Tão ansioso que não percebeu a aproximação da moça.
Feliz, Ludmila trazia vários papéis nas mãos.
Aproximou-se lentamente, procurando não fazer barulho.
Enquanto Lúcio brincava de jogar pedrinhas no riacho, Ludmila cobriu os olhos do moço.
Sussurrando no ouvido do rapaz, a moça pediu para que adivinhasse quem era.
Lúcio segurou as mãos da moça.
Perguntou-lhe onde ela estivera.
Ao ouvir isto, o moço aborrecido, perguntou-lhe por que não havia esperado por ele.
Argumentou que gostaria de ter ido junto.
Neste momento, ao perceber que a moça trazia um sorriso nos lábios, perguntou-lhe se não havia nenhum problema.
Ludmila disse que sua saúde estava perfeita.
Curioso, Lúcio perguntou-lhe o que havia acontecido.
A fazendeira mostrou-lhe os exames.
Lúcio abriu os envelopes, leu os laudos, mas não compreendeu a linguagem técnica.
Desta forma, ao término da leitura, perguntou a moça o que queriam dizer todos aqueles exames.
Sorrindo, Ludmila respondeu-lhe o médico lhe dissera que não tinha nenhum problema grave.
Disse-lhe apenas que dali há alguns meses haveria mais um membro naquela família.
Lúcio, ao ouvir as palavras de Ludmila, abraçou a moça.
A jovem disse que estava grávida.
O moço abraçou-a ainda mais forte.
Disse que estava muito feliz.
Chorando, ainda abraçado a moça, mencionou agora teria uma família de verdade.
Ludmila, ao ver o marido emocionado, comentou que ele não estava mais sozinho. Agora teria um sucessor, alguém que daria continuidade a sua história.
A fazendeira dizia estas palavras, olhando nos olhos do moço.
Feliz, o jovem segurou-a nos braços, levantou-a. Balançou-a.
Ludmila zonza, pediu para que ele parasse.
Lúcio, percebendo que havia se empolgado, cessou o movimento e colocou-a no chão.
Aflito, perguntou-lhe se estava tudo bem.
Ludmila, um pouco atordoada, respondeu que sim.
Lúcio então, pediu-lhe desculpas.
A moça respondeu que estava tudo bem.
O jovem por sua vez, perguntou-lhe se não estava cansada. Disse que precisava descansar.
Neste momento, aproximou-se da moça, fazendo menção de segurá-la novamente nos braços.
Ludmila, um pouco cansada, respondeu que não precisava, estava bem.
Lúcio, argumentando que ela parecia cansada, ergueu-a.
A fazendeira, deixou-se carregar. Estava de fato cansada.
Enquanto caminhava em direção ao seu cavalo, o moço percebeu que Ludmila também fora a cavalo até lá.
Lúcio, ao perceber isto, comentou que não era aconselhável ela continuar a cavalgar.
Ludmila respondeu que já estava acostumada.
O moço, ao ouvir estas palavras, respondeu:
- Acostumada! Pois bem. Conversaremos sobre isto mais tarde.
Ludmila tentou argumentar, mas Lúcio, segurando-a nos braços, pediu para que ela não se cansasse.
A mulher, percebendo que não conseguiria argumentar, perguntou sobre seu cavalo.
Lúcio respondeu-lhe ela iria em sua garupa, e que o seu animal não seria abandonado.
Nisto, o moço ajudou a moça a subir em seu cavalo, e sinalizou para que o animal da fazendeira o acompanhasse. Ludmila ficou impressionada.
Perguntou:
- Como você consegue dominar o animal desta forma?
Lúcio respondeu-lhe que eram anos de prática.
Com isto, o casal se encaminhou para a sede.
Ao chegar em frente as escadarias da fazenda, o homem apeou do cavalo.
A seguir, ajudou Ludmila a descer do animal.
Jurema e Rosa, ao verem a patroa serem carregada por Lúcio, perguntaram aflitas, o que havia acontecido.
Lúcio respondeu que não havia ocorrido nada de grave, e que mais tarde, contaria a todos uma novidade.
Nisto, o homem adentrou a casa e caminhou pelo corredor.
Ao entrar no quarto, Lúcio acomodou Ludmila no leito.
Disse que ela precisava se recompor.
Ludmila respondeu que já estava bem, que o cansaço já havia passado.
Argumentou que precisava trabalhar.
Lúcio respondeu que ela não estava proibida de cuidar da fazenda. Só que teria que se cuidar um pouco mais.
Ludmila tencionou levantar-se, no que foi impedida por Lúcio.
O moço, ao notar que a fazendeira resistia a idéia de se resguardar, comentou que ele também descansaria um pouco.
Dizendo que o dia tinha sido puxado, comentou que também tinha o direito de descansar.
Desta forma, ajeitou o travesseiro da moça, e recostou-a na cama.
Disse que pediria a Jurema para fazer um almoço leve.
Nos dias que se seguiram, o moço era todo zelo com a esposa.
Lúcio pediu a moça para que não andasse a cavalo. Preocupado, dizia que a moça poderia cair do animal, se ferir, se machucar.
A fazendeira, percebendo a preocupação do moço, prometeu que passaria a andar de charrete. Mas argumentou que não deixaria de trabalhar.
Com isto, Ludmila continuou a cuidar da fazenda.
Lúcio passou a auxiliá-la na empreitada.
Zeloso, o moço auxiliava a moça a subir e a descer da charrete.
Ludmila achava graça no excesso de preocupação do rapaz.
Lúcio a todo o momento perguntava se ela estava bem, recomendava que não se cansasse.
Jurema e Rosa faziam coro as recomendações do moço.
Diziam que ela deveria comer direito e descansar mais. As mulheres diziam que ela era a fazendeira, que não precisava se matar de trabalhar como os peões da fazenda.
Ludmila argumentava dizendo que não achava que seu trabalho era um sacrifício.
Com efeito, quando a moça voltava do trabalho, ceava com o marido, e ouvia um pouco de rádio.
Quando se recolhiam, o jovem auxiliava a moça a se deitar na cama, retirava seus sapatos.
Lúcio, feliz, comentou com todas as pessoas conhecidas na fazenda, que dentro em breve seria pai.
Valdomiro foi o primeiro a parabenizá-lo pela novidade.
O tempo foi passando.
Lúcio adorava admirar a barriga de Ludmila.
A criança, nasceu em um hospital, em uma cidade próxima da região.
Ludmila batizou a menina de Odara.
Lúcio, ficou surpreso com a escolha do nome.
A fazendeira por seu turno, comentou que ouvira o nome em algum lugar, mas não se recordava onde, e gostara da sonoridade do mesmo. Dizia que ninguém teria o mesmo nome de sua filha.
Lúcio concordou com a escolha. Argumentou que como mãe, ela tinha a primazia na escolha do nome.
Com isto, o moço registrou a criança no cartório da cidade.
Desta forma, encaminhou-se para o lugar.
Ao dizer o nome a ser registrado, o escrevente ficou surpreso.
Tanto que perguntou se ele tinha certeza de que seria aquele nome que ele gostaria de registrar.
Lúcio comentou que sim.
Mais tarde, o moço apresentou a certidão de nascimento, a mãe da criança.
Dias depois, a mulher saiu da maternidade acompanhada do marido e da filha.
O casal estava feliz com o ingresso do mais novo membro da família.
Ao retornarem a fazenda, ao passarem pela porteira, observaram que todos os que os viam de carro, levando uma criança, paravam para olhar.
Cumprimentavam o casal.
Lúcio feliz, fazia questão de passear de charrete com a criança.
Exibia Odara para todos.
Valdomiro e Leocádia, foram escolhidos para serem os padrinhos da criança.
Odara foi batizada na igreja da vila.
Com uma criança na casa, Ludmila continuou a cuidar e administrar a fazenda, auxiliada por Emerson.
Odara, contudo, ocupava boa parte de seu tempo, razão pela qual Lúcio passou a acumular também a função de administrador da fazenda.
Para auxiliar nos cuidados com a criança, Ludmila contratou os serviços de uma babá.
De vez em quando, a jovem levava a filha para fazer passeios a cavalo.
Levava a filha para ver o pai trabalhando.
Lúcio adorava as visitas da esposa e da filha.
Também gostava de acompanhá-las nos passeios pelo riacho.
O homem ensinava a filha a atirar pedrinhas no rio.
Mostrava-lhe as nuvens do céu, e dizia para a filha que elas se deslocavam no firmamento.
Brincando, dizia que a ensinaria sobre as estrelas do céu, que este seria o vínculo que teriam, um código que os aproximaria para sempre.
A menina caminhava pela relva.
Ludmila e Lúcio faziam pequenique no lugar.
Os dias seguiam repletos de trabalho, e cheios de encantamento.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
quinta-feira, 1 de abril de 2021
CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 8
CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 7
Durante a viagem Ludmila e Lúcio ficaram observando a paisagem.
Contemplavam as colinas, as serras, os campos verdes, os animais pastando nas fazendas existentes ao longo das estradas.
A manhã estava ensolarada, o céu quase sem nuvens.
O trem percorria o caminho mostrando aos passageiros, os rios da região.
Parava nas estações, onde desciam e entravam novos passageiros.
Em uma das paradas, o casal resolveu percorrer alguns vagões.
Comeram no vagão restaurante.
Lúcio foi servido de um vinho caro.
O moço, ao perceber que se tratava de um vinho importado, pediu para Ludmila se aproximar, e cochichando em seu ouvido, perguntou o preço da bebida.
Ludmila sorrindo, respondeu-lhe sussurrando em seu ouvido, que ele não deveria se preocupar com o valor.
Comentou que aquela era uma cortesia da casa. Disse-lhe ele deveria experimentar a bebida, pois era de excelente qualidade.
Conjecturando, o moço respondeu se afastando, que a bebida devia ser tão cara que nem se ele trabalhasse durante um mês, seria capaz de pagar.
Ao ouvir isto, Ludmila sorriu para ele.
Argumentou que ele não deveria se preocupar, e que aquela extravagância só acontecia em momentos muito especiais.
O peão, ao ouvir as palavras da moça, ficou envaidecido.
Com isto, sorveu um pequeno gole da bebida.
Ao descer pela garganta, Lúcio estranhou o gosto da bebida.
Ludmila ao perceber a expressão do moço, perguntou-lhe se não havia gostado do vinho.
Lúcio tentou fingir haver gostado, mas Ludmila, atenta, percebeu que a bebida não agradou.
Razão pela qual, comentou com o moço que estava com muita vontade de beber uma aguardente.
O homem, ao ouvir as palavras da esposa, perguntou-lhe se tinha certeza do que estava pedindo.
Ludmila respondeu que sim, e que desta vez, quem faria o pedido seria ele.
Lúcio comentou constrangido, que todos no vagão olhavam para eles.
- Eu sei! – respondeu a moça. – É por que eu tomei a iniciativa de fazer o pedido do vinho, mas agora quem irá chamar o garçom será você!
Lúcio nervoso, comentou que não sabia o que pedir.
Ludmila sugeriu um nome de aguardente no ouvido do moço.
O rapaz então, enchendo-se de coragem, chamou o garçom.
Fez o pedido.
E para sua surpresa, a aguardente pedida seria servida.
Ludmila comentou que a bebida constava do cardápio. Razão pela qual não havia motivos para que não fosse servida.
O moço ao ouvir isto, comentou que tudo ali era tão luxuoso que não imaginava que alguém iria pensar em cachaça num ambiente daqueles.
Ludmila ao ouvir isto, comentou que também ficou surpresa ao saber disto.
Com isto, a bebida foi servida e o casal degustou a aguardente.
Em seguida, o casal pediu para que fosse servida uma refeição.
Como Lúcio não entendia o cardápio, Ludmila escolheu o que seria pedido.
Pediu medalhões, acompanhados de arroz e um suco.
Nervoso, Lúcio perguntou-lhe baixinho, em que idioma fora escrito o cardápio.
Sorrindo, Ludmila respondeu que o cardápio estava em português, mas que alguns pratos tinham o nome francês.
Lúcio tentou entender o porquê daquilo.
Com efeito, quando a refeição foi servida, ao perceber que o garçom se afastara, Lúcio perguntou a moça qual o talher deveria usar.
A fazendeira respondeu-lhe que deveria observá-la para fazer igual.
Paciente, a mulher comentou que não havia segredos para se comer a iguaria, e mostrou-lhe que deveria utilizar o talher adequado para carne.
Lúcio então experimentou a comida. Adorou saborear a carne suculenta.
Comeu com gosto, como se costuma dizer por aí.
Ludmila ao perceber isto, perguntou ao moço se havia gostado da comida.
Lúcio, colocando o guardanapo de tecido em frente a boca, terminou de mastigar a comida. Em seguida respondeu-lhe que sim. Comentou que a carne estava muito boa, bem melhor que o vinho.
Ao ouvir isto, Ludmila começou a rir.
Disse-lhe que ele era impossível.
Depois do almoço, o casal voltou para o vagão de luxo e acomodou-se novamente em sua cabine.
Mais tarde, visivelmente constrangido, Lúcio perguntou-lhe se ela estava arrependida de haver se casado com alguém tão simplório quanto ele.
Ludmila respondeu que não, e que ele era um simplório adorável, puro e de bom coração.
Beijou-lhe a face, gesto que o deixou envergonhado.
