Nisso a vida de Fabrício e Alessandro permanecia no mais profundo caos. Hostilizados pela população da cidade, não conseguiam realizar direito o seu trabalho.
Para piorar, em um dado momento, os populares ameaçaram invadir a delegacia, pegar os dois policiais e linchá-los, caso não fosse tomada alguma providência.
Otaviano, ao perceber isso, ficou espantado. Preocupado com a integridade física dos dois policiais, recomendou aos outros policiais, que conduzissem Fabrício e Alessandro, até os fundos da delegacia, e escondendo-os dentro de um carro particular, os levassem até suas casas.
Prontamente, Fabrício e Alessandro foram conduzidos para fora da delegacia.
Espantados com a reação da população, não podiam acreditar no que estava acontecendo. Porém, cientes do risco que corriam, resolveram aceitar o oferecimento do delegado e assim, saíram escondidos da delegacia.
Depois de ter a certeza de que os dois policiais, não mais estavam na delegacia, Otaviano saiu, e foi conversar com a população enfurecida. Cioso com seu trabalho, argumentou com os populares que aquele ato estremado, não levaria a nada.
Diante disso, um dos populares gritou:
-- Como nada? Nós viemos acabar com a raça daqueles dois policiais safados.
O pessoal que estava reunido, aplaudiu as palavras gritadas.
Otaviano então, perdeu a paciência:
-- Escutem bem. Se algum dos senhores invadir esta delegacia, vão todos em cana. Destruir patrimônio público é crime, e os senhores sabem muito bem disso. Além do mais, nenhum dos policiais, suspeitos, veja bem suspeitos de terem disparado um projétil contra a vítima, está aqui. Assim, como os senhores podem muito bem constatar, por que são pessoais lúcidas, eles ainda não são acusados de nada. Estamos em fase de inquérito ainda, e enquanto eles não forem condenados, não podem ser chamados de criminosos. Não sabemos se foram eles que atiraram.
Mas a horda estava transtornada.
Não fosse o reforço policial vindo das cidades vizinhas, fatalmente os populares teriam depredado a delegacia, e quanto a isso, o delegado nada poderia fazer para impedir o gesto ensandecido, ou acabaria também, sendo agredido.
Assim, a ida de reforço para lá, foi providencial.
Também fora providencial, a decisão do delegado de levar os policiais para fora da delegacia.
Porém, a despeito de depois do incidente, tudo ter ficado momentaneamente em paz, Otaviano sabia que se os policiais e suas respectivas famílias, permanecessem em suas casas, fatalmente seriam linchados pelos populares.
Assim, quando Otaviano deu-se conta de que talvez tivesse encaminhado os policiais para uma armadilha, tratou logo de chamar os seus policiais e também o reforço de outras cidades, para acompanhá-los até a casa de Fabrício e Alessandro.
Dito e feito.
Foi só eles chegarem no bairro onde Alessandro e Fabrício moravam, para a multidão começar a aparecer também.
Se tivessem demorado mais alguns minutos, talvez não pudessem fazer mais nada. Porém, retomando o controle da situação, os policiais da localidade, juntamente com o reforço, tomaram logo as providências necessárias.
A pedido do delegado, os policiais entraram em ambas as casas, e recomendaram aos policiais e as suas famílias respectivas, que fossem embora dali.
Porém Fabrício e Alessandro não estavam nem um pouco inclinados a aceitar a recomendação. Todavia, ao se aproximarem da janela de suas casas, e verem a multidão se aproximando dela, trataram logo de arrumar seus pertences.
Enquanto isso, a policia tentava a tudo custo dispersar a horda de populares.
Eis então que aparece Joana, que ao saber do acontecimento, foi logo até o palco da confusão, tirar algumas fotos e conversar com alguns populares.
Desta forma, Joana acabou descobrindo detalhes envolvendo a situação dos policiais, que não havia sido relatado pela mídia.
Curiosa, depois que a confusão foi desfeita, a jovem jornalista foi até a sede da imprensa local, pesquisar os fatos jornalísticos recentes.
Com isso, cabe salientar que, para que os manifestantes se dispersassem, foi necessária uma saraivada de tiros para o alto.
Nisso os populares apavorados, acabaram se evadindo do local.
Porém, alguns cidadãos, mais exaltados, acabaram enfrentando a polícia, e diante disso, acabaram sendo presos.
Enquanto isso, os policiais, aproveitando a confusão, saíram com sua família e seus pertences, de suas casas. Desapontados e preocupados com tudo o que estava acontecendo, não sabiam para onde ir. Além disso, na correria, acabaram por deixar, muitas coisas para trás.
Otaviano, imaginando o desespero de Alessandro e Fabrício, pediu para que ambos, juntamente com suas famílias, fossem levados para sua casa.
Quando os policiais ouviram a recomendação do delegado, advertiram-no do que o estava fazendo, era bastante arriscado.
Otaviano porém, dando de ombros para a opinião de seus subordinados, exigiu que os mesmos fossem levados para lá, ao menos enquanto toda a confusão não estivesse resolvida.
Fabrício e Leonardo, então, que momento antes, haviam ficado profundamente desapontados com a atitude do delegado, agora mal sabiam o que fazer para agradecer. Envergonhados, finalmente puderam entender, que a atitude do delegado se devia ao fato de que talvez, prevendo essa confusão, não queria expor nem eles, nem os outros policiais a agressões desnecessárias.
Assim, quando tiveram uma oportunidade para conversar com Otaviano, trataram logo de se desculparem, dizendo que no momento em que mesmo recomendou que se afastassem, só conseguiram pensar que ele acreditara em tudo que lhes estava sendo atribuído.
O delegado então, ao ouvir as palavras dos policiais, comentou com eles, que não tinham com o que se envergonharem. Isso por que, ele no lugar dos dois, também teria ficado chateado, até por que, não é fácil ser acusado de algo que não se fez.
Os policiais ao ouvirem isso, ficaram intrigados.
Otaviano contudo, não lhes explicou claramente o que ele queria dizer com isso.
Talvez, o delegado tivesse encontrado uma prova que afastasse a suspeita sobre eles. Talvez.
Dessarte, Joana, tendo encerrado pelo menos momentaneamente seu trabalho, tratou de ir logo ao arquivo do jornal da cidade. Lá, depois de passar algumas horas lendo as notícias do município, descobriu que não havia sido ainda comprovado o envolvimento dos dois policiais com o acontecimento envolvendo o disparo contra a vítima. Lendo as matérias publicadas, descobriu que tudo estava sendo investigado.
De formas que, fora precipitada a atitude da população da cidade, que enfurecida, queria a todo o custo, executar uma vingança.
Ademais, a situação fora tão séria, que até o prefeito foi mobilizado para tentar resolver a situação.
Como Arthur era muito respeitado pela população, a despeito das denúncias de corrupção envolvendo o seu nome, o prefeito tratou logo de agendar um discurso na praça central da cidade e assim, falar com a população.
Diante disso, o almoço agendado com Joana, teve de ser adiado.
Mas Joana, diante do imprevisto, concordou com a atitude do político.
Como a situação estava chegando a um limite preocupante, a moça concordou em deixar o almoço para mais tarde. E assim, somente dias depois, é que finalmente os dois puderam se encontrar para almoçar.
Mais um vez se falou em amenidades, sem entrar na questão política.
Aliás, quando Joana tentou, por uma única vez, falar sobre o incidente que começou em frente a delegacia e depois chegou à casa dos policiais, foi imediatamente interrompida por Arthur, que a essa altura, já não agüentava mais falar sobre o assunto.
Porém, não daria para ele ficar enrolando Joana por muito tempo, e assim, depois do aludido almoço, o prefeito da agora famosa cidade, agendou um novo encontro para falar sobre política.
Joana, ao constatar que a entrevista estava finalmente agendada, ficou profundamente feliz. Isso por que, finalmente poderia falar abertamente com o prefeito sobre tudo o que estava acontecendo.
E assim foi. No dia marcado para a entrevista, o prefeito fez questão de recebê-la em seu gabinete.
Imediatamente, ao vê-la adentrando a sala, convidou-a para se sentar. Depois ofereceu um café, o qual foi prontamente aceito pela entrevistadora.
Com isso, deu-se início a entrevista.
Durante a entrevista, Joana perguntou sobre o início da vida política de Arthur, como ele chegou ao cargo de prefeito, como estava sendo realizada sua administração, o incidente envolvendo os policiais, a questão da violência em um município pequeno, as denúncias de corrupção, e tudo o mais envolvendo sua atividade como político.
Com relação as primeiras perguntas, Arthur se saiu muito bem em suas respostas. Tanto, que empolgado, novamente comentou sobre seu sonho de infância.
Porém, quando chegou na questão do incidente envolvendo os policiais, Arthur começou a ficar um pouco incomodado. Mas como havia se comprometido com a jornalista, comentou sobre tudo o que havia se sucedido, bem como sobre o que tinha conhecimento a respeito do assunto.
A seguir, no tocante a questão da violência no município, o prefeito comentou que aquele era um caso isolado e que pouquíssimos acontecimentos como aquele, haviam se dado, naquela pacata cidade.
Joana porém, não estava convencida disso, tanto que chegou a comentar sobre a ocorrência de golpes, assaltos, furtos, assassinatos.
Para ajudar, havia ainda a presença de pessoas suspeitas na cidade. Não necessariamente pobres, mas suspeitos. Até mesmo outros políticos já haviam sido denunciados por corrupção. Foi aí então, que Joana então se exaltou e comentou até sobre um possível envolvimento dele nessa confusão.
Arthur então, tratou de se defender. Argumentando que nada havia sido provado contra ele, comentou que tudo não passara de um equívoco e que ele não tinha nada que ver com a situação.
Mas Joana insistiu na história.
Alegando que as denúncias foram exaustivamente cobertas pela mídia da capital, Joana comentou que não foi bem essa a impressão que tivera com a história.
Arthur então, irritado com o comentário de Joana, perguntou-lhe:
-- Menina, o que você sabe da vida, heim? E mais, o que você sabe da minha vida? Nada. Você acha que sabe por que viu algumas notícias tendenciosas publicadas em um jornal. Isso não quer dizer nada. Isso não prova nada. Tanto que até hoje, dois anos depois dessas denúncias, eu não sofri penalização nenhuma e quero ver alguém provar que eu fiz algo de errado.
Joana então comentou:
-- Está bem! Se não se tem como provar, não se pode acusar. Está encerrada minha entrevista. Muito obrigada pela atenção. Desculpe o transtorno.
Arthur então se acalmou, e desculpando-se pela exaltação, disse que não fora nada e que ela podia ir embora sossegada.
Mais tarde porém, Arthur ligou perguntando se ela realmente tinha interesse em publicar a entrevista.
Joana cautelosa, respondeu que iria pensar. Depois, emendando, comentou que iria cobrir a história, envolvendo os dois policiais acusados de atirar contra uma vítima de um assalto. Foi então lhe veio a mente dizer que esta notícia seria a primeira a ser publicada.
Com isso a moça perguntou:
-- Pois bem. Qual o interesse?
O prefeito então explicou que não havia gostado muito do resultado da entrevista. E ademais, como não era o principal objetivo dela, por que não refazer a entrevista, agora com perguntas mais amenas?
Joana não gostou nem um pouco da história. Porém, não ofereceu resistência. Pelo contrário. Concordou prontamente em agendar uma nova entrevista.
E assim foi feito.
Porém, antes de qualquer coisa, Joana fez questão de encontrar um local seguro para guardar a gravação que fizera. Todavia, temerosa de que talvez estivesse sendo seguida, tratou de esconder em um local pouco provável.
Depois, escreveu um bilhete e deixou na redação do jornal local. Pedindo para o editor guardar a carta, combinou que este só abriria a missiva, caso ela não voltasse até o dia seguinte.
A seguir, Joana foi até o local do encontro.
Porém, qual não foi sua surpresa, ao constatar que o mesmo, aparentemente não havia preparado nenhuma armadilha para ela. Aparentemente, tudo não passara de um pretexto para convidá-la novamente para sair.
Contudo, mais tarde a moça perceberia, que Arthur, estava mesmo, era interessado em impressioná-la. Assim, utilizou-se de tudo de bom que o dinheiro poderia oferecer.
Mas Joana estava prevenida contra ele. Assim, não seria nada fácil convencê-la de que se tratava de uma pessoa de confiança.
