difícil.
Seus colegas brincaram dizendo que ela era pra casar.
Quando Otávio começou a falar de trabalho, os outros colegas o censuraram dizendo que aquilo era uma festa, não um escritório.
Flávio e Letícia foram apresentados a parentes e amigos dos colegas de Flávio.
Quando o conjunto começou a cantar “Figura Rara”, Flávio convidou Letícia para dançar.
Dançaram juntos.
“Chega, sempre tão certa, firme direta
Dá seu sinal de presença rara
Linda figura, doce visão
Encantando a sala
Leva no rosto, uma canção que não para mais
Ela quem fica melhor,
Maravilhosa pintura
Figura rara do coração...”
Abraçados, colados. Envolvidos pela música.
Vicente, Otávio, Francisco e Cleide, comentaram que pelo entrosamento que eles tinham na dança, deviam se gostar muito.
Teve gente que instigou:
- Beija! Beija!
Quando perceberam que era com eles, Letícia e Flávio caíram na risada.
Todavia, os pedidos continuaram.
- Beija! Vocês formam um casal tão bonito!
Foi então que eles começaram a ficar sem graça.
Flávio respondeu que não dava.
Vicente e Francisco disseram:
- Pessoal, deixem disso!
- É gente! Eles estão ficando sem graça.
Mesmo assim, teve gente que pediu um abraço, pelo menos.
Flávio aproximou-se de Letícia e lhe deu um abraço.
A mulher por sua vez, segurando-o pelo braço, chamou-lhe:
- Flávio!
Quando ele se voltou para ela, Letícia beijou-o nos lábios.
Quem torceu pelo beijo, comentou que depois que foi uma cena linda. Parecia cena de novela.
Sem dúvida, foi evento mais comentado da festa.
Depois, o casal foi tomar champagne, junto ao pessoal do escritório de advocacia e contabilidade.
Muitos deram os parabéns a Flávio, ressaltando que ele era um homem de sorte.
O moço assentiu com a cabeça.
Jantaram.
Strognoff, arroz, batata sautée, vinho.
Enquanto ceavam, comentaram que Flávio era uma pessoa afortunada, não só pelo fato de haver arrumado uma bela noiva, como também pelo fato de que faria parte do quadro de sócios do escritório.
Flávio, embora esperasse por isso, não imaginou que a confirmação se daria na festa.
Letícia parabenizou-o. Comentou que tinha certeza que certamente seu trabalho seria reconhecido.
Flávio agradeceu, dizendo que havia se empenhado nisto, também por ela.
As mulheres de Bruno e Leandro, comentaram com Letícia que ela era uma mulher de sorte, por ter um noivo tão gentil.
Letícia respondeu que tinha certeza disto.
E assim, a moça trocou algumas palavras com algumas das esposas, noivas, namoradas e parentes dos convidados.
Em um dado momento, ao se levantar para ir ao toillet, foi novamente reconhecida por alguns funcionários do escritório, e acabou conversando algum tempo com eles.
Comentou que estava trabalhando em uma repartição pública, na área de meio ambiente.
- Que legal! E você, está gostando?
Letícia respondeu então, que embora estivesse começando no novo trabalho, que estava gostando sim.
Se abraçaram, e prometeram manter contato.
Letícia dirigiu-se então ao toillet, e retocou o batom.
Após, retornou a mesa.
Nisto, algum tempo depois, o casal se despediu de alguns convivas e foram para casa.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Foi a deixa para que Flávio, assim que a viu no meio da chuva, a segurasse nos braços e começasse a dançar com ela.
Rodopiou como um doido com a moça nos braços.
A moça voltava de mais um dia de trabalho, e no caminho para casa, foi pega de surpresa pela chuva que não se fez anunciar. Tentou correr para debaixo de uma marquise, mas não deu tempo. Ficou ensopada.
Coisas de São Paulo.
E Flávio a aguardava em sua casa.
Os pais de Flávio, quando viram a cena, caíram na risada.
Letícia gritava e ria pedindo para que ele a colocasse no chão.
E assim, toda vez que o casal se lembrava do dia em que brincaram na chuva, Flávio cantarolava a música “Que Maravilha”.
A moça achava graça.
No dia em que ouviu no rádio a música, lembrou-se imediatamente da tarde na chuva. Estava em sua casa, em seu quarto, ouvindo música e estudando.
E assim a música se tornou mais uma bela melodia a embalar a trilha sonora do casal.
“Lá fora está chovendo,
Mas assim mesmo eu vou correndo
Só pra ver o meu amor
Ela vem toda de branco,
toda molhada e despenteada
Que maravilha, que coisa linda
que é o meu amor
Lá fora está chovendo,
mas assim mesmo eu vou correndo
só pra ver o meu amor
Ela vem toda de branco,
toda molhada e despenteada
Que maravilha, que coisa linda que é o meu amor
Por entre bancários, automóveis, ruas e avenidas
Milhões de buzinas tocando sem cessar
Ela vem toda de branco, muito meiga e muito tímida
Com a chuva molhando o seu corpo, que eu vou abraçar
E a gente no meio da rua, do mundo, no meio da chuva
A girar (que maravilha)
A girar (que maravilha)
A girar (que maravilha) ....
“Que Maravilha”
Com as chuvas rotineiras na cidade de São Paulo, era raro Letícia voltar para sua casa e não chegar ensopada.
Isto quando não levava horas para chegar em casa.
Certa vez a moça levou duas horas e meia para chegar em casa.
Ficou revoltada.
Certo dia Karina perguntou-lhe porque não ligou. Comentou que estava aflita com sua demora.
Relatou que tentou ligar inúmeras vezes para seu celular e só dava caixa postal.
Letícia respondeu que também tentou ligar, dentro do metrô inclusive, mas não obteve êxito.
Comentou que tentou pegar um ônibus, mas todas as conduções que passavam estavam lotadas. Enquanto isto tentava ligar para Karina e não conseguia.
Mais tarde ao ver o noticiário, ambas puderam atestar que houve pontos de alagamento na cidade, e que o serviço de telefonia permaneceu indisponível por várias horas.
Preocupado, depois de várias tentativas por horas a fio, Flávio conseguiu contatar a moça.
Perguntou-lhe se estava tudo bem. Comentou também que estava a horas tentando falar com ela pelo telefone, sem êxito.
Letícia contou então do sufoco que passou no metrô, encontrando plataformas cheias de gente. Disse que tentou ligar de dentro do carro para sua mãe, mas não conseguiu.
Após, tentou pegar um ônibus para casa, já que as chuvas não lhe permitiriam chegar a pé. Mas ao ver os raros ônibus que passavam, lotados, desistiu.
Resultado, chegou em casa encharcada.
Ao chegar em casa, sua mãe providenciou-lhe uma toalha para se enxugar.
A seguir, a moça tomou um banho, e depois, vestiu um short doll.
Comentou que assistiu o noticioso e assim, verificou o caos que se instalou na cidade de São Paulo.
Flávio por sua vez, comentou que também enfrentou transtornos para chegar em casa.
Para fugir das enchentes costumeiras, comentou que precisou fazer um caminho mais longo para chegar em casa.
Letícia por sua vez, disse que era um absurdo as pessoas terem que enfrentar tantos transtornos para chegarem em casa.
Comentou que havia levado duas horas e meia para chegar em casa.
Flávio respondeu que pior eram as pessoas que perdiam sua casa e seus parentes em deslizamentos de encostas, nos alagamentos, nas enchentes.
A moça respondeu que tudo isto era resultado da negligência das autoridades, que deixaram a situação ficar cada vez pior. Isto por que permitem invasões, loteamentos clandestinos em áreas de manancial e em áreas de risco. Depois, quando já existe uma comunidade instalada no local, fica mais difícil a retirada das pessoas dali.
Flávio comentou que o medo da reação dos eleitores também tolhia uma ação mais enérgica por parte da classe política, que tem temor de se indispor com seus famigerados eleitores.
Por fim, finalizaram a conversa com a frase: “Estou morrendo de saudade”, dita por ambos.
E assim, desligaram o telefone.
Karina comentou brincando que ela havia se demorado ao telefone. Disse que a conversa dos dois havia sido quase tão demorada quanto a chuva.
Letícia disse que ela estava sendo boba.
- Boba eu? Quem dera. – respondeu.
Em poucos dias, uma outra chuva forte, dificultou a ida de Letícia ao trabalho.
Por um problema na linha, o metrô levou mais de uma hora para voltar a funcionar novamente.
Com isto, a moça enfrentou espera no lado de fora da estação. No momento em que a estação foi aberta, houve tumulto e Letícia encontrou grande dificuldade para passar pela catraca.
Isto por que todos queriam passar na frente de todos.
Porém, quando a moça finalmente ultrapassou as catracas, encontrou as plataformas livres e o metrô praticamente vazio.
No trabalho Letícia comentou com Jovelina e Mercedes o sufoco que passou para chegar até a repartição.
Isto por que as duas mulheres também haviam passado por dificuldades para chegar ao trabalho.
Comentaram a cidade estava alagada, e que os ônibus estavam lotados.
As mulheres disseram que todos os ônibus que passavam estavam lotados.
Para conseguir entrar em um ônibus e ir para o trabalho, Jovelina comentou que foi um parto.
Mercedes emendou:
- Como se estes ônibus já não andassem apinhados de gente, tem que vir uma chuva para atrapalhar!
- Nem adianta reclamar. – respondeu Marli – São males da cidade grande.
Com isto, depois de tantos transtornos e um pouco de conversa jogada fora, as mulheres começaram a trabalhar.
Por conta das chuvas, as palestras agendadas em algumas escolas da região foram canceladas.
Marli comentou que as crianças não haviam conseguido chegar a nado na escola.
Mercedes, Jovelina e Letícia começaram a rir.
- Aqui desgraça pouca é bobagem! – emendou Jovelina.
Outro dia Letícia passou a tarde ouvindo músicas no rádio.
No rádio tocava a música “Serra do Luar”. Mais uma música a embalar a vida de Flávio e Letícia.
“Amor, vim te buscar em pensamento
Cheguei agora, no vento
Amor não chora de sofrimento
Cheguei agora, no vento
Eu só voltei, pra te contar
Viajei, fui pra Serra do Luar
Eu mergulhei, ah, eu quis vou voar
Agora vem, vem pra terra descansar
Viver, é afinar o instrumento
De dentro para fora, de fora pra dentro
A toda hora, a todo o momento
De dentro pra fora, de fora pra dentro
A toda hora, a todo o momento
De dentro pra fora, de fora pra dentro ...
Composição: Walter Franco”
Esta música acompanhou Letícia em todos os momentos de angústia que viveu ao lado de Flávio. Desde os momentos das briguinhas de casal, até os momentos em que acreditou que havia perdido a batalha para a desesperança – quando o moço permaneceu inconsciente em uma cama.
Ao ouvir esta música, acreditava, ainda que em sonhos, que Flávio estava lhe pedindo para não sofrer por ele, que estava voltando de muito longe para buscá-la. Para que tornassem a viver novamente juntos e felizes, como sempre foi.
Em sonhos, Flávio sempre aparecia vestido de branco, com flores nas mãos, convidando-a para segui-lo em um lugar muito bonito, com muito verde. Ao fundo, uma montanha.
Ele então se aproximava e beija-lhe o rosto, segurando-a pelas mãos.
Ao despertar e lembrar-se da situação em que se encontrava, invariavelmente começava a chorar.
Lembrava-se das primícias, dos primeiros frutos desta relação, dos momentos felizes em que ambos estiveram juntos. Da luta que fora para Flávio, convencê-la de que possuía as melhores intenções e de que desde que a conhecera melhor, passou a ser interessar por ela.
Confessou-lhe que a achava incrível, acima da média.
Não se importou com a diferença de idade entre eles (que nem era tão grande assim), por que percebeu que a moça apesar de ser mais jovem, era madura o bastante para ele.
Desta forma, depois de muitos encontros, muitas idas ao cinema, ao teatro, finalmente o encontro prometido após o telefonema.
Aquele telefonema em que Letícia comentara que havia passado em um concurso público e que trabalharia com direito ambiental.
Com isto, Letícia telefonou novamente ao rapaz para lembrar-lhe do convite.
Como se fora preciso.
Flávio esperava com ansiedade o novo contato.
Para ele, a demora foi considerável, mas não demonstrou a ansiedade.
Nisto, conversaram um pouco pelo telefone.
Letícia comentou que o trabalho parecia interessante, mas não poderia entrar em detalhes por que ainda estava conhecendo as coisas.
Flávio então relatou que a proposta de sociedade, estava de pé.
A moça parabenizou-o.
E assim, agendaram a data do encontro.
Finalmente Flávio conseguiu convidá-la para jantar.
Nisto, alguns dias depois, lá estava Flávio levando a moça para jantar.
Letícia usava uma saia social acima do joelho, e uma blusa de alça. Flávio trajava uma calça jeans, camisa e blaser.
Ansioso, Flávio perguntou como estava indo em seu novo emprego.
Letícia repetiu a história de que ainda estava conhecendo o trabalho.
O homem insistiu.
- Ah, não é possível que você não tenha nada de novo para contar!
Letícia comentou então que estava gostando do trabalho na repartição. Que estava aprendendo muitas coisas interessantes sobre meio ambiente. Que o trabalho parecia promissor.
Flávio parecia encantado com tudo o que ouvia.
A certa altura, percebendo que o rapaz não dizia palavra alguma, perguntou-lhe como ia o seu trabalho.
Flávio comentou que estava cuidando de algumas causas cíveis, algumas ações civis públicas. Que estava trabalhando muito.
Comentou ainda que apesar estava disposto a dedicar um tempo de sua vida aos relacionamentos pessoais.
Letícia fez sinal de que não estava entendendo o que ele estava falando.
Flávio perguntou então:
- Poxa! Você não percebeu ainda o que estou a tempos tentando te dizer?
Fez então um instante de silencio.
Percebendo que Letícia permanecia surpresa, respondeu ele mesmo:
- Está bem mocinha! Eu desisto! Eu vou falar.
Nisto segurou o copo com refrigerante e sorveu um pouco de seu conteúdo. Estava visivelmente nervoso.
Letícia também parecia tensa. Não sabia o que esperar. Desconfiava apenas, sempre achando que o interesse de Flávio por ela era apenas uma impressão.
Foi então que o moço interrompeu o silêncio.
- Eu estou a tempo tentando te fazer esta pergunta. Quer me namorar?
Ao ouvir as palavras de Flávio, respondeu perplexa:
- Desculpe mas eu não entendi. É alguma brincadeira?
Flávio repetiu então que a tempos tentava lhe pedir em namoro, mas que ela não lhe dava brechas para que ele pudesse dizer o que estava acontecendo. Sempre ocupada em arrumar um emprego melhor.
Letícia comentou que tinha sido pega de surpresa e que não sabia o que dizer.
- Como não? Eu me desmancho todo para dizer estas palavras, e você me diz que não sabe o que dizer? – questionou desapontado.
- Desculpe! – respondeu Letícia, sem jeito.
Percebendo então que havia se excedido, Flávio pediu-lhe desculpas. Dizendo que não tinha o direito de exigir uma resposta imediata, sugeriu que ela pensasse na idéia.
Letícia prometeu que o faria.
Mas foi questão de tempo o início do namoro.
O beijo no show ocorreu semanas depois deste encontro...
Quando foi organizada uma festa de confraternização com os colegas de escritório, Flávio tratou de chamar a moça para acompanhá-lo na festa.
Disse que seria uma comemoração bonita, com seus amigos, colegas. Comentou que a moça iria encontrar seus conhecidos. Insistiu que seria interessante.
Letícia aceitou o convite.
E a festa fora excelente. Muita dança, muitos comes e bebes.
Letícia estava impecavelmente trajada, com um vestido azul de alças finas, cruzado nas costas. Estava com os longos cabelos soltos, maquiada e perfumada.
Flávio vestia um belo terno.
Animado, fora buscar a moça em casa.
Diante disto, ao vê-la toda produzida, respondeu que ela estava linda.
Timidamente Letícia respondeu que ele também não estava mal.
Karina, retrucou dizendo que não, que ele estava lindo também.
Flávio caiu na risada.
Letícia ficou surpresa com o comentário da mãe. Olhou para ela, como se a repreendesse.
Nisto, conduzindo a moça até o carro, o rapaz abriu a porta para ela.
Letícia agradeceu e sentou-se.
Karina recomendou a ambos que se divertissem.
Flávio então, entrou no carro.
Dentro do carro, ambos acenaram para Karina.
Durante o trajeto até a o salão de festas, passaram pelo centro histórico de São Paulo. Viaduto do Chá, tendo ao fundo o Vale do Anhangabaú, o shopping Light, por inúmeros prédios históricos.
Ao chegar no local da festa, o casal adentrou um amplo salão de festas, todo adornado de flores coloridas. Na entrada, dois seguranças perguntaram seus nomes.
Após, foram convidados a entrar no salão.
Quando chegaram no ambiente, havia um grupo de música ao vivo. Tocavam sucessos da MPB, e flash backs. Já havia pessoas dançando no salão.
Outras sentadas nas enormes mesas que ocupavam o salão, aproveitavam para apreciar o conjunto cantando, e também para comer e beber. Aproveitavam também, para conversar com os amigos, os conhecidos. Enfim, jogar conversa fora.
E assim, adentrando o salão, Flávio procurou ocupar uma mesa.
Mas não demorou muito para que seus colegas notassem sua presença e fossem conversar com ele. Percebendo que ele estava acompanhado, foram logo perguntando quem era a moça.
Animado, Flávio apresentou Letícia a todos os seus colegas de trabalho. Respondeu que era sua noiva.
Seus amigos comentaram que sua vida estava mudando bastante.
Um deles também comentou que tinha a intenção de arrumar uma namorada.
