Percebendo que era inútil lutar, pareceu aceitar sua sorte.
Nisto, enquanto aparentemente permanecia resignada, Leonor estudava uma forma de fugir do lugar.
Todos os dias permanecia por horas observando o entorno da propriedade pela janela do castelo.
Revirando discretamente os baús, constatou desolada que muitos dos objetos de decoração que guarneciam o quarto, foram retirados.
Diante disto, passou a olhar ao seu redor.
Vasculhando o quarto, tentou descobrir uma passagem para sair do lugar sem despertar suspeitas.
Em vão.
Com efeito, em que pese não haver encontrada a passagem que esperava, acabou por encontrar uma arma escondida em um encaixe feito em uma das paredes do cômodo, atrás de uma parede falsa, que possuía a sua frente um brasão.
Brasão este provavelmente pertencente a família que ocupara anteriormente o castelo.
Leonor, satisfeita com o achado, procurou se certificar que não entrariam no quarto naquele momento.
Por algum tempo, ficou a analisar a arma.
Verificou que ao lado da arma, havia munição.
Entretida, a moça percebeu se aproximava o momento de Antero novamente entrar no aposento.
Diante disto, guardou a arma no local onde a encontrara, juntamente com a munição. Arrumou a falsa parede, bem como o brasão.
Com isto, pegou um livro repleto de iluminuras que encontrara, e fingiu ler.
Quando Antero adentrou o quarto, não havia vestígios da bagunça que realizara.
O homem então, depositou a bandeja em cima de um baú e saiu.
Leonor por sua vez, avançou sobre a bandeja.
Ávida por comida, devorou tudo o que fora servido.
Ao planejar sua fuga, percebeu que precisa estar forte para se embrenhar na mata, e correr se fosse preciso.
Nisto, quando o conde tornou a visitá-la, percebeu que a moça se encontrava mais disposta.
Viriato ficou satisfeito com isto. Acreditava que a moça havia aceitado sua sorte e que assim, seria mais fácil subjugá-la.
Desta forma, o conde aproximou-se da moça.
Mas como era de se esperar, Leonor se afastou.
Sorrindo, o homem disse:
- Ainda acredita que irá se encontrar com Lourenço! Desista! Aceite o fato de que agora é minha prisioneira. A senhorita não poderá sair daqui.
Leonor permaneceu distante do homem. Não proferiu uma só palavra.
Viriato ficou observando-a. Olhava-a com cobiça.
Leonor não gostava daquele modo de olhar.
O conde porém, dizendo que não iria mais incomodá-la, retirou-se.
A moça estranhou aquele comportamento do conde.
A noite, o homem adentrou o aposento em que a moça estava.
Leonor dormia profundamente.
Cauteloso, Viriato aproximou-se da moça. Ouviu sua respiração.
Ao tentar tocar nela, Leonor mexeu-se.
Viriato afastou a mão.
Leonor começou então a chorar.
Dizendo que não queria estar ali, pedia para que alguém a tirasse de lá.
Dormindo, começou a se virar de um lado para outro na cama.
Nervoso, Viriato pedia para que ela se acalmasse.
Como a moça permanecesse agitada, o homem retirou-se do quarto.
Nisto, a moça parou de agitar-se.
Nos dias que seguiram, o homem adentrava o quarto e ficava de longe observando-a.
Certo dia, o conde adentrou seus aposentos para dizer-lhe que Lourenço havia se esquecido dela.
Leonor ria.
Nervoso, Viriato comentou que seria questão de tempo para que ele a esquecesse.
Dito isto, retirou-se do quarto.
Leonor temeu por um instante que seu noivo se cansasse de procurá-la.
Diante disto, comentou consigo mesma, que não poderia demorar mais para colocar o seu plano de fuga em prática.
Nisto, continuou a examinar a arma, a pólvora.
Vasculhando o quarto minuciosamente, descobriu uma roupa velha. Uma vestimenta masculina a qual poderia usar para se disfarçar em sua fuga.
Atenta aos movimentos dos serviçais, descobriu a hora em que traziam as refeições, preparavam seu banho. Descobriu até, quando os outros serviçais ocupavam o lugar dos primeiros, em substituição àqueles.
Pensando em como faria para fugir do castelo, planejou fugir a noite. Isto porque, mesmo armados, os serviçais de Viriato, não teriam como saber exatamente onde ela estava.
Observando a paisagem do lugar pela janela, Leonor conseguiu notar uma floresta não muito distante dali. É para lá que correria.
A moça sabia que seu plano era arriscado, mas ciente de que precisava se arriscar, decidiu que assim que Viriato partisse novamente para seu castelo, colocaria o plano em prática.
Viriato contudo, não parecia disposto a deixar a propriedade.
