Com isso, as duas continuaram a conversar por mais alguns minutos e depois, Melissa se despediu.
Despediu-se por que não queria ficar muito tempo conversando com a mãe. Não queria que alguém desconfiasse que era ela quem estava ligando. Temendo a possibilidade de ser encontrada por Mauro, Melissa achava que todo o cuidado era pouco.
Isso por que, sabendo que Mauro estava tentando descobrir onde as duas estavam, constatou que não seria tão simples assim, resolver sua situação.
Para piorar, não podia dizer que era viúva. Tudo por conta de Carolina, que ainda era uma criança, e não tinha obrigação nenhuma de mentir.
Também ela não queria mentir, ou acabaria por se complicar.
Assim, para explicar a ausência do pai de Carolina, ela costumava dizer que ele viajava muito. Por conta disso, o rapaz raramente estava em casa, junto com elas. Além disso, por terem se mudado há pouco tempo para lá, seu marido estava organizando as coisas, até poder ir para o Rio de Janeiro.
Porém, com o passar dos meses, não estava sendo nada fácil, sustentar essa história.
Insistentemente cobrada pelos vizinhos e conhecidos, Melissa não se cansava de dizer que o marido estava viajando. Assim, não seria tão cedo que o conheceriam.
E assim, Melissa, a duras penas, conseguia ganhar tempo.
Nessa época, já com o apartamento montado e organizado, Melissa conheceu Murilo, uma pessoa que desde o começo, se revelou um grande amigo.
Os dois se conheceram por acaso.
Melissa, apressada, antes de ir para casa, resolveu passar antes em uma biblioteca para pesquisar e saber quais os livros que ela teria que estudar.
Sim, Melissa, com a vida entrando nos eixos, planejava agora, voltar a estudar.
Assim decidida, pediu para a amiga, que cuidasse de Carolina, até mais tarde.
Elisa, prestativa como sempre, concordou em olhar a menina por mais algumas horas.
Esta amiga de Melissa, realmente, era muito prestativa. Desde que ela e sua filha mudaram-se para a cidade, foi questão de tempo para que ambas conhecessem Elisa, e sua adorável filha, Jane.
Este foi um encontro memorável.
Depois que se conheceram, nunca mais ficaram longe uma da outra.
Aliás, Elisa se tornou indispensável na vida de Melissa. Não fosse por ela, não teria onde deixar sua filha. Isso por que, morando sozinha, não tinha quem cuidasse de Carolina para ela. Além disso, Carol, nessa época, já era bem grandinha para ficar numa creche, enquanto ela trabalhava.
Não fosse o oportuno oferecimento de Elisa, para olhar Carolina, Melissa teria que deixar sua filha sozinha.
Realmente, Melissa só tinha que agradecer pela amiga que tinha.
E apesar de levarem suas vidas de modo diferente, nunca se desentenderam por causa disso. Ao contrário, cada uma sabia entender as diferenças de atitude da outra.
Com isso, foi só uma questão de tempo, para que as duas se tornassem grandes amigas.
Tanto, que de vez em quando, Melissa aproveitava para levar Elisa e sua filha, para passear. Tudo por sua conta. Essa atitude da moça, fez com as duas estreitassem ainda mais amizade.
Mas não era só isso. Com os planos de voltar a estudar, Melissa, como já foi dito, passou a de vez em quando, visitar a biblioteca. Lá pesquisando livros, descobriu inúmeras obras que certamente seriam úteis para os seus estudos.
Foi lá também que conheceu Murilo, um jovem prestativo, que ao vê-la por tantas vezes, sempre com pressa, olhando os livros, resolveu ajudá-la.
Como ela, o rapaz também visitava freqüentemente a biblioteca. Por esta razão, conhecia-a de vista.
Um dia, ao passar por ele, Melissa, que carregava muitos livros, acabou trombando em alguém, e derrubou os livros em cima da mesa que ele estava usando.
A moça, ao ver a bagunça que fez, desculpou-se e imediatamente começou a recolher os livros.
Murilo, ao ver Melissa sem jeito, comentou que não fora nada e prontamente, ajudou-a recolher os livros espalhados pela mesa.
Dado o barulho dos livros caindo, alguns dos freqüentadores daquela tradicional biblioteca, pararam para olhar. Depois, percebendo que a confusão acabara, voltaram a ler seus livros, e pesquisar obras.
Com isso, os dois continuaram a recolher os livros.
Ao juntarem tudo, Melissa pediu novamente desculpas.
Murilo insistiu em dizer que não havia sido nada de mais.
Contudo, quando a moça fez um gesto denunciando que iria sair do recinto, Murilo perguntou a ela, se ela não queria ajuda para levar os livros para casa, já que carregar aquela montanha de livros não seria nada fácil.
Melissa educadamente recusou a oferta. Dizendo que poderia facilmente levar os livros para casa, agradeceu a gentileza, mas recusou. Porém, ao dar alguns passos em direção a saída do local, mais uma vez, quase derrubou os livros novamente.
Murilo, percebendo isso, mais uma vez foi ajudá-la.
Melissa então, percebendo que seria muito difícil levar todos aqueles livros sozinha para casa, acabou concordando que ele ajudasse.
A moça então pediu para que ele a acompanhasse até o ponto de ônibus. Dali ela se virava e carregava os livros sozinha.
O rapaz, então, percebendo a situação da moça, ofereceu-lhe uma carona.
Melissa, ficou sem jeito. Argumentando que não queria atrapalhá-lo, respondeu que poderia tranqüilamente ir para casa de ônibus.
Murilo, no entanto, não aceitou a recusa. Dizendo que ficaria ofendido com ela se não aceitasse a carona, foi mais do que depressa, levando os livros para seu carro.
Ali, no estacionamento que havia próximo a biblioteca, os dois se apresentaram.
Tudo por que o rapaz acreditava, que se ela soubesse seu nome, seria mais fácil aceitar a carona.
Dito e feito.
Sem ter como recusar sua oferta, Melissa acabou concordando e aceitando a carona.
Naquela época, não era comum uma pessoa ter um carro. Assim, quando Melissa viu que ele não estava brincando, ao ver o automóvel, chegou até a elogiar o carro.
Murilo, envaidecido, agradeceu o elogio, e disse que o carro estava bonito daquele jeito, graças aos seus cuidados.
Com isso, o rapaz abriu a porta da frente para ela, que entrou. A seguir, ele fechou a porta. Em seguida, foi a sua vez de entrar no carro.
Ao entrar no carro, e ligá-lo, Murilo então perguntou a ela, onde morava.
Melissa contou então.
-- Então, é pertinho. – respondeu ele.
-- Pertinho? De ônibus são quase quarenta minutos, entre a espera e o trajeto...
-- Mas de carro não demora tanto. – comentou ele.
Melissa concordou.
E assim, enquanto Murilo dirigia, Melissa comentou que tencionava voltar a estudar. Com sua filha crescida, não teria grandes problemas em se ausentar de casa.
Murilo ficou espantado ao ouvir de Melissa, que ela tinha uma filha. Isso por que, a moça era ainda muito jovem para ter uma filha grandinha. Curioso, perguntou então:
-- E quantos anos tem sua filha?
-- Carolina vai fazer oito anos.
-- Então é grandinha mesmo. – comentou ele.
-- Se é.
-- Mas você não tem idade para ter uma filha tão grande assim.
-- Tenho sim. Não sou tão nova assim. Além disso, me casei muito cedo. – comentou ela.
Murilo então comentou que era difícil acreditar nisso.
Melissa realmente, parecia muito moça para ser mãe de Carolina.
A própria Elisa já havia comentado isso com ela.
A moça porém, não estava nem um pouco convencida disso. Tanto, que sempre quando alguém vinha com essa conversa, ela fazia questão de desconversar.
Contudo, era a mais pura verdade.
Quantas e quantas vezes, quando nas raras vezes em que foi levar a filha na escola, ou mesmo participar das reuniões na escola, não foi confundida com uma irmã de Carolina?
Por esta razão, Melissa, ao ouvir os comentários de Murilo, começou a rir.
O rapaz, curioso para saber o motivo do riso, começou a perguntar:
-- Do que você está rindo? Por acaso eu disse algo engraçado?
Melissa então respondeu:
-- Não, absolutamente. É que quando o senhor comentou sobre a minha idade, eu me lembrei de outras situações. Essas sim, foram muito engraçadas. Me desculpe, se te dei a impressão errada.
Murilo, ao ouvir as explicações de Melissa, resolveu perguntar então, se não era nenhuma inconveniência, o que era engraçado.
A moça então comentou algumas das passagens de sua vida, em que foi confundida com uma irmã mais velha de Carolina. Acreditando ser uma gentileza das pessoas, achava engraçado as pessoas fazerem aquele tipo de confusão com ela.
Murilo ao ouvir as histórias, comentou que não havia nada de errado nisso, até por que, realmente ela parecia ser muito jovem.
Melissa então comentou, que já tinha quase vinte e sete anos.
Murilo, ao ouvir a idade de Melissa, ficou tão espantado, que pediu para que ela repetisse.
Quando a moça repetiu então, vinte e sete, Murilo comentou:
-- Olha Melissa, você vai me desculpar a indiscrição, mas não parece nem de longe que você tem toda essa idade. Eu só vou acreditar nisso, quando eu ver a sua filha.
Ao ouvir isso a moça, caiu na risada. Mas, desafiada por Murilo, acabou concordando em apresentá-lo a sua filha, assim que tivesse uma oportunidade.
Nisso o rapaz já estava quase chegando onde Melissa morava.
Percebendo isso, a moça começou então explicar onde ele tinha que levá-la.
Murilo seguiu então, as dicas da moça, e rapidamente deixou a mesma em casa.
Alguns vizinhos, ao verem a moça chegando de carona no carro de um estranho, chegaram a pensar que este estranho, era seu marido. No entanto, quando o viram partir, perceberam que não era nada disso.
Curiosos, dois deles desceram e ficaram na entrada do prédio, esperando pela moça.
Quando Melissa se aproximou da entrada, um dos moradores abriu a porta para ela.
A moça então, agradeceu a gentileza, e se não tivesse sido interrompida, teria ido direto para seu apartamento.
Isso por que, os dois vizinhos, querendo saber quem era aquele rapaz, começaram a perguntar a ela, de onde ele era, desde quando ela o conhecia, etc.
Melissa, então, percebendo que ficaria ali a noite inteira, desculpou-se com eles, e dizendo que precisava entrar, por causa dos livros que carregava e que estavam muito pesados, respondeu que queria o quanto antes guardá-los. Ademais, tinha ainda que buscar sua filha, na casa de uma amiga.
Foi então que ela, vendo o relógio da entrada do prédio, comentou assustada:
-- Nossa! Tenho que me apressar ou então não verei mais minha filha hoje. – respondeu apressando-se para pegar o elevador.
Ao entrar no apartamento, guardou os livros e foi imediatamente buscar a filha.
Ao chegar na casa de Elisa, desculpou-se pela demora.
Elisa disse então:
-- Não tem problema, a Carol está no quarto, brincando com Jane há horas. Não precisa se preocupar, atrasos acontecem.
Melissa então, pediu a amiga, que chamasse Carolina, para ambas pudessem ir para casa.
E assim, ao voltarem juntas para casa, a menina perguntou para a mãe:
-- Mãe, por que você demorou tanto?
Melissa explicou a filha, que havia ido até a biblioteca pegar alguns livros. Como havia muitas opções, ela ficou empolgada, e acabou se esquecendo da hora.
Nisso, Carolina abraçou Melissa, dizendo que sentiu saudades.
No dia seguinte, antes de levar sua filha para a casa de Elisa, Melissa comentou que elas precisavam se encontrar com Elena.
Dizendo que ela sentia muito a falta da mãe, comentou com Carolina, que estava pensando em encontrá-la em outro estado. Lá poderiam ficar hospedadas em algum hotel por alguns dias, matarem a saudade que tinham uma da outra, e depois voltarem para o Rio.
Para tanto, ela, não deveria contar, nem mesmo para sua avó, onde estavam morando. Isso por que, se ela não soubesse exatamente onde viviam, não teria como contar a ninguém, onde estavam.
Carolina então, perguntou a mãe:
-- Mas o que eu vou responder se a vovó quiser saber onde nós estamos? Eu não quero mentir.
Melissa, percebendo a preocupação da filha, comentou:
-- Mas quem disse, que eu quero que você minta? Não, eu não quero isso. Eu só quero que você não conte, nem para sua avó, onde nós estamos. Está bem? Se ela perguntar, diga simplesmente que eu não te deixei responder. Se ela insistir, diga para ela perguntar a mim, posto que você prometeu não contar a ninguém. Tá bom?
Carolina concordou.
Prometendo não contar nada a avó, Carolina deu a resposta que Melissa precisava para novamente voltar a falar com Elena.
Contudo, antes de ligar, pensou em uma coisa. Se Mauro estava no encalço de Elena, quem poderia garantir, que ele não a seguiria em seu vôo?
Pensando nessa possibilidade, Melissa resolveu pedir ajuda a amiga, para resolver o impasse.