Lúcio comentou que estavam a sós, mas que o outro casal com quem dividiam a cabine, poderia voltar a qualquer momento.
Sorrindo, Ludmila respondeu-lhe que eles foram até o vagão restaurante e provavelmente demorariam a voltar.
Lúcio ao ouvir estas palavras, respondeu que então estava tudo bem.
Nisto segurou a esposa pelo pescoço e lhe deu um beijo no rosto. Em seguida, beijou-lhe os lábios.
Como a viagem fora longa, Ludmila adormeceu, vindo a se recostar no ombro do moço.
Com isto, ao chegarem ao destino, desceram do vagão.
Um funcionário auxiliou-os com as bagagens.
De táxi, rumaram para um hotel que havia na localidade.
Lúcio durante o trajeto, ficou observando as casas, os prédios, o comércio, as praças, a igreja matriz.
Ludmila deixou que Lúcio pagasse a corrida.
Ao chegarem no hotel, preencheram uma ficha.
Um funcionário os conduziu com as malas para o quarto.
Antes de entrar no quarto, no entanto, o jovem pediu licença ao funcionário.
Pediu para que ele entrasse primeiro levando as malas.
Em seguida, Lúcio pediu para Ludmila esperar e, carregando-a nos braços, adentrou o quarto.
O funcionário ao ver o moço carregando a jovem nos braços, perguntou se eram recém-casados.
Lúcio sorrindo, respondeu que não.
Completando a frase porém, disse que era como se fosse, já que a cada dia que passava ao lado da moça era como se tivesse acabado de conhecê-la.
Um pouco sem jeito, o moço parabenizou o casal e retirou-se do quarto.
Desejou ao casal uma boa estada na cidade.
Lúcio ainda como Ludmila nos braços, agradeceu os votos de felicidade.
Em seguida, colocou a moça no chão, sob protestos constrangidos do tipo:
- O que você pensa que está fazendo?
A verdade era que o moço estava se divertindo muito com toda aquela situação.
Lúcio ria a larga.
Ludmila, percebendo isto, perguntou:
- Qual é a graça?
Foi o suficiente para o moço cair na gargalhada.
Ludmila não se conteve e começou a rir junto.
Rindo, o moço começou a comentar que o funcionário ficou constrangido com a cena.
A mulher ao ouvir isto, censurou o esposo.
Disse que isto não se fazia, que era errado deixar as pessoas constrangidas.
Lúcio comentou que errado não sabia se era, mas que era muito divertido era.
Ludmila repetiu o comentário que fizera no trem.
Disse-lhe que era impossível.
Lúcio sorrindo, ironizou o comentário. Argumentou que se era impossível, precisava fazer jus a isto.
Com isto, puxou a moça para junto de si e abraçou-a.
Em seguida, beijou-a.
Mais tarde, o casal decidiu fazer um passeio pela cidade.
Ludmila comentou que mais tarde, iria visitar uma fazenda e adquirir algumas cabeças de gado para sua propriedade.
Com efeito, no dia seguinte lá estava o casal na porteira da fazenda.
Lúcio e Ludmila foram recebidos pelo dono da propriedade.
Tibério recebeu o casal com festa.
Ludmila era conhecida do homem.
Acompanhada de Lúcio, a jovem apresentou o esposo ao fazendeiro.
Sorrindo, o homem disse a Lúcio que ele era um homem de sorte.
Com efeito, a jovem e seu marido almoçaram na fazenda de Tibério, acompanhados da família do homem.
Ludmila negociou alguns animais, os quais seriam entregues em sua fazenda em uma semana.
O casal visitou as instalações onde os animais ficavam, viram a forma como eram tratados e cuidados.
Mais tarde, firmou-se um contrato, o qual foi assinado pelos fazendeiros.
Ao término das negociações, a mulher e seu marido, se despediram de todos na fazenda.
Retornaram ao hotel.
Jantaram no próprio estabelecimento.
A exceção dos dias em que visitou a fazenda de Tibério, a mulher usou vestidos e saias, sapatos sociais, salto, sapatilhas. Usou perfume e um pouco de maquiagem.
Lúcio, a exceção do dia do casamento, e das festas na vila, em que ela costumava usar vestidos, nunca a vira arrumada daquele jeito.
Somente quando a mulher usava camisolas a noite, se despedia das calças e botas.
Lúcio estava adorando conhecer o lado glamouroso da esposa.
Dizia a ela que a cada dia que passava, ela estava ainda mais bela, se é que isto era realmente possível.
Ludmila sorria.
Dizia que ele estava exagerando.
Lúcio por sua vez, também se trajava de forma elegante.
Usava ternos, estava sempre bem arrumado.
Ludmila ao vê-lo de terno, esperando-a para jantar, comentou que ele estava muito elegante.
Cearam.
Depois caminharam pela cidade.
Sentaram-se no banco da praça da Igreja da Matriz.
Lá havia um pipoqueiro.
Pessoas circulavam pelo local, uma missa seria celebrada dentro de alguns minutos.
Conhecidas, as pessoas se cumprimentavam e conversavam.
Famílias inteiras estavam ali para acompanhar a celebração.
Muitos, ao verem o casal de estranhos conversando na praça, passaram a observá-los.
Curiosos, perguntavam-se de onde teriam vindo.
Ludmila e Lúcio, usavam roupas elegantes, que chamavam a atenção dos passantes.
Muitos comentavam entre si, que se tratavam de pessoas de posses.
Os homens admiravam a beleza da jovem mulher, e as mulheres ficavam encantadas com o porte e o garbo do moço.
Uma das moças comentou que eles pareciam um daqueles casais de cinema.
Com isto, Lúcio, ao perceber que algumas pessoas olhavam para ele, chamou a esposa, que estava entretida observando as flores do passeio.
Comentou que precisavam dar uma volta pelo centro comercial da cidade, pois queria ver como tudo ficava, quando estava iluminado.
Ludmila voltou-se para ele.
Concordou.
Perguntou-lhe se estava gostando das luzes da cidade.
Lúcio respondeu um pouco tímido, que era um modo diferente de viver a vida.
Nisto, caminharam de mãos dadas.
Lúcio se encantou com as luzes tímidas que enfeitavam o modesto centro da pequena cidade.
Caminharam algumas quadras, conversaram um pouco.
Sorriram um para o outro e voltaram ao hotel.
Arrumaram as malas, posto que no dia vindouro, partiriam no primeiro trem rumo a fazenda.
Dormiram.
No dia seguinte, tomaram um lauto café da manhã no hotel.
Caminharam um pouco pela cidade.
Lúcio comentou que a cidade era pequena, mais muito agradável.
Ludmila concordou.
Neste momento, um homem passou pelo casal.
O estranho ficou um certo tempo observando Ludmila, fato este que incomodou Lúcio.
A mulher, percebendo isto, disse que não precisava se aborrecer com aquilo, pois já estavam indo embora da cidade.
Lúcio respondeu-lhe que algumas pessoas precisavam aprender a ter respeito pela mulher dos outros.
Ludmila, ao ouvir as palavras do moço, recomendou-lhe que não aceitasse provocações.
O jovem, a despeito do apelo da jovem, resolveu se aproximar do homem.
Disse-lhe poucas e boas.
Irritado, Lúcio disse que a moça não estava sozinha e que era casada com ele. Razão pela qual ele deveria se dar ao respeito e parar de ficar olhando para ela da forma como estava olhando.
O homem, ao ouvir as palavras de Lúcio, respondeu que o que era bonito, deveria ser admirado.
Lúcio por sua vez, retrucou dizendo que admiração era bem diferente de falta de respeito.
O homem perguntou então, se ele não tinha confiança em si mesmo.
Ao ouvir isto, Lúcio ameaçou pegar o homem pelos colarinhos, e só não o fez, por que foi impedido por dois homens, que ao passarem pelo lugar, notando que a confusão começava a se instalar, apartaram a briga.
Nisto o homem, dizendo se chamar Armando Ribeiro, disse que aquela ofensa não ficaria sem punição.
Desta forma, ameaçou Lúcio dizendo-lhe que se o encontrasse novamente, ele estaria perdido, que iria se arrepender do que ameaçara fazer, e que seus dias estariam contados.
Ludmila, ao ouvir as ameaças, ficou assustada.
Aproximou-se de Lúcio e segurando em sua cintura, implorou para que ele parasse com aquilo.
O moço, ao ouvir o choro da esposa, parou de tentar investir contra o homem.
Abraçou Ludmila.
Percebendo que ela estava trêmula, perguntou-lhe se estava tudo bem.
Ludmila respondeu que estava sentindo tudo rodar.
Lúcio, preocupado, conduziu a mulher até um banco.
Pediu-lhe para que respirasse devagar.
Conversando com ela, pediu-lhe desculpas pelo incidente, disse a ela que não precisava ficar nervosa, que ele não iria brigar mais.
Os homens que apartaram a briga, ao perceber o mal estar da mulher, soltaram o homem.
Solícitos, perguntaram se estava tudo bem.
Lúcio respondeu-lhes que ela havia ficado nervosa com a confusão, mas que a levaria de volta para o hotel. Preocupado, Lúcio perguntou-lhe se sentia-se em condições de viajar para a fazenda.
Ludmila respondeu que estava com saudades de sua terra, de seu chão, que queria voltar para o seu lugar, e que o mal estar havia passado.
Com isto, o tal Armando Ribeiro, ao perceber o mal estar da moça, pediu-lhe desculpas pela confusão. Argumentou que havia sido grosseiro e inconveniente.
Lúcio nervoso, perguntou-lhe o que ele ainda estava fazendo ali.
Argumentou que Ludmila estava passando mal por causa daquela confusão.
O homem, ao ouvir o nome da jovem, comentou que se tratava de um bonito nome, de origem russa.
Comentou que era médico, e pediu para examiná-la.
Lúcio tentou resistir, mas ao olhar para o semblante pálido da esposa, resolveu autorizar o exame.
Com isto, a moça foi conduzida para o consultório do homem, sempre acompanhada do marido e dos homens.
Armando por seu turno, mediu a pressão de Ludmila, examinou a garganta da mulher.
Sempre na presença de Lúcio.
Ao perceber que a jovem não tinha nenhum problema de saúde, pelo menos aparente, perguntou-lhe não gostaria que seu marido se afastasse um pouco.
Lúcio, ao ouvir isto, disse-lhe que se estava pensando em ficar sozinho com Ludmila, que desistisse desta idéia.
Armando riu.
Comentou que ele não precisava sair da sala, apenas precisava fazer algumas perguntas pessoais a ela. Argumentou que desconfiava do que poderia ser, mas que para se ter certeza, seriam necessários, alguns exames.
O moço ao ouvir isto, perguntou se ela poderia viajar naquela noite.
Armando respondeu-lhe que para viajar, a moça precisava primeiramente, se recuperar do mal estar que tivera.
Como Lúcio se recusasse a se afastar de Ludmila, Armando não pode fazer as perguntas que pretendia.
Não obstante este fato, comentou que aquele mal estar poderia ser uma indisposição passageira motivada pela briga e pelo sol.
Lúcio respondeu que a moça estava acostumada com sol forte, e que aquilo parecia ter sido mais motivado pela briga, que por qualquer outro motivo.
Ao ouvir isto, Armando comentou que não parecia ser um simples mal estar.
Nisto, Ludmila perguntou ao médico se havia algum banheiro, que pudesse usar.
Armando indicou-lhe o lugar.
Lúcio, ao ouvir isto, perguntou-lhe se não poderia aguardar, pois estava retornando ao hotel.
Ludmila empurrou o rapaz e colocando a mão na boca, correu para o banheiro.
Diante da reação da moça, o peão perguntou ao médico o que estava acontecendo.
Rindo, Armando comentou que alguns homens tinham tanta sorte, que nem se davam conta disto.
Lúcio não compreendeu as palavras do homem.
Aflito, encaminhou-se até a porta do banheiro, e batendo nela, perguntou a Ludmila, se estava tudo bem.
Após alguns minutos, a moça abriu a porta.
Ainda estava pálida e aparentava cansaço.
Mesmo assim, disse estar se sentindo melhor.
Lúcio então, segurou a moça pelo braço e conduziu-a até a sala do médico.
Armando resolveu por sua vez, mediu a temperatura da moça e comentou que estava tudo normal.
Ao ouvir isto, o moço disse que não estava nada normal.
Lúcio argumentou que Ludmila não costumava ter achaques, que era uma mulher independente, livre e que estava preocupado. Comentou ainda, que nunca vira a esposa deste jeito, fraca, quase prostrada.
Ao ouvir isto, o médico perguntou-lhe sobre suas atividades domésticas.
Lúcio respondeu que ela cuidava de uma fazenda, que estava acostumada a andar a cavalo, a pegar sol forte, chuva.
Armando ficou impressionado.
Todavia, recomendou a moça que evitasse aquelas atividades pelos próximos dias, pelo menos até ter certeza do que estava acontecendo.
Disse-lhe que procurasse um médico em sua localidade, e que não fosse acompanhada do marido, ou nunca descobriria o que tinha.
Lúcio, ao ouvir isto, ficou nervoso, mas preocupado com a mulher, deixou a desavença de lado.
Questionou o fato do médico não haver dado um diagnóstico.
Armando respondeu-lhe que desconfiava do que era, mas como não tinha certeza, preferia não comentar.