Quando um deles perguntou o que o impedia de fazê-lo,. o moço respondeu que nada, apenas precisava que as mulheres parassem de correr dele. Lastimando-se, comentou que ultimamente não estava pegando nem gripe.
Todos riram.
A certa altura, já um pouco bêbado, comentou que era Flávio quem tinha sorte de encontrar uma moça tão bonita. Ressaltando que ele fora muito esperto em ficar noivo de Letícia, comentou que não estava fácil encontrar uma mulher para casar.
Os colegas de trabalho de Flávio, percebendo que Carlos estava se excedendo, pediram desculpas e retiraram o rapaz da mesa.
Os rapazes desculparam-se inclusive com Letícia, que não deu demonstração de estar ofendida com as palavras do rapaz.
Flávio também não pareceu ter se incomodado. Comentou apenas que Carlos não estava simplesmente bêbado, mas que através da bebida encontrou uma válvula de escape para dizer o que o afligia.
E assim, durante a festa, outros conhecidos se aproximaram da mesa onde estavam Flávio e Letícia. Cumprimentaram o casal e descobriram que o rapaz já estava noivo.
Em dado momento, alguns dos colegas de Flávio reconheceram Letícia. Alguns chegaram a perguntar se ela já havia trabalhado com eles. Letícia respondeu que sim.
Com os amigos mais chegados, a conversa foi mais íntima. Tanto que alguns chegaram a comentar que ficaram felizes quando eles começaram a namorar, e que não agüentavam mais ver Flávio tão triste.
Alguns perguntaram inclusive se a relação dos dois não começou quando eles ainda trabalhavam juntos.
Letícia respondeu então que não. Dizendo que eles só começaram a namorar anos depois, foi interrompida por Flávio que comentou:
- Pois é! Tempos depois!
Letícia retrucou dizendo que não demorou tanto tempo assim.
Mas Flávio insistiu em dizer que ela é uma garota difícil.
Seus colegas brincaram dizendo que ela era pra casar.
Quando Otávio começou a falar de trabalho, os outros colegas o censuraram dizendo que aquilo era uma festa, não um escritório.
Flávio e Letícia foram apresentados a parentes e amigos dos colegas de Flávio.
Quando o conjunto começou a cantar “Figura Rara”, Flávio convidou Letícia para dançar.
Dançaram juntos.
“Chega, sempre tão certa, firme direta
Dá seu sinal de presença rara
Linda figura, doce visão
Encantando a sala
Leva no rosto, uma canção que não para mais
Ela quem fica melhor,
Maravilhosa pintura
Figura rara do coração...”
Abraçados, colados. Envolvidos pela música.
Vicente, Otávio, Francisco e Cleide, comentaram que pelo entrosamento que eles tinham na dança, deviam se gostar muito.
Teve gente que instigou:
- Beija! Beija!
Quando perceberam que era com eles, Letícia e Flávio caíram na risada.
Todavia, os pedidos continuaram.
- Beija! Vocês formam um casal tão bonito!
Foi então que eles começaram a ficar sem graça.
Flávio respondeu que não dava.
Vicente e Francisco disseram:
- Pessoal, deixem disso!
- É gente! Eles estão ficando sem graça.
Mesmo assim, teve gente que pediu um abraço, pelo menos.
Flávio aproximou-se de Letícia e lhe deu um abraço.
A mulher por sua vez, segurando-o pelo braço, chamou-lhe:
- Flávio!
Quando ele se voltou para ela, Letícia beijou-o nos lábios.
Quem torceu pelo beijo, comentou que depois que foi uma cena linda. Parecia cena de novela.
Sem dúvida, foi evento mais comentado da festa.
Depois, o casal foi tomar champagne, junto ao pessoal do escritório de advocacia e contabilidade.
Muitos deram os parabéns a Flávio, ressaltando que ele era um homem de sorte.
O moço assentiu com a cabeça.
Jantaram.
Strognoff, arroz, batata sautée, vinho.
Enquanto ceavam, comentaram que Flávio era uma pessoa afortunada, não só pelo fato de haver arrumado uma bela noiva, como também pelo fato de que faria parte do quadro de sócios do escritório.
Flávio, embora esperasse por isso, não imaginou que a confirmação se daria na festa.
Letícia parabenizou-o. Comentou que tinha certeza que certamente seu trabalho seria reconhecido.
Flávio agradeceu, dizendo que havia se empenhado nisto, também por ela.
As mulheres de Bruno e Leandro, comentaram com Letícia que ela era uma mulher de sorte, por ter um noivo tão gentil.
Letícia respondeu que tinha certeza disto.
E assim, a moça trocou algumas palavras com algumas das esposas, noivas, namoradas e parentes dos convidados.
Em um dado momento, ao se levantar para ir ao toillet, foi novamente reconhecida por alguns funcionários do escritório, e acabou conversando algum tempo com eles.
Comentou que estava trabalhando em uma repartição pública, na área de meio ambiente.
- Que legal! E você, está gostando?
Letícia respondeu então, que embora estivesse começando no novo trabalho, que estava gostando sim.
Se abraçaram, e prometeram manter contato.
Letícia dirigiu-se então ao toillet, e retocou o batom.
Após, retornou a mesa.
Nisto, algum tempo depois, o casal se despediu de alguns convivas e foram para casa.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Para se Viver um Grande Amor - Capítulo 10
“Pela janela, vejo fumaça, vejo pessoas...
Na rua, os carros
No céu, o sol e a chuva
O telefone tocou
Na mente fantasia...
Você me ligou
Naquela tarde vazia
E me valeu o dia (2x)
Pela janela, vejo fumaça, vejo pessoas...
Na rua, os carros
No céu, o sol e a chuva
O telefone tocou
Na mente fantasia...
Você me ligou, naquela tarde vazia
Na mente fantasia (2x)
Você me ligou
Naquela tarde vazia
E me valeu o dia...
Valeu o dia! (2x)
Você me ligou, naquela tarde vazia
Na mente fantasia (2x)
Podia ter muitas garotas
Mas você é diferente
Você me ligou, naquela tarde vazia
E me valeu o dia
Valeu o dia! (2x)
Na mente fantasia (2x)
Cantando a melodia (2x)
(IRA – Tarde Vazia)”
Encontrando-se só, Flávio ficou a lembrar de uma tarde em que sua amada resolveu telefonar-lhe, contando as novidades do dia.
Feliz, a moça comentou que havia conseguido arrumar um emprego em sua área de formação e que dentro em breve começaria a trabalhar.
Para Flávio, que se encontrava sozinho, ouvir aquelas palavras, foram como um bálsamo a aplacar seus momentos de solidão.
Isto porque ele, gostava muito de Letícia, mas sempre que tentava dizê-lo, acontecia alguma coisa para interrompê-lo.
Não que o mesmo fosse tímido, mas as circunstâncias não ajudavam muito.
A fama de cobiçado, também não ajudava muito.
Não que Letícia soubesse se essa fama correspondia a realidade. Apenas não acreditava que alguém tão bonito pudesse se interessar por ela. Em que pesem suas qualidades.
Sim por que Letícia era bela.
Embora não tivesse uma beleza estonteante, era bonita, sim.
Mas uma beleza comum. Mas num mundo em que não existem tantas coisas e pessoas bonitas, conseguia se sobressair.
Tanto que era alvo de uma certa inveja. Inveja por sua beleza, por sua simpatia, por sua inteligência.
Talvez a inteligência e seu temperamento espirituoso, sejam o que mais tenham cativado Flávio.
Pois bem, naquela tarde, um simples telefone iluminou todo o seu dia.
Ouvir a voz de Letícia foi como um raio de luz penetrando a escuridade da sala.
Isto por que Flávio estava desiludido com o rumo que as coisas estavam tomando. Estava desesperançado do amor.
Esperava encontrar alguém especial. Alguém com que dividir os sonhos, os aborrecimentos, as desilusões, as alegrias, os momentos maravilhosos a dois.
Em todos os relacionamentos, apenas amores mornos, alguns desentendimentos.
Será que viver a dois é só tédio e aborrecimento?
Recusava a acreditar nisto.
Mas estava perdendo a esperança de encontrar alguém especial. Afinal de contas, já contava com mais de trinta anos.
Já não era mais um garoto sonhador. Era um homem feito. Vivido e experiente.
Mesmo assim, ainda acreditava que poderia encontrar uma espécie de princesa.
Uma versão masculina para a história do príncipe encantado das mulheres.
E assim, mesmo sendo objeto de cobiça, continuava só.
Este assédio não o entusiasmava. Acreditava que o que era objeto de cobiça era sua aparência, não ele.
Desta forma, ao aparecer Letícia em sua vida, encantou-se. Moça simples, encantadora. Como já foi dito, bonita, inteligente. Aplicada, estudiosa.
E o mais importante, não ficou deslumbrada com Flávio, como a maioria das mulheres que se aproximavam, dele ficavam.
Mas voltando ao telefonema, Letícia comentou com Flávio que começaria a trabalhar com direito ambiental. Havia conseguido um emprego em uma repartição pública especializada no assunto.
Comentou que havia mais de um ano que vinha realizando concursos públicos.
Ao ouvir aquela voz agradável proferindo boas novas, Flávio respondeu:
- Que maravilha! E quando você começa a trabalhar?
Letícia comentou que segunda-feira começaria a pegar no batente.
Flávio sabia o quanto isto era importante para a moça.
Isto por que, acompanhava já há algum tempo o desencantamento de Letícia com seu atual trabalho. Sabia que a moça não estava feliz trabalhando num escritório de direito e contabilidade.
Por conta disto Flávio sempre dizia que ela não deveria desistir daquilo que queria.
Algumas vezes chegou a vê-la chorando por conta de sua insatisfação com o trabalho.
Sempre prestativo, dizia que ela deveria continuar procurando um emprego mais condizente com sua formação, e que mais cedo ou mais tarde, uma oportunidade apareceria.
Letícia sempre foi grata pelos conselhos.
Durante algum tempo, os dois trabalharam juntos, e foi aí que começou uma grande amizade.
Já se conheciam há uns dois anos, quando Flávio já era advogado há algum tempo, e ela estagiou no mesmo escritório de advocacia e contabilidade em que ele trabalhava.
No atual momento estava começando a advogar em um escritório de advocacia e contabilidade indicado por ele. Porém, em que pesem as expectativas, a moça não estava satisfeita com o trabalho. Letícia já havia percebido há muito tempo, que a advocacia não era sua praia.
Flávio já havia percebido isto. Razão pela qual estava feliz pelo fato de a moça ter passado em um concurso público.
Nisto, durante a ligação, ele comentou que estava trabalhando muito em uma causa cível, que se fosse bem sucedida renderia muito dinheiro. Comentou sobre a demora do processo, sobre o valor vultoso dos recursos interpostos, e que este certamente levaria alguns anos para ser encerrado.
Comentou que fora convidado para ser sócio no escritório.
Letícia comentou que esta era uma ótima notícia. E emendou:
- Que ótimo! Então não sou só eu que tenho uma notícia boa.
Flávio respondeu:
- Pois é! Então .... Por que já que ambos temos ótimas novidades e coisas boas para comemorar não saímos um dia desses para celebrar o momento? Já faz tanto tempo em que não nos encontramos pessoalmente.
- É verdade! Tenho andado em falta com você. Mas não é por culpa minha. É que minha vida virou uma roda viva nos últimos meses, justamente por conta deste novo emprego. Estou me desdobrando entre meu trabalho no escritório de contabilidade e providenciando a documentação necessária para começar a trabalhar na repartição.
- Ah, é por isso então, que eu quase nunca encontro a senhorita em casa nos finais de semana?
Letícia riu:
- Sim, é exatamente por isso. Todo mês pelo menos dois domingos são para fazer provas.
Nisto, percebendo que a conversa estava se encaminhando para outro lado, retrucou:
- Ei, e o meu convite?
Letícia meio sem jeito, respondeu que aquele mês estava complicado para ela.
Mas Flávio insistiu.
A moça percebendo que seria indelicado recusar, concordou.
Porém, argumentando que não seria possível agendar um compromisso para aquele mês, comentou que assim que pudesse ligaria para que eles pudessem marcar o encontro.
Flávio respondeu que ficaria esperando.
E assim, Letícia se despediu de Flávio com um até breve.
Ao desligar o telefone, após se despedir de Letícia, sentiu-se de alma leve. Pode-se dizer até feliz.
Acreditava estar dando o primeiro passo em direção a algo mais sério.
Já nem sabia dizer a quanto tempo gostava dela.
Talvez desde o momento em passou a conhecê-la melhor.
Como não sentiu receptividade por parte dela, acabou por começar um namoro que não durou um ano sequer.
Carolina até parecia interessada em Flávio, mas o moço não demonstrava o mesmo entusiasmo na relação.
Certa vez, ao perceber a frieza com que atendera o telefonema da namorada, Bruno mesmo temendo a indiscrição, comentou que não sentia entusiasmo dele com relação ao namoro.
Flávio por sua vez, tentou desconversar mas sabia que seu colega Bruno estava certo.
Tanto que semanas após, o casal decidiu terminar o relacionamento.
Carolina, percebendo que não havia contrapartida por parte de Flávio em relação ao relacionamento, foi quem tomou a iniciativa de romper a relação.
O moço por sua vez, sentiu-se culpado por não corresponder ao sentimento que ela nutria por ele.
Tanto que Flávio só tranqüilizou-se em relação a Carolina, quando descobriu que a moça estava de casamento marcado com um rapaz que fora seu namorado nos tempos da adolescência.
Acreditava que se a moça estava reatando os laços com alguém que fora tão importante em seu passado, é por que o que existiu entre ambos devia ser muito forte.
Com isto, passadas algumas semanas, o moço recebeu o convite de casamento de Carolina.
Flávio ficou muito feliz com a notícia.
Carlos indiscretamente, chegou até a perguntar se ele não estava arrependido de deixar a moça escapar.
Flávio por sua vez respondeu que agora ela estava ao lado de uma pessoa que a amava de verdade, e que não poderia haver algo melhor do que isto. Dizendo que tinha muito carinho por ela, comentou que sentiu a separação no começo, mas que agora estava aliviado.
Mas voltando ao banho, Flávio, atravessou todo o apartamento até chegar o banheiro da suíte.
No quarto despiu-se, jogando as roupas de qualquer jeito pelo chão, e depois entrou no banheiro.
O homem entrou então no chuveiro, ligou-o e começou a molhar o corpo e a se ensaboar.
Lembrar destes momentos felizes neste momento lhe fazia mal.
Acabara de brigar com Letícia por um motivo qualquer e acreditava que não voltariam a se entender.
Imerso nestes pensamentos, ficou a relembrar dos momentos que estiveram juntos.
Nisto, sem que percebesse, alguém sorrateiramente, entrara no apartamento.
Caminhando lentamente vasculhou o apartamento.
Ao perceber que Flávio se banhava, despiu-se, jogando as roupas pelo chão, e entrou no banheiro.
Distraído, o homem não percebeu sua presença.
Letícia abriu o box com todo o cuidado, e pegando o sabonete passou a ensaboar o corpo de Flávio.
Ele achou que estava sonhando.
Quando Letícia aproximou-se, e segurando-o pelos braços e beijou-o, percebeu que não se tratava de alucinação.
No rádio ligado se podia ouvir o cantor Dalton cantando:
“Hum, mas se um dia eu chegar muito estranho
Deixa essa água no corpo, lembrar nosso banho
Hum, mas se um dia eu chegar muito louco
Deixa esta noite saber, que um dia foi pouco
Uh, uh, cuida bem de mim
E então misture tudo, dentro de nós
Por que ninguém, vai dormir nosso sonho
Minha cara pra quê, tantos planos?
Se quero te amar, e te amar, e te amar muitos anos
Hum, tantas vezes eu quis ficar solto
Como se fosse uma lua a brincar no seu rosto
Uh, uh, cuida bem de mim
E então misture tudo, dentro de nós
Por que ninguém vai dormir nosso sonho ....”
Beijaram-se muito dentro do box, entre outras coisas.
Se amaram.
Flávio esfregou as costas de Letícia.
Estavam reconciliados.
Flávio e Letícia dormiram abraçados.
O moço já nem se lembrava mais do motivo bobo pelo qual brigara com a moça.
Não se lembrava mais da cena de ciúmes.
Da dramática cena em que chamou a atenção da moça por achar que ela estava dando atenção para um rapaz que não parava de olhar para ela.
Por conta deste motivo fútil, brigou com a moça e Letícia sem paciência, deixou-o falando sozinho.
Aquele encontro selara a reconciliação.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Na rua, os carros
No céu, o sol e a chuva
O telefone tocou
Na mente fantasia...
Você me ligou
Naquela tarde vazia
E me valeu o dia (2x)
Pela janela, vejo fumaça, vejo pessoas...
Na rua, os carros
No céu, o sol e a chuva
O telefone tocou
Na mente fantasia...
Você me ligou, naquela tarde vazia
Na mente fantasia (2x)
Você me ligou
Naquela tarde vazia
E me valeu o dia...
Valeu o dia! (2x)
Você me ligou, naquela tarde vazia
Na mente fantasia (2x)
Podia ter muitas garotas
Mas você é diferente
Você me ligou, naquela tarde vazia
E me valeu o dia
Valeu o dia! (2x)
Na mente fantasia (2x)
Cantando a melodia (2x)
(IRA – Tarde Vazia)”
Encontrando-se só, Flávio ficou a lembrar de uma tarde em que sua amada resolveu telefonar-lhe, contando as novidades do dia.
Feliz, a moça comentou que havia conseguido arrumar um emprego em sua área de formação e que dentro em breve começaria a trabalhar.
Para Flávio, que se encontrava sozinho, ouvir aquelas palavras, foram como um bálsamo a aplacar seus momentos de solidão.