Arthur porém, era bastante insistente. Diversas vezes a convidou para sair, mesmo sabendo que o convite certamente seria recusado. Mesmo assim, não desistiu.
Tal fato, causou profunda surpresa em Joana, que não estava acostumada a lidar com pessoas tão determinadas quanto ela. Contudo, isso não foi o suficiente para desarmá-la e livrá-la da prevenção que tinha contra ele.
Mas o prefeito estava determinado em sua idéia de ganhar a confiança de Joana.
E foi assim, que Arthur acabou convencendo a moça a sair novamente com ele.
Joana, então, tomada de extrema curiosidade, resolveu, depois de muitas recusas, aceitar sair novamente com ele. Pensando melhor, achou que seria mais conveniente aceitar os convites do prefeito, e tentar descobrir algo mais sobre ele. Como a entrevista que realizara com ele não fora conclusiva, a moça resolveu então aceitar outros convites para sair.
Por sua vez, Arthur, convencido de que poderia fazer a moça se esquecer de assuntos políticos, resolveu mostrar cada vez mais seu lado festeiro. Acostumado a bem viver, fazia de tudo para proporcionar a Joana o melhor que tinha a oferecer. Com isso, eram comuns os jantares caros, e os passeios para outras cidades. Tudo no intuito de impressionar a moça e convencê-la de que era uma boa pessoa.
Enquanto isso, Joana ganhava a confiança de Arthur, e se fazia cada vez mais presente em sua vida. Acompanhando-o em jantares e eventos sociais, como inaugurações e festividades, a moça começava a se inteirar sobre sua vida.
O que era arriscado para ele, mas Arthur não estava nem um pouco preocupado com isso.
Muito embora seus assessores o aconselhassem a não mergulhar de cabeça naquele relacionamento, Arthur estava bastante empolgado com Joana. Tanto que nem se preocupava em esconder detalhes de sua vida política. Porém, no tocante ao escândalo de corrupção envolvendo seu nome, este ele fazia questão de esconder.
Todavia, não seria por muito tempo que este escândalo continuaria esquecido.
Isso por que Joana, sempre que tinha a oportunidade de ficar sozinha, aproveitava para bisbilhotar os pertences do prefeito, tais como pastas e documentos, tudo no intuito de encontrar algo comprometedor.
Quanto a isso, a moça fora extremamente habilidosa.
Fazendo de conta que havia deixado de lado seu interesse em conhecer a vida do prefeito, passou a se dedicar mais inteiramente ao escândalo envolvendo o nome dos policiais. Assim, dava a impressão ao ilustre prefeito da cidade, de não estar mais interessada em sua vida pública.
Para Arthur, a sensação de que Joana havia deixado de lado a idéia de publicar a entrevista, era muito boa. Era como se Joana se importasse com ele. Como se fora uma pessoa de confiança. E era exatamente essa a impressão que a moça queria passar ao prefeito.
Assim, ele jamais imaginaria que ela estava se aproximando dele para prejudicá-lo.
Com isso, conforme os dias foram se seguindo, as semanas passando, Joana foi ficando cada vez mais próxima da verdade.
Escutando conversas envolvendo os assessores, membros do partido, e outros políticos, Joana descobriu que o escândalo envolvia boa parte das lideranças políticas da cidade. Poucos não estavam envolvidos.
Joana ao constatar isso, resolveu ser ainda mais cautelosa, ou acabaria não descobrindo nada. Isso por que, se queria acusar o prefeito, deveria ter uma prova substancial para derrubar qualquer defesa. Por isso mesmo, Joana precisava se mostrar isenta em relação a tudo.
Em razão disso, a moça passou a demonstrar cada vez mais interesse em Arthur, e ele, acreditando que realmente estavam conquistando a moça, caiu como um patinho na armação criada por ela.
Enquanto isso, o escândalo envolvendo o nome dos policiais, começava a ser resolvido.
Depois da perícia constatar que o tiro disparado contra a vítima não havia saído das armas dos policiais Fabrício e Alessandro, o delegado Otaviano constatou que seria apenas uma questão de tempo para que os dois pudessem voltar ao trabalho, e que o responsável por toda aquela confusão fosse encontrado e punido.
Fabrício e Alessandro, ao saberem do resultado do laudo, ficaram muito contentes. Finalmente a confusão que se abatera sobre suas vidas seria resolvida.
Porém, não estava tudo resolvido como eles pensavam.
Isso por que o caso repercutira muito mal, abalando a credibilidade da policia local.
Diante disso Otaviano precisava tomar uma atitude.
Além disso, a violência na cidade, estava chegando a patamares insuportáveis até mesmo para eles, policiais.
Pensando nisso, Otaviano percebeu que os policiais de sua cidade precisavam passar por novos treinamentos e se aperfeiçoarem para trabalharem cada vez melhor.
Contudo, para que esse treinamento fosse realizado, seria necessário contratar gente e equipamento especializado. Para tanto, o dinheiro se fazia necessário.
Diante disso, o delegado decidiu conversar com o prefeito. Isso por que, se a violência campeava na cidade, era por que havia um descompasso entre a possibilidade de ação do efetivo policial da cidade, e o poder de fogo dos bandidos. Além disso, dada a grande onda de crimes que vinha varrendo a cidade, certamente bandidos de outras cidades, utilizavam a municipalidade para a prática de seus atos criminosos.
Diante disto, Arthur devia tomar uma atitude, ou então a bandidagem tomaria conta da cidade.
Arthur, ao tomar conhecimento desses fatos, ficou realmente preocupado. Muito embora soubesse que os índices de violência eram assustadores, não imaginava que a situação estivesse tão crítica.
De posse dos dados coletados pelos policiais em seus atendimentos diários, o prefeito descobriu que boa parte dos crimes eram de roubo e de furto. Contudo, os crimes de homicídio aumentaram consideravelmente. Além disso, os golpes na praça também aumentaram muito desde a última estatística.
Arthur então, percebeu que não mais poderia se omitir. Se não tomasse uma atitude e rápido, as situação se tornaria incontrolável. De formas que resolver essa questão era premente.
Contudo, o que fazer numa situação dessas?
Foi aí que o delegado da cidade sugeriu contratarem gente especializada para realizar o treinamento dos policiais.
O prefeito ao ouvir isso, comentou com o delegado, que a questão não era tão simples assim. Primeiramente, seus gastos para o ano, já estavam todos definidos. Além disso, se destinasse alguma verba para isso, seria necessário realizar uma licitação para escolher a melhor oferta.
Otaviano então, comentou que:
-- Senhor prefeito. Eu como bacharel em direito, sei perfeitamente, que em caso de notória especialização, fica dispensada a exigibilidade de licitação. É exatamente este o caso. O que eu estou sugerindo a Vossa Excelência, que contrate as pessoas mais gabaritadas para esse trabalho.
Arthur ao ouvir isso, perguntou ao delegado, se o custo de tudo isso não seria maior que o benefício proporcionado aos policiais.
Otaviano, percebendo a preocupação do prefeito em controlar os gastos da prefeitura, comentou, que talvez, num primeiro momento, o custo se revelasse muito alto. Mas depois, com os policiais treinados e preparados para lidar com os alarmantes níveis de violência da cidade, o gasto se reverteria em segurança para a população. Com isso, o próximo passo, seria enviar policiais para fazer cursos em outras localidades, tudo com vistas a formar profissionais habilitados a ensinar outros policiais, sem que para isso fosse necessário deslocar praticamente todo o contigente de policiais para outra localidade.
Otaviano, ressaltou ainda, que o deixou mais preocupado, foi a confusão que se instalara em frente a delegacia, quando o caso dos policiais atingiu então, limites estratosféricos. Isso por que, para driblar a fúria da população incontida, foi necessário reforço policial. Sim, por que quando ele viu a horda furiosa, ameaçando invadir, depredar a delegacia e agredir os acusados, se viu obrigado a tomar uma atitude extrema. Desta forma, assim, que percebeu que aquela confusão poderia se transformar numa tragédia, tratou logo de pedir ajuda as polícias de outras cidades.
Arthur, então, dando-se conta disso, parou de se opor ao pedido do delegado e concordou prontamente em organizar um treinamento para os policiais. Além disso, comprometeu-se a abrir um concurso público para se aumentar o efetivo policial. Assim, poderia se aproveitar o treinamento dos policiais, com os novos policiais que fossem entrar na carreira.
Otaviano ficou deveras satisfeito. Isso por que, com o aumento do contingente de policiais, poderia certamente ser instaladas bases comunitárias pela cidade. Uma iniciativa que, segundo ele, havia mostrado bons resultados em outras localidades.
Arthur, então ouviu tudo atentamente. Percebendo o interesse do delegado em tentar conter o problema da violência, o prefeito elogiou a atitude do mesmo.
Diante disso, Otaviano, ao encerrar sua conversa com o prefeito, retirou-se do seu gabinete e retornou a delegacia.
Nisso Arthur ficou pensando na proposta do delegado. Depois, apresentando-a aos vereadores notou que esta era uma ótima oportunidade para eles ganharem pontos com seus eleitores. Sim, por que se eles conseguissem debelar o problema da violência, certamente poderiam alçar cargos mais elevados. Desta forma, o prefeito e os vereadores, fizeram todo o possível para pôr as idéias do delegado em prática. Almejando vôos maiores, empenharam-se o máximo possível para implementar as idéias do delegado.
Vaidoso Arthur, foi logo dizendo que a idéia havia sido dele.
Otaviano, ao saber disso, não se importou nem um pouco. Para ele, o mais importante, era conseguir implementar as medidas. Quem havia sido o autor da idéia, era ponto de pouca relevância para ele.
Diante disso, vendo que tudo o que pedira estava sendo cumprido pelo prefeito, ficou satisfeito.
Nisso, o escândalo envolvendo o nome de Fabrício e Alessandro já havia sido esquecido. Com o laudo esclarecendo que os disparos não foram efetuados pelos policiais, restava descobrir que havia atirado contra a vítima.
Foi nessa época, que a vítima, já recuperada, revelou que fora um dos bandidos que havia atirado nela. Com isso, a questão estava resolvida.
Assim, era só uma questão de tempo para apanhar o bandido, e fazê-lo pagar pela tentativa de assalto, juntamente com seus comparsas que já estavam presos. Além do que, este tinha que responder pelo tiro que havia efetuado contra a vítima.
Ao ser encontrado, Waldomir, sentindo-se acuado, passou a culpar os companheiros pelos disparos efetuados dentro da agência.
Os mesmos, no entanto, faziam de tudo para desmentir as alegações do indiciado.
Otaviano então, percebendo que os depoimentos não coincidiam, resolveu colocar os bandidos frente a frente, para que confrontando-se, a verdade aparecesse.
Foi assim, que se descobriu que na verdade, Waldomir havia atirado contra a vítima, para dar início a uma confusão dentro da agência, e com isso poder fugir.
Infelizmente, sua estratégia deu certo.
Porém, o que ele não contava, era que a vítima iria se recuperar, e revelaria a todos, quem havia atirado nela.
Diante disso, o caso estava concluído.
Bastava agora ocorrer o julgamento, com a condenação certa dos participantes do assalto.
Com isso, os policiais puderam novamente retornar ao trabalho.
Com a suspeita esclarecida, ambos puderam voltar para suas casas, e suas vidas aos poucos, foram voltando ao normal.
Leonardo, filho de Fabrício, assim como sua esposa Alice, aos poucos, foram esquecendo as dificuldades e os constrangimentos pelos quais passaram. Muito embora de vez em quando se lembrassem com tristeza de tudo o que passaram, era raro se recordarem disso.
Até por que, depois do escândalo, Fabrício e Alessandro, foram homenageados pelo prefeito.
Essa foi a forma encontrada por Arthur, de se desculpar publicamente por todos os aborrecimentos impingido aos dois policiais.
Muito embora não resolvesse tudo, essa fora uma forma de minorar os efeitos do mal causado.
Com isso, a população parou de encará-los como inimigos, e a hostilizarem-nos.
Tanto que no dia da homenagem, as pessoas que os haviam agredido tempos antes, aplaudiram quando eles receberam as medalhas.
Assim, a vida retomou então, seu curso normal.
Enquanto isso, os aprovados no concurso público, passaram a receber treinamento, para dentro em breve, começarem a trabalhar.
