Poesias

quinta-feira, 1 de julho de 2021

CANTIGAS DE AMIGO – TROVAS LÍRICAS - Capítulo 3

Leonor por sua vez, permanecia discreta.
Percebendo que era inútil lutar, pareceu aceitar sua sorte.
Nisto, enquanto aparentemente permanecia resignada, Leonor estudava uma forma de fugir do lugar.
Todos os dias permanecia por horas observando o entorno da propriedade pela janela do castelo.
Revirando discretamente os baús, constatou desolada que muitos dos objetos de decoração que guarneciam o quarto, foram retirados.
Diante disto, passou a olhar ao seu redor.
Vasculhando o quarto, tentou descobrir uma passagem para sair do lugar sem despertar suspeitas.
Em vão.
Com efeito, em que pese não haver encontrada a passagem que esperava, acabou por encontrar uma arma escondida em um encaixe feito em uma das paredes do cômodo, atrás de uma parede falsa, que possuía a sua frente um brasão.
Brasão este provavelmente pertencente a família que ocupara anteriormente o castelo.
Leonor, satisfeita com o achado, procurou se certificar que não entrariam no quarto naquele momento.
Por algum tempo, ficou a analisar a arma.
Verificou que ao lado da arma, havia munição.
Entretida, a moça percebeu se aproximava o momento de Antero novamente entrar no aposento.
Diante disto, guardou a arma no local onde a encontrara, juntamente com a munição. Arrumou a falsa parede, bem como o brasão.
Com isto, pegou um livro repleto de iluminuras que encontrara, e fingiu ler.
Quando Antero adentrou o quarto, não havia vestígios da bagunça que realizara.
O homem então, depositou a bandeja em cima de um baú e saiu.
Leonor por sua vez, avançou sobre a bandeja.
Ávida por comida, devorou tudo o que fora servido.
Ao planejar sua fuga, percebeu que precisa estar forte para se embrenhar na mata, e correr se fosse preciso.

Nisto, quando o conde tornou a visitá-la, percebeu que a moça se encontrava mais disposta.
Viriato ficou satisfeito com isto. Acreditava que a moça havia aceitado sua sorte e que assim, seria mais fácil subjugá-la.
Desta forma, o conde aproximou-se da moça.
Mas como era de se esperar, Leonor se afastou.
Sorrindo, o homem disse:
- Ainda acredita que irá se encontrar com Lourenço! Desista! Aceite o fato de que agora é minha prisioneira. A senhorita não poderá sair daqui.
Leonor permaneceu distante do homem. Não proferiu uma só palavra.
Viriato ficou observando-a. Olhava-a com cobiça.
Leonor não gostava daquele modo de olhar.
O conde porém, dizendo que não iria mais incomodá-la, retirou-se.
A moça estranhou aquele comportamento do conde.
A noite, o homem adentrou o aposento em que a moça estava.
Leonor dormia profundamente.
Cauteloso, Viriato aproximou-se da moça. Ouviu sua respiração.
Ao tentar tocar nela, Leonor mexeu-se.
Viriato afastou a mão.
Leonor começou então a chorar.
Dizendo que não queria estar ali, pedia para que alguém a tirasse de lá.
Dormindo, começou a se virar de um lado para outro na cama.
Nervoso, Viriato pedia para que ela se acalmasse.
Como a moça permanecesse agitada, o homem retirou-se do quarto.
Nisto, a moça parou de agitar-se.

Nos dias que seguiram, o homem adentrava o quarto e ficava de longe observando-a.
Certo dia, o conde adentrou seus aposentos para dizer-lhe que Lourenço havia se esquecido dela.
Leonor ria.
Nervoso, Viriato comentou que seria questão de tempo para que ele a esquecesse.
Dito isto, retirou-se do quarto.
Leonor temeu por um instante que seu noivo se cansasse de procurá-la.
Diante disto, comentou consigo mesma, que não poderia demorar mais para colocar o seu plano de fuga em prática.
Nisto, continuou a examinar a arma, a pólvora.
Vasculhando o quarto minuciosamente, descobriu uma roupa velha. Uma vestimenta masculina a qual poderia usar para se disfarçar em sua fuga.
Atenta aos movimentos dos serviçais, descobriu a hora em que traziam as refeições, preparavam seu banho. Descobriu até, quando os outros serviçais ocupavam o lugar dos primeiros, em substituição àqueles.
Pensando em como faria para fugir do castelo, planejou fugir a noite. Isto porque, mesmo armados, os serviçais de Viriato, não teriam como saber exatamente onde ela estava.
Observando a paisagem do lugar pela janela, Leonor conseguiu notar uma floresta não muito distante dali. É para lá que correria.
A moça sabia que seu plano era arriscado, mas ciente de que precisava se arriscar, decidiu que assim que Viriato partisse novamente para seu castelo, colocaria o plano em prática.
Viriato contudo, não parecia disposto a deixar a propriedade.
Cada dia mais audacioso, chegou a comentar que poderia proporcionar muitos confortos a moça, se ela não lhe resistisse mais. Gentil, disse que poderia lhe proporcionar uma vida de soberana. Coisa a qual afirmou que Lourenço, em que pese todo o seu amor, não poderia lhe oferecer.
Leonor retrucou dizendo que mais importante do que toda a riqueza do mundo era o afeto que ele lhe dedicava. Respondeu que o amor de Lourenço, era a jóia mais preciosa que ela poderia receber, e que nenhum ouro do mundo suplantava àquela riqueza.
Nisto o conde encolerizou-se.
Aproximou-se dela e mesmo à força, roubou-lhe um beijo.
Revoltada, Leonor mordeu-lhe os lábios.
Surpreso com a agressão, Viriato colocou a mão na boca. Em seu lábio havia um corte, de onde saía sangue.
Nisto pegou um lenço e limpou o corte.
Em seguida, disse:
- Eu gosto de mulheres decididas. Quando resistem a mim, eu fico mais louco ainda de vontade de possuí-las. Gosto de um desafio!
Enquanto proferia estas palavras, tentava se aproximar da moça, que se afastava dele.
Viriato continuou:
- Eu gosto do prazer da conquista! Mas a senhorita, é a mulher mais obstinada que eu já conheci. Nunca vi nada parecido antes. Mas não se preocupe! Eu sempre consigo o que quero. Não importa o preço.
O conde então, aproveitando-se de um descuidou da moça, aproximou-se dela.
Pressionou-a contra uma das paredes do quarto. Sorriu vitorioso.
Leonor, ao perceber que não podia se defender, cuspiu em seu rosto.
Nisto Viriato afastou-se.
Furioso, lançou-a contra o chão.
Leonor caiu.
Em seguida, o homem, segurou-a pelos braços obrigando-a a se levantar.
A moça, percebendo que o conde trazia consigo um punhal, tomou-o para si, e ao perceber que ele pretendia jogá-la na cama, segurou a arma contra o próprio pescoço.
Trêmula, disse que se ele encostasse suas mãos nela, se mataria diante de seus olhos.
Nervoso, Viriato tentou tomar a arma de sua mão.
Leonor percebendo isto, apontou a arma contra ele.
O conde afastou-se.
Em seguida, a moça posicionou o punhal contra o pescoço. Chorando, disse que se ele aproximasse, ela se mataria.
Perplexo, o homem perguntou:
- Terias mesmo coragem de fazê-lo?
Leonor pressionou o punhal contra o pescoço.
O conde fez então outra pergunta:
- Te repugna tanto assim, que eu venha a te tocar?
Leonor permaneceu silente.
Viriato então, ao perceber que seu objeto de desejo não o desejava, sentiu-se humilhado.
Derrotado, disse que em nenhuma das mulheres com as quais se envolvera, sentira tamanha rejeição. Respondeu que cedo ou tarde as mesmas acabavam apreciando o fato de se envolverem com ele.
Viriato percebeu então horrorizado, que Leonor sentia nojo dele.
Nisto, novamente se aproximou da moça.
Assustada, a mulher gritou. Argumentou que ele não encostaria suas mãos sujas nela.
Viriato, com uma expressão de profunda dor, disse que não iria lhe fazer nenhum mal. Aflito, pediu para que ela jogasse o punhal no chão. Argumentou que iria se afastar, e que ela poderia depor a arma sem susto.
Nisto, o homem foi se afastando lentamente.
Até que chegou a porta.
Leonor jogou o punhal no chão.
De longe, o homem pediu para que ela não fizesse mais aquilo. Dizendo que iria respeitar o seu tempo, comentou que não iria mais obrigá-la a fazer o que não queria.
Amuado, desejou-lhe boa noite, e fechou a porta.
Leonor tremia de medo.
A noite dormiu mal. A todo o momento acordava sobressaltada.
Chorava.
No dia seguinte, Viriato dirigiu-se até o aposento em que Leonor estava.
Disse-lhe que estava de partida para seu castelo, e que ela não precisava ter medo de suas investidas.
Assustada Leonor permanecia mais distante possível do conde.
Viriato parecia cansado, desanimado.
Por fim, disse que levaria alguns dias para retornar, e que precisavam ter uma conversa definitiva.
Nisto, afastou-se deixando Leonor novamente trancada em seu quarto.
Visando certificar-se de que o conde realmente estava de partida, aproximou de uma das janelas do quarto.
Ficou aguardando Viriato surgir e partir em sua carruagem.
Com efeito, após alguns instantes o homem surgiu. Passou recomendações aos serviçais, e depois, acomodou-se em sua carruagem.
Leonor acompanhou a cena de sua janela.
Aflita ficou a contemplar a paisagem na janela por mais de uma hora. Tudo para que tivesse a mais absoluta certeza de que o homem não retornaria àquela propriedade.
Diante disto, a moça pensou: “É chegado o momento.”
Colocaria em prática os planos para sua fuga naquela mesma noite.
Isto porque, diante das investidas cada vez mais incisivas de Viriato, não conseguiria contornar aquela situação por muito mais tempo.
E assim o fez.

Ao perceber que todos os criados se recolheram, a moça tratou de vestir a roupa que fora deixada no local. Pegou a arma, preparou a munição e guardou parte dos mantimentos levados para ela em uma trouxa improvisada.
Quanto ao punhal, colocou-o na cintura.
Por mais uma vez, olhou pela janela.
Estava tudo escuro.
Em seguida, enchendo-se de coragem, bateu na porta e pediu aos sentinelas que lhe trouxessem um pouco de água.
Após alguns minutos, a porta abriu-se.
Um dos serviçais ofereceu-lhe um copo com água.
Ao abrir a porta, a moça apontou a arma na direção dos homens.
Dizendo-lhes para que não fizessem barulho, avisou que mesmo diante do menor movimento, atiraria.
Em seguida, mandou entrarem nos aposentos.
Antes porém, retirou a chave do quarto do cinto de um deles.
Os homens adentraram o quarto.
Leonor então, trancou-os. Ameaçou-o de morte se gritassem.
Durante alguns minutos ficou a observar se gritariam.
Cautelosa, caminhou vagarosamente pelos corredores da propriedade.
Vasculhou onde ficava a saída, até encontrar a porta.
Ao perceber que estava trancada, procurou o lugar onde eram colocadas as chaves.
Ao encontrá-las tratou logo de abrir a porta.
Leonor então, saiu do imóvel.
Ao se deparar com a escuridão, apesar do medo, sentiu uma imensa liberdade.
O orvalho da noite aquietava seu espírito.
Cuidadosa, a moça resolveu não acender o instrumento que trazia consigo.
Preferiu caminhar na escuridão.
Assim, arrumou um pedaço de madeira e ficou a examinar o terreno.
Caminhou em linha reta em direção a floresta.
Pensou somente ali, acender o instrumento e se guiar pela luz.
Leonor caminhou por toda a noite.
Embrenhou-se pela floresta.
Nisto, quando os serviçais deram por sua falta, a moça distava e muito da propriedade.
Antero, ao ver os sentinelas trancados no quarto em que Leonor estava, tratou de tomar providências.
Ordenou aos homens que vasculhassem toda a região. Se fosse preciso, mais pessoas iriam procurar a moça.
Nervoso, o serviçal ordenou a um mensageiro que avisasse discretamente o conde, que a moça havia fugido.
E assim, todos na propriedade, passaram a procurar Leonor.
Quando finalmente o conde foi informado do ocorrido, encolerizou-se.
Puxando o mensageiro pelo pescoço, perguntou onde estavam os sentinelas que deixaram a moça escapar.
Nervoso, o garoto respondeu que estava ali apenas para entregar uma mensagem, e que aquela pergunta deveria ser feita aos responsáveis pela guarda da donzela.
Com isto, Viriato soltou o estafeta.
O garoto voltou correndo para a propriedade.