Assim, durante o dia, enquanto trabalhava, Melissa por várias vezes, se lembrou do assunto. Preocupada, assim, que terminou o expediente, foi direto para a casa da amiga, para conversar. Foi então, que ao chegar e ser recebida por Elisa, Melissa tomou um belo café.
Depois, começou a falar sobre a vontade que tinha de rever sua mãe. Contudo, uma coisa a preocupava. Sua preocupação se devia ao fato de que Mauro dificilmente tinha aceitado seu sumiço e portanto, devia estar em seu encalço. Por esta razão, devia ter muito cuidado.
Elisa, ao constatar a preocupação da amiga, chegou a perguntar se esta não era demasiada. Isso por que, fazia mais de um ano que ela partira. Assim, provavelmente devia até ter arrumado outra pessoa.
Melissa contudo, não acreditava nisso.
Conhecendo o temperamento de Mauro, comentou com Elisa, que ele era obssessivo demais para deixar de lado, o fato de ter sido abandonado. Até por que, isso para ele era uma vergonha.
Foi então que a moça lembrou a amiga, dos relatos que fizera tempos atrás.
Elisa, então, ao se dar conta de que Mauro poderia estar procurando-a, recomendou a amiga, que tivesse cuidado. Receosa, recomendou até que a amiga não se encontrasse na cidade com a mãe.
Melissa comentou então, que já havia pensado nisso. Ademais, havia até recomendado a filha, que não contasse a sua mãe, onde estavam.
Elisa concordou.
Contudo, a parte mais difícil não havia sido ainda esclarecida. Como fazer para se encontrar com sua mãe, sem correr o risco de Mauro descobrir tudo?
Elisa ficou então a pensar.
Pensando, pensando, pensando, acabou por chegar a uma conclusão.
-- E se eu fosse junto com você, nesta viagem? Assim, eu poderia me encontrar com sua mãe e despistar Mauro. Sim, por que, se ele visse a mim, e não você no aeroporto, se ele estivesse seguindo sua mãe, acabaria desistindo e voltando para São Paulo.
Melissa concordou com a idéia da amiga.
E assim, Elisa se comprometeu a viajar com ela. Muito embora não acreditasse que Mauro seria tão louco a ponto de seguir Dona Elena em uma viagem, a moça acabou concordando em acompanhar a amiga durante a viagem.
Assim, foi só uma questão de tempo para que Melissa marcasse a viagem com a mãe, e arrumasse as malas para ir até Vitória, no Espírito Santo.
Precavida, Melissa combinou com a mãe, para que esta fosse até Belo Horizonte. Lá ela se encontraria com Elisa e Jane. Assim, as três ficariam alguns dias por ali, e depois, Elena viajaria sozinha para Vitória.
Elisa, daria mais um tempo em Belo Horizonte, e depois, iria encontrar-se com a amiga.
Assim foi feito.
Foi desta forma que Melissa pôde rever a mãe, e Dona Elena rever a neta.
Carolina estava crescida, e muito alegre. O oposto do que era quando vivia em São Paulo.
E como havia combinado com sua mãe, a garota não contou a avó, onde moravam.
E assim, mesmo insistindo muito, Dona Elena não descobriu nada.
E mesmo assim, estava muito feliz por rever a filha que não via há mais de um ano.
Desta forma, compreendendo as razões da filha se esconder tanto, comentou com esta sobre o fato de Mauro não a procurar mais.
Contudo, ainda assim, o rapaz não lhe inspirava confiança. Isso por que a senhora, descobriu com os vizinhos, que o mesmo de vez em quando ainda rondava sua casa.
Ao ouvir isso, Melissa ficou apavorada.
Elena então, ao perceber a preocupação da filha, sugeriu se mudar de São Paulo. Quem sabe assim, ele a deixaria em paz.
Melissa ao ouvir isso, pediu a mãe para que não se mudasse. Afinal de contas, ela passara toda a sua vida na cidade e não fazia o menor sentido ela ir embora dali, se era ele quem estava sendo inconveniente.
Todavia, Melissa recomendou a mãe, que na próxima vez em que tornassem a se ver, antes de se encontrar com ela, passasse pelo menos algumas semanas, com alguns de seus parentes do interior. Assim, não levantaria suspeitas.
Dona Elena concordou.
Contudo, aquelas cinco pessoas não estavam ali para se preocupar com nada.
Assim, aproveitando para se divertir, Melissa, Elisa e Elena, aproveitaram muito as praias. As meninas também. Além disso, visitaram os pontos turísticos da cidade, e dos arredores também.
Foram dias memoráveis para todos.
Em plena época de férias escolares e de férias do trabalho, Melissa aproveitou o momento para curtir a família e descansar.
Para guardar boas recordações, foram tiradas fotos dos melhores momentos daquelas férias.
Depois, Melissa e Carolina, despediram-se de Elena e cada uma seguiu para sua cidade. Elena foi para São Paulo e Melissa, Elisa, Jane e Carolina, rumaram para o Rio de Janeiro.
Murilo ao saber do retorno de Melissa, tratou logo de visitá-la. Comentando que há muito tempo desejava conhecer Carolina, teve o cuidado de ir acompanhado de uma amiga, para não expôr a moça.
Melissa então, percebendo que estava em falta com Murilo, apresentou sua filha a ele.
O rapaz então, ao ver a garota, concordou com ela. Realmente a menina já era bem grandinha. Espantado, comentou:
-- Realmente, você se casou muito nova. Tão nova que mais parece uma irmã mais velha.
Carolina caiu na risada. Acostumada a ouvir que sua mãe parecia sua irmã, simpatizou com o rapaz.
Murilo ao perceber isso, começou a paparicar a garota.
Simpático, prestava atenção em tudo o que ela dizia. Observava-a brincando com Jane, e conforme suas visitas foram se tornando freqüentes, começou a levar presentes para as duas.
Freqüentando a casa de Melissa, conheceu Elisa, e descobriu que as duas eram grandes amigas. Descobriu que Elisa era viúva e que vivia com a pensão do marido, militar.
Quanto a Melissa, levou algum tempo para ele descobrir que ela ainda era casada.
Por isso mesmo, quando ela lhe contou, depois de alguém tempo de amizade, sobre sua situação, Murilo ficou bastante desapontado.
Isso por que, como Elisa mesma disse a amiga, diversas vezes, o rapaz tinha um outro interesse nela além da amizade.
Em decorrência disso, ao constatar que ela já era casada, isso eliminava por completo, qualquer possibilidade de aproximação.
Contudo, devido a insistência de Elisa, que não queria ver a amiga sozinha, já que até mesmo ela arrumara outro relacionamento há alguns meses, Murilo acabou por ouvir as explicações da moça.
Quando descobriu que ela fugira do marido, que ele era um homem violento, e que nem ela nem a filha queriam mais saber dele, Murilo foi tomado de uma grande esperança.
Sim, por que se ela não tinha intenção de voltar com Mauro, a mesma poderia perfeitamente, se separar dele e se casar novamente.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
quinta-feira, 8 de abril de 2021
DE TRISTEZA E DE SOMBRAS - CAPÍTULO 4
DE TRISTEZA E DE SOMBRAS - CAPÍTULO 3
Contudo, a despeito de tudo isso, Melissa estava gostando de seu trabalho. Animada, estava sentindo que sua vida estava mudando radicalmente.
Longe de Mauro, sua vida melhorava a olhos vistos.
Com uma casa nova, um emprego e uma vida nova, até mesmo Carolina, que não começo ficou um tanto quanto assustada com a mudança, era a pessoa agora que mais curtia as novidades.
Sempre que podia, ela e Jane passeavam pela cidade. E assim, conhecendo a cidade em seus pequenos detalhes, Carolina estava cada vez mais encantada com a cidade.
O Rio de Janeiro, realmente era uma cidade e tanto.
Além disso, agora, em companhia com gente de sua idade, a menina podia se divertir mais.
Sim, por que na época em que vivia com sua mãe em São Paulo, raramente podia se encontrar com seus coleguinhas de escola, e para piorar, quando sua mãe começou a trabalhar fora, só passava os dias com a avó.
Dona Elena, era uma ‘mãe com açúcar’, mas mesmo assim, não era o mesmo que poder brincar com uma criança de sua idade.
Desta forma, viver na Cidade Maravilhosa, era algo muito bom para ela.
A própria Melissa, vendo a mudança do comportamento da filha, comentava satisfeita:
-- Quem te viu, quem te vê. Quem diria que aquela minha menina tímida agora é a garota mais tagarela da vizinhança?
Carolina, que até então vivia assustada, agora era uma alegria só. Animada, contava em detalhes todos os passeios que fazia com a amiga, e que tudo na escola ía muito bem.
Melissa, ao ouvir as peripécias da filha, ficava toda feliz.
Tudo estava indo muito bem.
Elisa, convivendo com Carolina, acabou descobrindo através da menina, que elas estavam ali por causa de Mauro, seu pai.
A mulher ao ouvir a conversa de Carolina com sua filha Jane, foi tomada de uma grande surpresa. Ao ouvir sobre isso, passou a perguntar a Carolina, qual era a razão para que precisassem fugir dele.
A menina, contou então, triste, que seu pai, vivia batendo em sua mãe.
Comentou que na última vez em que a agrediu, sua mãe ficou vários dias internada. Carolina alegou triste, que com as agressões que vinha sofrendo constantemente, sua mãe, cansada de apanhar, resolveu mudar sua vida.
Foi então, que Elisa concluiu que foi por isso, que Melissa resolveu se mudar para lá.
Curiosa, Elisa perguntou, onde elas moravam, antes de irem para lá.
Carolina, contou que elas moravam em São Paulo.
Elisa, impressionada com a história, ficou a pensar: ‘Meu Deus! Mas que história horrível!’.
Preocupada, assim que Melissa apareceu para buscar Carolina, a mulher pediu para que ela esperasse um pouco para levar a garota para casa.
Melissa não entendeu nada, mas mesmo assim, concordou.
E Carolina, animada, continuou a brincar com sua colega.
Já Elisa e Melissa, ficaram a sós na cozinha.
Elisa então, ofereceu um café e um pedaço de bolo para amiga.
Melissa tomou o café e comeu a fatia de bolo.
Elisa então, ao ver que ela havia terminado o lanche, começou perguntando:
-- Melissa, como era a sua vida em São Paulo?
A moça, ao ouvir isso, levou um tremendo susto.
Sem esperar por aquela pergunta, a moça ficou surpresa com a pergunta. Por isso mesmo, tentando desconversar, perguntou:
-- Onde foi que você ouviu que eu já morei em São Paulo?
Mas de nada adiantou. Elisa, sabendo de boa parte da história, respondeu:
-- Mel, não adianta me esconder nada. Sua filha me contou que você fugiu de seu marido.
Melissa, ficou branca como cera, ao ouvir as palavras da amiga.
Elisa, percebendo que a amiga ficara desconcertada, resolveu atenuar o que já sabia. Dizendo que a menina não havia comentado sobre o assunto por maldade, alegou que criança era assim mesmo, falava sem pensar. E assim, sem ter consciência de que este era um assunto delicado para ser comentado em público, a menina acabou contando por acaso a Jane que estavam no Rio por causa de Mauro.
Melissa, constrangida, comentou:
-- Meu Deus do céu! Quer dizer que ela falou sobre tudo o que sabia?
-- Sim. Até das brigas, ela falou. – respondeu meio sem jeito.
Melissa então, começou a chorar.
Sem saber o que dizer, só conseguia chorar e dizer entre soluços, que não era para ninguém ficar sabendo daquela história.
Elisa comentou então, que não havia problema nenhum, já que de sua boca não sairia nada. Ninguém saberia dessa história, por que ela não contaria. Além disso, ela não tinha que sumir dali por conta disso.
Elisa prometeu a Melissa que jamais contaria o que sabia, a alguém.
Preocupada com a amiga, Elisa aconselhou-a a orientar a filha, para que não comentasse mais sobre o assunto com ninguém. Isso por que, esta história, poderia cair em ouvidos alheios e acabar virando uma grande confusão.
Melissa, desorientada, perguntou:
-- E o que eu faço?
Elisa, então a orientou para conversar com a filha, sem brigar, e sem ameaçar.
Poderia começar perguntando, sobre o que ela achava em morar ali, naquela cidade linda, com pessoas simpáticas, lugares maravilhosos para passear, uma vida calma, tranqüila. Depois, poderia perguntar a filha, o que ela achava de viver em São Paulo com seu pai. A seguir, Melissa poderia sondar a filha para saber qual sua opinião sobre uma possível volta para aquela cidade. Com essa resposta, que provavelmente Melissa sabia qual era, a mesma poderia aconselhar a filha para que não contasse mais sobre a razão de sua ida para lá.
Elisa recomendou a amiga também, que esta orientasse a filha, para dizer que ele viajava muito, e por isso nunca estava presente. Depois, se fosse o caso, poderia dizer que ele havia morrido.