Cada dia mais audacioso, chegou a comentar que poderia proporcionar muitos confortos a moça, se ela não lhe resistisse mais. Gentil, disse que poderia lhe proporcionar uma vida de soberana. Coisa a qual afirmou que Lourenço, em que pese todo o seu amor, não poderia lhe oferecer.
Leonor retrucou dizendo que mais importante do que toda a riqueza do mundo era o afeto que ele lhe dedicava. Respondeu que o amor de Lourenço, era a jóia mais preciosa que ela poderia receber, e que nenhum ouro do mundo suplantava àquela riqueza.
Nisto o conde encolerizou-se.
Aproximou-se dela e mesmo à força, roubou-lhe um beijo.
Revoltada, Leonor mordeu-lhe os lábios.
Surpreso com a agressão, Viriato colocou a mão na boca. Em seu lábio havia um corte, de onde saía sangue.
Nisto pegou um lenço e limpou o corte.
Em seguida, disse:
- Eu gosto de mulheres decididas. Quando resistem a mim, eu fico mais louco ainda de vontade de possuí-las. Gosto de um desafio!
Enquanto proferia estas palavras, tentava se aproximar da moça, que se afastava dele.
Viriato continuou:
- Eu gosto do prazer da conquista! Mas a senhorita, é a mulher mais obstinada que eu já conheci. Nunca vi nada parecido antes. Mas não se preocupe! Eu sempre consigo o que quero. Não importa o preço.
O conde então, aproveitando-se de um descuidou da moça, aproximou-se dela.
Pressionou-a contra uma das paredes do quarto. Sorriu vitorioso.
Leonor, ao perceber que não podia se defender, cuspiu em seu rosto.
Nisto Viriato afastou-se.
Furioso, lançou-a contra o chão.
Leonor caiu.
Em seguida, o homem, segurou-a pelos braços obrigando-a a se levantar.
A moça, percebendo que o conde trazia consigo um punhal, tomou-o para si, e ao perceber que ele pretendia jogá-la na cama, segurou a arma contra o próprio pescoço.
Trêmula, disse que se ele encostasse suas mãos nela, se mataria diante de seus olhos.
Nervoso, Viriato tentou tomar a arma de sua mão.
Leonor percebendo isto, apontou a arma contra ele.
O conde afastou-se.
Em seguida, a moça posicionou o punhal contra o pescoço. Chorando, disse que se ele aproximasse, ela se mataria.
Perplexo, o homem perguntou:
- Terias mesmo coragem de fazê-lo?
Leonor pressionou o punhal contra o pescoço.
O conde fez então outra pergunta:
- Te repugna tanto assim, que eu venha a te tocar?
Leonor permaneceu silente.
Viriato então, ao perceber que seu objeto de desejo não o desejava, sentiu-se humilhado.
Derrotado, disse que em nenhuma das mulheres com as quais se envolvera, sentira tamanha rejeição. Respondeu que cedo ou tarde as mesmas acabavam apreciando o fato de se envolverem com ele.
Viriato percebeu então horrorizado, que Leonor sentia nojo dele.
Nisto, novamente se aproximou da moça.
Assustada, a mulher gritou. Argumentou que ele não encostaria suas mãos sujas nela.
Viriato, com uma expressão de profunda dor, disse que não iria lhe fazer nenhum mal. Aflito, pediu para que ela jogasse o punhal no chão. Argumentou que iria se afastar, e que ela poderia depor a arma sem susto.
Nisto, o homem foi se afastando lentamente.
Até que chegou a porta.
Leonor jogou o punhal no chão.
De longe, o homem pediu para que ela não fizesse mais aquilo. Dizendo que iria respeitar o seu tempo, comentou que não iria mais obrigá-la a fazer o que não queria.
Amuado, desejou-lhe boa noite, e fechou a porta.
Leonor tremia de medo.
A noite dormiu mal. A todo o momento acordava sobressaltada.
Chorava.
No dia seguinte, Viriato dirigiu-se até o aposento em que Leonor estava.
Disse-lhe que estava de partida para seu castelo, e que ela não precisava ter medo de suas investidas.
Assustada Leonor permanecia mais distante possível do conde.
Viriato parecia cansado, desanimado.
Por fim, disse que levaria alguns dias para retornar, e que precisavam ter uma conversa definitiva.
Nisto, afastou-se deixando Leonor novamente trancada em seu quarto.
Visando certificar-se de que o conde realmente estava de partida, aproximou de uma das janelas do quarto.
Ficou aguardando Viriato surgir e partir em sua carruagem.
Com efeito, após alguns instantes o homem surgiu. Passou recomendações aos serviçais, e depois, acomodou-se em sua carruagem.
Leonor acompanhou a cena de sua janela.