Isto porque ele, gostava muito de Letícia, mas sempre que tentava dizê-lo, acontecia alguma coisa para interrompê-lo.
Não que o mesmo fosse tímido, mas as circunstâncias não ajudavam muito.
A fama de cobiçado, também não ajudava muito.
Não que Letícia soubesse se essa fama correspondia a realidade. Apenas não acreditava que alguém tão bonito pudesse se interessar por ela. Em que pesem suas qualidades.
Sim por que Letícia era bela.
Embora não tivesse uma beleza estonteante, era bonita, sim.
Mas uma beleza comum. Mas num mundo em que não existem tantas coisas e pessoas bonitas, conseguia se sobressair.
Tanto que era alvo de uma certa inveja. Inveja por sua beleza, por sua simpatia, por sua inteligência.
Talvez a inteligência e seu temperamento espirituoso, sejam o que mais tenham cativado Flávio.
Pois bem, naquela tarde, um simples telefone iluminou todo o seu dia.
Ouvir a voz de Letícia foi como um raio de luz penetrando a escuridade da sala.
Isto por que Flávio estava desiludido com o rumo que as coisas estavam tomando. Estava desesperançado do amor.
Esperava encontrar alguém especial. Alguém com que dividir os sonhos, os aborrecimentos, as desilusões, as alegrias, os momentos maravilhosos a dois.
Em todos os relacionamentos, apenas amores mornos, alguns desentendimentos.
Será que viver a dois é só tédio e aborrecimento?
Recusava a acreditar nisto.
Mas estava perdendo a esperança de encontrar alguém especial. Afinal de contas, já contava com mais de trinta anos.
Já não era mais um garoto sonhador. Era um homem feito. Vivido e experiente.
Mesmo assim, ainda acreditava que poderia encontrar uma espécie de princesa.
Uma versão masculina para a história do príncipe encantado das mulheres.
E assim, mesmo sendo objeto de cobiça, continuava só.
Este assédio não o entusiasmava. Acreditava que o que era objeto de cobiça era sua aparência, não ele.
Desta forma, ao aparecer Letícia em sua vida, encantou-se. Moça simples, encantadora. Como já foi dito, bonita, inteligente. Aplicada, estudiosa.
E o mais importante, não ficou deslumbrada com Flávio, como a maioria das mulheres que se aproximavam, dele ficavam.
Mas voltando ao telefonema, Letícia comentou com Flávio que começaria a trabalhar com direito ambiental. Havia conseguido um emprego em uma repartição pública especializada no assunto.
Comentou que havia mais de um ano que vinha realizando concursos públicos.
Ao ouvir aquela voz agradável proferindo boas novas, Flávio respondeu:
- Que maravilha! E quando você começa a trabalhar?
Letícia comentou que segunda-feira começaria a pegar no batente.
Flávio sabia o quanto isto era importante para a moça.
Isto por que, acompanhava já há algum tempo o desencantamento de Letícia com seu atual trabalho. Sabia que a moça não estava feliz trabalhando num escritório de direito e contabilidade.
Por conta disto Flávio sempre dizia que ela não deveria desistir daquilo que queria.
Algumas vezes chegou a vê-la chorando por conta de sua insatisfação com o trabalho.
Sempre prestativo, dizia que ela deveria continuar procurando um emprego mais condizente com sua formação, e que mais cedo ou mais tarde, uma oportunidade apareceria.
Letícia sempre foi grata pelos conselhos.
Durante algum tempo, os dois trabalharam juntos, e foi aí que começou uma grande amizade.
Já se conheciam há uns dois anos, quando Flávio já era advogado há algum tempo, e ela estagiou no mesmo escritório de advocacia e contabilidade em que ele trabalhava.
No atual momento estava começando a advogar em um escritório de advocacia e contabilidade indicado por ele. Porém, em que pesem as expectativas, a moça não estava satisfeita com o trabalho. Letícia já havia percebido há muito tempo, que a advocacia não era sua praia.
Flávio já havia percebido isto. Razão pela qual estava feliz pelo fato de a moça ter passado em um concurso público.
Nisto, durante a ligação, ele comentou que estava trabalhando muito em uma causa cível, que se fosse bem sucedida renderia muito dinheiro. Comentou sobre a demora do processo, sobre o valor vultoso dos recursos interpostos, e que este certamente levaria alguns anos para ser encerrado.
Comentou que fora convidado para ser sócio no escritório.
Letícia comentou que esta era uma ótima notícia. E emendou:
- Que ótimo! Então não sou só eu que tenho uma notícia boa.
Flávio respondeu:
- Pois é! Então .... Por que já que ambos temos ótimas novidades e coisas boas para comemorar não saímos um dia desses para celebrar o momento? Já faz tanto tempo em que não nos encontramos pessoalmente.
- É verdade! Tenho andado em falta com você. Mas não é por culpa minha. É que minha vida virou uma roda viva nos últimos meses, justamente por conta deste novo emprego. Estou me desdobrando entre meu trabalho no escritório de contabilidade e providenciando a documentação necessária para começar a trabalhar na repartição.
- Ah, é por isso então, que eu quase nunca encontro a senhorita em casa nos finais de semana?
Letícia riu:
- Sim, é exatamente por isso. Todo mês pelo menos dois domingos são para fazer provas.
Nisto, percebendo que a conversa estava se encaminhando para outro lado, retrucou:
- Ei, e o meu convite?
Letícia meio sem jeito, respondeu que aquele mês estava complicado para ela.
Mas Flávio insistiu.
A moça percebendo que seria indelicado recusar, concordou.
Porém, argumentando que não seria possível agendar um compromisso para aquele mês, comentou que assim que pudesse ligaria para que eles pudessem marcar o encontro.
Flávio respondeu que ficaria esperando.
E assim, Letícia se despediu de Flávio com um até breve.
Ao desligar o telefone, após se despedir de Letícia, sentiu-se de alma leve. Pode-se dizer até feliz.
Acreditava estar dando o primeiro passo em direção a algo mais sério.
Já nem sabia dizer a quanto tempo gostava dela.
Talvez desde o momento em passou a conhecê-la melhor.
Como não sentiu receptividade por parte dela, acabou por começar um namoro que não durou um ano sequer.
Carolina até parecia interessada em Flávio, mas o moço não demonstrava o mesmo entusiasmo na relação.
Certa vez, ao perceber a frieza com que atendera o telefonema da namorada, Bruno mesmo temendo a indiscrição, comentou que não sentia entusiasmo dele com relação ao namoro.
Flávio por sua vez, tentou desconversar mas sabia que seu colega Bruno estava certo.
Tanto que semanas após, o casal decidiu terminar o relacionamento.
Carolina, percebendo que não havia contrapartida por parte de Flávio em relação ao relacionamento, foi quem tomou a iniciativa de romper a relação.
O moço por sua vez, sentiu-se culpado por não corresponder ao sentimento que ela nutria por ele.
Tanto que Flávio só tranqüilizou-se em relação a Carolina, quando descobriu que a moça estava de casamento marcado com um rapaz que fora seu namorado nos tempos da adolescência.
Acreditava que se a moça estava reatando os laços com alguém que fora tão importante em seu passado, é por que o que existiu entre ambos devia ser muito forte.
Com isto, passadas algumas semanas, o moço recebeu o convite de casamento de Carolina.
Flávio ficou muito feliz com a notícia.
Carlos indiscretamente, chegou até a perguntar se ele não estava arrependido de deixar a moça escapar.
Flávio por sua vez respondeu que agora ela estava ao lado de uma pessoa que a amava de verdade, e que não poderia haver algo melhor do que isto. Dizendo que tinha muito carinho por ela, comentou que sentiu a separação no começo, mas que agora estava aliviado.
Mas voltando ao assunto principal...
Naquela tarde, estava se sentindo verdadeiramente só. Aborrecido com o rumo que sua vida pessoal estava tomando, já começava a acreditar que nunca encontraria uma pessoa legal, com quem tivesse afinidades.
Flávio estava triste.
Porém pensando em Letícia, acreditou que com ela as coisas seriam diferentes.
Pensando consigo mesmo, disse que ele e a moça tinham muito em comum.
Isto por que, no tempo em que Letícia trabalhou no escritório de advocacia e contabilidade, os dois conversavam bastante.
Foi lá que Flávio descobriu que a moça adorava MPB, seus principais expoentes, como Caetano Veloso, Gilberto Gil.
Nisto Flávio comentou que seu pai se chamava Gilberto.
Letícia ficou encantada com a coincidência. Dizendo que pai e filho tinham nomes de talentos da MPB perguntou como seus pais haviam escolhido seu nome.
Flávio respondeu então, que não havia nenhuma relação entre seu nome e o consagrado cantor de MPB de mesmo nome. Disse sim que seus pais gostavam do nome, acharam sonoro, e resolveram batizá-lo com ele.
Letícia comentou então que gostava do nome.
Flávio perguntou se ela gostava do cantor.
A moça respondeu que sim, que era um de seus cantores e compositores, predileto.
E assim, engataram uma conversa sobre Música Popular Brasileira.
Sempre que se encontravam nos corredores do escritório, trocavam entre si novidades sobre o cenário da música brasileira.
Certa vez Flávio comentou que estava ouvindo um cantor chamado Vander Lee e que estava adorando seu repertório, principalmente a música “Esperando Aviões”. Comentou também sobre uma cantora chamada Isabela Taviani, a qual considerou excepcional.
Letícia comentou que conhecia os cantores. Ótimos. Foi então que afirmou que o Brasil era pródigo em artistas da palavra. Cantores, compositores, poetas e escritores.
Flávio concordou.
- De fato, o Brasil é uma terra muito abençoada de talento nas letras, sejam elas cantadas, faladas ou escritas. Pena que isto não se reverta em uma boa formação cultural das pessoas.
Letícia igualmente concordou. Respondeu que no Brasil a cultura é considerada algo como supérfluo, perfumaria. O que achava uma pena. Contou que admirava quem conseguia sobreviver da arte num Brasil onde a cultura é tão pouco valorizada.
Flávio então, aproveitou para elogiar o espírito de luta e a garra dos brasileiros que escolhem viver da arte, mesmo em meio a tantas dificuldades. Disse que não fosse a persistência e a garra de tantos artistas, não seria possível a existência de uma cantora do porte de Elis Regina, entre outros tantos vultos.
Letícia comentou que também adorava uma cantora de nome Maria Rita, filha da citada cantora. Admirada com o talento da moça, comentou que ela não ficava em nada a margem da mãe, embora considerasse que não cabiam comparações entre elas.
Flávio respondeu então que eram talentos diferenciados. Comentou também sobre os livros de poesia que já lera como Camões, Castro Alves e seu “Navio Negreiro”, clamando para que Andrada arrancasse o pendão dos ares. A bandeira, pavilhão nacional, símbolo da nação. E que Colombo fechasse a porta de seus mares.
Dando continuidade a idéia do bardo, comentou que custava a acreditar que as nações, mesmo as mais desenvolvidas, estiveram envolvidas até o pescoço com a escravidão. Ressaltou que muitos reflexos da desigualdade social, sentidos até hoje nesta terra, são reflexos desse tempo de vergonha.
Letícia emendou dizendo que a libertação dos escravos tampouco resolveu o problema. Isto por que os negros foram libertados, ao menos aparentemente, mas não tiveram nenhuma paga pelo tempo em estiveram cativos. Foram libertados e mandados embora sem garantias, sem terem para onde ir, o que comer. Resultado, foram postos à margem da sociedade, passaram a viver em morros. Longe da dita civilização branca. Entregues ao Deus dará.
Ao ouvir tais palavras, Flávio comentou que eles tinham muito em comum. Ressaltou que gostavam das mesmas coisas, das mesmas músicas, filmes, livros.
De fato Letícia também gostava de ler. Comentou que adorava poesias, embora não conhecesse muitas. Disse que sempre que tinha tempo para se ocupar de coisas que não estavam relacionadas aos estudos jurídicos, gostava de ler. Isto para ela era uma higiene mental.
Decepcionada, chegou até a comentar que fazia tempo que não lia um bom livro. Comentou que estava se ocupando de seus estudos.
Disse ainda que já lera Machado de Assis, e que por isto não gostaria de cultivar as rabugens do pessimismo. Ressalvou que assim que tivesse tempo, voltaria a ler alguma coisa de literatura.
Flávio comentou que já havia lido “Dom Casmurro”, e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, além de “Quincas Borba”.
Letícia disse que também gostava de José de Alencar, Joaquim Manoel de Macedo, Jorge Amado.
Certa vez conversaram sobre Luiz Vaz de Camões e a epopéia “Os Lusíadas”. Flávio comentou que não se esquecia do início da obra. Falou dos barões assinalados e do engenho e da arte. Entusiasmado com a conversa, comentou que o engenho e a arte foram de Camões, para escrever algo tão inspirado.
Flávio comentou que gostava das poesias de Camões, mas também gostava da poesia brasileira. Dos clássicos como Castro Alves, Álvares de Azevedo entre outros. Comentou que estava em falta com os poetas contemporâneos, conhecendo pouco de sua poesia.
Letícia chegou a comentar certa vez que havia na MPB muitos bons poetas, lindas letras de músicas.
Flávio brincou dizendo que estas pessoas existiam para tornar a poesia uma coisa mais acessível.
Adoravam conversar sobre estas coisas, música, livros e até filmes.
Flávio lembrou-se que ambos já haviam saído juntos algumas vezes para assistir peças de teatro, para ir ao cinema, etc.
Durante estes passeios, conversavam sobre os livros que leram, que gostariam de ler, as músicas que gostavam, e as melodias que tocavam nas rádios.
Criticavam o gosto duvidoso dominante nas músicas atuais. Que os bons cantores e compositores estavam soterrados em meio a tanto mal gosto. Que era difícil ouvir música de boa qualidade nos últimos tempos, e que muitos artistas estão divulgando seus novos trabalhos na internet.
- Ainda bem que inventaram a rede mundial de computadores! – comentou Flávio.
Flávio gostava da companhia de Letícia e vice-versa.
Adoravam sair juntos por que tinham interesses em comum.
Certa vez o próprio Flávio comentou que nenhuma de suas namoradas gostava das mesmas coisas que ele. Respondeu que a única pessoa com que possuía algum interesse em comum, fora Carolina, que gostava de algumas cantoras de MPB de que ele gostava, mas que o interesse comum terminava aí, já que a moça não gostava de ir a shows, e tirando as cantoras de seu interesse, só gostava de ouvir música pop americana. O que ele particularmente disse que detestava.
Tentando criar um gancho para mencionar que Letícia era uma ótima companhia, disse mais uma vez que o gosto pessoal de ambos, combinava.
Sutil, comentou que adorava quando eles saíam juntos.
Vicente, Francisco, Cleide, Bruno, Leandro e Carlos, já haviam percebido o interesse de Flávio por Letícia.
Certa vez Cleide perguntou para Flávio se eles estavam namorando.
O moço respondeu que não.
O tempo porém, faria com as coisas mudassem.
Depois de uma série de convites para ir ao cinema e ao teatro, e comentários sobre os filmes e peças teatrais que assistiram, a coisa foi evoluindo para shows...
Um beijo deu início a tudo.
Para surpresa de Flávio, Letícia correspondeu ao beijo.
O moço ficou feliz.
Letícia ficou um tanto surpresa com a reação de Flávio, mas decidiu corresponder ao beijo.
Flávio comentou então, que estavam namorando.
Letícia respondeu que não sabia.
O moço riu.
Quando Karina soube do namoro do casal, ficou eufórica.
Isto por que desconfiava já há algum tempo que estava acontecendo algo entre os dois. Em mais de uma oportunidade comentou com a filha que toda aquela dedicação só poderia ter um significado, o moço estava interessado nela.
Mas até a relação chegar neste ponto, levou algum tempo.
Flávio continuava pensando em sua vida...
Mais vez sozinho, Flávio resolveu tomar um banho.
Antes disto, lembrou-se de quando ele e Letícia ficaram sozinhos pela primeira vez em seu apartamento. De quando se olharam daquele jeito quente, sem desgrudarem os olhos um do outro.
Foi num destes instantes mágicos que a moça, (depois de se abraçarem, beijarem, se tocarem, se amarem) tocou seu rosto, e olhando fixamente para seus olhos, disse-lhe que havia uma música de Flávio Venturini, a qual parecia ter sido feita especialmente para ele.
Intrigado ele quis saber que música poderia ser esta.
- Descubra você. – respondeu ela, provocativa.
- Provavelmente ele criou uma composição pensando em uma mulher.
Letícia retrucou:
- Mas a música se casa perfeitamente com você!
Flávio ficou por semanas pensando de que música ela estava falando.
Curioso, perguntou inúmeras vezes a ela sobre o que ela estava falando. Que música poderia ser?
Mais Letícia não contava. Gostava de vê-lo curioso.
Um dia porém, acreditando haver encontrado uma boa ocasião para comentar sobre a aludida música, a moça falou o nome da música.
Flávio pediu para ela cantar a música, mas a moça titubeou.
Contudo, após certa insistência do moço, ela acabou cantando.
E assim mais tarde ela cantaria a canção “O Melhor do Amor”:
“Amo teus olhos castanhos da cor verde mel.
Devoro.
Teus olhos encantos tamanhos, que são o prazer dos meus.
Amo o riso mais lindo que Deus já criou.
Adoro.
Teus olhos de seda e de rosa que são o melhor do amor.
Olhos que falam de amar, na beira do mar, das estrelas.
Olhos que tiram do mar, a luz, a cor.
Quem te fez, soube combinar o tom, dos olhos de mel com a pele marrom.
Luz marrom, onde se escondeu o mar, que eu só eu vi, no teu olhar.
Mar de corais.
Verde mel, letais.
Amo a pele morena do teu corpo nu.
Adoro.
Teus pêlos, as coxas, os olhos que são o melhor do amor.