Nervoso, Lúcio chamou-o de assediador barato e incompetente.
Armando ao ouvir isto, respondeu-lhe que poderia processá-lo, se continuasse a difamá-lo daquela forma.
Retrucou dizendo que ele era muito ciumento, mas argumentou que diante de tão bela esposa era compreensível o comportamento. Argumentou que também sentiria ciúmes de tão bela mulher.
Lúcio então, dirigindo-se a mulher, perguntou-lhe se estava sentindo-se se melhor para voltar para o hotel.
Ludmila respondeu que sim.
Nisto, ao tentar se levantar, sentiu a vista escurecer, e caiu sentada na cadeira onde estava.
Armando pediu então que deitasse a moça na maca.
Respondeu que ela precisaria permanecer alguns dias na cidade.
Lúcio, furioso, disse que voltariam naquela noite para sua região.
Armando, respirando fundo, ao ver que os homens permaneciam em seu consultório, agradeceu a intervenção, mas os dispensou.
Lúcio prometeu que não iria mais brigar.
Os homens se afastaram.
Armando recomendou mais uma vez, que a moça procurasse se acalmar, que respirasse fundo.
Perguntou-lhe se havia vomitado.
Ludmila respondeu que sim.
Armando perguntou-lhe se fazia muito tempo que estava sentindo mal estar.
Ludmila respondeu que não, que começou a passar mal depois que a briga começou.
Armando indagou então se tinha filhos.
Ludmila respondeu que não.
Armando perguntou-lhe se havia ficado grávida.
Ludmila respondeu que não.
Constrangido, pediu para Lúcio se afastar.
O moço contrariado, respondeu que não sairia da sala, mas percebendo que Armando não tinha como assediar a esposa, concordou se afastar um pouco.
Com isto, o homem perguntou diante de Lúcio, em tom baixo para que ele não escutasse, sobre as regras da moça.
Ludmila surpresa com a pergunta, argumentou que estava tudo normal.
Ao término das perguntas, Armando recomendou-lhe a realização de exames.
Lúcio indagou-lhe sobre o diagnóstico.
O médico respondeu-lhe que por um momento, desconfiou de uma gravidez, mas que diante do narrado pela moça, poderia ser uma indisposição apenas. Com isto, insistiu para que a moça fizesse alguns exames.
Lúcio nervoso, respondeu-lhe que seria a primeira coisa a ser feita quando chegassem na fazenda. Afirmou que encaminharia a esposa a um consultório médico e realizaria todos os exames que fossem precisos.
O moço comentou ainda, que Ludmila recuperaria sua disposição o quanto antes, e que receberia o tratamento adequado.
Nisto, Ludmila sentou-se na maca e lentamente se levantou.
Lúcio segurou-a nos braços, sob protestos da moça, que argumentou que poderia caminhar.
O moço respondeu-lhe, porém, que voltariam de táxi para o hotel.
Armando, ao ouvir isto, ofereceu uma carona em seu carro.
Lúcio tentou recusar, mas o médico argumentou que não lhe custava nada.
O moço então aceitou a oferta, mas argumentou que não poderia fazer sala para ele.
Mencionou que Ludmila precisava descansar.
Armando comentou que não havia necessidade de mesuras, e que só estava fazendo aquela gentileza, em consideração a moça.
Armando então, conduziu Lúcio até o carro.
O moço, que segurava Ludmila nos braços, ajudou-a a entrar no veículo.
Algumas senhoras, ao passarem no local, ao verem a moça sendo carregada, perguntaram se estava tudo bem.
Armando respondeu que sim, que aquilo era apenas zelo de um pai de primeira viagem.
As mulheres, ao ouvirem isto, parabenizaram Lúcio.
O moço, sem jeito, agradeceu.
Armando então, entrou no carro, e dirigiu até o hotel da cidade.
Lá, Lúcio ajudou Ludmila a sair do carro.
A palidez havia sumido do rosto da moça.
Lúcio, contudo, insistiu para carregá-la.
Ludmila não ofereceu resistência.
O moço então, agradeceu a carona.
Armando por sua vez, respondeu que não fizera mais do que sua obrigação.
Nisto, Lúcio adentrou as dependências do hotel com Ludmila no colo.
Os funcionários, ao se depararem com a cena, perguntaram se estava tudo bem.
Lúcio respondeu que sim, argumentou que a moça tivera apenas uma indisposição.
Com efeito, quando o moço finalmente chegou no quarto, Ludmila havia dormido.
Lúcio colocou a moça no leito.
Com isto, os planos de voltar para casa, foram adiados.
Voltaram dois dias depois.
Valdomiro recebeu um telegrama, no qual Lúcio comentava sobre a indisposição que a moça tivera.
Leocádia, ao tomar conhecimento do ocorrido, chegou a perguntar a marido se ela não estaria grávida.
Com isto, conforme os dias se passaram, mais disposta, Ludmila vestiu um bonito vestido, prendeu os cabelos com uma trança e desceu as escadarias do hotel.
Preocupado, Lúcio a todo o momento perguntava-lhe se estava tudo bem.
Ludmila sorrindo, respondia-lhe que sim.
Com efeito, durante a estada prolongada, o moço evitou sair com a moça pela cidade.
Isto por que, em todos os lugares por onde passavam, invariavelmente encontravam Armando, que fazia questão de cumprimentá-los e insistir para que a moça fizesse os exames recomendados.
Com efeito, a notícia da suposta gravidez de Ludmila espalhou-se pela cidade, e muitos desconhecidos vieram cumprimentá-la e fazer-lhe recomendações.
Ludmila ao ouvir as recomendações, insistia em dizer que não estava grávida, que estavam enganadas.
As mulheres, no entanto, insistiam em dizer-lhe que estava sim grávida.
Lúcio a todo o momento, recebia os parabéns.
Preocupado, Lúcio sugeriu carregar as bagagens sozinho.
Quando a moça fez menção da atravessar o saguão do hotel para se encaminhar ao táxi, Lúcio sugeriu carregá-la.
Ludmila respondeu-lhe que não havia necessidade, que estava tudo bem.
Nos dias seguintes ao incidente, Ludmila não teve nenhum mal estar.
Julgou que o mal era decorrente do nervoso, ou de algo que comera.
Com isto, adentraram o veículo.
Seguiram até a estação.
No trem, a moça perguntou-lhe o que achara da viagem.
Lúcio respondeu-lhe que era encantadora, em que pesem os últimos acontecimentos.
Ludmila, encostando a cabeça no ombro do rapaz, comentou que havia adorado a viagem.
Foi questão de minutos para que adormecesse.
Lúcio, abraçando a moça, ficou observando seu sono.
O casal de idosos a sua frente, encantado com Ludmila e Lúcio, perguntaram há quanto tempo eram casados.
Lúcio respondeu que há menos de um ano.
Curiosa, a mulher perguntou se já tinham filhos.
O moço respondeu que ainda não.
A certa altura, o moço também dormiu.
Ficaram abraçados.
A senhora, encantada com o casal, comentou que quando jovens, eles também eram assim.
O marido, ao ouvir isto, abraçou a esposa e disse que ainda eram muito unidos.
Quando a jovem despertou, Lúcio perguntou a moça, se estava com fome.
Ludmila respondeu afirmativamente.
Lúcio, ao ouvir a resposta, comentou feliz:
- Até que enfim! Pensei que a senhora nunca mais fosse ter fome.
De fato, Ludmila não vinha se alimentando bem, desde que ocorrera o incidente. Dizia não gostar da comida do hotel. Fato este questionado por Lúcio, já que desde que chegaram no lugar, comiam por lá.
Nisto, Ludmila perguntou as horas.
Quando Lúcio lhe disse que horas eram, a moça ficou espantada.
Tanto que chegou a perguntar por que dormira tanto.
Lúcio indagou se estava tudo bem.
Ludmila respondeu que sim.
O casal então, encaminhou-se para o vagão restaurante.
Ludmila devorou uma refeição composta de arroz e filet ao molho madeira, comeu sobremesa, vindo a repeti-la.
Lúcio, ao notar que a esposa comia com apetite, comentou que estava gostando muito de vê-la tão bem.
Com isto, quando a jovem terminou o almoço, o rapaz perguntou-lhe se estava satisfeita.
Ludmila respondeu que sim.
A viagem prosseguiu.
Quando chegaram na estação de trem da região onde ficava a fazenda, o moço pediu para que o condutor do carro que pegaram na estação, parasse em frente ao posto médico.
O motorista, ao ouvir a palavra médico, perguntou se estava tudo bem.
Lúcio respondeu-lhe que sim.
Tratavam-se apenas de exames de rotina.
Ludmila, que estava cansada da viagem, pediu para o homem seguir viagem.
Argumentando que se sentia melhor, disse que estava cansada e que queria voltar logo para casa.
Com isto, prometeu que mais tarde se encaminharia até o posto médico e faria todos os exames que ele quisesse.
Lúcio, percebendo o cansaço da esposa, concordou.
Desta forma, rumaram para a fazenda.
Ao chegarem na sede, o moço conduziu a jovem até a sala.
O empregado levou as malas até a entrada da casa.
Ludmila sentou-se no sofá e ligou o rádio.
Jurema providenciou um jantar leve e Ludmila se recolheu mais cedo.
Lúcio, percebendo o cansaço da esposa, disse-lhe que no dia seguinte iriam até o médico.
A moça concordou.
Mas sonolenta, ao se deitar na cama, adormeceu.
Lúcio também se recolheu mais cedo.
Ficou observando a mulher dormindo.
A certa altura, insone, levantou-se, aproximou-se da janela, abriu-a.
Ficou a observar as estrelas.
De longe velava pelo sono da esposa.
Estava ansioso.
No dia seguinte, de manhã cedo, o moço chamou Ludmila, disse-lhe que iria fazer uma consulta ao médico.
Ludmila argumentou que precisava trabalhar.
Lúcio, ao ouvir estas palavras, chamou-lhe a atenção.
Mencionou que ela estava proibida de proferir a palavra trabalho.
A fazendeira tentou argumentar, mas Lúcio disse-lhe que passaria no médico, e que, dependendo do que ele dissesse, poderia ou não trabalhar.
Ao ouvir isto, Ludmila respondeu que não poderia deixar a fazenda entregue as cobras.
Lúcio riu, disse que se fosse preciso, ele poderia cuidar de tudo por algum tempo.
Ludmila retrucou, dizendo que não poderia ficar parada.
Lúcio, segurando-a pelo braço, disse que ela não ficaria parada.
Talvez apenas, precisasse descansar um pouco.
Mais tarde, o casal se dirigiu a sala de jantar, onde tomou um bom café da manhã.
Em seguida, foram de carro para a vila.
Ao passar pelo médico, Lúcio fez questão de entrar no consultório com a esposa.
O doutor a examinou.
Dias depois a moça foi até a capital.
Lá fez os exames pedidos.
Ao saber o resultado, se encaminhou para a vila, antes que Lúcio despertasse.
Saiu da sede da fazenda ainda de madrugada, e se dirigiu a vila.
Saiu pé ante pé. Não tomou café.
Quando o moço despertou e não encontrou a esposa ao seu lado, levantou-se sobressaltado.
Ainda de pijama, procurou Ludmila por toda a casa.
Dirigiu-se até a cozinha.
Aflito, o moço passou a se perguntar onde ela teria ido.
Jurema, ao vê-lo sentado, de pijama, na cozinha, perguntou-lhe se estava precisando de alguma coisa.
Lúcio perguntou-lhe se havia visto Ludmila.
Surpresa, a mulher respondeu que não.
Tomado de preocupação, o moço retornou ao quarto. Vestiu-se.
Em seu cavalo, procurou Ludmila por toda a fazenda.
Ludmila ao passar pela vila, avistou a pensão onde ficara hospedada, visitou seus conhecidos no lugar.
Passou pela igreja, e depois dirigiu-se ao médico.
Voltou para casa feliz da vida.
Ao retornar a fazenda, dirigiu-se a um riacho.
Lúcio permanecia sentado próximo a sua margem.
Antes, ficara andando de um lado para o outro.
Parecia ansioso.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 6
Ludmila perguntou-lhe então se não gostaria de acompanhá-la.
Ao ouvir a proposta, o moço sorriu para ela.
- Mas é claro que eu quero. – respondeu.
Mais tarde fizeram outro passeio a cavalo.
No dia seguinte, foram até a cachoeira.
Lá, mergulharam em suas águas.
Antes porém, de partir, Ludmila pediu a Jurema que arranjasse uma cesta e a enchesse com comes e bebes.
Com isto, o casal tomou o café da manhã em meio a natureza.
O casal estendeu uma toalha na relva e se deliciava com broas, queijo, geléias, suco, leite, frutas.
Depois, Lúcio se deitou no colo da moça e ficou a observar as nuvens.
Quando Ludmila se deitou no colo do rapaz, ficou a observar as águas, o barulho das mesmas, seus movimentos sutis.
Gostava da natureza.
Lúcio percebendo a moça entretida em pensamentos, brincava dizendo que gostaria de saber no que ela estava pensando.
Ludmila respondia que não estava pensando em nada, eram apenas bobagens.
Ao ouvir as palavras da jovem, Lúcio disse que um dia, ainda saberia tudo o que se passava com ela.
Mais tarde, depois do descanso na beira da cachoeira, o casal entrou novamente nas águas.