Melissa, ao perceber que a amiga estava sendo sincera, agradeceu as sugestões, e com profundo pesar, comentou que desde que rumara para lá, nunca mais havia entrado em contato com sua mãe, que a essa altura, devia estar muito preocupada.
Elisa, cautelosa, perguntou primeiramente, onde a mãe dela morava.
Ao saber que Dona Elena morava na mesma cidade em que elas viviam com Mauro, a amiga aconselhou-a não procurar por sua mãe. Pelo menos não agora.
O que ela podia fazer, era ligar para ela, avisando que tudo estava bem, e que não precisava se preocupar. Contudo, por precaução, a mesma não deveria dizer onde estava. Até por que, se Mauro conhecia a sogra, era possivelmente, a pessoa que ele mais estava espreitando para tentar descobrir seu paradeiro.
Melissa, ao constatar que sua mãe poderia estar sendo constantemente incomodada pelo genro, comentou desolada:
-- Oh, céus! Não bastasse ter me envolvido em uma grande confusão, ainda deixei um abacaxi para mamãe descascar.
-- Não fique assim! Ela deve ter entendido o seu gesto desesperado. Até por que, ela também devia saber o que estava se passando. – comentou a amiga, tentando consolá-la.
-- Sim. Ela sabia de tudo. – disse ela, já dando início a uma conversa em que revelou que há muito tempo apanhava do marido.
Nessa conversa, Melissa contou que desde o namoro o rapaz demonstrou um comportamento agressivo. Porém, ela nunca poderia imaginar que ao se casar com o rapaz, as coisas se deteriorariam tão rapidamente.
Elisa, ouvia tudo, com muita atenção. Sem tecer comentários, nem censurar a amiga, ouviu tudo, com o maior cuidado.
Todavia, não deixou de se espantar nem por um minuto, com a atitude destemperada de Mauro. Tanto, que depois de ouvir todo o relato da amiga, perguntou:
-- Minha amiga, e por que você demorou tanto para reagir?
Melissa respondeu então:
-- É que não é nada fácil abrir mão de tudo. De respeitabilidade, de meus amigos, de minha família. Mas chega um ponto também, que a falta de respeito é tão grande, que ninguém, por mais cordato que seja, aceita tantas humilhações, tantos maus-tratos. Eu já não agüentava mais aquela vida sofrida. Eu não tive outra alternativa. Se eu não fugisse desta vez, talvez na próxima surra, ele me mataria.
Elisa ficou chocada com o comentário da amiga.
Tão chocada que mal podia acreditar no que tinha acabado de ouvir. Para ela, essas histórias que a amiga contava, de violência doméstica, eram aterradoras.
Elisa não conseguia acreditar que pudessem existir pessoas tão violentas como Mauro. Como sempre fora muito feliz com seu marido, era inadmissível para ela que existissem outras formas de relacionamento.
Era realmente um absurdo ouvir da amiga todas aquelas histórias.
Porém, não a censurou.
Pelo contrário, ao descobrir os motivos pelos quais a mesma resolvera mudar sua vida, admirou-a ainda mais. Isso por que, sabia que não era nada fácil criar uma filha sozinha. Muito embora sua história fosse diferente da de Melissa, já havia muito tempo que criava a filha sozinha.
Tanto que ela chegou a dizer a amiga que não era nada fácil cuidar de uma filha sem o apoio de um pai.
Mas Melissa ao ouvir isso, comentou que foi ela quem sempre esteve presente na vida da filha. Alegando que praticamente desde que a menina nascera, era ela quem havia cuidado da criança, Melissa revelou que Carolina era órfã de pai vivo. Com exceção de sua mãe e do período em que Carolina estivera em uma creche, sempre fora ela quem cuidara da menina. Além disso, por mais que tentasse esconder, Carolina já estava mais do que ciente, do que ela passava nas mãos de Mauro. Diversas vezes viu a mãe apanhar. Por esta razão sentia muita raiva dele, e ressabiada, raramente se aproximava dele.
Isso deixava-o mais irritado ainda. Contudo, nunca bateu, nem tentou agredir a filha. Seus desacertos eram com Melissa, o que não impedia que a menina tivesse muito medo do pai.
Diante disso portanto, não foi nada difícil, convencê-la a viver naquela cidade linda, longe de qualquer lembrança, daquele pai, que ela não cansava de dizer, que era malvado.
Com isto, depois desta longa conversa com Elisa, Melissa decidiu voltar para o apartamento com a filha.
Elisa contudo, percebendo o adiantado da hora, convidou a amiga, e sua filha, para jantarem com elas.
Melissa comentou então, que já havia ficado tempo demais na casa da amiga, e que já havia também, abusado da hospitalidade dela.
Elisa porém, que adorava ser gentil, exigiu que a amiga ficasse por ali, sob pena de desapontá-la.
A moça, sem saída, acabou concordando em ficar.
E assim, as duas mulheres e as duas crianças jantaram juntas e conversaram longamente durante toda a noite.
Depois, dado o adiantado da hora, Melissa, ao chegar em casa, resolveu deixar a conversa séria que teria com a filha, para outra ocasião.
Pensando em conversar sobre o assunto no dia seguinte, ao deixar a menina aos cuidados da amiga, comentou com Elisa, que buscaria Carolina mais cedo para conversar com ela.
Elisa percebendo do que se tratava, combinou com a amiga, que não faria nenhum passeio longo.
E assim, Melissa mais uma vez trabalhou o dia inteiro. Atendendo pessoas e ligações, mal teve tempo para pensar no que havia ocorrido no dia anterior. Assoberbada, quase não teve tempo para pensar em si.
Sim, o ritmo de trabalho, estava cada vez mais puxado.
Mas mesmo assim, Melissa não reclamava. Era melhor ter muito trabalho do que nenhum. E assim, cumpria com a maior dedicação possível seus afazeres. Dedicada, progredia a olhos vistos.
Encorajada, chegou até a cogitar a possibilidade de novamente freqüentar uma escola.
Elisa, percebendo o entusiasmo da amiga, incentivou-a.
Porém, necessário se faz, comentar acerca da conversa que Melissa e Carolina tiveram.
Como já fora dito antes, Melissa depois de um longo dia de trabalho, foi buscar a filha, na casa de Elisa.
Conforme o combinado, Elisa dessa vez, não levou as meninas para nenhum passeio.
Desta forma, assim que Melissa saiu do trabalho, foi até a casa de Elisa buscar sua filha.
Lá, ao entrar, desculpou-se pela pressa mas disse que tinha algo muito sério para conversar com a filha.
Quem não ficou nem um pouco satisfeita com isso foi Jane, que estava se divertindo muito com as histórias que a amiga contava, que havia lido nos livros de Monteiro Lobato.
Quando a garota percebeu que Carolina tinha que voltar para casa mais cedo, chegou a pedir para Melissa que deixasse ela ficar um pouco mais.
Debalde.
Melissa realmente precisava conversar com a filha. Por isso Carolina precisava, ao menos naquele dia, voltar mais cedo para casa.
Mas vendo que Jane estava desapontada, Melissa prometeu que assim, que tivesse tudo organizado em casa, levaria todo mundo para passear, por sua conta.
Jane, ao ouvir isso, ficou então, um pouco mais animada. Desta forma, acabou concordando que Carolina fosse mais cedo para casa. Mas logo advertiu:
-- Não é sempre que eu vou concordar com isso.
Elisa e Melissa, ao ouvirem isso, caíram na gargalhada.
Carolina então, despediu-se de Elisa e Jane e depois foi embora com a mãe.
Curiosa, no meio do caminho, a menina perguntou a mãe, sobre o que ela queria falar.
Melissa porém, comentou que só tocaria no assunto, quando chegassem em casa.
Assim, quando chegaram em casa, antes mesmo de entrarem no apartamento, Carolina pediu para que a mãe falasse.
Melissa, por sua vez, comentou, que primeiramente deveriam entrar em casa, para que depois a mesma pudesse tocar no assunto. Assim, abriu a porta do apartamento, e foi logo pedindo para Carolina entrar.
A menina entrou em casa e Melissa fez o mesmo. Depois ela trancou a porta, e levou Carolina até o sofá para conversar.
Muito embora a casa estivesse ainda bagunçada, já havia geladeira, duas camas, um sofá, fogão, armários de cozinha e dois guarda-roupas nos quartos. Enfim, Melissa ía aos poucos, montando sua casa.
E assim, em meio a essa bagunça, sentadas no sofá, que as duas conversaram.
Melissa, ao notar que Carolina aguardava o começo da conversa, começou dizendo que ficou sabendo que ela comentou sobre Mauro, com Jane e Elisa.
Carolina, ao perceber a preocupação da mãe, respondeu quase chorando:
-- Mãe, eu não falei por mal. Me desculpa.
Melissa, vendo que Carolina estava nervosa, procurou acalmá-la. Dizendo que não tinha feito nada de mais, comentou que a falha havia sido dela, ao não recomendar que não tocasse no assunto.
Carolina por sua vez, continuava insistindo em dizer que não havia feito por mal.
Melissa então disse:
-- Eu sei que não. Você jamais faria alguma coisa por maldade. Mas é que tem certas coisas, que não devem ser ditas. Eu sei que parece horrível o que eu estou dizendo, mas é que nós precisamos nos preservar. Nem todo mundo pode ficar sabendo do que aconteceu, está bem? Jane e Elisa são boas pessoas. Mas infelizmente, nem todo mundo é.
-- Então, o que eu faço se me perguntarem sobre papai?
-- Diga simplesmente que não sabe como ele está, por que faz muito tempo que não o vê. Diga que ele está longe, e que vai demorar muito tempo para voltar. Apesar de não estar dizendo tudo o que as pessoas querem saber, você não estará mentindo. Está bem?
-- Sim, mamãe. Por que mentir é muito feio.
-- Sim, é. Mas as vezes nós precisamos omitir algumas coisas. Não é mentir. Além disso, a omissão, ou seja, deixar de falar sobre algo, só deve ser feito, quando uma verdade que não leva a nada, pode nos prejudicar. Não é trapacear e nem prejudicar os outros. É simplesmente nos preservar, nos proteger... Eu sei que talvez você não esteja entendendo quase nada do que eu estou falando, mas eu quero que saiba, que não estou pedindo para você mentir. Está bem? Eu só não quero que você se exponha demais.
Carolina concordou. Falaria que ele estava longe e que demoraria para voltar.
Contudo, preocupada com um possível retornou do pai, perguntou preocupada, se havia possibilidade de Mauro passar a viver com elas.
Melissa, desconcertada com a pergunta, resolveu pensar bem antes de responder. Pensou, pensou, até que chegou a seguinte resposta:
-- Olhe, Carol! Como você mesma sabe... Por mais que eu tenha tentado esconder de você, a minha vida com seu pai não estava legal, nos últimos tempos.
-- É, eu sei. Papai, vivia batendo na senhora.
Ao ouvir isso, Melissa chorou.
Carolina, assustada, perguntou a mãe, se fez alguma coisa errada.
Melissa, respondeu que não. Comentando que estava emotiva por conta do que vinha lhe acontecendo nos últimos tempos, explicou que ficou triste ao constatar que uma criança tão pequena quanto ela, tinha que, além de estudar, se preocupar com problemas domésticos.
Mas Carolina disse que não tinha como não ouvir os gritos dela.
Perceber isso fez Melissa ficar ainda mais triste. Tão triste que chegou a comentar:
-- Então meu anjo. Você sabia de tudo. Não é mesmo? Todas as vezes que eu apanhei de seu pai, você ouviu meus gritos, as brigas, as discussões.
Melissa ficou tão emocionada que abraçou a filha.
Carolina, então, começou também a chorar:
-- Papai é ruim. É uma pessoa muito má. Eu não gosto dele. Eu não quero que ele volte a morar com a gente, ele vai bater de novo em você. Não volta com ele, por favor. Nossa vida é tão feliz, aqui. – pediu ela, agarrando-se a mãe.
Melissa, percebendo a aflição da filha, prometeu que jamais imporia a presença de Mauro a ela.
A seguir tentou inutilmente explicar a filha, que suas diferenças com Mauro, não diziam respeito a ela. Que ele era um homem violento, mas nunca havia agredido-a.
O problema era com ela – Melissa – assim, Carolina não tinha que sentir raiva de Mauro por isso.
Mas Carolina, apesar de muito criança ainda, tinha perfeita noção de que o relacionamento dos dois não era bom.
Além disso, Mauro nunca se preocupara em ser gentil com ela. E a despeito de nunca tê-la agredido, ela sentia um profundo medo dele.
Tanto que a simples possibilidade de ver sua mãe e ela morando na mesma casa que ele, lhe era aterradora. Daí sua insistência em pedir a mãe que nunca mais voltasse para São Paulo.
Muito embora sentisse saudades da avó, temia que ele as achasse, se elas voltassem para aquela cidade.
Diante disso, Melissa concordou com a filha.
Voltar a viver com Mauro era impossível.
Contudo, Melissa precisava encontrar uma forma de explicar a mãe que estava bem.