Olhos que falam de amar, na beira do mar, das estrelas.
Olhos que tiram do mar, a luz, a cor.
Quem te fez, soube combinar o tom, dos olhos de mel com a pele marrom.
Luz marrom, onde se escondeu o mar, que eu só eu vi, no teu olhar.
Mar de corais.
Verde mel, letais.”
O homem ficou encantado.
Desta forma, Letícia revelou o segredo em um das muitas noites de amor que o casal teve.
Flávio comentou então, que adorava as composições de seu xará, mas não conseguia descobrir a qual delas a moça se referia, já que quase todas falavam ao coração.
Chegou até a pensar que seria “Noites com Sol”, canção pela qual era apaixonado.
Flávio disse-lhe que quando eles estavam abraçados juntos na cama, ou quando dormiam abraçados numa rede, como fizeram em uma ida ao litoral, onde ficou apreciando as estrelas no firmamento, chegou a desejar noites com sol.
Foi então que começou a cantar:
“Ouvi dizer que são milagres
Noites com sol
Mas hoje eu sei não são miragens
Noites com sol
Posso entender o que diz a rosa
Ao rouxinol
Peço um amor que me conceda
Noites com sol
Onde só tem o breu
Vem me trazer o sol
Vem me trazer amor
Pode abrir a janela
Noites com sol e neblina
Deixa rolar nas retinas
Deixa entrar o sol
Livre será se não te prendem
Constelações
Então verás que não se vendem
Ilusões
Vem que eu estou tão só
Vamos fazer amor
Vem me trazer o sol
Vem me livrar do abandono
Meu coração não tem dono
Vem me aquecer nesse outono
Deixa o sol entrar
Pode abrir a janela
Noites com sol são mais belas
Certas canções são eternas
Deixa o sol entrar.
Noites Com Sol - Flávio Venturini - Composição: Flávio Venturini/Ronaldo Bastos”
Letícia riu:
- Que romântico!
E beijou-lhe a face.
Os olhos castanhos claros de Flávio, ficaram marejados.
Mais uma vez Flávio tinha a certeza que a indiferença inicial de Letícia era um jeito “Falso Blasé”, de dizer que o amava.
Tão certo quanto ela era uma figura rara.
Naquela tarde, estava se sentindo verdadeiramente só. Aborrecido com o rumo que sua vida pessoal estava tomando, já começava a acreditar que nunca encontraria uma pessoa legal, com quem tivesse afinidades.
Flávio estava triste.
Porém pensando em Letícia, acreditou que com ela as coisas seriam diferentes.
Pensando consigo mesmo, disse que ele e a moça tinham muito em comum.
Isto por que, no tempo em que Letícia trabalhou no escritório de advocacia e contabilidade, os dois conversavam bastante.
Foi lá que Flávio descobriu que a moça adorava MPB, seus principais expoentes, como Caetano Veloso, Gilberto Gil.
Nisto Flávio comentou que seu pai se chamava Gilberto.
Letícia ficou encantada com a coincidência. Dizendo que pai e filho tinham nomes de talentos da MPB perguntou como seus pais haviam escolhido seu nome.
Flávio respondeu então, que não havia nenhuma relação entre seu nome e o consagrado cantor de MPB de mesmo nome. Disse sim que seus pais gostavam do nome, acharam sonoro, e resolveram batizá-lo com ele.
Letícia comentou então que gostava do nome.
Flávio perguntou se ela gostava do cantor.
A moça respondeu que sim, que era um de seus cantores e compositores, predileto.
E assim, engataram uma conversa sobre Música Popular Brasileira.
Sempre que se encontravam nos corredores do escritório, trocavam entre si novidades sobre o cenário da música brasileira.
Certa vez Flávio comentou que estava ouvindo um cantor chamado Vander Lee e que estava adorando seu repertório, principalmente a música “Esperando Aviões”. Comentou também sobre uma cantora chamada Isabela Taviani, a qual considerou excepcional.
Letícia comentou que conhecia os cantores. Ótimos. Foi então que afirmou que o Brasil era pródigo em artistas da palavra. Cantores, compositores, poetas e escritores.
Flávio concordou.
- De fato, o Brasil é uma terra muito abençoada de talento nas letras, sejam elas cantadas, faladas ou escritas. Pena que isto não se reverta em uma boa formação cultural das pessoas.
Letícia igualmente concordou. Respondeu que no Brasil a cultura é considerada algo como supérfluo, perfumaria. O que achava uma pena. Contou que admirava quem conseguia sobreviver da arte num Brasil onde a cultura é tão pouco valorizada.
Flávio então, aproveitou para elogiar o espírito de luta e a garra dos brasileiros que escolhem viver da arte, mesmo em meio a tantas dificuldades. Disse que não fosse a persistência e a garra de tantos artistas, não seria possível a existência de uma cantora do porte de Elis Regina, entre outros tantos vultos.
Letícia comentou que também adorava uma cantora de nome Maria Rita, filha da citada cantora. Admirada com o talento da moça, comentou que ela não ficava em nada a margem da mãe, embora considerasse que não cabiam comparações entre elas.
Flávio respondeu então que eram talentos diferenciados. Comentou também sobre os livros de poesia que já lera como Camões, Castro Alves e seu “Navio Negreiro”, clamando para que Andrada arrancasse o pendão dos ares. A bandeira, pavilhão nacional, símbolo da nação. E que Colombo fechasse a porta de seus mares.
Dando continuidade a idéia do bardo, comentou que custava a acreditar que as nações, mesmo as mais desenvolvidas, estiveram envolvidas até o pescoço com a escravidão. Ressaltou que muitos reflexos da desigualdade social, sentidos até hoje nesta terra, são reflexos desse tempo de vergonha.
Letícia emendou dizendo que a libertação dos escravos tampouco resolveu o problema. Isto por que os negros foram libertados, ao menos aparentemente, mas não tiveram nenhuma paga pelo tempo em estiveram cativos. Foram libertados e mandados embora sem garantias, sem terem para onde ir, o que comer. Resultado, foram postos à margem da sociedade, passaram a viver em morros. Longe da dita civilização branca. Entregues ao Deus dará.
Ao ouvir tais palavras, Flávio comentou que eles tinham muito em comum. Ressaltou que gostavam das mesmas coisas, das mesmas músicas, filmes, livros.
De fato Letícia também gostava de ler. Comentou que adorava poesias, embora não conhecesse muitas. Disse que sempre que tinha tempo para se ocupar de coisas que não estavam relacionadas aos estudos jurídicos, gostava de ler. Isto para ela era uma higiene mental.
Decepcionada, chegou até a comentar que fazia tempo que não lia um bom livro. Comentou que estava se ocupando de seus estudos.
Disse ainda que já lera Machado de Assis, e que por isto não gostaria de cultivar as rabugens do pessimismo. Ressalvou que assim que tivesse tempo, voltaria a ler alguma coisa de literatura.
Flávio comentou que já havia lido “Dom Casmurro”, e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, além de “Quincas Borba”.
Letícia disse que também gostava de José de Alencar, Joaquim Manoel de Macedo, Jorge Amado.
Certa vez conversaram sobre Luiz Vaz de Camões e a epopéia “Os Lusíadas”. Flávio comentou que não se esquecia do início da obra. Falou dos barões assinalados e do engenho e da arte. Entusiasmado com a conversa, comentou que o engenho e a arte foram de Camões, para escrever algo tão inspirado.
Flávio comentou que gostava das poesias de Camões, mas também gostava da poesia brasileira. Dos clássicos como Castro Alves, Álvares de Azevedo entre outros. Comentou que estava em falta com os poetas contemporâneos, conhecendo pouco de sua poesia.
Letícia chegou a comentar certa vez que havia na MPB muitos bons poetas, lindas letras de músicas.
Flávio brincou dizendo que estas pessoas existiam para tornar a poesia uma coisa mais acessível.
Adoravam conversar sobre estas coisas, música, livros e até filmes.
Flávio lembrou-se que ambos já haviam saído juntos algumas vezes para assistir peças de teatro, para ir ao cinema, etc.
Durante estes passeios, conversavam sobre os livros que leram, que gostariam de ler, as músicas que gostavam, e as melodias que tocavam nas rádios.
Criticavam o gosto duvidoso dominante nas músicas atuais. Que os bons cantores e compositores estavam soterrados em meio a tanto mal gosto. Que era difícil ouvir música de boa qualidade nos últimos tempos, e que muitos artistas estão divulgando seus novos trabalhos na internet.
- Ainda bem que inventaram a rede mundial de computadores! – comentou Flávio.
Flávio gostava da companhia de Letícia e vice-versa.
Adoravam sair juntos por que tinham interesses em comum.
Certa vez o próprio Flávio comentou que nenhuma de suas namoradas gostava das mesmas coisas que ele. Respondeu que a única pessoa com que possuía algum interesse em comum, fora Carolina, que gostava de algumas cantoras de MPB de que ele gostava, mas que o interesse comum terminava aí, já que a moça não gostava de ir a shows, e tirando as cantoras de seu interesse, só gostava de ouvir música pop americana. O que ele particularmente disse que detestava.
Tentando criar um gancho para mencionar que Letícia era uma ótima companhia, disse mais uma vez que o gosto pessoal de ambos, combinava.
Sutil, comentou que adorava quando eles saíam juntos.
Vicente, Francisco, Cleide, Bruno, Leandro e Carlos, já haviam percebido o interesse de Flávio por Letícia.
Certa vez Cleide perguntou para Flávio se eles estavam namorando.
O moço respondeu que não.
O tempo porém, faria com as coisas mudassem.
Depois de uma série de convites para ir ao cinema e ao teatro, e comentários sobre os filmes e peças teatrais que assistiram, a coisa foi evoluindo para shows...
Um beijo deu início a tudo.
Para surpresa de Flávio, Letícia correspondeu ao beijo.
O moço ficou feliz.
Letícia ficou um tanto surpresa com a reação de Flávio, mas decidiu corresponder ao beijo.
Flávio comentou então, que estavam namorando.
Letícia respondeu que não sabia.
O moço riu.
Quando Karina soube do namoro do casal, ficou eufórica.
Isto por que desconfiava já há algum tempo que estava acontecendo algo entre os dois. Em mais de uma oportunidade comentou com a filha que toda aquela dedicação só poderia ter um significado, o moço estava interessado nela.
Mas até a relação chegar neste ponto, levou algum tempo.
Flávio continuava pensando em sua vida...
Mais vez sozinho, Flávio resolveu tomar um banho.
Antes disto, lembrou-se de quando ele e Letícia ficaram sozinhos pela primeira vez em seu apartamento. De quando se olharam daquele jeito quente, sem desgrudarem os olhos um do outro.
Foi num destes instantes mágicos que a moça, (depois de se abraçarem, beijarem, se tocarem, se amarem) tocou seu rosto, e olhando fixamente para seus olhos, disse-lhe que havia uma música de Flávio Venturini, a qual parecia ter sido feita especialmente para ele.
Intrigado ele quis saber que música poderia ser esta.
- Descubra você. – respondeu ela, provocativa.
- Provavelmente ele criou uma composição pensando em uma mulher.
Letícia retrucou:
- Mas a música se casa perfeitamente com você!
Flávio ficou por semanas pensando de que música ela estava falando.
Curioso, perguntou inúmeras vezes a ela sobre o que ela estava falando. Que música poderia ser?
Mais Letícia não contava. Gostava de vê-lo curioso.
Um dia porém, acreditando haver encontrado uma boa ocasião para comentar sobre a aludida música, a moça falou o nome da música.
Flávio pediu para ela cantar a música, mas a moça titubeou.
Contudo, após certa insistência do moço, ela acabou cantando.
E assim mais tarde ela cantaria a canção “O Melhor do Amor”:
“Amo teus olhos castanhos da cor verde mel.
Devoro.
Teus olhos encantos tamanhos, que são o prazer dos meus.
Amo o riso mais lindo que Deus já criou.
Adoro.
Teus olhos de seda e de rosa que são o melhor do amor.
Olhos que falam de amar, na beira do mar, das estrelas.
Olhos que tiram do mar, a luz, a cor.
Quem te fez, soube combinar o tom, dos olhos de mel com a pele marrom.
Luz marrom, onde se escondeu o mar, que eu só eu vi, no teu olhar.
Mar de corais.
Verde mel, letais.
Amo a pele morena do teu corpo nu.
Adoro.
Teus pêlos, as coxas, os olhos que são o melhor do amor.
Olhos que falam de amar, na beira do mar, das estrelas.
Olhos que tiram do mar, a luz, a cor.
Quem te fez, soube combinar o tom, dos olhos de mel com a pele marrom.
Luz marrom, onde se escondeu o mar, que eu só eu vi, no teu olhar.
Mar de corais.
Verde mel, letais.”
O homem ficou encantado.
Desta forma, Letícia revelou o segredo em um das muitas noites de amor que o casal teve.
Flávio comentou então, que adorava as composições de seu xará, mas não conseguia descobrir a qual delas a moça se referia, já que quase todas falavam ao coração.
Chegou até a pensar que seria “Noites com Sol”, canção pela qual era apaixonado.
Flávio disse-lhe que quando eles estavam abraçados juntos na cama, ou quando dormiam abraçados numa rede, como fizeram em uma ida ao litoral, onde ficou apreciando as estrelas no firmamento, chegou a desejar noites com sol.
Foi então que começou a cantar:
“Ouvi dizer que são milagres
Noites com sol
Mas hoje eu sei não são miragens
Noites com sol
Posso entender o que diz a rosa
Ao rouxinol
Peço um amor que me conceda
Noites com sol
Onde só tem o breu
Vem me trazer o sol
Vem me trazer amor
Pode abrir a janela
Noites com sol e neblina
Deixa rolar nas retinas
Deixa entrar o sol
Livre será se não te prendem
Constelações
Então verás que não se vendem
Ilusões
Vem que eu estou tão só
Vamos fazer amor
Vem me trazer o sol
Vem me livrar do abandono
Meu coração não tem dono
Vem me aquecer nesse outono
Deixa o sol entrar
Pode abrir a janela
Noites com sol são mais belas
Certas canções são eternas
Deixa o sol entrar.
Noites Com Sol - Flávio Venturini - Composição: Flávio Venturini/Ronaldo Bastos”
Letícia riu:
- Que romântico!
E beijou-lhe a face.
Os olhos castanhos claros de Flávio, ficaram marejados.
Mais uma vez Flávio tinha a certeza que a indiferença inicial de Letícia era um jeito “Falso Blasé”, de dizer que o amava.
Tão certo quanto ela era uma figura rara.
Mas voltando ao banho, Flávio, atravessou todo o apartamento até chegar o banheiro da suíte.
No quarto despiu-se, jogando as roupas de qualquer jeito pelo chão, e depois entrou no banheiro.
O homem entrou então no chuveiro, ligou-o e começou a molhar o corpo e a se ensaboar.
Lembrar destes momentos felizes neste momento lhe fazia mal.
Acabara de brigar com Letícia por um motivo qualquer e acreditava que não voltariam a se entender.
Imerso nestes pensamentos, ficou a relembrar dos momentos que estiveram juntos.
Nisto, sem que percebesse, alguém sorrateiramente, entrara no apartamento.
Caminhando lentamente vasculhou o apartamento.
Ao perceber que Flávio se banhava, despiu-se, jogando as roupas pelo chão, e entrou no banheiro.
Distraído, o homem não percebeu sua presença.
Letícia abriu o box com todo o cuidado, e pegando o sabonete passou a ensaboar o corpo de Flávio.
Ele achou que estava sonhando.
Quando Letícia aproximou-se, e segurando-o pelos braços e beijou-o, percebeu que não se tratava de alucinação.
No rádio ligado se podia ouvir o cantor Dalton cantando:
“Hum, mas se um dia eu chegar muito estranho
Deixa essa água no corpo, lembrar nosso banho
Hum, mas se um dia eu chegar muito louco
Deixa esta noite saber, que um dia foi pouco
Uh, uh, cuida bem de mim
E então misture tudo, dentro de nós
Por que ninguém, vai dormir nosso sonho
Minha cara pra quê, tantos planos?
Se quero te amar, e te amar, e te amar muitos anos
Hum, tantas vezes eu quis ficar solto
Como se fosse uma lua a brincar no seu rosto
Uh, uh, cuida bem de mim
E então misture tudo, dentro de nós
Por que ninguém vai dormir nosso sonho ....”
Beijaram-se muito dentro do box, entre outras coisas.
Se amaram.
Flávio esfregou as costas de Letícia.
Estavam reconciliados.
Flávio e Letícia dormiram abraçados.
O moço já nem se lembrava mais do motivo bobo pelo qual brigara com a moça.
Não se lembrava mais da cena de ciúmes.
Da dramática cena em que chamou a atenção da moça por achar que ela estava dando atenção para um rapaz que não parava de olhar para ela.
Por conta deste motivo fútil, brigou com a moça e Letícia sem paciência, deixou-o falando sozinho.
Aquele encontro selara a reconciliação.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Para se Viver um Grande Amor - Capítulo 9
Ainda assim, o rapaz continua desconectado do mundo.
Olívia porém, prometeu que não desistiria de fazer com que Flávio despertasse deste longo sono, não importasse o tempo que precisasse para isto.
Certo dia, acompanhando-o no hospital, sonhou que o filho andava sozinho na escuridão de São Paulo. Caminhava em um lugar que lembrava o Anhangabaú. Passou pelo Viaduto do Chá.
Fazendo-lhe reverências, parou em frente ao Teatro Municipal.
Neste momento, Olívia começou a chamá-lo. Acabou despertando.
Ao percebendo que Flávio permanecia inerte, pegou o cobertor e cobriu o filho. Acariciou seu rosto.