Lúcio brincou de jogar água na moça, que protestou.
Em dado momento, percebendo que Ludmila se afastava dele, o moço aproximou-se e puxou-a para junto de si.
Beijaram-se.
Lúcio e Ludmila abraçaram-se.
Na cachoeira, ficaram a observar o céu.
Lúcio disse que aquele seria o lugar mágico deles.
Ao ouvir isto, Ludmila disse que tinha um carinho especial pelo lugar onde eles se conheceram.
Lúcio ficou surpreso.
Comentou acreditar que só ele achava o lugar especial. Galante, contou que se impressionou com ela desde a primeira vez que a vira. Vaidoso, comentou que assim que a viu, percebeu que não se tratava de uma mulher comum. Confessou que se encantou por ela naquela primeira vez que a vira.
Ludmila ao ouvir isto, questionou-o. Dizia não acreditar que ele se encantou com ela a primeira vista.
O rapaz, ao notar o descaso da moça, comentou que sim, ela o impressionara desde a primeira vez que se encontraram. Lúcio comentou que não era comum as mulheres serem livres e independentes, como ela era. Relatou que admirava-a por isto.
A fazendeira agradeceu então os elogios.
Nisto o moço acrescentou:
- Sem contar que além de ser uma ótima fazendeira, é linda demais! Parece uma pintura.
Ao ouvir estas palavras, Ludmila caiu na risada.
Lúcio disse-lhe por fim, que ela tinha um sorriso bonito, que embelezava ainda mais a moldura de sua beleza que era seu rosto.
Ludmila por sua vez, retrucou dizendo que ele estava muito galante.
Mais tarde, o casal voltou para casa.
Certo dia, o casal adormeceu abraçado na beira do rio, em frente a cachoeira.
Ao despertarem, levantaram-se num sobressalto e foram rapidamente para casa.
Cumpre destacar que, Ludmila gostava de ler para o moço.
Lúcio por seu terno, também adorava ouvir as histórias contadas pela esposa.
Ludmila interpretava o texto.
Às vezes lia obras clássicas, como Machado de Assis, José de Alencar, entre outros, ora lia poesias.
Lúcio era só encantamento com as declamações da moça.
Por várias vezes o jovem disse-lhe que ela deveria voltar a lecionar. Argumentou que ela possuía um dom maravilhoso, e que aquela dádiva não deveria ficar guardada só para ele.
A fazendeira se surpreendeu com a atitude do moço. Comentou que não era comum um homem querer que sua mulher trabalhasse fora. Mencionou que Antenor insistia para que parasse de lecionar.
Lúcio respondeu-lhe então que diante de uma mulher independente que sabia cuidar de sua vida, fazendeira competente, não poderia opor restrições.
O moço costumava dizer-lhe que ela poderia tudo o que quisesse.
Antes do matrimônio, ficou ajustado que Lúcio cuidaria da lida com os peões, e que ela continuaria juntamente com Emerson, a administrar a fazenda, controlar os gastos, o que seria produzido, vendido.
Lúcio respondeu que continuaria a receber um salário, e que não tinha interesse em receber nada além do que fosse justo.
Quando ainda residia em casa de Valdomiro, o moço chegou a ser indagado por um dos filhos do moço a respeito do casamento.
Elias comentou que ele iria ter uma vida mais confortável. Iria dormir em uma cama macia, e não numa rede.
Lúcio retrucou dizendo que não estava casando-se visando alguma vantagem, e sim por que amava Ludmila. Comentou ainda, que se casava com Ludmila por que queria e que mesmo que ela fosse uma simples camponesa, casaria-se com ela.
O rapaz, ao ouvir as palavras do peão, redargüiu indagando do porquê dele não haver se interessado por uma das moças do lugar.
Lúcio respondeu que não mandava em seu sentimento.
Valdomiro, percebendo o clima tenso, chamou Lúcio para tomar uma aguardente e comemorar o futuro casamento.
Ouvir insinuações a respeito de um suposto interesse financeiro no patrimônio da moça, o incomodava deveras. Tanto que se recusou a aceitar a proposta feita pela moça de auxiliá-la na administração da fazenda.
Honesto, Lúcio respondeu-lhe que não tinha experiência com o trabalho e que estava mais familiarizado em lidar com peões, trabalho o qual gostaria de continuar desempenhando. Dizia que seria mais útil assim.
Emerson ao tomar conhecimento deste fato, chegou a ironizar.
Disse que não poderia esperar nada de muito diferente de um homem que viera não se sabe de onde, e que até onde se sabia, só entendia de animais e peões.
Ludmila ao ouvir o comentário maldoso do homem, disse-lhe que deveria ter respeito por seu futuro marido, o qual, independente de ser peão ou não, era um homem de valor, como poucos, e que sua honestidade a fez ver que ele era uma pessoa muito especial.
O capataz ao ouvir as palavras da moça, engoliu em seco. Em que pese a expressão contrariada, pediu desculpas e se afastou.
Jurema que ouvira as palavras da patroa, fez questão de comentar com as amigas sobre o fato.
Era fato público e notório que o capataz possuía algum interesse na jovem.
Alguns maledicentes diziam que o interesse era antigo, existindo mesmo nos tempos em que moça estava em primeiras núpcias com o falecido Antenor.
Valdomiro, sempre que ouvia este tipo de comentário, tratava logo de chamar a atenção de todos, dizendo que aquilo era maledicência e que ninguém sabia de fato o que se passava no coração das pessoas. Argumentava que as pessoas falavam o que pensavam.
Muitos diziam que não eram somente palavras, e que estava escrito na face de Emerson, o interesse dele em Ludmila.
Todos diziam que somente ela, ainda não havia percebido o interesse do homem.
Valdomiro ficava contrariado com os comentários.
Nisto, com o tempo, o moço passou a comandar os peões, recebendo uma remuneração.
Isto não foi suficiente para evitar que continuassem a comentar que Lúcio havia assegurado seu futuro.
Lúcio também não suportava a hipocrisia das pessoas, as quais parabenizavam-no pelo matrimônio, e depois o criticavam pelo mesmo fato.
Ludmila ao vê-lo incomodado com este fato, dizia-lhe que não seria possível convencer as pessoas da coisa mais maravilhosa que eles tinham.
Nestes momentos a mulher segurava as mãos do moço.
Lúcio, constrangido com as mãos calejadas, tentava escondê-las.
Ludmila, percebendo isto, dizia que tinha muito orgulho daquelas mãos.
Falava que se Deus lhe havia trazido um homem simples, e de mãos calejadas para sua vida, era por que havia um propósito naquilo. Dizia que talvez fosse um ensinamento de amor e humildade, para com o exemplo deles, mostrar que algumas coisas estão acima das convenções.
Os olhos de Lúcio observaram o semblante da moça, comovidos.
Ludmila por sua vez, continuou a dizer que eles eram pessoas de sorte, predestinadas, e que apesar de todos os problemas, dizia que não estava arrependida.
Brincando, mencionava não se importar em estar sendo vítima de um golpe de um interesseiro, mais interessado em sua fortuna, ou seu baú, como diziam, do que nela.
Nisto, tornando a falar sério, a mulher ressaltou que sabia que o que movia a relação deles não era dinheiro, nunca fora.
Ludmila comentou ainda, que também fora criticada por casar-se com um homem bem mais velho do que ela, com filhos adultos, e endinheirado.
A fazendeira contou que muitos pensavam que ela também era uma interesseira e uma golpista. Disse que a impressão só foi inteiramente afastada, quando, em plena viuvez e pressionada pelos filhos de Antero, precisou arregaçar as mangas e com seu trabalho, angariar dinheiro para comprar a parte da fazenda correspondente a herança dos rapazes.
Ludmila comentou que precisou trabalhar de sol a sol para conseguir êxito na empreitada e que por diversas vezes, teve medo de não conseguir. Relatou que precisava conseguir manter a fazenda como no tempo de Antenor. Disse que tinha esta dívida de gratidão com ele. O primeiro homem a quem ela amou.
O moço ao ouvir isto, ficou um pouco incomodado.
A fazendeira, percebendo isto, disse-lhe que Antero fora o primeiro, e desta feita, ele a havia ensinado que é possível amar mais de uma vez, e de maneira diversa.
Lúcio que por um momento ficou a olhar para o assoalho de madeira da sala da fazenda, levantou o rosto e continuou observando-a com atenção.
Por último, a mulher comentou:
_ Mas o que se há de fazer? Língua não tem osso, e as pessoas são livres para pensarem o que quiserem. A nós só cabe sermos felizes. Não é?
Dito isto, aproximou do homem e beijou-lhe os lábios.
Lúcio abraçou-a.
Beijou-a também.
Jurema, ao entrar na sala e ver a cena, saiu pé ante pé, e retornou para a cozinha.
Jurema comentou com Rosa, que eles formavam um casal lindo.
Entusiasmada, disse que era um casal quase tão perfeito quanto ela e seu marido.
Rosa retrucava dizendo que nenhum casal conseguiria ser mais perfeito do que os dois. Dizia que Ludmila era livre como Lúcio, e que eles foram feitos um para o outro.
Jurema comentou que eles pareciam casal de fotonovela.
Lúcio passava as manhãs na lida com os peões.
Auxiliava a cuidar dos animais, recomendava a troca de ferraduras quando era necessário. Verificava se os animais estavam bem, se os peões estavam trabalhando de forma adequada.
Os homens marcavam os animais a ferro, para indicarem a origem dos mesmos; verificavam se estavam todos bem, deixavam-nos livres no pasto, cuidavam de sua alimentação, providenciavam água nos cochos.
Ludmila e Emerson percorriam as plantações, verificavam as colheitas, as sacas de café e de outros produtos produzidos na fazenda.
O homem registrava tudo em um livro de anotações, e mais tarde escriturava tudo.
Mais tarde, as mercadorias eram transportadas de caminhão, para a venda na vila próxima dali, e para outros lugares.
Ludmila por seu turno, também viajava para adquirir contatos, conhecer fornecedores, adquirir novos animais.
Agora casada, Ludmila costumava levar Lúcio consigo.
Na primeira vez que viajaram juntos, viajaram de trem na primeira classe.
O jovem, que não estava acostumado com o luxo e o requinte do vagão, comentou rindo que estava acostumado de viajar por horas em pé, e que não tinha idéia de que os carros da primeira classe eram tão luxuosos e confortáveis.
Contou que os outros carros não ofereciam conforto nenhum.
O moço por sua vez, usou na viagem, um bonito terno que Ludmila mandara confeccionar para ele.
O homem, ao receber o presente, ficou admirado com o corte e o luxo da roupa.
Chegou até a recusar o presente.
Ludmila no entanto, disse-lhe que caso recusasse o agrado, se sentiria ofendida.
Desta forma, mesmo sem jeito, o moço acabou aceitando o presente.
O mesmo se deu quando do casamento.
Lúcio possuía um terno antigo.
Ludmila ao se deparar com a roupa, disse-lhe que gostaria que ele usasse um terno claro, no dia do casamento.
Tanto fez que acabou por convencer o moço, a aceitar um terno claro, de presente de casamento.
Valdomiro interveio nesta questão dizendo-lhe que se estava casando com uma pessoa de posses, deveria aceitar o fato de que vez em quando, precisaria se apresentar de uma maneira melhor para as pessoas.
Lúcio porém dizia que não estava certo ela lhe presentear daquela forma, pois todos pensariam que ela estava tentando comprá-lo.
Valdomiro perguntou-lhe então se ele estava preocupado com o que as pessoas estavam pensando, ou estava interessado em ser feliz com a pessoa que escolhera para viver a seu lado.
Lúcio, surpreso com a pergunta, disse-lhe que estava mais interessado em Ludmila, mais do que em qualquer outra coisa.
Valdomiro respirou aliviado.
Disse-lhe que temia que este achasse mais importante o juízo das pessoas do que a própria felicidade.
O moço agora, demonstrando haver entendido o recado, resolveu aceitar o presente da moça.
Com efeito, no dia da viagem, Lúcio estava impecável.
Jurema ao vê-lo tão bem vestido, comentou que ele parecia outra pessoa com aquelas roupas.
Elogiando-o disse que estava muito elegante.
O peão agradeceu o elogio.
Ludmila, ao sair do quarto, trajava um lindo vestido estilo tubinho e salto alto.
Usava uma leve maquiagem e tinha os cabelos longos presos.
Lúcio ao vê-la tão arrumada, comentou que ela estava mais linda do que costume.
Ludmila ao ver o rapaz tão bem trajado, agradeceu o elogio e comentou que ele também estava muito elegante.
O moço usava calçados que brilhavam de tão bem lustrados.
E assim, o casal tomou um bom café da manhã.
Mais tarde, os criados levaram as malas do casal até o carro.
Dias antes da viagem, Ludmila perguntou a Lúcio se ele sabia dirigir.
Rindo, o rapaz disse que sim. Comentou que trabalhou como motorista durante algum tempo no período em que viveu na cidade.
Curiosa Ludmila perguntou-lhe se já havia vivido na cidade.
Lúcio respondeu-lhe que sim.
Durante quase um ano, comentou. Contudo, ao perceber que aquele não era seu lugar, resolveu voltar a viver em fazenda. Para tanto começou a oferecer seus préstimos como peão.