E foi assim, que Melissa, ligando de um orelhão, informou sua mãe, que estava bem. Dizendo que estava morando no Paraná, comentou que estava muito bem instalada. Trabalhando muito, encontrou pessoas acolhedoras e gentis que a ajudaram a cuidar de Carolina.
Elena, ao ouvir a voz da filha, mesmo percebendo que a mesma estava bem, continuava preocupada. Tão preocupada, que mal conseguia deixar Melissa falar.
Tentando descobrir onde ela e a neta estavam, perguntou de inúmeras maneiras se as duas estavam bem, se estavam se alimentando corretamente, se estava bem instaladas, se estavam confortáveis, se estava tudo bem. Enfim, coisas que as mães sempre perguntam quando os filhos se ausentam.
Porém, percebendo que tudo estava bem, acabou por se acalmar um pouco.
Contudo, não deixou de perguntar onde estavam, e como faria para encontrá-las novamente.
Melissa, percebendo a afobação da mãe, pediu cautela.
Elena então, percebendo que o cuidado da filha, tinha razão de ser, comentou com ela, que Mauro freqüentemente a interpelava tentando descobrir seu paradeiro.
Melissa contou então a mãe, que precisavam ter muito cuidado com isso.
Por esta razão, ela não podia contar onde estava. Mas prometendo que arrumaria uma forma de se verem, combinou que assim que pudesse, as duas viajariam para algum outro estado, e nesse lugar se daria o encontro.
Contudo, precisavam ter cautela.
Elena então, mesmo ansiosa, concordou com a filha.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
DE TRISTEZA E DE SOMBRAS - CAPÍTULO 2
Porém, no dia seguinte, foi trabalhar.
Apesar de ainda sentir muitas dores por conta da surra que levara, Melissa sabia que não podia ficar muito tempo ausente, ou acabaria perdendo o emprego. Assim, tomando o máximo de cuidado, nem sequer comentou sobre a surra que levou.
Suas colegas, que trabalhavam no escritório, perceberam no entanto, que ela estava machucada. Discretas porém, prometeram a ela que não comentariam com ninguém que estava com dores.
Nisso Roberval, que já sabia que Melissa estava trabalhando no escritório, foi até a recepção para cumprimentá-la.
Curioso, foi logo perguntando a ela por que havia faltado no trabalho.
Melissa então, respondeu:
-- Desculpe Seu Roberval, mas é que eu tive que resolver problemas pessoais. Por isso mesmo, como eu não tenho como abonar minha falta, pode descontar o dia que não trabalhei. Sem problemas.
Roberval porém, interessado na moça, fez questão de deixar claro que não descontaria o dia. Ao contrário, consideraria o dia como trabalhado.
Melissa, ao ouvir isso, ficou surpresa. Porém, a despeito de seu espanto, fez questão de agradecer a gentileza.
No que Roberval respondeu:
-- Não me agradeça. Eu não fiz nada de mais. Com uma funcionária dedicada e responsável como você, esse escritório irá muito longe.
Foi então, que depois de lhe desejar bom dia, Roberval aproveitou para voltar para seu escritório.
Mais tarde, durante o horário de almoço, o empresário fez questão de convidar a moça para acompanhá-lo.
Melissa, constrangida com o convite, fez questão de recusá-lo.
Roberval, descontente com a recusa, tratou logo de convidar suas colegas para que assim, a mesma ficassem sem condições de recusá-lo.
A moça, sem ter alternativa, acabou concordando com a proposta. Contrariada, acabou acompanhando o chefe e as colegas durante o almoço.
Nisso, seguiram-se os dias.
De vez em quando fazia serões. Porém desta vez, para sua sorte, Mauro, nunca estava em casa quando chegava. E assim, ficava tranqüila.
Todavia, sua tranqüilidade não duraria muito tempo.
Após um certo período de calmaria, ao ser assediada por seu chefe, acabou passando por situação extremamente constrangedora.
Isso por que, ao fazer mais uma vez, serão no escritório, Roberval, aproveitando que estava a sós com a moça, tratou logo de cercá-la de todas as maneiras possíveis, na vã tentativa de convencê-la a sair após o expediente, em sua companhia.
Porém, para sua decepção, mais uma vez a moça recusou seu convite.
Roberval então, perdendo a paciência, ameaçou despedi-la se ela não aceitasse o convite.
Melissa, ao ouvir as ameaças do patrão, foi logo dizendo, ofendida:
-- Pois bem. Se o senhor acha que este é um bom motivo para me despedir, faça bom proveito. Me demita. O que eu não vou aceitar é que o senhor me insulte dessa maneira.
O empresário, ao perceber que a moça não recuaria diante da ameaça, foi logo dizendo:
-- Está certo Melissa. Você está certa. Eu me excedi. Peço desculpas pelo gesto. Mas é que eu gosto muito de você, sabia? Desde que você passou a trabalhar conosco, todos nós nos apegamos muito a você. Veja as secretárias, os contínuos. Todos gostam de você.
Muito embora o empresário estivesse tentando consertar a situação, Melissa não estava gostando nem um pouco da conversa. Desconfiada de tudo aquilo era uma armadilha, foi logo se manifestando no sentido de que estava muito tarde e que precisava voltar para casa.
Roberval porém, insistente, pediu a ela para que não fosse embora.
Melissa no entanto, não estava nem um pouco inclinada a acatar os pedidos do patrão, e assim, mais de uma vez ameaçou se levantar e ir embora.
O empresário então, percebendo que não seria nada fácil retê-la, trancou a porta de seu escritório, e guardou a chave no bolso de seu paletó.
Melissa ao perceber a manobra de seu chefe, começou a gritar exigindo que este lhe entregasse a chave, para que pudesse abrir a porta do escritório e sair dali para nunca mais voltar.
Nisso, Roberval, que não estava nem um pouco preocupado com isso, disse a moça que só abriria a porta quando ela aceitasse sua proposta.
Ao ouvir esse despropósito, Melissa vociferou. Dizendo que jamais aceitaria um absurdo daqueles, pediu demissão.
O empresário respondeu então, visivelmente irritado:
-- Nem pensar. Você só sai daqui quando eu quiser. Está bem?
Melissa então insistiu para que ele abrisse a porta. Como este se recusava, a moça começou a bater na porta, gritando.
Foi então que Roberval comentou:
-- Você Melissa, pode gritar a vontade que ninguém vai te escutar. Não há mais funcionários no prédio, somente o porteiro, mais este está muito longe para escutar seus gritos. Então, por que desperdiçar tanta energia se debatendo, se esse esforço é inútil? Se acalme Melissa, vamos conversar. Você não tem nada a perder.
-- Quem disse que eu quero falar com o senhor?
-- Pois deveria. Até por que, eu não vou abrir a porta enquanto você não me ouvir.
Melissa impaciente, comentou com o empresário, que era casada e que tinha uma filha.
Roberval ao ouvir isso, disse:
-- É uma pena que seja casada. Porém não me importo. Também o sou.
Ao ouvir isso, a moça ficou ainda mais irritada. Afinal de contas, se ele era casado, como tinha coragem de assedia-la?
Não bastasse isso, Roberval era muito mais velho que ela.
No entanto, a despeito disso, o empresário sentia-se encorajado a assediá-la. E assim, não se cansava de paquerá-la.
Agora porém, estava dando sua última cartada.
Por isso, ao perceber a revolta de Melissa, foi logo explicando:
-- Veja bem. Eu não sou um canalha. Apenas não vivo bem com minha mulher. Melissa, eu não estou exigindo nada demais de você. Eu sei que você precisa desse dinheiro, senão, não trabalharia tendo uma filhinha para cuidar. Por que então não aceita minha proposta?
Ao ouvir todos esses impropérios, Melissa foi tomada de uma profunda revolta. Irada, respondeu:
-- O que o senhor pensa que sou? Quem o senhor pensa que é? Acaso lhe dei o direito de se dirigir assim a mim?
Mas o empresário não estava nem um pouco interessado nas vociferações de Melissa, que parecia cada vez mais irada.
Pelo contrário, cada vez que Melissa o repelia dizendo impropérios, mais e mais Roberval insistia em seus argumentos.
O homem estava descontrolado.
Porém, quando Melissa, ameaçou denunciá-lo, o empresário recuou.
Melissa então, aproveitando a situação, exigiu que ele abrisse a porta e a deixasse sair.
Roberval então, um tanto desapontado, acabou concordando. Porém, antes de deixá-la ir, avisou:
-- Está demitida.
No que Melissa respondeu:
-- Não me importo, contanto que o senhor me pague o que me deve.
Nisso Melissa levantou-se e saiu da sala.
No dia seguinte, a moça passou no departamento pessoal da empresa e recebeu seus direitos trabalhistas.
Contudo, o pior estava por vir.
Como explicar a Mauro que havia sido demitida?
Foi pensando nisso, que Melissa, pensou em não contar ao marido o que estava demitida. Com isso, ela passaria o dia inteiro procurando trabalho.
Foi o que Melissa fez.
Assim, dia após dia, a moça percorreu as ruas da cidade procurando por uma nova colocação. Diante disso, em questão de meses, Melissa acabou arrumando um novo emprego.
Porém, em razão do temperamento agressivo de seu marido, Melissa acabou não conseguindo ficar muito tempo no novo trabalho.
Mauro, ao descobrir que a mulher não estava mais no mesmo emprego, foi logo tomar satisfações com ela. Porém, por mais que pressionasse Melissa, a mesma não revelou os verdadeiros motivos de sua demissão.
Irritado, Mauro, foi até um bar, e bebeu muito.
Após, quando Melissa foi mais uma vez cumprir um dia de trabalho, Mauro, depois de tanto beber, acabou por invadir o escritório, e arrastar a mulher pelo braço. Foi o suficiente para que novamente Melissa fosse demitida.
Diante disso, a moça, por mais que pedisse, não conseguiu fazer com que o patrão reconsiderasse e não a demitisse.
Não teve jeito. Ao final de menos de um mês de trabalho, Melissa viu-se novamente desempregada.
Contudo, para piorar mais a situação, Mauro, seu marido, ameaçou-a dizendo que não mais procuraria trabalho. Como boa esposa, ela devia ficar em casa, tomando conta de Carolina.
Mas Melissa, sempre que podia, aproveitava a ausência de Mauro, para procurar um emprego.
Mauro porém, ao descobrir que a moça saía de casa para arrumar trabalho, ficou profundamente irritado. Em razão disso, passou novamente a agredi-la.
Depois, de muito beber, Mauro passou a espancar a esposa.
Bateu tanto na pobre mulher que a mesma teve que ser hospitalizada. Porém, ao contrário do que ocorrera outras vezes, Melissa ficou durante dois dias desacordada. Mauro, percebendo que exagerara nas agressões contra a esposa, por um instante, sentiu-se profundamente culpado. Tão culpado que prometeu a si mesmo, que nunca mais agrediria a esposa daquele jeito.
Contudo, a despeito da suposta mudança de comportamento de Mauro, Melissa, ao acordar no hospital e dar-se conta do que havia ocorrido, prometeu a si mesma que nunca mais voltaria a viver com o marido.
Mas, para tanto, precisava planejar muito bem sua vida, para que nunca mais precisasse voltar para aquele inferno.
Por esta razão, aproveitou o quanto pôde, o sentimento de culpa de Mauro.
Quando finalmente recebeu alta do médico, e pôde sair do hospital, como não tinha para onde ir, acabou voltando para sua casa.
Apesar do insistente apelo de sua mãe Elena, para que fosse para sua casa, Melissa achou por bem ir com o marido.
Até por que, depois de tudo o que aconteceu, o mesmo não iria agredi-la novamente. Não agora. Sentindo-se culpado, trataria ela melhor.
Além do mais, apesar de sua mãe não saber, Melissa estava decidida a ir embora. E assim, imbuída nesse espírito, foi que nem sequer desfez a mala que arrumaram para ela quando esteve hospitalizada. Alegando cansaço, disse que arrumaria seus pertences assim que pudesse.
Enquanto isso, mesmo ainda um pouco abatida com a surra que levou, Melissa começou a separar suas coisas, e discretamente, foi colocando cada vez mais roupas e objetos na mala. Com as roupas da filha, fez a mesma coisa.
Mauro, nem percebeu. Ocupado com seu trabalho e se remoendo sua culpa, nem se deu conta dos planos da esposa.
E Melissa, cada vez mais determinada, fazia de tudo para fazer de sua partida algo tranqüilo. Cautelosa, começou a preparar os itinerários que faria. Deveria ir para o Rio de Janeiro, ou para alguma cidade do interior do Espírito Santo?
Quanto ao dinheiro, possuía algum dinheiro guardado, referente ao seu trabalho. Embora fosse pouco, sabia que poderia se virar trabalhando. Além disso, sua mãe, preocupada com a situação da família, resolveu dar a filha, um pouco do dinheiro que havia juntado por anos.
Melissa, bem que tentou recusar, mas Elena insistiu que a filha aceitasse.
Diante dessa circunstância, Melissa acabou aceitando. Porém, não comentou com o marido a respeito do oferecimento da mãe.