Nisto Leonor, depois de dias caminhando pela floresta, encontrou um riacho.
Percebendo que podia atravessá-lo, resolveu caminhar sobre pedras.
As pedras limosas, procurava evitar.
E assim, continuou caminhando.
Ao chegar ao outro lado do rio, percorreu mais um trecho de floresta, até se deparar com um vilarejo.
Tentando se fazer passar por um homem, a moça pediu pouso e comida em troca de trabalho.
Nisto a moça passou a cuidar de cavalos. Escovava seus pelos, dava-lhes ração, trocava a água.
Também varria e limpava o chão da taverna.
Em troca de seu trabalho, dormia no celeiro, e recebia duas refeições, além de algumas moedas.

Viriato por sua vez, continuava a procurar a moça.
Nervoso, ao perceber que a moça planejara a fuga, encheu-se de ódio. Prometeu a si mesmo que a encontraria onde quer que ela estivesse, e que ao resgatá-la, Leonor não faria mais o que bem entendia. Jurou a si mesmo que ela teria aceitá-lo, mesmo que a força. Deveria esquecer seu antigo noivo, assim como sua família.
Impaciente com a demora em recuperar a fujona, Viriato resolveu se distrair com outras mulheres.
Um de seus lacaios, ao ouvir do homem que poderia chamar uma das mulheres do vilarejo, ficou espantado.
Ao perceber a expressão de espanto do serviçal, retrucou:
- Qual a surpresa? Eu não fiz isto a vida inteira? O fato de haver ficado quase um mês em abstinência não impede que eu retome os encontros a qualquer tempo.
E assim foi.
Contudo, ao tentar consumar o ato, Viriato não obteve êxito.
A dama que o acompanhava, ao perceber isto, tentou consolá-lo.
Viriato porém, a empurrou para fora da cama.
Caída a moça chamou-o de covarde.
Nervoso, o homem mandou-a sair do quarto.
Como a mulher o enfrentasse, o conde se encarregou de empurrar a moça porta afora.
Nua, a moça vestiu-se apressadamente. Abandonou o castelo xingando o conde.
Alguns serviçais ouviram parte dos impropérios ditos pela mulher.
Viriato voltou para o leito.
Ficou a pensar em Leonor. No dia em que a viu pela primeira vez. De como ela estava linda.
Ao lembrar de sua fuga, perguntou-se aflito: “Leonor, onde você está?”

Encontrar a moça contudo, foi apenas questão de tempo.
Leonor disfarçada de tratadora de animais, ao juntar uma pequena soma em dinheiro, perguntou aos habitantes do lugarejo, onde ficava a propriedade de Lourenço – um rico senhor da região.
A pergunta, acabou por chamar a atenção de alguns homens.
A esta altura, Leonor já havia partido, encaminhando-se para a propriedade do homem.

Com efeito, os homens de Viriato, já haviam passado pela propriedade.
Seus homens, dizendo que estavam vasculhando a região em busca de uma criminosa foragida, perguntaram a Lourenço, se ele havia visto alguma pessoa suspeita rondando sua propriedade.
O moço, que já havia perdido a esperança de encontrar sua noiva, achou aquela situação deveras estranha.
Afinal de contas, por que uma criminosa foragida iria refugiar-se na propriedade dele?
Lourenço respondeu então, que não notou nenhuma pessoa estranha naquelas paragens, e que dificilmente alguém foragido circularia por ali, sob pena de logo ser encontrado.
Curioso, Lourenço perguntou o nome da moça.
Nervosos, os serviçais disseram que não poderiam dizer o nome da foragida, sob pena de colocar a vida de todos os moradores do lugar, em risco. Os homens disseram apenas, que se tratava de uma pessoa muito perigosa.
Aparecida e Abílio, ao tomarem conhecimento da situação, também desconfiaram da história.
O casal percebeu claramente que estavam sendo ameaçados.
Lourenço parecia intrigado com a história.
Ao refletir sobre o ocorrido, o moço chegou a acreditar que a tal criminosa poderia ser Leonor, que conseguiu fugir de seu cativeiro e que estava tentando ir a seu encontro e o de sua família.
Aflito o moço lembrou-se de haver visitado todos os castelos da região, conversado com nobres, com camponeses e servos. Tudo com vistas a encontrar Leonor.
Visitou as propriedades de todos os participantes da festa organizada no palácio de Viriato.
Tentando encontrar pistas sobre a localização da moça, Lourenço interrogou o próprio conde.
Viriato, espertou com era, disse que no momento do sumiço da moça, conversava com convidados da festa. Argumentou que possuía testemunhas.
Lourenço por sua vez, ao se deparar com uma história tão mal contada como a dos sentinelas que se diziam a serviço de um rico proprietário da região, que tivera seus pertences roubados, acreditou que aquilo tudo não passava de uma desculpa. Uma nuvem de fumaça a encobrir a verdade.
Aflito, Lourenço comentou que Leonor precisava de sua ajuda e ele não podia fazer nada auxiliá-la.
Aparecida e Abílio, disseram que iriam rezar para que ela realmente tivesse fugido de seu cativeiro, e que estivesse indo ao encontro deles.
A espera para eles, era portanto, um tormento.

Viriato por sua vez, ao perceber que a moça não se encontrava escondida na propriedade, ficou furioso.
Nervoso, jogou copos e pratos no chão.
Exigiu que seus homens ficassem vigiando a propriedade.
Furioso, o conde exigiu que seus homens invadissem a propriedade de Lourenço e revirassem todas as coisas, todos os cômodos. Os menores e mais improváveis lugares onde ela poderia se esconder.
Os homens ameaçaram Lourenço, a criadagem, e os pais de Leonor.
Vasculharam todos os recantos da propriedade. Reviraram tudo.
Lourenço, ao perceber que seria inútil lutar, pediu a todos que deixassem os homens fazerem a varredura que queriam.
Estes, ao perceberem que a moça não estava escondida ali, comunicaram o fato a Viriato.

Com isto, Lourenço concluiu que a moça que eles tanto procuravam era Leonor.
Isto por que, ao ter sua propriedade invadida daquela forma, investigou junto a outros moradores e proprietários de terras da região, se também haviam sofrido buscas em suas terras. Perguntara se acaso tiveram suas propriedades invadidas por homens, em busca de uma criminosa.
Ao ser informado que nenhuma das propriedades ao redor fora visitada, concluiu que Leonor devia estar correndo um grande perigo.
Ao dar-se conta disto, formou um grupo de homens de confiança para procurarem novamente pela moça.
Lourenço sentia Leonor estava correndo perigo, e necessitava de sua ajuda.

Leonor por sua vez, agora percorria as estradas, montada em um cavalo.
Disfarçada de homem, a cada noite, pousava em uma propriedade diferente, em casa de camponeses.
Visando se resguardar, a moça livrou-se das primeiras vestes que usara, adquirindo novas roupas.
Isto por que, sabia, que se continuasse com as mesmas vestimentas, seria facilmente reconhecida pelos homens de Viriato.
Com efeito, os sentinelas foram encontrados trancados no quarto, por Antero. Dias depois, foram interrogados por Viriato, que questionou o fato dos mesmos não terem gritado por socorro e tampouco, terem reagido.
Os homens por sua vez disseram que não gritaram por que a moça lhes apontou uma arma, e os obrigou a entrarem no quarto. Em seguida, fechou a porta.
Contudo, dizendo que não poderiam arriscar, ficaram calados. Argumentaram que foram ameaçados caso gritassem.
Ressaltaram ainda, que a moça usava trajes masculinos, e que parecia ter habilidade no manuseio de armas de fogo.
Viriato passou então a se perguntar onde a moça teria arrumado a arma e a vestimenta.
Furioso, chegou a pensar que as sentinelas tivessem auxiliado na fuga.
Não fosse a intervenção de Antero, que dissera que eles apenas eram dois tolos, e os homens poderiam ter morrido nas mãos do conde.
Viriato estava intrigado com o fato de ainda não ter posto suas mãos em Leonor.
Furioso, sonhava com a moça encontrando-se com Lourenço, e caminhando de mãos dadas, feliz, com o amado.
Sonhar com isto, o fazia sofrer.
Contudo, o homem não desistira de encontrar a moça.
Obstinado, o conde continuou as buscas.

Nisto, a moça estava cada vez mais próxima da propriedade de Lourenço.
Viriato ao perceber que Leonor não havia se encontrado com o moço, persistiu na idéia de vigiar suas terras.
Pensando melhor na situação, decidiu investigar também, o caminho pela floresta.
Muito embora, considerasse pouco provavel que a moça tivesse se embrenhado na mata, organizou uma equipe para vasculhar a região.
Nisto, os homens depois de uma longa caminhada pela mata, ao término de alguns dias, chegaram a um vilarejo.
Lá, descobriram que um rapaz, com as descrições e as vestes mencionadas pelas sentinelas, havia permanecido alguns dias no local.
Perguntando aqui e ali, descobriram que o moço procurava um caminho para seguir até a propriedade do senhor Lourenço.
Quando Viriato tomou conhecimento destes detalhes, ficou deveras satisfeito.
Embora por um momento tenha temido nunca mais tornar a vê-la, posto que não a encontrava, finalmente descobriu que a moça jamais partiria sem encontrar o seu amado.
Com isto, não satisfeito em apenas vigiar a propriedade do amigo, Viriato, ao saber que ele também estava a procura de Leonor, resolveu preparar-lhe um armadilha.
Dizendo para si mesmo que ela precisava entender que seu destino estava selado, comentou que ninguém podia fazer nada contra isto. Argumentou que nem mesmo o amor de Lourenço, iria atrapalhar seu intento. Dizia que ficaria com Leonor, nem que para isto, fosse preciso matar seu amigo.
E assim, preparou uma emboscada para o moço.
Arrumando uma falsa pista sobre o paradeiro da moça, Viriato fez com que Lourenço percorresse trilhas e caminhos ermos, até ser baleado por um de seus homens.

Leonor por sua vez, procurava seguir o caminho das terras de Lourenço por caminhos alternativos, mais longos que os convencionais.
Tudo com vistas a despistar os homens de Viriato e conseguir chegar ao seu destino.

Ferido, Lourenço foi levado por seus homens de confiança, até sua propriedade.
Lá, o rapaz foi cuidado por Abílio e Aparecida.
A mulher, ao avistar o homem inconsciente, deitado em seu cavalo, soltou um grito de pavor.
Abílio chocou-se igualmente, ao ver a cena.
Nisto, Lourenço foi conduzido para sua casa.
Aparecida cuidou do ferimento, e Abílio retirou a bala com uma faca.
Por fim, depois de ser cuidado pelo casal, Lourenço permaneceu inconsciente em sua cama.
Mais tarde, conversando entre si, o casal percebeu que a situação era mais grave do que imaginavam.
Triste, Aparecida concluiu que se Leonor não aparecesse logo, eles poderiam ser as próximas vítimas do algoz.
Ao se aperceberem disto, o casal foi as lágrimas.
Constataram que muito provavelmente, quem estava por traz do sumiço da moça, e de toda aquela confusão, era Viriato.
Abílio chorando, reconheceu que sua filha estava perdida.
Nisto, Lourenço permaneceu acamado por quase duas semanas.
Durante todo este tempo teve febre. Delírios. A todo o momento dizia para Leonor fugir.
Aparecida estava cada vez mais preocupada.

Leonor por sua vez, continuava a fugir.
Ao descobrir que era perseguida pelos homens de Viriato, resolveu adiar seus planos de se encontrar com Lourenço.
Viriato por sua vez, estava impaciente.
Isto por que, o tempo passava, e não era obtida nenhuma pista da moça.
Nervoso, chegou a pensar até, em pagar uma recompensa para quem tivesse alguma pista sobre seu paradeiro, ou mesmo a encontrasse e trouxesse em sua presença.
Antero – serviçal de confiança do conde –, aconselhou-o a não fazê-lo, sob pena de um novo escândalo.
- As favas, o escândalo! – retrucou nervoso.
Ansioso, prometeu que assim que colocasse as mãos nela, Leonor não iria mais escapar-lhe. Iria se arrepender de o haver desafiado.
Nisto começou a rir, dizendo que sua vingança já havia começado.

Lourenço permanecia convalescente.
Aparecida e Abílio, permaneciam quase todo o tempo cuidando do moço. Velavam seu sono.
Preocupados, também se perguntavam constantemente, onde estaria a filha – Leonor.
Leonor por sua vez, passou a rondar a propriedade de Lourenço.
Os vigias de Viriato, ao notarem a presença constante de um rapaz na região, foram logo lhe contar a novidade.
O conde, ao tomar conhecimento dos fatos, ficou deveras satisfeito. Chegou até a esboçar um sorriso.
Nisto, um dos vigias, perguntou-lhe se poderiam prender o moço suspeito.
Viriato respondeu que não.
Cauteloso, sugeriu que eles vigiassem as terras discretamente, para que o tal moço não se apercebesse de que ele também estava sendo observado.
E assim, esquecida das cautelas, Leonor, impaciente, passou a rondar a propriedade de Lourenço.
Cavalgava até os limites da propriedade e depois retornava, receosa.