Ludmila certa feita, chegou a dizer-lhe que ele também era um enigma para ela às vezes.
Curiosa, a mulher comentou que conhecia muito pouco sobre a vida do moço.
Lúcio sorrindo, falava-lhe que o interessava a ela saber. Argumentava que sua vida não era tão interessante ao ponto de ficar relatando detalhes.
Ludmila comentou que ele sabia mais sobre sua vida, do que ela sobre a dele.
Sempre que ouvia este tipo de comentário da boca de Ludmila, o rapaz respondia que aquilo era só impressão dela.
O casal conversava muito.
Foi conversando que Lúcio deixou claro a ela, que não iria mudar o seu modo de vida, somente pelo fato de haver se casado com uma rica fazendeira.
A todo o momento argumentava que a única coisa que sabia fazer era trabalhar como peão.
Ludmila, depois de ouvir conselhos de Valdomiro e Leocádia, resolveu aceitar a única imposição do moço.
Conversando com Lúcio, respondeu que ele talvez fosse a única pessoa que conhecia, que não ficava impressionada com o fato de estar se casando com alguém de posses. Falava que outra pessoa faria questão de arranjar atribuições ditas mais importantes.
Lúcio respondia-lhe que nunca deixaria de ser um peão, e que tinha muito orgulho disto.
Nisto, durante a viagem, o casal dividiu sua cabine com outro casal.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
quarta-feira, 31 de março de 2021
CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 5
Lúcio por sua vez, segurou seu chapéu nas mãos e feliz, jogou-o para o alto.
Depois de alguns minutos, retornou a casa de Valdomiro.
O homem ao ver o amigo com um sorriso nos lábios, perguntou-lhe se o encontro havia sido bom.
Lúcio sorriu para ele.
Valdomiro comentou que ele não precisava dizer nada, seus olhos diziam tudo.
Curioso, perguntou-lhe se estava com fome.
Foi neste momento que o moço percebeu que a tarde caía e que já era hora do jantar.
Lúcio respondeu que sim.
Indiscreto, Valdomiro comentou:
- Vejo que o amor não diminuiu seu apetite.
Com isto, o homem jantou.
Conversou com Leocádia, com Luzia, e com os outros filhos do casal.
Mais tarde, recolheu-se em sua rede.
A noite lhe pareceu especialmente diferente.
As estrelas pareciam brilhar mais, o luar estava mais bonito.
O moço adormeceu sorrindo.
Sonhou com Ludmila observando-o dormir.
Animado, comentou com Valdomiro, haver sentido a presença da mulher junto dele.
O colono falou sobre a sintonia que havia entre eles.
Brincando, disse que estava vendo um casamento acontecer, com toda a pompa e circunstância.
Lúcio sorriu.
Disse que no momento, estavam apenas se conhecendo.
Ao ouvir isto, Valdomiro se aborreceu.
Argumentou que Ludmila era uma mulher séria. Não era pessoa para apenas um conhecimento.
Lúcio concordou.
Razão pela qual mencionou que estavam namorando.
- Bem melhor! Muito embora ela se preocupe com nóis como uma mãe, eu vejo nela uma filha. – redargüiu Valdomiro.
Lúcio disse que Ludmila era uma pessoa muito especial.
Valdomiro concordou com o ponto de vista do amigo.
Lúcio então, respondeu que não relutaria em casar-se com ela, se fosse de sua vontade. Argumentou apenas, que era cedo para pensar nisto.
Valdomiro entendeu.
Com isto, jantaram.
Mais tarde, todos se recolheram.
Muito cedo, se levantaram para mais um dia de trabalho.
Lúcio, se preparou para mais um dia de trabalho.
Cuidou dos bois e dos cavalos, marcou os animais recém adquiridos com o emblema da fazenda.
Almoçou sua marmita e retomou seu trabalho.
Os homens trabalharam até o sol começar a se pôr.
Era assim, começava a trabalhar na alvorada, e seguiam jornada afora até o pôr-do-sol.
Por fim, Lúcio voltou para casa, junto a seus companheiros.
Cavalgando, brincavam entre si.
Era uma convivência saudável.
Ao chegar na casa de Valdomiro, o moço cumprimentou Leocádia e suas filhas.
Mais tarde, tomou um banho, nos fundos da residência de Valdomiro.
Em seguida, os filhos do colono se banharam.
Jantaram juntos.
Conversaram.
Falaram sobre a lida na roça, e Leocádia comentou sobre a necessidade de comprar víveres.
Valdomiro respondeu-lhe que poderia ir até a venda e comprar apenas o indispensável.
Mais tarde um dos filhos de Valdomiro pegou um violão e ficou cantando modas de viola.
Lúcio ao ouvi-lo, comentou que ele cantava muito bem.
O rapaz agradeceu o elogio.
Com efeito, a distração de muitos colonos, era ouvir o rádio, e ouvir as canções falando do campo, das dificuldades, alegrias e tristezas daquela vida.
Também adoravam os bailes realizados com certa regularidade na vila.
Os casais aproveitavam para dançar um pouco.
Os jovens lançavam olhares para as moças.
Todos dançavam.
Conversavam. Contavam as novidades.
Os homens bebiam juntos. Falavam das criações de animais, das colheitas.
Os moços conversavam sobre a beleza das moças, as músicas que gostavam.
Ludmila também aproveitava para de vez em quando, ir ao baile.
Viúva, sua presença era sempre comentada.
Muitas mulheres diziam que ela deveria guardar luto e não ficar freqüentando festas.
Lúcio invariavelmente, a convidava para dançar.
Certa vez, ao ver a patroa dançando com o peão, Emerson resolveu inquiri-la.
Indagou-lhe se estava acontecendo alguma coisa.
Ludmila, a sós, respondeu que no momento não estava acontecendo coisa alguma.
Sorrindo, colocou a mão em seu ombro e recomendou-lhe que fosse se divertir.
Lúcio, que havia se afastado para pegar um ponche para a fazendeira, ao se aproximar e ver o administrador da fazenda conversando com ela, perguntou se estava tudo bem.
Ludmila respondeu que sim, estava tudo bem.
Emerson contrariado, pediu licença e retirou-se esbarrando em Lúcio, que não gostou do encontrão.
Foi o suficiente para que o copo com ponche, fosse vertido na camisa do moço.
Ludmila ao ver o acidente, pegou um lenço e emprestou-lhe.
Lúcio tentou limpar a roupa, em vão.
Ludmila então, comentou penalizada que a bebida manchara a roupa.
Nisto, uma mulher surgiu.
Dona Aparecida disse-lhe que pegaria emprestada uma camisa de seu marido.
Sugeriu-lhe então, que fosse até o banheiro para trocar a camisa.
Belchior o levou até sua casa.
Lá, Lúcio trocou de camisa.
Curioso, o homem perguntou que nunca vira Emerson tão agitado. Belchior comentou que ele estava há muito tempo sozinho, e que precisava encontrar uma mulher. Disse que não era bom um homem ficar muito tempo sem ninguém.
Lúcio perguntou se Emerson não era casado.
Belchior comentou que ele era viúvo, vindo a perder a esposa muito cedo. Comentou que o homem não chegou a ter filhos com a esposa.
Lúcio surpreso, disse que a história era parecida com a de Ludmila.
O homem concordou.
Indiscreto, chegou a dizer ter acreditado durante algum tempo, que ele estava interessado na fazendeira, mas que depois, ao ver Ludmila acompanhada, deixou de ter esta impressão.
Ao ouvir as palavras do homem, Lúcio perguntou quem fora companhia da mulher.
Belchior achou graça nas palavras enciumadas do moço.
Rindo, comentou que a companhia de Ludmila era ele.
Lúcio ficou envergonhado.
Constrangido, perguntou onde ficava o banheiro.
Belchior lhe indicou o caminhou.
Ofereceu-lhe uma camisa.
Lúcio encaminhou-se para o banheiro.
Lá, tirou a camisa manchada e trocou pela camisa limpa do homem.
Como a camisa fosse um pouco grande, o moço procurou ajeitar a roupa da melhor maneira possível.
Ao sair, agradeceu a Belchior.
Prometeu que devolveria a roupa devidamente lavada e limpa.
Belchior respondeu dizendo que não fora nada.
Nisto, o jovem voltou ao baile.
Ludmila dançava com Valdomiro.
Lúcio ao ver a dupla, pediu licença ao amigo e comentou que preferia que o término da dança fosse com ele.
Valdomiro agradeceu e se retirou.
Ficou ao lado da esposa, Leocádia.
Sorrindo, cumprimentou alguns passantes.
Disse a mulher que Lúcio e Ludmila faziam um belo par.
A mulher comentou que eles deveriam se casar logo.
Valdomiro concordou.
Mencionou que o relacionamento deles não era visto com bons olhos por muitas pessoas, e que um casamento para sacramentar a relação, faria todos se calarem e cessarem as maledicências.
Ludmila, com as mãos no ombro de Lúcio, e o rapaz segurando-a pelas costas, foram a atração do salão.
Dançaram juntos, boa parte da noite.
Foi justamente num desses bailes que o moço pediu a mulher em casamento.
Diante de todos os conhecidos de Ludmila, o rapaz sugeriu partilharem uma vida a dois pelo resto de suas existências.
Nervoso, bebeu um pouco de aguardente e ofereceu-lhe uma bonita jóia. Era um anel simples, somente para formalizar o compromisso.
Surpresa, Ludmila perguntou-lhe onde havia conseguido dinheiro para tanto.
Lúcio respondeu-lhe que se tratava de uma jóia da família, que havia servido de anel de noivado de sua mãe.
Emocionado, o moço comentou que no pouco tempo em que viveram juntos, seus pais foram muito felizes.
Brincando, disse apenas que gostaria de apenas, de poder viver muitos anos ao seu lado.
Ludmila, de posse da caixinha com a jóia, em suas mãos, agradeceu o presente.
Disse que fora uma das coisas mais singelas que alguém fizera por ela.
Lúcio retirou a jóia da caixinha e colocou o anel no dedo da moça.
Nisto, o moço perguntou a jovem se ela aceitava se casar com ele.
Ludmila respondeu trêmula, que sim.
Os convivas aplaudiram.
A fazendeira abraçou o moço.
Tempos depois, Ludmila e Lúcio casaram-se na igreja da vila.
Valdomiro conduziu a mulher até o altar.
A bela jovem trajava um vestido colorido.
Lúcio vestia um terno cinza, com uma flor na lapela.
Muitos criticaram o enlace.
Inclusive uma das filhas de Valdomiro.
O homem, ao saber disto, comentou que não estava interessado em ouvir maledicência. Argumentou que Ludmila era a patroa deles e que se Lúcio a pedira em casamento, era por que tinha amor nela e ninguém tinha o direito de fazer críticas.
As moças calaram-se então.
Com efeito, a cerimônia simples e bonita, encantou a muitos, que ficaram emocionados com a união do casal.
Jurema, ao lado do marido, acompanhou a cerimônia emocionada.
Foram muitos bailes, até acontecer o pedido de casamento.
Por diversas vezes, Lúcio buscou ponche para a moça.
Dançaram muito juntos.
Ludmila era só sorrisos na presença do moço.
Eles também se encontraram muito, a beira do rio.
Conversavam.
Abraços, beijos, brincadeiras.
Lúcio pescava.
Certa vez, assou um peixe para ela as margens do rio.
Lúcio e Ludmila caminhavam juntos, conversavam.
Cavalgavam. Apostavam corridas.
Gentil, Lúcio sempre a deixava ganhar as corridas.
Lúcio adorava beijá-la.
Ludmila agora, estava mais acostumada com o jeito impetuoso do moço.
Lúcio gostava de provocá-la, dizendo que ela voltaria a ser uma dona de casa.
Ludmila, sempre que ouvia estas palavras, dizia que jamais deixaria de cuidar das terras que tanto amava.
O moço ria.
Lúcio admirava Ludmila.
Conversando com a moça, respondeu-lhe que jamais a impediria de continuar de trabalhar com algo que amava tanto.
Ao ouvir isto, a jovem tranqüilizou-se.
Temia que ele colocasse obstáculos.
Por diversas vezes, chegou a dizer que nunca abandonaria a fazenda.
Lúcio comentou que também gostava daquele lugar.
Acrescentou que não tinha a menor intenção de transformá-la em uma rainha do lar.
Ludmila, ao ouvir estas palavras, comentou que às vezes ele parecia demasiado evoluído para aquelas terras e para aquele tempo.
Lúcio retrucava dizendo que tudo não passava de bobagem.
Constrangido, o moço foi abraçado por Ludmila, que dizia admirá-lo muito.
Lúcio ficou vermelho.
Ludmila achava graça quando o moço ficava encabulado.
Quando o rapaz visitava Ludmila na casa grande, levava flores para ela.
Jurema e Valdomiro permaneciam na sala, quando das visitas.
Diziam que a moça era livre, mas não ficava bem eles permanecerem a sós.
Lúcio por seu turno, tentava ficar a sós com a moça, chamava-a para um canto, mas Valdomiro sempre se aproximava e perguntava se estava tudo bem.
Desta forma, o casal só conseguia permanecer a sós, quando se encontravam na beira do rio.
Ninguém sabia dos encontros.
Juntos, compartilhavam da companhia um do outro, conversavam, dividiam sonhos, admiravam de forma contemplativa a paisagem.