Olívia, dedicada, era uma das policiais femininas que mais se destacavam. Determinada a exercer a função, empenhou-se o máximo possível em cumprir bem todas as tarefas que lhe eram dadas. Hábil, ao terminar o curso, poderia dar aulas se quisesse. Porém, o que ela mais queria era sair, ir para a rua, e enfrentar os problemas da cidade.
Preparada, chegou a impressionar os colegas homens, que desacostumados com a presença de mulheres no local de trabalho, provocaram muito a moça.
Porém, a despeito disso deixá-la irritada, não foi o suficiente para que a fizesse desistir de seu sonho. Sim, por que desde pequena sonhara em ocupar esse cargo de tanta relevância.
Imbuída neste espírito de responsabilidade, nada a demoveria da idéia de se tornar policial.
Assim, quando finalmente recebeu o diploma de encerramento do curso de treinamento, ficou muito feliz.
Sua família, que sempre acompanhou sua luta para realizar este sonho, também ficou bastante satisfeita com o resultado de seu empenho.
Diante disso, era só uma questão de tempo para Olívia entrar em ação.
Porém, diante da situação de extrema violência, não demorou muito para que Olívia entrasse em ação. Com isso, seu primeiro trabalho, foi fazer ronda pelas principais ruas da cidade. Acompanhada de um colega, os dois aproveitavam, para enquanto observavam o movimento nas ruas, conversarem um pouco.
Não demorou muito também, e Olívia impediu um assalto. Sozinha, imobilizou o ladrão e o conduziu até a delegacia.
A moça, ao chegar sozinha na delegacia, conduzindo o meliante, foi aplaudida por seus colegas de profissão. Fabrício e Alessandro, foram os que mais elogiaram Olívia.
Foi aí que os policiais perceberam que Olívia não estava de brincadeira. Impressionados com a habilidade da moça, não se cansaram de perguntar a ela, como havia conseguido imobilizá-lo e conduzi-lo até a delegacia.
Olívia então explicou, que além do treinamento que fizera para trabalhar, desde que pequena praticava judô. Assim, imobilizar alguém, não era nenhum segredo para ela.
Contudo, os policiais, ao olharem para ela, percebendo seu jeito franzino, insistiram em perguntar:
-- Mas como você conseguiu dominá-lo? Afinal de contas, ele é muito mais forte que você.
Olívia explicou então, que isso não tinha nada a ver com força. Muito pelo contrário, o segredo era usar a força de seu opoente, contra ele.
Os policiais ou ouvirem a explicação da moça, ficaram espantados. Admirados, chegaram até a comentar:
-- É. Olívia não está pra brincadeira. Portanto, bandidos se cuidem.
Os demais policiais ao ouvirem o comentário, caíram na risada.
E assim, apesar da brincadeira, este foi o primeiro passo para que a moça passasse a ser respeitada por seus colegas policiais.
Enquanto isso, a moça continuava a vigiar as principais ruas da cidade.
Isso contribuía e muito para diminuir o número de roubos, furtos e bem como, a aplicação de golpes. Contudo, não evitava de todo, que esses crimes fossem cometidos. Diante disso, a instalação de bases comunitárias, ainda se fazia necessária.
Com isso, depois de algum tempo, quando as mesmas ficaram prontas, Olívia, Fabrício e Alessandro, e outros policiais, foram ocupá-las.
Enquanto isso, Joana e seu relacionamento com o prefeito, iam de vento em popa.
Conforme os meses se passavam, a jornalista ficava cada vez mais próxima de seus objetivos. Tão perto que era apenas uma questão de tempo para que tudo se resolvesse.
Dito e feito.
Ao se ver a sós no gabinete do prefeito, Joana começou a vasculhar a mesa, as gavetas e os armários da sala.
Como o prefeito demorou para voltar, Joana revirou tudo o que pôde. Foi aí que encontrou alguns documentos comprometedores. Contudo, como não havia tempo para ler os papéis, tratou de discretamente pegá-los e guardá-los entre seus pertencentes.
Quando Arthur finalmente voltou para buscá-la, não percebeu nada de estranho. Tanto que dias após, não havia ainda dado pela falta dos documentos.
Joana por sua vez, para não levantar suspeitas, continuou se encontrando com o prefeito.
Mas, com o passar dos dias, foi se aproximando o momento em que ela denunciaria as fraudes do prefeito.
Mais uma vez, temerosa das conseqüências de seu gesto extremado, pediu novamente ao colega jornalista, que caso após as denúncias, ela não aparecesse mais, que ele deveria revelar o conteúdo do bilhete que ela havia deixado aos cuidados dele.
Cléber, então, prometeu a ela que se fosse necessário, revelaria o conteúdo do bilhete.
Joana agradecida, prometeu a ele, que assim que pudesse, lhe contaria o que estava tentando fazer.
Contudo, a moça mesmo sendo cautelosa, adiantou que o que havia descoberto, cairia como uma bomba por sobre a cidade.
O jornalista então ficou espantado. Porém, respeitando a moça, não fez nenhuma pergunta.
E assim, ficou esperando pacientemente que a moça agisse.
Joana então, depois de se apropriar dos documentos, passou a lê-los cuidadosamente. Isso por que, não queria correr o risco de apresentar provas frágeis. Se ela queria realmente provar o envolvimento de Arthur com a corrupção da cidade, teria que demonstrar isso cabalmente. E assim, por semanas ficou a analisar os documentos.
Quando finalmente descobriu o que lhe interessava, procurou logo tirar várias cópias dos documentos e autenticando-as, tratou de esconder os documentos originais no mesmo local que havia escondido a gravação da entrevista.
Enquanto isso, Joana começou a preparar mais uma reportagem comentando sobre a inocência de Fabrício e Alessandro com relação ao tiros disparados contra a vítima, durante o assalto ocorrido no banco. Na reportagem, contou detalhes sobre a condecoração que os mesmos receberam. Isso por que, Joana, compadecida de injustiça que os dois sofreram, se achou na obrigação de minimizar o dano causado, mostrando a população da cidade, que os mesmos não tinham responsabilidade por aquele lamentável acidente.
Os policiais quando leram a notícia, ficaram bastante emocionados.
Também depois de tudo pelo que passaram, era mais do que natural que os mesmos ficassem satisfeitos com a publicação da notícia, que muito ajudava a melhorar a imagem não só deles, mas também de toda a polícia.
A notícia repercutiu tanto, que todas as pessoas que leram a matéria fizeram questão de cumprimentá-lo, e alguns até se desculparam dos excessos que cometeram.
Os dois policiais estavam tão famosos, que não era raro serem parados pelos populares para darem autógrafos.
Olívia, ao perceber isso, chegou até a brincar com os colegas, dizendo que se continuassem assim, certamente acabariam trabalhando em alguma novela.
Fabrício e Alessandro, ao ouvirem as brincadeiras de Olívia, caíram na risada. Isso por que, para eles, aquele trabalho era mais importante, do que qualquer fama passageira.
Estavam certos. Até por que, havia muito o que ser feito naquela que um dia fora, uma pacata cidade. Como o próprio delegado já comentara com eles, ou se tomava uma atitude agora, ou a situação escaparia do controle.
Fabrício e Alessandro, concordavam com o delegado. Isso por que, Otaviano era um homem bastante responsável e esclarecido. Além do mais, depois de tudo o que o mesmo fizera por eles, não se achavam no direito de discordar de nada do que ele falava. Otaviano era realmente uma pessoa rara.
E assim, os policiais continuaram seu trabalho.
Olívia então, já acostumada com o trabalho, conseguia efetuar cada vez mais prisões.
Mais segura de seu trabalho, passou a acompanhar seus colegas em algumas operações policiais. Em uma delas, como agente infiltrada, teve que se envolver com traficantes, como se fora uma usuária de drogas. Contudo, a despeito do que seus colegas lhe recomendaram, a moça não prendeu o traficante quando este lhe vendeu a droga. Isso por que, além do mesmo estar acompanhado e armado, a intenção era descobrir quais eram as atividades do suposto traficante. Sim, por que se havia traficantes nas imediações da cidade, fatalmente havia também crime organizado e assim, mais do que prender um suposto traficante, o importante era desbaratar uma quadrilha de criminosos.
Os policiais, ao ouvirem o ponto de vista da moça, discordaram, mas Alessandro, percebendo sua intenção, comentou, que de nada adiantaria prender o traficante por este ter vendido drogas para Olívia, visto que ela não era usuária, e que tal flagrante não surtiria nenhum efeito, já que era uma armação. Continuando sua explicação, Alessandro completou, que para que o flagrante tivesse validade, os mesmos deviam esperar algum eventual usuário aparecer por ali, para aí sim prender, não só o traficante, como o usuário também.
Os policiais, ao ouvirem as explicações de Alessandro, passaram então a concordar com Olívia. Realmente, mais importante do que efetuar uma prisão que não surtiria nenhum efeito, posto que dada sua irregularidade seria certamente relaxada, o mais interessante, seria conseguir chegar até a provável quadrilha que estimulava a criminalidade na cidade.
Todavia, como conseguir isso?
Olívia, ficou a pensar.
Fabrício, então, ao perceber que ninguém conseguia ter nenhuma idéia para resolver a questão, sugeriu que alguém deveria se infiltrar entre os bandidos, se fazendo passar por um deles e assim, ganhar a confiança dos mesmos. Com isso passando a se integrar ao grupo. Quando o agente tivesse conhecimento de alguma informação importante, arrumaria um jeito de informar os policiais, para que estes agissem.
Olívia ao ouvir a sugestão de Fabrício, sugeriu que ela mesma poderia tentar se infiltrar no meio da quadrilha.
Alessandro, porém, ao ouvir o oferecimento de Olívia, repreendeu-a. Sob a alegação de que aquele era um trabalho muito perigoso, Alessandro fez de tudo para demovê-la da idéia de participar do plano.
Olívia contudo, teimosa que era, nem por um instante aceitou a idéia de não participara do plano. Segundo ela, se estava ali, era por que queria ser útil para a sociedade. Assim, não cabia a alegação de que alguma coisa ali, era perigosa para ela. Diante disso, se fosse designada para participar do plano, aceitaria prontamente. Até por que, o simples fato dela ser uma policial, já denotava que ela fazia um trabalho de risco.
Alessandro, diante das palavras de Olívia, ficou sem argumentos. Contudo, apesar da segurança da moça, Alessandro não estava nem um pouco tranqüilo com a possibilidade de Olívia vir a fazer parte de uma missão tão arriscada quanto aquela. Porém, não tinha o que fazer. Se Olívia concordou em se expor, não cabia a ele impedi-la de executar seu trabalho.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Poesias
quinta-feira, 20 de maio de 2021
O DESTINO DESFOLHOU - CAPÍTULO 2
quinta-feira, 6 de maio de 2021
O DESTINO DESFOLHOU - CAPÍTULO 1
Em uma cidade pouco conhecida, muitos crimes vinham sendo cometidos ultimamente.
Crimes os mais variados possíveis. Desde pequenos golpes, furto e roubos, até assassinatos. É, a situação era estarrecedora.
Mas a despeito disso, os policiais desta cidade não se deixaram intimidar. Valorosos, procuravam desvendar os crimes, muito embora estivessem em desvantagem, dado que os bandidos, detentores de um aparato mais moderno para suas práticas criminosas, facilmente conseguiam despistar a policia.
Sim, o crime organizado invadira a cidade, pegando as pessoas de surpresa.
Mesmo a policia, empenhada em encontrar os bandidos, não sabia o que fazer para tentar diminuir os índices alarmantes de criminalidade.
Não sabiam lidar com essa força criminosa que enveredava para todos os lados, inclusive na política.
Pior, por mais que fizessem, nada era suficiente.
A própria população estava insatisfeita com a atuação dos policiais.
Isso por que, últimos meses, a policia, em decorrência de sua falta de preparo para lidar com esse tipo de criminoso, acabou agindo equivocadamente. Os policiais, na tentativa de conterem um assalto, acabaram efetuando disparos que podem ter atingido uma das vítimas.
Muito embora, este tenha sido um fato isolado, o mesmo contribuiu e muito, para diminuir a credibilidade da polícia.
Por conta disso, o delegado da cidade cogitou até a possibilidade de afastar os policiais envolvidos no incidente, tamanha era a pressão popular para que se fizesse alguma coisa.
Foi por esta razão que as vidas de Fabrício e Alessandro, viraram de cabeça para baixo.