Viriato chamou então, outros homens para vigiarem as terras.
Disfarçados de camponeses, geralmente estavam sem cavalo.
Certo dia, a moça, usando trajes masculinos, perguntou no vilarejo, como estava Lourenço e sua família.
O dono do armazém, o senhor Teobaldo, comentou então, que a vida do moço não estava sendo nada fácil. Isto por que o moço perdera os pais num acidente há poucos anos, tornando-se responsável por uma vasta quantidade de terras. Nisto, apaixonou por uma bela camponesa, e assumiu um compromisso de noivado com ela.
Contudo, quando parecia que tudo se encaminhava para um bom termo, a moça fora sequestrada, arrebatada no castelo do Conde, durante uma festa. Desde então, nunca foi encontrada.
Não bastasse isto, o desespero de Lourenço e dos pais da moça procurando-a, o moço teve sua propriedade invadida por homens perseguindo uma criminosa, e o homem, tentando procurar sua amada, foi baleado.
Leonor, ao ouvir estas palavras derrubou o copo com bebida, que segurava.
Aflita, perguntou:
- Baleado! Como ele está?
Teobaldo, percebendo o comportamento estranho do rapaz, passou a olhá-lo com curiosidade.
Nisto, Leonor, tentando consertar a situação, e engrossando a voz, respondeu que estava preocupado com o moço, posto que eles foram muito amigos quando crianças.
O homem respondeu então, que Lourenço não andava nada bem. Ardia em febre.
Ao ouvir isto, Leonor se afligiu.
Teobaldo respondeu-lhe então:
- Não se preocupe! Lourenço é um homem forte. Vai se recuperar.
Nisto a moça pagou a conta e partiu.
Nervosa, galopou pelo vilarejo até se deparar com a propriedade de Lourenço. Despindo-se de toda a cautela que tivera até então, cruzou os portões da propriedade e caminhou por entre aqueles campos que lhe eram tão familiares.
Os vigias disfarçados de camponeses, ao perceberem isto, trataram logo de avisar Viriato.
O conde, ao ser informado disto, tratou logo de se preparar para o encontro.
Trajando vestes de camponeses, os homens dirigiram-se a propriedade de Lourenço.
Nisto, Leonor continuava galopando.
A propriedade era vastíssima.
Nisto, a certa altura, Leonor aproximou-se da casa de seu noivo.
Cheia de dúvidas, deteve-se por um momento.
Ao perceber que Aparecida saía da casa, Leonor resolveu se afastar. Não poderia ser reconhecida.
Com isto, notando que a mulher se afastava, levou o cavalo até um celeiro.
Depois, esgueirou-se pelos muros da casa.
Adentrou o imóvel.
Caminhando sem fazer barulho, percorreu corredores até chegar a escada, que subiu pé ante pé.
Nisto caminhou por um longo corredor, até se deparar com o quarto em que Lourenço dormia. Ou melhor, se recuperava do sofrimento sofrido.
Ao entrar no quarto, percebeu que o homem delirava.
Ardendo de febre, Lourenço pedia para Leonor suportar seu cativeiro, por que seu fim estava próximo. Ele estava indo buscá-la.
Delirando chamava pela moça o tempo todo.
Aflita, Leonor lhe respondia:
- Estou aqui meu amor! Estou aqui!
Lourenço contudo, não podia ouvi-la. Estava convalescente.
A moça tentou tranquilizá-lo dizendo que estava bem. Que estava sã e salva.
Em vão. O moço continuava intranquilo, chamando seu nome.
A esta altura, Abílio entrou no quarto.
Pondo a mão em seu rosto, o homem percebeu que Lourenço ainda tinha febre.
Lourenço então, tornou a delirar.
Preocupado, Abílio saiu do quarto. Ainda no corredor, chamou uma das criadas.
Precisava que alguém vigiasse o sono do moço, para que ele pudesse procurar Aparecida.
Com isto, desceu as escadas.
Leonor aproximou-se novamente do noivo.
Disse-lhe que retornaria, assim que ele se recuperasse, e que eles conversariam. Pensariam juntos, em uma forma de se desembaraçarem daquela situação.
Prometeu que eles tornariam a ficar juntos.
Em seguida, beijou a fronte do moço.
Chorando, afastou-se do leito. Com o coração pesando, retirou-se do aposento em que ele estava. Desceu a escadas, venceu os corredores da casa e saiu do imóvel.
Nisto, adentrou o celeiro, e montando no cavalo, saiu da propriedade.
Ao se aproximar do portão de entrada, a moça foi abordada por alguns camponeses.
Com isto, o cavalo em que fizera montaria, assustou-se.
Por pouco a moça não foi ao chão.
Leonor, tentando se livrar dos homens, começou a fustigá-los com o chicote.
Nisto, o conde, disfarçado de camponês, a aguardava.
Ansioso, ao ver a luta, resolveu se aproximar.
Acompanhado por outros quarto homens armados, o conde resolveu se apresentar:
- Ora! Ora! E não é que a senhorita Leonor? Como estás diferente!
A moça ao vê-lo, tentou fugir.
Viriato contudo, dizendo que seus homens estavam armados, disse-lhe que era inútil fugir.
Ainda assim, a moça tentou resistir.
Nervoso, Viriato respondeu que atiraria se fosse preciso.
Leonor contudo, não parecia se intimidar.
Viriato disse-lhe então, que ela deveria pensar em Lourenço, antes de agir de forma tão intempestiva.
A moça então se deteve.
Viriato por sua vez, apeou do cavalo.
Aproximou-se da moça. Exigiu que ela também descesse do cavalo.
Leonor relutava.
Irritado, Viriato gritou, exigindo que ela apeasse do animal.
Sem alternativa, a moça desceu do cavalo, sendo auxiliada pelo conde.
Leonor então, foi levada por Viriato até o seu cavalo, seguindo viagem junto a ele.
Os vigias seguiram o conde e Leonor a distância.
E assim, seguiram para o castelo.
Ao lá chegar, Viriato desceu do cavalo, auxiliando a moça a descer.
Imediatamente segurou seu braço e foi lhe empurrando para dentro do castelo.
Caminhando apressadamente, exigiu que a moça também andasse rápido.
Com isto, subiram a escada, caminharam pelo corredor que dava acesso aos quartos.
Nisto o homem empurrou a moça para dentro de um dos aposentos.
Entrando no lugar, soltou seu braço, lançando-a ao chão.
Leonor permaneceu caída ao chão.
Viriato nervoso, aproximou-se da moça exigindo que ela se levantasse.
Como Leonor se recusava a fazê-lo, o moço abaixou-se e segurando seu braço, puxou-a.
Olhando-a nos olhos, disse que ela não devia ter tentado fugir.
Os olhos de Leonor pareciam vazios.
Nervoso, o homem continuou:
- Sua tola! Achas realmente que iria conseguir escapar? Não sabes que eu tenho olhos por toda a parte? Ouça bem. Isto não vai ficar impune. A senhorita vai pagar por isto... Aliás, o tiro que Lourenço levou, foi só o começo... Não me desafie. Você vai se arrepender.
Aflita, Leonor perguntou o que ele pretendia. Nervosa, perguntou que se já não fora o suficiente, todo o sofrimento que ela vinha suportando.
Viriato, por sua vez, segurou as mãos da moça.
Comentou que as mãos delas estavam grossas, como as de alguém que se ocupava de cuidar dos animais.
Leonor respondeu então, que sempre trabalhara executando serviços pesados. Comentou que sua mãe era uma serviçal, uma camponesa, e que ela também ajudava a cuidar da propriedade.
Viriato respondeu-lhe então, que ela não precisava mais se ocupar de serviços tão pesados. Tocando em seu rosto, disse que uma beleza delicada como a dela, merecia um melhor destino do que continuar a ser criada nas terras de Lourenço.
Leonor virou o rosto.
Afastou-se do conde.
Nisto, ao perceber que a moça ficara contrariada com suas palavras, o conde disse:
- Não gostou do que eu disse? Mas a senhorita era uma criada de fato.
Leonor olhou-o furiosa.
Viriato, ao perceber isto, respondeu:
- Comigo as coisas serão diferentes. Você não será uma criada. Muito pelo contrário, será muito mais que uma criada... Eu faço uma proposta ... Case-se comigo! Case-se comigo! E eu te darei uma vida de princesa. Ou melhor, de rainha!
Leonor ficou perplexa.
O conde insistiu.
A moça respondeu que não se casaria com ele, nem se ele fosse o único homem a habitar aquelas paragens.
Viriato irritou-se com aquelas palavras.
Puxando-a pelo braço, disse que ela se casaria com ele. Argumentou que se esta era sua vontade, e que ela deveria obedecê-lo.
Leonor gritando, disse-lhe que estava noiva de Lourenço, com que iria se casar, e que em seu coração, não havia espaço para mais ninguém. Chorando, disse que o moço nunca a tratara como criada, e que ele, ao contrário do conde, jamais a forçaria a fazer algo que não quisesse.
Com isto, ao terminar de proferir estas palavras, Leonor ficou de costas para ele.
Irritado o homem exigiu que ela se voltasse para ele.
A moça se recusou.
Impaciente, Viriato puxou-a.
Leonor reclamou dizendo que ele a estava machucando com seus empurrões.
Viriato puxou os braços da moça.
Afastou as mangas do seu vestido.
Ao observar os braços da moça, percebeu que os mesmos estavam roxos.
Diante disto, comentou que não sabia que a havia machucado.
Os olhos de Leonor estavam cheios d´água.
A moça tentou se desvencilhar do conde.
Ao perceber nisto, o homem respondeu irritado:
- Pare com isto! Não percebeste que não adianta resistir?
Leonor respondeu que quando Lourenço soubesse a verdade viria buscá-la, e que ele iria se arrepender do que fizera.
Viriato ainda segurando os braços da moça, riu. Irritado respondeu:
- Se a senhorita de fato ama este homem, deveria pensar um pouco em seu bem estar. Não acha? Afinal de contas, ninguém está livre de sofrer um acidente.
Leonor assustou-se com as palavras de Viriato.
Lembrou-se que o homem havia sido ferido, e ardia em febre. Ao cogitar que ele poderia ter participação no ocorrido, investiu contra ele.
Ameaçando-lhe com os punhos a levantar a mão contra ele, o conde segurou sua mão.
- Nunca mais levante sua mão para mim! Nunca mais! Ou não haverá mais Lourenço!
Leonor olhou para ele assustada.
- O senhor não fará nenhum mal a ele não é? – perguntou a moça, com voz chorosa.
- Depende do que me será dado em troca. – respondeu ele – Afinal, podemos marcar o casamento?
Leonor respondeu que não.
Nervoso, Viriato respondeu que se ela não o fizesse por bem, faria por mal.
Nisto o homem investiu contra a moça.
Avançando contra ela, começou a beijar-lhe os cabelos, o rosto, o pescoço.
Leonor implorou para que ele não o fizesse. Chorou, pediu para que parasse.
Nisto Viriato a pressionou contra a parede.
A moça se debatia desesperada.
A certa altura, percebendo a distração do moço, que planejava jogá-la na cama, chutou-lhe.
Viriato soltou-lhe imediatamente.
Encolheu-se por conta da dor.
Com isto, recompondo-se, o conde aproximou-se dela e lhe deu um tapa no rosto.
Furioso, saiu mancando. Trancou o quarto.
Leonor permaneceu trancada no aposento. Chorou até cansar. Até exausta, adormeceu.
Tencionando castigá-la, Viriato deixou-a isolada por dois dias.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.   