E por esta razão, ao pegar o dinheiro, pediu reiteradas vezes a mãe, para que não contasse a Mauro, que ela havia lhe dado aquela quantia.
Elena, prometeu a filha que não contaria nada.
E assim, mesmo percebendo que algo estava errado, acreditou que a filha lhe pedira este favor, com medo de novas agressões. Nunca imaginou que um dia Melissa encontraria coragem para enfrentar o marido e virar a mesa.
Por isso mesmo, quando finalmente Melissa se decidiu a ir embora, Elena foi tomada por uma profunda surpresa.
Isso por que, não espera por uma atitude dessas da filha.
Surpresa, passou a se perguntar por que a filha não havia contado sobre seus planos.
Mas Mauro não compreendeu bem isso.
Pelo contrário, estava convencido que a sogra sabia perfeitamente onde estava sua mulher e filha, tentou que diversas vezes, ameaçou invadir sua casa.
Contudo, em nenhuma das tentativas, logrou êxito.
Mas insistente, diversas vezes, ficou a espreita, esperando a mulher sair da casa, para inquiri-la pleiteando informações sobre a filha.
Certa vez, Elena, irritada e cansada, disse pela enésima vez ao rapaz que não sabia onde estava sua filha.
Mauro, porém não estava convencido.
Elena então começou a berrar:
-- Então, se você acha que eu estou mentindo, por que não me segue? Quem sabe encontre quem você está esperando? Não me amole. Me deixe em paz.
A seguir, a mulher entrou em seu carro, e saiu dali.
Mauro, desconcertado, resolveu ir embora.
Porém, pensando no que a sogra dissera, chegou a seguinte conclusão: Se ela o intimara a segui-la, certamente era por que não sabia ela onde a filha estava.
Ao se dar conta disso, Mauro ficou profundamente aborrecido.
Enquanto isso, Melissa e Carolina, de malas prontas, rumaram para o Rio de Janeiro. Para isso, foram até a rodoviária, e de lá pegaram o ônibus. Foi assim, que as duas foram para a Cidade Maravilhosa.
Ao lá chegarem, Melissa tratou logo de arrumar um bom lugar para se hospedar com sua filha.
Depois de muito caminhar, Melissa acabou encontrando uma hospedaria.
Assim, em encontrando um lugar para passar alguns dias, a moça passou a procurar emprego. Comprando jornais e passando por diversas entrevistas, acabou sendo chamada para trabalhar em escritório como recepcionista.
A seguir, Melissa passou a procurar uma escola para matricular a filha.
Carolina entendia cada vez menos. Sem saber o que estava fazendo ali, começou a perguntar a mãe, por que tinham viajado sem Mauro.
Melissa, vendo-se numa situação complicada, pensou em dizer a filha que ela provavelmente nunca mais veria seu pai. A moça, tateando as palavras, começou dizendo:
-- Minha filha. Não sei se você percebeu, mas a mamãe esteve muito doente nos últimos dias. Muito doente mesmo. Há bastante tempo, eu e Mauro e não nos entendemos. Por esta razão, nós decidimos nos separar. Mas não se preocupe com isso. Mauro não te abandonou, muito menos deixou de gostar de você.
Carolina, porém, não entendeu bem as explicações da mãe.
Irritada, comentou:
-- Não é verdade. Você fugiu do papai. Ele é mau, bate em você. Não gosta da gente. Eu não quero mais saber dele.
Nisso, depois de dizer estas palavras, Carolina saiu correndo.
Melissa, preocupada, começou a gritar, pedindo que a menina esperasse.
Carolina, então, parou de correr.
Virada de costas para a mãe, começou a planger. Triste, com o rumo que os últimos acontecimentos tomaram, percebeu que sua vida mudaria radicalmente.
Melissa, ao se aproximar da filha, pediu para que ela se virasse. Ao perceber que a mesma estava chorando, abraçou-a, dizendo baixinho:
-- Me desculpe por toda essa confusão. Eu não queria que as coisas se precipitassem dessa forma. Você é muito pequena e não merecia estar no meio de toda essa confusão. Me perdoe, mas era a única coisa que eu podia fazer.
Carolina continuou a chorar.
Porém, nem só de lágrimas foram os primeiros dias na Cidade Maravilhosa.
Sim, Carolina e Melissa se divertiram bastante conhecendo os pontos turísticos da cidade. Maravilhadas, conheceram as famosas praias como a de Copacabana, Ipanema, entre outras. Visitaram o Pão de Açúcar, o Corcovado. Viram a cidade do alto, no passeio de bondinho pelo Pão de Açúcar. Depois visitaram os Arcos da Lapa. Lá também passearam de bonde e se deslumbraram com o centro velho da cidade.
Com isso, conforme os dias foram se passando, Melissa, sentindo-se segura no emprego, começou a procurar uma casa para morar. Carolina, já se acostumando com a vida na cidade, chegou até a ajudar a mãe a escolher um apartamento.
Mas até encontrar o apartamento adequado para morar, Melissa levou algum tempo procurando.
Assim, foram os primeiros meses de estada na cidade.
Melissa trabalhava o dia todo e Carolina passava as manhãs na escola, e a tarde na casa de uma amiga, que arrumou logo nos primeiros dias de estada na cidade.
Jane, a menina, simpatizou com Carolina logo de cara.
Além disso a mãe da menina, muito simpática, ajudou e muito Melissa, durante os primeiros dias. Oferecendo-se para cuidar das duas meninas, falou para ela que não precisava se preocupar com nada. Assim, podia ficar tranqüila e trabalhar.
Jane e Carolina, se conheceram brincando no playground.
Daí para Melissa conhecer Elisa, foi um pulo.
Nisso, a mulher, percebendo que Melissa e Carolina estavam hospedadas perto dali, ofereceu-se para ajudá-la a encontrar um lugar para morar.
Assim, enquanto Melissa, ajudada por sua filha, procurava alguma coisa, olhando os jornais, Elisa, foi pesquisar as redondezas, para ver se encontrava algum apartamento ou residência para alugar.
Foi justamente dessa maneira, que ela encontrou um bom apartamento para as duas morarem. Coincidentemente, ficava bem próximo de onde ela e Jane moravam.
Isso era ótimo, por que assim, quando Melissa fosse sair para trabalhar, podia perfeitamente deixar Carolina aos cidados de Elisa, e assim, fazer seus afazeres sossegada.
Desta forma, durante a manhã, enquanto Jane e Carolina íam para a escola, Elisa tinha tempo de cuidar sossegadamente de sua casa. Era ela quem levava e buscava as meninas.
Como viúva de militar, não tinha que se preocupar em trabalhar fora.
Assim, podia ser dar ao luxo de cuidar de sua filha e olhar Carolina, filha de Melissa.
Elisa, prestativa, cuidava de sua filha, Jane e Carolina, filha de sua mais nova amiga.
Desta forma, todas as tardes, Carolina e Jane passavam horas e horas brincando.
Elisa atenta, sempre que ía até a escola, buscar as meninas, e trazia-as de volta para casa. Dava-lhes o almoço e depois pedia para que as mesmas estudassem. Depois, as duas podiam brincar o resto da tarde se quisessem.
Foi assim que Jane e Carolina puderam se conhecer melhor. Amicíssimas, não se desgrudavam nem por um minuto. Nem mesmo na escola, já que as duas estudavam na mesma classe. Desta feita, sempre que as duas meninas precisavam fazer um trabalho em dupla, não era problema. Lá estava a dupla escolhida.
Enquanto isso, Melissa, trabalhava. Como recepcionista, atendia os clientes do escritório, bem como o telefone. Por ser uma empresa pequena, não havia secretária. E assim, a moça acumulava as duas funções.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
DE TRISTEZA E DE SOMBRAS - CAPÍTULO 1
“O tempo voa e atravessa as avenidas
O fruto pende, pesa e enverga o velho pé
O vento forte quebra telhas e vidraças
E o livro sábio, deixa em branco o que não é
Pode não ser esta mulher o que te falta
Pode não ser este calor, o que faz mal
Pode não ser esta gravata o que sufoca
Ou essa falta de dinheiro que é fatal ...
Vê como o fogo brando, funde um ferro duro
Vê como asfalto é teu jardim, se você crê
Que há um sol nascente avermelhando um céu escuro
Chamando os homens, pro seu tempo de viver
E que as crianças cantem livres sobre os muros
E ensinem sonho ao que não pode amar, sem dor
E que o passado abra os presentes pro futuro
Que não dormiu e preparou Bis
O amanhecer, o amanhecer, o amanhecer...”
(Taiguara – O Amanhecer)
Numa fotografia do casal, o marido, aparentando uns trinta e cinco anos, presenteia sua esposa com um anel de brilhantes. Estão comemorando o primeiro aniversário de casamento. A mulher, vestida com uma linda blusa marrom de manga comprida, parece muito feliz com o presente que ganhou.
O cenário, é uma linda sala, com sofás escuros de couro, mobília simples e um arranjo de flores na mesinha de centro.
O casal parece feliz.
Felicidade essa que, infelizmente, não durou por muito tempo.
Logo o casamento passou a sofrer os primeiros reveses. A rotina desgastou o relacionamento.
Para piorar, o marido começou a se embebedar rotineiramente ...
Com isso, mais uma dia começa para a família de Melissa.
Seu esposo novamente vai trabalhar durante todo o dia e retornar ao cair da tarde.
Por sua vez, sua filha, Carolina, ficava na casa de sua mãe e ao final da tarde, ela mesma se encarregava de buscar a filha.
Isso porque Melissa, apesar dos protestos incessantes do marido, também trabalhava.
Aliás, por conta dessa decisão, seu marido, Mauro, contrariado, tentou diversas vezes, demovê-la da idéia. Dizia que mulher sua não precisava trabalhar, que ele mesmo podia manter os três, que não havia necessidade de deixar uma criança tão pequena numa creche, etc.
No entanto, os fatos desmentiam isso.
Mauro, que chegava em casa constantemente embriagado, estava relapso com suas obrigações.
Há vários dias, Melissa tinha que fazer o possível com o que ainda tinha na geladeira, para poder alimentar a filha.
O marido não lhe dava mais dinheiro para fazer as compras. Gastava tudo com bebida. Assim, não restou outra alternativa, senão ela também trabalhar.
Mas Mauro ficou revoltado.
Agressivo, ameaçou-a. Disse-lhe que se tentasse fazer isso, ele a trancaria em casa.
No que ela retrucou:
-- Você não pode fazer isso. Se você fizer isso, eu chamo a polícia.
No que ele sempre ria. Não levava a sério a decisão da esposa.
Entretanto, ela estava determinada. Iria trabalhar, nem que para isso precisasse provocar uma briga na família. Já não suportava mais as bebedeiras do marido.
E pensar que já foram tão felizes juntos...
Porém, dando-se conta da situação difícil pela qual estavam passando, não havia outra coisa a ser feita.
E assim, todo final de semana, Melissa comprava um jornal, e nos classificados, observava se havia alguma oportunidade de emprego. Como naqueles tempos arrumar emprego era muito mais fácil, toda semana Melissa se candidatava a inúmeras vagas de trabalho.
Persistente, por meses a fio procurou trabalho.
Sua rotina era assim.
Depois de ler os classificados, Melissa circulava as vagas que lhe interessavam, e na segunda-feira se dirigia até o local das vagas. Cuidadosa, sempre procurava se vestir bem quando saía para procurar trabalho.
Dedicada, ao longo de algum tempo, finalmente seus cuidados deram resultado.
Melissa, ao contrário do que seu marido imaginara, conseguiu arrumar trabalho.
Assim, enquanto ele trabalhava em um escritório como auxiliar administrativo, Melissa ia começar na semana seguinte, seu trabalho com recepcionista.
Dessa forma, passou auxiliar financeiramente a família.
Com isso, nunca mais tiveram que passar pela situação constrangedora de ter de comprar fiado. Melissa nunca mais iria precisar ouvir desaforos dos vendedores, que lhe vendiam comida fiado, e depois, em razão de não receberem seus pagamentos em dia, vinham constantemente cobrá-la.
Sim, a situação de Melissa era muito delicada.
Mas, agora, trabalhando, essas coisas nunca mais iriam acontecer.
Porém, para Mauro, ver a esposa saindo de casa para trabalhar, era um acinte. Por isso, revoltado, passou a beber mais e mais. Desgostoso com o comportamento da esposa, Mauro passou a brigar mais violentamente com ela.
Em razão disso, chegou a agredi-la inúmeras vezes.
Melissa então, machucada, procurava de todas as maneiras possíveis, esconder as incontáveis lesões que sofria.
No entanto, mesmo diante das agressões do marido, a moça não abria mão de seu trabalho. Muito pelo contrário, sempre que podia, aproveitava para ficar até mais tarde no emprego. Tudo com vistas a se afastar um pouco de seu violento marido.
Carolina, a filha do casal, esta, parecia cada dia mais triste ao se dar conta do que seu pai fazia com sua mãe. Porém temendo-o, procurava não demonstrar seu ressentimento.