Isso por que, ao trocarem tiros com os bandidos, acabaram colocando em risco a vida das pessoas que passavam pelo local naquele momento. Não bastasse isso, um dos disparos acabou por atingir uma das vítimas dos bandidos. Contudo, não dava para se saber ao certo, quem tinha sido o autor dos disparos.
Contudo, apesar do delegado Otaviano, acreditar que nenhum de seus policiais havia efetuado os aludidos disparos, precisava ainda assim, tomar uma atitude. Por isso, antes de qualquer coisa, chamou os dois policiais para uma conversa.
Ao entrarem na sala, Otaviano foi logo pedindo para que se sentassem.
Os policiais então se sentaram e o delegado foi logo dizendo:
-- Eu tenho certeza absoluta de que não foram os senhores os autores dos disparos. Todavia, eu não posso simplesmente ignorar o clamor da população de nossa cidade, que está muito interessada em que se resolva esse crime. Por isso eu estou sugerindo aos senhores, que pelo menos por enquanto, se afastem de suas atividades costumeiras. Em outras palavras, eu estou pedindo para que ambos peçam uma licença.
-- Uma licença? Pra quê? – perguntou Fabrício, surpreso.
-- Doutor, eu não posso deixar de trabalhar. – comentou Alessandro.
O delegado, percebendo a apreensão de ambos, comentou:
-- Meus caros policiais. Eu não estou pedindo para os senhores se afastarem. Só estou pedindo para que fiquem alguns dias de licença, até as coisas se acalmarem e nos começarmos a apurar os fatos. Como eu já disse antes, tenho certeza absoluta de que os senhores não estão envolvidos neste lamentável incidente. Porém, sabendo da indignação dos populares, eu não posso deixá-los expostos. Não agora.
Ao ouvirem as palavras do delegado, os dois policiais ficaram indignados com sua atitude. Afinal, se ele acreditava tão sinceramente na inocência de ambos, por que pedir para que se afastassem de suas atividades policiais? Afinal de contas, se não tinham nada a temer, também não tinham motivos para se esconder.
Diante disso, os policiais responderam:
-- Doutor, agradecemos a preocupação, mas não podemos aceitar. Isso por que, a nossa ausência fatalmente seria entendida como culpa, e nós não somos culpados. Nós estavamos lá. Nós só atiramos nos assaltantes. Não ferimos nenhuma vítima.
O delegado então respondeu:
-- Tenho certeza disso. Apesar de nossos parcos recursos, eu tenho absoluta convicção de que os meus policiais são bem treinados e estão mais do que prontos para lidar com esse tipo de situação. Contudo, eu não posso deixar de investigar e apurar o que realmente aconteceu. Provando que foram os próprios assaltantes que atiraram na vítima, ou não, estaremos cumprindo nosso papel de policiais.
-- Sabemos disso doutor. Mas preferimos continuar trabalhando. – respondeu Alessandro.
Fabrício assentiu com a cabeça, concordando.
E assim, saíram da sala e retomaram seu trabalho.
Apesar da pressão para que ambos se afastassem, os dois policiais estavam desapontados com o delegado. Isso por que, não esperavam que o mesmo lhe propusesse um período de licença.
Porém, conhecendo o delegado, sabiam que se o mesmo havia lhes pedido para que assim procedesse, era por que a situação era realmente delicada.
Contudo, os dois tinham absoluta certeza de que não haviam feito nada de errado.
No dia do assalto, os policiais, não só eles, mas os outros que os acompanhavam, só efetuaram disparos depois que os assaltantes começaram a atirar.
Cientes de que haviam vítimas em poder dos bandidos, os policiais sabiam que só deveriam atirar em último caso. Mas foi só chegarem em frente a agência bancária, para que os bandidos começassem a atirar. Em resposta, só restou a polícia revidar os tiros.
Foi desta forma que adentraram a agência e renderam os bandidos.
No entanto, ao entrarem na agência, qual não foi a surpresa dos policiais ao perceberem que uma das vítimas havia sido baleada. Provavelmente um dos bandidos atirou no rapaz durante a confusão.
Confusão por que, no momento da troca de tiros, algumas das vítimas começaram a correr pela agência, na vã tentativa de se protegerem.
Por conta disso, todos os policiais que participaram da operação, foram seriamente repreendidos pelo delegado. Este, ao saber da confusão, fez questão de comentar que não eles deviam ter atirado, sabendo que havia civis dentro da agência.
Um dos policiais no entanto, ao ouvir as imprecações do delegado, fez questão de comentar:
-- Mas doutor, os bandidos começaram a atirar. Se não revidassemos, facilmente os mesmos se evadiriam da agência, levando algum refém.
Doutor Otaviano, ao ouvir as palavras do policial, ainda preocupado com a repercussão que o caso teria, comentou que ainda assim, o mais importante foi deixado de lado, isto é, as vidas humanas, as pessoas que estavam dentro e fora da agência e que poderiam ter sido baleadas, mortas.
Dito e feito. Não demorou nem duas horas, para que o caso fosse parar na televisão e nos jornais da cidade.
Durante a noite na cidade, não se falava em outra coisa que não fosse na inépcia dos policiais que atiraram e balearam uma das vítimas do assalto.
A imprensa era implacável.
Dia e noite nos noticiários locais, era certo que alguma notícia relativa ao estado de saúde do rapaz, seria veiculada. E assim, durante dias a fio, se comentava que o estado de saúde do rapaz era grave.
Tal situação só serviu para complicar ainda mais a situação dos policiais.
Principalmente a situação de Fabrício e Alessandro, que coordenaram a operação e deram ordem de responder aos tiros.
A situação de ambos, era muito delicada. E a cada dia que passava, mais e mais se agravava a situação dos policiais.
Por conta da notícia veiculada nos telejornais, os policiais eram freqüentemente hostilizados pela população local. Tratados como bandidos, certa vez, ao passearem com a família pela cidade, os populares ao verem os dois policiais em companhia de seus familiares, passaram a lhes atirar objetos.
A família de ambos ficou apavorada.
Isso por que, quando se está sozinho, mesmo diante da maior ira, não há problema. Contudo, uma horda de populares enfurecidos, é algo extremamente perigoso. Juntas, as pessoas se sentem mais fortes e mais dispostas a cometerem atrocidades.
E nisso, um deles de tão irado, chegou a atirar uma pedra, que feriu Fabrício no rosto.
Alice, sua esposa, ao perceber que o marido havia sido ferido, tratou logo de levá-lo até o Pronto Socorro da cidade. Lá seu ferimento foi limpado e fechado por meio de pontos.
Com isso, enquanto Fabrício era atendido no pronto socorro, Alice tentava acalmar o filho de oito anos, que ficou tremendamente assustado ao perceber a reação das pessoas com relação a seu pai. Não bastasse estar sendo hostilizado na escola, o garoto tinha que presenciar agressões feitas a seu pai em plena luz do dia.
Chorando, Leonardo não conseguia entender como as pessoas podiam ser tão ruins umas com as outras. E por mais que Alice explicasse, para ele não havia explicações satisfatórias para o que estava acontecendo. Tanto que por mais que se falasse, nada fazia o menino se acalmar.
Leonardo só se acalmou quando viu o pai, e este conversou um pouco com ele.
Sim, o caso estava ganhando repercussão. Repercussão em nível nacional, diga-se de passagem.
Foi por conta de um noticiário exibido em todo o país, que Joana, uma jornalista interessada em furos de reportagem, decidiu-se por viajar até o local dos fatos, para tentar descobrir algo novo sobre o tal tiroteio, bem como investigar uma denuncia de corrupção, feita há algum tempo e que não havia dado em nada.
A segunda notícia, assim como a notícia do tiroteio, foi veiculada em cadeia nacional, e curiosamente, atraiu o interesse da jornalista. No entanto, em razão de compromissos profissionais, a mesma não pôde ir até a cidade para investigar os fatos.
Contudo, agora era diferente. Como jornalista free lancer, a Joana poderia ir para onde quisesse e trabalhar na matéria que lhe interessasse. Por isso, estava decidida a até mesmo, morar no local, se isso fosse necessário.
Por ser formada em jornalismo, poderia facilmente se infiltrar na imprensa local e trabalhar como jornalista na cidade.
Assim, só lhe faltava arrumar as malas e seguir viagem.
E assim fez.
Na estrada, avistou fazendas e muita vegetação.
Ao chegar na cidade, chegou a se surpreender com a infra-estrutura do lugar. O lugar, apesar de pouco conhecido, era bem servido em matéria de hotéis, restaurantes, casas, delegacia, farmácia, prefeitura, escritórios, um pronto socorro, algum comércio, uma agência bancária e uma imobiliária. Na cidade havia até um jornal próprio.
Realmente, era de se impressionar.
Joana achou por bem, no entanto, ficar num hotel.
Como não queria chamar a atenção, achou por bem, se passar por turista. Pelo menos por enquanto, não era conveniente que soubessem que ela era jornalista.
E assim discretamente, depois de chegar na cidade, passou a visitar os seus lugares pitorescos. Por isso mesmo, acabou se passando por turista.
Todavia, conforme se passavam os dias, a moça passou a sentir necessidade de se apresentar aos figurões da cidade. Porém, como faria isso? Não conhecia ninguém no lugar e assim, qualquer aproximação ficava ainda mais difícil.
Isso no entanto, não a desanimava. Acostumada a lidar com situações pouco favoráveis, Joana estava mais do que preparada para tanto. Por isso mesmo, visando conhecer um pouco da rotina do prefeito da cidade, Joana começou a perguntar aos moradores do lugar, quando ele costumava se apresentar publicamente, se havia alguma obra para ser inaugurada, se ele tinha seguranças, etc.
Tudo para saber o momento certo de se aproximar do ilustre representante da cidade. No que foi prontamente atendida.
Todavia, os moradores, percebendo que a mesma fazia muitas perguntas a respeito da rotina do prefeito da cidade, começaram a ficar ressabiados. Afinal de contas, qual o interesse dela com relação ao prefeito? Por acaso ela era jornalista?
Ao notar o receio dos moradores, Joana fez questão de contar que há muito tempo atrás, tinha ouvido falar, na sua cidade, que o prefeito desta localidade havia feito um grande trabalho, embelezando praças e canteiros de avenidas.
Joana contou então, que ao ver as imagens da cidade revitalizada, encantou-se pelo trabalho e ficou deveras interessada em conhecer o lugar. Acostumada com o caos urbano em sua cidade, desejava conhecer o prefeito. Como cidadã gostaria de saber como tudo tinha sido realizado, para quem sabe, sugerir ao prefeito de sua cidade, as mesmas melhorias.
Os moradores do lugar, ao ouvirem as palavras da moça, acreditaram nelas. Por ter vindo de uma cidade maior, acreditavam que sua desenvoltura com as palavras, se devia ao fato da moça ter estudo. Assim, sem mais receios, os mesmos passaram a contar a ela os meios possíveis para se falar com o prefeito.
Agradecida pelas informações, Joana então, passou a procurar insistentemente os assessores do político, para agendar uma entrevista com o mesmo. Entrementes, por mais que tentasse, não conseguia nada.
Um dia, cansada de ser enrolada pelos assessores do político, Joana resolveu tentar outra coisa.
Como em breve haveria um festival na cidade, a moça aproveitaria a ocasião, para tentar se aproximar do prefeito. Em meio a multidão, o mesmo não poderia evitá-la. Querendo ou não, acabaria tendo que conversar com ela.
Assim, quando finalmente a festa aconteceu, Joana fez de tudo para se aproximar do político. Porém, sempre que se aproximava, surgia um segurança para afastá-la. Por conta disso, passou a noite inteira tentando se aproximar, e sendo repelida pelos seguranças.
Apesar disso, a moça não desistia. Teimosa, passaria a noite inteira tentando se aproximar se isso fosse realmente necessário.
No entanto, Joana sabia que esta não seria sua única oportunidade de aproximação. Como essas, haveriam outras, e certamente nas próximas, Joana seria mais bem sucedida.
Assim, só cabia a Joana esperar. Sim, esperar. Porém, para uma pessoa agitada igual ela, não era nada fácil se acostumar com essa perspectiva. Até por que, a moça, dependia deste trabalho para viver. Desta forma, não podia se dar ao luxo de ficar muito tempo sem trabalhar. De formas que, precisava encontrar uma maneira de se encontrar com o prefeito. Sim, e o mais depressa possível.
Todavia, não foi nada fácil provocar um encontro com a maior autoridade do município.