CANTIGAS DE AMIGO – TROVAS LÍRICAS - Capítulo 2

Nisso foi chegado o dia da grande festa.
Viriato parecia mais animado com a celebração, do que os próprios homenageados, os noivos.
Aparecida e Abílio, ao serem apresentados ao conde, ficaram cismados.
Isto por que, acostumaram-se com Viriato ainda muito jovem, a conviver com Lourenço. Os dois sempre foram amigos.
A certa altura, o moço começou a se comportar de modo excêntrico e Ordália começou a reprovar seus modos.
Aparecida comentou com Abílio, que se lembrava perfeitamente deste fato.
O casal então, conversando entre si, ao verem os modos arrogantes do conde, chegaram a concordar que ele fazia jus a péssima reputação que gozava.
Constantemente o homem era assediado na festa, não permanecendo indiferente às investidas.
Aparecida não gostou de seus modos.
Para completar, a mulher percebeu os olhares cúpidos que ele lançava para a sua Leonor.
Lourenço por sua vez, apaixonado que estava pela moça, e crédulo nas boas intenções do amigo, nada via. Acreditava piamente que Viriato estava feliz por ele estar feliz, e que assim, agia de forma desinteressada.
Lourenço e Leonor dançaram.
Estavam deveras felizes.
Viriato, a certa altura, pediu licença a Lourenço, pois gostaria de dançar com a noiva.
O moço, sem perceber as segundas intenções do conde, autorizou.
A moça, por sua vez, ficou visivelmente contrariada. Tentando se afastar de Viriato, Leonor tentou inventar uma desculpa para não dançar. Em vão.
O conde, elogiando a beleza da moça, conseguiu deixar Lourenço vaidoso.
Aproveitando-se da situação, puxou a moça para o meio do salão, e dançou com a moça.
Disse-lhe que de fato estava muito bela, e que tinha planos para ela e Lourenço.
Viriato, ao notar que ela procurava se afastar de seu contato, começou a se aproximar.
A certa altura, o homem disse que tudo já estava determinado, e que só cabia a ele esperar. Elogiando-a novamente, comentou que ela estava mais bela do que quando a conhecera.
Leonor ficou preocupada com aquelas palavras.
Viriato aproximou-se e beijou seu rosto.
Nisto, despediu-se, levando-a de volta a Lourenço.
Durante toda a festa, Viriato pareceu se divertir muito com os convidados, assim como com as convidadas.
Todos cearam, beberam, dançaram, se divertiram.
Leonor e Lourenço, permaneceram juntos boa parte da festa.
Aparecida e Abílio não tiraram os olhos da filha.
Os dois, aconselhando a filha, orientaram-na a não aceitar mais convites daquele senhor.
Aparecida afirmou que ele não lhe inspirava confiança.
Leonor por sua vez, parecia apreensiva.
Sua mãe, ao notar isto, perguntou logo o que ele lhe dissera.
Comentando que não gostou nem um pouco do jeito como ele a segurava para dançar, disse que ele poderia ser um homem perigoso.
A moça disse que o conde não lhe dissera nada demais. Apenas que ele desejava felicidades a ela e ao amigo.
Aparecida, no entanto, não ficou satisfeita com a resposta.
Porém, percebendo que aquele não era o local adequado para tratar do assunto, seguiu o conselho do marido, e deixou a questão de lado.
Sim por que, Aparecida, tentou arrancar da filha, detalhes da conversa. Deixou bem claro que tinha certeza que a filha estava lhe escondendo algo.
Sentindo-se pressionada, Leonor resolver afastar-se.
Lourenço, que conversava com alguns amigos, não percebeu que a moça se afastara dos pais.
Viriato, que tudo observava, em que pese parecer que estava entretido com a conversa com conhecidos, notou o fato.
Diante disto, pediu licença aos convidados, argumentando que precisava passar algumas instruções aos seus criados.
Desta forma, chamou Antero, seu servo mais fiel e determinou discretamente que ele e mais dois criados, levassem a moça para o jardim.
Leonor, então, adentrou um dos aposentos do castelo.
Nisto Antero e os outros serviçais, foram ao encontro da moça, que assustou-se com a presença inesperada de três empregados do conde.
Antero contou a moça, que Lourenço havia preparado uma surpresa para ela no jardim.
Leonor contudo, estranhou a conversa, e dizendo que mais tarde iria até o jardim, foi instada a fazê-lo.
Estranhando aquela situação, a moça argumentou que Lourenço a estava aguardando no salão, e que precisava voltar.
Antero aproximou-se então da moça, e disse olhando em seus olhos, que ela parecia abatida. Sugeriu-lhe assim, um pouco de ar fresco.
Leonor argumentou que aquela desora, só poderia sentir o sereno da madrugada.
Impaciente, percebendo que não conseguiria conduzir a moça por bem, Antero argumentou que ela precisava dirigir-se imediatamente ao jardim.
Leonor percebendo que haviam preparado algo para ela no jardim, insistiu em dizer que mais tarde iria até o local.
Ao notar que aquela conversa estava se estendendo demais, pediu licença a Antero, afim de que pudesse voltar ao salão.
Contudo, o homem obstou-lhe a passagem.
Leonor começou a ficar nervosa.
Tentando argumentar, disse que primeiro conversaria com algumas pessoas que a estavam aguardando no salão, e depois iria até o jardim.
Antero e os criados, continuaram obstaculizando a passagem.
Leonor ameaçou gritar.
Foi o suficiente para os homens investirem contra ela.
Antes mesmo que ela pudesse gritar, um dos criados colocou a mão em sua boca.
Outros dois criados seguraram e amarraram as mãos da moça, enquanto Antero, a amordaçava.
Depois, segurando um lenço, o qual foi colocado contra suas narinas, fizeram com que a moça ficasse desacordada.
Em seguida, enrolaram a moça em um pedaço de pano, colocando-a dentro de um baú.
O móvel foi tirado do aposento, e levado com a moça dentro, para fora do palácio.
Para os convidados que viram os três homens arrastando o móvel para uma carroça, aquela situação soou estranha.
No tocante aos gemidos da moça enquanto se debatia, os mesmos foram abafados pelo barulho da festa, o vozerio, as canções entoadas pelos menestréis.
Ninguém ouvira nada de estranho.

Em seguida, os homens subiram na estrada.
Leonor estava inconsciente.

Nisto, depois de cerca de meia-hora, Lourenço e Aparecida perceberam o sumiço da moça.
Preocupados, relataram o fato a Viriato, que pareceu chocado.
Tanto que mandou a criadagem para vasculhar todo o castelo em busca de Leonor.
Orientou os homens a também procurarem no jardim, em que pese a pouca probabilidade da moça se encontrar no local.
Viriato parecia muito prestativo.
No entanto, por mais que procurasse, nada de encontrar a moça.
Os pais e o noivo da moça, começaram a se preocupar.
Aflitos, decidiram interromper a festa.
Lourenço e os pais de Leonor, foram convidados por Viriato a dormirem por lá.
Dizendo que os auxiliaria na procura pela moça, argumentou que àquela hora, seria impossível localizar quem quer fosse em meio a escuridão. Contudo, assim que o dia clareasse, começaria a empreender buscas pela região.
Lourenço agradeceu o empenho do amigo em auxiliá-lo.

Nisto, depois de sumirem na estrada, os homens retiraram a moça do baú, deixando-a deitada e amarrada, dentro da carruagem.
Após, prosseguiram a viagem.
A moça foi levada a uma propriedade aparentemente abandonada, longe de qualquer vilarejo.
Viriato, depois de consolar o amigo, partiu ao encontro da moça.
Ansioso, não via a hora de encontrá-la.
Ao chegar na propriedade, Antero relatou que precisou sedar e amordaçar a moça, para que ela não gritasse e colocasse tudo a perder.
Ao ouvir isto, Viriato perguntou como ela estava.
Antero comentou que ela permanecia desacordada.
O conde perguntou se eles não a haviam machucado.
O serviçal respondeu que a moça devia estar com os pulsos marcados, mas fora isto, estava tudo bem.

Viriato foi então, ao encontro da moça.
Leonor permanecia inconsciente.
Embevecido, ficou a contemplar a moça.
Encantado, comentou que ela parecia um anjo ao dormir.
Nisto, ao perceber que os servos permaneciam no recinto, mandou-os se retirarem.
Viriato aproximou-se do leito.
Tocou nos cabelos da moça.
Sem saber direito como agir, deitou-se ao lado de Leonor.
Deitado, ficou a observar o seu rosto.
Tencionou tocar o rosto da moça, mas perdeu a coragem. Temeu acordá-la.
O homem ficou por mais de uma hora observando-a.
Leonor não despertava.
Preocupado, aproximou-se ainda mais da moça. Ao perceber que ela respirava, tranqüilizou-se.
Em seguida, segurou suas mãos.
Tudo parecia normal.
Nisto, depois de horas, a moça despertou.
Ao despertar, Leonor começou a se debater e a gemer.
Viriato, que esperava a moça acordar, pediu para ela se acalmar.
Dizendo que iria soltar suas amarras, respondeu que não adiantaria gritar, já que ninguém poderia ouvi-la.
Leonor pareceu se acalmar.
Nisto, o homem a se aproximou e soltou as amarras.
Leonor estava com os pulsos e os tornozelos amarrados.
Por fim, retirou a mordaça.
Nervosa, a moça perguntou onde estava.
Viriato recusou-se a responder.
Nisto, Leonor perguntou o que estava acontecendo.
Viriato respondeu-lhe que estava tudo bem. Dizendo que havia levado-a até ali para conversar, argumentou que tentou fazer tudo de maneira diferente, mas que ela não havia lhe deixado outra alternativa, a não ser tomar aquela atitude extremada.
Leonor ficou perplexa.
- O que o senhor quer de mim?
Viriato aproximou-se.
Tentou tocar o rosto de Leonor, mas a moça se afastou.
Ansioso, respondeu:
- Então não sabes?
Leonor estava confusa.
O conde começou a se aproximar dela.
A moça, ao notar a aproximação do homem, começou a se afastar.
E assim, quando Viriato se aproximava, a moça recuava.
Aflita, Leonor pediu para ele não se aproximar dela.
Viriato então disse:
- Não precisas ter medo! Eu não quero te fazer nenhum mal.
Leonor então, se escondeu atrás da cama.
Chorando, pediu para ele não se aproximar dela.
Viriato porém, não lhe dera ouvidos.
Com isto, a moça continuou se afastando, enquanto o homem tentava se aproximar.
E assim, Leonor correu até porta.
Porém, ao tentar abrir a porta, a moça percebeu que estava trancada.
Desesperada, começou a bater na porta, a tentar sacudi-la.
Começou a gritar.
Viriato, calmo, ficou de longe a observar a atitude desesperada da moça.
Nisto Leonor ficou a gritar, a implorar por socorro.
Em dado momento, o conde falou-lhe:
- Leonor, pra que todo este desgaste? Já não te disse que não adianta gritar? Ninguém irá te ouvir.
Leonor sentou-se na entrada do quarto, e tornou a chorar.
Viriato, aproximou-se da moça.
Assustada, Leonor levantou-se e correu para o outro lado do quarto.
Nisto, colocou suas mão nas costas. Percebendo que havia uma escultura num móvel, pegou o objeto sem que Viriato percebesse, e segurou-o com as mãos.
Nisto o homem foi se aproximando.
Leonor pedia para ele se afastar.
Viriato contudo, não lhe dava ouvidos.
Aproximava-se cada vez mais da moça.
Leonor, percebendo a aproximação, ao perceber que o homem tocava seus cabelos e o seu rosto, segurou firme a escultura que trazia nas mãos, levantou rapidamente o braço e bateu com o objeto em sua cabeça.
Zonzo, Viriato caiu no chão.
Leonor se afastou.
O conde tentando se recuperar do golpe, disse que aquilo era uma covardia. Tentando se levantar, apoiou-se nos móveis.
Irritado disse que providenciaria para que todos os objetos de decoração que guarneciam o aposento, fossem retirados.
Em seguida fitou a moça.
Leonor sentiu um arrepio de medo.
- Não pense a senhorita, que está livre de mim. Pode cuidar que eu volto. – disse em tom ameaçador.
Nisto, o homem pegou a chave e abriu a porta.
Saiu do quarto, trancando novamente o aposento.
Leonor então, aproximou-se novamente da porta.
Gritou para que abrissem-na.
Como ninguém a atendesse, a moça sentou-se em uma cadeira.
Ficou por longo tempo chorando, fitando a porta, na esperança de que alguém aparecesse.
Nada.
Mais tarde, ao se aproximar da janela, percebeu que as mesmas estavam emperradas.
Vasculhando o quarto, percebeu uma pequena janela que podia ser aberta, o que permitia a entrada de um pouco de ar.
A moça desesperada, começou a observar o quarto.
Nervosa, ficava a se perguntar onde estava, e como faria para retornar para casa.
Aflita, pensava em seus pais, em seu noivo. Acreditava que todos a estavam procurando.
Mais tarde, Antero lhe trouxe uma refeição.
A moça reconhecendo a expressão do servo, recordou-se que fora amarrada.
Atônita, Leonor perguntou-lhe por que havia feito aquilo.
Antero respondeu-lhe que apenas cumpria ordens.
Em seguida, abriu a porta e retirou-se.
Antes de sair, percebendo que ela parecia observar os seus gestos, comentou que não adiantaria tentar fugir já que havia dois homens vigiando a porta do quarto.
Nisto, Leonor ficou novamente sozinha.
Triste, não tocou na comida.
Amuada, deitou-se na cama, mas, nervosa, demorou a pegar no sono.
Quando finalmente adormeceu, o sono foi agitado.
Acordou inúmeras vezes durante a noite.
Chorava.
Perguntava-se a todo o momento, por que tinha que passar por aquilo. O que havia feito de tão errado para merecer este castigo.
Desesperada, jogou-se na cama e dormiu.
Ao despertar, percebeu que já haviam lhe trazido o café da manhã.