Aliás, foi por conta disso, que ao começar a trabalhar, Melissa decidiu levar sua filha para a casa de sua mãe.
Sim, ao saber que Carolina estava sob a proteção de sua mãe, Melissa sentia-se tranqüila para ir trabalhar. Isso por que, além de não confiar no marido, a menina era ainda muito pequena para ficar tanto tempo sozinha.
No começo, até chegou a colocar a filha em uma creche, mas depois, sentindo-se insegura, resolveu deixar a menina, com sua mãe, Dona Elena.
Contudo, essa não era a solução ideal. Porém, o que poderia fazer?
Melissa, sentia-se perdida em meio àquele turbilhão de emoções. Não sabia o que fazer. Sentia-se impotente.
Todavia, mesmo diante de sua fraqueza, Melissa sabia que não suportaria por muito tempo, viver em meio a tantos aborrecimentos. Já estava cansada de sofrer.
Não agüentava mais chegar em casa e encontrar seu marido bêbado, pronto para discutir com ela e ameaçá-la. Melissa tinha medo dele. Medo e asco.
Sim, por que nos últimos anos Mauro estava se revelando uma pessoa repulsiva, bem diferente do homem que ela conhecera tempos atrás.
Ao constatar isso, sentia-se muito triste. Tão triste que chegava a ser perguntar se teria feito algo de errado.
Mas, por mais que pensasse, não conseguia chegar a uma conclusão.
Porém, foi pensando nisso, que constatou que mesmo durante o namoro Mauro demonstrara um pouco de sua agressividade.
Todavia, como naquele tempo ele ainda não era um bêbado contumaz, conseguia controlar um pouco sua agressividade. Contudo, conforme se passaram os anos, Mauro, insatisfeito com seu trabalho e com sua vida, passava cada vez mais tempo longe de casa. Agora em companhia de seus amigos de bar, passava horas a fio, bebendo e conversando.
Quando finalmente se dignava a voltar para casa, estava tão bêbado que Melissa, que a essas alturas dormia, logo acordava e ía dormir na sala. Tudo para não ter de suportar o forte cheiro de bebida, vindo de Mauro.
Realmente, a situação estava insustentável.
Mauro agora, além de beber, também passara a agredi-la.
Nos últimos tempos, raras eram as vezes em que Melissa não sofria agressões físicas e psicológicas do marido.
Mas a moça, apesar do conselho de sua mãe, Dona Elena, e de suas colegas de escritório, não se sentia encorajada a abandonar seu casamento.
E nisso sua rotina de sofrimento prosseguia.
Foi nessa época que para seu azar, Melissa passou a ser assediada por seu chefe.
Este cada vez mais, insinuava-se para ela. Diversas vezes ofereceu-lhe presentes e nos últimos dias, sem nenhum motivo aparente, vinha-lhe fazendo convites para sair.
Melissa porém, desconversava sempre. Porém, temia que essa história chegasse aos ouvidos de seu marido. Se Mauro descobrisse, fatalmente apanharia.
Por conta disso, sentia-se cada vez mais angustiada.
Mauro, no entanto, bebia tanto que nem se dava conta do que se passava com a esposa. Envolvido pela bebida, mal tinha tempo para pensar em alguma outra coisa que não fosse em si mesmo.
Mas Melissa permanecia preocupada.
Por ser uma mulher atraente, freqüentemente era alvo de olhares e de cantadas. Aliás, fora por esta razão que certa vez Mauro, que na época era seu noivo, agrediu um rapaz que lhe dissera uns gracejos.
O rapaz ao ouvir o teor da cantada, ficou irado e desferiu um soco no olho do sujeito.
Melissa ao ver a reação do noivo, ficou horrorizada, mas Mauro, percebendo que havia se excedido, tratou logo de se desculpar da moça. Prometendo que nunca mais reagiria daquela maneira, acabou convencendo-a de que seria melhor dali para a frente.
Melissa, então, mesmo ressabiada, acabou se casando com ele.
Todavia, não era a primeira vez que ele reagia daquela forma. Quando ainda namoravam, diversas vezes Mauro perdeu a paciência com supostos rapazes que ficavam olhando para ela. Algumas vezes ameaçou até a agredi-los, mas contido por Melissa, sua reação não passou disso.
Realmente sempre fora destemperado em suas atitudes.
Mas a moça jamais poderia imaginar que ele se tornaria uma alcoólatra e conseqüentemente, passaria a agredi-la.
Mas a despeito disso, prometeu a si mesma, que nunca mais se sujeitaria as arbitrariedades de dele. Isso por que desde que se casaram, bastou ela começar a demonstrar interesse em trabalhar para ajudar em casa, para que as coisas se demudassem.
Mauro então, passou a ficar agressivo com ela.
O rapaz, que até então vivera muito bem com ela, passou a ficar cada vez mais irritado. Aborrecido com a mania de Melissa falar em arrumar um trabalho, Mauro passou a brigar com a esposa.
Depois, arrumando amigos em um bar, passava cada vez tempo longe de casa.
E assim, após os primeiros anos de casamento, foi-se embora a paz.
Melissa nessa época já tinha Carolina, que já grandinha, não dispensava tantos cuidados como quando era um bebê. Por esta razão, Melissa ao perceber que Carolina podia ser olhada por sua mãe, passou a pensar em voltar a trabalhar. Sim, por que antes de se casar, a moça trabalhava.
Mas como já foi dito, Mauro não aceitava isso. Foi por este motivo que discutiram inúmeras vezes.
Mas, Melissa estava certa, apesar de Mauro ganhar bem, não havia nada de errado em se pensar no futuro de Carolina. Era por esta razão que ela sempre quis trabalhar.
Mauro no entanto, não entendia a atitude da esposa. Para ele, seria um desaforo vê-la trabalhando.
Com isso, em razão das inúmeras brigas que o assunto provocava, Melissa resolveu deixar de lado, ao menos por algum tempo, a idéia de procurar trabalho.
Entrementes, a despeito disso, Mauro, que já havia se acostumado a se encontrar com os amigos do bar, ficava cada vez mais distante de sua família. E assim, bebendo cada vez mais, passou a negligenciar a família.
Melissa então, sem ter outra alternativa, passou a trabalhar como recepcionista.
E assim, não fosse o assédio constante de seu chefe, seu trabalho seria ótimo.
Mas as abordagens constantes de seu chefe tornavam sua situação delicada no escritório.
Nas últimas semanas, nem mesmo a presença de outras funcionárias o impedia de abordar Melissa que tentando se livrar do assédio, desconversava.
Assim, sempre que Roberval a elogiava, a moça fingia que não ouvia.
Quando ele a convidava para sair ela dizia que estava ocupada demais para isso. E desta forma, durante algum tempo, ela conseguiu contornar a situação.
Porém, como tudo na vida tem um limite, a uma certa altura, porém, cansado das evasivas de Melissa, o empresário urdiu um plano para se aproximar dela.
Primeiramente, começou a exigir que a moça fizesse cada vez mais serões.
Mauro, ao descobrir que a esposa estava voltando cada vez mais tarde para casa, ficou ainda mais aborrecido com ela.
Para azar de Melissa, numa das inúmeras vezes em que permaneceu até mais tarde na empresa, seu marido chegou mais cedo em casa e ao dar por sua falta, partiu em seu encalço. Porém, sem acreditar que sua esposa poderia estar ainda trabalhando, nem sequer cogitou a possibilidade de ir até o local de seu trabalho, para ir buscá-la.
Por esta razão, quando Melissa chegou em casa e se deparou com Mauro esperando-a, levou um tremendo susto. Surpresa com a presença do marido aquelas horas em casa, foi logo perguntando:
-- Mas o que você faz aqui a estas horas? Não devia estar com seus amigos?
-- Um momento! Quem tem de fazer perguntas aqui sou eu. Afinal de contas, isso são horas de se chegar em casa?
-- Eu estava fazendo serão no escritório. – respondeu lacônica.
Mauro então começou a rir. Depois irritado perguntou irritado:
-- Melissa! Você acha que eu sou idiota? Está escrito idiota em minha testa?
-- Não, é claro que não. Eu não estou brincando com você. Eu realmente estava trabalhando. Se tem alguma dúvida, no final do mês eu te mostro a relação de horas trabalhadas.
-- E por que não me mostra agora? – perguntou desconfiado.
-- Por que eles só nos dão esse documento no final do mês.
-- É mesmo? Por que eu não consigo acreditar em você?
Melissa impaciente respondeu então:
-- Por que você não confia em ninguém, nem em mim que sou sua esposa e que nunca te dei motivos para isso.
-- Ah não? Quer dizer então que desfilar todos os dias pelas ruas da cidade, me humilhando publicamente não é motivo suficiente para que eu me aborreça com você? Se você realmente estava só trabalhando, por que demorar tanto para voltar para casa?
-- Por que eu estava fazendo serão. Eu já disse.
-- Serão? Pois bem. Se você estava fazendo só serão, eu quero que me avise disso, para que na próxima vez eu vá buscá-la. Está bem?
-- Não é preciso. – respondeu ela secamente.
-- É preciso sim. – respondeu Mauro gritando. – Você é minha mulher e me deve satisfações.
-- Não precisa se incomodar. Eu posso perfeitamente voltar sozinha para casa. Está bem?
-- Você me julga um perfeito idiota. Não é mesmo? Pois saiba que você está brincando com fogo. O que eu estou te dizendo não é brincadeira. Ouviu? – disse ele gritando e já tirando o cinto, pronto para bater nela.
Melissa então, percebendo que apanharia mais uma vez, tentou debalde se trancar em seu quarto. Debalde por que, Mauro, percebendo que a esposa tentaria fugir, começou a agredi-la assim que a mesma começou a correr pela casa.
Com isso, mesmo diante das súplicas de Melissa para que parasse de bater nela, Mauro não parava. Pelo contrário, parecia que quanto mais Melissa gritava, mais vontade ele sentia em agredi-la.
Porém, quando a mesma caiu prostrada no chão, Mauro finalmente cessou as agressões.
Ao vê-la caída no chão, depois de algum tempo, resolveu ajudá-la a se levantar.
Melissa, sem forças para reagir, acabou por aceitar a ajuda.
Mauro então, deitou-a na cama de casal e foi dormir na sala.
Por sorte, desta vez Carolina não vira o espetáculo deplorável que Mauro promovera.
Como Melissa voltara muito tarde do serão, a mesma não sentiu inclinada a ir buscar a filha. Porém, em respeito a sua mãe, fez questão de avisar que não daria para ir buscar Carolina.
Com isso, em razão dos ferimentos sofridos, Melissa não estava em condições de trabalhar. Por esta razão, tratou de ligar para o escritório avisando que não daria para ir trabalhar. Alegando ter problemas pessoais para resolver, comentou que passaria o dia inteiro resolvendo-os.
Mais tarde, foi até o pronto-socorro e lá foi devidamente medicada.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
sábado, 3 de abril de 2021
CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 20
Trabalharam por várias horas sem parar.
Aflita, ao perceber a dificuldade envolvida na tarefa, Laura pediu ajuda aos céus, para que obtivesse êxito na empreitada.
Desesperada, a certa altura, a mulher começou a cavar um dos buracos com as mãos.
Em dado momento do trabalho, Laura descobriu um objeto estranho.
Decidiu continuar então escavando.
Com isto, ao se deparar com algo que parecia um esqueleto, assustou-se.
- Meu Deus! O que é isto?
Os homens e as moças, ao ouvirem as palavras de Laura, resolveram se aproximar.
Auxiliando nas escavações, descobriram um esqueleto.
O crânio estava afundado, e em sua estrutura, havia várias deformidades.
Laura indagou se aqueles eram de fato, os restos mortais de Lúcio.
Emerson, Maximiliano e o detetive, recolheram os restos mortais do homem, e o embrulharam com todo o cuidado.
Os olhos das mulheres estavam marejados.
Encaminhando o material para análise, informaram ter localizado o esqueleto em uma mata fechada, próxima da cidade, e que aquele corpo, poderia ser de um desaparecido, preso político dos tempos da ditadura.
Com isto, foram obedecidas várias formalidades.
Os burocratas de plantão decidiram reabrir o caso.
Registraram o aparecimento dos restos mortais de um desaparecido – possível preso político.
Autorizaram a realização dos exames necessários para a identificação do morto.
Emerson, ao ver o que restara do sapato do homem, argumentou que Lúcio usava algo parecido.
Como se fazia necessário recolher material genético de um parente vivo, Laura se prontificou para o mister.
Um dos médicos, informou que seria necessária a presença da viúva para a realização do exame de DNA.
O profissional explicou a Laura que o exame seria realizado através dos ossos, o que restara do homem.
Os ossos seriam limpos, e dos osteoclastos limpos e sem impurezas, os quais seriam pulverizados, e consequentemente, reduzidos a um pó branco, e cruzados com o material genético de Laura e Ludmila, se chegaria ao resultado conclusivo do exame.
Nisto, todos permaneceram a madrugada inteira a disposição de policiais, e de autoridades.
Foi questão de horas para que a imprensa chegar ao local.