Isso por que, o famigerado político, envolvido em um escândalo, estava deveras receoso. Temeroso, não queria saber de jornalistas.
Ademais, com o tiroteio que se deu em uma agência bancária da cidade, havia mais um motivo para ele se esconder.
Com isso, a jornalista tinha duas matérias sensacionais para cobrir na cidade.
Se tudo desse certo, certamente ela ganharia um prêmio.
Todavia, Joana devia ser bastante cautelosa ao empreender seu trabalho, ou então, acabaria não conseguindo nada.
Determinada, a moça prometeu a si mesma que não se precipitaria, muito embora tivesse muita pressa em realizar seu trabalho.
Mas se controlaria. Até por que, não queria espantar seu primeiro alvo.
Porém, não teria que esperar muito.
Isso por que, poucos dias depois, o prefeito foi inaugurar uma estátua nas cercanias da cidade. Joana ao saber disso, foi imediatamente até o local.
Como era de se imaginar, uma multidão compareceu na inauguração.
Joana percebeu então, que mais uma vez teria um grande desafio pela frente. Porém, como era determinada, não seria agora que ela desistiria de seu intento. Para ela, era tudo ou nada. E foi assim, que a moça, vestindo um provocante vestido verde, tentou chamar a atenção do prefeito.
Sim, Joana faria tudo para conseguir seu furo de reportagem. Até se insinuar para o prefeito, como se fora uma admiradora sua.
Nisso, o prefeito, que não era indiferente ao charme de uma mulher, foi logo perguntando, quem era aquela moça bonita, que não parava de olhar de um lado para o outro.
Como o assessor não sabia quem era, para decepção do prefeito, tratou logo de se informar com alguns moradores sobre quem seria aquela mulher.
Porém, ao contrário do que imaginava, não conseguiu descobrir nada sobre a mulher que não parava de andar de um lado para o outro, nas palavras do prefeito. Todavia o assessor, acabou descobrindo por meio de outro assessor, depois de muito perguntar, que não havia muito tempo, aquela mesma moça, havia tentado entrar em contato com o prefeito. Como não logrou êxito, durante o festival da cidade, tentou a todo momento, driblar a segurança, sem sucesso. Nada dava certo. Agora a moça estava lá.
De tão insistente, o assessor chegou até a comentar com seu colega, que aquela cisma não podia ser boa coisa. Provavelmente ela era jornalista, e estava querendo uma entrevista com o prefeito. Ou pior, alguma espiã.
Ao ouvir isso, o outro assessor, caiu na gargalhada.
Achando tudo muito absurdo, comentou com o amigo que ele estava ficando paranóico.
Nisso, o primeiro tornou a falar com o prefeito, e comentou sobre o que havia descoberto.
O prefeito, ao saber dos fatos, ficou deveras satisfeito. Sim, por que se ela estava a sua procura, ele não teria nenhum problema em se aproximar dela. Seria muito mais fácil do que pensava.
E foi assim, que Joana conseguiu ter seu primeiro encontro com o prefeito. Sob a desculpa de que gostaria de conhecer seu trabalho, a moça foi logo perguntando quando poderia agendar uma entrevista com ele.
Mais, o prefeito não estava nem um pouco interessado em entrevistas.
Assim fez o que pode para deixar a entrevista para depois.
Primeiramente, convidou Joana para um almoço.
Joana que há algum tempo esperava por uma oportunidade para conversar, não perdeu tempo.
E assim, depois da inauguração, lá foram os dois, juntos almoçar.
Durante o almoço, Arthur, contou a moça, sobre o duro trabalho de administrar uma cidade.
Isso por que, quase todos os dias, tinha que participar de algum evento, sem contar seu trabalho diário na prefeitura.
Joana, ao ouvir isso, ficou intrigada. Como ele podia ter tanto trabalho fora da prefeitura, se aquela era uma cidade pequena? Assim, diante dessa dúvida, Joana tratou logo de perguntar:
-- Mas o que é que tem tanto para fazer nessa cidade?
O prefeito então respondeu:
-- Muito mais do que a mocinha imagina. Mas não foi para isso que eu te convidei para almoçar. Eu quero mesmo, é saber um pouco mais sobre você.
-- Sobre mim?
-- Sim, sobre você.
-- Mas eu não tenho nada para falar sobre mim. – respondeu meio sem jeito.
-- Ah! Tem sim. Pra começar, onde foi que a senhorita ouvir falar de mim? Por que até onde eu sei, a senhorita não é daqui, não é mesmo?
-- Realmente não sou. Eu vim de muito longe. E já que o assunto é esse, eu vou contar. Eu fiquei sabendo de seu trabalho, em uma reportagem veiculada em um noticiário muito famoso. Quando vi a propaganda sobre sua administração fiquei bastante curiosa. Isso por que, como uma cidade tão pequena, parece ser tão promissora? E é por isso que eu estou aqui.
-- Então é só esse o seu interesse? Conhecer o meu trabalho?
-- Sim. E por que não? Afinal de contas é um trabalho tão bonito. Oxalá fizessem o mesmo em minha cidade.
-- A propósito. De onde você veio?
-- Eu sou de São Paulo.
-- Ora, ora. São Paulo. A cidade que nunca dorme. Que não para.
-- Exatamente.
Nisso o almoço foi servido. Salmão, arroz à grega e suco de laranja.
Joana ao ver a refeição, elogiou o restaurante.
O almoço estava realmente delicioso.
E assim, enquanto se deliciavam com o almoço, Arthur comentou com ela que ser prefeito, era a realização de um sonho muito antigo, com quem sabe projeções para um cargo mais alto. Vaidoso, ao perceber o interesse de Joana, comentou que desde a infância sonhava em fazer algo de bom por sua cidade.
Joana parecia encantada com o relato do prefeito. Porém, o que ele não sabia, era que ela não estava ali por causa de sua boa administração. O que lhe interessava, era saber que rumo tinha tomado a denúncia de corrupção, que envolvera seu nome, há alguns anos atrás.
Mas, para descobrir algo referente a isso, Joana precisava se tornar amiga de Arthur. Em razão disso, continuou a ouvir a história mirabolante do prefeito, e fingiu interesse em sua vida.
Depois, ambos escolheram uma sobremesa.
Com isso, Arthur comeu um pedaço de torta, e ela uma fatia de pudim de leite.
O prefeito, ao ver a simplicidade do pedido de Joana, perguntou a ela se não preferia escolher outra sobremesa.
Joana então, respondeu que apesar de simples, adorava a sobremesa, e desta forma ficou decidido.
Por fim, ambos pediram um cafezinho que tomaram sossegadamente.
No hora de pagar a conta, Joana se ofereceu para pagar a sua parte.
Arthur, ao ouvir o oferecimento da moça, recusou-se veementemente a aceitar a oferta. Comentando que era um homem à moda antiga, fez questão de pagar a conta sozinho. Além disso, conforme ele mesmo havia dito, fora ele quem convidou-a para o almoço. Desta forma, cabia a ele pagar almoço.
Dessarte, encantado com a moça, Arthur perguntou-lhe, quando poderiam se encontrar novamente.
Desta vez Joana, insistiu em dizer, que primeiro queria entrevistá-lo, depois pensaria em aceitar outros convites.
Arthur, porém, contou-lhe que não estava nem um pouco interessado em conceder entrevistas. Por ser uma pessoa pública, já estava cansado de tantas entrevistas. Assim, preferia conhecê-la melhor.
Joana então concordou. Mais uma vez, aceitaria um convite para sair, com a condição de que logo a seguir, lhe Arthur concederia uma entrevista.
O prefeito, então aceitou a proposta. Diante disso, combinou com a moça, o lugar e o dia do jantar.
Joana, porém, ao ouvir convite, declinou-o gentilmente. Alegando que não queria causar transtornos em sua casa, insistiu em dizer que não aceitaria. Até por que a esposa dele poderia não gostar nem um pouco disso e com razão.
Foi então que o ilustre prefeito comentou que não era casado.
Joana então se espantou.
-- Não é casado? Mas como? Um homem público por via de regra, costuma ser casado.
-- Fui casado, mas o relacionamento não deu certo. – respondeu ele percebendo o espanto da moça. – Assim, não haverá problema nenhum se você aceitar meu convite. Não vão te acusar de ser uma destruidora de lares. – disse ele, rindo.
Joana então, percebendo a brincadeira, comentou que apenas não queria ser inconveniente. Até por que o seu interesse era estritamente profissional.
Com isso, o prefeito insistiu.
Mas Joana apesar dos esclarecimentos, preferiu dar um tempo. Alegando que tinha alguns assuntos para resolver, prometeu que poderiam planejar alguma coisa para o dia seguinte.
Arthur, mesmo um pouco desapontado, acabou concordando.
Assim, ficou acertado que ambos, sairiam novamente para almoçar no dia seguinte, no mesmo restaurante.
Joana concordou.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
O DESTINO DESFOLHOU
‘O nosso amor traduzia
Felicidade afeição
Estrema glória que um dia
Tive ao alcance da mão
Mas veio um dia o ciúme
Humilde que era ficou ...
Deixando em tudo o perfume
Da saudade que ficou ...
Os nossos olhos choraram
O nosso idílio morreu
Os nossos lábios murcharam ...
Venho então a chorar
Sofro tanto
E essa valsa não diz ...
Meu amor
De nós dois
Eu não sei qual é o mais infeliz ...’
(Paulo Sérgio – O Destino Desfolhou)
INTRODUÇÃO
Em um lugar não muito longe dali, aconteceram coisas lamentáveis.
Muito embora fosse outrora um lugar calmo e pacífico, em poucas décadas, veio a se transformar em palco de múltiplos e tristes acontecimentos.
Como agora acontecem em inúmeras cidades do país, nesse um dia, pedaço do paraíso, ocorreram as coisas mais nefandas, mais horrendas e mais lamentáveis.
Nessa terra onde antes só havia alegria, agora paira incerteza e dor.
A dor que provocada por outros homens corrompe a terra e banaliza a violência.
Mas a população deste lugar estava cansada disso.
No entanto, muito embora todos estivessem cansados de tantas mortes, corrupção e violência, ao deixar que a situação chegasse a esse ponto, as autoridades do lugar não sabiam como agir.
Não sabiam o que fazer para que a situação mudasse para melhor. Não sabiam o que fazer para acabar com tudo o que destruía as coisas boas. Não sabiam.
Não sabiam ou não queriam saber?
Não sabem ou não querem fazer?
Mas enfim, a despeito da falta de vontade política ou não, era preciso que as coisas mudassem. Era preciso que o problema se transformasse em solução.
Era preciso acabar com a bandalheira que assolava esta triste cidade.
E é por isso que essa história será contada.
Com isso, passemos a ela.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
AMARGAS LEMBRANÇAS - CAPÍTULO 12
Margarida, ao ver a filha de volta, espantou-se.
-- Mas de volta tão cedo! O que foi que aconteceu?
Gabriela porém, nada respondeu. Dizendo que estava cansada daquela paisagem bucólica, comentou que sentiu saudade de casa.
Margarida não podia acreditar.
Todavia, mesmo diante da atitude aparentemente conciliadora de Gabriela, o relacionamento entre elas, continuava complicado.
Certa vez, ao voltar mais cedo para casa, Gabriela ouviu um comentário de sua mãe, dizendo que a atitude mais infeliz que teve na vida, foi pegá-la para criar.
Gabriela ao ouvir o comentário, interpelou sua mãe. Indagando o que ela queria dizer com aquelas palavras, exigiu explicações.
Margarida, surpreendida, tentou inventar desculpas para justificar aquela conversa. Nada porém parecia convencer a moça.
Nervosa, Gabriela começou a gritar com Margarida, que irritada, exigiu que ela calasse a boca. Dizendo que uma filha sua jamais responderia daquela forma para ela, deixou escapar que a moça não era sua filha.
Gabriela ficou transtornada.
Sem saber o que fazer, trancou-se em seu quarto. Pensando nas palavras de Margarida, começou a imaginar qual seria sua origem.
A certa altura, de depois de muita insistência de Margarida, Gabriela abriu a porta de seu quarto.
Margarida por sua vez, que percebendo que não adiantava mais esconder a verdade da moça, revelou que a pegara quando ainda era um bebê recém-nascido, de dentro de uma maternidade, em Minas Gerais.
Nervosa, Margarida comentou que tinha interesse em se casar com Cássio.