Viriato por sua vez, depois de se ocupar de seus afazeres em seu castelo, ao chegar no lugar onde Leonor estava, tomou logo ciência de que a moça não havia comido nada.
O conde perguntou então a Antero:
- Como ela está?
Antenor respondeu que ela chorou a noite e toda, e que tivera um sono agitado.
Ao ouvir isto,Viriato argumentou que com o tempo, ela acabaria aceitando os fatos.
Nisto, dirigiu-se ao quarto da moça.
Leonor ainda trajava a roupa que usara na festa.
Ao notar isto, Viriato respondeu-lhe que havia roupas nos baús.
Ansioso, ao perceber que o moça não havia tomado o café da manhã, disse-lhe:
- É bom você se alimentar. Vai precisar estar forte.
Leonor afastou-se da cama.
Escondendo-se atrás de um dos móveis que guarneciam o quarto, gritou para que ele fosse embora.
Viriato respondeu que pediria aos serviçais para providenciarem um banho para ela.
Leonor gritou dizendo que não aceitaria nada que viesse dele.
Ao ouvir isto, o homem ficou irritado.
Dizendo que ela teria que aceitar, comentou que havia coisas que precisavam ficar claras. Afirmou que dependia dela que as coisas caminhassem a um bom termo.
Leonor comentou que quando seus pais e seu noivo soubessem que ele a mantinha em cárcere privado, ele iria pagar por tudo o que estava fazendo.
Viriato achou graça.
- Tola! Você acha realmente, que eles podem fazer alguma coisa para ajudá-la?
Leonor ficou furiosa. Tanto, que esquecendo-se de sua condição de prisioneira, investiu contra o conde, o qual tratou logo de segurar o seu braço.
Assustada, a moça pediu para que ele soltasse o seu braço.
Viriato então, segurou seu braço com mais força.
A certa altura, Leonor deixou escapar uma expressão de dor.
Ao perceber isto, Viriato soltou o braço da moça.
Nervoso, o homem respondeu:
- A senhorita vai tomar o banho que o servo vai preparar, vai trocar de roupa e vai tomar o café. Vai ficar sozinha no quarto. Mais tarde, eu vou voltar. Temos muito o que conversar.
Leonor ficou parada.
Viriato saiu do quarto.
Minutos depois, um dos servos trouxe uma tina de madeira e aos poucos, foi enchendo o recipiente com água.
Quando a tina ficou cheia, o homem retirou-se do quarto.
Leonor ouviu o barulho da porta sendo trancada.
Contrariada, a moça tirou o vestido, e entrou na tina com a parte de baixo da veste.
Era o costume da época.
A seguir enxugou-se.
Trocou de roupa.
Antes disto, colocou um baú em frente a porta.
Não queria ser surpreendida.
Depois, pegou algumas frutas que estavam na bandeja.
Mais tarde, Viriato voltou ao quarto.
Leonor estava sentada na cama.
O moço ao vê-la tão quieta, ficou preocupado.
A moça parecia abatida.
Ao tentar aproximar-se, Leonor repeliu-o, se afastando.
Viriato disse então:
- A duração deste sofrimento só depende de você.
A moça não parecia estar bem.
Viriato olhou a bandeja. Notou que a moça havia comido muito pouco.
Nisto, continuou a falar:
- Eu entendo que esta situação não está sendo agradável para você, mas eu precisei agir desta forma. A senhorita não deixou outra alternativa. Já falei isto antes. Contudo, a sua situação pode ser melhorada. Não pense que eu faço isto por maldade. É só para que me ouça.
Leonor não parecia ouvi-lo.
Ao notar isto, Viriato perguntou se ela o estavam ouvindo.
Sem forças, Leonor balançou a cabeça afirmativamente.
O conde, aproximou-se da moça.
Leonor tentou repeli-lo, mas não tinha forças.
O homem foi até a porta, abriu-a. Chamando um dos seguranças, Viriato pediu para que Antero chamasse uma pessoa para examiná-la. Recomendou que assim que ela chegasse, que a mandassem subir, e que os homens que guardavam o quarto, anunciassem a chegada desta pessoa.
Nisto, voltou ao quarto. Não fechou a porta.
Viriato então, recomendou a moça, que ficasse na cama.
Dizendo que ficaria de longe observando-a, comentou que não precisava ter medo, pois não chegaria mais perto dela.
Nisto, chegou um médico.
Ansioso, Viriato ao ser informado da chegada do mesmo foi ao seu encontro, após, conduziu-o até o quarto onde a moça estava.
Desta forma, o médico examinou a moça.
Ao término do exame, respondeu ela precisava se alimentar bem.
Viriato surpreendeu-se com a prescrição médica. Perguntou:
- Só isto?
Ao notar o desdém do conde, o médico sugeriu aplicar umas sangrias na moça.
Viriato argumentou que não seria necessário.
Com isto o médico retirou-se do quarto.
Viriato foi ao seu encontro.
Pagou a consulta.
Puxou o médico em um canto.
Disse:
- Eu acredito que não preciso recomendar que não se comente sobre esta “visita”. Sinceramente, eu não gostaria de ver o senhor envolvido em problemas.
O homem entendeu.
Viriato lhe deu um saquinho com ouro.
O médico agradeceu e se retirou da propriedade.
Em seguida, Viriato subiu as escadas e retornou ao quarto, onde Leonor permanecia, deitada em sua cama.
Parecia dormir.
Aproximando-se da moça, o conde sentiu sua respiração.
Tocou-lhe o rosto. Leonor não reagiu.
Preocupado, atentou-se as palavras do médico, que disse que ela precisava se alimentar.
E assim, Antero, a pedido de Viriato, mandou preparar algo para Leonor comer.
Viriato permaneceu no quarto em que a moça estava.
O sono de Leonor foi intranquilo. Ficou o tempo todo a se mexer na cama, a balbuciar palavras.
Nisto ficou, até que exausta, dormiu profundamente.
Mais tarde, despertou.
Assustou-se ao perceber que Viriato a observava.
O homem, ao notar que a moça despertara, pediu a um dos vigias que mandasse chamar Antero.
Alguns minutos depois, o serviçal adentrou o quarto.
Trazia pão, frutas.
Leonor disse que não queria.
Viriato respondeu:
- Não quer, mais vai comer! Temos muito que conversar, e para isto, preciso que estejas bem. Disto dependerá sair, ou permanecer aqui.
Leonor tentou resistir.
Viriato ordenou então, que Antero segurasse os braços da moça.
O serviçal atendeu ao pedido.
Leonor pediu para que ele não o fizesse. Chorou.
Viriato, pegando uma das frutas, colocou-na boca da mulher.
Leonor cuspiu a fruta.
Furioso, o conde levantou a mão para ela, que escondeu o rosto com as mãos.
Tentando se controlar, o homem começou a conversar com ela.
Antero se afastou.
Dizendo que daquele jeito ela não poderia se encontrar com seus pais, comentou que só dependia dela sair daquela situação.
Nisso, colocou outra fruta em sua boca.
Leonor comeu a fruta aos poucos.
Ao terminar de digerir o alimento, o conde ofereceu-lhe outra fruta, mas a moça recusou.
Viriato não insistiu. Disse apenas que precisava conversar.
Nisto Antero retirou-se do quarto.
Nisto, começou dizendo que desde a primeira vez a vira se encantara com ela. Comentou que naquela festa em que ela dançara, encantara o salão, encantara a ele. Viriato comentou que não estava sendo leviano. Confessou que sempre teve tudo o que quis.
Indiscreto, o homem comentou que poderia ter a mulher que bem entendesse.
Ao ouvir isto, Leonor perguntou:
- Afinal de contas, o que o senhor quer de mim?
- Não percebestes ainda? – perguntou Viriato – Eu te amo.
Leonor ficou perplexa.
Ao notar a expressão de espanto no rosto da moça, Viriato começou a se explicar:
- Duvidas? Achas realmente que eu estou mentindo? Por que eu faria isto? Afinal de contas, eu posso ter a mulher que eu quiser.
- Se podes fazê-lo, por que cismastes comigo? Por que não me deixas em paz? – comentou aflita.
Viriato pousou sua mão sobre a mão da moça.
Leonor afastou-se.
Viriato então, ao notar que precisava deixar claro o seu intento, revelou que ela não sairia dali enquanto não fizesse o que ele queria.
A moça se fez de desentendida.
Viriato comentou então, que enquanto ela lhe resistisse, não poderia sair da propriedade. Que estaria o tempo todo sendo vigiada por seus homens.
Leonor ficou perplexa.
O conde se aproximando novamente da moça, revelou que ela estava proibida de ver seus pais, e que seu noivado com Lourenço estava terminado.
Ao ouvir isto, a moça caiu em prantos.
Revoltada dizia que nada estava terminado, e que Lourenço, assim como seus pais, provavelmente a estava procurando. Furiosa comentou que quando ele descobrisse onde ela estava, iria a seu encontro e que ele se arrependeria de tudo o que estava fazendo.
Viriato riu. Soltou uma sonora gargalhada.
Dizendo que se Lourenço o ameaçasse estaria perdido, conseguiu lançar terror em Leonor.
O conde acrescentou que se sofresse qualquer ameaça a sua integridade física, Lourenço estaria morto.
Ao ouvir isto, a moça ficou assustada.
Viriato tentou se aproximar da moça, que assustada, implorou para que ele não o fizesse.
Leonor foi se afastando, chorou, gritou.
Quando o conde se aproximou, a moça mordeu sua mão.
Viriato então afastou-se.
Furioso, comentou que ela se arrependeria do que fizera.
Leonor foi deixada trancada no quarto.
Nervosa, temeu que o conde tentasse fazer algo com seu noivo, ou mesmo com seus pais.
Aflita, imaginou Lourenço ferido.
Angustiada, ficou por três dias sem receber qualquer visita.
Isto só fazia aumentar sua ansiedade. Temia pelo pior.
Desta forma, resolveu observar o comportamento dos criados, a hora em que entravam e saiam do quarto. Muitas vezes fingia dormir só para não despertar suspeitas.
Percebeu então, que Antero tinha horários determinados para levar as refeições.
Notou que do outro lado da porta havia dois serviçais fazendo o serviço de guarda.
Olhando pela janela, o entorno, percebeu desolada, que estava em um lugar, onde raramente se via um passante.
A janela estava travada e só havia uma pequena fresta onde circulava o ar.
Fresta esta, pequena e estreita e pequena demais para que ela pudesse passar com o seu corpo.
Pensava o tempo inteiro: “Preciso fugir. Preciso sair daqui. Preciso avisar Lourenço e meus pais de que eles correm perigo. Preciso sumir da região.”

Nisto, Viriato retornara ao castelo.
Cauteloso, pensou que precisava se manter por algum tempo por ali. Não poderia levantar suspeitas.
Nos dias que se seguiram, visitou Lourenço e ofereceu ajuda para procurar Leonor.
Fingindo-se condoído com o sofrimento do amigo, comentou que lamentava muito o sumiço da moça. Argumentou que quem empreendera tal ignomínia, iria pagar com a própria vida.
Lourenço desesperado, revelou que faria qualquer coisa para encontrar a moça. Disse que seria até capaz de empregar tudo o que tinha para o fascínora, para que ele a libertasse. Para que não lhe fizesse nada de mal.
Fingindo consolar o amigo, Viriato, prometeu que iria se encarregar do problema, e do que dependesse dele, a moça dentro em breve estaria em casa. De volta aos braços de seu amado, e de sua família.
Lourenço, ao ouvir as palavras de conforto do amigo, agradeceu o empenho e a dedicação.
Aparecida contudo, não estava muito convencida da sinceridade de suas palavras. Dizia sentir algo de falso em tudo o que dizia.
Abílio, censurando a esposa, comentou que aquele não era o momento de ocupar a mente de Lourenço com suas implicâncias.
Aparecida então, percebendo que não seria ouvida, parou de prevenir Lourenço. Disse apenas para se mantivesse atento, e que tivesse cuidado.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.