Laura e a família, pediram para que não se revelasse ainda, a identidade do morto.
Semanas mais tarde, o resultado do exame foi revelado.
Com isto, para conseguir que Ludmila se submetesse a intervenção médica necessária para a colheita do material genético, Laura disse que ela precisaria fazer um exame médico, mas que este não lhe demandaria deslocamentos.
Os médicos se dirigiriam até a fazenda para recolherem o material.
Ludmila ficou contrariada, mas ao perceber a preocupação estampada nos olhos de Laura, concordou em submeter-se ao exame.
Argumentou porém, que tal medida era desnecessária.
Laura agradeceu.
Confirmado estava através do exame de DNA, que os restos mortais eram de Lúcio.
Com efeito, Lúcio fora enterrado no local.
Ermas paragens.
Laura, ao abrir o laudo contendo o resultado do exame, emocionou-se.
Chorando, comentou que era Lúcio, e que o homem era de fato, seu pai.
Nisto, Dandara, Júlia, Maximiliano e Emerson, abraçaram a mulher.
Mais tarde, a empresária contou a mãe, que não retornara a capital.
Estava sim, investigando o paradeiro de Lúcio.
Chorando, disse a mãe:
- Eu não te prometi que iria encontrar o pai? Pois eu o encontrei!
Ludmila, ao ouvir as palavras da filha, abraçou-a.
Chorando, perguntou-lhe se aquilo era sério, se não estava brincando.
Laura contou-lhe das investigações promovidas pelo detetive contratado por ela, e do profissional contratado por Emerson; dos arquivos a que tivera acesso; que tivera que mover ação judicial para poder acessá-los; das dificuldades, dos lugares onde tiveram que passar, dos papéis lidos.
Emocionada, a mulher comentou que o corpo foi localizado graças ao empenho dos detetives.
Disse que ela própria escavou a sepultura provisória do pai.
Comentou a emoção da descoberta.
A esta altura do relato, Laura começou a chorar.
Ludmila amparando-lhe, abraçou-a, igualmente emocionada. De seus olhos, vertiam lágrimas.
A fazendeira pedia mais detalhes.
Laura explicou-lhe que haviam se passado quase sessenta anos, e que restara a estrutura óssea, os cabelos, restos das vestimentas, dos sapatos.
A fazendeira então, mostrou-lhe documentos que guardara do ex-marido.
Certidão de Nascimento, exames médicos.
Fotografias.
Mostrou-lhe algumas cartas.
Nelas o moço dizia sentir saudades da fazendeira, da sua mulher, da filha.
Ao ler as referências carinhosas que o moço fazia a Odara, Laura se emocionou.
Chorava copiosamente.
Ludmila ao se recordar dos momentos felizes ao lado do esposo, também se emocionou.
Comovida que estava, Laura aconselhou-a a se acalmar. Disse-lhe que toda aquela comoção não lhe faria bem.
Ludmila dizia que queria ver Lúcio.
Laura preocupada, disse que o homem teria um enterro digno, mas que ela precisava se acalmar para que tudo saísse a contento.
Como a fazendeira insistisse em ver o corpo, Laura chamou as enfermeiras.
As mulheres aplicaram uma injeção na mulher.
Ludmila adormeceu.
Laura, ao perceber que a mãe dormia, pediu-lhe desculpas.
Em seguida respondeu que precisava fazer isto, para seu próprio bem.
Nos dias que se seguiram, foram tomadas as providências necessárias para a liberação dos restos mortais do moço.
Emerson empenhou-se na tarefa.
Com isto, em menos de uma semana o corpo, foi liberado.
Durante dias, Laura conversou com a imprensa.
Foi indagada se o procedimento realizado era regular, se não deveria ter chamado a polícia ao invés de retirar o corpo por sua própria conta.
Laura comentou que não sabia a localização exata do corpo e que por esta razão, precisava se encarregar da localização do cadáver.
Respondeu não ter pensado em sua atitude, somente realizando o que acreditava estar certo.
Emerson também respondeu perguntas.
Por diversas vezes, foi indagado do interesse na localização do corpo.
A todo o momento respondia que devia isto a esposa.
Jornalistas descobriram então, que se tratava de uma história de amor, e que a investigação era fruto de uma relação interrompida há quase sessenta anos.
Por esta razão, o caso virou manchete nos jornais.
Laura se encarregou de contar sua versão da história.
Mencionou o primeiro marido de Ludmila, seu casamento com Lúcio, e Emerson.
Argumentou que Ludmila não era uma pobre coitada, e sim uma mulher forte que havia reconstruído sua vida, mas que precisava ter uma satisfação, sobre o que ocorrera ao segundo esposo.
Com isto, o delegado do distrito próximo a localização do corpo, foi procurado.
O mesmo informou então, que as investigações seriam reabertas, e que seria verificado se não haveriam outros corpos de presos políticos enterrados na região.
Na fazenda, se deu lugar ao enterro dos restos mortais do homem.
Laura cuidou para que um padre fosse até a fazenda e celebrasse uma missa.
Com isto, os restos mortais foram velados, por uma Ludmila emocionada, que ficou o tempo todo ao lado do caixão lacrado.
A fazendeira lamentou não ter podido velá-lo quando morrera.
Disse que não teve o consolo, nem de ver seu corpo.
A certa altura, sentindo-se mal, foi afastada.
Laura aconselhou-a a se recolher, ou não estaria em condições de acompanhar o velório.
Ludmila receosa, acatou a determinação de Laura.
Fernanda, ao vê-la impor condições a mulher, comentou que nem os filhos tinham tanta autoridade sobre Ludmila.
No dia seguinte, o caixão baixou a sepultura.
Lúcio foi enterrado junto de Antenor.
Laura, Júlia, Dandara e Ludmila jogaram flores na sepultura.
A empresária, falando baixinho, disse para ele ficar em paz.
Comentou que os responsáveis por tamanha baixeza foram punidos pela vida.
Disse que sua missão havia se cumprido.
Lamentou não ter podido conhecê-lo.
Quando começaram a jogar terra na sepultura, Ludmila começou a passar mal.
Amparada por Laura e Fernanda, a mulher insistiu para permanecer no local.
Argumentou que gostaria de ver o sepultamento até o fim. Somente assim, teria a certeza de que realmente tudo acabara.
Laura acatou o pedido da mulher.
Compreendeu que para o término daquela história, a fazendeira precisava se inteirar de tudo o que acontecia.
Emerson comentou mais tarde, que Ludmila sempre fora assim.
Rindo, disse que não conseguia esconder nada dela.
A mulher queria sempre saber de tudo o que acontecia.
Com isto, revelou que a mulher só se alienara, quando da morte do rapaz.
Emocionado, o homem comentou com Laura, que não se queixava da sorte, que não se lamentava.
Disse que o trágico episódio lhe permitiu que se aproximasse da mulher, que fosse feliz ao seu lado. Tentando se justificar, argumentou que não fora uma infelicidade, e que embora não tenha sido um amor como o dela e Lúcio, foi amado pela esposa.
Com isto, relatou que o amor de Ludmila por Antenor, também não fora o mais forte que tivera.
Um pouco incomodado, comentou que sabia que o grande amor da vida de Ludmila fora Lúcio, e que a vinda de Antenor e dele para a vida da fazendeira, fora apenas para auxiliá-la em sua jornada.
Visivelmente emocionado, comentou que estava chegando ao fim da vida, assim como a esposa.
Pesaroso, disse que ela estava partindo antes dele.
Laura ao ouvir isto, redargüiu dizendo que ninguém sabia a hora de partir, e que aquele momento triste, suscitava muitas lembranças amargas.
Falou que aquele não era o momento de pensar no assunto.
No dia seguinte, Ludmila, devidamente conduzida pelos filhos, noras, genro, filha, netos e netas, dirigiu-se ao lugar onde estavam enterrados Antenor e Lúcio.
Emocionada, a mulher depositou flores no túmulo.
Rezou.
Em suas orações, a mulher disse que estava prestes a se encontrar novamente com eles.
Neste momento, pediu a Lúcio que a aguardasse, e que não fizesse a maldade de fazê-la esperar por mais tempo para se encontrar com ele.
Nesta mesma noite, Ludmila apresentou uma piora em seu estado de saúde.
Febril, a mulher começou a delirar.
Dizia ver a sua frente Antenor.
Depois disse estar vendo seus pais.
Laura e Fernanda se entreolhavam aflitas.
A cada momento que passava, a temperatura aumentava.
Nem o auxilio das enfermeiras foi suficiente.
Preocupados, os filhos decidiram internar Ludmila, mesmo sem sua autorização.
A cada piora, a mulher dizia que queria morrer em casa.
Dizia que não queria os corredores insípidos, e a tristeza das paredes brancas dos hospitais.
Insistia no argumento de que queria morrer em meio aos seus.
Nisto, a mulher apresentou uma pequena melhora.
Pediu para conversar com os netos e os filhos.
Com isto, aos poucos, todos entraram no quarto.
A todos a mulher dirigiu mensagens de inventivo e encorajamento a família.
A Laura e Dandara, recomendou união.
Disse acreditar no potencial da neta. Recomendou-lhe que não guardasse amarguras no peito, dizia saber o que era carregar uma grande tristeza no coração. Mencionou que não desejava aquela tortura para ninguém.
Quando Júlia se aproximou da senhora, Ludmila chamou-a de anjo louro.
Comentou que gostaria de tê-la conhecido melhor. Disse que gostava de seu jeito um tanto reservado, e que fazia votos e que ela e Ives fossem muito felizes juntos.
Ao ouvir isto, a moça corou.
Emocionada, uma lágrima correu por seu rosto.
A Cláudio e Henrique, Ludmila respondeu que depositava suas melhores esperanças de continuidade da fazenda.
Argumentou que aquele lugar era especial, e que significava muito para ela. Relatou que sentia que aquilo tinha um grande significado para eles também.
A todos os filhos e netos, recomendou que não se desfizessem da fazenda.
Nisto, todos prometeram a ela que não venderiam a fazenda, sob nenhuma hipótese.
Insistiram porém para que ela fosse para um hospital.
Ludmila teimou.
Insistiu que queria morrer em casa.
No lar que fora abrigo de tantos momentos importantes de sua vida. Alegres e tristes.
A certa altura, quase todos choravam.
Emerson também conversou com a esposa.
Ludmila disse tê-lo deixado por último para demonstrar que mais importante que o início, era o fecho da história.
Arfante, comentou que uma história poderia ter um belo início, mas para ter valor, tinha que ter um final significativo, especial, ou se esvaziaria em conteúdo.
Segurando as mãos do homem, disse que ele fora o companheiro de toda a vida. Alguém com quem pode dividir muitas e pesadas tristezas, mas também alegrias.
Agradeceu-lhe por haver lhe dado uma família. A mais bela com que poderia sonhar. Disse-lhe que ele lhe ensinara com seu jeito prático, que sempre era tempo de se construir a própria felicidade, que nunca era tarde demais para isto. Mencionou que sem saber, ele lhe salvara a vida. Não somente quando a livrou do assédio de um homem inconveniente e tentou protegê-la da dor da perda, mas também quando a tornou sua mulher e mãe de seus filhos.
O rosto de Emerson, ao ouvir as palavras da mulher, ficou banhado em lágrimas.
Ludmila respondeu-lhe que o amava, e que ele nunca tivesse dúvidas disso.
Argumentou que era um amor calmo, maduro, mas nem por isto menos importante.
Relatou que os amores eram diferentes, que o jeito com que a gente nutre afeto pelos nossos pares é diferente, e que não havia mal algum nisto. Mencionou não se sentir em débito com ninguém por isto.
Fragilizada, procurou esboçar um sorriso.
Emerson pediu então, para que se poupasse.
Ludmila respondeu-lhe resignada que sabia para onde ia, e aquele repouso seria desnecessário.
Argumentou que estava indo embora, e que seu tempo de estada na terra fora muito rico e proveitoso.
Disse que não lamentava estar partindo. Só lamentava deixá-los todos tristes. Argumentou porém que a tristeza passaria, e que um dia, todos voltariam a se encontrar.
Emerson abaixou-se e ajoelhado, beijou o rosto da esposa.
Ludmila olhando-o nos olhos, disse para que ficasse em paz.
Nisto, fixou o olhar em um ponto.
Deixou de respirar.
Emerson, ao perceber isto, tornou a chorar.
Chacoalhando a esposa, tentou reanimá-la, sem êxito.
Ludmila estava morta.
Delicadamente, encostou seus dedos no rosto da mulher. Fechou os olhos da esposa.
Minutos depois, retirou das mãos da mulher, uma caixinha de madeira na qual estavam guardadas cartas e fotografias de Lúcio.
Chorando, o homem revelou a todos que Ludmila havia partido.
Quase todos os circunstantes, ao ouvirem a notícia, se lamentaram.
Muitos choraram.
Andréia e Amanda, se aproximaram de Laura e de Dandara e Júlia.
Laura e Dandara, choravam copiosamente.
Ao adentrarem o quarto, Laura e Dandara se aproximaram do leito, e choraram novamente.