Dizendo baixinho, comentou que havia sonhado com ele, correndo, fazendo reverências. Comentou que sabia que ele a ouvia. Respondeu que não faria mais nenhuma maluquice para tentar ajudá-lo, e que esperaria o tempo que fosse necessário para que ele se recuperasse.
Disse ainda que começaria uma novena, e que só pararia de rogar pela sua recuperação, quando ele estivesse de pé, sem seqüelas, conversando e sendo feliz como ele sempre fora. Depois pagaria sua promessa indo até a Aparecida e participando de uma missa.
Pensando nisto, começou a pensar que outras pessoas deviam estar passando pelo mesmo problema.
Resolveu pesquisar sobre o assunto.
Com a ajuda de Cecília passou a vasculhar a rede mundial de computadores, conhecida como internet. Acessando a internet, deparou com relatos emocionados de pessoas que passavam por dramas semelhantes.
Descobriu histórias de pessoas que despertaram e mesmo com seqüelas, retomaram suas vidas.
Porém para seu filho, sonhava em um final diferente, acreditava em um milagre.
Certo dia, chegou a perguntar a Gilberto se estava sendo egoísta em querer que seu filho ficasse completamente recuperado.
O homem respondeu que não.
E assim, Flávio permaneceu nesse estado por dias, semanas, meses.
Enquanto o tempo passava, mais o desespero das famílias de Flávio e Letícia aumentava.
Cecília, a irmã mais nova de Flávio, também estava noiva, e em virtude do acidente, tivera que adiar os planos de casamento.
Alessandro ficou frustrado com a decisão de Cecília. Dizendo que eles já estavam providenciando onde iriam morar e onde comprariam o enxoval, Alessandro comentou que já estava economizando dinheiro.
Cecília argumentou então que a situação exigia que eles deixassem de lado seus interesses pessoais.
Confiante de que Flávio não tardaria a se recuperar, a moça disse que gostaria que ele e Letícia fossem seus padrinhos de casamento.
Alessandro abraçando a moça, concordou em esperar um pouco.
Gilberto – seu pai – a cada dia que passava, sentia como se houvessem roubado os dias da vida de seu filho.
Certa vez comentou com Olívia que se era para alguém ir embora, esse alguém deveria ser ele, e não seu filho. Argumentava que ele era muito jovem para passar por isto, e que tinha direito a uma vida toda pela frente.
Cecília, ao ouvir isto, retrucou:
- Não fale assim, pai!
Olívia respondeu que ninguém iria morrer.
Alessandro, o noivo de Cecília, por fim, acabou concordando com o adiamento.
Dizendo-se amigo da família, respondeu que eles somente se casariam quando Flávio estivesse recuperado. Tentando amenizar o clima tenso, comentou que poderia neste ínterim, organizar a casa em que dentro em breve, iriam morar.
Sim, sempre que se encontrava com Gilberto e Olívia, insistia em dizer que Flávio era forte, que antes do que eles poderiam supor, despertaria daquele torpor.
Os pais de Cecília sempre agradeciam as palavras de conforto de Alessandro.
Letícia também havia sido consolada por Alessandro.
O moço sempre lhe dizia que os próximos a se casarem, seriam ela e Flávio, e brincando, dizia que fazia questão de ser padrinho do casal.
Letícia por sua vez, também procurava conforto nas palavras de sua mãe, que na medida do possível, procurava incentivá-la. Dizendo que a recuperação era demorada, mas que ele iria se recuperar, Karina procurava incentivar Letícia a não desanimar.
A moça porém, tinha dúvidas de que isto poderia realmente acontecer.
Karina porém, insistia nisto.
Letícia comentou que o cunhado de Flávio também acreditava em sua recuperação.
Quase todos os dias a moça chorava ao voltar do hospital depois de visitar Flávio.
Mas só restava esperar.
E assim, a vida das duas famílias permaneceu em suspenso.
Olívia por sua vez, mesmo diante do prognóstico ruim do médico, permanecia com o firme propósito de ver o filho melhorar.
Todos os dias se dirigia ao hospital, e sempre que adentrava o quarto em que o filho permanecia inconsciente, conversava com ele como se estivesse a falar com qualquer pessoa.
Comentava com ele que a irmã pretendia se casar, e que Letícia o esperava ansiosamente para que lhe fizesse companhia na cerimônia de casamento.
Argumentou que Cecília havia escolhido a ambos com padrinhos de seu casamento.
Disse também seus primos, tios, vizinhos e amigos, perguntavam sempre sobre ele.
E assim, muito embora nos primeiros momentos, ver o filho naquele estado a fizesse chorar, passado o momento de desespero, e percebendo que Flávio dependia de sua força, começou a se preocupar com os aspectos práticos da nova condição do rapaz.
Ciente de que o rapaz não deveria permanecer mais tempo no hospital, Olívia começou a pesquisar preços e aluguéis de equipamentos hospitalares.
Tencionava montar um espécie de hospital, em domicílio.
E mais! Mesmo diante da resistência da família, argumentou que faria isto no apartamento de Flávio. Disse que se mudaria para lá.
Gilberto por sua vez, questionou a esposa. Dizendo que a maior parte de sua vida passara na casa onde a família morava, comentou que talvez com a presença dos amigos, e vivendo em um ambiente cheio de lembranças de sua infância, talvez o rapaz se recuperasse rapidamente.
A mulher argumentou porém, que as lembranças mais recentes de Flávio, estavam naquele apartamento, e que por esta razão, gostaria de começar o tratamento por lá.
Gilberto ainda insistiu em questionar a esposa, mas depois de um certo tempo, percebendo que pregava no deserto, decidiu deixar a mulher fazer o que considerava certo. Dizendo que não tinha nada melhor para oferecer, chegou a conclusão de que não poderia tirar as esperanças de Olívia. Logo ele que também acreditava que o filho pudesse se recuperar.
Gilberto porém, lembrou a esposa, de que o tratamento talvez não desse resultado.
Olívia então pediu para ao menos tentar ajudar o filho.
Cecília e Alessandro também prontificaram-se em ajudar.
Os dois se recusavam em aceitar a condição de Flávio como permanente.
A moça rezava todos os dias que o irmão se recuperasse.
Alessandro, percebendo isto, prometeu que também começaria a rezar e que pediria para sua mãe fazer o mesmo.
Olívia por sua vez, rezava todos os dias pedindo a recuperação de Flávio. Rezou sistematicamente durante todo o período em que o moço esteve convalescente.
Havia feito uma promessa e estava confiante que seu pedido seria atendido.
Gilberto sempre que podia, também a acompanhava em suas orações.
Aposentado, aproveitava as oportunidades que apareciam para continuar trabalhando.
Formado em contabilidade, aproveitava para fazer Declarações de Imposto de Renda de amigos, escriturava livros comerciais, entre outras burocracias administrativas.
Tudo para não ficar ocioso, e para ganhar um dinheiro extra.
Ainda mais agora que Flávio inspirava cuidados.
Olívia por sua vez, dizia que por enquanto o escritório onde o filho trabalhava estava arcando com todas as despesas médicas.
A mulher respondeu que o próprio Otávio disse que continuaria depositando o salário de Flávio, e que se eles precisassem de alguma coisa, poderiam entrar em contato com ele.
Gilberto respondeu porém, que não podia contar sempre com isto. Dizendo que as coisas mudavam, argumentou que não podia contar com a sorte.
Mais tarde descobriram que Flávio havia feito um Seguro de Acidentes Pessoais, o qual cobria despesas médicas, no importe de até cem mil reais.
Ao tomarem conhecimento disto, após vistoriarem os pertences de Flávio, Olívia comentou com Gilberto que eles precisavam acionar o aludido seguro.
Gilberto conversou com Cecília, a qual pediu para que ele tirasse uma cópia do contrato de seguro, e da apólice para que levasse ao escritório. Respondeu que conversaria com seus patrões para obter maiores informações.
Contudo, interessada no assunto, leu o contrato. Disse que pelo que havia entendido, não havia empecilhos para acionar o seguro, já que foram preenchidas todas as condições para tanto. Perguntou então se eles teriam em mãos os documentos solicitados em contrato.
Olívia perguntou quais os documentos haviam sido exigidos.
Cecília explicitou a relação.
Olívia respondeu que precisaria solicitar alguns dos documentos no hospital.
Nisto, Cecília levou as cópias para a apreciação de Flora e Euclides.
Ao lerem o documento, comentaram que se as condições foram preenchidas, não haveria óbice para que o seguro fosse acionado.
E assim, a família de Flávio tratou de contatar a Seguradora e solicitar a cobertura do seguro.
Ocorre que até o seguro ser liberado, foram meses de espera. Enquanto isto, o escritório de advocacia e contabilidade cobriu as despesas médicas de Flávio, o qual possuía plano de saúde.
E assim o tempo foi passando.
Letícia continuava trabalhando, realizando palestras sobre direito ambiental, realizando pesquisas. A moça estava trabalhando em um projeto sobre educação ambiental.
Todo o dia encarava a cidade utilizando o metrô, e caminhando em meio a um mar de gente.
A noite ia visitar Flávio, às vezes contava-lhe como havia sido o seu dia.
Certa vez, depois de mais um dia de visitas, sonhou com Flávio caminhando pela cidade de São Paulo.
O moço caminhava pelo viaduto Santa Ifigênia, pelo Elevado Costa e Silva, pela Praça da Sé.
O sonho não tinha muito nexo. Em dado momento, o moço sentou-se num banco da famosa praça, colocou as mãos sobre o rosto. Depois levantou-se.
No sonho o rapaz segurava um livro. Parecia declamar poesias numa improvável Praça da Sé vazia a noite.
Depois apareceu caminhando no Parque do Ibirapuera.
Surgiu depois na Praça do Monumento, fazendo piruetas em meio o monumento.
Letícia começou a chamá-lo.
Karina que estava por perto, ouviu a filha chamando por Flávio.
Em dado momento, percebendo o desespero da filha, a mulher sacudiu-a levemente para que despertasse.
Preocupada, perguntou com o que ela estava sonhando.
Letícia respondeu havia sonhado com Flávio. Que o moço percorria a cidade de São Paulo. Disse que parecia que o moço queria dizer-lhe algo.
Karina comentou que talvez o moço estivesse tentando encontrar uma forma para se comunicar com ela.
A mulher comentou que poderia ser uma viagem astral.
Curiosa, Letícia perguntou o que ela estava querendo dizer com aquilo.
Karina comentou então, que pessoas em aparente estado de vigília, podem estar em contínua atividade. Isto por que, segundo ela, não seria somente através do corpo físico que poderíamos executar atividades. Dizendo que mesmo dormindo poderíamos visitar lugares, conversar com pessoas e agir, comentou que mesmo uma pessoa em estado de coma, possuía esta capacidade e que havia relatos de pessoas que passavam por este tipo de experiência.
Letícia duvidou das palavras da mãe, dizendo que as pessoas poderiam dizer que passaram por experiências extra-sensoriais por se encontrarem sugestionadas. Poderiam ter sonhado com coisas as quais julgaram estar acontecendo. Ressalvou que poderia nem estar havendo má fé por parte destas pessoas, e sim uma confusão mental.
Karina argumentou dizendo que num mundo onde as pessoas não tem certeza de quase nada, poderia haver a possibilidade ainda que pequena, deste conceito ou teoria ser verdadeiro. Comentou ainda que os sonhos podem ser uma manifestação do consciente registrando fatos ocorridos no plano astral.
Intrigada, Letícia perguntou:
- E desde quando você se interessa por estes assuntos?
Karina respondeu que também já havia sonhado com o moço.
Emocionada, Letícia perguntou:
- Já?
A mulher respondeu então, que via a filha e Flávio juntos, de mãos dadas, caminhando por um lugar com muito verde, árvores, plantas, flores. Bonito lugarejo. Disse que vê-los juntos lhe transmitia uma sensação de paz.
Letícia impressionada, conseguiu visualizar a cena.
Chorando, respondeu que já havia sonhado com o rapaz dizendo que viria buscá-la. Comentou que o cenário dos sonhos era parecido com o que a mãe descreveu.
Em dado momento, disse a mãe que ela não devia fazer pouco de seu sofrimento, brincando com coisas sérias.
Karina, perplexa com a reação da filha, disse que não estava brincando.
Letícia deixou a mãe na sala e foi para seu quarto.
Relembrou os sonhos que tivera com o rapaz, alguns dos momentos que passaram juntos.
Lembrou-se do dia em que estiveram na praia e que entraram no mar a noite. Iluminados pelo luar, brincaram nas águas.
A água estava gostosa, e a lua cheia.
Felizes, brincavam de correr das ondas.
Mais tarde, ao voltarem para casa, já de banho tomado, deitaram-se na cama de casal de um dos quartos e começaram a fazer planos para o futuro. Flávio pretendia se casar com Letícia, formar uma família. Comentou que pretendia ficar ao lado dela até o fim, e que mesmo que ela se enchesse dele, não largaria de seu pé.
Letícia riu.
Agora dava-se conta de que os planos ruíram.
Contudo, ao dar-se conta de que a nova condição de Flávio poderia ser permanente, entrou em desespero. Inconformada, recusou a aceitar a resignação de Olívia.
Dizia que precisavam lutar para que Flávio melhorasse.
- Não. Ele não pode continuar assim. Não pode ser! – disse certa vez, para em seguida chorar copiosamente. – Eu não aceito isso! Ele vai ficar bom! – gritou.
Olívia repreendeu-a com o olhar.
Mesmo entendendo a dor e o desespero da moça, pois sabia que ninguém está preparado para viver uma situação destas, Olívia comentou que no momento, era tudo o que podia fazer por seu filho. Que precisava proporcionar as melhores condições possíveis para que ele pudesse retomar sua vida assim que possível.
Letícia então, calou-se.
Desolada, foi embora para casa, pensando na nova condição de Flávio, no quanto sua vida mudara. Ainda no metrô começou a chorar.
Ao chegar em casa, passou rapidamente por sua mãe. Chorando, ficou trancada em seu quarto.
Karina estava cada vez mais preocupada com sua filha.
Não sabia mais o que dizer, o que fazer, e que conselhos dar.
Aflita, chegou a conversar com Olívia e a perguntar-lhe sobre o que os médicos diziam a respeito do estado de Flávio.
Foi então que Olívia explicou-lhe que os médicos eram céticos quanto a recuperação do moço.
A mãe de Flávio porém, recusava-se em aceitar o prognóstico.
Por isto velava por ele dia e noite abrindo mão inclusive de sua convivência com seu marido e sua filha para viver quase que exclusivamente em função dele.
Karina percebeu isto, ao notar a dedicação de Olívia.
Isto por que a mulher contou-lhe que havia se mudado para a casa do filho, e que Gilberto e Cecília a vinham visitar com freqüência. Disse que de vez em quando passava em sua casa, mas que a maior parte do tempo passava ao lado de Flávio.
Karina pediu para ver o rapaz. Dizendo que estava em falta com suas visitas, comentou que trabalhando com voluntariado e cuidando de sua filha, sobrava pouco tempo para cumprir com outras obrigações igualmente relevantes. Chegou até a desculpar-se com Olívia, salientando que não havia esquecido o moço e que sempre pensava em toda a família, desejando a franca recuperação de Flávio.
Olívia respondeu que sabia disto.
Preocupada, Karina perguntou se estavam precisando de alguma coisa.
Olívia agradeceu a gentileza dizendo que não estava precisando de nada.
Após, Karina foi conduzida ao quarto por ela.
Ao aproximar-se da cama, percebeu que o moço estava sendo cuidado por um enfermeiro de nome Jair.
O profissional fazia exercícios com a perna de Flávio. Dizia que tais exercícios eram necessários para que os membros não atrofiassem.
Karina tentou conversar com o moço, dizendo que torcia muito para que se recuperasse. Dizendo que ele era seu genro preferido, comentou que nenhum outro namorado de Letícia havia despertado tanto a sua simpatia e afeição quanto ele.
Observando que o rapaz permanecia inerte, inconsciente e indiferente a tudo, ficou desolada.
Enquanto esperava na estação a chegada do metrô para voltar para casa, ficou pensando consigo mesma, se era justo que sua filha ficasse esperando indefinidamente pela recuperação do moço.
Algo que por sua vez, infelizmente, poderia não acontecer.
Atordoada porém, resolveu não dizer isto para a filha.
Letícia já estava sofrendo demais.
Nisto, o tempo foi passando e nenhum sinal de melhora se verificou em Flávio.
Olívia tentava de todas as formas despertá-lo deste torpor.
Contava que quando criança, ele e Cecília aprontavam muito.
Contou que certa vez, achando um cachorro abandonado na rua, Flávio resolveu escondê-lo dentro de sua mochila e levá-lo para casa.
Relatou que quando ela descobriu o fato, pensou em repreendê-lo, mas ao ver aqueles olhinhos castanhos, marejados, quase implorando para ficar com o animal, capitulou.
Olívia deixou o menino ficar com o cãozinho.
Feliz, o menino batizou o animal de Nero.
Contou também que uma vez, Cecília quis saber se era verdade que os cachorros nadavam.
Olívia lembrou-se de uma piscina retangular de plástico que eles tinham, e do dia em a criança pegou Nero e colocou-o dentro da piscina.
Admirou-se! Não é que cachorro sabe nadar?
Depois disto, a menina tirou o cachorro da piscina.
O que Cecília não esperava, era que o animal fosse se enxugar na grama, vindo a se sujar de terra.
Quando Olívia viu o animal todo sujo de barro, quis bater na menina. Dizendo que precisaria dar um banho no cachorro, passou um sermão na criança.
Cecília olhou assustada para ela. Pensou que iria apanhar.
Terminando de se recordar deste fato, perguntou a Flávio:
- Você não se lembra disto?
Mas nada. O moço não contraia um músculo de sua face.
E assim, por mais que Olívia contasse histórias, nada do rapaz despertar...
Lembranças.