Aflita ficou a contemplar a paisagem na janela por mais de uma hora. Tudo para que tivesse a mais absoluta certeza de que o homem não retornaria àquela propriedade.
Diante disto, a moça pensou: “É chegado o momento.”
Colocaria em prática os planos para sua fuga naquela mesma noite.
Isto porque, diante das investidas cada vez mais incisivas de Viriato, não conseguiria contornar aquela situação por muito mais tempo.
E assim o fez.
Ao perceber que todos os criados se recolheram, a moça tratou de vestir a roupa que fora deixada no local. Pegou a arma, preparou a munição e guardou parte dos mantimentos levados para ela em uma trouxa improvisada.
Quanto ao punhal, colocou-o na cintura.
Por mais uma vez, olhou pela janela.
Estava tudo escuro.
Em seguida, enchendo-se de coragem, bateu na porta e pediu aos sentinelas que lhe trouxessem um pouco de água.
Após alguns minutos, a porta abriu-se.
Um dos serviçais ofereceu-lhe um copo com água.
Ao abrir a porta, a moça apontou a arma na direção dos homens.
Dizendo-lhes para que não fizessem barulho, avisou que mesmo diante do menor movimento, atiraria.
Em seguida, mandou entrarem nos aposentos.
Antes porém, retirou a chave do quarto do cinto de um deles.
Os homens adentraram o quarto.
Leonor então, trancou-os. Ameaçou-o de morte se gritassem.
Durante alguns minutos ficou a observar se gritariam.
Cautelosa, caminhou vagarosamente pelos corredores da propriedade.
Vasculhou onde ficava a saída, até encontrar a porta.
Ao perceber que estava trancada, procurou o lugar onde eram colocadas as chaves.
Ao encontrá-las tratou logo de abrir a porta.
Leonor então, saiu do imóvel.
Ao se deparar com a escuridão, apesar do medo, sentiu uma imensa liberdade.
O orvalho da noite aquietava seu espírito.
Cuidadosa, a moça resolveu não acender o instrumento que trazia consigo.
Preferiu caminhar na escuridão.
Assim, arrumou um pedaço de madeira e ficou a examinar o terreno.
Caminhou em linha reta em direção a floresta.
Pensou somente ali, acender o instrumento e se guiar pela luz.
Leonor caminhou por toda a noite.
Embrenhou-se pela floresta.
Nisto, quando os serviçais deram por sua falta, a moça distava e muito da propriedade.
Antero, ao ver os sentinelas trancados no quarto em que Leonor estava, tratou de tomar providências.
Ordenou aos homens que vasculhassem toda a região. Se fosse preciso, mais pessoas iriam procurar a moça.
Nervoso, o serviçal ordenou a um mensageiro que avisasse discretamente o conde, que a moça havia fugido.
E assim, todos na propriedade, passaram a procurar Leonor.
Quando finalmente o conde foi informado do ocorrido, encolerizou-se.
Puxando o mensageiro pelo pescoço, perguntou onde estavam os sentinelas que deixaram a moça escapar.
Nervoso, o garoto respondeu que estava ali apenas para entregar uma mensagem, e que aquela pergunta deveria ser feita aos responsáveis pela guarda da donzela.
Com isto, Viriato soltou o estafeta.
O garoto voltou correndo para a propriedade.
Nisto Leonor, depois de dias caminhando pela floresta, encontrou um riacho.
Percebendo que podia atravessá-lo, resolveu caminhar sobre pedras.
As pedras limosas, procurava evitar.
E assim, continuou caminhando.
Ao chegar ao outro lado do rio, percorreu mais um trecho de floresta, até se deparar com um vilarejo.
Tentando se fazer passar por um homem, a moça pediu pouso e comida em troca de trabalho.
Nisto a moça passou a cuidar de cavalos. Escovava seus pelos, dava-lhes ração, trocava a água.
Também varria e limpava o chão da taverna.
Em troca de seu trabalho, dormia no celeiro, e recebia duas refeições, além de algumas moedas.
Viriato por sua vez, continuava a procurar a moça.
Nervoso, ao perceber que a moça planejara a fuga, encheu-se de ódio. Prometeu a si mesmo que a encontraria onde quer que ela estivesse, e que ao resgatá-la, Leonor não faria mais o que bem entendia. Jurou a si mesmo que ela teria aceitá-lo, mesmo que a força. Deveria esquecer seu antigo noivo, assim como sua família.
Impaciente com a demora em recuperar a fujona, Viriato resolveu se distrair com outras mulheres.
Um de seus lacaios, ao ouvir do homem que poderia chamar uma das mulheres do vilarejo, ficou espantado.
Ao perceber a expressão de espanto do serviçal, retrucou:
- Qual a surpresa? Eu não fiz isto a vida inteira? O fato de haver ficado quase um mês em abstinência não impede que eu retome os encontros a qualquer tempo.