No entanto, ao descobrir que teria sérias dificuldades para engravidar, resolveu fingir que estava grávida. Mais tarde pensaria no que fazer.
Como estava encontrando dificuldades em arrumar uma criança, Margarida revelou que pensou em fingir que estava tendo um aborto. Isso tudo depois de se casar com Cássio.
Porém, ao tomar conhecimento de que havia uma mulher grávida na cidade, e que esta não possuía interesse em ficar com a criança, ficou ajustado que o bebê seria entregue a Margarida.
Ocorre que a moça desapareceu poucos dias antes do parto.
Desesperada, Margarida não sabia o que fazer.
Foi quando Lúcia deu entrada na maternidade e deu a luz duas crianças.
Quando Gabriela ouviu o nome de Lúcia, ficou perplexa.
-- Lúcia? Que Lúcia?
Margarida teve então que revelar que a Lúcia de que tanto falava era a filha de Orlando.
Gabriela ficou sem saber o que pensar.
-- Meu Deus! E a outra criança? – perguntou.
Margarida respondeu que não sabia do paradeiro da outra criança. Dizia saber apenas que Lúcia pensava ter tido apenas um filho e que este havia morrido.
Gabriela questionou então:
-- Mas esta criança está realmente morta, ou esta é outra mentira? Responda!
Margarida respondeu que quanto a outra criança, não sabia o que havia acontecido.
Nervosa, Gabriela pensou em arrumar suas malas e partir dali.
Foi o que fez.
Aproveitando que Margarida dormia em outro quarto, Gabriela preparou rapidamente uma mala, e sorrateiramente saiu de casa.
Quando Margarida percebeu que a moça havia sumido, ligou imediatamente para Orlando. Acreditando que Gabriela havia voltado para o hotel do avô, Margarida não se preocupou.
Ocorre que a moça não estava lá.
Desesperada Margarida, deixou escapar que aquele sumiço era sua responsabilidade. Se não houvesse falado demais, nada daquilo teria acontecido.
Orlando percebendo o nervosismo de Margarida, exigiu-lhe explicações.
Margarida então, dizendo que não poderia contar tudo por telefone, respondeu que arrumaria suas malas e se encontraria com ele no hotel.
Orlando percebendo a gravidade da situação, concordou.
Ansioso a aguardou.
Ao chegar no Hotel Aquarela, Margarida apresentou-se na recepção. Dizendo que precisava conversar com Orlando, foi imediatamente conduzida para um dos quartos.
Cerca de uma hora após sua chegada, Orlando ligou para seu quarto informando-a que deveria comparecer em seu escritório, para uma conversa reservada.
Margarida atendeu prontamente o chamado.
Ao chegar no local, aguardou cerca de meia-hora. Após, foi chamada para uma conversa reservada.
Nervosa revelou toda a história que havia contado a Gabriela.
Orlando ao tomar conhecimento do relato de Margarida, revelou que sempre achara muito estranha aquela gravidez.
Orlando então relatou que sempre se intrigara com a semelhança física de Lúcia e Gabriela. Dizendo que Cássio não possuía nenhuma semelhança física com a filha, relatou que começou a observar que a moça também não se parecia nem um pouco com Margarida.
Revelando que com os anos sua desconfiança somente aumentou, relatou a mulher que havia contratado um detetive particular para investigar aquela história.
Margarida ficou sem saber o que pensar.
Enquanto isto, Gabriela rumava para Belo Horizonte. Estava disposta a encontrar pistas sobre o paradeiro de seu irmão.
Angustiada, precisava saber se a outra criança estava viva ou não.
Todavia, não sabia onde começar. Sabia apenas que deveria procurar pistas na cidade onde Lúcia fora criada.
Foi lá que começou a procurar.
Perguntando aqui e ali, descobriu onde ficava a maternidade.
Ao chegar no local, descobriu desapontada que os funcionários não poderiam passar qualquer informação a respeito do caso.
Insistente porém, acabou descobrindo por intermédio de alguns moradores que havia um rapaz nascido naquela época, que vivia naquela cidade.
Trabalhava num sitio da região. Dizia-se que não possuía registro de nascimento e que ninguém sabia quem era sua mãe.
Gabriela foi atrás do rapaz.
Quando a moça foi apresentada a ele, ficou penalizada. O rapaz não sabia ao certo quantos anos tinha. Era alfabetizado, mas só possuía o primário. Fora criado livre, ora num canto, ora noutro.
Criança ainda, chegou no lugar, onde recebeu um pouco de assistência dos donos das terras.
O rapaz não se lembrava muito dos anos antes de chegar ao sítio. Apenas que vivera em orfanatos, e que em alguns momentos dormiu na rua.
Lembrava-se que era conhecido como Antonio. E assim passou a ser chamado pelos moradores do sítio.
Gabriela tratou logo de fazer amizade com o rapaz.
Ansiosa, enchia o rapaz de perguntas.
Nervoso Antonio respondia que não sabia de onde tinha vindo.
Gabriela ao perceber que o rapaz não poderia responder suas perguntas, começou a se questionar.
Percebendo que Antonio aparentava ter a mesma idade que ela, começou a observá-lo com mais atenção. Desconfiada, começou a perceber algumas semelhanças de Antonio com Paul.
Receosa, Gabriela procurava se conter. Até por que, poderia ser apenas uma impressão.
Nisso, Orlando, mesmo ciente de que Margarida não fora honesta com sua família, resolveu que não a expulsaria de seu hotel.
Dizendo que ela poderia apresentar mais alguma informação importante, deixou-a ficar.
Ademais, Margarida parecia preocupada com Gabriela. Disposta a encontrar a filha, prometeu que ajudaria em tudo o que fosse necessário.
Desconfiada de que a moça fora encontrar pistas sobre a outra criança que Lúcia tivera, Margarida sugeriu que Orlando a procurasse na cidade onde as crianças nasceram.
Orlando então contatou o detetive que havia contratado anteriormente ,e logo em seguida partiu para Minas.
Assim, foi apenas uma questão de tempo para que se encontrasse com Gabriela.
As coisas porém não correram nada bem.
Revoltada, ao ser descoberta, Gabriela arrumou novamente suas malas e fugiu.
Dirigiu-se até a rodoviária e lá comprou uma passagem para o primeiro lugar que viu.
Com isto, dirigiu-se até o Rio de Janeiro.
Na Cidade Maravilhosa, sem conhecer ninguém, acabou se hospedando num dos hotéis situados nas proximidades da orla marítima.
Foi lá que sem querer acabou esbarrando em figuras perigosas.
Certo dia, andando pela cidade, acabou se perdendo. Não fosse a intervenção de Miguel, e ela certamente teria sido assaltada.
Prestativo e corajoso o rapaz auxiliou-a.
Com isto, os dois acabaram ficando amigos.
Miguel ofereceu-lhe hospedagem. No dia seguinte a ajudaria a voltar para o seu hotel.
Com o passar do tempo, como Gabriela não parecia disposta a voltar para casa, passou a envolver-se com Miguel.
Ficaram juntos por algumas semanas.
Após algum tempo porém, percebendo que precisava descobrir o paradeiro de seu irmão, Gabriela comentou com Miguel que precisava partir.
O rapaz ficou triste, mas percebendo que não poderiam ficar juntos, despediu-se.
Miguel fazia programas para viver.
Gabriela porém, mesmo sabendo disto, se tornou uma grande amiga do rapaz. Dizendo que sempre era tempo de mudar de vida, convidou-o para visitá-la em São Paulo.
Nisto despediu-se do rapaz e voltou para São Paulo.
Ao chegar em casa, surpreendeu-se ao encontrar a mesma vazia.
Após alguns dias, voltou para Minas. Ao chegar no sítio onde Antonio trabalhava, foi informada pelos proprietários que o rapaz fora levado para São Paulo.
Ao ouvir tais palavras, Gabriela concluiu que o rapaz só poderia estar no Hotel Aquarela, na Grande São Paulo.
Diante disto, a moça, no dia seguinte, rumou para lá.
Ao chegar no hotel, percebeu que Margarida se encontrava hospedada no lugar.
Indiferente, Gabriela manteve-se afastada da mulher.
Porém ao ver que Antonio estava lá, ficou extremamente feliz.
Foi então que descobriu que Orlando já vinha a alguns anos, investigando a história de Lúcia. Estava disposto a pôr na cadeia o responsável por aquela maldade praticada contra sua filha. Para tanto, precisava descobrir o paradeiro do bandido, entre outros detalhes da história.
Orlando então confirmou que Antonio era o outro filho que Lúcia tivera.
Paul, filho de Lúcia com Jean, ficou perplexo ao saber da história. Revoltado, prometeu que seu pai seria vingado. Chorando revelou que sentia vontade de matar o responsável por tudo aquilo.
Margarida tratou de consolá-lo.
Orlando ao ver a cena, ficou perplexo.
Gabriela também não entendeu a atitude Margarida.
Nesta época Miguel foi visitar Gabriela em São Paulo.
Ao chegar na cidade, logo foi informado por uma vizinha, que ela estava no Hotel Aquarela na Grande São Paulo. Prestativa a vizinha ofereceu-lhe o endereço.
Nisto, Miguel ligou para o local, informando Gabriela que pretendia visitá-la.
Quando lá chegou e viu a amiga, ficou deveras feliz.
Quem não ficou muito contente com a visita foi Flávio, que tentava se aproximar da moça.
Miguel porém, estava doente e a visita era uma despedida.
Quando Gabriela soube que ele estava condenado, tentou ajudá-lo.
Miguel relatou porém, que preferia permanecer sozinho.
Ao ouvir isto, os olhos de Gabriela encheram-se de lágrimas.
Ao tomar conhecimento do motivo da visita, Flávio tentou consolar Lúcia. Em vão.
A moça, dizendo que devia muito a ele, comentou que não poderia abandoná-lo em um momento de dificuldades como aquele.
Flávio argumentou dizendo que Gabriela conhecera-o vendendo saúde e vitalidade. Para ele, seria muito humilhante que ela o visse definhando pouco a pouco.
Gabriela então compreendeu que deveria atender o pedido do amigo.
Nisto, poucos meses depois, Gabriela soube que Miguel havia morrido.
Penalizada, foi até o Rio de Janeiro, encontrar-se pela última vez com seu amigo.
Flávio a acompanhou.
Enquanto isto, Lúcia continuava desaparecida e sofrendo nas mãos de Hélio.
O tempo passava e Lúcia estava cada vez mais debilitada.
Abatida, não oferecia mais resistência as investidas de Hélio, que parecia cada vez mais feliz com a gravidez de Lúcia.
A certa altura, quase que seus planos foram por água abaixo.
Sem razão aparente Lúcia apresentou um grave mal estar.
Nervoso, Hélio levou a mulher para o hospital. Dizendo que Lúcia estava sofrendo de transtornos mentais, conseguiu convencer a todos que os pedidos de socorro dela, eram fruto de uma mente delirante e perturbada.
De volta para casa...
Hélio se desdobrou em atenções para a mulher. Levava Lúcia para passeios no jardim, mandava preparar comidas saborosas para ela...
Lúcia porém não se importava com nada. Sentia apenas vontade de morrer.
Orlando, exasperado com a falta de notícias de Lúcia, pediu mais empenho da polícia.
Desesperado, pediu auxílio do detetive que havia contratado para investigar o caso de Lúcia.
Auxiliado pelo profissional, Orlando conseguiu descobrir onde Lúcia se encontrava.
Quando a mulher foi localizada, ficou estupefato ao saber que estava grávida.
Debilitada, a mulher foi internada em um hospital.
Poucos dias após, deu a luz um menino.
Hélio por sua vez, ao perceber o perigo, tratou logo de fugir.
Auxiliado por bons contatos, conseguiu escapar da prisão quase certa.
Seus comparsas porém, não tiveram a mesma sorte.
Abalada, Lúcia demorou para se recuperar do evento.
Algum tempo depois, conheceu Nildo.
Encantado com Lúcia, o homem se desdobrava em gentilezas para ela. Sempre que podia, acompanhava a família nos jantares do hotel.
Lúcia ainda abalada, não demonstrava interesse nas investidas do homem.
Margarida percebendo isto, certa vez, aconselhou Lúcia a se dar mais uma chance, se permitindo ser feliz. Comentando que ela não merecia ficar a vida inteira sofrendo por alguém que não prestava, acabou fazendo Lúcia chorar.
Orlando ao notar Lúcia chorando, repreendeu Margarida.