Olívia ficava a velar o sonho de Flávio.
Jair realizava movimentos com as pernas do moço, com seus braços. Tudo para que os membros de Flávio não ficassem atrofiados.
Por meio de uma cama hospitalar o rapaz era constantemente movimentado.
Olívia era zelosa nos cuidados com o rapaz. Penteava seus cabelos três vezes ao dia, cuidava para que ele sempre estivesse limpo e asseado.
Jair era seu fiel escudeiro.
Às vezes parecia que Flávio estava sonhando.
A mulher tentava imaginar no que seu filho estava pensando...
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Olívia porém, prometeu que não desistiria de fazer com que Flávio despertasse deste longo sono, não importasse o tempo que precisasse para isto.
Certo dia, acompanhando-o no hospital, sonhou que o filho andava sozinho na escuridão de São Paulo. Caminhava em um lugar que lembrava o Anhangabaú. Passou pelo Viaduto do Chá.
Fazendo-lhe reverências, parou em frente ao Teatro Municipal.
Neste momento, Olívia começou a chamá-lo. Acabou despertando.
Ao percebendo que Flávio permanecia inerte, pegou o cobertor e cobriu o filho. Acariciou seu rosto.
Dizendo baixinho, comentou que havia sonhado com ele, correndo, fazendo reverências. Comentou que sabia que ele a ouvia. Respondeu que não faria mais nenhuma maluquice para tentar ajudá-lo, e que esperaria o tempo que fosse necessário para que ele se recuperasse.
Disse ainda que começaria uma novena, e que só pararia de rogar pela sua recuperação, quando ele estivesse de pé, sem seqüelas, conversando e sendo feliz como ele sempre fora. Depois pagaria sua promessa indo até a Aparecida e participando de uma missa.
Pensando nisto, começou a pensar que outras pessoas deviam estar passando pelo mesmo problema.
Resolveu pesquisar sobre o assunto.
Com a ajuda de Cecília passou a vasculhar a rede mundial de computadores, conhecida como internet. Acessando a internet, deparou com relatos emocionados de pessoas que passavam por dramas semelhantes.
Descobriu histórias de pessoas que despertaram e mesmo com seqüelas, retomaram suas vidas.
Porém para seu filho, sonhava em um final diferente, acreditava em um milagre.
Certo dia, chegou a perguntar a Gilberto se estava sendo egoísta em querer que seu filho ficasse completamente recuperado.
O homem respondeu que não.
E assim, Flávio permaneceu nesse estado por dias, semanas, meses.
Enquanto o tempo passava, mais o desespero das famílias de Flávio e Letícia aumentava.
Cecília, a irmã mais nova de Flávio, também estava noiva, e em virtude do acidente, tivera que adiar os planos de casamento.
Alessandro ficou frustrado com a decisão de Cecília. Dizendo que eles já estavam providenciando onde iriam morar e onde comprariam o enxoval, Alessandro comentou que já estava economizando dinheiro.
Cecília argumentou então que a situação exigia que eles deixassem de lado seus interesses pessoais.
Confiante de que Flávio não tardaria a se recuperar, a moça disse que gostaria que ele e Letícia fossem seus padrinhos de casamento.
Alessandro abraçando a moça, concordou em esperar um pouco.
Gilberto – seu pai – a cada dia que passava, sentia como se houvessem roubado os dias da vida de seu filho.
Certa vez comentou com Olívia que se era para alguém ir embora, esse alguém deveria ser ele, e não seu filho. Argumentava que ele era muito jovem para passar por isto, e que tinha direito a uma vida toda pela frente.
Cecília, ao ouvir isto, retrucou:
- Não fale assim, pai!
Olívia respondeu que ninguém iria morrer.
Alessandro, o noivo de Cecília, por fim, acabou concordando com o adiamento.
Dizendo-se amigo da família, respondeu que eles somente se casariam quando Flávio estivesse recuperado. Tentando amenizar o clima tenso, comentou que poderia neste ínterim, organizar a casa em que dentro em breve, iriam morar.
Sim, sempre que se encontrava com Gilberto e Olívia, insistia em dizer que Flávio era forte, que antes do que eles poderiam supor, despertaria daquele torpor.
Os pais de Cecília sempre agradeciam as palavras de conforto de Alessandro.
Letícia também havia sido consolada por Alessandro.
O moço sempre lhe dizia que os próximos a se casarem, seriam ela e Flávio, e brincando, dizia que fazia questão de ser padrinho do casal.
Letícia por sua vez, também procurava conforto nas palavras de sua mãe, que na medida do possível, procurava incentivá-la. Dizendo que a recuperação era demorada, mas que ele iria se recuperar, Karina procurava incentivar Letícia a não desanimar.
A moça porém, tinha dúvidas de que isto poderia realmente acontecer.
Karina porém, insistia nisto.
Letícia comentou que o cunhado de Flávio também acreditava em sua recuperação.
Quase todos os dias a moça chorava ao voltar do hospital depois de visitar Flávio.
Mas só restava esperar.
E assim, a vida das duas famílias permaneceu em suspenso.
Olívia por sua vez, mesmo diante do prognóstico ruim do médico, permanecia com o firme propósito de ver o filho melhorar.
Todos os dias se dirigia ao hospital, e sempre que adentrava o quarto em que o filho permanecia inconsciente, conversava com ele como se estivesse a falar com qualquer pessoa.
Comentava com ele que a irmã pretendia se casar, e que Letícia o esperava ansiosamente para que lhe fizesse companhia na cerimônia de casamento.
Argumentou que Cecília havia escolhido a ambos com padrinhos de seu casamento.
Disse também seus primos, tios, vizinhos e amigos, perguntavam sempre sobre ele.
E assim, muito embora nos primeiros momentos, ver o filho naquele estado a fizesse chorar, passado o momento de desespero, e percebendo que Flávio dependia de sua força, começou a se preocupar com os aspectos práticos da nova condição do rapaz.
Ciente de que o rapaz não deveria permanecer mais tempo no hospital, Olívia começou a pesquisar preços e aluguéis de equipamentos hospitalares.
Tencionava montar um espécie de hospital, em domicílio.
E mais! Mesmo diante da resistência da família, argumentou que faria isto no apartamento de Flávio. Disse que se mudaria para lá.
Gilberto por sua vez, questionou a esposa. Dizendo que a maior parte de sua vida passara na casa onde a família morava, comentou que talvez com a presença dos amigos, e vivendo em um ambiente cheio de lembranças de sua infância, talvez o rapaz se recuperasse rapidamente.
A mulher argumentou porém, que as lembranças mais recentes de Flávio, estavam naquele apartamento, e que por esta razão, gostaria de começar o tratamento por lá.
Gilberto ainda insistiu em questionar a esposa, mas depois de um certo tempo, percebendo que pregava no deserto, decidiu deixar a mulher fazer o que considerava certo. Dizendo que não tinha nada melhor para oferecer, chegou a conclusão de que não poderia tirar as esperanças de Olívia. Logo ele que também acreditava que o filho pudesse se recuperar.
Gilberto porém, lembrou a esposa, de que o tratamento talvez não desse resultado.
Olívia então pediu para ao menos tentar ajudar o filho.
Cecília e Alessandro também prontificaram-se em ajudar.
Os dois se recusavam em aceitar a condição de Flávio como permanente.
A moça rezava todos os dias que o irmão se recuperasse.
Alessandro, percebendo isto, prometeu que também começaria a rezar e que pediria para sua mãe fazer o mesmo.
Olívia por sua vez, rezava todos os dias pedindo a recuperação de Flávio. Rezou sistematicamente durante todo o período em que o moço esteve convalescente.
Havia feito uma promessa e estava confiante que seu pedido seria atendido.
Gilberto sempre que podia, também a acompanhava em suas orações.
Aposentado, aproveitava as oportunidades que apareciam para continuar trabalhando.
Formado em contabilidade, aproveitava para fazer Declarações de Imposto de Renda de amigos, escriturava livros comerciais, entre outras burocracias administrativas.
Tudo para não ficar ocioso, e para ganhar um dinheiro extra.
Ainda mais agora que Flávio inspirava cuidados.
Olívia por sua vez, dizia que por enquanto o escritório onde o filho trabalhava estava arcando com todas as despesas médicas.
A mulher respondeu que o próprio Otávio disse que continuaria depositando o salário de Flávio, e que se eles precisassem de alguma coisa, poderiam entrar em contato com ele.
Gilberto respondeu porém, que não podia contar sempre com isto. Dizendo que as coisas mudavam, argumentou que não podia contar com a sorte.
Mais tarde descobriram que Flávio havia feito um Seguro de Acidentes Pessoais, o qual cobria despesas médicas, no importe de até cem mil reais.
Ao tomarem conhecimento disto, após vistoriarem os pertences de Flávio, Olívia comentou com Gilberto que eles precisavam acionar o aludido seguro.
Gilberto conversou com Cecília, a qual pediu para que ele tirasse uma cópia do contrato de seguro, e da apólice para que levasse ao escritório. Respondeu que conversaria com seus patrões para obter maiores informações.
Contudo, interessada no assunto, leu o contrato. Disse que pelo que havia entendido, não havia empecilhos para acionar o seguro, já que foram preenchidas todas as condições para tanto. Perguntou então se eles teriam em mãos os documentos solicitados em contrato.
Olívia perguntou quais os documentos haviam sido exigidos.
Cecília explicitou a relação.
Olívia respondeu que precisaria solicitar alguns dos documentos no hospital.
Nisto, Cecília levou as cópias para a apreciação de Flora e Euclides.
Ao lerem o documento, comentaram que se as condições foram preenchidas, não haveria óbice para que o seguro fosse acionado.
E assim, a família de Flávio tratou de contatar a Seguradora e solicitar a cobertura do seguro.
Ocorre que até o seguro ser liberado, foram meses de espera. Enquanto isto, o escritório de advocacia e contabilidade cobriu as despesas médicas de Flávio, o qual possuía plano de saúde.
E assim o tempo foi passando.
Letícia continuava trabalhando, realizando palestras sobre direito ambiental, realizando pesquisas. A moça estava trabalhando em um projeto sobre educação ambiental.
Todo o dia encarava a cidade utilizando o metrô, e caminhando em meio a um mar de gente.
A noite ia visitar Flávio, às vezes contava-lhe como havia sido o seu dia.
Certa vez, depois de mais um dia de visitas, sonhou com Flávio caminhando pela cidade de São Paulo.
O moço caminhava pelo viaduto Santa Ifigênia, pelo Elevado Costa e Silva, pela Praça da Sé.
O sonho não tinha muito nexo. Em dado momento, o moço sentou-se num banco da famosa praça, colocou as mãos sobre o rosto. Depois levantou-se.
No sonho o rapaz segurava um livro. Parecia declamar poesias numa improvável Praça da Sé vazia a noite.
Depois apareceu caminhando no Parque do Ibirapuera.
Surgiu depois na Praça do Monumento, fazendo piruetas em meio o monumento.
Letícia começou a chamá-lo.
Karina que estava por perto, ouviu a filha chamando por Flávio.
Em dado momento, percebendo o desespero da filha, a mulher sacudiu-a levemente para que despertasse.
Preocupada, perguntou com o que ela estava sonhando.
Letícia respondeu havia sonhado com Flávio. Que o moço percorria a cidade de São Paulo. Disse que parecia que o moço queria dizer-lhe algo.
Karina comentou que talvez o moço estivesse tentando encontrar uma forma para se comunicar com ela.
A mulher comentou que poderia ser uma viagem astral.
Curiosa, Letícia perguntou o que ela estava querendo dizer com aquilo.
Karina comentou então, que pessoas em aparente estado de vigília, podem estar em contínua atividade. Isto por que, segundo ela, não seria somente através do corpo físico que poderíamos executar atividades. Dizendo que mesmo dormindo poderíamos visitar lugares, conversar com pessoas e agir, comentou que mesmo uma pessoa em estado de coma, possuía esta capacidade e que havia relatos de pessoas que passavam por este tipo de experiência.
Letícia duvidou das palavras da mãe, dizendo que as pessoas poderiam dizer que passaram por experiências extra-sensoriais por se encontrarem sugestionadas. Poderiam ter sonhado com coisas as quais julgaram estar acontecendo. Ressalvou que poderia nem estar havendo má fé por parte destas pessoas, e sim uma confusão mental.
Karina argumentou dizendo que num mundo onde as pessoas não tem certeza de quase nada, poderia haver a possibilidade ainda que pequena, deste conceito ou teoria ser verdadeiro. Comentou ainda que os sonhos podem ser uma manifestação do consciente registrando fatos ocorridos no plano astral.
Intrigada, Letícia perguntou:
- E desde quando você se interessa por estes assuntos?
Karina respondeu que também já havia sonhado com o moço.
Emocionada, Letícia perguntou:
- Já?
A mulher respondeu então, que via a filha e Flávio juntos, de mãos dadas, caminhando por um lugar com muito verde, árvores, plantas, flores. Bonito lugarejo. Disse que vê-los juntos lhe transmitia uma sensação de paz.
Letícia impressionada, conseguiu visualizar a cena.
Chorando, respondeu que já havia sonhado com o rapaz dizendo que viria buscá-la. Comentou que o cenário dos sonhos era parecido com o que a mãe descreveu.
Em dado momento, disse a mãe que ela não devia fazer pouco de seu sofrimento, brincando com coisas sérias.
Karina, perplexa com a reação da filha, disse que não estava brincando.
Letícia deixou a mãe na sala e foi para seu quarto.
Relembrou os sonhos que tivera com o rapaz, alguns dos momentos que passaram juntos.
Lembrou-se do dia em que estiveram na praia e que entraram no mar a noite. Iluminados pelo luar, brincaram nas águas.
A água estava gostosa, e a lua cheia.
Felizes, brincavam de correr das ondas.
Mais tarde, ao voltarem para casa, já de banho tomado, deitaram-se na cama de casal de um dos quartos e começaram a fazer planos para o futuro. Flávio pretendia se casar com Letícia, formar uma família. Comentou que pretendia ficar ao lado dela até o fim, e que mesmo que ela se enchesse dele, não largaria de seu pé.
Letícia riu.
Agora dava-se conta de que os planos ruíram.
Contudo, ao dar-se conta de que a nova condição de Flávio poderia ser permanente, entrou em desespero. Inconformada, recusou a aceitar a resignação de Olívia.
Dizia que precisavam lutar para que Flávio melhorasse.
- Não. Ele não pode continuar assim. Não pode ser! – disse certa vez, para em seguida chorar copiosamente. – Eu não aceito isso! Ele vai ficar bom! – gritou.
Olívia repreendeu-a com o olhar.
Mesmo entendendo a dor e o desespero da moça, pois sabia que ninguém está preparado para viver uma situação destas, Olívia comentou que no momento, era tudo o que podia fazer por seu filho. Que precisava proporcionar as melhores condições possíveis para que ele pudesse retomar sua vida assim que possível.
Letícia então, calou-se.
Desolada, foi embora para casa, pensando na nova condição de Flávio, no quanto sua vida mudara. Ainda no metrô começou a chorar.
Ao chegar em casa, passou rapidamente por sua mãe. Chorando, ficou trancada em seu quarto.
Karina estava cada vez mais preocupada com sua filha.
Não sabia mais o que dizer, o que fazer, e que conselhos dar.
Aflita, chegou a conversar com Olívia e a perguntar-lhe sobre o que os médicos diziam a respeito do estado de Flávio.
Foi então que Olívia explicou-lhe que os médicos eram céticos quanto a recuperação do moço.
A mãe de Flávio porém, recusava-se em aceitar o prognóstico.
Por isto velava por ele dia e noite abrindo mão inclusive de sua convivência com seu marido e sua filha para viver quase que exclusivamente em função dele.
Karina percebeu isto, ao notar a dedicação de Olívia.
Isto por que a mulher contou-lhe que havia se mudado para a casa do filho, e que Gilberto e Cecília a vinham visitar com freqüência. Disse que de vez em quando passava em sua casa, mas que a maior parte do tempo passava ao lado de Flávio.
Karina pediu para ver o rapaz. Dizendo que estava em falta com suas visitas, comentou que trabalhando com voluntariado e cuidando de sua filha, sobrava pouco tempo para cumprir com outras obrigações igualmente relevantes. Chegou até a desculpar-se com Olívia, salientando que não havia esquecido o moço e que sempre pensava em toda a família, desejando a franca recuperação de Flávio.
Olívia respondeu que sabia disto.
Preocupada, Karina perguntou se estavam precisando de alguma coisa.
Olívia agradeceu a gentileza dizendo que não estava precisando de nada.
Após, Karina foi conduzida ao quarto por ela.
Ao aproximar-se da cama, percebeu que o moço estava sendo cuidado por um enfermeiro de nome Jair.
O profissional fazia exercícios com a perna de Flávio. Dizia que tais exercícios eram necessários para que os membros não atrofiassem.
Karina tentou conversar com o moço, dizendo que torcia muito para que se recuperasse. Dizendo que ele era seu genro preferido, comentou que nenhum outro namorado de Letícia havia despertado tanto a sua simpatia e afeição quanto ele.
Observando que o rapaz permanecia inerte, inconsciente e indiferente a tudo, ficou desolada.
Enquanto esperava na estação a chegada do metrô para voltar para casa, ficou pensando consigo mesma, se era justo que sua filha ficasse esperando indefinidamente pela recuperação do moço.
Algo que por sua vez, infelizmente, poderia não acontecer.
Atordoada porém, resolveu não dizer isto para a filha.
Letícia já estava sofrendo demais.
Nisto, o tempo foi passando e nenhum sinal de melhora se verificou em Flávio.
Olívia tentava de todas as formas despertá-lo deste torpor.
Contava que quando criança, ele e Cecília aprontavam muito.