CANTIGAS DE AMIGO – TROVAS LÍRICAS - Capítulo 1

SÉCULO XV

Esta história, tem muitas facetas.
Trata-se da história de um conde, homem poderoso, rude.
Afeito as coisas materiais, orgias, luxúria, lascivo e sensual.
Sem o menor pudor, adorava cobiçar as mulheres, solteiras ou do próximo.
Adorava festas.
Foi exatamente em destas festas, que Viriato – o conde, conheceu Leonor, uma jovem que estava acompanhada de seu noivo.
A jovem bela, atraiu logo a atenção do homem cúpido.
Viriato se encantou por aquela moça que dançava no salão, ao lado de seu noivo, Lourenço.
Lourenço era o conselheiro e amigo do conde.
Viriato, porém, só tinha olhos para a moça.
Interessado na moça, o conde começou perguntando aos convidados da festa, quem era aquela jovem que dançava daquele jeito tão alegre.
Foi então que ele descobriu que a moça era noiva de seu melhor amigo, Lourenço.
Tal fato, no entanto, não produziu qualquer mudança em seu interesse.
Tanto é, que assim que assim que Lourenço se afastou da moça, Viriato se aproximou de Leonor.
Tentando se mostrar gentil, comentou que ela dançava muito bem.
Leonor, agradeceu o elogio.
Viriato por sua vez, observando a moça mais de perto, percebeu o quanto era bonita.
Visando mostrar-se galante, o homem comentou que sua dança só não era mais bela do que ela própria.
Leonor ficou sem jeito.
Viriato então, tentando encontrar uma deixa para alongar a conversa, respondeu que ela não precisava ficar sem jeito. Argumentou que toda a beleza deve ser exaltada, sem qualquer pudor. Disse que sua dança evocava muita beleza e sensualidade.
Viriato então, tentou segurar o rosto da moça.
Intento interrompido por Lourenço, que procurava a moça, e que a vê-la conversando com seu amigo Viriato, tratou logo de ir ao seu encontro.
Lourenço por sua vez, segurou a moça pelo braço. Dizendo que estava muito feliz com o compromisso firmado com Leonor, comentou que estava ansioso pela celebração do himeneu.
Viriato demonstrou interesse pela conversa do amigo.
E assim, enquanto Lourenço exibia toda sua alegria para seu amigo, Viriato não se cansava de dirigir olhares para Leonor.
A moça, percebendo isto, começou a ficar incomodada.
Lourenço por sua vez, nada percebia.
A certa altura, animados pela bebida, alguns convidados chamaram o casal para dançar.
Viriato ficou só, acompanhando os movimentos da moça de longe.
Enfeitiçado, observava a moça interessadamente.
Leonor e Lourenço tornaram a dançar juntos.
Viriato chegou a comentar com um conviva, que Leonor mais parecia uma princesa.

Lourenço e Leonor não poderiam imaginar o quanto suas vidas seriam transformadas por aquele encontro.
Viriato, aproveitando a festa, pediu a Viriato para dançar com sua noiva.
Leonor, incomodada com o jeito com que o homem a olhava, tentou recusar o pedido, mas Lourenço, dizendo que não havia problemas em aceitar o convite, deixou-a sem alternativas.
E assim, Leonor se viu compelida a dançar com o moço.
Viriato entre um gesto e outro da dança, aproveitou para parabenizá-la pelo enlace. Comentou que ela era uma das noivas mais belas que ele já havia visto.
A moça sem jeito, agradeceu o elogio.
A dança continuou.
Viriato continuou a olhá-la com olhos cúpidos.
Lourenço conversava com alguns convivas e não percebeu as intenções do amigo.
Ao término da dança, Leonor despediu-se de Viriato, mas o moço, dizendo que precisava falar-lhe algo, segurou seu braço.
Nisto, outra música foi tocada, e Viriato, pediu que a moça o acompanhasse em mais uma dança.
Leonor então, continuou a dançar com o conde.
Ao término da dança, o moço lhe disse baixinho, para encontrá-lo em alguns minutos. Comentou que reteria Lourenço, solicitando que lhe informasse novos lugares para vender os produtos agrícolas produzidos, entre outros assuntos de interesse.
Leonor tratou logo de se afastar do conde.
A moça então, caminhou em direção ao noivo, mas Viriato, percebendo isto, tratou logo de puxar o amigo para um canto do castelo. Dizendo que precisavam conversar sobre assuntos do interesse de ambos, argumentou que precisavam descobrir novos locais onde pudessem vender os excedentes agrícolas produzidos em suas terras.
Lourenço, percebendo a ansiedade do amigo, perguntou se ele não gostaria de deixar aquele assunto, para ser discutido em outra oportunidade.
Viriato respondeu que não. Dizendo que o assunto era urgente, comentou que a situação era grave. Insistiu em falar que o tema era de suma importância. Estratégico.
A esta altura, um de seus servos veio chamar-lhe. Dizia que Viriato precisava resolver com urgência, uma questão inesperada.
Viriato, pedindo para que Lourenço o aguardasse, comentou que resolveria rapidamente a questão. Argumentou que precisavam decidir o assunto logo.
Nisto, Viriato, pediu para que o criado servisse as iguarias da festa, para o moço.

Aproveitando o ensejo, Viriato foi ao encontro de Leonor.
A moça por sua vez, tentando se esquivar do conde, ficou a conversar com os convivas.
Viriato então, dirigiu-se ao salão onde a festa acontecia.
Ao ver que Leonor permanecia no salão, notou que a conquista seria mais difícil do que imaginava.
Diante disto, disse para si mesmo, que lhe aprazia as conquistas difíceis.
Razão pela qual olhou fixamente para a moça.
Auxiliado por um servo, mandou um recado para Leonor.
O servo então, pediu licença aos convidados, e dizendo que Lourenço precisava conversar com a moça, encaminhou-a um dos aposentos do castelo.
Leonor foi até uma das salas do castelo.
O servo, ao deixar a moça no aposento, tratou de fechar as portas do ambiente.
Viriato, que a esta altura já estava no aposento, levou algum tempo para se apresentar.
Leonor, surpresa com a situação, perguntou de Lourenço.
Viriato perguntou:
- Lourenço? Que Lourenço?
- Como que Lourenço, senhor? O meu noivo, onde ele está? – indagou Leonor.
Assustada, a moça dirigiu-se a porta do aposento.
Viriato colocou a mão em seu ombro, e lhe disse então:
- Esqueça este noivo! Eu posso te proporcionar algo melhor, uma vida mais confortável.
Leonor ficou horrorizada com a proposta.
Espantada, a moça argumentou:
- Como o senhor pode dizer isto? Afinal, Lourenço não é seu amigo?
Viriato respondeu que o seu interesse por ela, havia suplantado a amizade de Lourenço. Disse que seu afeto era muito grande, para abrir mão daquele sentimento.
Leonor não aceitou a proposta. Disse que amava Lourenço, e que nunca faria algo que pudesse magoá-lo.
Viriato ficou furioso.
Segurando a moça pelo braço, disse que ela não podia recusar sua proposta. Vaidoso, argumentou que nenhuma mulher havia resistido às suas investidas. Atrevido, chegou a dizer que com ela não seria diferente.
Leonor, tentou em vão, se desvencilhar do moço.
Diante da força do homem, Leonor, tentando manter a calma, pediu a ele:
- Por favor! Solte o meu braço.
Viriato, porém, segurava o braço da moça com mais e mais força.
Tensa, Leonor protestou:
- Conde! O senhor está me machucando! Por favor, solte o meu braço!
Furioso, o homem respondeu:
- A senhorita sabe que está em posição de inferioridade comigo? Que se eu quisesse, eu poderia conseguir tudo o que quero, ainda que a força. E a senhorita nada poderia fazer para me impedir.
Leonor começou então a chorar.
- Por favor! Me solte! Eu prometo, não conto nada a ninguém! Só me deixe sair daqui. Pelo amor de Deus! – pediu suplicante.
Viriato, percebendo o desespero da moça, e aproveitando-se da situação, pediu para a moça se acalmar. Dizendo que não estava ali para alvoroçá-la, pediu desculpas pelo inconveniente.
Ofereceu-lhe então um lenço para enxugar as lágrimas.
Leonor tentou recusar o lenço, mas Viriato, mais rápido, enxugou o rosto da moça. Depois, guardou o lenço consigo.
Assustada, a moça se desvencilhou do moço, e abrindo a porta com dificuldade, saiu correndo do aposento.
Viriato por sua vez, em que pese não ter conseguido realizar seu intento, ficou feliz por ter conseguido algo de Leonor. Ainda que fosse apenas suas lágrimas, deixadas em um lenço.
Por algum tempo, ficou com o lenço entre as mãos. Sentado em uma cadeira, ficou perdido em pensamentos.

Em dado momento, lembrando-se que havia deixado Lourenço esperando-o, tratou de ir ao seu encontro.
Desculpando-se, disse que o assunto inesperado, o retivera mais tempo do que esperava.
Lourenço, impaciente, disse que precisava conversar com Leonor.
Viriato então, argumentando que o assunto poderia ser deixado para depois, disse para ele ir logo conversar com a noiva. Dizendo que uma mulher bonita como ela não poderia ficar muito tempo sozinha, sugeriu que ele ficasse atento, ou poderia ser trocado por outro.
Lourenço, ficou um pouco incomodado com aquelas palavras.
Porém, sem imaginar que o sentido daquelas palavras pudesse ser outro além de uma brincadeira, deixou sua zanga de lado. Tratou logo de ir conversar com a moça.
Leonor aflita, o aguardava no salão.
Nervosa, pediu para sair da festa.
Lourenço não compreendeu a reação da moça.
Porém, percebendo que aquele não era o lugar adequado para tratar daquele tema, concordou em ir embora.
Contudo, argumentou que antes, precisava se despedir do amigo, o dono da festa.
Ao ouvir isto, Leonor disse que não seria necessário.
Lourenço porém, retrucou dizendo que Viriato era seu amigo, e que sair da festa sem se despedir, poderia soar como uma desfeita, e que isto não era bom.
Nisto, sem alternativa, Lourenço levou sua noiva ao encontro do conde, com vistas a se despedirem.

Viriato, que a esta altura, retornava ao salão, conversou com alguns convivas, e pedindo silêncio, disse que precisava dizer algo aos noivos. Foi então que, procurando-os pelo salão, localizou o casal indo ao seu encontro.
Viriato começou a dizer que estava muito feliz por receber em sua festa, o casal Lourenço e Leonor. Dizendo que eles estavam noivos, propôs que fosse realizada uma festa para oficializar as esponsais, naquele castelo.
Lourenço, a seu turno disse que já fora planejada uma festa para celebrar o noivado, em sua propriedade, e que não havia necessidade de Viriato se ocupar de um assunto tão banal.
O conde por sua vez, respondeu que nada havia de banalidade no evento, já que se tratava da celebração do amor, entre duas pessoas muito caras a ele. Seu amigo de longa data Lourenço, e sua nova amiga, Leonor, a encantadora moça, que acabara de conhecer.
Leonor ficou perplexa. Assustada, não sabia o que pensar.
Nisto, todos aplaudiram as palavras do conde.
A Lourenço, só coube então, aceitar o convite do amigo.
Viriato então, ao tomar conhecimento de que o casal já estava de partida, sugeriu que eles pernoitassem no castelo, e que ao raiar do dia, partissem.
Lourenço comentou, que precisava conversar com Leonor a respeito. Confidenciou que a moça parecia nervosa.
Viriato respondeu por sua vez:
- Não se preocupe! Provavelmente são coisas de pouca monta a que as mulheres dão muita importância! Fique! Amanhã vocês poderão partir ao nascer do sol, e em casa conversar sobre estes assuntos que tanto a afligem.
Leonor parecia pálida.
Lourenço, ao voltar-se para a noiva, percebeu esta circunstância.
Viriato também.
O conde então, chamou um dos criados, e discretamente pediu para que conduzisse a moça a um dos aposentos, para que pudesse descansar. Visando não chamar a atenção, sugeriu que Lourenço a acompanhasse.
Leonor tentou recusar a ajuda, mas Lourenço, argumentando que ela não parecia bem, sugeriu para que eles pernoitassem no castelo.
Desta forma, sem ter como recusar a oferta, Leonor aceitou ser conduzida a um dos aposentos.
Nisto, o casal foi acompanhado por um dos servos, até o interior do castelo.
Leonor sentou-se na cama.
Lourenço, preocupado com a moça, perguntou se estava tudo bem.
Leonor nervosa, respondeu trêmula, que sim.
O moço porém, não ficou convencido.
Leonor todavia, insistia em dizer que estava tudo bem. Em que pese seu olhar assustado.
Lourenço então, percebendo que a moça não queria explicar o que havia ocorrido, parou de indagá-la.
Viriato por sua vez, adentrou o aposento em que o casal estava, parou em frente a porta e chamou o amigo.
Lourenço pediu licença a moça e saiu do quarto, acompanhado do amigo.
Caminhando juntos pelo corredor do castelo, Viriato sugeriu que ele e sua noiva permanecessem por mais alguns dias.
Dizendo que precisava conhecer melhor a moça, comentou brincando que ela deveria passar por seu crivo, e somente depois de sua aprovação, Lourenço poderia se casar com ela.
Lourenço achou graça na aparente piada do amigo.
Agradecido com o convite, o moço achou por bem recusá-lo, argumentando que possuía alguns afazeres a serem realizados em sua propriedade, e que a moça precisava voltar para a casa de sua família.
Ao chegar neste ponto, Viriato, profundamente curioso, perguntou sobre os parentes da moça.
Lourenço comentou que Leonor era uma belíssima camponesa, filha dos criados que cuidavam da propriedade da família. Relatou que Aparecida e Abílio – os pais de Leonor – era serviçais de confiança de seus pais. Praticamente pessoas da família. Diante disto, para que ele conhecesse Leonor, foi um passo.
Encantado, Lourenço relembrou cada detalhe do primeiro encontro que teve com a moça.
Leonor auxiliava os pais no trabalho da propriedade.
Dizia que quando a moça era criança, já acompanha os pais nos afazeres e na lida, mas que ele, sempre ocupado, nunca havia reparado nela.
Porém, quando lançou os olhos sobre ela, Leonor cantava uma bela canção.
Caminhava pelos campos, trazendo alguns víveres em uma cesta de vime.
Revelou que ficou fascinado com a imagem da jovem.
Lourenço comentou que ela estava especialmente bela neste momento. Revelou que partir daí, decidiu que ela seria sua esposa.
Viriato, perguntou então, se os seus pais, não se opuseram a isto, já que se tratava de uma moça de origem humilde.
Lourenço respondeu que não. Dizendo que seus pais não se importavam com convenções, ressaltou que ambos sempre gostaram muito da moça.
Viriato então lembrou-se que os pais de Lourenço não tinham origem nobre.
Lourenço concordou. Relatou que Seu Cícero e Dona Ordália, apesar de toda a riqueza que possuíam, eram pessoas simples, e que não tinham origem nobre, em que pese a existência de parentes longínquos com grande influência.
Curioso, Viriato perguntou detalhes sobre o encontro de Lourenço com Leonor.
Lourenço respondeu:
- Mas eu já disse tudo.
- Mas diga de novo! – insistiu Viriato.