E assim foi.
Contudo, ao tentar consumar o ato, Viriato não obteve êxito.
A dama que o acompanhava, ao perceber isto, tentou consolá-lo.
Viriato porém, a empurrou para fora da cama.
Caída a moça chamou-o de covarde.
Nervoso, o homem mandou-a sair do quarto.
Como a mulher o enfrentasse, o conde se encarregou de empurrar a moça porta afora.
Nua, a moça vestiu-se apressadamente. Abandonou o castelo xingando o conde.
Alguns serviçais ouviram parte dos impropérios ditos pela mulher.
Viriato voltou para o leito.
Ficou a pensar em Leonor. No dia em que a viu pela primeira vez. De como ela estava linda.
Ao lembrar de sua fuga, perguntou-se aflito: “Leonor, onde você está?”
Encontrar a moça contudo, foi apenas questão de tempo.
Leonor disfarçada de tratadora de animais, ao juntar uma pequena soma em dinheiro, perguntou aos habitantes do lugarejo, onde ficava a propriedade de Lourenço – um rico senhor da região.
A pergunta, acabou por chamar a atenção de alguns homens.
A esta altura, Leonor já havia partido, encaminhando-se para a propriedade do homem.
Com efeito, os homens de Viriato, já haviam passado pela propriedade.
Seus homens, dizendo que estavam vasculhando a região em busca de uma criminosa foragida, perguntaram a Lourenço, se ele havia visto alguma pessoa suspeita rondando sua propriedade.
O moço, que já havia perdido a esperança de encontrar sua noiva, achou aquela situação deveras estranha.
Afinal de contas, por que uma criminosa foragida iria refugiar-se na propriedade dele?
Lourenço respondeu então, que não notou nenhuma pessoa estranha naquelas paragens, e que dificilmente alguém foragido circularia por ali, sob pena de logo ser encontrado.
Curioso, Lourenço perguntou o nome da moça.
Nervosos, os serviçais disseram que não poderiam dizer o nome da foragida, sob pena de colocar a vida de todos os moradores do lugar, em risco. Os homens disseram apenas, que se tratava de uma pessoa muito perigosa.
Aparecida e Abílio, ao tomarem conhecimento da situação, também desconfiaram da história.
O casal percebeu claramente que estavam sendo ameaçados.
Lourenço parecia intrigado com a história.
Ao refletir sobre o ocorrido, o moço chegou a acreditar que a tal criminosa poderia ser Leonor, que conseguiu fugir de seu cativeiro e que estava tentando ir a seu encontro e o de sua família.
Aflito o moço lembrou-se de haver visitado todos os castelos da região, conversado com nobres, com camponeses e servos. Tudo com vistas a encontrar Leonor.
Visitou as propriedades de todos os participantes da festa organizada no palácio de Viriato.
Tentando encontrar pistas sobre a localização da moça, Lourenço interrogou o próprio conde.
Viriato, espertou com era, disse que no momento do sumiço da moça, conversava com convidados da festa. Argumentou que possuía testemunhas.
Lourenço por sua vez, ao se deparar com uma história tão mal contada como a dos sentinelas que se diziam a serviço de um rico proprietário da região, que tivera seus pertences roubados, acreditou que aquilo tudo não passava de uma desculpa. Uma nuvem de fumaça a encobrir a verdade.
Aflito, Lourenço comentou que Leonor precisava de sua ajuda e ele não podia fazer nada auxiliá-la.
Aparecida e Abílio, disseram que iriam rezar para que ela realmente tivesse fugido de seu cativeiro, e que estivesse indo ao encontro deles.
A espera para eles, era portanto, um tormento.
Viriato por sua vez, ao perceber que a moça não se encontrava escondida na propriedade, ficou furioso.
Nervoso, jogou copos e pratos no chão.
Exigiu que seus homens ficassem vigiando a propriedade.
Furioso, o conde exigiu que seus homens invadissem a propriedade de Lourenço e revirassem todas as coisas, todos os cômodos. Os menores e mais improváveis lugares onde ela poderia se esconder.
Os homens ameaçaram Lourenço, a criadagem, e os pais de Leonor.
Vasculharam todos os recantos da propriedade. Reviraram tudo.
Lourenço, ao perceber que seria inútil lutar, pediu a todos que deixassem os homens fazerem a varredura que queriam.
Estes, ao perceberem que a moça não estava escondida ali, comunicaram o fato a Viriato.
Com isto, Lourenço concluiu que a moça que eles tanto procuravam era Leonor.
Isto por que, ao ter sua propriedade invadida daquela forma, investigou junto a outros moradores e proprietários de terras da região, se também haviam sofrido buscas em suas terras. Perguntara se acaso tiveram suas propriedades invadidas por homens, em busca de uma criminosa.