Contou que certa vez, achando um cachorro abandonado na rua, Flávio resolveu escondê-lo dentro de sua mochila e levá-lo para casa.
Relatou que quando ela descobriu o fato, pensou em repreendê-lo, mas ao ver aqueles olhinhos castanhos, marejados, quase implorando para ficar com o animal, capitulou.
Olívia deixou o menino ficar com o cãozinho.
Feliz, o menino batizou o animal de Nero.
Contou também que uma vez, Cecília quis saber se era verdade que os cachorros nadavam.
Olívia lembrou-se de uma piscina retangular de plástico que eles tinham, e do dia em a criança pegou Nero e colocou-o dentro da piscina.
Admirou-se! Não é que cachorro sabe nadar?
Depois disto, a menina tirou o cachorro da piscina.
O que Cecília não esperava, era que o animal fosse se enxugar na grama, vindo a se sujar de terra.
Quando Olívia viu o animal todo sujo de barro, quis bater na menina. Dizendo que precisaria dar um banho no cachorro, passou um sermão na criança.
Cecília olhou assustada para ela. Pensou que iria apanhar.
Terminando de se recordar deste fato, perguntou a Flávio:
- Você não se lembra disto?
Mas nada. O moço não contraia um músculo de sua face.
E assim, por mais que Olívia contasse histórias, nada do rapaz despertar...
Lembranças.
Olívia ficava a velar o sonho de Flávio.
Jair realizava movimentos com as pernas do moço, com seus braços. Tudo para que os membros de Flávio não ficassem atrofiados.
Por meio de uma cama hospitalar o rapaz era constantemente movimentado.
Olívia era zelosa nos cuidados com o rapaz. Penteava seus cabelos três vezes ao dia, cuidava para que ele sempre estivesse limpo e asseado.
Jair era seu fiel escudeiro.
Às vezes parecia que Flávio estava sonhando.
A mulher tentava imaginar no que seu filho estava pensando...
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Para se Viver um Grande Amor - Capítulo 8
Letícia, igualmente triste, ao chegar em sua casa após as idas ao hospital, ficava a contemplar uma orquídea que recebera de presente de Flávio, no dia em que ficara noiva do rapaz.
Isto por que, Flávio usando de um expediente para iludir a moça, ofereceu-lhe a planta.
Mal sabia ela, que escondido no caule da planta, havia uma caixinha com um anel de noivado.
Flávio não era rico, mas havia comprado uma jóia para ela.
E assim, durante o almoço em um restaurante, Flávio começou a fazer um discurso, dizendo que havia convidado a moça para celebrar um momento especial em sua vida.
Letícia ficou curiosa.
Flávio então, comentando que agora que poderia fazer parte do quadro societário do escritório, disse que teria ganhos melhores com a profissão, e que estaria em condições de usufruir de um melhor padrão de vida. Fato este que o fazia ter interesse em dar maiores saltos em sua vida.
Letícia ficou intrigada.
Flávio então comentou que estava vivendo muito bem até então, mas que as coisas poderiam melhorar muito mais. Depois disso, sem mais delongas, ofereceu a orquídea para a moça, dizendo que estava ofertando muito mais que uma flor.
Letícia não compreendeu o que ele queria dizer.
Ainda assim, recebeu a orquídea dizendo que era linda.
Flávio então pediu para que ela tocasse a planta.
Letícia tocou a flor cuidadosamente. Ao tocar o caule, percebeu que havia um objeto estranho escondido. Ao ver que se tratava de uma caixinha, pegou-a.
Abrindo-a, verificou que se tratava de um anel de noivado.
A moça ficou surpresa.
Ao perceber isto, Flávio perguntou:
- E aí! Gostou da surpresa?
Letícia ficou muda por alguns instantes. Percebendo que precisava dizer alguma coisa, respondeu que sim.
Flávio insistiu:
- Gostou! Que bom! Não sei se você sabe, mas este é um anel de noivado. Portanto ... você aceita se casar comigo?
- Não ... sei ... - respondeu Letícia, hesitante.
- Como assim, não sei? – indagou Flávio, decepcionado com a resposta. – Não gostou do pedido?
Letícia, argumentou então que havia adorado o presente, mas que precisava pensar, já que casamento é um passo importante na vida de qualquer pessoa.
Tenso, Flávio entendeu que o pedido era razoável, e mesmo visivelmente desapontado, concordou.
Letícia tentou consolá-lo dizendo que não estava desfazendo do pedido.
Dias depois, a moça retomou o assunto dizendo que concordava em se casar, mas que não deixaria o emprego.
O homem ficou deveras contente com o aceite.
Com efeito, a mãe de Letícia, plantou a orquídea.
E assim, sempre que voltava do trabalho e do hospital, a moça ficava a contemplar a planta, como se a mesma lhe trouxesse notícias do estado de Flávio.
Isto por que, quando o rapaz se acidentou, a planta que andava viçosa, começou a perder força. Parecia que ia morrer.
Houve um dia porém, em que inesperadamente a planta tornou revigorada, apresentando inclusive botões.
Letícia e sua mãe se encheram de esperanças.
Neste dia, ao chegar ao hospital, Letícia soube que o rapaz saíra do estado de coma, encontrando-se em um quarto do hospital.
No entanto, as notícias não eram animadoras.
Isto por que, em que pese a melhora no estado clínico do rapaz, o mesmo permanecia inconsciente.
Letícia ficou desapontada ao perceber que Flávio permanecia inerte.
Mesmo com a insistência de Olívia em contar para Flávio fatos de sua vida, o rapaz não dava sinais de melhora.
Ainda assim, Olívia recomendou que todos sem exceção, contassem sobre fatos ocorridos com Flávio.
Os colegas de escritório às vezes apareciam no hospital onde o moço estava internado.
Relembravam fatos ocorridos no escritório.
Certa vez Carlos, lembrando-se de uma cliente sem noção que apareceu no escritório, comentou que a pessoa queria promover uma ação questionando o que entendia ser uma má prestação de serviço. Argumentava que havia se submetido a um procedimento cirúrgico, e que o resultado não havia sido satisfatório.
Intrigado, comentou que Flávio havia perguntado qual o procedimento cirúrgico foi realizado.
A mulher respondeu que havia realizado uma cirurgia plástica, e que o médico havia prometido que ela ficaria a cara da Maria Fernanda Cândido.
Irritada, perguntou:
- Eu estou a cara dela?
Sem jeito, Flávio respondeu que não. Tentando convencer a mulher de que não havia possibilidade de mover uma ação com base naquele argumento, comentou que a cirurgia fora bem feita.
A mulher insistiu que não havia alcançado o resultado esperado.
Flávio perguntou se o médico havia realmente prometido aquele resultado.
A mulher demorou para responder. Gaguejando, comentou que não exatamente, mas que o médico havia lhe mostrado o resultado via computador. Argumentou que uma cliente do médico comentou que ele poderia fazê-la se parecer com qualquer atriz de novela.
Flávio comentou então:
- Pois então! Eu não tenho como mover uma ação com base no argumento de outra cliente. Processo judicial é coisa séria.
- Como não? A lei não diz que tudo pode ser objeto de ação?
Flávio explicou:
- Não é bem assim! Algumas situações não tem possibilidade de virarem processos, por que configuram lide temerária. Se eu movesse esta ação, ou o juiz indeferiria a inicial por falta de causa de pedir, ou então a lide seria considerada temerária, passível até de ser configurada com lide de má. Se o juiz determinar que houve litigância de má-fé, a senhora poderá até pagar multa.
A mulher então mudou o discurso. Dizendo que havia mudado de idéia, despediu-se apressadamente, retirando-se do escritório.
Carlos comentou que quando Flávio contou a história no escritório, todos caíram na risada.
Vicente e Otávio comentaram:
- Cada um que aparece!
- Um pior que o outro!
Mas Flávio não esboçava reação.
Outro dia, visitaram o rapaz, Francisco e Bruno.
Conversaram com Olívia. Dizendo palavras de incentivo, comentaram que acreditavam sim que Flávio iria se recuperar.
Francisco disse que Flávio era um rapaz determinado. Dedicado, sempre estudava os processos com cuidado, pesquisava para elaborar as peças processuais.
Bruno comentou que o moço estava conseguindo angariar uma boa carteira de clientes, e que por esta razão acabaria com o tempo, se tornando sócio no escritório.
De fato Flávio era dedicado ao trabalho.
A própria Letícia comentou que ele era um dos primeiros a chegar no escritório e geralmente um dos últimos a sair.
Olívia sentia um misto de orgulho e tristeza ao ouvir tais palavras.
Como acreditar que um rapaz cheio de sonhos, projetos, com iniciativa se encontrava inerte em uma cama?
Pensava: “Será que ele realmente não escuta o que dizemos?”
Seria mesmo certo o que os médicos diziam que ele não ouvia, que não estava ali, que apenas seu corpo jazia sobre a cama?
Um dia observando Flávio com mais atenção, chegou a se iludir acreditando que ele havia se mexido.
Cecília que sempre que podia acompanhava a mãe no hospital, ao vê-la alvoroçada, comentou que estava atenta que e não percebeu nenhum movimento.
Olívia tentou argumentar, mas sabia que Cecília estava certa.
Desiludida, aproximou-se do rapaz, e dizendo baixinho, pediu para que Flávio reagisse.
Cecília ficou penalizada.
Chegou a comentar que a mãe precisava de ajuda.
Quando Olívia decidiu levar Flávio para o apartamento onde morava, Gilberto decidiu por sua vez, contratar os serviços de Jair – enfermeiro que já vinha acompanhando o rapaz no hospital.
Isto depois de Flávio receber alta do hospital.
Dizendo que ter um enfermeiro ao lado de Flávio era mais produtivo, do que ficar procurando terapias alternativas, Gilberto acabou convencendo a mulher.
Flávio permaneceu por meses hospitalizado.
Letícia, por sua vez, também acreditava que Flávio iria se recuperar.
Quase todos os dias, após um longo de dia de trabalho, aproveitava para visitar o moço.
Sempre que podia lia histórias para o rapaz. Contos, poesias, romances. Tudo que pudesse lembrar os momentos que passaram juntos.
Tamanha dedicação, despertou a atenção de Gilberto e Olívia.
A mulher certa vez, ao ver que a moça comparecia quase todos os dias no hospital, comentou que Letícia precisava descansar.
Olívia às vezes lhe dizia que ela poderia ficar em casa, e que havendo novidades, ela entraria em contato com a moça.
Letícia porém, recusava a gentileza. Dizendo que precisava estar ao lado de Flávio nos momentos bons e ruins, insistia em ir sempre visitá-lo.
Gilberto sempre comentava que Letícia era uma moça de muito valor. Dizendo que muitas outras desapareceriam depois de algum tempo, comentou que ela gostava de verdade de seu filho.
Cecília também considerava Letícia uma grande pessoa.
Sempre que as duas se encontravam no hospital, conversavam sobre as esperanças que ambas tinham na recuperação de Flávio.
Cecília conversou com a moça sobre seu estágio no escritório de advocacia, sobre o seu trabalho. Comentou que freqüentava a Junta Comercial realizando registros de empresas, e que estava trabalhando na elaboração de minutas, e de contratos.
Letícia procurou demonstrar interesse.
Cecília que percebia desânimo no olhar de Letícia, comentou que Flávio iria se recuperar, e que ela precisava dar continuidade a sua vida.
A moça insistiu para que Letícia contasse sobre seu trabalho.
Letícia comentou que estava realizando palestras, realizando pesquisas. Enfim, coisas relacionadas ao trabalho.
Cecília perguntou então, o que estava lendo para Flávio, já que ela segurava um livro nas mãos.
Letícia mostrou o livro. Comentou que se tratava de uma história de amor trágica, ambientada na Idade Média, a qual transformou-se em clássico universal, intitulada “Tristão e Isolda”.
Comentou que Flávio costumava ler trechos do livro para ela.
Alessandro também costumava aparecer por lá. Certa vez chegou a convidar Letícia para participar de um ensaio em uma escola de samba.
Cecília criticou o moço, mas Alessandro, dizendo que seria algo que ela deveria conhecer, comentou que se distrair faria bem a ela.
Letícia agradeceu o convite mas gentilmente o recusou.
Com efeito, a universitária também visitava Flávio com bastante freqüência.
De manhã Cecília cursava a faculdade de direito, estudava, e a tarde fazia um estágio de meio período em um escritório de advocacia de Flora e Euclides.
Era um escritório especializado em contratos, tanto na área cível quanto na área comercial.
Animada com o trabalho, Cecília perdeu as contas de quantas vezes precisou se dirigir a Junta Comercial de São Paulo, na Barra Funda para realizar o registro de empresas, ou solicitar Certidões de Breve Relato, entre outros documentos.
No caminho, sempre aproveitava para admirar o Memorial da América Latina.
Também comparecia em Cartórios de Registro Civis de Pessoas Jurídicas para realizar registro de Sociedades Simples.
Doutora Flora e Doutor Euclides, como ela costumava chamá-los, estavam satisfeitos com seu trabalho.
Depois de algum tempo no escritório, começou a auxiliá-los na elaboração de contratos.
Olívia sempre ouvia com atenção os relatos da filha sobre o trabalho. Mesmo após o acidente ocorrido com Flávio.
Mas Cecília estava mais comedida. Preocupada com Olívia, evitava falar de seu trabalho, ou de seus problemas.
Mesmo assim, Alessandro percebia que a moça estava sofrendo com a situação pela qual a família estava passando.
Atencioso, sempre ouvia o que Cecília tinha a dizer. Insistia até para que ela lhe falasse o que estava se passando.
A moça porém, pedia às vezes para que ele a deixasse quieta.
Alessandro por sua vez, sempre dizia que acreditava piamente na cura de Flávio. Dizia que quando menos se esperasse, ele despertaria e sairia andando por aí. Comentava que não demoraria, chegaria o dia em que eles poderiam se casar, tendo o irmão de Cecília como padrinho e Letícia como madrinha de casamento dos dois. Respondeu que seria uma festa de casamento bonita, repleta de convidados, e que certamente Flávio e Letícia seriam os próximos a se casarem.
Cecília começou a chorar.
Alessandro a abraçou dizendo que um dia aquelas lágrimas seriam de alegria.
Cecília queria muito acreditar naquelas palavras. Abraçou Alessandro.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Isto por que, Flávio usando de um expediente para iludir a moça, ofereceu-lhe a planta.
Mal sabia ela, que escondido no caule da planta, havia uma caixinha com um anel de noivado.
Flávio não era rico, mas havia comprado uma jóia para ela.
E assim, durante o almoço em um restaurante, Flávio começou a fazer um discurso, dizendo que havia convidado a moça para celebrar um momento especial em sua vida.
Letícia ficou curiosa.
Flávio então, comentando que agora que poderia fazer parte do quadro societário do escritório, disse que teria ganhos melhores com a profissão, e que estaria em condições de usufruir de um melhor padrão de vida. Fato este que o fazia ter interesse em dar maiores saltos em sua vida.
Letícia ficou intrigada.
Flávio então comentou que estava vivendo muito bem até então, mas que as coisas poderiam melhorar muito mais. Depois disso, sem mais delongas, ofereceu a orquídea para a moça, dizendo que estava ofertando muito mais que uma flor.
Letícia não compreendeu o que ele queria dizer.
Ainda assim, recebeu a orquídea dizendo que era linda.
Flávio então pediu para que ela tocasse a planta.
Letícia tocou a flor cuidadosamente. Ao tocar o caule, percebeu que havia um objeto estranho escondido. Ao ver que se tratava de uma caixinha, pegou-a.
Abrindo-a, verificou que se tratava de um anel de noivado.
A moça ficou surpresa.
Ao perceber isto, Flávio perguntou:
- E aí! Gostou da surpresa?
Letícia ficou muda por alguns instantes. Percebendo que precisava dizer alguma coisa, respondeu que sim.
Flávio insistiu:
- Gostou! Que bom! Não sei se você sabe, mas este é um anel de noivado. Portanto ... você aceita se casar comigo?
- Não ... sei ... - respondeu Letícia, hesitante.
- Como assim, não sei? – indagou Flávio, decepcionado com a resposta. – Não gostou do pedido?
Letícia, argumentou então que havia adorado o presente, mas que precisava pensar, já que casamento é um passo importante na vida de qualquer pessoa.
Tenso, Flávio entendeu que o pedido era razoável, e mesmo visivelmente desapontado, concordou.
Letícia tentou consolá-lo dizendo que não estava desfazendo do pedido.
Dias depois, a moça retomou o assunto dizendo que concordava em se casar, mas que não deixaria o emprego.
O homem ficou deveras contente com o aceite.
Com efeito, a mãe de Letícia, plantou a orquídea.
E assim, sempre que voltava do trabalho e do hospital, a moça ficava a contemplar a planta, como se a mesma lhe trouxesse notícias do estado de Flávio.
Isto por que, quando o rapaz se acidentou, a planta que andava viçosa, começou a perder força. Parecia que ia morrer.
Houve um dia porém, em que inesperadamente a planta tornou revigorada, apresentando inclusive botões.
Letícia e sua mãe se encheram de esperanças.
Neste dia, ao chegar ao hospital, Letícia soube que o rapaz saíra do estado de coma, encontrando-se em um quarto do hospital.
No entanto, as notícias não eram animadoras.
Isto por que, em que pese a melhora no estado clínico do rapaz, o mesmo permanecia inconsciente.
Letícia ficou desapontada ao perceber que Flávio permanecia inerte.
Mesmo com a insistência de Olívia em contar para Flávio fatos de sua vida, o rapaz não dava sinais de melhora.
Ainda assim, Olívia recomendou que todos sem exceção, contassem sobre fatos ocorridos com Flávio.
Os colegas de escritório às vezes apareciam no hospital onde o moço estava internado.
Relembravam fatos ocorridos no escritório.