Lourenço entrou relembrou-se do encontro, da simplicidade e ingenuidade da moça. Leonor caminhava de pés descalços, cabelos soltos. O sol dava a seu semblante um lindo reflexo. A moça cantava e dançava com o cesto de vime.
Quando Aparecida a viu caminhando vagarosamente, tratou logo de chamá-la. Mandou que se apressasse posto que os patrões estavam no palácio, e que havia hora para as refeições.
Leonor pediu desculpas pela demora.
Lourenço, que a observava de longe, e ouvira sua canção, aproveitou para adentrar a cozinha.
Aparecida, ao perceber a aproximação do moço, chamou mais uma vez a atenção da filha.
Lourenço, ao ver a mulher censurando com a filha, pediu para que ela não brigasse com a moça. Dizendo que seus pais só comeriam mais tarde, comentou que não havia necessidade de preparar a refeição tão cedo.
Disse isto, e ficou a contemplar a moça, que ao perceber isto, passou a se ocupar de mexer uma panela que estava sob o fogão de lenha.
Lourenço então bebeu um copo de água.
Mais tarde, quando a refeição foi servida, o moço fez questão de cumprimentar Leonor, que servia os patrões.
Elogiando a moça, perguntou aos pais se fazia muito tempo que ela vivia naquela propriedade.
Cícero e Ordália, achando graça na pergunta, responderam que ela vivia ali desde que nascera.
Lourenço perguntou por que permanecera tanto sem perceber aquela beleza.
Ordália comentou que como ele só pensava em trabalhar, havia se esquecido de olhar em volta.
Lourenço respondeu então, que passaria a observar mais as coisas.
Nisto, assim que teve uma oportunidade, conversou com a moça.
Leonor contudo, em um primeiro contato, ficara tímida com sua presença.
Aparecida por sua vez, dizendo que eles deviam saber se colocarem em seus devidos lugares, custou a aceitar a aproximação.
Não fosse Abílio argumentar com a mulher, dizendo que se a própria família do rapaz não se opunha a aproximação, não deveriam ser eles a se oporem. E Aparecida não teria aceitado o envolvimento de Lourenço com sua filha Leonor.
Por fim, a mulher acabou concordando com a relação dos dois.
Com isto, Lourenço passou a se encontrar com a moça.
Insistente, o moço venceu a timidez de Leonor.
Aproveitando os poucos momentos em que se livravam do cerco de Aparecida e de Ordália – que também zelava pela moça – Lourenço, em certa oportunidade, conseguiu roubar um beijo de Leonor.
Distraída, a moça não pode oferecer resistência.
Surpresa, Leonor perguntou por que ele fizera aquilo.
Lourenço respondeu atrevido:
- Me deu vontade!
Nisto, o moço puxou a moça para perto de si e deu-lhe um abraço.

Ao ouvir a história, Viriato ficou profundamente impressionado com a moça. Talvez mais do que já estava antes.
Curioso, perguntou como estava tudo em sua propriedade.
Pesaroso, Lourenço comentou que após o falecimento de seus pais, tudo passara para suas mãos.
Relatou que a despeito de fazer quase um ano que ocorrera o acidente de carruagem que os vitimara, ainda sentia muita saudade deles.
Viriato, fingindo interesse disse:
- De fato! Deve ser muito difícil perder assim, de uma hora para outra, pessoas tão caras.
Lourenço então, percebendo um certo ar de tristeza do amigo, respondeu:
- Mas a sua vida também não foi fácil! Também perdeste teus pais muito cedo!
Nisto, Viriato, percebendo que o amigo iria censurá-lo, argumentou:
- Nem comece! Eu já sei o que vais dizer. Que eu tenho que mudar minha vida, arrumar uma mulher, viver como homem de bem, indo todos os domingos na igreja, seguindo todas as determinações do catolicismo.
Lourenço retrucou:
- Não! Nada disso! Eu sei que debaixo dessa couraça de homem mundano, existe alguém que precisa desesperadamente de alguém. Desejo do fundo de meu coração, que encontres uma boa mulher e se case com ela.
Viriato riu:
- Eu? Casado? Logo eu?
- Não digas isto. Um dia você vai encontrar uma pessoa muito especial. É só saber procurar.
Viriato comentou que ao que parecia, ele não teve que procurar muito para encontrar Leonor.
Lourenço sorriu.
- Não precisei procurar muito, mas ainda assim, levei a vida inteira para encontrá-la. Foi o encontro de uma vida.
- Uau! Percebo uma declaração de amor! O amor parece estar no ar. – disse um ridente Viriato.
Lourenço, percebendo o adiantado da hora, lembrando-se que Leonor a esperava, e que Viriato tinha uma festa o aguardando, comentou que precisava se retirar-se.
Viriato então, despediu-se do amigo, solicitando que se encontrassem no dia seguinte.
Lourenço concordou.

Nisto Viriato voltou para sua festa.
Ao adentrar novamente o salão, foi cercado de algumas mulheres.
Viriato contudo, não se interessou pelo assédio.
Conquistador, vivia sempre cercado de mulheres.
Desta vez porém, parecia distante.

Cícero e Ordália, conhecedores da péssima reputação do moço, viviam recomendando a Lourenço que diminuísse sua convivência com Viriato.
Lourenço porém, argumentando que ele era seu amigo, dizia que sempre foram como irmãos. Ademais possuíam negócios em comum, não sendo razoável desfazer a sociedade.
Ordália então, percebendo que não conseguiria afastar o filho da convivência de Viriato, pediu para o filho se preservar.
Lourenço comentou então, que não aprovava o comportamento lascivo de Viriato, mas que isto não diminuía a amizade dos dois.

Lourenço por sua vez, ao retornar ao aposento onde Leonor ficara, percebeu que a moça adormecera.
Ficou então a contemplar o sono da moça.
Mais tarde, retirou-se do quarto.
Também se recolheu.
Antes de sair, cobriu o corpo da moça com uma manta. Encostou a porta.

Ao término da festa, Viriato bêbado, foi até seu aposento.
Lembrando-se porém que Leonor e Lourenço estavam no local, o moço dirigiu-se ao aposento onde Leonor estava.
Caminhando cuidadosamente pelo corredor, abriu a porta do quarto cuidadosamente.
Ao notar que a moça dormia, Viriato aproveitou para aproximar-se.
Ficou a observar a moça.
Porém, ao ouvir um ruído no corredor, assustou-se. Razão pela qual saiu apressadamente do quarto, batendo a porta.
Lourenço ao ouvir o barulho da porta, saiu do quarto em que estava. Dirigiu-se ao corredor.
Viriato se escondeu em um dos aposentos.
Preocupado com a noiva, Lourenço se encaminhou para o quarto em que Leonor estava. Adentrando o aposento, percebeu que a moça continuava dormindo.
O moço então, ajeitou a manta que cobria o corpo da moça.
Observou-a durante algum tempo. Depois, voltou para o quarto.
Nisto, Viriato, ao notar que não havia ninguém no corredor, vendo tudo silenciado, dirigiu-se a seu quarto.
Ainda bêbado, jurou a si mesmo que Leonor ainda seria dele. Prometeu a si mesmo que faria o que fosse necessário para isto.
Arrogante, prepotente, não sabia o que era um não.
Tanto que não aceitou o fato da moça não ter se rendido aos seus encantos.

Homem lúbrico, estava acostumado a ter todas as mulheres que quisesse.
Por diversas vezes, o homem foi visto saindo furtivamente de algumas casas do lugarejo, assim como foram vistas, diversas mulheres frequentando seu castelo, e segundo dizem, sua cama.
Viriato também era um homem cruel.
Por diversas vezes fora implicado em assassinatos de homens se opunham aos seus negócios, ou lhe ofereciam ameaças a seu projetos, ou à sua segurança material.
Alguns desses assassinatos era socialmente aceitos. Outros eram vistos como satisfação de um desejo de se satisfazer com sangue.
O conde, por esta razão, possuía inúmeros desafetos.
Por esta razão, os falecidos pais de Lourenço, desaconselhavam a amizade entre os dois.
Certo dia, o casal chegou a comentar com o filho, que não reconheciam o mais o moço. Diziam que Viriato havia se transformado em outra pessoa muito diferente do menino que conheceram, antes de perder os pais, e ter que cuidar sozinho, de uma grande fortuna.
Lourenço sempre tentava convencer os pais que ele estava apenas perdido, precisando de uma orientação.
Ordália por sua vez, chegou a comentar:
- Espero que nunca te arrependas de tentar ajudar este homem, meu filho!

Viriato por sua vez, sabia disto. Tanto que nos últimos anos de vida de Cícero e Ordália, evitava frequentar a propriedade da família do amigo.
Lourenço, sempre dizia ao amigo, que nada havia mudado.
Viriato sabia porém, que as coisas haviam mudado.
Isto por que Ordália lançava costantes e duros olhares de reprovação ao seu comportamento.
Cícero a criticava por isto, mas a mulher, dizendo que não conseguia evitar, argumentava que estava muito decepcionada com o rapaz.
Certa vez, chegou a dizer a Viriato, que sabia que ele era um bom moço. Mas que infelizmente no momento, mais parecia um lobo, usando a pele de um cordeiro, fingindo ser algo, que não era, ou que já havia perdido.
Obviamente, o moço não gostou das palavras, e por esta razão, não mais tornou a frequentar o lugar.
Viriato chegou a ficar com raiva da mulher.
Murmurejando, chegou a chamar-lhe de bruxa.
Mas, amigo que era de Lourenço, nada fez contra a mulher.
Dizia ranjendo os dentes, que a sorte de Ordália, era ser mãe de seu melhor amigo.
Razão pela qual, sempre se mostrava agradável aos olhos de Lourenço, o qual nunca percebera as maldades do amigo.
Lourenço, ingênuo, preferia dar lugar a dúvida, do que acreditar que seu amigo era mal. Irremediavelmente, condenado a maldade.

Bêbado, Viriato não conseguia elaborar nenhuma estratégia para enredar Leonor.
A certa altura, caiu em sua cama e adormeceu.
Quando despertou, o sol já adentrava as janelas, invadindo o quarto.
Um raio de sol iluminou o seu rosto e Viriato acordou sobressaltado.
Preocupado, julgou que já era tarde e que Lourenço e Leonor já haviam partido.
Levantou-se de súbito da cama.
Diante da rapidez do gesto, sentiu uma profunda dor de cabeça.
Nisto aproximou-se de uma tina com água, e lavou o rosto. Ajeitou seu cabelo.
A seguir, balançando uma sineta, chamou um seu criado.
O homem, tratou de providenciar algo para vestir.
Nervoso, Viriato perguntou se Lourenço e Leonor já haviam partido.
O criado respondeu que ainda não.
O conde respirou aliviado.
Diante disto, Viriato apressou-se em se arrumar.