O verde das paragens, o azul das águas do rio, as árvores, o canto dos pássaros.
Lúcio assobiava imitando o som dos bichos.
Ludmila ficava encantada com a habilidade do moço.
Em dado momento, ao conversarem sobre política, o jovem deixou escapar, que as pessoas no campo, costumavam ser muito exploradas e que já era tempo de se mudar as coisas. Comentou que havia uma revolução acontecendo na cidade grande, e que isto precisava se espalhar pelo campo.
Lúcio comentou que havia ligas camponesas, e campesinos empenhados em melhorar as condições de vida no campo.
Ludmila, ao ouvir isto, perguntou-lhe se achava que ela explorava seus empregados.
Lúcio respondeu que os camponeses eram obrigados a adquirir víveres na venda da fazenda.
Ao ouvir isto, a mulher respondeu que se fossem adquirir bens na venda existente na vila, teriam dificuldades de acesso ao local, e que não vinculava o salário dos trabalhadores a compra em sua venda.
Lúcio ao ouvir as palavras da fazendeira, concordou.
Mencionou que algumas pessoas faziam compras na vila.
Acrescentou contudo, que nem todos os fazendeiros faziam o mesmo. Relatou que as condições de vida no campo eram difíceis, e que os homens e mulheres que ali viviam, não deveriam viver como escravos.
Ludmila, ao perceber o gesto exaltado do moço, pediu para que ele se contivesse.
Recomendou-lhe que não comentasse aquele ponto de vista com ninguém. Disse que aqueles eram tempos difíceis, e que qualquer palavra mal colocada, poderia colocá-lo em uma situação delicada.
Nervosa, Ludmila perguntou-lhe se havia comentado com alguém sobre aquele ponto.
Lúcio respondeu-lhe que não.
Preocupada, a mulher perguntou-lhe se ele estava envolvido em alguma atividade política subversiva.
O moço, surpreso com a pergunta, respondeu-lhe que não.
Ludmila, colocando as mãos na boca do moço, disse:
- Você não pode dizer o que disse para mim, nem para sua sombra. Isto é muito perigoso! Tenha cuidado, não se envolva com isto.
Lúcio prometeu não se envolver com este tipo de atividade.
Com isto, o jovem procurou dissipar as preocupações da moça.
Começou a assobiar o campo das aves. Dizia que eram canoras.
Ludmila ficava a procurar a ave. De onde vinha o som que o moço imitava?
Com o tempo, o casal resolveu se casar.
Antes, o moço convidou Ludmila para um almoço.
Um almoço que foi preparado para Lúcio e a família que acolhera o rapaz.
No tocante ao enlace, haviam também insinuações veladas para o fato do moço ser um simples peão, e ela uma rica fazendeira.
Valdomiro e Leocádia, ficavam contrariados com a maledicência.
Lúcio por sua vez, não gostava das insinuações.
Por diversas vezes ameaçou brigar.
Não fosse impedido por Valdomiro, teria brigado com outros peões.
Com efeito, este era o único fato que aborrecia o moço.
Irritado, dizia a Valdomiro que não estava se casando por interesse.
Afirmava que Ludmila era uma mulher muito especial.
Com isto, depois da cerimônia de casamento, Lúcio pediu licença ao cocheiro que conduzira Ludmila até a vila. Disse que ele mesmo conduziria o animal.
O homem concordou. Seguiria dali de carro, acompanhado de moradores da fazenda.
Nisto o recém casado, conduziu a esposa de charrete.
A certa altura do caminho, o moço resolveu parar.
Ludmila, vestida de noiva, não compreendeu o que estava acontecendo.
Curiosa, perguntou por que haviam parado.
Lúcio aproximou-se da jovem e segurando sua mão, auxiliou-a descer da charrete.
Ludmila estava deslumbrante em seu vestido de noiva florido.
O moço também estava impecável.
Ludmila ao ser conduzida a um riacho, perguntou ao então marido, para onde ele a estava levando.
Lúcio disse que logo logo ela descobriria.
Caminhando, Ludmila mencionou que usava salto e que não conseguiria andar por aquelas paragens por muito tempo.
O jovem, percebendo o desconforto da moça, aproximou-se e segurou-a nos braços.
Ludmila, argumentou que não era necessário.
Lúcio respondeu que sim, era preciso.
Após alguns minutos, o moço apresentou-lhe o magnífico cenário.
Era o mesmo local onde se encontraram pela primeira vez, e que se reencontraram por diversas vezes.
Lúcio disse que aquele era o paraíso dos dois.
O lugar para onde poderiam correr sempre que quisessem reviver boas lembranças, e também onde viveriam outras ainda mais belas.
Sorridente, o moço comentou que fora muito feliz naquele lugar, e que gostaria de ser ainda mais feliz por ali. Comentou que era um homem de sorte por havê-la conhecido.
Foi então que Ludmila abriu um enorme sorriso.
Emocionada, chegou a chorar.
Por um momento temeu tanta felicidade.
Neste momento, o sorriso sumiu de seu rosto.
Ludmila comentou que sempre que estava vivendo um momento muito feliz em sua vida, acontecia algo para lhe tirar a felicidade.
Olhando para o moço com certa melancolia, disse-lhe que talvez não agüentasse sofrer uma segunda perda. Comentou que preferia ir embora primeiro, a ser viúva novamente.
Lúcio, ao ouvir estas palavras, retrucou dizendo:
- Deixa de bobagem! Ninguém aqui vai morrer tão cedo!
Nisto o moço aproximou-se da moça e a abraçou.
Lúcio cantou-lhe uma moda que ouvira no rádio.
Lá, dançaram ao ouvir do marulhar das águas, o gorjeio dos pássaros, o balançar das folhas no vento.
Antes de rumarem para a fazenda, receberam os convidados no salão paroquial da vila.
Cumprimentaram os convidados, que já os haviam felicitado na porta da igreja.
Dançaram juntos, cortaram o bolo de casamento.
Partiram.
Enquanto isto, os convidados dançaram, conversavam entre si.
Valdomiro comentou que os recém-casados estavam muito felizes.
Lúcio e Ludmila caminharam às margens do rio.
O moço recostou-se a beira de uma árvore.
Com isto, convidou a moça aproximar-se.
Ludmila, impecavelmente vestida e utilizando um salto, argumentou que não seria possível sentar-se na relva, usando um vestido de festa.
Ao ouvir isto, Lúcio levantou-se, e auxiliou a moça a retirar os sapatos.
Sem alternativa, só restou a moça, sentar-se.
Ludmila acomodou-se nos braços do moço.
Lúcio então, começou a fazer planos.
Disse que gostaria de ter muitos filhos. Que os ensinaria a gostar da vida no campo.
Ludmila ficava ouvindo.
Ouvindo e achando graça.
Depois, o moço carregou a moça nos braços até a charrete.
Ajudou-a a subir.
Antes de partir, colocou os sapatos nos pés da moça.
Em seguida, rumaram para casa.
Percorreram a estrada de terra, com muitas árvores, muito verde.
O caminho parecia aos dois, mais bonito do que de costume.
Ao chegarem a sede da fazenda, o moço perguntou a ela sorrindo:
- Está tudo diferente ou é só impressão? Parece que a casa está mais bonita, o caminho estava diferente!
Ludmila respondeu que a alegria fazia tudo ficar diferente.
Com isto, a beira da escadaria, o moço carregou a moça novamente nos braços.
A moça protestando, disse que não era necessário.
Lúcio argumentou que isto era necessário por que trazia sorte.
- Que remédio! – respondeu a moça.
O peão subiu então as escadarias da entrada da casa, levando-a nos braços.
Percorreu a varanda.
Adentrou as dependências do imóvel.
Passou pela sala, atravessou o corredor.
Enquanto caminhava, perguntou a moça se poderia levá-la para o quarto.
Ludmila pediu para colocá-la no chão.
Lúcio recusou-se. Disse que a levaria até o quarto. Razão pela qual perguntou onde ficava.
A mulher só restou dizer onde se localizava.
O rapaz a conduziu até o lugar.
Ao entrar no cômodo, deixou-a em frente a uma penteadeira.
Lúcio ficou encantado com a arrumação do lugar.
Embevecido, respondeu que nunca havia visto um quarto tão grande.
Curioso, perguntou se podia tocar na cama.
Ludmila respondeu que sim.
Tímido, o rapaz se aproximou, tocou o colchão, o qual considerou muito macio, e sentou-se na cama.
Rindo, comentou que estava afundando.
Nisto, deitou-se na cama.
Ao ver Ludmila de pé diante dele, perguntou se ela não iria se aproximar.
Ludmila estava encantada com o entusiasmo do moço.
Recordou-se que o moço há tempos, não sabia o que era uma cama.
Sorriu para ele.
Lúcio, sentou-se novamente. Começou então a pular na cama.
Ludmila comentou:
- Então estou diante de uma criança! Veja só, um homem feito desses, brincando como se fosse um menino!
Ao ouvir isto, o moço parou de pular.
A fazendeira, percebendo o constrangimento do moço, começou a rir.
Lúcio levantou-se e aproximando-se da mulher, segurou-a pelo braço.
Conduziu-a até a cama.
Ludmila ao ver-se ao lado de Lúcio, por um momento, ficou sem saber o que dizer e o que fazer.
O moço também ficou momentaneamente constrangido.
Entreolharam-se.
Em dado momento, o jovem rapaz comentou, rindo:
- Tanto tempo esperei por isto, e agora que realizei o meu maior sonho, eu não sei o que dizer, nem como agir.
Ludmila percebeu o nervosismo do moço.
Comentou que já fora casada antes, e que também não sabia como agir.
Lúcio pediu-lhe desculpas.
Ludmila por sua vez, respondeu que não havia o que ser perdoado.
O moço então, tomado de uma iniciativa repentina, segurou novamente a moça nos braços.
Deitou-a sobre a cama.
Em seguida, deitou-se a seu lado e aproximando-se, beijou-a.
Abraçaram-se.
Belo início para uma vida de amor.
No dia seguinte, o vestido de noiva estava pousando sobre um baú e o terno do moço estava ao lado do vestido, com os sapatos e acessórios próximos.
O casal dormia placidamente.
Lúcio acolhia a moça.
O moço, ao despertar, ao perceber que a moça dormia em seus braços, permaneceu deitado.
Ficou observando o sono da agora esposa.
Ludmila por sua vez, depois de algum tempo, acabou por despertar.
Ao acordar, recebeu de pronto um sorriso e um bom dia.
A mulher retribuiu a saudação e perguntou espreguiçando-se, se havia dormido bem.
Lúcio respondeu que sim.
Beijando-a, disse entre sorrisos que há tempos não se sentia tão bem.
Ao lembrar-se do quanto fora sozinho em sua vida, emocionou-se.
Com olhos lacrimejando, comentou que não era mais sozinho, que possuía uma família.
Ludmila também comoveu-se.
Respondeu-lhe que sabia exatamente o que era sentir-se sozinha no mundo, pois por muito tempo, ela também fora só.
Lúcio redargüiu então. Disse-lhe que nunca mais seriam sós. Animado, relembrou-se do projeto de ter filhos. Comentou que gostaria de ter muitos meninos e algumas meninas.
Ao ouvir as palavras do moço, a fazendeira riu.
Comentou que ainda era muito cedo para pensar em filhos.
Lúcio respondeu-lhe que agora deveriam se preocupar em tomar um bom café da manhã.
Mais tarde, devidamente compostos, o casal se encaminhou para a sala de jantar.
Jurema serviu-lhes um caprichado desjejum com frutas, pão feito na cozinha da fazenda, queijo, geléia. Havia suco de laranja, café.
Animada, a criada disse que era suco de laranja colhida na fazenda e que o café, também era produto do lugar.
Com isto, serviu a bebida em uma xícara, para o casal.
Lúcio e Ludmila agradeceram a gentileza.
Comeram pão, queijo fresco, geléia.
A todo o momento Jurema dizia que havia feito para eles, quase tudo o que havia na mesa.
Comentou animada que a geléia era uma especialidade dela.
Com isto, depois de devidamente servir o casal, a mulher despediu-se.
Ao sair, comentou que sabia que nestes momentos as pessoas gostavam de um pouco de privacidade.
Lúcio e Ludmila, ao ouvirem o comentário, começaram a rir.
A mulher bebeu café.
Lúcio serviu-se do suco.
Comeram mais um pouco.
Lúcio ofereceu um pedaço de pão, colocando-a na boca da moça.
Mais tarde, depois de ouvirem um pouco de rádio e conversarem a sós, o casal saiu para cavalgar pela fazenda.
Valdomiro, ao ver o casal passeando a cavalo, cumprimentou-os.
Lúcio e Ludmila retribuíram o cumprimento.
Mais tarde o homem comentou que a melhor coisa que eles fizeram foi se casar.
Leocádia concordou. Disse que eles eram muito sozinhos.
Valdomiro completou dizendo que agora não mais.
Passeando pela fazenda, Ludmila mostrou ao moço, um rio e uma pequena cachoeira.
Lúcio intrigado, comentou que não sabia que aquelas terras também lhe pertenciam.
Ludmila respondeu que poucas pessoas sabiam onde ficava aquele lugar.
O moço ficou encantado com o ambiente.
Perguntou a mulher se não poderia nadar um pouco.
Ludmila tomada de curiosidade, perguntou-lhe se sabia nadar.