Dizendo que ela não tinha direito de humilhar sua filha, comentou que ela havia ido longe demais. Irritado, exigiu que ela fizesse suas malas e saísse do hotel.
Margarida tentou se explicar, mas Orlando, furibundo, não permitiu que ela abrisse a boca.
Ofendida, a mulher tratou de arrumar suas malas.
Quando Lúcia soube que Orlando expulsara Margarida do hotel, comentou que ela não tivera a intenção de ofendê-la, e sim ajudá-la.
Lúcia então relatou que Margarida a estava aconselhando a tentar ser feliz novamente.
Orlando, então percebendo a injustiça que cometera, mandou chamar Margarida.
Dizendo-se que Lúcia havia lhe explicado o ocorrido, pediu-lhe desculpas. Dizendo que seu gesto fora inesperado, comentou que ela estava tão mudada, que não sabia o que esperar.
Reiterando seu pedido de desculpas, pediu para que ela permanecesse no hotel.
Dizendo que desde a rusga que tivera com Gabriela, nunca havia se relacionando tão bem com uma nora, comentou que estava arrependido pelo gesto impensado.
Margarida por sua vez, ficou de pensar no pedido.
A resposta veio alguns dias depois.
Com efeito, Margarida decidiu permanecer no Hotel Aquarela para trabalhar.
Orlando surpreendeu-se.
Margarida dizendo que estava cansada de viver do dinheiro do marido, comentou que estava com vontade de fazer coisas que nunca havia feito antes. Diante disto se propôs a realizar qualquer trabalho, já que não tinha experiência, tampouco formação acadêmica.
Orlando então comentou que ela sabia cozinhar muito bem, e que por esta razão poderia trabalhar na cozinha do hotel.
Tudo para parecia transcorrer na mais absoluta paz.
Lúcia estava mais receptiva a Nildo.
Feliz, o homem já estava combinando uma festa para oficializar o noivado de ambos.
Quem não ficou muito feliz com a história foi Paul, que questionou a atitude da mãe de se envolver com outro homem tão pouco tempo após a morte de seu pai.
Lúcia conversando com o filho, comentou que nunca se esqueceria de Jean, mas que durante quase um ano vivera um pesadelo com um homem pelo qual sempre sentiu a mais absoluta repulsa.
Dizendo que todo aquele sofrimento lhe fizera muito mal, comentou que não agüentava mais viver com aquele peso. Chorando, disse que precisava dividir com alguém aquele fardo. Precisava de alguém que a fizesse esquecer, nem que fosse por alguns momentos, todo aquele pesadelo que vivera.
Paul, entendeu então que Lúcia tinha o direito de ser feliz.
Nildo sabia de tudo. Conhecia o sofrimento de Lúcia. Estava disposto a cuidar de seu filho.
Hélio porém, não estava preso. Sua liberdade era um empecilho para a felicidade do casal.
Neste meio tempo, seu filho Pedro se envolvera com a mulher de um traficante e fora morto.
Ofélia ficou transtornada.
Tanto que chegou a seguir Lúcia nas ruas de São Paulo. Agressiva ameaçou-a.
Não fosse a intervenção de Nildo, que a pôs para correr, Ofélia agrediria Lúcia, e sabe-se lá o que poderia ter acontecido.
Lúcia ao tomar conhecimento do paradeiro dos filhos que tivera com Hélio, ficou perplexa. Dizendo que só tivera um filho e que este nascera morto, relutou em acreditar na história.
Com tempo todavia, passou a aproximar-se de Gabriela e de Antonio, que agora completava os estudos.
Tudo parecia correr bem.
Porém, certa tarde, quando a família de Lúcia estava se preparando para a oficialização de seu noivado com Nildo, a mulher foi levada por um estranho.
Muito embora a vigilância no hotel fosse intensa, Hélio conseguiu driblar a segurança.
Com o auxílio de um novo comparsa, conseguiu atrair Lúcia.
Sob o pretexto de que uma criança havia se machucado após cair de um dos cavalos, Lúcia, que estava prestes a comemorar seu noivado, foi até o local.
Quando percebeu que não havia nenhuma criança machucada no local, constatou que havia sido enganada.
Contudo, era demasiado tarde. Mas não havia como fugir. Longe da vigilância dos guarda-costas que trabalhavam no hotel, Lúcia não tinha como pedir socorro. Tão longe ninguém a ouviria.
Desesperada, começou a chorar e a pedir para que a deixassem em paz. Numa tentativa desesperada de se livrar daquela situação, tentou correr.
O homem, por sua vez, não precisou fazer muito esforço para alcançá-la.
Arrastada, Lúcia foi levada para um carro onde estava Hélio, que a aguardava.
Ao vê-lo, começou a chorar compulsivamente. Ameaçou gritar.
Ao ouvi-la dizer para que a soltasse, Hélio colocou um lenço com clorofórmio sobre seu nariz, deixando-a desacordada.
Rapidamente, retirou-a do local, e novamente sumiu com Lúcia.
Quando Nildo percebeu que Lúcia estava demorando para aparecer, já era demasiado tarde.
A mulher já estava longe e em poder de Hélio.
Orlando ao perceber que Lúcia havia sido levada do hotel, comentou que Hélio a havia seqüestrado novamente.
Furioso, prometeu a si mesmo que desta vez ele não conseguiria fazer as maldades que já havia feito em ocasiões anteriores.
Hélio por sua vez, planejava algo diferente para Lúcia.
Acompanhando de longe a vida da mulher, ficou furioso ao saber que Lúcia procurava retomar sua vida.
Mais ainda quando soube que os filhos que tivera dele, estavam todos vivos.
Furioso, quando Lúcia despertou, Hélio fez questão de dizer que sabia que Gabriela e Antonio eram seus filhos. Triste comentou que Pedro havia se envolvido com uma traficante e morrido.
Dizendo que não possuía mais nenhum vínculo com Ofélia, comentou que estava oficialmente separado.
Lúcia parecia não ouvir o que Hélio falava.
Mais tarde ficou sabendo que Hélio estava planejando casar-se com ela.
Já havia convencido um padre a ir até o local. Não sem antes ameaçar Lúcia dizendo que se tentasse fugir ou contasse o que estava acontecendo, a qualquer pessoa que estivesse na festa, seria sua família quem sofreria as conseqüências.
A mulher ficou apavorada.
Com isto, no dia agendado para a realização do suposto casamento, Lúcia estava devidamente vestida de noiva.
Hélio não cabia em si de contente. Louco, acreditando em toda aquela farsa, dizia que aquela união era indissolúvel.
O homem não havia comentado que a papelada relativa a separação com Ofélia era falsa.
Enquanto isto, Orlando fazia contatos com detetives particulares e policiais, para descobrir o quanto antes, onde estava Lúcia.
Não queria que Hélio, continuasse a atormentar sua filha.
Nildo também auxiliava.
Ao descobrir o paradeiro de Lúcia, Nildo, Orlando e Flávio, se encarregaram de ir pessoalmente até o local.
Não sem a presença de alguns policiais à paisana.
Ao adentrar a residência, Nildo descobriu que Lúcia estava prestes a se casar com Hélio.
Revoltado, ao verificar que Hélio pretendia prender Lúcia a ele, puxou a mulher pelo braço.
Lúcia se assustou.
Nildo, percebendo isto, colocou a mão em sua boca e pediu para que ela não gritasse.
Quando então Lúcia viu Nildo em sua frente, ficou muito feliz. Logo em seguida, percebendo que Hélio era um homem vingativo, pediu para que ele fosse embora.
Nildo porém, respondeu que não a deixaria nas mãos de um louco.
Chorando, Lúcia comentou que Hélio havia novamente abusado dela.
Ao ouvir isto, Nildo ficou furioso.
Foi quando Hélio surpreendeu-os.
Nildo comentou então, que ele estava cercado, ou saía do local sem reagir, ou os policiais invadiriam a casa para prendê-lo.
Hélio riu.
Irritado, Nildo comentou que ele estava perdido e que levaria Lúcia para longe dali.
O homem ao se sentir ameaçado, investiu contra Nildo.
Lúcia ficou desesperada. Ao perceber que Nildo corria perigo, começou a gritar por socorro.
Foi quando policiais adentraram a casa, que estava cheia de convidados para o casamento.
Nisto, em que recinto isolado da casa, Nildo e Hélio lutavam entre si.
Hélio percebendo que perdia a briga, sacou sua arma e apontou-a para Nildo.
Lúcia entrou em pânico.
Nildo então, percebendo que Hélio se distraíra por um instante com o barulho vindo da casa, tomou a arma de suas mãos.
Furioso, Hélio tentou tomar sua arma de volta, sem sucesso.
Na luta, a arma disparou acidentalmente.
Lúcia assustou-se.
Nervosa, começou a chorar.
Nildo então levantou-se.
Hélio estava com sua camisa branca manchada de sangue.
Ao perceber que fora baleado, colocou a mão no local. Ao notar a gravidade da situação, pediu ajuda.
Lúcia ficou estática.
Arrastando-se com dificuldade, aproximou-se de Lúcia. Disse-lhe que fizera tudo o que fizera por amor, e que não se arrependia de nada. Com grande dificuldade, revelou que só sentia por não haver conseguido fazê-la entender, que o destino deles era ficar juntos.
Nildo ao perceber que Lúcia estava em estado de choque, empurrou Hélio para longe dela.
Chamando-o de covarde, respondeu que ele não faria mais nenhuma maldade com ela.
Hélio então, mesmo sentindo fortes dores, riu.
Comentou que os dois já haviam tido muitos momentos juntos, que possuíam três filhos em comum, e que estes laços não se apagam. Irônico, insinuou que Lúcia poderia estar novamente grávida, já que haviam passado algum tempo juntos.
Ao ouvir isto, Nildo empurrou Hélio. Dizendo que ele era um verme, comentou que somente um ser desprezível como ele seria capaz de constranger uma mulher a tanto.
Hélio respondeu então, que uma mulher deveria se submeter às vontades do marido.
Nildo ficou horrorizado com as palavras de Hélio. Tanto que retrucou:
-- Você é um louco! Um doente!
Em seguida, puxou Lúcia pelo braço. Seu vestido branco estava manchado com sangue.
Estava em choque. Só conseguia chorar.
Quando a polícia adentrou o recinto onde Hélio estava, o homem já estava morto. Passou seus últimos minutos chamando por Lúcia.
Com relação a isto, Nildo não ficou preso. Auxiliado por Orlando, conseguiu um bom advogado e respondeu o processo em liberdade.
Em sua sentença, o juiz o absolveu.
Algum tempo depois, Nildo casou-se com Lúcia.
Gabriela por sua vez, passou a se entender com Flávio.
Antonio e Paul também arranjaram namoradas. Com o tempo, os dois se tornaram grandes amigos.
Margarida continuou trabalhando no hotel, e Orlando prosseguiu sua vida.
Depois destes fatos, Lúcia nunca mais trabalhou com moda. Preferiu auxiliar Orlando na administração de um hotel em Minas. Assim poderia ficar mais próxima de seus pais de criação Etevaldo e Júlia.
Sim, Orlando havia comprado um terreno, e pretendia construir um novo hotel, nos moldes do que já existia em São Paulo.
Gabriela, Antonio e Paul a acompanharam neste projeto.
Margarida concordou que Gabriela que acompanhasse Lúcia. As duas precisavam se conhecer melhor.
Orlando ficou um pouco triste, mas sabendo que Lúcia precisava respirar novos ares, respeitou sua decisão. Respeitou também a decisão de Gabriela, Antonio e Paul, acompanharem Lúcia.
Pediu apenas para que não sumissem, e que de vez em quando aparecessem no hotel.
Nisto, Lúcia, o bebê, Nildo, Gabriela, Antonio e Paul partiram.
As namoradas ficaram.
Mais tarde, Flávio se juntou a Gabriela, deixando o emprego de professor, e auxiliando Lúcia na construção do hotel.
Otávio, casado com Cristina, chegou a visitar o hotel quando o mesmo foi inaugurado.
Gabriela ficou intrigada com a cara de pau do casal.
Após a tentativa frustrada de realizarem um golpe, fugiram do hotel.
Depois, do incidente soube-se que os dois foram presos.
Fim.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
AMARGAS LEMBRANÇAS - CAPÍTULO 11
O rapaz, insinuante, fazia de tudo para agradá-la. Aproveitando-se da situação e da carência de Gabriela, Otávio, parecia tentar consolá-la. Aparentando ser seu amigo, ouvia pacientemente os desabafos da moça, sugeria passeios, encontros à sos...