Ao ser informado que nenhuma das propriedades ao redor fora visitada, concluiu que Leonor devia estar correndo um grande perigo.
Ao dar-se conta disto, formou um grupo de homens de confiança para procurarem novamente pela moça.
Lourenço sentia Leonor estava correndo perigo, e necessitava de sua ajuda.
Leonor por sua vez, agora percorria as estradas, montada em um cavalo.
Disfarçada de homem, a cada noite, pousava em uma propriedade diferente, em casa de camponeses.
Visando se resguardar, a moça livrou-se das primeiras vestes que usara, adquirindo novas roupas.
Isto por que, sabia, que se continuasse com as mesmas vestimentas, seria facilmente reconhecida pelos homens de Viriato.
Com efeito, os sentinelas foram encontrados trancados no quarto, por Antero. Dias depois, foram interrogados por Viriato, que questionou o fato dos mesmos não terem gritado por socorro e tampouco, terem reagido.
Os homens por sua vez disseram que não gritaram por que a moça lhes apontou uma arma, e os obrigou a entrarem no quarto. Em seguida, fechou a porta.
Contudo, dizendo que não poderiam arriscar, ficaram calados. Argumentaram que foram ameaçados caso gritassem.
Ressaltaram ainda, que a moça usava trajes masculinos, e que parecia ter habilidade no manuseio de armas de fogo.
Viriato passou então a se perguntar onde a moça teria arrumado a arma e a vestimenta.
Furioso, chegou a pensar que as sentinelas tivessem auxiliado na fuga.
Não fosse a intervenção de Antero, que dissera que eles apenas eram dois tolos, e os homens poderiam ter morrido nas mãos do conde.
Viriato estava intrigado com o fato de ainda não ter posto suas mãos em Leonor.
Furioso, sonhava com a moça encontrando-se com Lourenço, e caminhando de mãos dadas, feliz, com o amado.
Sonhar com isto, o fazia sofrer.
Contudo, o homem não desistira de encontrar a moça.
Obstinado, o conde continuou as buscas.
Nisto, a moça estava cada vez mais próxima da propriedade de Lourenço.
Viriato ao perceber que Leonor não havia se encontrado com o moço, persistiu na idéia de vigiar suas terras.
Pensando melhor na situação, decidiu investigar também, o caminho pela floresta.
Muito embora, considerasse pouco provavel que a moça tivesse se embrenhado na mata, organizou uma equipe para vasculhar a região.
Nisto, os homens depois de uma longa caminhada pela mata, ao término de alguns dias, chegaram a um vilarejo.
Lá, descobriram que um rapaz, com as descrições e as vestes mencionadas pelas sentinelas, havia permanecido alguns dias no local.
Perguntando aqui e ali, descobriram que o moço procurava um caminho para seguir até a propriedade do senhor Lourenço.
Quando Viriato tomou conhecimento destes detalhes, ficou deveras satisfeito.
Embora por um momento tenha temido nunca mais tornar a vê-la, posto que não a encontrava, finalmente descobriu que a moça jamais partiria sem encontrar o seu amado.
Com isto, não satisfeito em apenas vigiar a propriedade do amigo, Viriato, ao saber que ele também estava a procura de Leonor, resolveu preparar-lhe um armadilha.
Dizendo para si mesmo que ela precisava entender que seu destino estava selado, comentou que ninguém podia fazer nada contra isto. Argumentou que nem mesmo o amor de Lourenço, iria atrapalhar seu intento. Dizia que ficaria com Leonor, nem que para isto, fosse preciso matar seu amigo.
E assim, preparou uma emboscada para o moço.
Arrumando uma falsa pista sobre o paradeiro da moça, Viriato fez com que Lourenço percorresse trilhas e caminhos ermos, até ser baleado por um de seus homens.
Leonor por sua vez, procurava seguir o caminho das terras de Lourenço por caminhos alternativos, mais longos que os convencionais.
Tudo com vistas a despistar os homens de Viriato e conseguir chegar ao seu destino.
Ferido, Lourenço foi levado por seus homens de confiança, até sua propriedade.
Lá, o rapaz foi cuidado por Abílio e Aparecida.
A mulher, ao avistar o homem inconsciente, deitado em seu cavalo, soltou um grito de pavor.
Abílio chocou-se igualmente, ao ver a cena.
Nisto, Lourenço foi conduzido para sua casa.
Aparecida cuidou do ferimento, e Abílio retirou a bala com uma faca.
Por fim, depois de ser cuidado pelo casal, Lourenço permaneceu inconsciente em sua cama.
Mais tarde, conversando entre si, o casal percebeu que a situação era mais grave do que imaginavam.