Lúcio respondeu-lhe que sim.
A fazendeira retrucou dizendo que precisava providenciar um calção de banho para ele.
O rapaz ao ouvir isto, respondeu que não era necessário.
Ao ouvir isto, a mulher perguntou-lhe:
- E como o senhor pretender nadar? Vai molhar suas roupas e chegar encharcado em casa?
Lúcio ao ouvir isto, respondeu que poderia não molhar suas roupas e nadar.
Ludmila, retrucou:
- Mas que idéia? E se aparecer alguém?
Lúcio riu. Disse que estava só brincando. Jamais faria isto.
Ludmila respondeu que assim esperava.
Nisto o moço aproximou de seu cavalo. Desabotoou sua camisa, tirou sua calça, retirou os sapatos, e ficou apenas com uma peça.
Ludmila ao ver a cena, censurou-o.
Lúcio então, segurando a mulher pelo braço, pediu para que se despisse também.
Ao ouvir o pedido do marido, a jovem ficou perplexa.
O moço, percebendo a inibição da jovem, aproximou-se dela, e puxando-a, caminhou na direção dos cavalos.
Disse que não havia problemas, argumentou que ninguém os veria.
Ludmila relutou. Argumentou que não ficaria bem se alguém os visse se banhando seminus na cachoeira.
Lúcio argumentou:
- Vamos Ludmila! O que é que tem? Ninguém nos verá. Afinal de contas está tão quente. Temos todo o direito de nos refrescarmos... Anda, vamos. O que é que custa?
A fazendeira continuava reticente.
Lúcio puxou-a para junto de si e beijou-a.
Cochichando em seu ouvido, disse que a água parecia ser fresca, e a cachoeira bem convidativa.
Chegou a pedir:
- Vamos! Deixa de bobagem!
Diante de tal apelo, a moça acabou capitulando.
Retirou a camisa, a calça, as botas, permanecendo apenas, com uma combinação.
Lúcio então a conduziu até a margem do rio.
Caminharam até a cachoeira.
O moço foi quem primeiro mergulhou nas águas.
Ludmila entrou logo em seguida.
Nadou e mergulhou na cachoeira.
Lúcio jogou água em Ludmila.
A mulher pediu para ele parar.
Lúcio aproximou-se então de Ludmila, que estava de costas para ele.
Segurou-a pela cintura. Encostou seu rosto no rosto dela.
Ficaram juntos observando o movimento das águas.
O barulho das águas descendo das pedras.
Admiraram o azul do céu.
Mais tarde, descansando embaixo de uma árvore, Lúcio começou a observar as nuvens.
Brincou dizendo com que elas se pareciam. Uma lhe lembrava um rosto, uma paisagem, um animal.
A certa altura, Ludmila levantou-se. Disse que precisavam voltar para casa.
Lúcio indagou o porquê.
A fazendeira respondeu de pronto:
- Meu estômago está pedindo para voltar para casa.
Ao estas palavras, Lúcio admitiu que também estava com fome.
Animado, respondeu que da próxima vez que rumassem para lá, deveriam levar uma cesta de pequenique. Assim, não teriam que voltar para casa tão cedo.
Com isto, trataram de colocar suas roupas.
Cavalgando, voltaram para casa.
Quando viu o casal molhado, Jurema perguntou onde eles haviam ido.
Ludmila respondeu que estavam andando por aí.
Rosa, ao ver Jurema indagando a patroa, chamou-lhe a atenção.
Jurema ignorou a bronca.
Na cozinha, Jurema argumentou que só estava querendo ajudar.
Ludmila e Lúcio foram até o quarto trocar de roupa.
Almoçaram e depois ficaram ouvindo um pouco de rádio.
Ouviram modas de violas, notícias sobre o presidente Costa e Silva.
Lúcio, sempre que ouvia o nome do militar, ficava contrariado.
Ludmila, ao perceber isto, recomendou-lhe que fosse mais discreto em suas manifestações verbais. Argumentou que os tempos não eram fáceis, e que qualquer palavra mal colocada, certamente seria mal interpretada.
Lúcio ao ouvir estas palavras, retrucou dizendo que as coisas precisavam mudar. Dizia que as pessoas tinham muito medo das mudanças.
Ludmila, ao ver Rosa se aproximando, comentou que estava planejando adquirir mais alguns animais, e que para tanto talvez precisasse viajar.
Ao ouvir a palavra viagem, o moço ficou surpreso.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 4
Ao chegar no riacho, a moça apeou do cavalo.
A mulher recostou-se em uma árvore.
Observou o movimento das águas, o verde das matas, as árvores.
O céu, com algumas nuvens.
Recordou-se da infância na capital, sua casa repleta de árvores, onde encostava-se em uma delas e ficava imaginando o formato das nuvens. Brincava que eram cavalos, bichos, árvores, casas, pessoas, montanhas. Ficava horas exercitando a imaginação.
Recordou-se do dia em que assistiu com Antenor, a um filme de Mazzaropi.
Emocionado, o homem se encantou com o ator, dizia que suas histórias eram singelas e delicadas.
Ludmila concordava.
Triste, a moça perguntava a si mesma, por que ele havia partido tão cedo, e a deixado tão sozinha?
Mais tarde, a mulher passou em frente a escola onde lecionara.
De longe observou a professora ensinando a tabuada.
Por um momento, chegou a se emocionar.
Lúcio, que passava por ali, ao perceber que a mulher estava entretida observando a aula pela janela, chamou-a.
Assustada, a moça voltou-se para ele.
Os olhos da mulher estavam cheios d’água.
Lúcio ao vê-la tão emotiva, perguntou:
- Está tudo bem?
- Sim! – respondeu lacônica, enxugando os olhos.
- Pois não parece. – insistiu o moço.
Tentando desconversar, a mulher respondeu que um cisco havia caído em seu olho.
- Ah sim! Nos dois olhos! Curioso. – comentou o rapaz quase rindo.
Ludmila irritou-se.
Nervosa a moça respondeu agressiva:
- O que é que tem? Nunca caiu um cisco no teu olho?
Lúcio riu.
Ludmila ao perceber isto, perguntou:
- Do que você está rindo?
Tentando se controlar, o moço pediu desculpas.
Disse que não tivera a intenção de destratá-la, mas que ficar disfarçando que estava emocionada, era uma grande bobagem.
Curioso, perguntou-lhe por que aquela cena lhe evocava tanta emoção.
Ludmila respondeu que não havia nada demais ali. Apenas acompanhava uma aula.
Lúcio continuou perguntando por que aquilo tinha um significado tão especial para ela.
Sem alternativa a mulher explicou que era normalista. Freqüentara o curso normal.
Relatou que ao se formar, recebeu uma proposta de trabalho em um vilarejo no interior do estado. Comentou que amigos a indicaram para o trabalho ao perceberem que ela precisava de emprego, ao se ver sozinha, sem parentes, e ajudaram-na com o emprego.
Argumentou que como não tinha mais parentes na capital, foi mais fácil começar do zero.
Ludmila revelou que lecionou por meses, e que após casar-se, continuou lecionando por algum tempo. Até passar esta incumbência a outra pessoa. Saudosa, comentou que às vezes sentia falta do trabalho. Comentou que era fascinante ajudar a formar um cidadão.
Lúcio ficou encantado com a história. Argumentou que entendia sua ligação afetiva com o lugar.
Nisto, caminharam juntos por algum tempo.
Conversaram sobre a vida na fazenda.
Lúcio comentou sobre seu trabalho. Argumentou que gostava da vida na fazenda.
Mais tarde, com o sol começou a se pôr, o moço retornou a casa.
Conversou com Valdomiro.
Perguntou sobre o que estava conversando com Ludmila.
O homem respondeu a fazendeira perguntou o ele achava do trabalho dele.
Curioso, o jovem perguntou o que ele respondera.
Valdomiro contou-lhe.
Ao ouvir as palavras do homem, Lúcio ficou envaidecido.
Indiscreto, Valdomiro comentou ter dito a mulher que ele era um ótimo partido.
Lúcio caiu na risada. Desconfiado, indagou:
- Não! O senhor não disse isto!
Valdomiro respondeu que sim. Que dissera isto.
Nisto, Lúcio perguntou se Ludmila era professora.
Valdomiro contou que a mulher lecionava na escola da vila. Comentou que foi assim que ela conhecera o falecido Antenor. Contou sobre a história do casal, a viuvez da mulher, o período em que lecionou na escola da fazenda.
Comentou que a escola era um sonho de Antenor, que não queria que nenhum filho de colono ficasse sem o primário.
Valdomiro falou sobre a generosidade de Ludmila.
Argumentou que era uma patroa exigente, mas humana.
Lúcio ouvia a tudo com muito encantamento.
A cada dia que passava, mais aumentava o seu encantamento e admiração pela mulher.
Luzia, filha de Valdomiro, estava interessada no moço, mas como o rapaz não demonstrava interesse por ela, desistiu.
Durante a festividade na vila, ficou esperando o rapaz convidá-la para dançar.
O que não ocorreu.
Com o tempo, a moça arrumou um pretendente. Esqueceu-se da paixonite.
No domingo, Ludmila dirigiu seu carro até a vila.
Queria acompanhar a missa. O que fazia todos os domingos.
Mais tarde, depois de visitar amigos e conhecidos na vila, retornou a fazenda.
Lúcio por sua vez, saiu novamente para pescar. Só que desta vez, seguiu acompanhado de Valdomiro e seus filhos.
Ao conseguir pescar alguns peixes, o moço se despediu do homem e de seus filhos.
Valdomiro ficou surpreso com a reação do moço, perguntou-lhe onde estava indo.
O rapaz respondeu que se tudo desse certo, ele não voltaria para almoçar.
Pediu ao amigo para que se desculpasse com Leocádia e com as moças.
Nisto recolheu os peixes colocando-os numa cesta e amarrou-a na cela.
Montou no cavalo e sumiu do campo de visão de Valdomiro.
Curiosos, os moços perguntaram onde ele ia.
Valdomiro comentou que fazia uma vaga idéia, mas não comentou a respeito.
Os rapazes ficaram inconformados.
Lúcio encaminhou-se para a sede da fazenda.
Ao se aproximar da propriedade, apeou do cavalo, amarrando-o junto uma árvore.
Retirou o cesto do cavalo.
Jurema, ao notar a aproximação, dirigiu-se ao alpendre.
Ao ver o rapaz carregando uma cesta, perguntou-lhe o que desejava.
Lúcio cumprimentou-a e perguntou sobre Ludmila.
Jurema respondeu que acabara de voltar da missa. Com isto, pediu licença e chamou a patroa.
Ludmila surpreendeu-se ao tomar conhecimento de que Lúcio solicitava falar-lhe.
A mulher encaminhou-se ao alpendre.
Lúcio ao vê-la, perguntou-lhe como estava.
Ludmila respondeu que estava bem.
Lúcio perguntou-lhe se já havia almoçado. Indagou se não gostaria de saborear um peixe recentemente pescado.
Como Ludmila não compreendesse o que o moço dizia, Lúcio abriu o cesto que carregava e mostrou-lhe os peixes que havia pescado.
Ludmila perguntou-lhe por que não oferecera os peixes a Leocádia.
Lúcio respondeu que havia pescado os peixes para uma ocasião especial.
Nisto, perguntou se poderia entrar.
Ludmila assentiu com a cabeça.
Ao adentrar a sede, o moço perguntou onde poderia preparar os peixes.
A fazendeira, ao ouvir as palavras do moço, ficou deveras surpresa.
- Preparar os peixes? Você vai preparar os peixes?
Sorrindo, o moço respondeu que sabia fazer algumas coisas na cozinha. Comentou que vivendo algum tempo sozinho, precisou aprender a se cuidar.
Ludmila respondeu-lhe que poderia deixar os peixes na cozinha. Indicou-lhe o caminho.
Ao lá chegar, mostrou o fogão a lenha, as panelas, as colheres, os pratos, enfim, os utensílios.
Nisto o moço depositou o cesto em uma mesa, colocou um dos peixes numa bacia e pegando uma faca, começou a limpá-lo.
Disse que cozinhar era uma arte e que as mulheres iriam experimentar uma iguaria sem comparação.
Jurema, ao ouvir os comentários do moço, comentou que não sabia se o prato ficaria bom, mas que a modéstia era um caso a parte.
Todas as mulheres que estavam na cozinha riram.
Lúcio por sua vez, respondeu:
- Riam! Mas depois de provarem a iguaria vocês verão que eu estou certo.
Nisto o moço começou a abrir um peixe, retirou suas espinhas, as vísceras.
Temperou os peixes e os assou.
Para completar, pediu uma travessa para colocar os peixes.
Ludmila enfeitou com alface, tomate e batatas.
Jurema preparou arroz, e um suco.
Valdomiro, por sua vez, ao chegar em casa com uma cesta cheia de peixes, acompanhado dos filhos, chamou a atenção de Leocádia, que perguntou por Lúcio.
O homem respondeu que moço tinha outros planos e que pelo visto, não voltaria tão cedo.
Luzia não gostou muito do comentário.
Com isto, Leocádia e a filha prepararam o almoço.
Na sede da fazenda, Ludmila, Jurema e as criadas saborearam o peixe preparado pelo moço, na mesa que havia na cozinha.
As criadas limparam a bagunça da cozinha, lavaram os utensílios domésticos.