Em seguida dirigiu-se a sala de jantar.
Nisto, Lourenço o aguardava para tomar café junto com o amigo.
Viriato tratou logo de cumprimentá-lo.
Com efeito, após trocarem algumas palavras, Viriato perguntou de Leonor.
- Onde está a moça?
Lourenço apontou então para o jardim.
Leonor contemplava a beleza do lugar. Parecia estar fora do mundo.
Viriato então, resolveu ir até o jardim. Com isto, convidou Lourenço para passear pelo local.
Chegaram calmamente.
Leonor, que estava absorta em pensamentos, não percebeu a aproximação. Tanto que assustou.
Percebendo isto, Lourenço abraçou a moça e pediu-lhe desculpas.
Sorrindo, a moça disse que apenas estava distraída.
Viriato ao ver Lourenço com os braços na cintura da moça, ficou incomodado.
Fingindo porém ser simpático, o conde resolveu então, chamá-los para tomarem um café da manhã.
Dizendo que já era hora de se alimentarem, Viriato insistiu para que ambos entrassem.
Nisto os três se dirigiram-se a sala de jantar.
Comeram frutas, pão caseiro, tomaram suco.
Lourenço, fez Leonor experimentar uma fruta que a moça não conhecia. Para tanto, colocou um pedaço de fruta em sua boca.
Com isto, Leonor experimentou a fruta e sorriu para Lourenço.
Viriato ficou incomodado com a cumplicidade do casal.
Contudo, constatando que não poderia ser antipático, resolveu chamar a atenção de Lourenço para outra questão.
Dizendo que precisavam discutir sobre seus negócios, Viriato comentou que tinha algumas idéias para expandir suas terras e seus ganhos, e que ele, se o quisesse, poderia participar de tudo aquilo também.
Lourenço agradeceu então a deferência do amigo, que se lembrou dele para seus projetos. Argumentou porém que eles precisavam de mais tempo para trabalharem a questão.
Viriato comentou então, que ele e sua noiva poderiam voltar a sua propriedade, quando quisessem.
Lourenço respondeu que, diante dos preparativos para seu casamento, iria sobrar pouco tempo nos próximos meses para cuidar de outros assuntos que não fossem seu matrimônio.
Ao ouvir isto, Viriato ficou visivelmente desapontado.
Leonor, ao término do desjejum, dirigiu-se novamente ao jardim. Deixou os amigos conversando sozinhos.
Viriato sugeriu então, que eles fizessem uma festa de comemoração ao noivado, e que se quisessem, poderiam realizar o casamento no castelo. O conde argumentou que sua propriedade era mais imponente, mais vistosa, e que ali, eles poderiam chamar mais convidados.
Lourenço comentou então, que não poderia fazer isto. Alegando que seria um abuso de sua boa vontade, respondeu que havia planejado uma festa simples, bem ao gosto de Leonor.
Viriato retrucou:
- Como assim? Festa simples? Ah não! Nenhuma mulher deseja uma festa de casamento simples. Todas querem luxo, fausto. Se Leonor não te disse isto, é por que ela deve ser muito tímida. Imagine só ... uma linda festa, um belíssimo vestido. Duvido que a sua Leonor não aprecie um bom divertimento. Qualquer mulher iria adorar.
Lourenço ficou sem argumentos.
Ao notar isto, Viriato prosseguiu:
- Vamos amigo, pense com carinho em minha proposta. Converse com sua noiva. Diga-lhe que é um presente que eu ofereço para o meu estimado amigo. Caro Lourenço, eu duvido que diante destes argumentos, Leonor não se convença e concorde em celebrar as duas cerimônias aqui. Até por que se ela não aceitar, estará fazendo uma desfeita. Ficarei aborrecido.
Por fim, soltou uma boa risada.
Lourenço riu também.
O moço prometeu ao conde que conversaria sobre o assunto com Leonor reservadamente, na primeira oportunidade que tivesse.
Viriato sorriu.
Nisto, Lourenço comentou que precisava partir, que já estava ficando tarde.
Viriato insistiu para que ele permanecesse mais um pouco no castelo.
O moço porém, dizendo que precisava cuidar de sua propriedade, comentou que precisava levar sua noiva de volta para sua família.
Diante disto, o conde não insistiu.
E assim, Lourenço foi buscar Leonor no jardim.
Abraçou-a novamente. Feliz, o moço comentou que já estava sentindo saudade dela, antes mesmo deixá-la com seus pais.
Leonor achou graça naquelas palavras.
Viriato, que tudo observava de longe, chegou a sentir raiva de toda aquela felicidade. Invejoso, dizia a si mesmo que Leonor ainda seria dele.
Pensando nisto, dizia que Lourenço acabaria encontrando uma outra moça para ele, e viveria feliz sem Leonor.
Nisto, Lourenço voltou do jardim, segurando Leonor pelas mãos.
A seguir, o moço ajudou a noiva a subir na carruagem.
Viriato despediu-se então do casal.

Ao chegar em sua propriedade, Lourenço deixou Leonor aos cuidados de Aparecida e Abílio.

Em seu castelo, Viriato por sua vez, maquinava fórmulas para conquistar Leonor.
Estava disposto a ir até as últimas consequências para conquistar a moça.
Planejou sequestrá-la.

Nos dias que se seguiram, Lourenço conversou com Leonor a respeito da possibilidade de realizar uma festa de comemoração ao noivado, no castelo de Viriato.
A moça ao ouvir a proposta, imediatamente tencionou recusar.
Lourenço contudo, dizendo que Viriato era um seu grande amigo, comentou que ele se recusasse a realizar pelo menos esta festa no castelo, seria uma desfeita. Argumentando que não podia magoar ou ferir a suscetibilidade de um amigo, Lourenço respondeu que não faria a festa de casamento lá, apenas uma comemoração do noivado.
Sem alternativa, Leonor acabou concordando em realizar uma festa no castelo de Viriato. Argumentou porém, Lourenço não poderia se afastar nem um só minuto dela.
O moço, ao ouvir a proposta, ficou surpreso com a excentricidade do pedido.
- Afinal de contas, por que isto? – perguntou.
Leonor explicou então, que tinha medo de ficar sozinha em um lugar tão grande.
- Mas você não estará sozinha. Neste dia, o castelo estará repleto de convidados. Muita gente. – argumentou Lourenço.
Leonor insistiu em pedir para não ficar sozinha no local.
Lourenço, percebendo a angústia da moça, respondeu:
- Se o problema é este, você não estará nunca sozinha. Eu estarei lá o tempo todo. Ademais, seus pais também estarão lá.
Leonor então, ao ouvir tais palavras, sentiu-se mais tranquila.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

sexta-feira, 11 de junho de 2021

EMPADA CASEIRA

Receita

Ingredientes:

Massa de Empada:
400 gr de farinha
5 colheres de manteiga gelada
2 ovos
1 colher de chá de sal
250 gr de margarina
1kg de farinha
1kg de farinha
500 gr de margarina
2 ovos

Modo de Fazer: 

Misture os ingredientes, mexendo até formar uma massa de aspecto esfarelado.
Após, pressione a massa para lhe conferir um pouco de umidade, para o manuseio em forminhas.
Coloque pouca massa, e acrescente recheio de sua preferência (pode ser de frango, palmito, etc.).
Com uma camada fina de massa, faça uma tampa para as empadas.
Asse as empadas. Acompanhe o processo e só retire do forno, quando estiverem douradinhas.

Pronto! Agora é só degustar!
Bom Apetite!

quinta-feira, 3 de junho de 2021

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 40 – EPILOGO

Nisso, Lourival, tentava conversar com Aliomar. Dizendo que se ele o matasse nunca mais poderia por os pés na cidade, Aliomar respondeu que isso pouco importava. Alegando que uma dívida com ele nunca ficava sem paga, respondeu que era chegada a hora do acerto de contas.
Lourival ao ouvir estas palavras, tentou mais uma vez conversar, mas Aliomar, desejando vingança mandou ele andar.
Lourival, preocupado perguntou-lhe para onde iriam.
Aliomar, ordenando-o se calar, mandou que continuasse andando.
Sem questionar a ordem, Lourival caminhou.
Ao se aproximar da igreja, Lourival perguntou a Aliomar:
-- O que está acontecendo?
Aliomar respondeu:
-- Corre!
Sem nada entender, Lourival permaneceu estático.
Impaciente, Aliomar gritou:
-- Corre.
Sem alternativa, Lourival correu. Correu até chegar em frente a igreja.
Lá Aliomar, apontando sua arma para Lourival, desfechou vários tiros contra ele.
Lourival, ao sentir os tiros, caiu ao chão.
Os poucos convidados que ainda aguardavam o desfecho da história, puderam ver o homem caindo.
Regina, ao ver Lourival ferido, acorreu em sua direção.
Margarida ao perceber a intenção da filha, bem que tentou impedi-la, mas Regina, afastando o braço da mãe, foi ao encontro de Lourival.
O homem, ao ser amparado pela moça, afirmou:
-- Igual a Elis!... Estou pagando pelos meus erros!
Regina ao ouvir estas palavras, chorou.
Lourival, percebendo a tristeza de Regina, comentou:
-- Não, não chore. Menina, não chore. Eu escolhi o meu fim. Escolhi no dia em que me envolvi com quem não devia, e fiz escolhas erradas. Com meu comportamento, magoei e feri muita gente. Você bem o sabe. Eu te contei. Não bastasse isso, te magoei também. Me perdoe por isso. Não foi intencional.
Regina, notando o vazio nos olhos de Lourival, concordou em conceder-lhe o perdão que tanto pedia.
Lourival agradeceu então. Dizendo que agora poderia morrer em paz, respondeu que amou muito Elis, tanto quanto a amava.
Regina respondeu:
-- Eu sei.
Nisso, Lourival, olhando fixamente para ela, disse adeus. Em seguida, pendeu a cabeça para trás e cerrou os olhos. Estava morto.
Regina, que o segurava nos braços, ao vê-lo morto, começou a chorar.
Leopoldo, depois de muito procurá-la, ao vê-la amparando Lourival nos braços, percebendo seu desespero, resolveu ajudá-la.
Nos jornais, mais uma trágica notícia estampada.
No enterro, não fosse o pedido de Regina, e ninguém teria comparecido a cerimônia fúnebre.
Seus pais, preocupados com ela, ao verem-na tão triste, ofereceram-lhe uma viagem.
Regina, que não tinha mais nada a perder, concordou.
E assim, duas semanas após a morte de Lourival, lá estava ela de malas prontas para viajar. Triste com o ocorrido, Regina comentou que nunca mais voltaria ao Brasil.
Seus pais ao ouvirem isso, ficaram deveras tristes.
A moça cumpriu com o prometido. Enquanto viveu, nunca retornou ao país. Casou-se e constituiu família no exterior.
Abelardo, continuou casado. Nos anos seguintes, seus dois filhos casaram-se.
Por sua vez, Bernardo e Claudete faleceram, anos depois da morte de Lourival.
Raul e Aliomar também. Quanto ao último, depois do assassinato de Lourival, este fugiu para o exterior, de onde nunca mais voltou. Como Lourival, foi assassinado também.
Margarida e Leopoldo, um dia, também resolveram se despedir da vida. Cada um a seu tempo, partiram ao encontro de seus pares. Era 1980.
E assim, termina a história.
A vida tem dessas coisas.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 39

Quem a achou foi justamente Lourival, que depois de muito correr, finalmente alcançou-a.
Em frente a praia do Mucuripe, Lourival comentou que foi ali que sua vida começou. Emocionado, começou a chorar.
Regina ao perceber sua emoção, resolveu ouvi-lo.
Lourival então, contou sobre todo o processo de degeneração moral pelo qual vinha passando.
Regina, ao se dar conta de que Lourival tinha o dobro de sua idade, comentou surpresa que ele não aparentava mais do que vinte anos.
Lourival revelou então, que abrira mão de tudo o que acreditava, até mesmo de suas convicções, para ser sempre jovem e rico.
A moça ao saber disso, ficou horrorizada.
Lourival ao perceber o horror que provocara em Regina, comentou que estava arrependido do que fizera. Dizendo que ela estava livre para seguir longe dele, Lourival revelou que só assim se penitenciaria de todo o mal que causara as pessoas. Afirmando que precisava pagar pelo que fizera, comentou que a amava, mas que não era digno deste amor. Além disso, precisava fazer Aliomar responder pelo crime de ter matado Elis.
Regina ao ouvir estas palavras, chorou. Dizendo que agora entendia tudo, resolveu perdoá-lo. Comentando que ele mesmo já se punira pelo mal que perpetrara, respondeu que ele tinha que acertar suas contas com o Criador.
Lourival ao ouvir isso, agradeceu.
Nisso, Aliomar, que partira em seu encalço, ao vê-lo ao longe conversando com Regina, apontou sua arma em direção a ele.
Lourival que nem percebia o que acontecia em volta, despediu-se da moça.
Regina, dizendo que precisava voltar a igreja, respondeu que poderiam voltar juntos.
Abalados, os dois só foram interrompidos em seus silêncios, quando Aliomar surpreendeu-os. Dizendo que tinha contas a acertar com Lourival, pediu a moça que se afastasse.
Regina, ainda tentou defendê-lo, mas Lourival, afirmando que não havia outra saída, pediu a ela que voltasse para casa.
A moça, percebendo que não adiantava discutir, seguiu seu caminho. Aflita, partiu em desabalada carreira em direção a igreja. Sequiosa de tentar ajudar Lourival, Regina correu o mais depressa que pôde.
Quando se aproximou da igreja, começou a chorar. Dizendo que Aliomar tencionava matar Lourival implorou a ajuda. No entanto, nem mesmo sua mãe se interessou em ajudar Lourival.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.