Triste, Aparecida concluiu que se Leonor não aparecesse logo, eles poderiam ser as próximas vítimas do algoz.
Ao se aperceberem disto, o casal foi as lágrimas.
Constataram que muito provavelmente, quem estava por traz do sumiço da moça, e de toda aquela confusão, era Viriato.
Abílio chorando, reconheceu que sua filha estava perdida.
Nisto, Lourenço permaneceu acamado por quase duas semanas.
Durante todo este tempo teve febre. Delírios. A todo o momento dizia para Leonor fugir.
Aparecida estava cada vez mais preocupada.
Leonor por sua vez, continuava a fugir.
Ao descobrir que era perseguida pelos homens de Viriato, resolveu adiar seus planos de se encontrar com Lourenço.
Viriato por sua vez, estava impaciente.
Isto por que, o tempo passava, e não era obtida nenhuma pista da moça.
Nervoso, chegou a pensar até, em pagar uma recompensa para quem tivesse alguma pista sobre seu paradeiro, ou mesmo a encontrasse e trouxesse em sua presença.
Antero – serviçal de confiança do conde –, aconselhou-o a não fazê-lo, sob pena de um novo escândalo.
- As favas, o escândalo! – retrucou nervoso.
Ansioso, prometeu que assim que colocasse as mãos nela, Leonor não iria mais escapar-lhe. Iria se arrepender de o haver desafiado.
Nisto começou a rir, dizendo que sua vingança já havia começado.
Lourenço permanecia convalescente.
Aparecida e Abílio, permaneciam quase todo o tempo cuidando do moço. Velavam seu sono.
Preocupados, também se perguntavam constantemente, onde estaria a filha – Leonor.
Leonor por sua vez, passou a rondar a propriedade de Lourenço.
Os vigias de Viriato, ao notarem a presença constante de um rapaz na região, foram logo lhe contar a novidade.
O conde, ao tomar conhecimento dos fatos, ficou deveras satisfeito. Chegou até a esboçar um sorriso.
Nisto, um dos vigias, perguntou-lhe se poderiam prender o moço suspeito.
Viriato respondeu que não.
Cauteloso, sugeriu que eles vigiassem as terras discretamente, para que o tal moço não se apercebesse de que ele também estava sendo observado.
E assim, esquecida das cautelas, Leonor, impaciente, passou a rondar a propriedade de Lourenço.
Cavalgava até os limites da propriedade e depois retornava, receosa.
Viriato chamou então, outros homens para vigiarem as terras.
Disfarçados de camponeses, geralmente estavam sem cavalo.
Certo dia, a moça, usando trajes masculinos, perguntou no vilarejo, como estava Lourenço e sua família.
O dono do armazém, o senhor Teobaldo, comentou então, que a vida do moço não estava sendo nada fácil. Isto por que o moço perdera os pais num acidente há poucos anos, tornando-se responsável por uma vasta quantidade de terras. Nisto, apaixonou por uma bela camponesa, e assumiu um compromisso de noivado com ela.
Contudo, quando parecia que tudo se encaminhava para um bom termo, a moça fora sequestrada, arrebatada no castelo do Conde, durante uma festa. Desde então, nunca foi encontrada.
Não bastasse isto, o desespero de Lourenço e dos pais da moça procurando-a, o moço teve sua propriedade invadida por homens perseguindo uma criminosa, e o homem, tentando procurar sua amada, foi baleado.
Leonor, ao ouvir estas palavras derrubou o copo com bebida, que segurava.
Aflita, perguntou:
- Baleado! Como ele está?
Teobaldo, percebendo o comportamento estranho do rapaz, passou a olhá-lo com curiosidade.
Nisto, Leonor, tentando consertar a situação, e engrossando a voz, respondeu que estava preocupado com o moço, posto que eles foram muito amigos quando crianças.
O homem respondeu então, que Lourenço não andava nada bem. Ardia em febre.
Ao ouvir isto, Leonor se afligiu.
Teobaldo respondeu-lhe então:
- Não se preocupe! Lourenço é um homem forte. Vai se recuperar.
Nisto a moça pagou a conta e partiu.
Nervosa, galopou pelo vilarejo até se deparar com a propriedade de Lourenço. Despindo-se de toda a cautela que tivera até então, cruzou os portões da propriedade e caminhou por entre aqueles campos que lhe eram tão familiares.
Os vigias disfarçados de camponeses, ao perceberem isto, trataram logo de avisar Viriato.
O conde, ao ser informado disto, tratou logo de se preparar para o encontro.
Trajando vestes de camponeses, os homens dirigiram-se a propriedade de Lourenço.
Nisto, Leonor continuava galopando.
A propriedade era vastíssima.