A cozinha ficou uma maravilha.
E ali, acomodados, todos saborearam a comida.
Ludmila foi a primeira a provar a comida.
Disse que o peixe estava muito bom. Brincou com o moço dizendo que ele era muito prendado, e já podia casar.
Lúcio respondeu brincando que já vinha pensando na possibilidade.
Curiosa, Jurema perguntou se ele já tinha alguém em vista.
Lúcio respondeu que talvez, mas que não tinha a certeza se a pessoa em questão estava interessada nele.
Jurema achou romântico.
Sorrindo comentou que ele devia se acertar com alguém, assim como ela havia se acertado com seu noivo. Contou feliz, que dentro em breve se casaria.
Lúcio ao ouvir as palavras da moça, parabenizou-a.
Jurema comentou que o noivo estava viajando, mas que assim que retornasse, ela o apresentaria a ele.
Conversaram animadamente.
Em dado momento Lúcio comentou que decidira permanecer no campo, e que por esta razão passou a viver sozinho.
Motivo pelo qual precisou aprender a cozinhar.
Jurema perguntou pelos parentes e Lúcio respondeu que seus pais eram falecidos.
Haviam morrido quando ele era uma criança, vitimados pela tuberculose.
Ao ouvirem isto, todas as mulheres ficaram chocadas. Uma delas chegou a comentar que devia ser muito triste a vida de quem não tinha parentes próximos.
Lúcio falou que já estava acostumado a viver sozinho.
De início vivera em casa de tios, mas ao alcançar a maioridade, resolveu cuidar da própria vida.
Depois do almoço, as mulheres ficaram na cozinha.
Ludmila e Lúcio seguiram para a sala.
Ficaram ouvindo música.
O moço aceitou a oferta da aguardente.
Lúcio, tentando puxar assunto, comentou que fazia anos que não entrava em uma igreja.
Ludmila comentou que gostava de participar da missa. Brincando dizia que era uma forma de resguardar seu lado feminino.
O rapaz ao ouvir isto, disse-lhe que era muito feminina.
Ludmila achou graça. Disse que passava o tempo todo de calça, botas, chapéu e o cabelo preso.
Lúcio indiscreto, comentou que seu cabelo devia ser muito bonito.
Ludmila fingiu não ouvir.
Mais tarde, o moço contou que descobrira um lugar encantador para cavalgar.
Ludmila argumentou que conhecia a fazenda em todos os seus meandros.
Como o moço não conhecesse o significado da palavra, Ludmila explicou-lhe.
A certa altura, a mulher lhe perguntou se havia freqüentado a escola.
Lúcio, sentindo-se ofendido, comentou que era alfabetizado sim, e que assim feito o curso primário, na fazenda onde nascera. Argumentou que não estudara mais por falta de oportunidade.
No que Ludmila falou-lhe que seu vocabulário era rico, falava corretamente e possuía maneiras bastante educadas para um campônio.
Lúcio não gostou do que ouviu.
A mulher, percebendo isto, argumentou que não tivera a intenção de ofender. Apenas estava fazendo uma constatação. Relatou que como professora, sabia ver quem tinha potencial para ser um bom aluno. Mencionou que ele tinha uma mente muito lúcida e que com lápis e um caderno nas mãos e uma boa orientação, poderia se tornar alguém brilhante.
Aborrecido, o rapaz respondeu que não gostaria de ser brilhante. Argumentou que estava bem, sendo o que era.
- Entendo! – respondeu Ludmila.
Nisto, o moço, tentando mudar de assunto, convidou-a para um passeio.
Ludmila, incomodada por haver aborrecido Lúcio, concordou.
Disse-lhe que precisava desfazer o mal entendido.
E assim cavalgaram juntos.
Jurema chegou a ver a patroa e o peão a cavalo.
Sumiram na poeira do horizonte.
Cavalgando, chegaram em um lugar com muitas árvores, uma nascente, próxima ao pomar da fazenda.
Ludmila comentou que fazia muito tempo que não passava por ali.
Lúcio respondeu que gostava daquele lugar, tanto quanto do lugar onde a encontrara pela primeira vez.
Ludmila ficou curiosa com a lembrança. Perguntou-lhe se ele ainda recordava onde era o lugar.
- É claro! – respondeu.
Nisto, o moço apeou do cavalo.
Pediu a fazendeira que esperasse um pouco.
Com isto, aproximou-se do cavalo de Ludmila e ajudou-a a descer, em pese a mulher dizer que não era necessário. Argumentou que já estava acostumada a apear do animal.
Lúcio respondeu que nunca era demais um gesto de gentileza.
Desta feita, o moço lhe mostrou a nascente.
Abaixou-se para molhar o rosto na água.
Lúcio, com os cabelos molhados, perguntou se ela não gostaria de se refrescar.
Ludmila abaixou também e com as mãos, pegou um pouco de água e bebeu.
O moço mostrou-lhe peixes, e comentou que gostava de pescar em um rio perto dali.
Comentou que ela era uma mulher de sorte por viver em lugar tão bonito.
Ludmila concordou. Disse que este fora o maior legado de Antenor lhe deixara. O amor pelas coisas simples da vida.
Enciumado, Lúcio comentou que o homem devia ter sido muito importante em sua vida.
A fazendeira respondeu que sim.
Ninguém nunca poderia ocupar o lugar deixado pelo homem, comentou.
Lúcio levantou-se.
Ludmila fez o mesmo.
Incomodado, o jovem perguntou-lhe se ela nunca havia pensado em se casar novamente, em conhecer outro homem. Comentou que ela poderia ser feliz ao lado de outra pessoa.
Ludmila indagou:
- Não sei! Não acho que encontraria alguém com entendimento suficiente para saber o que significou minha relação com Antenor e não sentir ciúmes. Ademais, nunca apareceu ninguém. Nem acho que irá aparecer, ser viúva é viver eternamente triste. e eu não gosto de seguir regras rígidas. Gosto de ser livre. Não gosto de dever satisfações a ninguém.
Lúcio ao ouvir isto, respondeu-lhe que ela estava com medo.
Ludmila ficou intrigada.
- Medo de quê? Sou dona do meu nariz. O que poderia temer?
Lúcio rindo, comentou que não poderia negar que ela era uma mulher de fibra. Linda, forte e determinada.
Ao ouvir isto, a mulher ficou um pouco sem jeito.
O jovem continuou. Disse o que o medo era referente as relações afetivas. Comentou que devia ser difícil se desfazer da imagem de mulher durona e mostrar seu lado mais gentil e afável.
Ludmila não gostou do palavreado.
Comentou que era dura quando precisava, mas que não tinha o coração de pedra.
Lúcio, percebendo isto, pediu-lhe desculpas. Falou-lhe que não tivera a intenção de ofender. Contou que apenas queria dizer que não ela tivera a oportunidade de mostrar um outro lado seu. Estava tão acostumada a cuidar dos outros, que havia desaprendido o que era ser cuidada por alguém.
Ludmila ficou incomodada com as palavras. Tentando encerrar a conversa, disse que quando aparecesse alguém, pensaria no que ele havia dito.
Lúcio ficou desapontado. Tanto que chegou a perguntar:
- Não apareceu ainda?
Ludmila não respondeu.
Lúcio insistiu.
No que a mulher perguntou o porquê do interesse em sua vida sentimental.
Argumentou que ele também não gostava quando se tocava em certos assuntos com ele.
Lúcio respondeu que não gostava quando esperavam dele, algo que ele não poderia oferecer. Comentou que não estava interessado em ser doutor, e que se a madame queria um doutor, teria muito trabalho para encontrar um naquele fim de mundo.
Ludmila ficou furiosa.
Vociferando disse:
- Escute aqui rapaz! Quem você pensa que é para falar comigo desta maneira? Perdeu o juízo? Eu sou a dona deste lugar. Respeito é bom e eu gosto... Quando eu lhe disse sobre os estudos, não foi para fazê-lo doutor. A idéia não é esta, eu só acho que um pouco de instrução não faz mal a ninguém. Ademais eu também não tenho nível universitário. Não por vontade própria, mas por que neste país atrasado, foi a única opção que me restou. Ou fazia o Normal ou não teria formação alguma. Eu fiquei com os estudos. Lamento não ter podido estudar mais... Agora, sinto muito se isto não é importante para você. Eu só estava fazendo uma sugestão. Desculpe se soou de outra forma.
Nisto, Ludmila virou-se e caminhou em direção ao seu cavalo.
Lúcio, ao notar que ela se afastava, colocou as mãos na cabeça.
Insistiu para que ela não fosse embora. Pediu-lhe desculpas.
Falou-lhe que havia sido grosseiro, e que nada justificava seu comportamento. Envergonhado, comentou que não sabia o que estava acontecendo com ele, disse que nunca tratara uma mulher daquela forma.
Novamente pediu-lhe desculpas.
Mencionou que arrumaria seus pertences e nunca mais colocaria os pés naquela fazenda.
Ludmila, ao ouvi-lo pedir desculpas, percebendo que rapaz ira partir, voltou-se para ele.
Perguntou-lhe se tinha para onde ir.
Lúcio respondeu que poderia perfeitamente pousar em qualquer lugar.
Ludmila proibiu-o de sair da fazenda sem sua permissão. Argumentou que havia muito trabalho a ser feito.
O homem respondeu que sua presença não se fazia mais necessária.
Tencionou se afastar, no que foi impedido por Ludmila, que disse que não havia autorizado sua partida.
Ao ouvir isto, Lúcio ficou nervoso.
Ludmila respondeu então:
- Não pense que eu sou prepotente, embora possa parecer... Escute aqui ... eu sei que irei me arrepender e provavelmente isto é um delírio, mas eu preciso fazer uma pergunta... Você está interessado em alguém da fazenda? É alguém que eu conheça?
Lúcio começou a rir.
- Você não entendeu nada!
- Entender? O que?
Lúcio segurou sua mão. Olhou-a nos olhos.
Disse-lhe que aquilo que iria fazer, provavelmente custaria seu emprego, mas que diante das circunstâncias, poderia fazê-lo.
Desta forma, puxou a mulher para junto de si, e a beijou.
Atônita, ao se ver livre dos braços do moço, perguntou:
- Por que você fez isto?
Lúcio respondeu que deveria pedir desculpas, mas argumentou que seria hipócrita se o fizesse, posto que não estava arrependido.
Triste, comentou que só lamentava não ser correspondido.
Nisto, aproximou-se do seu cavalo.
Quando estava prestes a montá-lo, sentiu uma mão pousar em seu ombro.
Era Ludmila.
A mulher pediu-lhe para não partir.
Lúcio argumentou que não tinha motivo algum para ficar. Ainda mais, depois do que se sucedera.
Ludmila respondeu-lhe então, que não estava pronta para se casar novamente.
Enciumado, o moço começou a dizer que Antenor era muito importante para ela e que ninguém ocuparia seu lugar.
A fazendeira por sua vez, colocou sua mão nos lábios do rapaz.
Pediu para que se calasse. Argumentou que ele falava muito.
Ludmila pediu-lhe para que se abaixasse, disse que tinha algo para dizer-lhe.
Como o moço fosse mais alto que ela, Lúcio cedeu. Atendeu o pedido da mulher.
Ludmila segurou seu pescoço.
Disse em seu ouvido, que precisava ficar mais calmo.
Ludmila colocou as mãos em seu rosto.
Lúcio parecia incrédulo.
A mulher olhando-o nos olhos, beijou-o.
Surpreso com o gesto, o homem se desequilibrou.
Ludmila pediu para que tivesse cuidado.
Lúcio pediu desculpas.
Encabulado, começou a olhar para o chão e rir.
Ludmila, sem entender o que estava acontecendo, perguntou se estava tudo bem.
Lúcio tirou os olhos do chão e olhando para ela, disse que sim.
Aproximando-se da mulher abraçou-a.
Ao soltar a mulher, Ludmila percebeu que os olhos do moço estavam cheios d’água.
Lúcio contudo, disse que não era nada.
Procurando se recompor, perguntou se poderia entender aquele beijo como um início de namoro.
Ludmila respondeu que sim.
Prometeu que pensaria com carinho na possibilidade de vir a se casar com ele.
Lúcio concordou.
Nisto, pensando na situação, chegou a comentar que ela enfrentaria dificuldades para assumi-lo.
Receoso, perguntou se teria coragem para enfrentar a todos.
Ludmila respondeu-lhe que não devia satisfações a ninguém. Comentou que ao se casar com Antenor, foi taxada de interesseira. Ao ficar viúva e tomar as rédeas da fazenda, foi criticada. Ressaltou que nunca pautou sua vida pelo que as pessoas pensavam. Repetiu que procurava ser feliz da maneira que era possível.
Lúcio sorriu.
Falou-lhe que havia se esquecido que ela era uma mulher de fibra.
Nisto convidou-a para sentar-se do seu lado.
Ludmila recostou-se no moço.
Lúcio abraçou-a.
Ao se despedirem, Lúcio puxou-a pelo braço e beijou-lhe novamente os lábios.
Comentou que sentiria saudades.
Ansioso, perguntou quando poderiam se encontrar.
Ludmila respondeu-lhe que amanhã depois do trabalho, poderiam se encontrar ali.
Nisto a mulher montou em seu cavalo e partiu.
Luciana Celestino dos Santos
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