Flávio porém, sempre que os via juntos, ficava incomodado. Não acreditava na sinceridade daquele sujeito.
Isto porque, Flávio já o havia visto aos abraços com Cristina, em uma situação muito suspeita para quem estava namorando firme a neta do dono de tudo aquilo. Desconfiava da atitude do rapaz.
O tempo mostrou que ele não estava de todo errado em desconfiar de Otávio.
Certo dia, após uma comemoração no hotel, Otávio acompanhou Gabriela até a porta de seu quarto. Insistente pediu várias vezes para entrar em seu quarto. Abraçou-a, beijou-a.
Mas mesmo diante de muita insistência, Gabriela não cedeu.
Um dia porém, após um jantar, Otávio quase conseguiu convencê-la a deixar entrar em seu quarto.
Não fosse a intervenção de Flávio e Otávio, conseguiria concretizar seus planos.
Almejava enredar Gabriela e casar-se com ela, e com isto conseguir a fortuna de Orlando.
Otávio estava combinado com Cristina.
A moça sugerira até que ele a engravidasse, para atingir mais facilmente seus planos.
Com efeito, Flávio ao presenciar Otávio assediando Gabriela, disse que havia visto Cristina, e comentou que ela gostaria muito de falar-lhe.
Foi o bastante para deixar Gabriela intrigada e assim, a moça mudou de idéia.
Otávio ficou furioso com Flávio.
Insatisfeito, chegou até a ameaçá-lo.
Flávio contudo, não tinha medo de Otávio.
Gabriela no entanto, só deixou o relacionamento com Otávio de lado, quando finalmente viu o rapaz com Cristina. Estavam abraçados e sorrindo. A certa altura, quase se beijaram.
Gabriela ao presenciar a cena, ficou mortificada.
Furiosa saiu em desabalada carreira.
Flávio, ao perceber o que havia acontecido, foi atrás da moça.
Em vão tentou consolá-la.
Gabriela porém, não estava interessada em consolo. Enraivecida, só conseguia dizer que não queria mais saber de Otávio. Dizendo que nenhum homem prestava, comentou que faria com os homens o que eles faziam com as mulheres. Que dali por diante, trataria a todos como mercadoria.
Dali por diante, as coisas só se complicariam.
Ao tomar conhecimento da história de Otávio, Orlando quase o expulsou do hotel.
Não fosse a intervenção de Flávio, e Otávio teria sido expulso a pontapés.
Orlando porém, analisando melhor a situação, decidiu chamar o rapaz para uma conversa.
Em seu escritório, Orlando avisou Otávio, que o mesmo estava sendo convidado a se retirar de seu hotel.
Atrevido, o rapaz respondeu que não sairia dali. Comentou que não poderia partir sem dar explicações a Gabriela.
Orlando ao ouvir tais palavras, ficou furioso. Dizendo que sua neta o vira aos beijos e abraços com outra moça, respondeu que estava cansado de lidar com tipinhos interesseiros.
Otávio tentou retrucar, mas Orlando o interrompeu avisando-lhe que ele tinha até o meio-dia para sair do hotel, sob pena de ser acompanhado por seus seguranças.
Contrariado, Otávio tentou argumentar que tudo não passara de um engano e que estava sendo vítima de uma arbitrariedade.
Em vão.
Desta forma, só restou ao rapaz e a Cristina, arrumarem as malas e partirem do hotel.
Não sem antes de Otávio dizer que se vingaria de Orlando.
Enquanto isto, Gabriela começou a flertar com os hóspedes.
Quem não gostou nada desta atitude, foi Orlando, que censurou a neta.
Aborrecida, Gabriela discutiu com seu avô.
Depois, arrumou suas malas, e dizendo que voltaria para casa, despediu-se secamente de Orlando. Seu único pedido, foi que lhe informassem as novidades a respeito de sua tia Lúcia.
Após, conduzida por um motorista do hotel, Gabriela chegou a rodoviária. De lá pegou um ônibus e voltou para São Paulo.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
AMARGAS LEMBRANÇAS - CAPÍTULO 10
Com isto foi questão de tempo, para Hélio se aproximar de Lúcia.
A certa altura, aproveitando-se do fato de encontrá-la sozinha, sem qualquer funcionário, hóspede ou visitante por perto, Hélio preparou o cenário perfeito para colocar seu plano em prática.
Acompanhado de um capanga, Hélio aproximou-se de Lúcia.
A mulher ao ver-se frente a frente com Hélio, tencionou fugir.
Ao ver que Lúcia pretendia montar o cavalo e sair em disparada, Hélio ameaçou-a com um revólver.
Sem saída, Lúcia tentou argumentar com Hélio. Dizendo que suas vidas haviam tomado rumos diferentes, tentou convencê-lo a se afastar de uma vez por todas.
Hélio retrucava dizendo que eles deviam ficar juntos.
Lúcia dizia porém, que não podia ser. Dizendo que estava casada e muito feliz, comentou que Hélio não poderia levá-la. Agora não estava mais sozinha.
Hélio porém, não se importava. Alegando que possuía dinheiro, comentou que ninguém os encontraria.
Ao proferir estas palavras, o homem pegou Lúcia pelo braço.
Lúcia tentou resistir.
Hélio então, apontou novamente a arma em sua direção.
Neste momento, apareceu Jean, que resolveu fazer um passeio a cavalo.
Ao ver o estranho homem, apontando uma arma para sua mulher, Jean ficou furioso. Disposto a enfrentá-lo, exigiu que Hélio soltasse sua mulher.
Lúcia ao ver que Jean corria perigo, pediu para que ele não reagisse.
Jean porém, não lhe deu ouvidos. Furioso, avançou em direção a Hélio.
Foi então que o capanga que acompanhava Hélio, atirou em Jean, o qual caiu do cavalo.
Lúcia gritou.
Ao ver o marido morto, tentou resistir a investida de Hélio.
Queria em vão, socorrer o marido.
Hélio ao perceber que o tiro poderia chamar atenção de alguém, tratou logo de colocar um lenço com clorofórmio no nariz de Lúcia que mesmo se debatendo, acabou inconsciente.
Nisto Hélio, carregou Lúcia nos braços, sendo auxiliado pelo capanga, que ajudou a colocá-la num carrinho de golfe.
O homem dirigiu o veículo até a saída do Hotel, onde um carro o aguardava.
Lúcia foi colocada dentro do veículo.
Dali, rumaram até uma fazenda. Após, seguiram para a residência que seria o cativeiro de Lúcia.
Com o passar das horas, percebendo o sumiço de Lúcia e Jean, Orlando tencionou procurá-los. Preocupado com a demora da filha e do genro em retornar, Orlando solicitou que alguns funcionários, vasculhassem o hotel em busca do casal.
Em vão.
Os funcionários palmilharam todo o lugar. Foi quando encontraram o corpo inerte de Jean.
Quando Orlando e os netos tomaram conhecimento do ocorrido, ficaram horrorizados.
Paul, o filho, ficou arrasado.
Lúcia porém, continuava desaparecida.
Orlando tratou logo de chamar a polícia.
Os dias que se seguiram foram tormentosos para a família.
Quando Etevaldo e Júlia foram informados do desaparecimento de Lúcia, entraram em pânico.
Imaginaram logo que Hélio poderia estar envolvido no assassinato de Jean e no sumiço de Lúcia.
Nisto, quando Lúcia finalmente despertou, percebeu que estava prisioneira de Hélio.
Desesperada, lembrou-se do marido.
Ao ver-se trancada em um quarto, Lúcia levantou-se, dirigiu-se a porta, a qual tentou abrir.
Percebendo que estava trancada, começou a gritar.
Chorando, pedia para que Hélio a libertasse. Argumentando que não poderia ficar ali, comentou que sua família devia estar preocupada e que seria pior para ele, se ela não fosse libertada.
Angustiada gritou perguntando pelo marido. Ao ver que não seria atendida, começou a bater e chutar a porta. Desesperada, ao perceber que não teria como escapar, chamou Hélio de assassino.
Hélio, que estava por perto, ouviu o desabafo.
Lúcia trancafiada, sentou-se no chão e começou a chorar.
Horas depois, Hélio adentrou o quarto, Lúcia ao vê-lo em sua frente, tentou investir contra ele.
O homem porém, mais forte, segurou seu braço.
Lúcia ao perceber que não conseguiria agredi-lo, exigiu que ele a soltasse.
Hélio porém, segurando-a firme, segurou seu rosto e beijou seus lábios.
Lúcia então mordeu a boca de Hélio, o qual revidou dando-lhe um tapa no rosto.
Nervoso, Hélio gritou com ela.
Dizia:
-- Nunca mais faça isto, ou vai se arrepender!
Em seguida, segurando Lúcia pelo braço, abriu um armário mostrando-lhe várias peças de roupa. Dizia que havia preparado tudo para ela.
Apresentando o quarto Lúcia, comentou que aquele seria o lugar em que ela viveria pelos próximos meses.
Lúcia comentou então:
-- Eu não posso acreditar. Lutei tantos anos para ser feliz! E agora está tudo destruído... Eu não sei o que aconteceu com meu marido. E eu estou aqui ... com um louco... Eu quero ir embora daqui. Me deixe ir embora. Se não eu morro...
Lúcia começou a chorar.
Hélio respondeu que não fora ele quem atirou em Jean. Por esta razão não poderia ser responsabilizado pelo ocorrido. Respondeu ainda que ela estava iniciando uma nova vida e que o ocorrido deveria ser esquecido, e assim toda a sua vida, que segundo ele, ela deveria ser deixada para trás.
Lúcia caiu em profunda tristeza. Não queria saber de comer.
Hélio, nervoso, tentava obrigá-la a se alimentar. Mas Lúcia mesmo diante dos gritos e ameaças do homem, não se importava.
O homem então, mudando sua estratégia, mandou preparar um jantar para ela.
Exigiu que Lúcia então, colocasse um longo azul frente única, que havia comprado para que ela usasse em uma ocasião especial.
Ansioso, obrigou Lúcia a vestir o vestido que havia comprado.
Hélio então preparou um sofisticado jantar, o qual Lúcia não apreciou. Incomodada com toda aquela situação, não se importava com as atenções dispensadas a ela.
Tanto que a certa altura, ameaçou se levantar da mesa.
Hélio a proibiu.
Lúcia porém, cansada de toda aquela situação, levantou-se.
Irritado, Hélio a seguiu.
Assustada, Lúcia tentou se trancar no banheiro do quarto, mas não conseguiu.
Mais rápido, Hélio segurou a porta.
Lúcia tentou então, afastá-lo.
Em vão. Por ser mais forte, o homem segurou-a pelo braço.
Lúcia tentou lutar contras as investidas de Hélio, que a puxava para mais perto de si.
Na luta, rasgou o vestido de Lúcia, que tentou se esconder.
Hélio então, desabotoando sua calça, aproximou-se de Lúcia.
A mulher por sua vez, tentou lutar contra as investidas de Hélio.
O homem porém, conseguiu o que queria.
A certa altura disse:
-- Você está mais linda hoje que a dezoito anos atrás!
A Lúcia só restou chorar.
Nos meses que seguiram, o assédio se intensificou.
Certo dia, ao perceber que seu capanga a observava de longe, Hélio foi questionar Lúcia a este respeito.
A mulher sem nada entender, comentou que não sabia do que ele estava falando.
Nervoso, Hélio começou a sacudi-la, e ela em dado momento, começou a sentir-se mal.
Sem ter tempo de correr para o banheiro, vomitou no chão do quarto.
Diante disto, Hélio soltou o braço de Lúcia e deixou-a correr até o banheiro.
Ao perceber que o mal estar não havia passado, auxiliou-a, mesmo diante de seus protestos.
Depois de algum tempo, Hélio acomodou-a na cama.
Mais calmo, pediu para que ela descansasse.
Lúcia, sem forças, dormiu.
Enquanto isto, Hélio tratou de limpar o quarto.
Quando finalmente soube que Lúcia estava grávida, ficou felicíssimo.
Quem não gostava nada de seu sumiço, era sua família. Orlando, Gabriela e Paul, não tinham sossego.
A todo momento aguardavam notícias de Lúcia.
Para Paul era pior. Além de haver perdido o pai, restava a dúvida em saber se sua mãe estava viva.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.