Nisto, a certa altura, Leonor aproximou-se da casa de seu noivo.
Cheia de dúvidas, deteve-se por um momento.
Ao perceber que Aparecida saía da casa, Leonor resolveu se afastar. Não poderia ser reconhecida.
Com isto, notando que a mulher se afastava, levou o cavalo até um celeiro.
Depois, esgueirou-se pelos muros da casa.
Adentrou o imóvel.
Caminhando sem fazer barulho, percorreu corredores até chegar a escada, que subiu pé ante pé.
Nisto caminhou por um longo corredor, até se deparar com o quarto em que Lourenço dormia. Ou melhor, se recuperava do sofrimento sofrido.
Ao entrar no quarto, percebeu que o homem delirava.
Ardendo de febre, Lourenço pedia para Leonor suportar seu cativeiro, por que seu fim estava próximo. Ele estava indo buscá-la.
Delirando chamava pela moça o tempo todo.
Aflita, Leonor lhe respondia:
- Estou aqui meu amor! Estou aqui!
Lourenço contudo, não podia ouvi-la. Estava convalescente.
A moça tentou tranquilizá-lo dizendo que estava bem. Que estava sã e salva.
Em vão. O moço continuava intranquilo, chamando seu nome.
A esta altura, Abílio entrou no quarto.
Pondo a mão em seu rosto, o homem percebeu que Lourenço ainda tinha febre.
Lourenço então, tornou a delirar.
Preocupado, Abílio saiu do quarto. Ainda no corredor, chamou uma das criadas.
Precisava que alguém vigiasse o sono do moço, para que ele pudesse procurar Aparecida.
Com isto, desceu as escadas.
Leonor aproximou-se novamente do noivo.
Disse-lhe que retornaria, assim que ele se recuperasse, e que eles conversariam. Pensariam juntos, em uma forma de se desembaraçarem daquela situação.
Prometeu que eles tornariam a ficar juntos.
Em seguida, beijou a fronte do moço.
Chorando, afastou-se do leito. Com o coração pesando, retirou-se do aposento em que ele estava. Desceu a escadas, venceu os corredores da casa e saiu do imóvel.
Nisto, adentrou o celeiro, e montando no cavalo, saiu da propriedade.
Ao se aproximar do portão de entrada, a moça foi abordada por alguns camponeses.
Com isto, o cavalo em que fizera montaria, assustou-se.
Por pouco a moça não foi ao chão.
Leonor, tentando se livrar dos homens, começou a fustigá-los com o chicote.
Nisto, o conde, disfarçado de camponês, a aguardava.
Ansioso, ao ver a luta, resolveu se aproximar.
Acompanhado por outros quarto homens armados, o conde resolveu se apresentar:
- Ora! Ora! E não é que a senhorita Leonor? Como estás diferente!
A moça ao vê-lo, tentou fugir.
Viriato contudo, dizendo que seus homens estavam armados, disse-lhe que era inútil fugir.
Ainda assim, a moça tentou resistir.
Nervoso, Viriato respondeu que atiraria se fosse preciso.
Leonor contudo, não parecia se intimidar.
Viriato disse-lhe então, que ela deveria pensar em Lourenço, antes de agir de forma tão intempestiva.
A moça então se deteve.
Viriato por sua vez, apeou do cavalo.
Aproximou-se da moça. Exigiu que ela também descesse do cavalo.
Leonor relutava.
Irritado, Viriato gritou, exigindo que ela apeasse do animal.
Sem alternativa, a moça desceu do cavalo, sendo auxiliada pelo conde.
Leonor então, foi levada por Viriato até o seu cavalo, seguindo viagem junto a ele.
Os vigias seguiram o conde e Leonor a distância.
E assim, seguiram para o castelo.
Ao lá chegar, Viriato desceu do cavalo, auxiliando a moça a descer.
Imediatamente segurou seu braço e foi lhe empurrando para dentro do castelo.
Caminhando apressadamente, exigiu que a moça também andasse rápido.
Com isto, subiram a escada, caminharam pelo corredor que dava acesso aos quartos.
Nisto o homem empurrou a moça para dentro de um dos aposentos.
Entrando no lugar, soltou seu braço, lançando-a ao chão.
Leonor permaneceu caída ao chão.
Viriato nervoso, aproximou-se da moça exigindo que ela se levantasse.
Como Leonor se recusava a fazê-lo, o moço abaixou-se e segurando seu braço, puxou-a.
Olhando-a nos olhos, disse que ela não devia ter tentado fugir.
Os olhos de Leonor pareciam vazios.
Nervoso, o homem continuou:
- Sua tola! Achas realmente que iria conseguir escapar? Não sabes que eu tenho olhos por toda a parte? Ouça bem. Isto não vai ficar impune. A senhorita vai pagar por isto... Aliás, o tiro que Lourenço levou, foi só o começo... Não me desafie. Você vai se arrepender.