Certa vez Carlos, lembrando-se de uma cliente sem noção que apareceu no escritório, comentou que a pessoa queria promover uma ação questionando o que entendia ser uma má prestação de serviço. Argumentava que havia se submetido a um procedimento cirúrgico, e que o resultado não havia sido satisfatório.
Intrigado, comentou que Flávio havia perguntado qual o procedimento cirúrgico foi realizado.
A mulher respondeu que havia realizado uma cirurgia plástica, e que o médico havia prometido que ela ficaria a cara da Maria Fernanda Cândido.
Irritada, perguntou:
- Eu estou a cara dela?
Sem jeito, Flávio respondeu que não. Tentando convencer a mulher de que não havia possibilidade de mover uma ação com base naquele argumento, comentou que a cirurgia fora bem feita.
A mulher insistiu que não havia alcançado o resultado esperado.
Flávio perguntou se o médico havia realmente prometido aquele resultado.
A mulher demorou para responder. Gaguejando, comentou que não exatamente, mas que o médico havia lhe mostrado o resultado via computador. Argumentou que uma cliente do médico comentou que ele poderia fazê-la se parecer com qualquer atriz de novela.
Flávio comentou então:
- Pois então! Eu não tenho como mover uma ação com base no argumento de outra cliente. Processo judicial é coisa séria.
- Como não? A lei não diz que tudo pode ser objeto de ação?
Flávio explicou:
- Não é bem assim! Algumas situações não tem possibilidade de virarem processos, por que configuram lide temerária. Se eu movesse esta ação, ou o juiz indeferiria a inicial por falta de causa de pedir, ou então a lide seria considerada temerária, passível até de ser configurada com lide de má. Se o juiz determinar que houve litigância de má-fé, a senhora poderá até pagar multa.
A mulher então mudou o discurso. Dizendo que havia mudado de idéia, despediu-se apressadamente, retirando-se do escritório.
Carlos comentou que quando Flávio contou a história no escritório, todos caíram na risada.
Vicente e Otávio comentaram:
- Cada um que aparece!
- Um pior que o outro!
Mas Flávio não esboçava reação.
Outro dia, visitaram o rapaz, Francisco e Bruno.
Conversaram com Olívia. Dizendo palavras de incentivo, comentaram que acreditavam sim que Flávio iria se recuperar.
Francisco disse que Flávio era um rapaz determinado. Dedicado, sempre estudava os processos com cuidado, pesquisava para elaborar as peças processuais.
Bruno comentou que o moço estava conseguindo angariar uma boa carteira de clientes, e que por esta razão acabaria com o tempo, se tornando sócio no escritório.
De fato Flávio era dedicado ao trabalho.
A própria Letícia comentou que ele era um dos primeiros a chegar no escritório e geralmente um dos últimos a sair.
Olívia sentia um misto de orgulho e tristeza ao ouvir tais palavras.
Como acreditar que um rapaz cheio de sonhos, projetos, com iniciativa se encontrava inerte em uma cama?
Pensava: “Será que ele realmente não escuta o que dizemos?”
Seria mesmo certo o que os médicos diziam que ele não ouvia, que não estava ali, que apenas seu corpo jazia sobre a cama?
Um dia observando Flávio com mais atenção, chegou a se iludir acreditando que ele havia se mexido.
Cecília que sempre que podia acompanhava a mãe no hospital, ao vê-la alvoroçada, comentou que estava atenta que e não percebeu nenhum movimento.
Olívia tentou argumentar, mas sabia que Cecília estava certa.
Desiludida, aproximou-se do rapaz, e dizendo baixinho, pediu para que Flávio reagisse.
Cecília ficou penalizada.
Chegou a comentar que a mãe precisava de ajuda.
Quando Olívia decidiu levar Flávio para o apartamento onde morava, Gilberto decidiu por sua vez, contratar os serviços de Jair – enfermeiro que já vinha acompanhando o rapaz no hospital.
Isto depois de Flávio receber alta do hospital.
Dizendo que ter um enfermeiro ao lado de Flávio era mais produtivo, do que ficar procurando terapias alternativas, Gilberto acabou convencendo a mulher.
Flávio permaneceu por meses hospitalizado.
Letícia, por sua vez, também acreditava que Flávio iria se recuperar.
Quase todos os dias, após um longo de dia de trabalho, aproveitava para visitar o moço.
Sempre que podia lia histórias para o rapaz. Contos, poesias, romances. Tudo que pudesse lembrar os momentos que passaram juntos.
Tamanha dedicação, despertou a atenção de Gilberto e Olívia.
A mulher certa vez, ao ver que a moça comparecia quase todos os dias no hospital, comentou que Letícia precisava descansar.
Olívia às vezes lhe dizia que ela poderia ficar em casa, e que havendo novidades, ela entraria em contato com a moça.
Letícia porém, recusava a gentileza. Dizendo que precisava estar ao lado de Flávio nos momentos bons e ruins, insistia em ir sempre visitá-lo.
Gilberto sempre comentava que Letícia era uma moça de muito valor. Dizendo que muitas outras desapareceriam depois de algum tempo, comentou que ela gostava de verdade de seu filho.
Cecília também considerava Letícia uma grande pessoa.
Sempre que as duas se encontravam no hospital, conversavam sobre as esperanças que ambas tinham na recuperação de Flávio.
Cecília conversou com a moça sobre seu estágio no escritório de advocacia, sobre o seu trabalho. Comentou que freqüentava a Junta Comercial realizando registros de empresas, e que estava trabalhando na elaboração de minutas, e de contratos.
Letícia procurou demonstrar interesse.
Cecília que percebia desânimo no olhar de Letícia, comentou que Flávio iria se recuperar, e que ela precisava dar continuidade a sua vida.
A moça insistiu para que Letícia contasse sobre seu trabalho.
Letícia comentou que estava realizando palestras, realizando pesquisas. Enfim, coisas relacionadas ao trabalho.
Cecília perguntou então, o que estava lendo para Flávio, já que ela segurava um livro nas mãos.
Letícia mostrou o livro. Comentou que se tratava de uma história de amor trágica, ambientada na Idade Média, a qual transformou-se em clássico universal, intitulada “Tristão e Isolda”.
Comentou que Flávio costumava ler trechos do livro para ela.
Alessandro também costumava aparecer por lá. Certa vez chegou a convidar Letícia para participar de um ensaio em uma escola de samba.
Cecília criticou o moço, mas Alessandro, dizendo que seria algo que ela deveria conhecer, comentou que se distrair faria bem a ela.
Letícia agradeceu o convite mas gentilmente o recusou.
Com efeito, a universitária também visitava Flávio com bastante freqüência.
De manhã Cecília cursava a faculdade de direito, estudava, e a tarde fazia um estágio de meio período em um escritório de advocacia de Flora e Euclides.
Era um escritório especializado em contratos, tanto na área cível quanto na área comercial.
Animada com o trabalho, Cecília perdeu as contas de quantas vezes precisou se dirigir a Junta Comercial de São Paulo, na Barra Funda para realizar o registro de empresas, ou solicitar Certidões de Breve Relato, entre outros documentos.
No caminho, sempre aproveitava para admirar o Memorial da América Latina.
Também comparecia em Cartórios de Registro Civis de Pessoas Jurídicas para realizar registro de Sociedades Simples.
Doutora Flora e Doutor Euclides, como ela costumava chamá-los, estavam satisfeitos com seu trabalho.
Depois de algum tempo no escritório, começou a auxiliá-los na elaboração de contratos.
Olívia sempre ouvia com atenção os relatos da filha sobre o trabalho. Mesmo após o acidente ocorrido com Flávio.
Mas Cecília estava mais comedida. Preocupada com Olívia, evitava falar de seu trabalho, ou de seus problemas.
Mesmo assim, Alessandro percebia que a moça estava sofrendo com a situação pela qual a família estava passando.
Atencioso, sempre ouvia o que Cecília tinha a dizer. Insistia até para que ela lhe falasse o que estava se passando.
A moça porém, pedia às vezes para que ele a deixasse quieta.
Alessandro por sua vez, sempre dizia que acreditava piamente na cura de Flávio. Dizia que quando menos se esperasse, ele despertaria e sairia andando por aí. Comentava que não demoraria, chegaria o dia em que eles poderiam se casar, tendo o irmão de Cecília como padrinho e Letícia como madrinha de casamento dos dois. Respondeu que seria uma festa de casamento bonita, repleta de convidados, e que certamente Flávio e Letícia seriam os próximos a se casarem.
Cecília começou a chorar.
Alessandro a abraçou dizendo que um dia aquelas lágrimas seriam de alegria.
Cecília queria muito acreditar naquelas palavras. Abraçou Alessandro.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Para se Viver um Grande Amor - Capítulo 7
Olívia por sua vez, em suas visitas, aproveitava para saber mais detalhes sobre o estado de saúde de Flávio.
Mas as notícias nunca eram animadoras.
A todo momento os médicos diziam que as chances de Flávio retomar a consciência eram remotas.
Olívia porém, recusava-se em acreditar em tão duro diagnóstico.
Tanto que começou a procurar terapias alternativas para o moço.
Procurou terapeutas espirituais, gurus entre outros.
Todos prometeram cura em algumas semanas.
A cada nova promessa Olívia se enchia de esperança.
Gilberto por sua vez, estremecia a cada novidade da esposa.
Todavia, não tinha coragem para demover a mulher das idéias de uma cura alternativa. Dizia apenas para que tivesse cuidado e não deixasse envolver por charlatães. Comentava que a cura envolveria tempo e paciência, mas que não era impossível.
Olívia ao ouvir tais palavras, costumava dizer que não estava esperando um milagre. Apenas procurava acelerar o processo de cura de Flávio.
E assim, durante algum tempo, a mulher pesquisou tratamentos alternativos.
Com efeito, Flávio acabou passando por algumas terapias.
Porém, para tristeza de Olívia, nenhum dos tratamentos pelos quais o moço passou, surtiu o resultado esperado.
O moço continuava inconsciente.
Tais pesquisas se deram quando Flávio ainda estava em coma. Olívia porém, só pode fazer uso das terapias, somente depois que o rapaz saiu do coma e voltou para o apartamento onde morava.
Gilberto, ao perceber a tristeza da mulher a cada tratamento mal sucedido, ficava a consolá-la. Dizia que ela não devia perder as esperanças e que tudo daria certo a seu tempo. Afirmou acreditar que Flávio iria se recuperar, e que ele só devia ser estimulado para isto. Comentou que Olívia devia conversar com ele sobre suas reminiscências, ler-lhe poesias como Letícia fizera.
A mulher argumentava dizendo que aquilo era muito pouco.
Gilberto retrucava dizendo que não. Argumentando que os estímulos deveriam vir pouco a pouco mesmo, comentou que Flávio precisava de tempo para se recuperar e que seu tempo deveria ser respeitado.
Olívia tinha dificuldade em aceitar isto. Dizendo que procurava dizer palavras de incentivo a Cecília e a Letícia, mas comentou que se sentia pouco sincera, e portadora de palavras vazias.
Gilberto retrucava dizendo que aquelas palavras não eram vazias, e sim pedaços de esperança que vinham do fundo da alma.
Depois dessas conversas os dois se abraçavam longamente.
Diálogos assim eram constantes.
Quando estava a sós com Flávio, Olívia lembrava que ele era uma criança alegre e que ele e sua irmã Cecília viviam às turras, brigando, para depois se entenderem. Eram muito unidos.
Apesar da diferença de idade, se entendiam.
Flávio vivia protegendo a irmã.
Certa vez, chegou a bater em uns garotos que a ficavam provocando.
Eram dois garotos que viviam fazendo a criança chorar. Para provocá-la, ficavam chamando-a de criancinha, de chorona.
Certo dia, ao vê-la correndo, chorando, Flávio perguntou o que estava acontecendo.
Cecília não quis responder, mas ele insistiu. Insistiu até que a menina contou o que estava acontecendo.
Não deu outra.
Assim que pode, Flávio deu uma sova nos garotos. Não foi necessária uma grande surra. Apenas uns tabefes foram o suficiente para afugentá-los.
Depois disto, eles nunca mais mexeram com a criança.
Não contente com isto, Flávio chegou a dizer para a irmã certa vez, que ela deveria bater nos garotos que ficavam mexendo com ela.
Olívia, ao ouvir os conselhos do garoto para a irmã, censurou-o.
Respondeu: - Onde já se viu dar semelhante conselho, Flávio? Isto é coisa que se diga, menino? Ensinar Cecília a agir feito um moleque?
- Ah, mãe! – retrucou. – Ela tem que aprender a se defender! – comentou indignado.
Olívia caiu na risada.
- Você é impossível! – respondeu acariciando o rosto de Flávio.
Lembrar destas histórias, aqueciam seu coração. Traziam a esperança de que Flávio se recuperasse.
Por isto, não se cansava de lembrar de suas travessuras, de seu sonho de ser advogado. Das dificuldades da profissão.
Triste, a certa altura comentou que nunca gostou da decisão que o rapaz tivera, de morar sozinho.
Acreditava que poderia protegê-lo.
Agora, preferia estar no lugar do filho.
Ver Flávio imóvel, respirando por tubos, sem ter a certeza de que ele se recuperaria, se ele se salvaria, era dolorido e angustiante.
Certa vez, Olívia perguntou para si mesma:
- Onde você está meu filho?
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Mas as notícias nunca eram animadoras.
A todo momento os médicos diziam que as chances de Flávio retomar a consciência eram remotas.
Olívia porém, recusava-se em acreditar em tão duro diagnóstico.
Tanto que começou a procurar terapias alternativas para o moço.
Procurou terapeutas espirituais, gurus entre outros.
Todos prometeram cura em algumas semanas.
A cada nova promessa Olívia se enchia de esperança.
Gilberto por sua vez, estremecia a cada novidade da esposa.
Todavia, não tinha coragem para demover a mulher das idéias de uma cura alternativa. Dizia apenas para que tivesse cuidado e não deixasse envolver por charlatães. Comentava que a cura envolveria tempo e paciência, mas que não era impossível.
Olívia ao ouvir tais palavras, costumava dizer que não estava esperando um milagre. Apenas procurava acelerar o processo de cura de Flávio.
E assim, durante algum tempo, a mulher pesquisou tratamentos alternativos.
Com efeito, Flávio acabou passando por algumas terapias.
Porém, para tristeza de Olívia, nenhum dos tratamentos pelos quais o moço passou, surtiu o resultado esperado.
O moço continuava inconsciente.
Tais pesquisas se deram quando Flávio ainda estava em coma. Olívia porém, só pode fazer uso das terapias, somente depois que o rapaz saiu do coma e voltou para o apartamento onde morava.
Gilberto, ao perceber a tristeza da mulher a cada tratamento mal sucedido, ficava a consolá-la. Dizia que ela não devia perder as esperanças e que tudo daria certo a seu tempo. Afirmou acreditar que Flávio iria se recuperar, e que ele só devia ser estimulado para isto. Comentou que Olívia devia conversar com ele sobre suas reminiscências, ler-lhe poesias como Letícia fizera.
A mulher argumentava dizendo que aquilo era muito pouco.
Gilberto retrucava dizendo que não. Argumentando que os estímulos deveriam vir pouco a pouco mesmo, comentou que Flávio precisava de tempo para se recuperar e que seu tempo deveria ser respeitado.
Olívia tinha dificuldade em aceitar isto. Dizendo que procurava dizer palavras de incentivo a Cecília e a Letícia, mas comentou que se sentia pouco sincera, e portadora de palavras vazias.
Gilberto retrucava dizendo que aquelas palavras não eram vazias, e sim pedaços de esperança que vinham do fundo da alma.
Depois dessas conversas os dois se abraçavam longamente.
Diálogos assim eram constantes.
Quando estava a sós com Flávio, Olívia lembrava que ele era uma criança alegre e que ele e sua irmã Cecília viviam às turras, brigando, para depois se entenderem. Eram muito unidos.
Apesar da diferença de idade, se entendiam.
Flávio vivia protegendo a irmã.
Certa vez, chegou a bater em uns garotos que a ficavam provocando.
Eram dois garotos que viviam fazendo a criança chorar. Para provocá-la, ficavam chamando-a de criancinha, de chorona.
Certo dia, ao vê-la correndo, chorando, Flávio perguntou o que estava acontecendo.
Cecília não quis responder, mas ele insistiu. Insistiu até que a menina contou o que estava acontecendo.
Não deu outra.
Assim que pode, Flávio deu uma sova nos garotos. Não foi necessária uma grande surra. Apenas uns tabefes foram o suficiente para afugentá-los.
Depois disto, eles nunca mais mexeram com a criança.
Não contente com isto, Flávio chegou a dizer para a irmã certa vez, que ela deveria bater nos garotos que ficavam mexendo com ela.
Olívia, ao ouvir os conselhos do garoto para a irmã, censurou-o.
Respondeu: - Onde já se viu dar semelhante conselho, Flávio? Isto é coisa que se diga, menino? Ensinar Cecília a agir feito um moleque?
- Ah, mãe! – retrucou. – Ela tem que aprender a se defender! – comentou indignado.
Olívia caiu na risada.
- Você é impossível! – respondeu acariciando o rosto de Flávio.
Lembrar destas histórias, aqueciam seu coração. Traziam a esperança de que Flávio se recuperasse.
Por isto, não se cansava de lembrar de suas travessuras, de seu sonho de ser advogado. Das dificuldades da profissão.
Triste, a certa altura comentou que nunca gostou da decisão que o rapaz tivera, de morar sozinho.
Acreditava que poderia protegê-lo.
Agora, preferia estar no lugar do filho.
Ver Flávio imóvel, respirando por tubos, sem ter a certeza de que ele se recuperaria, se ele se salvaria, era dolorido e angustiante.
Certa vez, Olívia perguntou para si mesma:
- Onde você está meu filho?
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
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