Nisto as enfermeiras, percebendo que não havia ninguém em condições de cuidar do corpo, pediram para que todos se retirassem do quarto.
Fernanda, após se recompor, pediu para ajudar a vestir a mulher.
Laura também se dispôs a ajudar.
Mais conformada, procurou ajudar a vestir um bonito vestido, na fazendeira.
Durante a manhã, seguiu-se o velório.
Maximiliano e os três filhos, cuidaram do enterro.
Max foi até a cidade, procurar um padre.
Os filhos, providenciaram o caixão, o Atestado de Óbito.
Um médico se dirigiu a fazenda. Policiais também.
Horas depois o corpo passou a ser velado.
Dandara era consolada pela irmã.
Antes que o corpo da fazendeira fosse enterrado, foi celebrada uma missa.
Ludmila foi enterrada ao lado de Antenor e Lúcio.
Chorando, Laura comentou que dali por diante, queria ser tratada por Odara.
Argumentou que era uma forma de homenagear os pais.
Triste, passou a se lamentar por não ter sido criada por eles. Dizia se sentir sozinha no mundo. Errante.
Maximiliano, ao ouvir as palavras da esposa, disse que ela nunca estivera só.
Comentou da família de criação que tinha, do quanto era estimada de todos, da família que construíra com ele.
O empresário lhe disse que era uma mulher de sorte, pois possuía duas famílias do coração e que poucas pessoas havia, que tiveram o privilégio de serem amadas por tantos pais.
Ao ouvir isto, os olhos de Laura encheram-se de lágrimas.
Maximiliano disse-lhe que ela era sua Odara querida.
Mais tarde, ao olhar os guardados da fazendeira, Laura descobriu uma certidão de nascimento.
Era seu registro de nascimento.
Lá constava que havia nascido em 1964 e não em 1966, como sempre imaginara.
Tinha então cinqüenta e sete anos e não cinqüenta e cinco como pensava.
Dandara e Cláudio, aproveitaram os dias que se seguiram para passearem a cavalo.
Conversaram longamente sobre os projetos do futuro.
Dandara comentou que faltavam dois anos para concluir os estudos e após terminar a faculdade de administração de empresas, iria se mudar para lá.
Comentou que a vida na cidade, perdera completamente o sentido para ela.
Triste, comentou que em um curto intervalo de tempo, perdeu duas pessoas que lhe eram muito caras.
Argumentou que estava precisando se sentir viva novamente.
Cláudio comentou que já havia estudado o que queria, feito especialização, e que estava ficando mais velho, que o tempo estava passando. Falou que eles já estavam namorando firme há algum tempo.
Neste momento, mostrou-lhe um bonito anel com brilhantes.
Ajoelhando-se, pediu a moça em casamento.
Dandara ficou espantada com gesto.
Cláudio, comentou que dois anos de noivado, era tempo suficiente para planejarem o casamento. Argumentou que ela poderia concluir os estudos, e assim, poderiam viver juntos na fazenda.
Dandara um pouco confusa, aceitou o pedido.
Dias depois, voltou com a família para a cidade.
Um ano depois, Júlia já formada, passou a viver ao lado de Ives na fazenda.
Casaram-se.
Como não se adaptaram a vida no campo, passaram a viver na cidade.
Meses depois, Dandara regressou a fazenda.
Sozinha.
Para tanto, despediu-se dos pais.
Laura e Maximiliano, lamentaram a partida da filha.
Mas Dandara, argumentando que havia concluído o curso de administração, comentou que estava na hora de caminhar com as próprias pernas.
Dias antes de partir, avistou um vulto, em suas caminhadas pela cidade.
De longe percebeu que se tratava de um senhor distinto, o qual sorria para ela.
Curiosa resolveu se aproximar da pessoa.
Qual não foi se espanto, ao perceber que se tratava de Felipe.
Dandara ficou chocada.
Felipe sorria para ela.
Ao seu lado, duas mulheres bonitas, com trajes circenses.
Uma aparentava meia idade e a outra, era uma jovem. Avistou também, um casal sempre próximo dele. Uma senhora de xale e ar severo. Mais pessoas com trajes circenses. Homens, mulheres. Homens com ar grave.
Dandara se lembrou dos colegas de faculdade de Felipe.
Ao lado do homem, uma senhora muito bela.
Sorria para ela.
A visão durou alguns minutos.
Quando a moça se deu conta, os vultos haviam se dispersado e ela estava parada em frente ao semáforo de uma grande avenida.
Assustou-se com a visão.
Mais tarde, analisando o evento, percebeu que descobrir que o homem estava bem, o que deixou-a em paz.
Sua morte não lhe causava mais pesar.
Entendera que ele estava feliz, em meio aos seus, cercado das pessoas a quem muito amara.
Conversando com seu pai, comentou que gostaria de ser digna de tão grande ventura.
Seu pai, beijando seus cabelos, disse que ela realmente era precoce.
Até mesmo nas preocupações com vida depois da morte.
Nisto, a moça voltou para a fazenda.
Conforme combinado, Cláudio a aguardava na porteira.
Dirigindo seu carro, a moça foi recebida pelo rapaz.
Cláudio abriu a porteira da fazenda para ela.
Dandara, diante do gesto, sorriu para ele.
Ao passar pela porteira, a moça dirigiu o carro por mais alguns metros e depois parou.
Desceu do veículo e correu ao encontro do moço.
Beijou-o.
Meses depois, casaram-se.
Todos foram convidados.
A família de Zélia, Emerson, seus filhos, noras e netos. Odara e Maximiliano. Isaura.
Os tios e primos de Dandara, estavam todos presentes.
Júlia e Ives compareceram para prestigiar os noivos. Foram os padrinhos do casal.
Cerimônia simples mas bela.
Cláudio cantou músicas para a moça.
Maximiliano e Odara, parabenizaram o casal.
Com o tempo, a mulher adotou efetivamente, o nome de Odara.
Para desgosto de Zélia.
Desta forma, foram alterados todos os documentos da mulher.
Júlia e Dandara também tiveram que alterar seus documentos pessoais, e todos os documentos onde constava a filiação.
As moças tiveram filhos.
Certo dia, a moça, entristecida com a ausência de Ludmila e Felipe, avistou-os na entrada da fazenda.
A fazendeira estava jovem, ao lado de Lúcio. Próximo a ela estavam seus pais, e os pais de Lúcio.
Felipe seguia próximo, acompanhado por mulheres e homens em trajes de época. Outros, usavam trajes circenses.
Pareciam uma grande família.
Odara, ao tomar conhecimento do fato, lamentou não ter tido a ventura de ter visto a mãe novamente. Desejou que isto acontecesse a ela também.
De fato ocorreu.
Alguns anos depois, passeando com um de seus netos, filho de Dandara, a mulher avistou um vulto de mulher. Era jovem e muito bela.
Ao seu lado um bonito rapaz.
Sorridente, o moço a olhava com extrema ternura.
Quem viu a cena primeiramente fora o neto, que lhe apontou o casal.
Emocionada, ao ver o casal, Odara chorou copiosamente.
Feliz, estava emocionada.
Finalmente tinha a certeza de que estava tudo bem.
Tempos depois recebeu uma carta psicografada.
Ludmila descrevia na epístola, as sensações que tivera antes de morrer.
Disse ter visto os pais, seu marido Antenor.
Contou que no momento final, percebeu Lúcio a seu lado.
Perdida, foi conduzida por boas almas.
Relatou que o processo de adaptação era longo, e que no momento exato da morte, se reviu novamente jovem e de mãos dadas com Lúcio, sendo recebida por todos os amigos de caminhada de sua vida.
Disse ter sentido profundo alívio neste momento.
O momento do desencarne não foram tão difícil.
Mencionou que já estava cansada de tanto sofrimento. Almejava se libertar do corpo cansado.
Relatou que Antenor fora importante em sua vida, e que viera a ser seu primeiro marido, com o propósito de um resgate, e que sua situação nesta encarnação, era de auxiliar o encontro dela com Lúcio.
O que de fato ocorrera.
Ludmila dizia na carta que no entanto, o casal precisava passar novamente por uma grande prova.
Prova esta que os separou por longos anos, durante a existência terrena.
A mulher escrevera na carta, que precisava também fazer um resgate, e que por isto, viera a se casar com Emerson. Homem de muito valor.
Dizia na missiva que tinha dívidas altas com o homem.
Comentou em suas palavras, que um dia iria regressar, ao lado de Lúcio novamente, e que nesta nova existência, os dois aparariam as arestas que ainda restavam, e que seriam muito felizes juntos, caso se dispusessem a isto.
Ludmila comentou que estava disposta a experimentar.
Agradeceu as orações.
Comentou que nos primeiros tempos, sentiu-se sem rumo, mas que fora amparada por companheiros de jornada.
Mencionou que levou algum tempo para poder privar da convivência com Lúcio, mas que ao ter esta possibilidade, sentiu-se cercada de muita ventura.
Com Antenor, relatou que a conversa fora franca, e reveladora.
Ludmila mencionou que o homem lhe tinha muito afeto, mas generoso, não demonstrava ciúmes ou egoísmo. Era um espírito evoluído.
Revelou-lhe sua missão de vida e mencionou que dentro em breve iria regressar, em uma nova missão em outro grupo familiar.
A mulher relatou que o homem havia resgatado seu débito com ela. Agora estava pronto para outra tarefa.
Feliz, dizia que sentia-se jovem ao lado de Lúcio, como o fora quando o conheceu. Razão pela qual ela e Dandara os viram tão jovens e radiantes.
Por fim, mandou um beijo a todos.
Laura leu a carta emocionada.
Agradeceu aos céus por ter podido saber da mãe.
Com isto, mostrou a carta aos filhos da fazendeira, que confirmaram o jeito de escrever da mãe.
Após o enterro da mãe, a jovem dirigiu-se ao sítio onde viviam os pais biológicos.
Sob o argumento de que precisava ficar a sós com os pais de criação, pediu para que a família seguisse viagem sem ela.
Maximiliano concordou.
Laura então, ficou alguns dias em casa dos pais.
Conversou com Zélia.
Disse-lhe que a estimava muito, e que gostava dela como uma filha amava uma mãe.
A mulher ficou comovida.
Laura então aproveitou os dias no sítio para passear, ajudou a cuidar do jardim.
Só voltou para a capital uma semana mais tarde.
Meses depois, aproveitou para visitar os sogros.
Laura finalmente estava em paz.
No final do ano, lá estava a família reunida novamente na fazenda.
As crianças e alguns adultos, iriam participar de um auto de natal.
Dandara recordou-se de um auto de natal organizado por Ludmila.
Recordou-se que Felipe participara da festividade.
Chorou emocionada.
Zélia e família também foram convidados.
Não faltou ninguém.
Dandara e Fernanda diziam que não podiam romper com a tradição iniciada por Ludmila.
Com isto, deu-se início ao auto de natal.
O filho mais novo de Júlia fez às vezes de menino Jesus na manjedoura.
Amanda fez o papel da Virgem Maria, Rogério era José. Henrique, Carlos e André, fizeram os papéis dos Reis Magos.
As crianças, bisnetas de Ludmila fizeram papel de ovelhas, entre outros animais.
Fernanda era a narradora.
A mulher relatou a fuga da família.
O nascimento de tão nobre ser, em tão simples manjedoura.
A visita dos Reis Magos, ao avistarem a estrela que anunciava a boa nova.
Todos ficaram encantados com a encenação.
Dandara comentou que fora um belo programa.
Fernanda mencionou a ausência de Ludmila.
Dandara respondeu-lhe que a fazendeira estava presente, adorando tudo, a união, a dedicação e o cuidado com tudo o que ela deixara, mas que amara, amara muito.
Quando a jovem leu a psicografia, comentou que Ludmila devia estar muito feliz ao lado do homem a quem amou, e que não cabia a eles, se entristecerem com a partida.
Nesta época o querido Emerson ainda vivia.
Era um senhor quase centenário.
Quando chegou aos cem anos, foi organizada grande festa para o estimado homem.
Laura o tinha em conta de seu parente.
Quando o homem faleceu, cerca de três anos depois, todos ficaram comovidos com a perda.
Inclusive Odara, Júlia, Dandara e Max.
Os filhos e netos, ficaram muito chorosos.
Circunstâncias da vida.
Tempos depois, Laura e Dandara avistaram novamente Ludmila ao lado de Lúcio.
Não obstante este fato, a mulher tinha próximo a si, seu companheiro constante, Emerson.
O homem tinha um ar sereno e conformado.
Parecia ciente de que Ludmila e Lúcio deviam permanecer unidos.
Perto da então jovem fazendeira, o homem mantinha o mesmo aspecto que tinha nos últimos anos em que vivera.
Em dado momento, afastou-se do casal.
Ludmila e Lúcio sorriram como se estivessem a se despedir.
Emerson colocou as mãos nos lábios. Em seguida, afastou as mãos.
Parecia distribuir beijos.
Por fim, se afastou.
Era chegado o momento da despedida.
Luciana Celestino dos Santos
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