Aflita, Leonor perguntou o que ele pretendia. Nervosa, perguntou que se já não fora o suficiente, todo o sofrimento que ela vinha suportando.
Viriato, por sua vez, segurou as mãos da moça.
Comentou que as mãos delas estavam grossas, como as de alguém que se ocupava de cuidar dos animais.
Leonor respondeu então, que sempre trabalhara executando serviços pesados. Comentou que sua mãe era uma serviçal, uma camponesa, e que ela também ajudava a cuidar da propriedade.
Viriato respondeu-lhe então, que ela não precisava mais se ocupar de serviços tão pesados. Tocando em seu rosto, disse que uma beleza delicada como a dela, merecia um melhor destino do que continuar a ser criada nas terras de Lourenço.
Leonor virou o rosto.
Afastou-se do conde.
Nisto, ao perceber que a moça ficara contrariada com suas palavras, o conde disse:
- Não gostou do que eu disse? Mas a senhorita era uma criada de fato.
Leonor olhou-o furiosa.
Viriato, ao perceber isto, respondeu:
- Comigo as coisas serão diferentes. Você não será uma criada. Muito pelo contrário, será muito mais que uma criada... Eu faço uma proposta ... Case-se comigo! Case-se comigo! E eu te darei uma vida de princesa. Ou melhor, de rainha!
Leonor ficou perplexa.
O conde insistiu.
A moça respondeu que não se casaria com ele, nem se ele fosse o único homem a habitar aquelas paragens.
Viriato irritou-se com aquelas palavras.
Puxando-a pelo braço, disse que ela se casaria com ele. Argumentou que se esta era sua vontade, e que ela deveria obedecê-lo.
Leonor gritando, disse-lhe que estava noiva de Lourenço, com que iria se casar, e que em seu coração, não havia espaço para mais ninguém. Chorando, disse que o moço nunca a tratara como criada, e que ele, ao contrário do conde, jamais a forçaria a fazer algo que não quisesse.
Com isto, ao terminar de proferir estas palavras, Leonor ficou de costas para ele.
Irritado o homem exigiu que ela se voltasse para ele.
A moça se recusou.
Impaciente, Viriato puxou-a.
Leonor reclamou dizendo que ele a estava machucando com seus empurrões.
Viriato puxou os braços da moça.
Afastou as mangas do seu vestido.
Ao observar os braços da moça, percebeu que os mesmos estavam roxos.
Diante disto, comentou que não sabia que a havia machucado.
Os olhos de Leonor estavam cheios d´água.
A moça tentou se desvencilhar do conde.
Ao perceber nisto, o homem respondeu irritado:
- Pare com isto! Não percebeste que não adianta resistir?
Leonor respondeu que quando Lourenço soubesse a verdade viria buscá-la, e que ele iria se arrepender do que fizera.
Viriato ainda segurando os braços da moça, riu. Irritado respondeu:
- Se a senhorita de fato ama este homem, deveria pensar um pouco em seu bem estar. Não acha? Afinal de contas, ninguém está livre de sofrer um acidente.
Leonor assustou-se com as palavras de Viriato.
Lembrou-se que o homem havia sido ferido, e ardia em febre. Ao cogitar que ele poderia ter participação no ocorrido, investiu contra ele.
Ameaçando-lhe com os punhos a levantar a mão contra ele, o conde segurou sua mão.
- Nunca mais levante sua mão para mim! Nunca mais! Ou não haverá mais Lourenço!
Leonor olhou para ele assustada.
- O senhor não fará nenhum mal a ele não é? – perguntou a moça, com voz chorosa.
- Depende do que me será dado em troca. – respondeu ele – Afinal, podemos marcar o casamento?
Leonor respondeu que não.
Nervoso, Viriato respondeu que se ela não o fizesse por bem, faria por mal.
Nisto o homem investiu contra a moça.
Avançando contra ela, começou a beijar-lhe os cabelos, o rosto, o pescoço.
Leonor implorou para que ele não o fizesse. Chorou, pediu para que parasse.
Nisto Viriato a pressionou contra a parede.
A moça se debatia desesperada.
A certa altura, percebendo a distração do moço, que planejava jogá-la na cama, chutou-lhe.
Viriato soltou-lhe imediatamente.
Encolheu-se por conta da dor.
Com isto, recompondo-se, o conde aproximou-se dela e lhe deu um tapa no rosto.
Furioso, saiu mancando. Trancou o quarto.
Leonor permaneceu trancada no aposento. Chorou até cansar. Até exausta, adormeceu.
Tencionando castigá-la, Viriato deixou-a isolada por dois dias.
Luciana Celestino dos Santos
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